A Misteriosa Prova
CAPÍTULO X. A MISTERIOSA PROVA.
Com a garganta inexplicavelmente seca, Amélia puxou a mão que Severo acariciava e checou o seu relógio.
Foi com muito alívio que ela constatou a hora.
- São duas e meia. Hora de ir.
Tomou mais um gole do seu vinho e se levantou. Sentia-se ligeiramente tonta.
Ao caminhar para fora do bar, sentiu a mão de Severo pousar na sua cintura. O arrepio correu a sua espinha. As mãos tremeram na ânsia de devolver o toque.
Respirou fundo, controlando-se.
Com a outra mão, ele segurou no braço de Amélia, quando já estavam fora do bar, e, juntos, aparataram para algum ponto da Floresta Proibida.
- Você sabe onde agente está?
Ela deu de ombros.
- Não
exatamente.
- Você realmente não tem noção do quanto essa floresta é perigosa, não?
Amélia sorriu.
- Considerando que a última vez em que eu estive aqui tinha total desapego por regras e absolutamente nenhum senso de risco, não. Mas não se preocupe: alguns aurores devem nos encontrar aqui na floresta.
E, quase no mesmo instante que Amélia terminou de falar, os dois se encontraram cercados por Nymphadora Tonks, Kingsley Shacklebolt e Olho-Tonto Moody, que apontavam ameaçadoramente as suas varinhas para o casal.
- A sua varinha, Snape – Moody se apressou em exigir.
Bufando, mas sem oferecer qualquer resistência física, Severo entregou a varinha ao ex-auror, que não se demorou em conjurar amarras para as mãos dele.
- Isso não é necessário – Amélia disse.
- Eu também acho – Tonks confirmou.
Kingsley apenas deu de ombros.
- Medida de segurança. Espero que entenda, Snape... Afinal, você matou Dumbledore.
Snape crispou os lábios em desagrado, mas, mais uma vez, achou melhor não discutir... Afinal, ele realmente tinha matado o velho.
Logo o grupo se apressava pela floresta – Snape sendo arrastado por Moody enquanto Amélia protestava incansavelmente. Não demorou a chegarem aos terrenos de Hogwarts, onde Minerva McGonagall e o meio-gigante Rúbeo Hagrid os esperavam próximos à cabana deste.
Antes de ir ao encontro dos dois, porém, Tonks disse.
- É melhor você vestir isso – entregando uma capa da invisibilidade a ele. – Peguei emprestado do Harry.
Com imensa expressão de desagrado, Snape vestiu a capa e, junto com o grupo e McGonagall caminhou mais uma vez pelos corredores Hogwarts.
Assim que subiu a escada espiralar que levava à sala da direção, ele despiu a capa confrontando, finalmente, McGonagall.
Era claro que a diretora evitava olhá-lo nos olhos... e ninguém podia culpá-la, sendo tão amiga de Dumbledore como era. Snape entendia isso.
- Minerva – ele cumprimentou.
- Severo.
O clima tenso no qual aquele encontro mergulhara não se amenizou nem mesmo quando o retrato de Dumbledore disse, no mesmo tom de voz suave e displicente que ele tinha quando vivo.
- Boa noite, Severo! Você demorou a voltar!
Todos se viraram para encarar o retrato. Ao fazer isso, a varinha de Tonks escorregou ameaçadoramente mais para perto do pescoço de Snape.
Amélia bufou, afastando todas as varinhas.
- Ora, vamos! Isso não é necessário!
Com a própria varinha, liberou as amarras que envolviam o pulso dele.
Ele a olhou, quase agradecido, e, visto que todos ainda se encontravam em silêncio, começou a falar.
- Agora, se vocês me permitirem...
Sob olhares hostis, Severo sentou-se na antiga cadeira de Dumbledore e começou a passar a mão por debaixo do gabinete.
O retrato sereno de Alvo disse:
- Espero que você ainda se lembre do local com exatidão.
- Sim, diretor – ele disse, tirando da mesa de Dumbledore um frasco que continha um líquido prateado e agitando-o para todos – eu lembro.
Não demorou mais que alguns segundos para que as pessoas da sala tirassem a Penseira do armário onde estava guardada, a postassem no meio da sala e lá despejasse a misteriosa lembrança.
Com um ar entediado, Snape disse:
- São várias lembranças, reunidas numa só. De resto, vocês vêem e tiram as suas conclusões. Então: quem vai?
Minerva se adiantou.
- Você, naturalmente, e eu. Apenas.
Amélia riu, aproximando-se dos dois.
- De maneira nenhuma: Eu vou!
- Você não tem nada a ver com isso, professora McRough – Minerva disse, severa.
Ela bufou.
- Eu só sirvo na hora de arriscar a minha vida servindo de leva-e-traz? – O lábio de Snape se curvou num infame sorriso ao ouvi-la. – Eu verei a maldita lembrança, sim! Desculpe-me, mas eu tenho que tirar da minha cabeça que tenho filhos com um assassino.
Mais uma vez, a sala inteira caiu num silêncio sepulcral, sendo, dessa vez, Amélia o centro das atenções.
Ela rolou os olhos.
- Grande coisa! Como se vocês nunca tivessem desconfiado! O fato é, a menos que me estuporem, eu vou ver essas lembranças, sim!
McGonagall abriu a boca para argumentar, mas Snape a interrompeu.
- Eu quero que ela veja.
A diretora bufou, percebendo que era voto vencido.
- Que seja, então. Vamos nós três. Apenas despeje isso na maldita penseira.
Severo abriu o recipiente e jogou o conteúdo prateado na penseira.
Enquanto Kingsley, Tonks e Moody espiavam a névoa que refulgia daquela bacia de pedra, McGonagall, Amélia e depois Snape mergulharam para verificar a prova da inocência dele.
O que se podia ver, naquele fragmento de lembrança, era uma casa com aspecto de abandono. Livros cobriam quase todas as paredes, e, no centro da sala, iluminado pela luz precária de um candeeiro, um pequeno e aparentemente desconfortável sofá, uma velha poltrona e uma mesinha.
No centro do ambiente, estavam três pessoas: o homem de cabelos oleosos negros e nariz adunco tinha uma aparência bem menos casada do que a apresentada naquele nos dias de hoje. Ele segurava a mão de uma bela mulher que Amélia logo reconheceu como Narcissa Malfoy. Os dois estavam ajoelhados no chão.
Indubitavelmente, eles selavam o voto perpétuo.
Amélia assustou-se com a constatação.
Como
avalista, apontando a varinha para a mão selada dos dois, estava Bellatrix Lestrange.
A loura falou:
“Você, Severo, cuidará do meu filho Draco quando ele estiver tentando realizar o desejo do Lorde das Trevas?”
“Cuidarei.”
As mãos foram envolvidas por um laço de fogo.
Narcissa continuou.
“E fará todo o possível para protegê-lo do mal?”
“Farei.”
Mais um laço de fogo saiu da varinha de Bellatrix e envolveu as mãos atadas.
“E se necessário for... se parecer que Draco falhará, você terminará a tarefa que o Lorde das Trevas incumbiu Draco de realizar?”
Snape não respondeu de imediato. Parecia decidir se continuava ou não com o juramento.
“Terminarei.”
E, quando o último laço de fogo saía da varinha da avalista, toda a cena foi tomada por uma névoa branca, até desaparecer completamente.
A mão de Amélia, ainda durante a névoa, procurou a de Snape, que estava a seu lado. Angustiada, ela perguntou.
- O voto perpétuo?
Ele apenas assentiu e gesticulou para ela se calar e prestar atenção no ambiente: A névoa tinha ido embora e, ao invés da salinha com aspecto abandonado, agora se via a terra árida que ficava na frente de uma casa velha.
Ajoelhado no chão, sujo e com aparência extremamente cansada, estava Alvo Dumbledore.
Ele respirou pesadamente várias vezes, a mão indo ao peito, como se tentasse recuperar o fôlego de algo muito trabalhoso que andara fazendo. A sua varinha apontou para um pequeno buraco que se abria no chão. Respirou fundo e começou a murmurar diversos feitiços.
Ofegando mais uma vez, retirou do bolso uma espécie de poção azul-marinho e jogou-a no buraco.
Uma luz dourada intensa saiu da pequena cratera – os três que analisavam o fragmento de memória se aproximaram para ver que o que reluzia era um anel de ouro com uma pedra negra.
As mãos de Dumbledore, um tanto trêmulas, procuraram o anel.
Foi como se ele tivesse levado um forte choque.
O ex-diretor pôs-se imediatamente de pé, cambaleou para trás dando um grito de agonia o que fez com que Minerva McGonagall desviasse os olhos da cena.
Amélia acompanhou as tentativas insistentes dele de lagar o anel, mas este parecia colado em sua mão. Foi com certo pesar que ela observou-a enegrecer lentamente e o rosto do diretor se contorcer em dor.
Com rapidez, ele pegou a varinha com a outra mão e, com um feitiço, fez o anel cair.
“Eu devia ter previsto...”
Caindo de joelhos, Dumbledore fez mais um feitiço e, finalmente, pôde pegar o anel e sair ileso.
Mais uma vez, a névoa invadiu a cena e, assim que foi embora, os três se viram no escritório de Dumbledore, que em muito pouco era diferente do que esperava por eles fora da penseira.
Alvo se encontrava serenamente sentado em seu gabinete. Do outro lado, de pé, estava Severo... Visivelmente abatido.
“Diretor... eu acredito que fiz algo não muito inteligente.”
Dumbledore sorriu.
“Nós todos temos os nossos dias de fazer uma estupidez, Severo. Eu mesmo, há alguns dias, fui displicente e acabei com uma terrível cicatriz na mão!”
“Isso é sério, Alvo! Eu...”
“Conte-me tudo, meu filho.”
Severo sentou-se e suspirou. Foram poucas as vezes que Amélia o vira com uma expressão de tanto pesar.
“Narcissa foi à minha casa... Ela queria que eu ajudasse a proteger Draco e me pediu para fazer o voto perpétuo. Eu não tive como negar.”
Os olhos de Alvo, agora, inspiravam uma tristeza disfarçada.
“Ah! É difícil ignorar as lagrimas da mulher amada!”
Amélia deu um pequeno gemido ao ouvir essas palavras. Imediatamente largou a mão de Snape, que se limitou a crispar os lábios.
O Snape da lembrança bufou.
“Eu não---” Suspirou. “O que aconteceu foi que Bellatrix estava lá e começou a fazer perguntas!”
“E você não pensou em dar as mesmas respostas que nós bolamos e o próprio Voldemort aceitou muito bem?”
“Claro que eu dei as respostas! Mas, ainda assim, ela desconfia que eu não esteja ao lado do Lorde! Se eu me recusasse a fazer o voto, ela entenderia como prova quase irrefutável de onde está a minha lealdade! Bellatrix é muito perigosa e tem certa influência sobre o Lorde! E me odeia!”
Alvo assentiu.
“Sim, sim... Uma bela desculpa para um coração de pedra. Mas eu acho que ambos sabemos que, talvez, o que você tem hoje com a senhora Malfoy não seja mais um namorico insignificante.” Severo abriu a boca para protestar, mas Dumbledore continuou. “Mas é claro que você jamais admitiria isso. O que foi prometido?”
Ele suspirou.
“De mais grave, que, se Draco não conseguisse terminar a tarefa... eu terminaria por ele.”
“É a tarefa da qual você me alertou?”
“Sim, Dumbledore. Caso Draco não consiga matar você, eu terei que fazê-lo.”
O velho passou um momento calado... Momento no qual Snape evitava olhá-lo.
“De fato, foi uma promessa estúpida.”
Foi Snape quem passou um momento pensando, agora.
“Diretor, o erro foi meu, e eu pretendo aceitar as conseqüências dele. Eu tentarei convencer Draco que ele não é capaz, para que ele desista... Se não, eu estou disposto a... morrer cumprindo a tarefa que me foi confiada pelo senhor.”
Um pequeno sorriso formou-se no rosto do diretor.
“Nenhum erro deve valer a sua vida, Severo. Principalmente um erro por amor. E tudo nós podemos virar para o nosso lado.”
“O que você quer dizer com isso?”
Lentamente, ele ergueu a sua mão enegrecida.
“Você sabe o que causou isso?”
“Magia negra antiga.” Ele disse, sem sequer parar para pensar.
“Você conhece a cura?”
“Não.”
“Nem eu. Sabe por que?” Severo ficou calado, esperando “Simplesmente porque não tem cura. O veneno que apodrece a minha mão, lentamente, está me matando por dentro. O meu sangue fica cada vez mais espesso e os meus órgãos internos tão negros quando a minha mão. Logo, eu apodrecerei por dentro e morrerei. E não há nada que possamos fazer contra isso.”
Silêncio.
“Nada?”
“Bom, nós podemos nos aproveitar da sua estupidez, claro.”
Snape crispou os lábios e num gesto quase involuntário cruzou os braços.
“Explique-se.”
“Quando chegar o momento, você não permitirá que Draco me mate – embora realmente não ache que isso será necessário. O menino não é um assassino. Você o fará no lugar dele.”
Imediatamente, Snape levantou-se. A fúria era evidente em seu olhar.
“Como você pode me pedir--- ?”
“Como eu já pedi para arriscar a sua vida. Pense, minha criança: se você não me matar, além da minha óbvia morte por causa desse veneno, teremos a sua por causa do voto, e a da família Malfoy, simplesmente por não ter cumprido a vontade de Voldemort. Além disso, quem guiaria Harry na busca dos Horcruxes – caso ainda existam mais, além do anel e do diário? Não... Você tem que ficar. Fique e evite que Draco se torne um assassino, ou seja morto por não consegui-lo. Fique e evite a morte ou a desgraça de Narcissa. Fique e seja ainda mais eficiente na sua tarefa de espião – pois se tornará, com a minha morte, o braço direito de Voldemort. Fique, Severo, pois você é o único, além de mim, que pode ensinar Harry a usar todo o seu potencial e fazer com que essa guerra acabe com a nossa vitória!”
“Eu...”
“Severo, qual será a nossa chance de vencer Voldemort se ambos morrermos? Não parece óbvio para você que um de nós dois precisa ficar vivo? E que eu simplesmente não tenho chances por muito tempo?”
Snape apertou a mão, contendo a sua fúria.
“E se eu não aceitar?”
“É uma escolha sua... Mas, se você não aceitar, essa guerra inevitavelmente acabará com a vitória de Voldemort. Ou você realmente acha que Harry e a Ordem conseguirão achar e destruir todas as Horcruxes, sem eu ou você?”
“Eu não vou matar o senhor!”
O rosto sereno de Dumbledore se modificou em raiva por um momento. Mas ele suspirou e voltou à sua expressão de tranqüilidade.
“Você prometeu que ia fazer o que eu achasse ser necessário para que Voldemort morresse, não se lembra? Eu acho isso necessário e você vai fazê-lo. Pela primeira vez, Severo, eu não estou pedindo a sua opinião. Você vai fazer isso, porque foi a isso que você se comprometeu quando, há anos, selou comigo o voto perpétuo. Isso não é um pedido, meu amigo.”
O rosto atordoado de Snape foi a última coisa que o grupo viu, antes de serem expulsos da penseira.
XxXxXxX
Reviews, por favor.
Eh a partir daki que as coisas esquentam... XD
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