Tudo Volta. Até Sentimentos.



CAPÍTULO XII. TUDO VOLTA. ATÉ SENTIMENTOS.

Amélia jamais admitiria isso em toda a sua vida, mas, ao ouvir Snape chamando-a para irem ao quarto, ela simplesmente engasgou e teve um acesso de tosse.

Enquanto o seu rosto ruborizava e ela tentava – sem sucesso – recobrar a compostura, Severo apenas cruzou os braços e a olhou com um risinho infame no rosto.

Com a voz desdenhosa, disse:

- Vamos conversar. Aqui está cheio de amigos Comensais e a minha reputação será arruinada se não lhe levar logo para o quarto.

E, rindo da expressão ainda atônita de Amélia, encaminhou-se para o dono do bar, Avery, e pegou uma chave. A olhou mais uma vez e começou a subir uma escadaria estreita.

Bufando, Amélia não teve alternativa, senão segui-lo.

XxXxXxX

Horas já tinham se passado desde os dois entraram naquele quartinho um tanto sujo. Quem os visse certamente diriam que eram um casal apaixonado: Snape estava sentado na cama com a postura ligeiramente mais relaxada do que a que ele costumava apresentar no dia-a-dia. O seu rosto estava suave e por algumas raras vezes ele se permitia ensaiar uma gargalhada. Amélia, por sua vez, deitava na cama de uma forma tão natural que parecia que o tempo não tinha passado. Ela gargalhava com as conversas... Corava e sentia o seu coração bater mais forte quando ele, acidentalmente ou não, a tocava.

Os assuntos foram os mais variados: desde como ela tinha se acostumado a largar os golpes e segurar o espanador a o que tinha sido revelado pela penseira na última vez em que estiveram juntos.

Ajoelhando-se, ela disse:

- Severo, na lembrança em que você está conversando com Dumbledore vocês falam sobre Horcruxes. Você-sabe-quem fez Horcruxes?

Ele assentiu.

- Sim. Para garantir a sua imortalidade.

Amélia mordeu o lábio. Embora não soubesse de como eram feitas, sabia do quão perigoso era uma magia negra como esta.

- E como descobriram?

- Não sei ao certo – ele deu de ombros. – A impressão que eu tenho é a de que Dumbledore sempre soube. Ele me contou pouco antes de morrer.

- Mas você não pode me dar mais detalhes?

- Bom, são seis, no total. Sete com a alma que está no corpo dele. Duas já foram destruídas e eu tenho que descobrir o paradeiro das outras, basicamente.

- E é isso que você está fazendo com os comensais.

- Sim. Sabe, Amélia, acho que estou chegando perto de alguma coisa. Bellatrix conhece um grande segredo do Lorde e eu creio que seja o paradeiro das horcruxes. Se eu convencer ela a contar para Narcissa, com certeza vou acabar descobrindo!

Narcissa. Ao ouvir o nome da suposta amante de severo, o coração de Amélia congelou por um momento.

Respirando fundo, ela se apressou em olhar para o relógio e constatou que toda aquela conversa tinha ido longe demais.

- Merlin! Eu não acredito nisso! Já são quase cinco da manhã!

Ele se levantou, o rosto quase decepcionado.

- Já tem que ir?

- Já deveria ter ido há muito tempo! – Ela riu. – Sabe que eu nem senti o tempo passar?

- Como nos velhos tempos

- É... Tanto tempo depois, eu deveria ter me cansado de você!

O olhar dele penetrou fundo nela.

- E você não se cansou?

Amélia respirou fundo, coração aos pulos. De repente tudo tinha ficado tenso naquele quarto. Com um fio de voz, ela disse.

- Você sabe que não.

Silêncio.

- É melhor eu ir.

Amélia passou o dia inteiro dizendo pra si que não podia pensar nele... Mas Severo simplesmente se recusava a sair da sua cabeça.

XxXxXxX

Quando, exatamente, aquilo tinha acontecido ela não sabia... Mas tinha.

Amélia tentou lutar, tentou negar... Mas, de repente, um dia, depois de alguns encontros com Snape, ela acordou e percebeu que o inevitável tinha, finalmente, acontecido: ela estava, mais uma vez, apaixonada por ele.

Sim, todas as vezes que ela o encontrava, desde a primeira vez, se sentida estranha, com uma vontade quase incontrolável de voltar ao passado... Mas não se permitia enxergar isso... não. Ela tinha responsabilidades... tinha os seus dois filhos e sabia perfeitamente que se apaixonar por Severo poderia acabar levando-a a tomar certas atitudes que eventualmente colocaria a vida deles em risco.

Ela passou noites em claro, tentando se convencer de que não sentia nada – ora, ela não podia! Sentimentos não voltam do nada! Ela tentava se convencer de que o que ela sentia tinha ficado no passado... que era apenas uma nostalgia, uma vontade de reviver o que foi bom.

Mas tudo estava mudando.

Ficar perto dele era mais do que ela podia agüentar. Ela apresentava todos os sintomas de uma apaixonada...

E, enfim, desistiu de negar e reconheceu: estava apaixonada novamente.

Amélia se levantou, mordendo o lábio.

Olhou para o lado: Brian dormia profundamente. Olhou para o calendário na parede do hotel de Londres onde estavam hospedados: era a última sexta-feira das férias de natal. Tinha um encontro.

- Brian?

Ela quase sussurrou.

Mas foi mais que suficiente para que o ex-general McRough abrisse os olhos e se sentasse na cama, sonolento.

- O que foi?

Ela encarou-o, aflita. A sua expressão o assustou.

- O que aconteceu?

Suspirou. Era agora: tinha que contá-lo

- Eu tenho que contar uma coisa a você... Uma coisa que talvez tenha sido um erro, mas que não tem mais remédio.

Ele quase sorriu, embora o seu olhar começasse a demonstrar certa tristeza.

- É sobre Snape, não é?

- Eu... eu estive me encontrando com ele... todas as sextas. Já faz um tempo.

- Você sabe que ele é um assassino, não? Um Comensal?

- É, mas... bom, ele está realmente trabalhando com Dumbledore... Ou estava, antes de matá-lo. Mas ele está do nosso lado!

Brian se levantou, num acesso de fúria.

- Nós não temos lado, Amélia! Nós concordamos em não nos meter, por causa dos nossos filhos!

- Eu sei! Mas eu já me meti, e já fui muito mais longe do que eu gostaria! Eu não ia me meter, mas, agora, já sou parte da organização fundada por Dumbledore! Eu não queria sequer vê-lo, mas, agora, estou apaixonada por ele!

E ela tinha falado demais.

Suspirou, esperando que o silêncio constrangedor no qual os dois caíram não durasse muito... e foram cinco minutos tensos, antes de Brian dizer qualquer coisa.

- Quer dizer, que... Você se apaixonou?

- Sim. – Ele desviou o olhar com uma expressão inconfundivelmente decepcionada. – E quando tudo acabar, considerando que nós dois estejamos vivos, eu espero me casar com ele.

- Você supõe que ele queira casar com você?

Amélia mordeu o lábio, lembrando do motivo que tinha separados os dois, há doze anos – mas também lembrando das alianças que encontrara no fundo esquecido de uma gaveta em Hogwarts.

- Eu não suponho nada. Mas eu vou ficar com ele.

- Posso falar o que eu penso?

- Como general ou como amigo?

Ele sentou-se na cama, agora mais firme, mais frio.

- Como general, pois estamos em guerra. A sua atitude foi vergonhosa! Você está colocando sua vida em risco!

- A vida é minha, e, até onde eu sei, disponho dela!

- Sinta a progressão, Amélia: Um Comensal volta a ter um romance com uma antiga mulher que trabalhava no ministério. Até ai tudo bem, mesmo se tratando de você, pois essa mulher não mais participa da guerra, oficialmente. Mas, então, descobre-se que ela tem filhos com ele, e que ele é um espião! Você conhece essa gente, Amélia. Primeiro vão capturar as crianças, para deixar vocês dois numa busca miserável. Depois, vão capturar você, para que ele se sinta só. Depois vão atraí-lo, e ele não vai se esconder, pois tem esperanças de salvar você. Então eles matarão os meninos na frente de vocês. Você, como antigo desafeto, será morta com requintes de crueldade. Depois eles o matarão. Fim da história.

Nesse ponto, Amélia já tinha grossas lágrimas se formando em seus olhos. O coração se partia na mera menção de risco de vida para os seus filhos.

- Se você tiver certo...

- Eu estou certo! Já me viu errar?

- Brian, eu amo ele!

O marido segurou a mão dela.

- O nosso casamento será desfeito se ele quiser casar com você, admitindo que todos estejam vivos para assisti-lo. Foi assim que combinamos. Só peço que deixe esse romance para quando ele não for mais perigoso... E, você já deve imaginar, algumas complicações que surgirão com o tempo.

Ela puxou a mão, mirando-o, assustada.

- Complicações? Explique-se!

Brian bufou, evitando, mais uma vez, o olhar da esposa.

- Com o passar dos anos, eu passei a ver os meninos como se fossem meus. Eles são meus filhos Amélia, e eu espero que você não pense que abrirei mão deles!

- O que?

- Eu não admitirei que você queira trocar os sobrenomes deles, tampouco que eles morem com Snape. Ainda acho que ele é um Comensal e, como tal, uma péssima influência!

Ela se levantou.

- Você quer impedir que eu more com os meus filhos, se me casar?

- Sim. E é melhor você aceitar!

- E é melhor eu aceitar? – Ela quase gritou.

- Sim! Ou eu levo tudo a uma briga judicial! Você quer testar com quem eles deixarão os meninos, quando souberem que a mãe foi uma assassina obscena e inescrupulosa? Quando o marido, ou pai biológico, foi um Comensal da Morte? E quando eu contar que você tinha um quê de promiscuidade da juventude? Que, um dia desses, Edward quase morre porque você não deu assistência a ele? Que nem mesmo o seu filho mais velho lhe chama de mãe? Que voc...

- PARE!

Ele parou, vendo o rosto dela molhado de lágrimas.

Amélia ofegou, tentando não pensar em tudo o que tinha ouvido... Nunca, em toda a sua vida, se sentira tão machucada por simples palavras.

- Pare... Onde está o meu grande amigo quando eu chamei por ele?

- Onde está a mulher responsável que sempre foi perfeita, Amélia? Porque ela mudou?

- Brian, saia.

Naquela mesma hora, Amélia mandou uma coruja para o seu advogado. Estava abrindo o processo de divórcio.

XxXxXxX

Pela primeira vez em muito tempo,
Amélia não chegava com um sorriso alegre naquele fétido bar onde sempre se encontravam, todas as sextas.

Sem sequer falar com Snape, Amélia começou a subir as escadas que a levaria para o quarto onde eles passavam as noites conversando. Não demorou muito para que ele chegasse por trás dela com a chave.

- Amélia.

Ele a cumprimentou, mas ela não respondeu. Bufou, impaciente.

- Abre logo!

Snape crispou os lábios e virou a chave, abrindo a porta. Amélia entrou logo atrás dele, sentando-se na cama.

- O que aconteceu?

Ela suspirou, tirando os sapatos de salto fino que machucavam seu pé.

- Eu preciso de uma bebida.

- Vou pedir um vinho

- Não. Eu preciso de algo mais forte! Talvez uísque de fogo.

Ele assentiu, embora o semblante carregado evidenciasse que ele não estava gostando muito do nervosismo de Amélia. Foi até a porta, pediu a bebida e logo ele estava sentando ao lado dela com uma garrafa de uísque de fogo e dois copos.

- Gelo?

- Não. Puro. Duplo.

As duas primeiras doses duplas foram bebidas num gole só, em silêncio.

À medida que o álcool entrava em seu corpo, ela se acalmava... Deixou-se inundar por ele, até que sentiu que já estava suficientemente confortável para falar de parte do que lhe tinha acontecido naquela manhã.

Amélia suspirou, deixando os olhos transparecerem a sua dor, ficando marejados.

Snape tentou, sem sucesso, tomar o copo da mão dela.

- Agora você vai me contar o que aconteceu?

- Briguei com o meu marido.

Snape fechou os olhos, tomando ele mesmo uma dose num único gole.

- Esse é o motivo do transtorno?

- Sim.

- E qual o motivo da briga.

Amélia quase disse, mas se impediu.

Ao invés, tomou mais uma dose dupla.

- Eu só quero que ele esteja errado... Severo, eu seria capaz de me matar, se o que ele disse se concretizasse!

Ele tocou gentilmente o ombro dela.

- Se matar? Nenhum ameaça pode ter tanto efeito, Amélia.

- Me matar. Eu não me perdoaria – outra dose.

- Você não quer me contar as ameaças?

- Não! Eu vou embora!

Rapidamente, ela se levantou.

Uma tontura tomou conta dela. Snape rapidamente levantou-se e a segurou, colocando-a de volta na a cama.

- Você bebeu muito!

- Eu não fico bêbada assim, fácil, Severo! Eu apenas me levantei rápido demais e tive uma tontura!

- Ou foi porque você tomou muitas doses de uísque de fogo em menos de cinco minutos, quando normalmente passa uma hora para acabar uma taça de vinho!

Ela o olhou e sorriu.

Sim, a tontura era por causa do uísque.

Mas ela não estava bêbada... Estava apenas transtornada e com coragem o suficiente para dizer a primeiro coisa que veio a sua mente, assim que percebeu a incomoda proximidade entre o seu corpo e o do ser amado.

- Severo, me beije.

XxXxXxX

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