Diana
Por mais improvavel que pareça, os dias continuaram a ser assim, passava um, passava outro, e os quatro continuavam a se encontrar no café da manha, conversar a caminho das aulas, almoçar juntos e seguir juntos para a torre no fim do dia. Por um mês, Danniel viveu sem grandes acidentes, deixando seus trabalhos uma vez por semana nas masmorras, e voltando rapidamente para encontrar os amigos na torre, que o esperavam, normalmente com uma bomba de chocolate extra para ele ou uma piada sobre serpentes para anima-lo.
Sim, porque, mesmo só uma vez por semana, descer até as masmorras ainda era um enorme sacrificio para o moreno. Uma vez, Ed o acompanhou, e pode presenciar a mudança que se operava no amigo quando se aproximava daquelas paredes de pedra fria. Seus olhos perdiam a cor, assim como seu rosto ficava mais pálido, a voz enrouqueava e o maroto Dan adquiria um ar doentio de quem se recupera de um resfriado muito forte. Mas bastara encontrar com Clara e Mel segurando uma grande fatia de torta de limão para seu animo voltar.
Exatamente um mês depois do incidente no trem, estavam os amigos sentados na beira do lago, aproveitando o fim de domingo. Mel e Clara brincavam na água com os tentaculos da lula gigante; Ed rebiscava uma carta, e Dan olhava, sonhador, para o campo de quadribol.
-Domingo, não é Danny? - Disse Mel, respingando água no amigo, depertando-o bruscamente de seus pensamentos.
-Pois é... Parece que meu estomago despenca toda vez que eu penso nisso...
-Imaginem os jogadores então, como não devem estar. - Comentou Ed, surgindo por cima do pergaminho. - Os Gêmeos Wesley ficam andando por ai com uma cara de enjoo de dar pena.
-Isso é por ser o primeiro jogo, você se acostuma facil. - Mel sentou-se na grama perto dos meninos, observando Clara quicar pedras na água. - Foi mais ou menos assim na minha primeira reunião de monitoria.
-É realmente parecido. - Caçoou o sonserino, sorrindo.
-A primeira reunião foi realmente assustadora. - Concordou Ed, enrolando a carta e apontando com o rolo para o amigo. - Só tome cuidado para não desmaiar.
-Desmaiaram na primeira reunião de monitoria? - Perguntou Clara, secando as mãos na barra das vestes.
Ed deu ombros, guardando o pergaminho num bolso interno e se levantando, enquanto espanava a grama das vestes.
-Vou ao corujal.
-Nos encontramos no jantar então, eu vou até a biblioteca verificar umas coisas. - Disse Mel, imitando o amigo loiro e aceitando o braço que este lhe oferecia.
-Então eu vou dar uma volta por ai... - Danniel indicou os lados do campo de quadribol com a cabeça.
-Ótimo, te faço companhia então, nos vemos no jantar em...
-Uma hora? - Sugeriu Edward, enquanto Dan estendia o braço para Clara, só de graça.
A ruiva sorriu, enquanto os outros dois concordavam com a cabeça. Ed virou rapidamente, carregando Mel, em direção ao castelo.
-Qual o motivo da pressa? - Perguntou a morena, se apressando para não ser arrastada.
-Tenho que entregar isso o mais rapido possivel. - Respondeu Edward, olhando fixamente para a torre do corujal.
-Ah... É assim urgente?
-Uma carta de aniversario para minha mãe.
-Quando é o aniversario? - Mel olhou em volta, procurando por algo enquanto andava de braço dado com o amigo.
-Amanha.
-Meio em cima da hora, não? E o presente?
Ed tirou um embrulho prateado do tamanho de uma caixa de CD de dentro das vestes. Melaney sorriu, abaixando de forma que fizesse Ed parar tambem, e recolheu alguma coisa no chão. O amigo parecia visivelmente perturbado, e até mesmo irritado pela parada, mas sorriu, compreensivo, quando Mel prendeu, no laço de seu embrulho preteado, uma pequena florzinha cor-de-rosa.
-Dai, você simplesmente sacode com força como se fosse um chicote. Só tome cuidado para as meias não voarem pela janela, meu irmão fez isso uma vez.
Clarisse andava ao lado de Dan, explicando a ele um de seus feitiços favoritos para dobrar meias, enquanto o amigo vagava com o olhar pelo campo a sua volta.
-Não sabia que você tinha um irmão... - Respondeu ele, sonhador, olhando para o palanque do irradiador
-Tenho dois, uma irmãzinha de oito anos e um mais velho de dezenove. Mas os dois estão em casa, ajudando na mudança. Sabe, era muito complicado frequentar a escola e o meu pai ir trabalhar morando lá an Escócia... Eu acabava ficando na casa da Mel nos feriados.
-E agora, onde você...?
Foi interrompido por uma exclamação de surpresa por parte da ruiva, que visava um ponto um pouco acima das balizas do campo de quadribol. Dan não viu nada a principio, quando percebeu uma goles estranhamente deformada vindo na direção dos dois. Alguns metros depois, percebeu que não se tratava de uma bola, mas de uma coruja cor de cobre, que voava em direção a eles de uma viagem obviamente longa, considerando que perdia a altura com uma certa ansiedade, e tinha as penas afofadas pelo vento.
-Diana! Finalmente! - Antes que o sonserino percebesse, Clara já estava correndo em direção a coruja, que ao que parecia, desistira de voar e chegara a conclusão que cair de uma vez era melhor. Por pouco, a menina não consegue aparar a queda da querida mascote, acariciando suas penas para conforta-la. Danniel veio depois, ligeiramente ofegante, mais do susto do que da corrida.
-É sua? - Perguntou, passando a mão pelos cabelos para afasta-los do rosto.
-Sim... Por Merlin, já estava começando a achar que alguma coisa séria tinha acontecido, para um mês sem resposta... - A ruiva abraçou sua coruja, misturando seus cabelos cor de fogo as penas da coruja de forma que não se sabia onde era cabelo e onde era pena. Foi então que a coruja emitiu um pio sofrido e fraco, tremendo no colo de sua dona.
-Ela não parece muito bem... Era melhor levarmos para o corujal... - Sugeriu Dan, olhando preocupado para o animal.
-É...É melhor mesmo... O que pode ter sido?
-Uma briga com outra ave, ou tempo muito ruim, essas coisas acontecem. - Respondeu o moreno, dando um tapinha amistoso no ombro da amiga, que respondeu com um sorriso fraco.
Voltaram com passos rápidos para o castelo, passando pelas portas de carvalho e subindo as escadarias até a porta do corujal. E lá estava Ed, exatamente na saida.
-Já se passou meia hora? - Perguntou o menino, olhando confuso para os dois.
-A coruja dela não parece muito bem. - Respondeu Dan, indicando o animal nos braços da menina. Ed ainda demorou um pouco para perceber que se tratava de uma coruja, e não de uma continuação bizarra do cabelo da amiga, mas depois do susto, estendeu os braços para receber a coruja.
-Deixe-me ve-la aqui...
O rapaz deitou delicadamente a coruja ferida no chão coberto de palha do corujal, e abriu de leve suas asas, procurando por um ferimento que logo achou, indo da dobra da asa direita até metade do tronco. Não parecia fundo, mas com certeza o animal não poderia voar de novo por um tempo.
-O melhor é deixa-la aqui para descansar... E talvez falar com Hagrid ou o professor de Trato de Criaturas Mágicas amanha pela manha... - Recomendou Dan, sendo apoiado imediatamente pelo amigo loiro. Clara ainda fungou de leve, parecendo bastante abatida, mas concordou.
-E não esqueça a carta, o que quer que tenha feito isso, sua coruja se feriu para proteger isso. - Disse Ed, entregando a ela o pergaminho que antes jazia preso numa das patas da ave. O loiro pegou delicadadente Diana e a levou até um poleiro numa area mais aquecida do corujal, receendo um pio de agradecimento em retorno.
-Então...Cadê a Miss Monitora? - Perguntou Dan, fechando a porta do corujal atrás de si, minutos depois.
-A Mel está na biblioteca, se é o que quer saber. - Respondeu Ed, olhando de solsaio para o melhor amigo.
-Então...Vamos busca-la para o jantar...? Já estamos todos juntos aqui mesmo... - Danniel desviou os olhos, colocando as mãos nos bolsos das vestes. Ed suspirou, concordando, e Clara deu ombros, ainda olhando fixamete para o chão enquanto andava. Os dois perceberam o desanimo nos olhos dela, tanto que Dan fez um sinal com a cabeça para que Ed fizesse alguma coisa de util.
-Calma, Clarisse. - Disse o loiro, pousando a mão no ombro da menina, que levantou o olhar triste, parando no meio do corredor. - Em menos de um mês, sua coruja vai estar nova em folha, essas coisas acontecem! Vamos, eu sou bom em Trato de Criaturas Mágicas, ela vai ficar bem!
-Eu sei... - Respondeu a menina, cabisbaixa. - Tá tudo bem, é só que...Sei lá, é idiota, mas eu gosto demais da Diana para ve-la desse jeito.
-A gente entende. - Afirmou Dan, colocando a mão no ombro livre da garota, com um sorruso amistoso. - É como eu e o meu irmão, só que com penas, nesse caso.
Clara deu uma risadinha, secando os olhos humidos, para depois sorrir de verdade.
-Ótimo, agora, vamos buscar a Mel que eu estou com uma fome de hipogrifo! - Dan indicou com a cabeça a biblioteca com um movimento de cabeça. - Tanto que estou disposto a entrar ai.
Ed e Clarisse trocaram olhares divertidos, enquanto Dan andava, fingindo medo, em direção as portas de madeira. O loiro sorriu e piscou, indicando o caminho do amigo, e fazendo Clara sorrir, mais corada, e voltar a andar.
-Shhh... - Fez Danniel, com um dedo sobre os lábios e o ouvido encostado na porta. Os alunos passavam rindo da encenação do sonserino, mas ele não parecia se importar. - Não se sabe os perigos escondidos entre cada prateleira...Fiquem junto de mim e não se deixem ficar para tras, se algum de nós ficar... - Ele parou, com a mão na maçaneta, olhando sombriamente para os dois. - ... os outros devem serguir em frente.
Clara e Edward se seguiravam para não cairem na gargalhada, e apenas concordaram com a cabeça, escondendo os risos. Dan pareceu satisfeito, repirou fundo, fechou os olhos e abriu vagarosamente a porta. Passou primeiro a cabeça, olhando para os lados, e depois chamou os amigos com um sinal da mão livre. Os outros ainda chegaram a se entreolhar, antes de seguir atras, sem conter sorrisos.
A biblioteca estava quase vazia aquela hora. Só um desesperado iria até lá num domingo tão agradavel. Um desesperado ou alguem acima do quarto ano, apesar de dar na mesma. Em uma ou outra mesa, um aluno ou outro pesquisava num grande livro ou arranhava um pergaminho com sua pena. Esse era o unico ruido em todo o recinto, alem dos estalos da porta. Ed fechou a porta atrás de si ao entrar e se virou para Dan sorrindo com sarcamo.
-E agora, comandante?
-Shhh... - O amigo imitou o gesto com o dedo e apontou para a frente, andando pé ante pé em direção a um conjunto de estantes mais a direita.
Seguiram em frente e deram a volta em pelo menos três seções diferentes, até chegarem ao centro da biblioteca, onde mesinhas retangulares e cadeiras forradas de veludo gasto estavam arrumadas para os alunos. Haviam dois rapazes do sétimo ano e uma do sexto na mesinha mais proxima, cada um debruçado sobre um livro do tamanho de um aparelho de fax. Passaram por eles sem fazer o menor ruido. Sinceramente, tinham duvidas se o trio tinha sequer percebido a presença deles. Seguindo por um corredor mais iluminado entre as mesas, deram de cara com uma mesa mais afastada, onde uma morena já conhecida lia um livro que era a soma dos do grupo que tinham acabado de ver. Ela sorria levemente, acompanhando cada linha com os olhos e acariciando o canto das páginas distraidamente.
-Como está a leitura?
A menina ergueu os olhos, pega de surpresa pela pergunta de Ed, e verificou instintivamente o relógio.
-Ainda faltam dez minutos, sabe?
-Tivemos um pequeno acidente... E você não está com fome? Nós almoçamos cedo hoje. - Respondeu Dan, se postando nas costas da menina para ver o que ela estava lendo. - Livro de historias? - Perguntou, incrédulo.
-De mitos e lendas bruxas ao redor do mundo, na verdade. - Disse a garota, fechando o livro delicadamente e se levantando da cadeira, fazendo, consequentemente, Dan se afastar um passo. - Muito bem então, vamos jantar, mas eu primeiro vou retirar esse livro, se não se importam.
Danniel já ia abrir a boca para dizer que se importava, ma Clara o cortou no ato.
-Claro que não, mas vamos logo antes que acabe o rosbife.
Ed já ia se adiantar para ajuda-la a erguer o grande livro, mas ela fez um movimento para que ele parasse e ergueu-o sozinha, como se fosse uma pena. Ed suspirou, sorrindo.
-Feitiço de leveza?
-Já vem com o livro, se não ia quebrar a prateleira. - Respondeu a morena sorrindo, satisfeita pela cara de surpresa que Dan havia feito segundos antes.
Minutos depois, dos quatro amigos desciam a escadaria de marmore em direção ao salão principal. Ed e Danniel iam na frente, discutindo os "perigos" da biblioteca de Hogwarts, enquanto Clara, mais atrás, explicava a Melaney o acidente de sua coruja. A morena ouvia em silencio, de braço dado com a amiga, afagando sua mão sempre que o brilho nos olhos de escocesa parecia falhar. Ambas já estavam comentando a amabilidade dos amigos em cuidar, tanto dela quanto de Diana, ao chegarem na mesa da Griffinoria.
-Estou surpresa, Danny. - Anunciou Mel, se servindo de terrina. - Você eliminou a minha teoria inicial.
-Que seria? - Perguntou o rapaz, comendo uma coxa de galinha.
-Minha teoria de que você tem a sensibilidade de uma colher de sopa. - Respondeu a moça, estendendo-lhe um guardanapo para que limpasse o queixo.
-Sua capacidade de ser má com seus proprios amigos me impressiona, Mel. - Observu Ed, servindo a ele e os outros de batatas assadas.
E assim, mais um jantar entre amigos
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