AMIGOS E INIMIGOS



Potter me diz que temos que conversar. Depois de tantos anos de convivência, posso adivinhar o que se passa por aquela sua cabeça grifinória.


- Não me pressione, Harry – digo contrariado.


- Dois anos é tempo suficiente – ele me responde – Pare de enrolar a moça, Draco!


- O curioso é que ela não me pressiona como você e Gina.


- Não, ela não te pressiona. E você pode ficar sem ela qualquer hora dessas. E apenas porque é cabeçudo demais pra perceber que ela pode ser finalmente a mulher da sua vida.


- Harry... – eu lhe digo cançado – Ela tem idade para ser minha filha...


- Se ela não se importa com isso, não sei porque isso o incomoda – declara Harry, na sua implacável lógica grifinória.


Harry e seus amigos grifinórios pensam do seguinte modo: O mundo é um lugar simples e fácil, onde tudo dá certo se você for corajoso o suficiente para enfrentar a tudo e a todos. Para esses heróis não há amores impossíveis, inimigos invencíveis, fortalezas que não possam ser derrubadas, obstáculos que não possam ser transpostos. Tudo se dobra a nossa vontade inabalável!


Quando digo isso para ele, meu sócio dá uma gargalhada à guisa de resposta e logo depois me passa mais uma descompostura:


- Não estamos falando de enfrentar Voldemort ou algum comensal da morte, Malfoy! Estamos falando de uma mulher formidável que ama você. E você a ama também, não tente bancar o durão de coração de gelo. Eu o conheço muito bem!


- Potter...


- Ou deixe-a em paz e continue saindo com essas piranhas que só querem aparecer na mídia bruxa às suas custas.


Esse é o mundo dos grifinórios! Existe o certo e o errado, o preto e o branco. Case com a garota ou deixe-a em paz. Seja honesto, franco, leal! Mal sabia Michele, a brasileira que eu conheci há cinco anos atrás em uma viagem de negócios, que ela tem Harry Potter como principal defensor dos seus interesses.


O problema é que há sabedoria demais nas palavras de Harry para que eu as ignore. Mas há também, da minha parte, o medo de dar um passo na direção certa. Como no passado. Quando houve uma bela mulher e eu não tomei a decisão certa quando deveria. É assim o mundo de Draco Malfoy. Não é o mundo cheio de certezas do “Santo Potter”. É o mundo cheio de dúvidas, meias-verdades e tons cinzentos. E fantasmas. Muitos fantasmas XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Era mais uma manhã fria de inverno britânico, eu me lembro bem. Fotógrafos se postavam na porta do St.Mungus, onde Toledo, acompanhada por Tess, Harry e Gina, saía do hospital. Goyle afugentava os repórteres mais inconvenientes e alguns fãs mais afoitos.


- Você tem medo de ser amiga de Harry Potter depois desse ataque? – perguntou um jornalista com sotaque escocês.


- Harry é uma ameaça para os seus próprios amigos? – perguntou o asqueroso Dan Carter.


O seu jornaleco havia recebido uma suspeitíssima verba do exterior e vinha sendo monitorado pelo meu amigo Severo Snape, sempre atento às maquinações dos bruxos maus. A verdade é que Carter havia voltado à velha forma, atacando Harry Potter. Eu também vinha sendo bastante atacado pelo inescrupuloso membro da imprensa bruxa.


- Medo de ser amiga de Harry Potter? Ameaça? – perguntou Toledo, indignada – Ora, seu monte de... – ia dizendo a garota, o sotaque espanhol se acentuando, como sempre acontecia quando ela ficava nervosa.


- Agora não é hora para perguntas – eu interrompo, chegando no saguão do hospital naquele momento – A minha jogadora precisa de tranqüilidade.


- Mas... – tentou insistir Carter, recebendo um tranco violento de Goyle que o atirou no chão.


- Ops! Desculpe o mau jeito – desculpou-se o grandalhão, exibindo o seu melhor sorriso de trasgo.

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- Desculpe o mau jeito? – perguntei ironicamente para Goyle – Greg, meu caro, você está ficando delicado!


- Essa convivência com os seus amigos grifinórios está me estragando, chefe – retrucou meu empregado “faz-tudo”.


- Cale a boca e tome seu café! – ordenou Gina. Greg Goyle achou melhor obedecer à ruiva.


Eram dez da manhã. Toledo tivera alta do hospital muito cedo, na tentativa vã de enganar a mídia bruxa. A garota ficaria naqueles dias na casa de Harry e Gina, aonde seria cuidada por Hermione, vizinha dos Potter e seria acompanhada por sua namorada.


Enquanto a ruiva nos servia café, chá e uma variedade de sucos, Harry se divertia preparando umas panquecas. Jamais admitiria para ele, é claro, mas Potter é um bom cozinheiro quando se trata de comida rápida. Sabe preparar panquecas, hambúrguers e hot-dogs sem usar magia. E muito bons.


- Harry, pensei que você tivesse um elfo doméstico. Como é mesmo o nome dele? Aquele que foi da minha família? – eu lhe perguntei.


- Dobby está arrumando o quarto dos hóspedes para Toledo e Tess – explicou o Eleito.


- E as panquecas do Harry são ótimas – encerrou a questão Gina, ainda examinando atentamente Goyle para ver se ele comia e tomava o seu café.


Meu empregado não queria se sentar à mesa com os Potter e a garota, o que mereceu uma bronca da jovem Sra. Potter. “Não há convidados de primeira ou de segunda classe na nossa casa, Goyle!”, vociferou a ruiva.


- Você não achava mesmo que aqueles dois “politicamente corretos” colocam os criados para comer em outro cômodo, não é? – provoco mais tarde.


- Ainda acho que esses seus amigos grifinórios são esquisitos demais... – respondeu o brutamontes, coçando a cabeça pensativo.

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Harry Potter possuía, e tenho quase certeza que ainda possui, aquele insuportável complexo de salvador do mundo. É o tipo de cara que sofre pelos amigos e é capaz de se sacrificar por eles, como já havia demonstrado tantas vezes no passado. Quase lhe dei uns safanões quando me perguntou, no dia anterior, se eu achava que ele era um perigo para os outros jogadores do time laranja.


- Potter, não seja retardado! – eu lhe disse com a “delicadeza” tradicional dos Malfoys – A sua ausência é que iria prejudicar os seus amigos. Você acha que eles ainda faturariam o que tem faturado ultimamente sem você como principal estrela do time?


- Mas...


- E não me parece que algum deles sequer cogitou a hipótese de deixar de ser seu amigo, pelo que me lembro!


- Mas...


- Potter – eu disse com ar cansado – Pare de se culpar por coisas que você não tem culpa. Vamos, tire o dia de folga. Eu cuido dos outros papéis da Organização. Vá para casa, tome um banho de banheira, faça amor com sua esposa. Relaxe, cara!


- Mas...


- Isso é uma ordem! E se você não me obedecer eu chamo a Hermione para lhe dar uma bronca!


Harry me deu um sorriso meio envergonhado e se despediu, seguindo o meu conselho. Ele pode ser o Eleito e tudo mais, mas eu sei que não gostaria de enfrentar Hermione Weasley. Aquela garota sabe ser assustadora quando quer. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Odeio admitir, mas a união daquele time dos Cannons me deixava quase comovido. Todos queriam paparicar Toledo, que ainda tinha parte do corpo enfaixada e mal podia se locomover. Mas todos queriam, principalmente, mostrar a Harry que não tinham receio de continuar seus amigos.


Lá pelas onze horas da manhã começaram a chegar os visitantes, para a alegria de Toledo e de Tess. Hermione, que a examinou, constatou que estava tudo bem, embora mantivesse as faixas curativas. Rony trouxe-lhe flores. Depois chegaram Toni, Helga e os filhos menores, trazendo bombons. Andy e Amanda, os reservas dos Cannons, Nat, Ben e Robby, e até o metido Apollo Cole trouxeram mais flores. E mais tarde Vitor Krum e sua noiva Lilá chegaram com sapos de chocolate.


Não se sabe quem teve a idéia, mas ela foi logo aceita. Goyle havia saído e voltado com uns bifes gigantescos e umas lingüiças enormes, que foram colocadas numa grande grelha, que Harry invocou com um daqueles gestos que ele fazia sem varinha. Andy e Toni vestiram cada um avental (que ficava ridiculamente diminuto no africano) e começaram a preparar um churrasco. O cheiro das carnes e dos embutidos dava água na boca, ainda mais com o “tempero secreto” que Toni M’Bea colocava sobre as iguarias fumegantes.


Pouco antes da comida ser servida, Vera Ivanova apareceu toda sorridente, equilibrando várias caixas contendo cervejas amanteigadas e umas garrafas que com certeza traziam bebidas mais fortes. Estava um dia frio, mas uma lona mágica, que cobria o quintal da casa, providenciada pelos Potter mantinha o clima ameno e de vez em quando Toni fazia um feitiço e expulsava a fumaça do churrasco para longe.


O africano e Amanda, que cantavam muito bem, deram uma canja, cantando músicas africanas e brasileiras, fazendo os presentes se requebrarem, equilibrando precariamente copos e pratos. Hermione ria da tentativa desajeitada de Rony acompanhar Andy nos passos de um samba que Amanda cantava. Os garotos Daniel e Owen eram mais felizes na empreitada, que mereceu aplausos entusiasmados de Harry e de Gina. Vitor preferia apreciar um pedaço generoso de bife que a sua noiva lhe dava na boca.


- Esse pessoal sabe realmente se divertir, chefe – afirmou Goyle, às voltas com uma lingüiça gigantesca enfiada numa baguete – E o importante é que o ruivo ali disse que não deveria faltar comida – completou de boca cheia, apontando para Rony, que quase se estabacou no chão, tentando acompanhar um passo mais ousado do brasileiro.


- E então, garota? – perguntei para Toledo, que olhava divertida para seus amigos, recostada na namorada, que lhe dava um copo de cerveja amanteigada.


- Hermione disse que dentro de duas semanas eu vou poder treinar de novo – explicou a peruana – Mas, não vou poder jogar na estréia da Liga Européia.


- Você sabe que precisa se recuperar. Isso é o mais importante – eu lhe respondi, afagando uma das suas mãos, que ainda se encontrava enfaixada.


Depois de me olhar por alguns segundos de maneira enigmática, Tess Smith fez um comentário surpreendente:


- Você é uma pessoa muito boa, Draco. Muito melhor do que a maioria imagina.


Bem, eu não sou tímido e modesto como meu amigo Harry. Mas, aquele comentário, vindo de uma ex-lufa-lufa, a casa famosa pelas pessoas gentis e de bom coração, realmente me pegou desprevenido.


- Hum... Por que você diz isso? - perguntei sem jeito.


- A maneira como você se preocupa com os jogadores – foi Toledo quem respondeu – Vitor me disse outro dia que nunca viu um dono de time se preocupar com os atletas como você.


- Bom, vocês me fazem ganhar dinheiro – expliquei ligeiramente desconfortável – Seria natural que eu me preocupasse com vocês.


- Ah, não seja modesto! – me disse a peruana – Todos gostam muito de você, sabe?


Eu não disse nada, mas realmente aquela declaração me tocou fundo. Apenas não poderia demonstrar, certo? Malfoys precisam manter as aparências. Mesmo quando emocionados. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Severo Snape parecia mais sério e mais sorumbático naqueles dias, quando ocupava o chefia do Departamento de Segurança do Ministério da Magia Britânico. Arthur Weasley vinha fazendo um ótimo trabalho à frente deste ministério, calando a boca dos grupos conservadores, que a princípio se opuseram a ele por considerá-lo um “adorador de trouxas”. Se bem que esse xingamento era freqüentemente feito também a Harry Potter e, suponho, a mim, por ter me associado ao Escolhido. Mas não era com bruxos que lançavam ofensas anônimas que o meu antigo professor de poções se preocupava no momento.


- Espero que você e seus subordinados possuam segurança adicional – disse-me de maneira sombria o velho Severo.


- Já estou providenciando isso – expliquei – Contratei bruxos do exterior. Não sei se é possível confiar nos seguranças ingleses. Tenho a impressão que todo mundo que é de confiança no setor de segurança privada no Reino Unido já está na folha de pagamento das Organizações Potter-Malfoy.


- Medida muito sábia da sua parte, jovem Draco – aprovou o ex-professor – E o seu sócio, o que acha disso?


- Eu acho que não preciso informá-lo sobre todas as medidas de segurança – respondi – Potter já tem muito com o que se preocupar dentro do campo de quadribol. Vou apenas dizer que é necessário tomar cuidado.


- Aquele pequeno convencido – rugiu Snape – Suponho que ele esteja se mortificando por causa daquela peruana, com o seu complexo de salvador do mundo bruxo.


- Se eu não me engano, Severo – retruquei ligeiramente contrariado – Ele não apenas tem complexo. Ele É o salvador do mundo bruxo. Acho que você poderia esquecer um pouco essa implicância.


- Ora, ora... – disse o homem mais velho com uma expressão irônica e esboçando um daqueles sorrisos desagradáveis que faziam os grifinórios querer matá-lo – Mais um convertido ao culto do Santo Potter...


- Já chega, Severo! Potter é meu sócio agora. E também o meu melhor jogador. Eu não gostaria que nada acontecesse a ele ou aos outros. Goste você ou não, eu sou um pouco responsável por ele e pelos demais jogadores. Eu consegui superar aquelas picuinhas da época de Hogwarts. É lamentável que você não!


- Certo – disse Severo ligeiramente embaraçado, fato que não era comum na sua vida – Mas eu suponho que você não veio aqui para falar das qualidades morais e esportivas do Potter.


- Não mesmo – confirmei – O que está acontecendo? Por que tentaram matar Toledo? Suponho que fizeram isso para atingir o Potter. Mas, quem está por trás disso? E não me diga que é assunto confidencial do ministério! Não quando o pescoço de pessoas que são importantes para mim podem estar em jogo!


- Muito bem. Mas, nada sai dessa sala – concordou o ex-mestre de poções – Seus amigos grifinórios têm a péssima mania de querer fazer justiça com as próprias mãos, o que poderia por a perder a nossa rede de espionagem.


- OK, Severo. E como prova de confiança, eu prometo lhe informar em primeira mão as armações dos tipos suspeitos quando eu as descobrir. Eu tenho um espião entre eles – disse de maneira confiante, o que arrancou outro arremedo de sorriso do chefe da segurança do mundo bruxo.


- Muito sonserino de sua parte, jovem Draco. Fico feliz de saber que aqueles grifinórios e lufa-lufas não estragaram muito a sua personalidade. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Tadeus Merrintown, estúpido como era, não questionou quando recebeu pelo correio instruções de como poderia montar uma máquina fotográfica bruxa para disparar um feitiço das trevas. Antes disso, alguém já havia lhe escrito cartas do exterior, na verdade uma da Alemanha, outra do Canadá e uma última da França. Em todas as cartas havia um monte de baboseiras contra trouxas e bruxos nascidos trouxas. Em todas as cartas havia conclamações aos bruxos que tinham origem puro sangue no sentido de realizar uma cruzada contra “aqueles que degradam o mundo mágico”.


Segundo o ministério havia apurado, vários bruxos do Reino Unido haviam recebido aquele tipo de correspondência, mas só Merrintown havia sido fanático o suficiente para responder a uma caixa postal bruxa no Canadá, tendo recebido de volta uma mensagem congratulando-o pela coragem e as explicações minuciosas para a tentativa de assassinato a alguém próximo de Harry Potter, aquele que a correspondência chamava de “desgraça e vergonha do mundo bruxo”.


O idiota ficara por vários dias de tocaia no Beco Diagonal, esperando por alguém próximo de Potter para realizar o ataque. Fora instruído a não atacar Harry em pessoa, pois deveriam saber que ele se livraria facilmente do feitiço. Havia recebido fotos com os possíveis alvos: Toledo, Helga, algum dos seus filhos, Lilá Brown. Hermione e seu marido também estavam fora de questão, assim como Gina e Toni, pois o mentor do atentado sabia que essas pessoas saberiam lidar com o fogo das trevas.


Eu havia sido informado que alguns bruxos (minha fonte não havia conseguido o nome deles) alugaram um chalé nos Alpes suíços, possivelmente para comemorar o ataque bem sucedido e talvez traçar os planos para novas investidas. O nome Norman Benton, como era de se esperar, aparecia constantemente. O norte-americano andava estranhamente sumido e ninguém parecia saber do seu paradeiro, segundo Severo.


- Não acredito que Benton esteja diretamente envolvido no ataque à sua jogadora – explicou Snape – Pelo que eu pude apurar, ele é um bruxo medíocre. Duvido que soubesse conjurar ou ensinar a alguém um feitiço complexo como aquele. O que não quer dizer que ele não saiba alguma coisa. Há boatos um tanto perturbadores. Por enquanto são boatos. Mas, prometo contar a você quando eu tiver alguma informação mais consistente. Até lá, mantenha os olhos bem abertos e use o que puder para defender o seu pessoal. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


No dia seguinte, me reuni com Potter, Weasley, suas esposas e Toni M’Bea. Contei para eles uma parte do que Snape havia me revelado. Expliquei da necessidade de seguranças privados. Eles não gostaram muito, mas entenderam a situação.


Na quarta-feira seguinte estrearíamos na Liga Européia de Quadribol contra os Dragões de Bursa, time da Turquia. Nossa chave na fase inicial do torneio não era tão difícil. Enfrentaríamos os Dragões, os Ursos de Dankov, da Rússia e os Fura-Bolas de Quiberon, da França, inegavelmente o adversário mais difícil dessa fase. Como se classificavam duas equipes de cada grupo, as nossas chances eram muito boas. Dali para frente vinham os terríveis mata-matas, com jogos eliminatórios de ida e volta, que costumavam deixar os fãs de quadribol grudados nas transmissões da TV Bruxa.


Na terça pela manhã, o time compareceu à Estação Internacional de Portais, próxima da sede do Ministério da Magia em Londres. Havia um grande número de bruxos estendendo bonés, bandeiras e camisas para que os jogadores autografassem.


Cinco seguranças, discretos, mas eficientes não tiravam os olhos dos atletas, além de Goyle, meu cão de guarda pessoal e “faz tudo profissional”, que coordenava a partida dos jogadores. Segundos depois eles estavam em Bursa na Turquia. E uma multidão de turcos e ingleses esperava por eles. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


O hotel em que ficamos hospedados tinha uma vista impressionante das montanhas Uludag, um dos muitos locais que os trouxas diziam antigamente localizar-se o tal Monte Olimpo, algo que tinha a ver com histórias trouxas sobre deuses poderosos e outras bobagens. Já me esqueci do que Hermione havia me explicado. Mais próximo das montanhas verdes e altas, cujo os cumes nevados eram visíveis das janelas panorâmicas da maioria dos quartos do hotel, morava a maioria dos bruxos da cidade. Lá em baixo, projetando-se aos pés das montanhas a grande cidade trouxa, onde os sultões (é esse o nome?) de um antigo império construíram palácios e habitações que atraem turistas de vários países até hoje.


Bem no sopé da montanha fica ainda hoje o estádio dos Dragões de Bursa, time de quadribol mais popular da Turquia, várias vezes campeão da liga nacional e duas vezes (décadas de 1.950 e 1.960) campeão da Europa. Todos os vinte e cinco mil lugares de estádio estavam vendidos há semanas. E havia um grande número de turcos, que torciam por outras equipes do país, que estavam dispostos a torcer pelos Cannons.


- Você espera um jogo rápido, Potter? – perguntou um repórter num inglês precário.


- Espero um jogo difícil e nosso time está preparado para um jogo longo – explicou o Eleito.


Finalmente alguém havia feito uma pergunta sobre quadribol. As perguntas até então eram sempre sobre o risco de jogar no mesmo time do mais famoso feiticeiro do mundo, odiado pelos bruxos das trevas.


Toni, Andy, Vitor e Rony, para o aparente desapontamento dos jornalistas, diziam que estavam muito felizes em jogar nos Cannons e serem amigos de Harry Potter. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Apollo Cole jogaria no lugar de Toledo. O convencido jamaicano declarou aos jornalistas que estava tranqüilo e merecia estar no time titular. O sujeito vinha me tirando do sério naquela temporada. Só por causa do Harry e do Toni eu não o mandava de volta para o seu país nas garras de algum hipogrifo desgovernado. Desconfio que meu sócio e o africano só suportavam o cara por causa do seu sobrinho Dylan, um amor de garoto, que mais tarde se tornaria um grande jogador de quadribol e hoje dirige o Departamento de Esportes Mágicos do Ministério da Magia da Grã-Bretanha.


O jogo seria às sete da noite, no horário de Bursa, nove horas em Londres. Na véspera, os jogadores realizaram o reconhecimento do campo e do estádio. E Vera Ivanova percebeu uma trapaça dos nossos amigos turcos, que até então estavam nos recepcionando muito bem.


Ela e Toni, veteranos de muitas competições, trocaram um olhar cheio de significados:


- Os aros – declarou a treinadora.


- O que tem os aros? – perguntei sem entender.


- São menores – disse Toni – É um truque muito comum.


- Depois que os representantes da Liga inspecionam os campos, os caras diminuem ou aumentam os aros alguns centímetros – explicou Vitor Krum, igualmente veterano em competições internacionais, uma vez que participava delas desde os dezessete anos.


- Mas, isso é desonesto! – indignou-se Hermione, que chegava naquele momento ao campo.


- É claro que é – concordou Vera – Se a gente reclamar e exigir uma inspeção, a partida pode ser suspensa e nós ainda seríamos os vilões da história, com o público ficando irritado pelo fato da partida ser adiada.


- E enquanto isso eles voltam a colocar os aros no tamanho original e acusam o nosso time de estar reclamando por estar com medo – concluiu Toni – Guerra psicológica.


- Posso dar a minha opinião? – perguntou Harry.


- Claro, gatinho – concordou Ivanova.


- Já falei pra você não me chamar de gatinho...


- Certo, gatinho. O que você ia dizer?


Gina e os demais abafaram o riso. Harry sempre ficava irritado com o fato de Ivanova tratá-lo como se tivesse cinco anos de idade, como ele sempre dizia. Na verdade, a treinadora búlgara tratava todo mundo dessa forma. O fato de o meu sócio ser o bruxo mais poderoso do mundo, ter dado cabo do Lorde das Trevas e tudo o mais, não parecia impressioná-la. Ao contrário: isso parecia alimentar mais ainda o seu instinto maternal, o que divertia muito o restante da equipe, mas contrariava Harry em demasia.


- Eles diminuíram os arcos por que acham que vamos ter mais dificuldades para marcar gols, certo? – perguntou o craque dos Cannons, ainda ligeiramente contrariado.


- É isso – confirmou Vera – E o time deles deve ter treinado a semana inteira com os aros menores.


Se existe uma injustiça a respeito de Harry Potter, é a acusação de alguns invejosos de que ele seria na época um jovem presunçoso. Conheço Harry há meio século e sou testemunha de que essa é a uma das grandes e absurdas mentiras inventadas a seu respeito. Muito pelo contrário. Potter às vezes me irritava por causa de sua modéstia. Nunca assumiu o fato de ter sido o maior jogador de quadribol da história. Atualmente há dezenas de supostos “novos Potters” todos os anos, que na verdade nem mesmo chegam aos pés do “garoto que sobreviveu”. Mesmo modesto, ele sabia a extensão do seu talento e do talento dos demais. Olhando descontraído para o cenário deslumbrante formado pelas montanhas em torno, Harry disse, sorrindo um tanto encabulado:


- Uns centímetros a menos não vão nos impedir de marcar os gols.


- Ninguém achou que iria – afirmou Toni com sinceridade.


- E vai ficar mais fácil para o Rony fechar os aros – afirmou a treinadora, dando um tapinha amistoso nas costas do goleiro dos Cannons. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


- CAROS OUVINTES E TELESPECTADORES DA RADIO E TV BRUXA – anunciou Lino Jordan, “A Voz”, com a exuberância de sempre – DIRETAMENTE DE BURSA, NA TURQUIA, TRAZEMOS A VOCÊS MAIS UM JOGO DOS CHUDLEY CANNONS, AGORA NA LIGA EUROPÉIA DE CLUBES. QUEM MAIS FICARIA VIAJANDO PARA BAIXO E PARA CIMA TODOS OS DIAS DA SEMANA? TUDO BEM QUE EU SOU O MELHOR LOCUTOR DO PAÍS, MAS ERA DE SE ESPERAR QUE AQUELE ALMOFADINHA DO...


- BOA NOITE, TELESPECTADORES E OUVINTES DO REINO UNIDO – interrompeu Marla Donovan antes que seu colega começasse a criticar os colegas da emissora. Nos últimos tempos, para a diversão dos seus inúmeros fãs espalhados pelos países de língua inglesa, “A Voz” vinha reclamando durante as transmissões que só ele era escalado para cobrir as partidas longe de Londres e mesmo do Reino Unido. A emissora não o demitia, apesar dos seus protestos públicos, porque o irriquieto narrador era quase uma unanimidade e já havia ameaçado fundar a sua própria emissora, ameaça que cumpriria alguns anos mais tarde, com a ajuda dos gêmeos Weasleys.


- AQUI, SOB A MONTANHA ULUDAG, OS CANNONS ESTÃO PRESTES A DAR MAIS UMA SURRA NOS SEUS ADVERSÁRIOS INCAUTOS. A VÍTIMA DA HORA SÃO OS DRAGÕES DE BURSA, QUE USAM UM RIDÍCULO UNIFORME VERMELHO SANGUE... – ia zombando o locutor.


- BEM, A EQUIPE TURCA SE REFORÇOU PARA O TORNEIO EUROPEU – interrompeu novamente Marla, fazendo, gestos para que Lino contivesse a falta de imparcialidade. Gestos que os telespectadores não poderiam ver, pois a TV Bruxa mostrava naquele momento os cartões postais trouxas da cidade – ALÉM DE KEMAL, ARTILHEIRO TITULAR DA SELEÇÃO TURCA – continuou a comentarista - QUE ESTÁ DE VOLTA AO PAÍS, A EQUIPE CONTA COM O BATEDOR ARGENTINO MARTIN MORENO, SEM DÚVIDA UMA GRANDE CONTRATAÇÃO, ALÉM DO BRASILEIRO MOURA...


- QUE NÃO CHEGA AOS PÉS DO SEU COMPATRIOTA ANDY LOPES... – desdenhou o locutor – ENTRAM EM CAMPO AS EQUIPES!!!!! OS CANNONS, DESFALCADOS DE CRIS TOLEDO, JOGAM COM WEASLEY, M’BEA, LOPES, O CASAL POTTER, COLE E VITOR KRUM!


- À EXCEÇÃO DA ARTILHEIRA PERUANA, O MELHOR DOS CANNONS ESTÁ EM CAMPO PARA A ESTRÉIA NA LIGA EUROPÉIA – comentou Marla.


- OS DRAGÕES VÃO A CAMPO COM BATRUK, NO GOL, KEMAL, ATURK, EMRE, MORENO, MOURA E SAS! – anunciou “A Voz”.


Uma ovação ensurdecedora se fez ouvir no estádio quando o time local entrou voando em campo, com um uniforme vermelho vivo com números e detalhes verdes, além de um grande dragão igualmente verde que se destacava no centro das vestes vermelhas. Havia apenas uma moça no time, a apanhadora Myrina Sas, titular da seleção turca.


Como muitos bruxos ainda possuíam velhos televisores em preto e branco, os Cannons, instruídos pelos assessores da TV Bruxa turca, jogaram aquela partida com um uniforme inteiramente negro com golas e punhos laranjas. Era uma noite menos fria do que as noites inglesas nessa época do ano, mas um vento gelado soprava das montanhas e todos usavam uniformes formado por calças de material bruxo térmico e blusas de mangas compridas, além das tradicionais luvas especiais para cada posição. Rony, de acordo com a nova moda entre os goleiros de quadribol (imitando os goleiros de futebol trouxa) usava uma camisa diferente, branca com três grandes listras laranjas.


Toni e Kemal, o capitão dos Dragões cumprimentaram-se e a partida teve início.


- ATAQUE DOS DRAGÕES – transmitiu Lino – M’BEA ACERTA UM BALAÇO EM EMRE. MAS A GOLES FICA PARA KEMAL. FINTA EM GINA POTTER, FINTA EM COLE! ARREMESA! DFESA SEEEEEEEEEENSACIONAL DE WEASLEY! VOOU NO ARO ESQUERDO E AGARROU A GOLES! LANÇA IMEDIATAMENTE PARA POTTER! FINTA ESPETACULAR EM ATURK. ESTÁ FRENTE A FRENTE COM O GOLEIRO! É GOOOOOOOOOL! POTTER ENGANA BATRUK E MARCA DEZ A ZERO PARA OS CANNONS!!


- CONTA-ATAQUE ESPETACULAR DOS CANNONS – disse Marla – APOSTO QUE O PASSE LONGO DE WEASLEY PARA POTTER FOI UMA JOGADA ENSAIADA POR VERA IVANOVA!


- BALAÇO ARREMESSADO POR LOPES DESARMA EMRE! GINA POTTER COM A GOLES! VOOOU DIRETO PAR OS AROS DOS DRAGÕES! É GOOOOOOOOOOOOOL! GINA POTTER! VINTE A ZERO PARA OS CANNONS!


Reforçado ou não, encolhendo ou não os aros, ficou claro em poucos minutos que o time dos Dragões não era páreo para o nosso time. Enquanto dito as minhas memórias para a máquina que possui tecnologia trouxa e feitiço bruxo, ouço a gravação da transmissão de Lino Jordan daquela partida. Hoje ele é apenas um executivo da sua própria emissora e deixou as transmissões para os mais novos, mas não há dúvida que “A Voz” Jordan é insuperável.


A gravação continua, com a narração entusiasmada e nada imparcial de Lino.


Gina, Harry e Cole marcavam um ponto atrás do outro e os poucos ataques dos Dragões paravam nas mãos de Rony. Depois de quarenta minutos de massacre, Vitor Krum apanhou o pomo com facilidade, fechando o jogo. A estréia dos Cannons na Liga Européia daquele ano, uma reestréia depois de mais de meio século de ausência foi uma show! Duzentos e noventa a zero!


- VITOR KRUM APANHA O POMO DE OURO!!! – berrava Lino Jordan – RESULTADO ESPETACUYLAR EM FAVOR DOS CANNONS!! DEUZENTOS E NOVENTA A ZERO! ESTRÉIA DO TIME LARANJA COM O PÉ DIREITO NA LIGA EUROPÉIA!!


- OUTRA GRANDE ATUAÇÃO DOS POTTER! – analisou Marla – COLE E WEASLEY TAMBÉM JOGARAM MUITO BEM!


Pois é. Naquele momento, em Chudley e em várias partes do Reino Unido, bruxos de todas as idades comemoravam a reentrada dos Cannons na elite do quadribol europeu. Não poderíamos imaginar que olhos bem pouco amistosos estavam fixos no campo de jogo, onde Vitor era cumprimentado pelos companheiros de equipe ao desmontar da vassoura, ainda carregando o pomo de ouro recém-capturado, recebendo um grande abraço dos batedores Lopes e M’Bea.


- Nós não vamos embora, senhor? – perguntou um jovem baixo e entroncado para um homem de meia idade, vestindo uma impecável e elegante roupa de bruxo, com um chapéu que lhe cobria parcialmente o rosto.


O fato de continuar irredutível em seu lugar, sentado num assento próximo ao corredor que escoava o público da numerada coberta, dificultava a saída dos demais torcedores turcos, que não estavam muito contentes com o estorvo, ainda mais depois da surra que o time vermelho havia levado.


Indiferente aos olhares hostis e a um ou outro xingamento mais explícito, o homem bem vestido continuou mirando com um olhar frio a festa dos jogadores dos Cannons.


- Olhe os amantes de trouxas e sangue-ruins felizes – sibilou numa voz desagradável. Disse as palavras num inglês impecável, que entretanto, possuía um leve sotaque difícil de identificar – Eu pretendo esmagá-los como os insetos que são. Mas não tenho pressa.


É lógico que eu não sei se as palavras trocadas entre os dois bruxos foram exatamente as que escrevi. Naquele momento eu saía do campo de jogo, abraçado ao casal Potter e prometia levar todos os jogadores para um jantar num dos restaurantes de comida típica que me foi indicado pelos anfitriões. Eu estava realmente feliz com a nossa estréia na Liga Européia. Como poderia saber que o filho do Lorde das Trevas tramava contra a nossa felicidade e a nossa vida? XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


COMO TODOS PODEM PERCEBER, HÁ VÁRIOS MISTÉRIOS... MALFOY VAI SE COMPROMETER NA VELHICE?? FILHO DO LORDE DAS TREVAS?? NÃO PERCAM OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS!!!!!!!!!!

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