ARCANO



Nós, Malfoys, temos tantos defeitos que eu levaria uma eternidade para enumerá-los. Mas, com certeza sabemos, ou pelo menos eu sei, quando dou uma mancada com uma mulher.

Tudo bem. Eu me sinto patético carregando flores, nesse país tão longe da Inglaterra e aonde o clima é decididamente muito mais quente. No entanto, é uma Michele surpresa e feliz que me recebe na sua casa.

- Desculpe – eu lhe digo simplesmente.

- Seu velho idiota! – ela me responde à guisa de cumprimento, mas aconchegando-se a mim. Se eu tivesse mais alguma coisa para dizer nesse momento, provavelmente as palavras ficariam perdidas.

Não tinha mesmo nada a dizer enquanto abraçava aquela mulher jovem e cheia de personalidade. Palavras decididamente ficariam para mais tarde.

OK. Você quer saber o que o Santo Potter contou sobre “você-sabe-quem” naquele dia distante. OK. Você não quer saber nada sobre a minha vida amorosa. Você, leitor ingrato, é um dos muitos adoradores do “Santo Potter Testa Rachada”! Mas, vou avisando a você, apressadinho, que estas são as minhas memórias e eu vou escrevê-las como eu quiser, está ouvindo? Ou como diria um dos Weasleys briguentos: Vai encarar?

Certo. Agora que nós já nos entendemos, talvez, veja bem, talvez, eu resolva contar para você as revelações do Sr. Potter.
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Talvez aquele fosse um dia como qualquer outro. Eu não tenho como saber. Com certeza eu andava em algum lugar da França, embriagando-me com algum vinho ou hidromel de ótima procedência. Mas Harry, Toni e outras pessoas que participaram daquele evento capital na história do mundo bruxo diziam que aquele foi o dia mais frio de 1.998. Até os trouxas pareceram sentir que alguma coisa de especial estava acontecendo. Houve muitos relatos que uma súbita sensação de alívio tomou conta das pessoas no final daquele dia.

Anos depois, muitos trouxas se lembrariam daquele dia como um dia frio de outono, mais um dia na verdade muito curto, pois desde que o Lorde das Trevas se unira aos dementadores, e desde que aquelas criaturas maléficas passaram a atacar pessoas e passear seus vultos andrajosos pela Inglaterra, tudo parecia mais triste e mais escuro. Tudo parecia sinistro e sem esperanças.

Tremo só de pensar o que seria um mundo dominado por Voldemort. Tenho repetido essa frase nas últimas décadas como um mantra: O mundo é muito melhor com Harry Potter vivo e o Lorde das Trevas morto. Mesmo alguns bruxos aristocráticos e antitrouxas (em número cada vez mais inexpressivo nos dias atuais, felizmente) possuem uma vaga consciência dessa verdade. Durante anos muitos me consideraram traidor por dizer esta verdade incontestável. Felizmente o mundo bruxo tinha Harry Potter. E também Toni M’Bea, Vitor Krum, os Weasleys e outros que tiveram a coragem e a decência de se opor às trevas e combatê-las, correndo o risco de morrer neste combate.

Ainda me lembro de ter ficado cara a cara com Harry, que a mídia bruxa vinha chamando de “O Eleito”. Snape me conduzira com uma venda mágica até o acampamento da Força Aérea, aquele grupo comandado por Potter e por M’Bea, uma espécie de tropa de choque da Ordem da Fênix.

“Por Merlin!”, eu pensei. “São um bando de crianças!” E estavam enfrentando o Lorde das Trevas. Muitos eu conhecia de vista de Hogwarts. Grifinórios, em sua maioria, mais havia também vários corvinais e lufa-lufas. E nenhum sonserino, é claro. Outros, não tão jovens, eu já havia visto nos campos de quadribol. Vitor Krum e Terry Cole, falecido há pouco, eram os mais famosos. Fui conduzindo à presença do Eleito em pessoa. Não foi, como era de se esperar, um encontro feliz.

- Você não vai agradecer pela informação? – perguntei cheio de arrogância, depois de passar a ele e a Toni M’Bea “A Informação”.

- Vou agradecer deixando você sair vivo deste acampamento. Tem um monte de gente aí fora que gostaria de lançar sobre você uma maldição de morte – ele me respondeu friamente.
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Os três gigantes foram apanhados de surpresa. Hagrid e seu meio-irmão Grope arremessaram pedras imensas que esmagaram os gigantes a serviço de Voldemort. Patronos foram conjurados para afastar os dementadores. Um regimento liderado por Harry e por Toni invadiu a fortaleza sinistramente cinza. O dia também era cinza. O frio e uma chuva fina tornavam tudo ainda mais cinzento. E mais frio.

- Bem-vindos ao inferno – disse Rony Weasley, numa tentativa miserável de fazer graça em meio ao caos.

Após uma batalha encarniçada, aonde Comensais da Morte foram estuporados, mortos ou postos em fuga, chegaram até uma espécie de miniatura do castelo maior. Os aposentos privativos do Lorde das Trevas. Parece que o Cara de Cobra gostava de privacidade. Lá fora, aqueles que conjuravam patronos, contaram com o inesperado e bem-vindo reforço de Alvo Dumbledore em pessoa. Até hoje as pessoas comentam espantadas o patrono invocado pelo velho diretor. Uma fênix gigantesca e brilhante, que acabou com os últimos dementadores que restavam.

Nem mesmo o velho professor, entretanto, conseguiu romper a barreira que isolou Harry dos demais. O herói dos grifinórios conjurou um escudo praticamente intransponível e alegou para os amigos que havia sido obra do Lorde das Trevas. Rony Weasley sabia que era obra de Harry. Ele o havia visto treinando a conjura de vários tipos de escudo nos últimos dias. Talvez levasse dias para aquele escudo ser quebrado, mesmo por Dumbledore.

Estáticos, na porta dos aposentos isolados do Lorde, vários dos companheiros da Força Aérea, feridos, cansados e preocupados esperavam por alguma coisa. Alguma esperança. M’Bea ferido pela cobra de Voldemort, que ele havia decapitado com uma adaga mágica, Rony com o braço esquerdo em carne viva, atingido por um ou mais feitiços. Curiosamente ninguém da Força morreu naquela missão. Os Comensais realmente não esperavam um ataque à fortaleza. Todos os amigos do Eleito esperavam que acontecesse alguma coisa. Mas não tão rápido. E nem de maneira tão devastadora.
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Vampiros são criaturas pérfidas. Sem qualquer coisa que se assemelhe à piedade. Na verdade, a maioria foi há muito tempo banida da maior parte da Europa. Só um insano como “ você-sabe-quem” se aliaria com essa escória do mundo mágico. Imagine um animal predador, mas com a inteligência humana. E com uma grande sede de sangue. Fortes, impiedosos e mortais. Criaturas das trevas, assim como os dementadores. Mas dotados de inteligência humana e de uma ferocidade de um dragão.

Tal como os dementadores e gigantes, foram atraídos por algum tipo de promessa feita pelo Lorde das Trevas. Talvez o direito de sugar o sangue dos seus inimigos. Talvez o direito de vagar livremente pelo mundo caçando trouxas como nos velhos tempos. E aumentando as suas hordas. Infelizmente não se pode confiar num vampiro. Vários daqueles recrutados por Voldemort viraram-se contra os próprios bruxos que seriam seus aliados. Por alguma razão desconhecida, bruxos não se transformam em vampiros quando são mordidos. Nós, bruxos, apenas morremos. Apesar da traição, que obrigou os comensais a se livrarem da maioria dos sanguessugas, alguns ainda se mantinham fiéis a Voldemort.

Quando Harry Potter rumou pelos corredores à procura do seu inimigo, Pietro, um dos vampiros mais cruéis e sanguinários dentre os que se mantiveram fiéis ao seu aliado das trevas, sorriu antecipando o gozo do banquete. “Um bruxo jovem e poderoso!”, pensou a besta. Sophia, companheira do vampiro e tão cruel e faminta quanto ele, sorria também, expondo os caninos imaculadamente brancos e afiados.

Havia mais dez vampiros no local, mas os dois foram destacados para recepcionar os bruxos. A princípio ficaram levemente decepcionados ao avistar, das sombras com as quais se misturavam, um único bruxo. Mas a aura de poder que aquele jovem exalava deliciou os carniceiros. Harry Potter! Beber o sangue daquele bruxo que já era quase lendário, sem dúvida daria ao casal força e certamente algum poder mágico por um certo tempo. Isso sempre acontecia quando bebiam o sangue de um mago.

Ambos se moveram rapidamente, o que era uma vantagem da sua espécie. Geralmente não havia como repelir um ataque como aquele. Em segundos, Pietro e Sophia estavam sobre Harry, que foi ao chão sob o peso dos dois. Ter dois vampiros sobre si congelaria a maior parte das pessoas. Os vampiros contavam com isso. Afinal são rápidos, fortes e completamente assustadores. Não se iluda com os filmes trouxas. Vampiros não são belos. Na verdade são apavorantes. Pálidos, deformados, os dedos parecem garras e possuem unhas afiadas, que podem cortar qualquer parte do seu corpo até os ossos, antes de sugar o seu sangue, usando os seus caninos para facilitar serviço.

Esqueçam aquela histórias trouxas sobre cruzes e água benta. O que mata um vampiro, criatura das trevas que é, é a boa e velha luz solar. Uma estaca no coração funciona, é claro, se você for rápido e forte o bastante, tiver uma estaca à mão e souber exatamente onde fica o coração da besta. Assim como funciona decepá-los, esquartejá-los ou qualquer coisa que implique na destruição dos seus corpos mortos.

Acontece que eu havia alertado os membros da força aérea sobre os novos aliados de Voldemort. Harry estava esperando pelos vampiros. Não sei quantos bruxos conseguiriam desaparatar naquela situação. Desconfio que houvesse no local, como em Hogwarts, feitiços que impedissem a aparatação e a desaparatação. Mas feitiços como aqueles não são feitos para um bruxo com os poderes do Eleito.

Espantados, uma vez que um segundo atrás tinham o jovem bruxo a sua mercê, os dois vampiros viram, surpresos, que ele havia aparatado ao lado deles. Antes que pudessem de novo se atirar sobre o jovem, este levantou a mão direita e invocou um velho feitiço.

- Solaris! – murmurou, para espanto dos seres da trevas. Não havia varinha na sua mão. Deve ter sido o último pensamento dos dois vampiros antes que a ofuscante luz solar invocada por Harry os envolvesse e os queimasse até a alma.
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O feitiço que atingiu Voldemort fez o bruxo das trevas recuar, visivelmente impressionado. Aquele jovem tolo tinha “o” poder. O poder que um dia ele havia se julgado merecedor. O poder que levou alguns bruxos à loucura e uns poucos próximos à divindade. O segundo feitiço o derrubou. Então seria assim. Sem piedade, sem conversa, sem pedido de rendição. As pedras do piso do castelo ganharam vida e prenderam o Lorde das Trevas.

Estranhamente Harry sabia que era mais forte do que o outro. Estranhamente ele não hesitara nem quando o casal de vampiros o atacou. Ele sabia exatamente o que fazer. Como se tivesse nascido para saber exatamente o que fazer .

- Um Arcano – sibilou Voldemort na linguagem das cobras.

- Não existem arcanos – respondeu Harry friamente – Isso é uma velha lenda bruxa.

- Sim, eles existem – insistiu o Lorde das Trevas – Bruxos que distorcem a realidade, lêem a mente e viajam no tempo. Praticamente deuses. Todas as tolas culturas trouxas conheceram pelo menos um Arcano. Os idiotas sempre os tomavam por deuses.

- Cale-se!

- Você não vê, seu tolo? – sibilou o bruxo na mente de Harry – Eu estou calado. Você está lendo a minha mente nesse momento...

- Não! – A mente não é...

- Não é um pergaminho. Não para a maioria dos bruxos. Você é um Arcano! Há dezenas de feitiços aqui que impediriam qualquer bruxo de aparatar.

- Eles não funcionaram, não é mesmo? – perguntou o rapaz com sarcasmo.

- Ah, eles funcionaram sim – sibilou novamente o Lorde, a linguagem das cobras ecoando pela mente de Harry – Você não aparatou para acabar com aqueles vampiros. Você distorceu o tempo, seu jovem idiota. Ninguém conseguiria fazer isso a menos que fosse um Arcano. Ou invocar um feitiço Solaris com a quantidade de encantamentos das trevas que eu coloquei nesses aposentos.

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- Não existem Arcanos, não é mesmo? – perguntou Rony Weasley, completamente abismado.

Estávamos na Mansão Malfoy e Gina olhou contrariada para o irmão, que havia interrompido o relato de Harry. Todo o relato acima foi contado por ele. Eu apenas o recontei à minha maneira.

- Os trouxas acham que não existem bruxos, Rony – ponderou sabiamente Toni.

- Sem dúvida Harry tem poderes maiores do que a maioria dos bruxos – disse Hermione, com a sabedoria de sempre – Quem garante que um Arcano não é simplesmente isso? Um bruxo com mais poderes do que a maioria?

- Vocês poderiam deixar o Harry contar o resto da história dele, não é mesmo? – interveio Gina.
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OK. Vocês trouxas não sabem o que diabos é um Arcano. O “titio” Malfoy vai tentar explicar para vocês com a maior paciência possível.

Um bruxo, de uma maneira geral, pode invocar, transfigurar, lançar feitiços e maldições e realizar mais algumas tantas coisas que são impossíveis aos seres não mágicos. Mas, mesmo para um bruxo, há coisas que teoricamente são impossíveis. “Criar” comida, por exemplo. Podemos invocar um prato de comida já pronto, apressar seu preparo, aumentar o seu volume, aquecer ou esfriar uma refeição com feitiços, congelar uma cerveja amanteigada ou esquentar um chá. Mas não podemos “criar" um chá ou uma cerveja.

Se conseguirmos um “Vira-tempo”, objeto raríssimo e de uso absolutamente controlado, podemos sem dúvida viajar no tempo. Ao passado apenas, e voltar depois ao presente. Mas não há feitiço que possa fazer um bruxo viajar no tempo. Porque a magia está sujeita a uma série de leis naturais. Como a lei da gravidade para as criaturas não mágicas, por exemplo. Um bruxo particularmente habilidoso pode realizar um pouco mais de feitiços comuns com maior precisão, mas não pode viajar no tempo ou conjurar uma refeição do nada. Ou ler a mente das pessoas. Ou invocar feitiços de luz num ambiente tomado por inúmeros feitiços das trevas. Ou aparatar num lugar cheio de feitiços anteaparatação.

Comparando, é como um trouxa muito forte, que certamente poderia levantar muito mais peso do que uma pessoa normal, mas mesmo para ele haveria um limite. Da mesma forma há um limite para a magia que um bruxo pode realizar. Pelo menos para a maioria deles.

Costuma-se dizer que no início dos tempos, quando havia poucos bruxos sobre a terra, alguns eram capazes de reunir toda a magia possível ao seu redor. Para estes bruxos a magia seria uma força inata e eles nem mesmo precisariam de uma varinha para invocá-la. A magia simplesmente fluiria e eles poderiam utilizá-las quando quisessem. Não apenas a magia comum de um bruxo. Toda a magia . Qualquer magia que a sua força de vontade e concentração pudesse reunir. E seria um poder impossível de ser obtido por qualquer meio não natural. Algumas pessoas simplesmente nasceriam com ele. Claro que esse bruxo seria quase um deus. Há uma velha hipótese de que alguns deuses mencionados em várias culturas trouxas nada mais seriam do que bruxos Arcanos.

Na verdade não há prova alguma da existência dos Arcanos. É uma velha lenda. Um poder, que segundo essas mesmas lendas, possibilitaria a distorção do tempo e do espaço, leitura da mente e alteração da realidade. Certamente o Lorde das Trevas venderia a alma a vários demônios por uma fração desse poder. Poder, que por ironia do destino, o seu maior inimigo possuía e ele não. Seu inimigo que acreditava em tudo aquilo que Voldemort mais desprezava. A amizade. O amor de uma mulher bela e delicada, mas corajosa e disposta a enfrentar qualquer coisa pelo amor da sua vida.

- Mas, o que ele poderia oferecer a você? – perguntei a Harry. Ele tinha agora a cabeça entre as mãos e Gina tocava seu ombro carinhosamente.

- Vamos, Harry – incentivou-o a ruiva – O que aconteceu? Não pode ser tão terrível assim.
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- Você é um garoto tão tolo que nem mesmo imagina o poder que possui – desdenhou Voldemort, ainda sibilando na linguagem das cobras.

- Cale a boca! – gritou Harry. Mas o seu inimigo não estava realmente falando. A voz viperina ecoava na mente do Eleito.

De repente não havia mais voz alguma. Havia apenas imagens delirantes de um poder sobre-humano. Tudo se dobrava à vontade de Harry. O mundo como ele queria que fosse. Não havia ninguém tratando-o como uma aberração com uma cicatriz na testa. Ele poderia criar outra realidade na sua mente. Essa realidade poderia tomar forma. Um mundo onde Sirius e seus pais estariam vivos. Um mundo onde Carlinhos Weasley não precisaria ter morrido para defendê-lo. Um mundo moldado à sua vontade e de acordo com os seus sonhos.

- Eu posso ajudar a criar esse mundo para você – A voz de Voldemort ressoava novamente como se estivesse em todos os lugares – Apenas me deixe penetrar mais fundo na sua mente. Eu posso lhe ensinar o poder. Dar a você o poder que não consegue controlar. Apenas abra a sua mente para mim!

- NÃO! – gritou Harry!

Foi, contudo, a mente de Voldemort que se abriu para Harry por um instante. Ou por uma eternidade. Ele viu a sede de poder do Lorde, a sua arrogância, a sua ambição desmedida. Sua crueldade sem limites. Ele viu a si mesmo como um fantoche, perdido num mundo de sonhos enquanto Voldemort usava a seu corpo e o seu poder. Mas havia algo que o bruxo das trevas teria que remover dali. Algo que era forte demais para ele. Quando estava prestes a tocar essa parte da alma do jovem, algo ou alguma coisa reagiu no interior do Eleito.

Uma dor insuportável e nauseante tomou conta de Harry como nunca havia sentido antes. Ele pensou em morrer. Havia coisas na sua alma e na sua mente que não poderiam ser maculadas. Nunca!

- NÃO! – gritou novamente.

Foi como se Voldemort fosse arrancado dele. A dor que o bruxo mais velho sentiu pareceu partir Harry em dois. A vida do Lorde das Trevas explodindo em flashes na mente do rapaz. Uma a uma as imagens se decompondo como se fossem páginas de um livro de fotografias sendo arrancadas. Harry percebeu com horror que a sua repulsa destruíra a mente de Voldemort. Ele pôde sentir a destruição. Cada parte dela. Ao mesmo tempo em que não sabia como parar aquilo, queria o feiticeiro das trevas o mais longe possível da sua alma. Então tudo explodiu.

Mais tarde os seus amigos disseram que o mundo pareceu desmoronar. Foi como se a realidade em volta implodisse. Como se o céu e a terra se fundissem por um momento. E para eles haviam se passado poucos minutos desde que Harry havia se isolado nas dependências do Lorde das Trevas. Na mente do jovem bruxo, contudo, foi como se o diálogo com Voldemort, o duelo mental, as imagens em profusão e a explosão final que arrancou a imagem nauseante do feiticeiro maligno da sua alma durassem anos. Toda a vida do bruxo das trevas desfilou pela mente de Harry, sendo implacavelmente destruída. Não apenas o corpo físico. Mas também a mente e a alma.

Snape relatou depois a dor que os Comensais da Morte sentiram no braço, bem em cima de onde se encontrava a Marca Negra. Ele próprio sentiu como se algo fosse arrancado, através da sua pele, do fundo da alma. Meu ex-professor relatou que jamais sentira uma dor como aquela. Vários comparsas do Lorde gritaram em agonia. De alguma maneira eles sabiam que tudo havia se acabado. Que o “garoto-que sobreviveu” não havia apenas sobrevivido. Ele havia triunfado. Em Azkaban, vários comensais gritaram em agonia. Belatriz Lestrange emitiu o primeiro e o último som em muitos anos. Foi um grito insano, seguido de um choro histérico. Tudo havia acabado. Os adoradores de trouxas e sangues ruins haviam triunfado. Mais uma vez.
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- Então foi isso – disse Harry, fitando os presentes, como se houvesse acabado de confessar a autoria de um crime hediondo. Sua respiração estava ofegante, como se acabasse de correr o campo, dando piruetas atrás do pomo de ouro.

- Ahn, me desculpe, Harry – eu disse depois de alguns momentos de silêncio – Mas eu não estou entendendo o que isso muda a visão dos seus amigos e da sua esposa em relação a você.

- Nem eu – concordou comigo de maneira surpreendente Rony Weasley – No que me diz respeito você continua sendo o mesmo Harry cabeçudo de sempre. Tirando o fato de você andar dormindo com a minha irmãzinha...

- Rony! – advertiu-o a Senhora Weasley e Hermione ao mesmo tempo. A mãe estava brava, a esposa parecia dividida entre ficar chocada e achar graça. Ela sabia que o ruivo gostava de tiradas como aquela para aliviar a tensão.

- Vocês não compreendem? – lamentou Harry, quase em prantos.

- Não, Potter, ninguém compreende! – eu disse irritado. A vocação do “Santo Potter” para mártir estava me tirando do sério.

Gina me lançou um olhar mortífero. Hermione e Helga fizeram aquela cara de “você não está sendo nada sensível”, mas eu as ignorei

– Harry – eu disse mais calmo – O que afinal aflige você?

- É! O que? – perguntou Rony, recebendo da esposa aquele mesmo olhar “você é um legume insensível” que ela lançou na minha direção.

- Voldemort se propôs a realizar todos os meus desejos. Ele tentou se apossar de mim e me jogar num limbo mental, onde eu viveria refém dos meus sonhos. Mas eu resisti. E toquei a sua mente. Talvez uma parte da sua alma – explicou Harry em desespero – Vocês não entendem? E se uma parte de Voldemort vive em mim? E se os poderes que ele queria de mim estiverem se manifestando agora? Eu poderia ser uma ameaça maior do que ele!

- Potter, francamente! – ralhei com ele, novamente irritado – Todas as pessoas nessa sala poderiam apresentar milhares de razões para desmenti-lo, mas elas seriam sutis demais. Deixe-me falar algumas coisas para você!

- Não sei se... - ia dizendo Helga.

- Deixe, querida – sussurrou Toni para a esposa. Mesmo falando baixo, sua voz era impressionante.

- Potter, eu passei anos espionando você em Hogwarts. Meu pai exigia isso de mim. Já te contei isso. E sabe o que mais me irritava em você? A maneira que você defendia as pessoas. A maneira que você estava sempre pronto a defender o Weasley, a Hermione, o Longbotton... Eu ficava me perguntando por que um cara que era famoso como você se preocupava com a escória... Sem ofensas, pessoal – disse para o jovem casal Weasley.

- Tudo bem, Malfoy. Já estava quase esquecendo o “amor de pessoa” que você era nos tempos de escola – zombou Rony.

- Pois é – continuei, ignorando a ironia do ruivo – Naquela época achava você apenas um panaca. Ou no máximo, como diria seu amado mestres de poções, um sujeito com mania de herói e com um ego maior do que Hagrid e seu irmão juntos. Depois, no meu julgamento, você poderia ter se vingado de mim pelos anos todos que eu te perturbei e aos seus amigos na escola. Mas, não. Você foi lá, enfrentou as autoridades do mundo mágico e evitou que eu apodrecesse em Azkaban. Eu, um cara desprezível, que você certamente odiava.

- Eu não odiava você, Draco – defendeu-se Harry.

- É o que eu digo! – repliquei – Você deveria me odiar. Ou ao menos me desprezar, uma vez que eu era uma pessoa realmente desprezível.

Houve algumas risadas na sala. Até mesmo Harry sorriu. Era a primeira vez que fazia isso naquele dia.

- Harry, eu não consigo imaginar você um bruxo das trevas. Não porque você não tenha poder para tanto. Mas, porque você é um cara bom. Você é da turma dos “mocinhos”. Eu desconfio que Voldemort não conseguiu o seu intento porque havia alguma coisa em você que era demais até para o maior bruxo das trevas do mundo – eu expliquei.

- Uma grande explicação, Sr, Malfoy – disse uma voz bondosa – Eu mesmo não conseguiria me expressar melhor, devo dizer.
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TAÍ! PROMETO NÃO DEMORAR PRA POSTAR O PRÓXIMO CAPÍTULO. ESPERO RECEBER REVIEWS, É CLARO (BERNARO SE DESVIANDO DOS OVOS E TOMATES)! ISSO SE VOCÊS AINDA SE LEMBRAREM DA FIC! O PRÓXIMO NÃO DEMORA MUITO. E DESSA VEZ É UMA PROMESSA E NÃO UM DESEJO! ATÉ!!!



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