O Serviço Anônimo
Seria quase redundante dizer que nada de diferente fosse acontecer naquele ano, sendo que nenhum dos outros três havia a decepcionado naquele quesito. A atmosfera parecia tão calma, no entanto, que Hermione começava a duvidar, todas as noites quando ia dormir, se alguma coisa iria os surpreender. Não que ela gostasse de problemas, pelo menos eles eram bons no ponto de que ela podia superá-los e em seguida ficar em paz. Mas a falta deles parecia ser pior do que sua presença. E isso, definitivamente, a surpreendia.
Novembro havia sido sempre um mês calmo, pois era quando a animação do início do ano cessava e as preparações para o Natal começavam a aparecer. Resumindo, Novembro era um tédio.
“Nós podíamos dar umas voltas por aí.” Sugeriu Ron, tornando o já entediante domingo pior ainda. Os três estavam deitados no gramado, vendo o subir e o descer de seus peitos enquanto respiravam, ficando com frio pois, por mais que nesse raro dia a neve não havia decidido cair, o frio gritante ainda estava presente. Não havia a vontade de andar de volta ao castelo, porém. O ar batia de um jeito adorável e pelo fato de tudo estar tão silencioso, era possível ouvir o barulho da harmonia de alguma coisa, não importava se era a própria brisa ou simplesmente alguns dos sons que a vida parece emitir, o importante e indispensável seria apenas continuar lá, aproveitando.
“O Hagrid não nos vê há tempos, sabe.” Disse Harry, jogando uma indireta. Não, eles não iriam descer tudo para tomar chá. Pelo menos não Hermione.
“Eu não tenho condições de ir até lá embaixo ver o Hagrid.” Resmungou Hermione. Harry levantou uma sobrancelha e então, quando abriu a boca, foi para falar algo que a perfurou profundamente.
“Que bom-humor você tá nesses últimos dias, Mione. Alguma coisa errada?”
Ela respirou, suspirou, piscou, ajeitou os braços e então lembrou-se de responder. Sarcasticamente.
“Não, Harry. Tudo tá...emocionante.”
“Tédio, Hermione?” – Ron havia entrado na conversa.
“Mais que isso. Nem as aulas estão emocionantes. Nós precisamos de alguma coisa. De verdade.”
“Eu sei que alguma coisa tá faltando, mas eu aposto que Hogwarts não nos decepcionaria assim...”
Algumas vezes, bastava Harry falar que parecia que algo ia se concretizar. Nas outras, bastava ele falar algo que o que aconteceria seria sempre o contrário. Dessa vez, parece que a sua profecia virou realidade.
Hermione, Rony e Harry entraram no castelo, voltando de sua estadia de tarde no gramado para encontrarem um grande anúncio no mural principal, prevendo a grande iniciação de uma central de correspondências anônimas. Não como já ocorria no Corujal, que foi o que todos pensaram. Pelo Dia dos Namorados estar por perto, e para alguma coisa acontecer naquele ano que parecia ser monótono, Dumbledore havia decidido abrir um serviço de cartas, no qual todos os alunos poderiam se corresponder com as pessoas com as quais precisavam dizer ou escrever algo sem precisar revelar sua verdadeira identidade. Parecia perfeito, claro, só restava esperar para ser se iria vingar no fim das contas.
Até então, parecia funcionar.
“Gostei, sabia.” Disse Ron, subindo as escadas em direção a Sala Comunal, pressionando os lábios quando terminava a frase numa tentativa frustrada de criar uma expressão aprovadora.
“Pode funcionar. Mas é interessante, sim.” Aprovou Hermione.
“Você acha que algum de nós vai receber cartas?” perguntou Ron.
“Mesmo se eu soubesse, não te diria. Ia estragar a surpresa, que parece ser o objetivo disso tudo, né?” retrucou Hermione.
“Todos tem uma chance, Ron.” Disse Harry.
Uma semana depois, o Grande Salão iniciava as correspondências anônimas. No final da mesa de cada casa, estava uma imensa estante, com um pequeno buraquinho para cada um. Era simples botar uma carta lá dentro: no fim das estantes, havia um caixão, aonde se jogavam as cartas para elas reaparecerem em seguida dentro de cada caixinha correspondente, assim ocultando a identidade dos escritores ou recebedores das cartas. Os compartimentos só podiam ser abertos pelo Alorromora de cada dono e sua respectiva varinha, inutilizando assim o uso de chaves. As estantes pareciam numerar somente alunos do quarto ano pra cima, porém. Podia-se ouvir alguns alunos menores revoltados, reclamando, dizendo certas palavras que surpreenderiam mães que não imaginariam que as mesmas estavam no vocabulário de seus queridos filhos. Todos abriram seus pequenos espacinhos, encontrando uma carta, que, apesar de breve, explicava tudo o que era necessário.
“Caros alunos,
Todos esperamos que vocês apreciem essa nova idéia que estamos, a partir de hoje, colocando em prática. Para responderem cartas anônimas, basta colocar “Resposta para a carta número” e em seguida o número da carta que recebeu. Se for sua primeira, escreva um, e assim por diante. Antes, sua coruja poderia ser vista ou seria até mesmo menos particular e mais vergonhoso mandar uma carta anônima. Agora, ninguém poderá desconfiar. Botem seus sentimentos para fora, não deixe mais um segundo de angústia perturbar seus corações, jovens.
Boa sorte,
Albus Dumbledore.”
Ron, Hermione e Harry trocaram olhares.
“Vão mandar carta pra alguém, meninos?” perguntou Hermione.
“Eu não.” Respondeu Ron, rapidamente.
“Acho que também não. Pelo menos por enquanto” disse Harry, balançando rapidamente a cabeça para cima e para baixo, afirmando.
Hermione esperou alguns segundos, parecendo pensar, e entrou no jogo.
“Eu irei. Não hoje, porém. Mas irei escrever uma sim. Só pra testar, talvez. Ver como funciona.”
“E quem vai receber a carta?” perguntou Ron, levantando uma sobrancelha.
“Ron, eu ainda me pergunto porquê você gasta sua saliva em perguntas nas quais você obviamente não irá conseguir uma resposta assim fácil.”
Harry recebeu uma carta no dia seguinte.
“ Parece que agora pouco a pouco eu poderei te revelar coisas que jamais pensaria em dizer, Harry. ”
Nenhuma assinatura. Mais nada. Era escrito em tinta verde, porém.
“Quem pode ter sido, Harry?” perguntou Ron, extasiado.
“Não tenho idéia.”
“Oh, Harry, isso é tão animador! Você precisa responder! Saber quem te mandou! Vamos, escreva uma resposta!” - falou uma Hermione feliz.
“Eu não acho que seja uma boa idéia...eu não sei de quem é, Hermione. Não tem como responder. Não acredito que você não se tocou disso.”
“Mas é claro que eu me toquei disso. E é óbvio que você pode responder. É só escrever o número da carta, lembra?”
Harry pegou um pedaço de pergaminho e uma pena e então escreveu uma rápida resposta.
“ Quem é? ”
Harry a mandou, embora Hermione tivesse totalmente desaprovado sua resposta.
“Gastou tinta à toa. Se a autora não botou nem uma rúbrica no fim da carta, espera que ela se revele assim? Por favor, né.”
“Quem sabe ela não aguenta a pressão, Hermione?” disse Ron, dando seu palpite.
“Oh, claro, eu tenho certeza que essa carta super intimidadora do Harry, cheia e repleta de pressão vai fazer com que ela revele quem é agorinha mesmo.”
“Não importa. Eu espero. Só quero saber o que vou ter de resposta.” Disse Harry.
Hermione recebeu uma carta naquela mesma tarde.
“ Acho que te amo. ”
Era escrito em tinta preta. Hermione ficou vermelha e em seguida anunciou:
“Olha, gente! De quem será que é?”
Harry e Ron leram a frase e em seguida responderam, num tom de desaprovo.
“Hermione, isso foi meio vago.” Disse Harry.
“Eu achei bonito.” Disse Ron. “Mas vago. Vai ver tem mais coisas pra falar.”
“Vocês acham que pode ser uma brincadeira de mal-gosto?” perguntou Hermione.
Nenhum dos dois meninos respondeu, apenas continuaram olhando para ela.
“Eu vou responder. Aí dependendo da resposta eu tiro minhas conclusões.”
Hermione subiu para o Salão Comunal e, sentando em um dos sofás, pegou um pedaço de pergaminho e uma pena, pensou por alguns minutos e então escreveu uma resposta.
“ Por favor, conte-me mais sobre isso. E sem brincadeiras.
Não precisa me dizer quem é. Por enquanto. Mas, me prova que é de verdade? ”
Ela mandou sua carta algumas horas depois, quando desceu para o Grande Salão, na hora do jantar.
Quando o jantar havia acabado, ainda não havia uma resposta em sua caixa. Mas na de Harry, sim.
“ Eu não contarei quem sou se você não me jurar que está disponível para entrar de cabeça em tudo que tenho a lhe oferecer, Harry. Eu realmente gosto de você.
Beijos.
Terceira.”
“Terceira?” perguntou Ron. “Você já está recebendo correspondência de três pessoas? Meu Deus, Harry.”
“Ron, não seja burro. É um código. Temos que descobrir o que terceira significa.”
“Talvez seja alguém do terceiro ano” Disse Harry.
“Meio impossível, sendo que só a partir do nosso ano se pode usar esse serviço de cartas, Harry.”
Os três continuaram a pensar, parados na frente da estante da Grifinória.
“Terceira! Terceira letra do alfabeto. C, Harry. Pode ser isso!” Gritou Hermione, animada.
“É verdade!” concordou Harry.
“Anda, escreva uma resposta perguntando.” – mandou a garota.
“ Seu nome começa com C?
Harry ”
Quando Harry mandou a mensagem, sua ficha caiu.
“Cho!” disse Harry, animado, quase em um berro, para Ron e Hermione.
Hermione arregalou os olhos e abriu um breve sorriso de possibilidade.
“Pode ser, Harry!”
“Você é bem sortudo, Harry.” Disse Ron, sorrindo.
Os três foram dormir e ficaram pensando na real identidade da pessoa que havia escrito uma carta para Hermione e a outra para Harry.
Harry não podia deixar de notar um certo frio em sua barriga sempre que se lembrava que C poderia ser de Cho. Naquela noite, a lua era minguante. Ele podia jurar que era de propósito. Sua forma era de um C perfeito.
A lua foi substituída pelo sol, e o vazio dos compartimentos de Harry e Hermione foi substituído por duas novas cartas, cada uma em sua tinta, preta e verde, respectivamente.
“ Ainda não posso lhe mostrar quem sou, mas por favor, entenda quando eu digo que é de verdade. Isso foi feito para confessar seus segredos, e agora o estou revelando para você. Eu realmente te amo. Acredite em mim. Responda-me, vamos conversar. ”
Hermione estava com lágrimas nos olhos. Harry abriu a sua carta.
“Lhe manderei mais dicas em breve. Mas você não respondeu se está disponível para entrar de cabeça em um romance, Harry! Adivinhou meu enigma, é?
C. ”
Harry olhou para a mesa da Corvinal. Lá estava Cho. Fazendo seu dever, provavelmente. Segurando uma pena verde.
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