No fundo do poço
No Natal, Hermione passou três semanas na fazenda com a mãe. Gina estava atolada na boutique. Entrava-se caída em uma rotina com as visitas ao Harry. Ia de carro até lá duas manhãs por semana, e aos domingos. Rodando 520 quilômetros por semana no carro dele. Acreditava que por melhor que o carro fosse, não agüentaria tanto. Gina quase se perguntava se ela e o carro morreriam juntos, simplesmente emborcariam no acostamento e morreriam. No caso do carro, seria de desgaste, por uso; no de Gina, de tensão e exaustão, isso e pílulas em excesso. Mas ela agora funcionava bem com elas, a maioria das pessoas ainda não percebia e Harry ainda não a encostara na parede. Chegou a imaginar que ele simplesmente não quisesse ver o que estava acontecendo. Por ela, tudo bem.
Não pôde mandar-lhe um presente de Natal, nesse ano. Permitiam-lhe receber apenas dinheiro, portanto ela lhe enviou um cheque. E esqueceu de comprar presentes de Natal para as duas moças da loja. Só no que pensava era botar gasolina no carro, sobreviver às visitas com o Harry do lado oposto da janela de vidro e mandar repetir as suas receitas. Nada mais parecia importar. E a pouca energia que lhe sobrava ela gastava fazendo contas. Estava fazendo algum progresso com elas e acordava de manhã calculando as contas que devia pagar, as contas em seu nome e as em nome de Harry. Agora a Lady G estava tendo seus próprios problemas, algo estava fora de esquadro, e ela não conseguia se forçar a importar tanto quanto antes. A loja agora era apenas um veículo, não mais uma alegria. Um meio de pagar as contas sem utilizar o dinheiro de Harry e um lugar aonde ir durante o dia. Podia se esconder naquele escritoriozinho no fundo da loja e fazer malabarismo com as contas. Raramente saía para atender aos fregueses, mas quando o fazia, depois de alguns minutos, a onda familiar de pânico crescia dentro dela, chegava-lhe à garanta e tinha que pedir licença.
Uma pílula amarela... uma azul... um rápido gole de uísque... Alguma coisa... Qualquer coisa para matar o pânico. Era mais fácil apenas ficar sentada lá atrás e deixar as moças cuidarem dos fregueses. De qualquer forma, estava ocupada demais com as contas e tentando não pensar. Era um esforço muito grande não pensar, especialmente no final da noite, ou logo de manhãzinha. Subitamente, pela primeira vez em anos, lembrou-se perfeitamente da voz da mãe, da risada do pai, tinha se esquecido deles por tanto tempo e agora estavam de volta. Diziam coisas, um sobre o outro, sobre ela, o Harry... e tinham razão, queriam que ela pensasse. Rony chegou a dizer alguma coisa, certa vez, mas ela não queria pensar, ainda não estava na hora. Não tinha que pensar... Não queria... Não podia... Eles não podiam forçá-la...
O Natal não caiu num dia de visitas, portanto não pode passá-lo com o Harry. Passou-o sozinha, com três pílulas vermelhas e duas amarelas. Só acordou às quatro horas da tarde seguinte, e então pode voltar para a loja. Queria remarcar alguns artigos para uma liquidação, tinham perdido dinheiro no Natal, e era preciso compensar. Uma liquidação bem gorda daria conta do recado. Ela mandaria cartõezinhos para os seus melhores fregueses. Isso os traria em bandos... esperava ela.
Trabalhou nos livros de contabilidade durante todo o Ano Novo e finalmente lembrou-se de dar cheques para Kazuco e Vivian, ao invés dos presentes de Natal que esquecera. Gina ganhara três presentes e um poema do Harry, Hermione lhe dera uma pulseira de ouro simples e linda, Kazuco e Vivian lhe deram coisas pequenas e carinhosas - uma miscelânea feita em casa num lindo pote francês, de Vivian, e um pequeno desenho a bico de pena numa moldura de prata, de Kasuco. - E ela lera o poema de Harry, repetidas vezes na véspera de Natal, o papel logo ficou enrugado, jazendo na sua mesinha-de-cabeceira.
Levara-o para o escritório e agora o carregava na bolsa, tirando-o para lê-lo durante o dia. No dia seguinte, já sabia todo o poema de cor.
Kasuco e Vivian se perguntavam o que ela ficava fazendo o dia todo no escritório. Aparecia para tomar café, ou para procurar qualquer coisa no estoque, mas raramente falava com elas, e nunca mais fizera brincadeiras. Os dias de fofocas gostosas e camaradagem, que tinham compartilhado, agora pertenciam ao passado. Era como se Gina tivesse desaparecido quando Harry foi preso. Aparecia à porta do pequeno escritório no final do dia, às vezes com um lápis enfiado no cabelo, um ar distraído, uma pequena pilha de contas na mão, e às vezes, com olhos injetados e inchados. Agora, facilmente era brusca com as pessoas com mais facilidade e perdia a paciência com mais freqüência, por coisa de pouca importância. E sempre presente, estava aquele ar morto nos olhos, aquele ar que deixava transparecer as noites em claro que passava. A expressão que dizia que estava com mais medo do que queria que elas soubessem e a turvação dos olhos inconfundível, das pílulas.
Apenas os dias em que visitava o Harry eram um pouco diferentes. Então ela estava viva, algo brilhava por trás do muro que construíra entre si mesma e o resto do mundo. Algo diferente acontecia em sua cabeça, mas ela não partilhava com ninguém. Nem mesmo com Hermione, que estava passando cada vez mais tempo na loja e aprendendo a conhecer Vivian e Kasuco. Num certo sentido, Hermione substituíra Gina, tinha o jeito descontraído que ela tivera antes, curtia a loja, as pessoas, as roupas, as garotas. Tinha tempo para conversar e rir,tinha novas idéias. Adorava o lugar e isso era evidente. As moças tinham se afeiçoado a ela, e Hermione até aparecia na loja nos dias em que Gina estava com o Harry.
- Sabem, às vezes acho que fico sentada aqui é para saber quando ela está de volta. Fico preocupada até com ela dirigindo - disse Hermione.
- Nós também - confessou Kasuco, sacudindo a cabeça.
- Ela me falou outro dia que faz a viagem no “piloto automático” - as palavras de Vivian não serviam do conforto. - Disse que às vezes nem se lembra de onde estava e do que estava fazendo até ver o sinal.
- Fantástico. Disse Hermione sarcástica antes de tomar um gole de café o sacudiu a cabeça.
- Horrível, não é? Fico me perguntando quanto tempo ela vai agüentar. Não pode continuar se arrastando desse jeito. Tem que ir a algum lugar, ver gente, sorrir ocasionalmente, dormir. – “E ficar sóbria”, Kasuco não falou, mas todas pensaram a mesma coisa. - Ela nem sequer parece mais a mesma mulher. Como será que ele está se saindo?
- Um pouco melhor do que ela, na verdade, mas não o veja há algum tempo. Acho que ele tem menos medo.
- Então é esse o problema com ela? - Vivian parecia atônica. - Pensei que era simplesmente exaustão.
- Isso, também. Mas é medo - Hermione parecia hesitante em discutir o assunto.
- E pressões. A Lady G tem dado dores de cabeça a ela, ultimamente.
- É? Parece bastante movimentada.
Kasuco sacudiu a cabeça, relutando em dizer mais alguma coisa. Tinha recebido telefonemas de pessoas a quem Gina estava devendo.
Pela primeira vez a loja estava em dificuldades, e não havia dinheiro ao qual recorrer sem ser o de Harry. Gina sangrara cada último centavo do dinheiro de reserva para a loja, mas a Lady G também estava pagando o preço de Harry, pois foi noticiado em todos os jornais e as pessoas evitavam fazer compras na loja da esposa de um estuprador.
Foi então que Gina entrou na loja, e a conversa cessou. Parecia abatida e magra, mas havia algo mais animado nos seus olhos, aquele quê indefinido que Harry devolvia à sua alma; Vida.
- Bem, senhoras, como a vida tratou a todas no dia de hoje? Estava gastando o seu dinheiro aqui de novo, Mione?
Gina sentou-se e tomou um gole do café frio de alguém. Mal deu para se notar que enfiara na boca uma pequena pílula amarela, ao mesmo tempo. Mas Hermione notou.
- Neca. Não estou gastando um níquel, hoje. Só dei uma paradinha para tomar um café e ter companhia. Como vai o Harry?
- Bem, acho eu. Cheio de novidades sobre o novo modelo de carro que está projetando. Que tal movimento, hoje?
Não parecia querer falar sobre Harry. Raramente falava agora de qualquer coisa importante para ela, Até mesmo com Hermione.
- Meio parado, hoje.
Kasuco contou-lhe o que se passara na loja, enquanto Vivian observava o ligeiro tremor da mão do Gina.
- Formidável. Um negócio morto e um carro morto. O carro de Harry quebrou e ficará uma fortuna para arrumar, não poderei ficar sem carro para visitá-lo e o concerto irá demorar uma eternidade.
Parecia despreocupada, como se realmente não lhe importasse e tivesse doze outros carros em casa.
- Quando vinha para casa?
- Naturalmente. Peguei carona com uns garotos . Numa camioneta Studebaker 1952. Era rosa com debruns verdes e eles a chamavam de Melancia. E rodava feito uma – Gina tentava falar com pouco caso, enquanto as três mulheres a observava.
- E onde está o carro?
- Num posto de gasolina na rodovia. O dono se ofereceu para tomar conta por 75 libras, até que o reboque vá busca-lo ou se quisesse vende-lo me pagaria 500 libras.
- Você o deixou ou o vendeu?
Até mesmo Kasuco parecia atônica.
- Neca. Não posso, é do Harry. Mas deixei lá até o reboque ir buscar. Não posso me desfazer do carro do Harry, mas terei que usar o dinheiro dele no carro, o meu está sendo empregado nas dívidas da loja e nas minhas pessoais. Vou comprar alguma coisa barata para as minhas viagens para ver o Harry e deixarei o carro guardado, não mais irei usa-lo.
Mas, com quê? De onde sairia o dinheiro? Ela não sabia responder.
- Eu levo você - A voz de Hermione era suave e estranhamente calma. Gina ergueu os olhos para ela e concordou. Não havia por que protestar. Precisava do ajuda e sabia disso, e não apenas com as viagens de carro.
Dali em diante, Hermione levava Gina para ver Harry três vezes por semana. Poupava a Gina o trabalho de esperar para tomar as duas pílulas amarelas quando chegasse lá. Desse modo, podia tomar duas pela manhã e outras duas depois de vê-lo. Por vezes até incluía uma verde e preta. Qualquer bocadinho ajudava.
Hermione não conseguia mais conversar com ela, nem fazia sentido tentar. Só o que podia fazer era dar apoio e ficar por perto para quando o teto finalmente desabasse. Se desabasse, quando desabasse, onde e como. Gina se dirigia para um muro de pedra com o máximo de velocidade possível. Nada menos do que isso iria detê-la. E Harry também não podia alcançá-la. Hermione enxergava isso claramente, agora, ele não podia enfrentar o que estava acontecendo com Gina, porque não podia ajudar. E se não podia ajudar-la, não queria ver. E cada vez que Gina chegava parecendo mais torturada, mais exausta, mais frágil, mais destruída na dor e enfeitada de bravata, aquilo apenas machucava mais o Harry. Ele sentia maior culpa, maior dívida, maior dor pessoal. Os seus olhos agora raramente se encontravam, os brilhos nos olhos verdes estavam apagados, assim como seu sorriso, a vida do moreno se encontrava em preto e branco. Quando conversavam simplesmente falavam, sem emoção, sem olhares e sem a conhecida ternura que sempre existiu entre o casal, suas conversas se resumiam no projeto e na Butique. Nunca no passado ou no futuro, ou das realidades do presente. Nunca falavam dos seus sentimentos, mas apenas exclamavam “Eu te amo”, a intervalos regulares, como pontuação.
Era uma coisa horrível de se ver e Hermione odiava essas visitas. Tinha vontade de dar uma sacudidela nos dois, de falar, de deter o que estava vendo. Ao invés disso, eles apenas continuavam a morrer quietamente dos lados opostos da parede de vidro, nos seus infernos particulares, Harry com a culpa dele, Gina com a dela, e cada um deles com a sua cegueira sobre si mesmo e o outro. Enquanto Hermione olhava, muda e horrorizada.
Se ao menos pudessem se abraçar, poderiam ter sido reais. Mas não podiam, e não eram. Hermione sabia disso enquanto os observava, podia vê-lo nos olhos de Gina. Havia dor constante, mas também a expressão de uma criança que não compreende. O seu marido se fora, mas o que era um marido e aonde fora? As pílulas tinham permitido que ela submergisse num mar de imprecisão e raramente voltava à tona. Estava muito perto de se afogar e Hermione não tinha certeza absoluta de que Harry já não tivesse se afogado. Hermione gostaria de não ter que comparecer às visitas, mas, agora, estavam todos trancafiados nos seus papéis: marido, mulher e amiga.
O mês de janeiro passou sangrando para fevereiro e depois claudicou para março. A boutique fez uma liquidação de duas semanas que teve pouquíssimo movimento, todos estavam ocupados ou viajando, ou se sentindo pobres. O restinho da linha de inverno deles não tinha vendido nada bem; a economia estava fraca e os luxos estavam indo para o brejo com ela. A Lady G, não era uma butique que atendesse às necessidades comuns, servia a uma clientela seleta dos internacionalmente chiques e os maridos das suas clientes estavam mandando que elas cortassem essa despesa. O mercado estava ruim, e eles já não achavam mais graça numa “sueterzinha” ou numa saia “boba”, que lhes custava ao todo perto de 600 libras.
- Meu Deus, o que vamos fazer com toda essa droga? - Gina andava de um lado para o outro.
Tinha visto o Harry de manhã, mais uma vez, através do vidro. Sempre através do vidro. Tinha visões de finalmente poder tocá-lo de novo quando estivessem os dois com 97 anos de idade. Nem sonhava mais com a vinda dele para casa, apenas com poder tocá-lo.
- Vamos ter um problema de verdade, Gina, quando a linha de primavera chegar - comentou Kasuco, olhando ao seu redor, pensativa.
- É, os filhos da mãe, deviam ter chegado na semana passada, está atrasada.
Entrou na sala de estoque para ver o que havia ali, Agora encontrava-se sempre irritada. A dor se mostrava de modo diferente, agora, drogar-se não era o suficiente; estava sendo preciso mais para parar as suas vozes interiores.
- Sabe, estive pensando - Disse Kasuco, enquanto a seguira até a sala de estoque e a observava.
- E doeu? - Gina ergueu os olhos, deu um sorriso constrangido, depois deu de ombros. – Desculpe, no que esteve pensando.
Agora parecia a antiga Gina, Mas isso era raro.
- Sobre a linha do próximo outono. Você vai a Paris por esses dias?
- De quê? Cabo de vassoura? - perguntou com humor. - Ainda não sei.
- O que vamos usar como linha de inverno, se você não for? - Kasuco estava preocupada. Quase não havia dinheiro para uma linha e ainda havia contas a pagar espalhadas por toda a mesa de Gina.
- Não sei, Kat. Vou ver.
Entrou no seu escritório e bateu a porta, Vivian e Kat trocaram um olhar. Vivian atendeu ao telefone. Era para Gina, o gerente do banco de seu marido, informando que o advogado de Harry, com uma procuração assinada pelo mesmo, transferiu uma grande quantidade de dinheiro para sua conta e para a conta da loja.
Em seu escritório, as mãos de Gina tremiam enquanto brincava com um lápis sobre a mesa, sabia que Harry estava fazendo isso por se sentir culpado e provavelmente pediu para Dumbledore descobrir como andavam as coisas na loja. Harry conhecia sua esposa e sabia o quanto era orgulhosa, não aceitava misturar as contas de sua loja com as pessoais deles, mas dessa vez, infelizmente, ela teria que aceitar, já que fora por culpa dele que as coisas estavam de mal a pior em sua vida e boutique. A Lady G estava entrando pelo cano e Harry estava na prisão, e tudo só ficava pior, ao invés de melhorar. Havia quase uma satisfação na coisa, como num jogo de “vamos ver até onde as coisas podem ficar ruins”. Enquanto isso, Hermione comprava suéteres dela a preço de custo e pulseiras de ouro “divertidas” no Shreve’s, e ia ao cabeleireiro de três em três dias, a 25 libras por vez. E agora tinha que pensar na linha de outono, passagem de avião e mais a conta do hotel, sem falar no custo do que teria que comprar. Aquilo a afundaria mais em dívidas, se não tivesse agora o dinheiro que Harry mandou. Sem uma linha de outono, era melhor fechar as portas da Lady G no Dia do Trabalho. Enquanto estava tentando calcular o custo da viagem a Paris, o intercomunicador tocou avisando que havia uma ligação ela. Pegou o telefone distraída, sem perguntar a Vivian quem era.
- Oi, boneca, que tal jogar um pouco de tênis? - A voz era jovial e já parecia de alguém suado.
- Quem é?
Desconfiou de uma ligação obscena, e já ia desligar quando homem do outro lado tomou um grande gole de alguma presumivelmente cerveja.
- Vacchi. E como tem passado?
- Vacchi? – perguntou, recuando o telefone como se fosse uma cobra.
- Vacchi, investigador de Policia.
- O quê? - perguntou sentando-se ereta, como se alguém a tivesse esbofeteado.
- Falei...
- Sei o que falou. E está me ligando para jogarmos tênis?
- É. Você não joga? – sua voz, do outro lado da linha, parecia surpresa, como a de uma garotinho, que foi severamente desapontado.
- Sr. Vacchi, estou entendendo direito? Quer jogar tênis comigo?
- É. E daí? - deu um arroto discreto ao telefone.
- Está bêbado?
- Claro que não. Você está?
- Não, não estou. E não compreendo por que ligou para mim – a voz de Gina vinha direta do Circulo Ártico, via interurbano, nunca sua voz foi tão fria como estava sendo neste momento.
- Bem, você é uma mulher bonitona, eu ia jogar tênis, achei que talvez quisesse jogar. Mas, tudo bem, se não curte o tênis, podemos ir jantar em algum lugar.
- Está maluco? Em nome de Deus, o que o faz pensar que tenho alguma vontade de jogar tênis, brincar de amarelinha, jantar ou fazer qualquer outra coisa com o senhor?
- Ora, vejam só a zangadinha. Qual é, boneca, para que ficar tão nervosa?
- Acontece que sou uma mulher casada.
Estava aos berros, e Vivian e Kat podiam ouvir o seu tom de voz através da porta. Perguntavam-se quem teria telefonado. Kat ergueu uma sobrancelha e Vivian foi atender uma freguesa. Lá dentro, a conversa continuava:
- É, acontece que você é uma mulher casada. E acontece que o seu homem está com a bunda grudada numa cela de cadeia. O que é uma pena, mas deixa você aqui fora com o resto de nós, seres humanos, que gostamos de jogar tênis, brincar de amarelinha, jantar e trepar.
Agora sentia-se genuinamente nauseada. Estava se lembrando dos cabelos negros e grossos dele, do seu cheiro. Aquele homem, aquele porco repulsivo, aquele cretino, estava ligando para ela e falando em trepar. Ficou ali sentada, pálida e tremula, com as lágrimas ardendo por trás das pálpebras, novamente. Era engraçado, sabia que, de alguma forma, isso era engraçado, mas não lhe dava vontade de rir. Dava-lhe vontade de chorar, de ir para casa, de... Isso fora o que Harry lhe deixara. Os Vacchi´s da vida e gente ligando sobre cheques que ela tinha se “esquecido” de mandar. E agora aquele animal ao telefone queria dar uma trepada.
- Eu... Sr..... eu estou... – Gina tentava falar, lutando para expulsar as lágrimas da voz, engoliu com força.
- Qual é, querida, as mulheres casadas em Londres não ficam com tesão ou você já tem um namorado?
Gina ficou olhando para o telefone, o queixo tremendo, a mão tremendo, as lágrimas escorrendo pelo rosto e fazendo beicinho como se fosse uma criança cuja boneca preferida tivesse sido feita em pedaços. Finalmente, percebera tudo, fora isso o que acontecera à sua vida. Sacudiu a cabeça devagar e desligou suavemente o telefone.
- Até logo mais, senhoras - ela pegou a bolsa e começou a sair da loja.
Estavam no início de abril, numa bela manhã quente de sexta-feira. A primavera parecia estar em toda parte.
- Aonde você vai, Gina? - perguntou Kat ao que ela e Vivian ergueram os olhos, surpresas.
- Ver o Harry. Tenho outras coisas para fazer amanhã, assim achei melhor ir hoje.
- Dê lembranças nossas.
Sorriu para as duas moças e saiu da loja quietamente. Andava muito quieta de novo, estranhamente quieta. A irritabilidade parecia estar passando, desde o telefonema de Vacchi, há três semanas. Não contara ao Harry, mas a degradação transparecia no seu rosto.
Momentos minúsculos, frases diminutas que rasgavam os corações como golpes de machadinha, deixando cicatrizes numa vida, num casamento, num homem. Por quê? Quando precisava tanto dele? Ou será que era isso? Que ela precisava dele e sabia que ele não precisava dela da mesma forma?
- Mas ele também precisava de mim.
A sua voz soava alto no isolamento do carro. Não podia permitir que Hermione lhe servisse de chofer três vezes por semana, tanto agora alugava um carrinho para ir vê-lo. Outra despesa. Mas, enquanto ia guiando, ficava se questionando. Por que as farpas? Os pequenos cutucões, ao longo dos anos, para cortar-lhe as asas, para que não pudesse voar e ir embora? E se ele tivesse ido embora, ela não teria sobrevivido. E a grande piada era que ele tinha voado, ido embora. Por uma tarde, e talvez mil tardes antes daquela, mas por uma tarde que lhes custara tudo. Ele precisara de uma mulher que não falasse certas coisas, que o não humilhasse. Alguém que não precisasse dele, não o amasse, não o magoasse.
Era uma loucura, na verdade. Fosse lá o que tivesse feito, ela o fizera por medo de perdê-lo. E agora, olhe só onde se encontravam. Estava tão entretida nos seus pensamentos que quase perdeu a entrada para o presídio, e ainda estava pensativa enquanto esperava que ele aparecesse à janela.
Mesmo depois da chegada do Harry, parecia estar mais concentrada no passado do que no presente. E ele também parecia perdido nos seus pensamentos. Ergueu os olhos para ele e tentou sorrir. Estava com uma dor de cabeça de rachar, e cansada. Ficava vendo o seu reflexo na vidraça que os separava. Aquilo fazia com que sentisse que estava falando consigo mesma.
- Não está muito tagarela hoje, Sr. Potter. Algum problema?
- Não, só estava pensando no projeto, acho. Estou chegando ao ponto em que é difícil me relacionar com qualquer outra coisa. Estou completamente envolvido com ele.
Notou um brilho estranho nos olhos dela quando terminou a frase e começou a falar-lhe do projeto. Ela deixou que falasse por alguns minutos, depois interrompeu.
- Sabe de uma coisa? Você é um espanto. Venho até aqui para saber como você está e dizer-lhe o que está acontecendo na minha vida E você me fala do projeto?
- E o que há de errado nisso? – Harry parecia intrigado, fitando-a do outro lado do vidro. - Você me fala da Lady G.
- Isso é diferente, Harry. Isso é real, pelo amor de Deus – ela estava com voz estridente e aquilo o irritou.
- Bem, o projeto é real para mim.
- Tão real que não pode nem tirar urna hora do seu precioso tempo para conversar comigo? Caramba, você está sentado ai feito um zumbi durante a última hora, falando do maldito projeto. E cada vez que começo a falar de mim, você vai desaparecendo aos poucos.
- Isso não é verdade, Gin. - Parecia nervoso. - O projeto vai indo bem de verdade e eu queria contar-lhe a respeito. Acho que nunca tive uma fase tão boa para desenvolver um novo veículo, é só isso. – Harry soube que tinha dito a coisa errada no momento em que as palavras saíram da sua boca. A expressão do rosto dela era incrível. - Gina, mas que diabo há de errado com você? Está parecendo que alguém acaba de enfiar um ferro quente no seu traseiro.
- É, ou quem sabe esbofeteou a minha cara. Meu Deus, você fica sentado aí e me diz que está desenhando brilhantemente, que nunca “teve uma fase tão boa para desenvolver um novo veículo”, como se estivesse aí tirando uma porra de umas férias. Sabe o que está acontecendo na minha vida?
Inspirou fundo e ele sentiu como se estivessem derramando veneno em cima dele, através do telefone. Ela perdera o controle, e não estava disposta a parar, não agora.
- Quer saber mesmo o que está acontecendo comigo, enquanto você está tendo “uma fase tão boa para desenvolver carrinhos”? Bem, querido, vou lhe contar. Lady G está indo à falência, só não foi agora por que tive que engolir meu orgulho e aceitar o seu dinheiro. Tinha gente ligando noite e dia para mim, mandando que eu pague as nossas contas e ameaçado me processar. O seu carro quebrou de tanto rodar, para vir te visitar, o concerto é caríssimo, meus nervos já eram, tenho pesadelos com o Investigador Vacchi todas as noites e o condenado telefonou me convidando para sair com ele, há três semanas. Achou que eu estava precisando de uma trepada. E pode ser que o filho da puta tenha razão, mas não com ele. Há não sei quantos meses nem toco na sua mão e estou ficando louca de pedra. A minha vida podre está indo para o brejo e você está numa fase boa para desenhar. E sabe o que mais é fantástico, querido? - O veneno pingava no ouvido dele e as outras pessoas na sala observavam, enquanto ele ficava sentado ali, incrédulo. Ela não estava guardando segredo de ninguém. - O que é absolutamente maravilhoso, Harry, meu querido, é que vim guiando até aqui, hoje, culpando-me pela décima milésima vez por tudo que fiz de errado no nosso casamento, pelas pressões que exerci sobre você, pelas coisas nojentas que falei. Será que você se dá conta que, a esta altura, representei de novo cada merda de cena do nosso casamento, tudo o que fiz de errado para você ter vontade de ir para a cama com uma bosta como aquela Margaret Sophie? Venho me culpando desde que aconteceu. Até mesmo me culpei por não querer filhos e com isso achando que tinha roubado a sua virilidade. E enquanto estava me crucificando, sabe o que você está fazendo? Tendo a melhor fase de engenheiro da sua vida. Bem, sabe de uma coisa? Você me dá nojo! Enquanto fica sentado aqui, nesta colônia para engenheiros glorificada que chamam de prisão, a minha vida inteira está aos pedaços e você não está fazendo coisa nenhuma a respeito, meu bem. Nada. E vou lhe dizer mais uma coisa, estou cheia, até dizer chega, desse vidro nojento, de ter que me retorcer toda para enxergar você e não um reflexo de mim mesma. Estou cheia de ficar de mãos suadas e orelhas suadas, e cérebro suado, só de falar com você neste maldito telefone... Estou cheia até aqui de todo essa maldita situação!
Gina berrava tão alto que toda a sala agora estava prestando atenção, mas nenhum dos dois notou. Aquilo vinha se acumulando meses.
- E suponho que você acha que curto isso aqui?
- É, acho que curte sim. Uma colônia para engenheiros gigolôs.
- É isso aí, benzinho. É isso o que aqui é. E só aqui, que consegui trabalhar. Nunca penso na minha mulher ou em como vim parar aqui, ou o por que disso tudo, ou naquela maldita mulher, ou no julgamento. Nunca tenho que me desviar à força de algum cara querendo me comer. Escute, moça, se acha que esta é a minha idéia de como viver, pode enfiá-la no rabo. Mas vou lhe dizer mais uma coisa, se acha que o nosso casamento é a minha idéia de como viver, enfie-o no mesmo lugar. Pensei que tínhamos um casamento, pensei que tínhamos alguma coisa. Bem adivinhe uma coisa, Sra. Potter, não tínhamos droga nenhuma. Nada. Nem filhos, nem sinceridade. E duas carreiras de merda. Duas pessoas de merda, na minha opinião atual. Você passou a maior parte dos últimos oito anos tentando não crescer e bancando a aleijada, depois que perdeu parte de sua família. Não apenas isso, mas me fazendo sentir culpado, sabe lá Deus por que motivo, para eu ficar por perto segurando a sua mão. E fui burro o bastante para engolir tudo isso, porque era burro o bastante para amá-la e queria ter a minha carreira de engenheiro e poder realizar o sonho dos meus pais e olha que eu também os perdi um pouco antes que você e não tenho nenhum irmão para me ajudar também. Bem, o resultado foi nojento, minha generosa senhora e pode ficar com ele. Acontece que preciso de uma mulher, não de um banqueiro ou de uma criança neurótica. Talvez seja por isso que eu esteja feliz agora, acredite se quiser, embora este lugar seja uma bosta. Estou trabalhando, desenvolvendo algo totalmente meu, coisa que não fazia há muito tempo. Que tal lhe parece, boneca? Você não está pagando as contas e vou continuar mandando dinheiro por mês para te ajudar com as despesas, mas eu não lhe devo coisa alguma exceto o fato de que você segurou a minha mão durante cada segundo do julgamento, e que foi maravilhosa. Mas vou lhe pagar todas as contas dessa época, algum dia. E se agora a sua idéia é me fazer sofrer o mínimo possível e me fazer sentir o mais culpado possível pelo quão fodida você está, o quanto as contas estão altas e como o meu carro quebrou rapidamente, então dane-se. Não posso fazer nada sobre coisa alguma, aqui dentro. Só o que posso fazer é ligar para você, ficar grato porque vem me ver e terminar a porra do meu carrinho, como você diz. Se você não curte vir me ver, faça-me um grande favor, não venha mais. Posso muito bem viver sem isso.
Gina sentiu o aperto, do pânico tão familiar, no peito enquanto olhava para o rosto dele, mas desta vez era pior. Nunca tinham dito coisas como essas um para o outro. E agora ela não podia parar, ainda podia sentir a bile espumando na sua alma.
- Por que não quer que eu venha vê-lo, querido? Encontrou outro amor aí dentro? Será que é isso, anjo? Será que o grande machão arranjou outro machão para amar? - Harry se pós de pé e olhou para ela como se fosse bater nela, através da janela de vidro, a fascinação da multidão agora silenciosa, de ambos os lados vidraça. - É isso, querido? Virou gay?
- Você me dá nojo.
- Ah, é verdade, esqueci. Você não gosta de “crimes infames contra a natureza”. Ou gosta? – Gina parecia intoleravelmente meiga enquanto erguia as sobrancelhas, e seu coração batia violentamente dentro do peito. - Quem sabe estuprou aquela mulher, no final das contas.
- Dona, se eu não estivesse aqui, enfiaria a mão na sua cara.
Encontrava-se acima dela, com o véu de vidro a separá-los, vagarosamente Gina ergue-se para enfrentá-lo. Sabia que o momento tinha chegado e não podia acreditar, ainda não conseguia parar.
- Enfiar a mão na minha cara? - agora as vozes deles estavam suaves. Ele falara com o tom de voz calculado de um homem que está quase acabado e ela falava com o sussurro prateado de uma víbora, prestes a dar o último bote. - Enfiar a mão na minha cara? - Repetiu as palavras de novo, com um sorriso. - Mas, por que agora, querido? Nunca teve colhão para isso antes. Não é, amor?
Ele respondeu em menos do que um sussurro, e o coração dela quase parou quando viu a expressão dos seus olhos.
- Não, Gin, não tive. Mas agora não tenho nada a perder. Já perdi. E isso torna tudo mais fácil.
Deu um sorriso leve e estranho que a deixou gelada, olhou para ela pensativo por um breve momento, largou o fone e se afastou. Não olhou para trás nem uma vez e Gina sentiu que ficava de boca aberta de espanto. O que ele acabara de dizer? Queria que ele voltasse para poder perguntar-lhe de novo para que... O que ele queria dizer com “isso torna tudo mais fácil”? O que... O filho da puta... ele a estava abandonado, não tinha o direito de fazer isso, não podia, ele... e o que ela tinha dito? O que tinha feito? Afundou-se na cadeira como se estivesse em estado de choque e vagarosamente o ruído de vozes à sua volta retornou ao normal. Há muito que Harry desaparecera pela porta, não estava mais visível. Ela estivera errada, ele tinha colhão. E tinha feito aquilo que ela mais temia. Ele a tinha abandonado.
O pára-choque dianteiro do carro alugado roçou as sebes frente da sua casa, quando dobrou na entrada para automóveis. Baixou a cabeça sobre o volante e sentiu perder o fôlego. Havia um soluço entalado ali, em algum canto, mas estava preso, não conseguia sair. O peso da sua cabeça fez disparar a buzina e o som parecia estar estourando a tampa da sua cabeça. Estava gostoso. Não tirava a cabeça de cima do volante. Ficou ali até que homens que passavam, entraram rapidamente na entrada, param e a pé bateram na janela. Ela virou a cabeça lentamente para lado, olhou para eles e riu, uma risada alta e histérica. Os homens se entreolharam indagadoramente, abriram a porta do carro e colocaram o corpo do Gina no banco, direitinho, com suavidade. Ela olhou para um e outro, riu histericamente de novo e então a risada transformou-se num soluço, que se arrancou da sua garganta e se tornou um lamento longo, triste, solitário. Sacudia a cabeça lentamente e dizia uma única palavra repetidas vezes, por entre os soluços:
- Harry.
- Moça, está bêbada?
O mais velho dos dois homens parecia agitado e pouco à vontade. Pensara que ela estava ferida, ou doente, com a cabeça em cima do volante, daquele jeito, e fazendo tal zorra com a buzina. Mas ela estava era bêbada, ou maluca, ou drogada. Não contara com isso. O homem mais moço olhou para ela, deu os ombros e abriu um sorriso.
Gina sacudia a cabeça lentamente de um lado para o outro e dizia a única palavra em que conseguia se concentrar:
- Harry.
- Irmã, está drogada? - Ela não respondeu e o homem mais moço deu de ombros de novo e riu. - Deve ser coisa da boa.
- Harry.
- Quem é Harry? Seu namorado?
Outra sacudidela cega da cabeça foi sua resposta.
Os dois homens se entreolharam de novo e fecharam a porta do carro. Pelo menos a buzina não estava soando mais e ela só ia ficar sóbria dali a horas. Foram se afastando, o mais moço divertido, o mais velho nem tanto.
- Tem certeza de que está drogada? Para mim me pareceu meio confusa. Quero dizer, doente-confusa. Meio maluca.
- Piradona, isso sim.
O mais moço riu, bateu na barriga e abraçou o amigo, justo quando Hermione ia passando de carro e percebeu que saíam da casa Gina, rindo e parecendo satisfeitos. Parou o carro e franziu a testa, enquanto um arrepio de medo lhe corria pela espinha. Não pareciam ser da polícia, mas... notaram que ela os observava e o mais moço acenou, enquanto o mais velho sorria. Hermione não entendia o que estava acontecendo, mas eles entraram num sedã vermelho e pareciam não ter pressa. Não havia nada de furtivo ou suspeito em seus movimentos. Só então Hermione reparou em Gina no seu carro alugado. Tudo estava bem. Hermione buzinou, Mas Gina não se virou. Buzinou de novo, e mais uma vez, e os dois homens desataram a rir, ruidosamente.
- Não, você também, irmã! A mulher naquele carro está tão pirada que tivemos que arrancá-la de cima do volante só para fazer com que largasse a buzina.
Fizeram um gesto vago na direção da entrada para carros da casa de Gina, deram partida no seu carro e se arrancaram da vaga enquanto Hermione saltava do veículo e subia correndo a entrada para carros.
Gina ainda estava sentada lá, chorando e soluçando, mantendo a sua única palavra na boca: “Harry”. Hermione não estava tão certa que estivesse drogada. Um pouco talvez, mas não tanto quanto parecia. Em estado de choque, talvez. Alguma coisa se rompera.
- Gi? - Envolveu-a com o braço e falou suavemente enquanto a ruiva se largava ligeiramente para frente. - Oi Gin, sou eu, Hermione. - Gina olhou para ela e balançou a cabeça. Os dois homens já tinham ido embora, Todos tinham ido embora. Até mesmo o Harry.
- Harry - falou, com mais clareza, agora.
- O que há com o Harry?
- Harry.
Hermione enxugou o seu rosto suavemente com um lenço.
- Fale-me do Harry. - O coração de Hermione batia forte e ela estava tentando manter a mente desanuviada para observar os olhos da amiga. Não achava que fosse uma dose excessiva de pílulas, O mais provável, era uma dose excessiva de problemas. Gina finalmente chegara ao seu limite.
- E quanto ao Harry, amor? Me conte. Ele estava doente, hoje? – a ruiva sacudiu a cabeça. Pelo menos ele não estava ferido. Hermione pensara nisso a princípio, com as histórias de horrores nas prisões publicadas nos jornais correndo instantaneamente pela sua cabeça. Mas Gina fizera sinal de que não. - Algum problema?
Gina inspirou fundo e fez que sim com a cabeça. Inspirou fundo de novo e se recostou um pouco no banco.
- Nós... tivemos... uma briga. - As palavras mal eram inteligíveis, mas Hermione assentiu com a cabeça.
- Por causa de quê?
A ruiva deu de ombros, parecendo confusa de novo.
- Harry.
- Por causa do que vocês brigaram?
- Eu... não... sei.
- Lembra-se?
Deu de ombros de novo, fechou os olhos.
- Por causa de tudo... Acho. Ambos... Dissemos... coisas terríveis. Acabou.
- O que acabou? – Hermione perguntou, Mas achava que sabia.
- Acabou. Acabou mesmo.
- O que acabou mesmo?
A voz dela era tão meiga, e as lágrimas escorriam pelo seu belo rosto com força redobrada (eu ia colocar como se fosse da Hermione, mas acho q não é dela q vc ta falando não ne? Coloca no nome, de qm for!).
- O nosso casamento... acabou... mesmo. - Sacudiu a cabeça, mudamente, depois fechou os olhos de novo. - Harry. ..
- Não acabou tudo, Gi. Vamos, fique calma. Vocês provavelmente tinham muita coisa para botar para fora. Enfrentaram problemas muito desgastantes, ultimamente. Muitos choques. Tinha que vir para fora.
- Não, acabou. Eu... fui tão horrível com ele. Sempre... fui horrível com ele. Eu... - Mas então não pode falar mais.
- Por que não entramos e você se deita um pouquinho? - Gina sacudiu a cabeça e não se mexeu, Hermione lutou para chamar a sua atenção. - Gi, me escute por um minuto. Quero levá-la a um lugar. - Os olhos da moça se arregalaram de terror.
- Um lugar muito agradável, você vai gostar. Iremos juntas.
- Um hospital?
Hermione sorriu pela primeira vez em cinco minutos.
- Não, boba. A fazenda da minha mãe. Acho que lhe faria bem, e...
Gina sacudiu a cabeça, teimosamente.
- Não... eu...
- O quê? Por que não?
- Harry.
- Bobagem. Vou levá-la até lá e você vai ter um belo descanso. Acho que você já aguentou o que pôde, por enquanto. Não acha? - Gina sacudiu a cabeça, calada, de olhos fechados de novo. - Gi, tomou muitas pílulas hoje? - Ela começou a sacudir a cabeça, depois parou e deu do ombros. - Quantas? Conte-me.
- Não sei... não tenho certeza.
- Me dê uma idéia aproximada. Duas? Quatro? Seis? Dez? Perguntou rezando para que não fossem tantas.
- Oito... não sei... sete... nove...
Jesus.
- Estão na sua bolsa? – a ruiva fez que sim. E Hermione pegou suavemente a bolsa de cima do banco. - Vou tirá-las, está bem?
Gina sorriu, então, pela primeira vez, e inspirou fundo. Quase parecia a velha Gina de novo.
- Tenho... opção?
As duas mulheres riram uma tonta e a outra nervosamente, Gina deixou que a amiga a ajudasse a entrar. Estava menos drogada do que esgotada. Deixou-se deslizar lentamente para uma cadeira na sala de visitas e nem se mexeu enquanto escutava os ruídos de Hermione movendo-se ativamente no quarto e no banheiro. Ia ser tão bom se afastar de tudo aquilo, até mesmo da visão de Harry por trás da janela de vidro. Soube então que jamais o veria ali de novo. Resolveria o resto depois, mas isso ela já sabia. Soltou um profundo suspiro e pegou no sono na cadeira, até que Hermione a acordou e a levou até o Jaguar.
As suas malas tinham sido arrumadas, a casa estava trancada, Gina sentia-se como se fosse uma criancinha de novo, bem-cuidada e muito amada.
- E quanto ao carro? - perguntou.
- O que você alugou? - Ainda estava parado, todo torto, na entrada. A ruiva fez que sim. - Mandarei alguém vir buscá-lo mais tarde. Não se preocupe. - Gina não se preocupava. Era parte da felicidade de se ter dinheiro. Ter “alguém que viesse buscá-lo mais tarde”. Rostos e mãos anônimos para fazer esse tipo do serviço. - E telefonei para as moças na loja e falei que você ia viajar comigo. Pode ligar para elas amanhã e dar-lhes instruções.
- Quem vai... quem ..... sabe, gerir a loja?
Tudo ainda estava misturado na cabeça de Gina, e Hermione sorriu e deu uma palmadinha suave na sua face.
- Eu vou, E mal posso esperar. Que barato, férias para você e e féria da clinica pra mim.
Gina sorriu, e pareceu mais normal de novo.
- E a linha do outono?
Hermione ergueu uma sobrancelha, surpresa, enquanto dava partida no carro.
- Você deve estar melhorando. Mandarei Kasuco, com a sua permissão. Cuidarei da parte financeira, e você me pagará depois.
Gina sacudiu a cabeça e voltou a olhar para a amiga. A ligeira soneca a deixara mais sóbria.
- Não posso pagar-lhe depois, Hermione, pagarei agora. A Lady G está lutando apenas para sobreviver. Este é um dos motivos pelos quais ninguém ainda foi para Paris, o Harry transferiu uma grande quantia em dinheiro para minha conta e da Lady G, farei uma procuração e você usará esse dinheiro.
- Claro. Depois que Kasuco voltar. Terei novidades para você. Não lhe é permitido tomar decisões durante as próximas duas semanas. Nenhuma. Nem mesmo o que vai comer no café da manhã, Faz parte das regras básicas dessas suas férias. Adiantarei o dinheiro para a linha de outono, e acertaremos tudo mais tarde. Estou precisando de um meio de desvalorização fiscal, de qualquer maneira.
- Eu... mas...
- Cale a boca.
- Sabe de uma coisa? - Gina olhou para ela com um pequeno sorriso e olhos cansados e inchados. - Vou aceitar. Preciso da linha de Outono ou a loja vai fechar, de qualquer forma. Que diabo, Kasuco ficará feliz em ir?
- O que você acha? - As duas mulheres sorriram de novo e Hermione parou o carro diante da própria casa. - Você consegue subir as escadas? – a ruiva confirmou com a cabeça e seguiu a amiga lentamente para dentro de casa. - Preciso só de umas coisinhas, vou apenas passar a noite lá. Quero estar trabalhando amanhã.
Resplandecia com as palavras E quinze minutos mais tarde, estavam de volta no carro, dirigindo-se para a auto-estrada. Gina ainda sentia como se uma bomba tivesse atingido a sua vida, agora tudo estava se movendo depressa demais.
As palavras trocadas com Harry voltaram à sua mente enquanto rodavam em silêncio. Tinha fechado os olhos e Hermione pensava que estava dormindo, Mas estava bem desperta. Desperta demais. E mais do que estivera em muito tempo. Precisava de outra pílula, mas Hermione jogara todas no vaso e dera a descarga, na casa. Todas elas. As vermelhas, as azuis, as amarelas, as pretas e verdes. Não sobrara nada. Exceto o seu próprio coração, batendo com as palavras do Harry... e o seu rosto... e... por que tinham feito aquilo um com o outro? Por que o veneno, o ódio, a raiva? Não fazia sentido para ela, Nada fazia. . Quem sabe até os bons tempos tinham sido uma mentira. Era tão difícil destrinçar tudo isso, agora E era tarde demais, de qualquer forma. Procurar as respostas, era como procurar o dedal de prata da sua avó nos destroços da sua casa, depois que ela fora incendiada. Juntos, ela e Harry tinham tocado fogo no seu casamento, e dos lados opostos de uma vidraça tinham-no visto queimar, atiçando as chamas, recusando-se a partir até que a última viga tivesse desaparecido.
ESPERO MUITOS COMENTÁRIOS E VOTOS
N/A: Vocês não tem noção do quanto foi trabalhoso escrever este capitulo, pois esse é o capitulo que marca o de um relacionamento, o fim da falta de amor próprio digamos assim, não condenem o Harry para ele também não está sendo fácil, ele tem se apagado no trabalho para não enlouquecer, a Gina surtou, pois precisa descarregar tudo o que estava a ferindo, causando assim uma grande combustão no relacionamento deles, e o que sobrou até então foram cinzas, mas será que será como uma fênix que renascerá das cinzas? Bom vocês vão ter que ir acompanhando a fic para descobrir. Bjos
N/B: ai MEU DEUS! Que cap foi esse? Gente será que sou só eu que estou assim? CARACA! Quando a Gina falou tanta coisa com o Harry virei fã dela!! \o/ E quando ela falou que ele não era homem, não tinha ‘saco’ para bater nela!? Aaaaaaaa \o/ Demais! Ohhhh fiquei com tanta dó dela!! Mas amei ela esculachando o Harry!!! Foi o ápice dela!, ao menos para mim!! aaaaaa eu ri demais quando ela perguntou se ele tinha arrumado um amor! Hauhauhaua.. sei que esse comentário tem naaada haver com minha função de Beta, mas é inevitaaavel!! Agora eu to com nooooojo de investigador. Argh! Babacão! Bom, agora euuuu posso falar que não vou morrer tanto quanto os leitores, pois já tenho o oitavo cap para betar!!! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!! Comentem crianças, por nosso queridíssima merece, não é? Muito mais depois de um capitulo perfeito como esse! Bjs
Máira Vivian
Agradeço a todos que comentaram e que estão acompanhando a fic, no próximo capitulo prometo responder todos os comentários. Bjos
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