A Oportunidade



CAPÍTULO XXVI. – A OPORTUNIDADE

Ela colocou um roupão por cima da sua camisola e foi atender a porta. Severo estava lá”.

- Vamos para o meu quarto.

Ainda lânguida, ela aceitou.

Ele segurou a mão ela e começou a guiá-la para o outro quarto.

Apenas quando chegaram, Amélia percebeu o que estava fazendo... Sentiu um pouco de medo... Seria a (tão adiada) primeira vez... Bom, podia-se dizer, pelo menos, que ela estava no ponto!

Severo abriu a porta.

Pronto... Aqui vamos nós!’

Ela estava pronta para que o seu namorado a tomasse nos braços e a beijasse loucamente...

Mas ele apenas largou a sua mão e correu sozinho para o canto do quarto. Amélia ficou estática, surpresa.

- O que você está fazendo aí parada? – ele disse, aborrecido. – Entra logo e fecha essa porta!

O que diabos...?’

Ela encarou o namorado por um breve momento... Bufou e obedeceu.

Assim que ela fechou a porta, Severo disse no seu tom frio de sempre.

- Venha aqui. Eu quero te mostrar uma coisa.

Amélia não tinha outra escolha, senão obedecer... Será que ela não era desejável? Por que o seu namorado não tentava levar ela para a cama? Todo mundo estava fazendo, por que só eles não?

Rolou os olhos e caminhou até onde ele estava. Sentou-se ao seu lado. Ele começou.

- Você sabe que a minha relação com meu pai nunca foi muito boa, certo?

Ah, ótimo! Ele me chamou para conversar!’

Ela apenas assentiu com a cabeça.

- E você já sabe que ele me batia ocasionalmente.

- Sim, sei! – Ela disse, exasperada. Ele a olhou com curiosidade.

- O que?

Amélia crispou os lábios.

- Nada.

Ele a olhou com fúria em seus olhos.

- Se você quiser voltar a dormir, vá em frente!

- Não, eu estou bem!

Ela olhou para a grande cama dele. Começou a achar que, talvez, tivesse sido melhor ficar no quarto, fazendo... o que ela estava para fazer.

Severo bateu com o punho no chão.

- Você não está interessada. V�!

Ela se ajoelhou, considerando sair... Mas não... Tinham que discutir, pelo menos.

- Me desculpa, mas eu apenas não pensei que você fosse me acordar no meio da noite para conversar!

- E pra que você pensou que eu fui te chamar.

- Não é óbvio! Eu pensei que você quises...

Reprimiu-se. Não podia falar aquilo! O que ele pensaria? Calou-se.

Severo, com uma expressão indecifrável, perguntou lentamente.

- Você pensou o que, Amélia?

Ela corou. Desviou o olhar.

- Nada.

Quando voltou a olhar nos olhos dele, viu um brilho diferente... Ele tocou levemente a sua mão... E se inclinou devagar, até alcançar os lábios dela.

Amélia estremeceu.

Não foi, nem de longe, um beijo comum. Pelo menos, não como eles estavam acostumados a se permitir. Foi lascivo, luxurioso... Amélia sentiu um desejo enorme invadir o seu corpo... Um desejo tão grande, que ela não se importou...

Não se importou com as mãos despudoradas do namorado, que passeavam livremente pelo seu corpo, procurando sua pele desesperadamente... provocando as mais diversas sensações, que ela só experimentara em sonhos.

Não se importou quando os seus corpos foram ao chão, de uma forma que ela se proibia até de pensar. Não se importou quando ele pressionava o seu quadril contra dela, fazendo-a sentir o que o seu corpo provocava nele. Não se importou quando viu as suas pernas desnudas... Tampouco quando sentiu a língua dele passear por elas. Contorceu-se quando Severo chegou a uma região que ela pouco se permitia... Mas que, coincidentemente, estivera dando atenção antes de ir para o quarto do namorado.

Estava enlouquecendo...

- Severo... – ela gemeu.

E ele parou.

Ajoelhou-se, buscou controle.

Amélia quase chorou. Sentou-se, bem de frente a ele. Murmurou.

- Por que...?

Ele ignorou a pergunta, ainda ajoelhado e se controlando. Depois de um momento em silencio, ele abriu os olhos. Acariciou o rosto de Amélia.

- Eu, definitivamente, não te chamei aqui para conversar.

Ela quase sorriu. Ele continuou.

- Mas será que agora eu posso continuar o que eu estava dizendo?

Ela o beijou suavemente.

Não conseguia evitar. Ele podia fazer o que quisesse com ela. Podia falar o que quisesse. Ela não mais tinha defesas. Estava intoxicada.

Suspirou.

- Você estava dizendo que tinha problemas com seu pai e ele chegava a te bater, às vezes.

- Isso. Logo, tudo que eu queria era um lugar para me esconder.

Sorriu.

- Exato. Você me disse que um dia conseguiu encontrar um bom esconderijo e que ele nunca mais te bateu a partir de então. Mas você nunca me contou onde ele ficava, por mais que eu te implorasse por uma resposta.

Ele olhou-a satisfeito.

- Quer conhecer?

Ela se maravilhou.

- Você quer dividir um segredo comigo?

- Sim.

- O que eu mais quero é conhecer seus segredos.

Tocou suavemente o rosto dela e se virou.

Começou a afastar o denso tapete verde-musgo que era quase grudado no chão. Então, começou a bater na madeira.

Amélia estranhou.

- O que...?

- Espere!

Encontrou um ponto onde o som parecia oco. Pegou um canivete e, simplesmente, arrancou uma grande peça do assoalho. Um brilho estranho invadiu o quarto. Amélia examinou o buraco.

Parecia uma poça de um líquido prateado que brilhava muito. Ela nunca, em sua vida, vira uma coisa igual.

- O que é isso?

- Esse é o meu segredo, Amélia. Coloque a mão.

Ela o olhou, hesitante. Ele apenas acenou para que ela obedecesse.

Lentamente, Amélia colocou a mão naquela poça esquisita. O líquido era bem gelado. Ela quase puxou a mão... Mas continuou. E, de repente, o líquido acabou... Mas, ao invés de encontrar uma parede sólida, ela sentiu um vento frio bater na sua mão... E aquele vento, definitivamente, não vinha do andar de baixo da mansão Snape.

Franziu a testa. Olhou para ele.

- É como um túnel... Como se fosse uma passagem... Que leva para o lugar onde eu me escondia. Eu quero que você conheça.

Amélia nunca tinha ouvido falar que existisse um portal daquele jeito...

- Você primeiro.

Ele crispou o lábio. Colocou as pernas dentro do líquido prata. Sentou-se. E o seu corpo foi se abaixando, até desaparecer completamente.

Amélia, boquiaberta, ficou observando o buraco. De repente, a mão dele saiu – ela quase gritou de susto. A mão fez sinal para que ela entrasse.

Certo... Eu acho que não vai ter escapatória!’

Respirou fundo. Colocou os pés naquela piscina gelada.

Sentiu o vento frio bater nas pernas dela. E sentiu os seus pés tocarem em algo parecido com um barranco de areia. Ficou feliz ao sentir que realmente tinha terra lá em baixo.

Sentou-se no barranco. Teve que deslizar e se abaixar para conseguir, finalmente, deslumbrar o local.

Perdeu o fôlego.

O lugar parecia uma enorme gruta. As suas paredes de pedra davam ao lugar um ar misterioso, quase excitante. O barulho das asas de morcegos a amedrontava e a extasiava ao mesmo tempo... Sem falar no som longínquo de... seria chuva?

A iluminação disponível era precária – a luz vinda do “portal” e um feixe de luz que vinha da varinha de Severo, que iluminou a parede oposta... E apresentou um pequeno lago.

Ele olhou para Amélia. Sorriu ao ver a cara de abobalhada dela.

Ele voltou ao pequeno barranco. Colocou a mão que carregava a varinha dentro do portal.

- O que você está fazendo?

- Colocando o chão em seu lugar.

E, depois, voltou para onde Amélia estava.

Ele segurou a mão da namorada e começou a guiá-la até o lago...

As águas eram tão cristalinas. Quando Severo iluminou a água, ela pode ver pequenos peixinhos nadando, alheios aos seus olhos curiosos.

Amélia não conseguiu se conter de tanta alegria. Jogou-se no pescoço de Severo e o beijou, ainda exaltada com a beleza do segredo que ele tinha acabado de compartilhar com ela. Ele rindo, tornou a se desvencilhar dela.

- Esse era o meu esconderijo. Tenho certeza que a minha família não faz idéia da existência desse lugar. Eu podia passar um dia inteiro aqui, lendo... E o fiz por muito tempo. Mal sabia eu que era ainda melhor do outro lado!

- Tem mais? – ela se fascinou.

- Se você estiver disposta a se molhar, sim.

- É claro que ela estava disposta a se molhar... Mesmo que estivesse fazendo um frio de rachar.

- Eu quero ver!

Ele a examinou.

- Se você quiser deixar o roupão aqui...

Amélia começou a desamarrar... Mas se lembrou da camisola que usava por baixo... e amarrou de novo.

- Eu estou bem assim.

Severo rolou os olhos.

- Você que sabe.

E começou a adentrar na água.

Aos poucos, ela foi entrando no lago, deixando o seu corpo se acostumar com a temperatura da água, muito gelada. Amélia o seguiu até a parede da gruta. Nesse ponto, a profundidade chegava na cintura dela.

- É do outro lado. – ele disse – Aqui em baixo tem uma pequena passagem. Se eu consigo passar, você também consegue. Vale a pena segurar um pouco o fôlego.

Ele entregou a varinha a Amélia, dizendo que ela precisava mais, já que ele sabia o caminho decorado. Mergulhou.

Amélia tomou fôlego e o seguiu. Com o feixe de luz, facilmente encontrou a abertura que Severo mencionara. Nadou através dela e, antes que pudesse ficar sem fôlego, a passagem se alargou. quando ela emergiu, viu que estava do lado de dentro de uma queda d'água.

O que explica o barulho de chuva.’

Ela olhou para o namorado. Era bem melhor do outro lado. Ele segurou a mão dela.

- Vamos!

Amélia suspirou e foi. Atravessou a cachoeira de águas geladas. E quase caiu pra trás quando viu o que tinha depois dela.

Suspirou alto, encantada.

Oh, Merlin...!’

Eles tinham ido parar numa clareira bem no coração de uma floresta. Fadas e vaga-lumes se misturavam, fazendo todo um espetáculo de luzinhas douradas brilhantes. A luz maior vinha da grande lua cheia, que iluminava todo o local.

A clareira mais parecia com um imenso jardim. As árvores, junto com a queda d'água, dispunham-se num círculo perfeito. E essas árvores eram imensas, formavam uma espécie de muro. O chão era coberto da mais verde e aveludada grama. E tinham rosas espalhadas por todos os lados. Rosas vermelhas, apenas. E sem espinhos. Borboletas encantadas soltavam um rastro de luz azul brilhante à medida de passeavam pelo céu noturno. O lugar era um paraíso.

Quando saiu do transe, Amélia foi até Severo, que estava admirando-a, sentado na grama aveludada. Ela se ajoelhou ao seu lado.

- Obrigada.

Os raios lunares passearam maliciosamente pelo corpo dela. Ela sentiu o olhar de Severo se iluminar. Aquela era a hora e o local perfeito. Não deixaria a oportunidade passar.

XxXxXxX

Reviews fazem uma autora feliz, então...

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