Pelo resto da vida
-Bem, já não era sem tempo. - Alvo Dumbledore sorriu, espiando os estudantes por cima dos oclinhos de meia-lua. - Senhorita MacDenn, feche a porta, sim? Não vamos perder muito tempo, ainda temos aulas a serem dadas.
Mel acatou o pedido do diretor, mas não sem espiar uma frestinha na porta, esperando ver Ed e Clara, sem sucesso, e nesse intervalo, percebeu a expressão de horror estampada nas feições de Danniel.
Ao lado direito da escrivaninha do Diretor, os professores McGonagall e Snape fitavam os alunos, em silencio. Do outro lado do escritório, próximos ao poleiro da bela fênix de estimação de Dumbledore, Fawkes, estavam o Barão Sangrento e Nick-Quase-Sem-Cabeça flutuando etereamente. Nick ainda chegou a fazer um sinal de encorajamento para o rapaz, mas a careta de repulsa do Barão foi mais efetiva.
-Muito bem, senhor Spedler. - Disse o Diretor, quebrando o silencio desagradável. - A Senhorita MacDenn veio a mim há poucos minutos relatar o seu problema de acomodações.
-Problema de...?
-Acomodações, sim. O fato de que o senhor não está em condições de freqüentar sua própria Sala Comunal, em conseqüência de um desentendimento com seus colegas, estou certo?
-Bem, sim mas...
-Entenda, eu não ignorava a sua situação, senhor Spedler, mas acreditava que poderia resolver esse pequeno problema sozinho. No entanto, a senhorita MacDenn veio me relatar o incidente desta manhã com seu olho, e Madame Pomfrey me confirmou...Isso foi causado por um colega sonserino, não foi?
Dumbledore olhava atentamente para Danniel, mais precisamente, para o ungüento ainda presente em seu olho. Talvez, por mirar apenas o menino, o diretor não tenha visto que tanto Snape quanto o Barão Sangrento se endireitaram ao fim da pergunta.
-Ah...Foi, sim senhor.
-E não tem sido um acontecimento isolado, eu creio.
-Isso...Ah...Acontece com freqüência, sim senhor.
-Hum... E por esse motivo, você tem o habito de freqüentar a sala comunal da Griffinoria, chegando a ficar dias sem descer para sua própria sala?
-Sim senhor.
-Faz isso apenas por proteção?
-Ah...Não senhor. Também tenho meu irmão, meus amigos...
-Sim, sim, de fato... Por isso que vocês todos estão aqui. Até antes de vocês entrarem, eu estava discutindo a questão com os professores-diretores das casas e seus respectivos fantasmas. - Disse Dumbledore, indicando os outros ocupantes da sala com uma das mãos. - E infelizmente, chegamos a conclusão que garantir a sua segurança exigiria medidas que, acredito, nenhum de nós, incluindo você, estaríamos dispostos a adotar. Tais como feitiços desagradáveis e completamente desnecessários.
-Então...O que vão fazer?
O diretor sorriu, desviando o olhar para Melaney, que permanecia séria, olhando vagamente pelo gabinete, e meneou a cabeça, voltando a olhar para o sonserino.
-Bem, não podemos permitir que o senhor mude de casa de súbito, depois de cinco anos, mas também não podemos permitir que sua vida escolar seja ameaçada, então, chegamos a uma conclusão.
Dumbledore levantou de sua grande cadeira e seu à volta na mesa, parando a frente de Dan.
-A senhorita MacDenn me disse que o senhor, Senhor Spedler, não tem causado problemas, e ao que parece, nenhuma Griffinorio tem algo contra a sua estadia. Pois bem, o senhor poderá freqüentar a sala comunal da Griffinoria, dês de que venha a sua própria sala comunal no mínimo uma vez por semana. Mas ficará sob a vigília dos monitores, enquanto estiver na torre.
-...Vou ter que dormir nas masmorras?
-Não, você poderá dormir na torre se assim quiser, mas, por enquanto, não poderemos lhe oferecer uma cama... - O diretor sorriu, indicando a vice-diretora. - Minerva irá providenciar um sofá ou poltrona adequada até o fim de semana, quando espero poder organizar melhor os dormitórios para uma outra cama.
A Professora McGonagall confirmou com a cabeça, mirando seus olhos de conta no menino, onde ele, por um instante, pensou ver um brilho de simpatia. Esse ato fez a situação se tornar bem menos incomoda, apesar da expressão dura dos representantes da Sonserina.
-Claro, vamos precisar de um comprovante que você realmente foi às masmorras, como combinado, no entanto, o Professor Snape vai explicar-lhe melhor do que eu.
Severo virou aqueles olhos escuros e opacos como túneis para o rapaz, que sentiu um arrepio gelado descer a espinha. A voz, seca e fria, do professor, mais parecia um chiado quando ele falou.
-Muito bem, Spedler. - Disse ele, vagarosamente, erguendo a varinha e virando rapidamente, fazendo surgir um pequeno baú circular de pedra, mais ou menos do tamanho de um prato, em cima da mesa de Dumbledore. - Esse baú vai estar durante a semana em cima da lareira da sala comunal. Toda semana você deve deixar um dos seus deveres ou no mínimo um bilhete dentro dele, para que possa provar que cumpriu mesmo o trato. - Seus olhos faiscaram. - Não adianta mandar outra pessoa colocar por você, ele só vai abrir se for você que estiver tocando. Se tentarem forçar a abertura...Não vai ser agradável, portanto, não há a menor chance do seu dever entrar ou sair nas mãos de outra pessoa.
Danniel olhou de Snape para Dumbledore, depois para McGonagall, seguindo para Melaney e os fantasmas, e de volta para Dumbledore, Melaney de novo, McGonagall até voltar para Snape.
Segundos depois, estavam abrindo a porta do gabinete, dando de cara com uma Clara andando de um lado para o outro e um Ed encostado no batente.
-E então? - Perguntou o menino, ao ver a expressão de Dan. - O que ele queria?
-Falar sobre eu estar na sua sala comunal.
Ed fez um ruído de horror, e Clara baixou a cabeça. Já Mel, que estava ficando cansada de tanto pessimismo, chegou a franzir a testa, mas percebeu que Dan olhava para ela, como se também achasse graça dos dois. Sorriu também e ajudou a explicar a situação. A cada frase, o queixo dos outros dois caia mais.
-Mas então...O Dumbledore até que foi bem bonzinho com você. - Disse Ed, quando já desciam a escada giratória para o corredor.
-Só o Dumbledore? - Perguntou Clara, mirando a amiga com um olhar maroto.
-Como se vocês não fossem pegar no meu pé até eu deixar ele ficar. E de qualquer forma não dependia só de mim, mas pra que raios os fantasmas estavam lá?
-Talvez para intimidar, mas acho que Dumbledore estava investigando os fatos antes. Tem sua lógica, não tem? - Disse Ed, apoiado no corrimão.
-Realmente mas...Vocês tinham que ver o Danny, todo encolhido na frente dos diretores.
-Qual é? Você abre aquela bendita porta e eu dou de cara com um tribunal inteiro! Alem disso, você bem viu a cara do Snape e do Barão Sangrento.
-Ah, admita que estava com medinho. - Zombou Mel, passando pela gárgula no momento em que o sinal da terceira aula soou. - Por Merlin, vamos perder a aula de Herbologia se ficarmos nesse bate papo.
-Mas então, o Dan foi ao gabinete só pra levar um susto?
-Clara, você ouviu alguma coisa do que eu disse???
-Não, tava com medo dessa escada.
-Como alguém estuda aqui há cinco anos e tem medo das escadas? - Perguntou Dan, fugindo do assunto.
-Olha, nem eu sei. - Respondeu Mel. - Mas subir e descer as escadas que se movem, com ela, é um verdadeiro inferno.
-Eu tenho medo de altura, e você nunca sabe quando aquelas malditas escadas vão resolver mudar! - Exclamou Clara, enquanto desciam a escadaria de mármore para o salão. As portas já estavam abertas, e alguns alunos já se dirigiam para o jardim ensolarado, a caminho das estufas.
-Ficou assim no primeiro ano, quando a escada mudou na hora que ela ia subir e ela acabou caindo, bem em cima de uma poção reanimadora que a Madame Pomfrey estava carregando no andar de baixo. - Sussurrou Mel, para que só os meninos ouvissem, enquanto Clara descia para o jardim aos saltos.
-E qual é o problema? Não deveria causar nenhum acidente. - Replicou Ed, erguendo uma das sobrancelhas.
-Não, mas você já sentiu o cheiro de uma poção reanimadora destilada? É pior que vestes de quadribol que não são lavadas há um mês!
-Eca! - Exclamou Dan, um pouco alto de mais, fazendo a ruiva se virar para ver o que era. Mel deu uma forte cotovelada em suas costelas. - Ah...É que... A Melzinha estava me contando como...Como... As Delícias gasosas são feitas! Extrato de Billywig, eca!
Mel ainda chegou a olhar feio para Dan, devido ao "Melzinha", mas ignorou, indo se postar ao lado de sua moita espinhosa.
O resto do dia ocorreu sem grandes incidentes. Claro, um vaso de moita espinhosa foi parar misteriosamente na cadeira de um sonserino mal encarado na hora do almoço, mas o veneno dos espinhos só fez ele ficar coberto de protuberâncias cheias de pus, então não era preocupante. Pelo menos foi o que Dan disse, mas ele não estava lá para ver, por ter ido levar suas malas para a torre da Griffinoria. Ainda chegaram a ter uma aula conjunta de Transfiguração, onde a professora McGonagall examinava com interesse visível os colegas transformarem (ou ao menos tentarem) uma pedra em tartaruga, mas os griffinorios não chegaram a ver Danniel até pouco antes do jantar.
-Alô pra vocês. - Cumprimentou ele sorrindo, ao cruzar com os outros no corredor do terceiro andar. - Muitos deveres?
-Não muitos, mas com certeza, são grandes. - Respondeu Ed. - Já terminou a mudança, eu espero.
-Tem certeza mesmo que quer dormir na poltrona, Dan? Não seria melhor esperar até o fim de semana? - Clara perguntou, colocando uma mecha do cabelo para trás.
-Eu não fico nem mais uma noite naquela masmorra, muito obrigado. - Danniel afrouxou sua gravata verde, com uma careta de nojo, e tomou os livros das meninas de suas mãos, passando metade, em seguida, para Ed. - Deixem que a gente carrega isso.
-Vocês até que estão bem amigos, pra quem não sabia nem o nome um do outro no café da manha. – Comentou Mel, segurando sua pasta de forma displicente, enquanto olhava de forma marota para Clara.
-Digamos que eu sou muito sociável. – Respondeu Dan, colocando o braço livre em torno dos ombros da monitora com uma expressão divertida. – Veja bem, Melzinha; graças a esse feliz incidente, arrebanhamos mais uma para o grupo! Já tínhamos você, mais a Clara...
-A onde quer chegar, Danny? – Mel olhava para ele com o canto do olho, incerta.
-Oras, hoje pode ser o primeiro dia do resto de nossas vidas! Quer dizer, podemos ser amigos pelo resto da nossa existência!
-Você é bem otimista. – Clara cobriu a boca com a mão para esconder a risada enquanto Mel tirava delicadamente o braço de Dan de seus ombros. – Mas eu acho que o resto da vida é um pouquinho de tempo demais, se é que me entende.
-Sei...Que tal até o dia da nossa morte?
-Danniel... – Perguntou a morena, finalmente virando o rosto completamente para encara-lo. – O que pensa que está fazendo, me pedindo em casamento?
E sorriu. Na verdade, nenhum dos meninos já a tinha visto sorrir abertamente, apenas um pequeno riso no canto dos lábios, ou uma risada debochada. Talvez seja por isso que a “transformação” na menina os tenha surpreendido tanto. Seu rosto parecia se iluminar, como suas bochechas pareciam ficar mais rosadas quando levantavam, fazendo covinhas discretas, mas bonitinhas, tanto quanto os olhos, enquanto pequenas dobrinhas se formavam entre eles. Por um instante, ela não parecia à garota que explodira a porta de uma cabine do trem, nem a mesma que havia agido de forma tão preconceituosa ao conhecer Dan. Na verdade, não parecia nem uma monitora!
-Se continuar a sorrir assim, eu vou começar a achar que é uma boa idéia. – Respondeu Ed, reprimindo uma risada ao ver a expressão de espanto do amigo. – Pelo menos assim, ele fica quieto.
-Ah, fala sério! – Exclamou Mel, puxando Dan pela gola para que ele voltasse a andar. Mas ainda estava rindo, enquanto Dan sacudia a cabeça, como quem acabara de levar um grande balde de água na cabeça.
-Pelos céus, Melaney, o que foi isso??? – Perguntou ele, divertido.
-Um sorriso oras, sabe, quando uma pessoa curva a boca e levanta as bochechas...
-E você sabe fazer isso? Caramba, eu quase enfartei agora! – Levou de presente um tapa no braço, mas o clima com certeza era o melhor dos últimos dias.
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E então? Como vão? Eu vim explicar uma coisinha ou outra por aqui. Para os que não sabem, DElicias Gasosas são feitas com um animal chamado Billywig, segundo o livro "Animais Mágicos e Onde Habitam".
Segundo, reparem que essa é a primeira vez, eu acho, que a Mel chama o Danny de Danniel. E a Clara parece já se dar bastante bem com os dois. Tendo em vista que ela entrou na historia de vez, eu vou aproveitar e refazer a capa, tah?
É isso, obrigada aos leitores, deixem sua opinião!
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