Emergindo das Trevas



Capitulo IV


 


Emergindo das Trevas


 


 


 


            Duas pessoas, vestidas com grossos mantos negros e capuzes que lhes cobriam a cabeça, caminham apressadamente em direção a um terreno baldio. O primeiro, após verificar se não haviam sido seguidos, saca a varinha e pronunciando algumas palavras, faz surgir uma mansão de aparência abandonada. Num movimento rápido, abre a porta lacrada por um feitiço e indica ao outro que entre o acompanhando em seguida. Imediatamente a enorme casa volta a se desmaterializar num estalido, dando a impressão de não existir sobre o terreno desnudo.


           


            O primeiro a entrar tira o capuz, mostrando um homem de cabelos castanhos que a muito não viam corte, barba por fazer e escuras bolsas sob os olhos. O que abrira a porta retira o manto o pendurando em um cabideiro envelhecido. Essa era uma mulher de longos cabelos negros e de profundos e maldosos olhos azuis. Ela maneia a cabeça, o permitindo pendurar seu manto e pede que a acompanhe. O homem vislumbra a casa que não visitava há pelo menos oito anos.


 


            O hall de entrada indicava que ali já residira uma família de grande prestigio e posses. O papel de parede, embora puído e rasgado; os lustres de cristal nobre despencados, lascados e empoeirados; aparentavam ter sido escolhidos por alguém que conhecia sobre decoração, talvez um profissional. O piso de madeira, que se percebia ter sido bonito e lustroso, agora se apresentava gasto, com algumas rachaduras e rangia sob seus pés quando se dirigiam a o segundo andar da casa.


 


Sobem a larga escadaria que se dividia em duas seguindo uma para cada extremidade do segundo piso. Presa na parede, antes da bifurcação da escada, havia um enorme retrato com uma risonha senhora loura, muito bem vestida, sentada a uma rica poltrona verde escura. A seu lado direito, um distinto senhor vestido de negro, com longos cabelos também louros e um olhar altivo, aristocrático. Do outro lado, um rapazote aparentando quinze anos, de cabelos platinados e intensos olhos acinzentados, sorria desdenhosamente a passagem dos dois.


 


            O homem solta um sorriso irônico para o retrato e segue a mulher que ia pela escada à direita.


 


            - Eles estão nos esperando. – ela pára a frente de uma porta surrada a abrindo – É aqui.


 


            - Meu caro Nott! – uma voz arrastada começa – É bom vê-lo vivo e em liberdade.


 


            - Nada que se deva a nenhum de vocês... Não é, meu caro Snape? – Nott responde com ironia, olhando com certo asco para o homem sentado a frente de Snape. – E você amigo, não se parece nada com a foto que vi há pouco...


 


Lucius Malfoy realmente em nada lembrava a foto que Nott mencionara. O mais marcante era do lado esquerdo de seu rosto. Um tapa olho negro cortava a enorme cicatriz que, provavelmente originara o olho danificado, e se desenhava desde sua testa até a linha de sua boca no rosto muito marcado pelo tempo. Os cabelos agora estavam curtos e sem brilho. A única coisa que ainda lembrava o Lucius Malfoy de antes era o olhar aristocrático que ainda mantinha em seu semblante ciclope.


 


            - Seis anos em Azkaban não podem fazer bem a ninguém. –  responde Malfoy, o desprezo estampado na voz.


 


            - Soube que seu filho se tornou auror...


 


            - Eu não tenho filhos! – o corta ríspido.


 


 


 


***


 


 


 


Draco Malfoy voltava para casa de mais uma missão exaustiva.


 


Tira os sapatos, os jogando de qualquer jeito no meio da pequena sala do apartamento. Dirige-se ao banheiro na intenção de um banho relaxante. Ao sair do box ouve o chamando da lareira. Veste rapidamente uma calça de moletom e volta à sala.


 


- Hei! O que é que há Malfoy? Tá me estranhando? – a voz se assusta e toma um tom jocoso.


 


- Vamos logo ao assunto Weasley! Acabei de chegar de Berkshire. Tô mortão.


 


Rony, que havia acabado de chegar via rede de flú, senta-se a uma poltrona em frente a Draco.


 


- E ai, como foi? – assume um ar sério


 


- É, tenho que dar o braço a torcer ao Potter. – esfrega o rosto denotando cansaço. – As coisas estão muito estranhas por lá. A movimentação é de que vai acontecer algo grande. Lupin ficou com uma equipe atocaiando os aspirantes a comensais. – termina sarcástico


 


- Algo que nos dê alguma luz? – Rony pergunta esperançoso – Algo que ajude com a profecia?


 


- Nada por enquanto. – fala novamente mostrando cansaço – Nem conseguimos descobrir o que fazem por lá. Me pareceu uma total perda de tempo. - suspira desanimado. - E em Hogwarts?


 


- Nada... Estou na mesma. Nenhuma pista que possa nos ajudar e nem sinal de nada suspeito. – e dá uma risadinha – Só umas alunas do 7º ano da Sonserina perguntando quando será a palestra do Sr. Malfoy. – fala com voz em falsete.


 


- Pode dizer que você é meu representante oficial. - diz fazendo uma cara safada – Pode pegar algumas, ainda ficam as da Lufa-lufa, da Corvinal e as que eu mais gosto, as da Grifinória. – termina pronunciando pausadamente as palavras.


 


- É?! Isso é crime, sabia? Elas são menores de idade! E isso lá é conduta de um AUROR? – pergunta se fingindo indignado.


 


- Ora meu caro Ronald! Sempre me certifico se já têm idade suficiente. – fala presunçoso – Não acha que EU seria tão desleixado com um assunto desses, ou com outros cuidados, antes que me pergunte. E, pensando bem, deixa minhas garotas quietinhas lá, senão me encarrego pessoalmente a contar a uma senhorita sabe-tudo o que seu noivo anda aprontando. – se diverte com o desconcerto do amigo.


 


- Calma Draco, deixa minha Mione fora disso. – quase não se podia distinguir o rubor da face do auror de seus cabelos – Por falar em grifinórias, e minha irmã? Foi de grande ajuda? - desconversa


 


- Claro, como sempre! – Draco passa displicentemente a mão pelo cabelo molhado – Sua irmã é uma das melhores aurores com quem já trabalhei. Por isso pedi a presença dela.


 


- Tenho que admitir! Realmente, ela é quase tão boa quanto o próprio Harry.


 


- A meu ver, muito melhor! – Draco sibila levantando uma sobrancelha e fitando o vazio com um sorriso.


 


- Malfoy, é melhor você parar com essas piadinhas! – o outro adverte – Sabe como isso afeta o Harry.


 


- Potter é um babaca em achar que eu tenho alguma chance em tomar a Gina dele. – diz irritado e ressentido – Ela deixou isso bem claro quando me trocou por ele há um ano e meio atrás. Nem assim ele se convence. – termina com voz carregada.


 


- Tá, vamos parar com esse assunto...


 


- Você sabia que ele não disse nada a ela sobre a profecia? – o Malfoy continua como se não o tivesse ouvido. – Shaklebolt estava indignado na ultima sexta antes de irmos para Berkshire. Ele acabou deixando escapar que Harry exigiu um cargo burocrático para ela enquanto não concluirmos essa missão.


 


- E você não contou nada a ela, não é? – Rony pergunta preocupado


 


- Claro que não! – Draco responde arrastado – Mas me surpreende o fato do “cicatriz” continuar tão obtuso.


 


- Chamou ele de “cicatriz” de novo... – o corrige divertido


 


- Desculpa cara... – tenta se controlar


 


- Mas, quer dizer que o Harry pediu um cargo burocrático para Gina? – fala de cenho franzido.


 


- Pediu não! Foi uma exigência para aceitar a missão! – explica


 


- Isso me preocupa, e muito... – passa a mão no rosto incomodado – Gina não vai aceitar essa situação sem luta, você a conhece.


 


- Ele foi longe demais dessa vez. – Draco esfrega os olhos, fadigado - Acho que nem ele sabe o quanto...


 


- Mais um rompimento? Ela disse que seria o ultimo...


 


- Ela disse que se ele terminasse com ela mais uma vez, seria a ultima. – Draco o corrige – Isso em nada impede que ela termine dessa vez.


 


- Você tá adorando, né Malfoy? – Rony questiona contrariado, usando o sobrenome do amigo como insulto.


 


- Engano seu! – diz altivo – Queria ver sua irmã feliz, nem que quem a fizesse fosse o Harry...


 


Rony fica perplexo por alguns instantes. Draco havia mudado sinceramente ao longo dos anos. Mas, para ele, só naquele momento pode certificar-se que ele em nada mais se parecia a um Malfoy. Ele mesmo fora contra o relacionamento de sua irmã com Draco, mesmo sem deixar que ele percebesse. Pois sempre soube Harry seria o par perfeito para Gina. Só agora percebera o quanto pôde ter estado errado.


 


- Sua irmã salvou minha vida Rony... – Draco continua


 


- Pelo que eu me lembro foi o contrario! – Rony se surpreende de novo


 


- Não você está enganado, salvando a vida de Gina, naquele dia, salvei a minha também. – o rapaz lembra com um brilho sombrio no olhar – Eu passava no corredor ao lado do catre onde a mantinham. Tinham me mandado fazer alguma das coisas estúpidas as quais eu era obrigado pelo meu pai, quando a ouvi gritar. Engraçado como a gente reconhece a voz de uma pessoa! Não acreditei que fosse ela, como conseguiriam capturar a namorada do Potter, aquela altura dos fatos? Entrei sorrateiro na saleta.


Havia uma luminosidade esquisita clareando o ambiente.


Não pude vê-la, mas Voldemort em pessoa a torturava com um “Cruciatus”. Meu pai, ao lado, gargalhava como se aquilo fosse uma comédia que ela estivesse representando.


Nunca me senti à vontade em uma sessão de torturas. Era uma das coisas que meu pai mais se envergonhava. “- Meu próprio filho, um frouxo!” Ele dizia.


De repente o grito cessou. Achei que ele a tivesse matado. Num assomo de coragem, me postei as costas de meu pai. Foi ai que a vi. Ela estava em uma posição estranha, bastante desconfortável, o vestidinho florido rasgado, varias escoriações e hematomas por todo seu corpo. Achei que estivesse mesmo morta... Então ela abriu os olhos, se sentou devagar e, com dificuldade, ficou de pé em frente a ele. Eu podia ver que ela estava aterrorizada, mas que também, tentava a todo custo aparentar o contrario. Voldemort perguntou onde estava o Potter, e ela respondeu que ele ainda estava em coma no St. Mungos.


Ele sabia que não, tinha posto um feitiço nele, que quando recobrasse a consciência, emitiria uma luz que só um comensal poderia ver. E também que ele deveria estar muito bem escondido, por isso nenhum de nós conseguira detectá-lo. Foi então que percebi... A luz esverdeada vinha dela, como se aderida a sua pele. Provavelmente eles estiveram juntos, por isso ela refletia aquele brilho. Meu pai a advertia, que o mestre não teria paciência com ela. E que, se ela não fosse útil, a matariam. Ela disse que não importava, e que, se fosse por isso que a matassem de uma vez. Nesse momento ela me viu, ficou alguns segundos me observando e ainda pude ver seus lábios pronunciarem meu nome antes que Voldemort lançasse novamente o feitiço. Eles também perceberam minha presença e me escorraçaram dali. Mas eu sabia que eles não parariam até que ela revelasse a verdade, ou até que a matassem. Foi então que decidi, naquele momento não sabia como, mas a tiraria daquele lugar, nem que tivesse que pagar com minha própria vida.


 


- Você nunca tinha me contado isso. - Rony fala perturbado


 


- Não? – interroga abatido e suspira – Acho que ninguém sabe. Talvez nem Gina se lembre. Mas eu nunca vou esquecer aquele olhar...


 


- Queria te pedir uma coisa, Draco!


 


O rapaz o olha inquisitivo.


 


- Me desculpa! – fala sincero – Por nunca ter confiado plenamente em você e também por não ter agradecido o suficiente por ter salvo a vida de minha irmã.


 


Rony se levanta e estende a mão. Draco levanta o braço acanhado e é puxado pelo outro o tomando num abraço tão emocionado quanto sem graça, daqueles bem masculinos, com tapinhas nas costas e tudo...


 


 


 


***


 


 


 


            Gina aparata num beco próximo ao largo Grimald, olha para os lados se certificando se não fora seguida. Pura força do hábito. Ninguém a vista, somente um rapaz com um fone de ouvido cantarolando um hip-hop que entrava pelo portão de ferro duas casas a frente. Segue apressada até o número onze e diz a senha. A mansão Black se materializa a sua frente, empurrando os números onze e treze para lados distintos. Entra na casa e ela some em seguida do mesmo jeito peculiar que aparecera.


 


            O rapaz com fones de ouvido, que ficara escondido de modo estratégico no jardim da casa, sai pelo portão e some com o estalido característico de aparatação.


 


            Gina entra no quarto de Harry e percebe o vapor d’água saindo do banheiro. Resolve se juntar ao namorado. Afinal, nada a faria se sentir melhor que um bom banho e Harry Potter durante toda a noite...


 


 


            A moça acorda com a movimentação do quarto.


 


            - Oi! – ela diz preguiçosa, se virando para olhar o namorado e deixando o belo corpo ainda desnudo semi-exposto.


 


            - Bom dia meu amor! – ele larga o sobretudo sobre a cama e se aproxima a beijando com carinho.


 


            - Já vai para o ministério? – pergunta segurando sua gravata, não o deixando se afastar.


 


            - Já está na hora... – fala desvencilhando-se dela com cuidado – Tenho uma reunião com o chefe.


 


            - Algo haver com nossa ida a Berkshire ou da equipe do Rony a Hogwarts? – levanta uma sobrancelha com um olhar inquisidor, bem característico dela.


 


            - Sim, tem... – a perspicácia dela sempre o surpreendia


 


            - Então é melhor eu acompanhá-lo... – e se levanta dirigindo-se ao banheiro.


 


            - Não Gina! Você não tomará parte da equipe de campo!


 


            A garota estaca e se vira o fuzilando com o olhar.


 


            - Porque não, posso saber? – fala fria


 


            - Quero que você fique no ministério compilando os dados. Não posso imaginar ninguém melhor que você para isso...


 


            - Melhor que eu, é realmente difícil de achar... – é sarcástica – Somente você... talvez. Mas posso lhe indicar meia dúzia que fariam o trabalho de forma eficiente. E mais meia dúzia de motivos para que eu estivesse em campo. – faz uma meia pausa – Alem do mais, arruma outro pretexto Potter... Esse é muito fraco...


 


            - Quer saber Weasley... – fala o sobrenome dela de forma contundente – O motivo é porque eu NÃO QUERO,  só por isso...


 


            - Como é Harry? – ela acha que entendeu errado.


 


            - Isso mesmo que você ouviu. Eu sou o líder dessa equipe. – fala em tom imperativo – E eu digo onde todos os meus subordinados vão ficar. E você Ginevra, vai ficar no ministério...


 


            - Harry, para com esse excesso de zelo. – se aproxima dele tentando argumentar – Eu fui treinada pelo melhor auror do reino unido... – o elogia com um sorriso no olhar -  Duramente treinada, diga- se de passagem. – sorri tentando descontraí-lo – Se nem você me der crédito, que me dará?


 


            - Gina, eu não posso arriscar te perder de novo. – passa a mão gentilmente no rosto da namorada – Eu não iria trabalhar direito sabendo que você está em risco. Tente compreender, por favor!


 


            - E com isso você arruína minha carreira, Harry? – se afasta dos braços do jovem cruzando os braços em frente ao corpo em sinal de defesa. – Tudo pelo que eu lutei nos últimos anos? Você acha isso justo?


 


            - E você acha justo eu te perder depois de tudo? – ele rebate com um golpe baixo e grosseiro – Toda a minha história de sofrimento? Meus pais? Sírius? Dumbledore? É justo te perder pelas artimanhas de Voldemort, agora? Quase no fim? – passa as mãos pelos cabelos revoltos – Não posso permitir Gina... Não agora...


 


            - Voldemort, Harry? – ela franze as sobrancelhas sem entender – Do que você está falando? Você matou esse crápula há oito anos atrás...


 


            Percebendo que falara demais, Harry se recompõe e termina de forma cansada.


            - Você me confunde, Gina! – disfarça, sem muito efeito – Me deixe trabalhar, Shaklebolt está me esperando.


 


            - Mas meu amor, seja coerente...


 


- Chega Gina! – ele a interrompe quase gritando – Entenda que eu sou o líder, e enquanto você trabalhar em minha equipe, terá que seguir minhas ordens. E elas são, compilar dados, em sua sala nova em folha, na mais completa segurança, dentro do ministério. – e sai do quarto não deixando margens para argumentação.


 


- Enquanto eu for de sua equipe, eh? – ela caminha para o banheiro com um sorrisinho nos lábios e um plano sendo formulado nas idéias.


 


 


 


 


 


 


 


Todos os alunos já haviam se recolhido e Candy fazia sua ronda habitual.


 


Como que por encanto uma risada apavorante reverbera as paredes das masmorras. A garota dá um pulo com o susto e empunha a varinha se dirigindo para o lugar de onde viera o som. De uma curva a frente, a uns quatro metros de distância ela pôde ver o homem, vestido com uma capa preta com um capuz bicudo sobre a cabeça e uma mascara branca, macabra como uma caveira, lhe cobrindo o rosto.


 


 


***


 


 


            Benoît conseguira se esgueirar para fora do salão comunal da grifinória e seguira até o corujal. Precisava, por demais, esticar as penas... Sim... PENAS...


 


 


***


 


            A monitora da Grifinória segue em uma carreira desesperada pelos corredores do castelo. Em uma bifurcação segue a direita e olha para trás se certificando se ainda era seguida. Em meio à distração, tromba em uma armadura indo, ela e a armadura, ao chão com um grande estrondo. Candy se levanta soltando uma imprecaução baixa pela imprudência. Com olhos desesperados, visualiza , certamente atraído pelo barulho, o perseguidor novamente virando a esquina com a capa negra esvoaçando levemente pelo chão de pedras.


 


            - Droga, droga – repete, agora alto, voltando a correr.


 


            Vira outra vez, agora à esquerda, e segue subindo três lances de escada. Pára por alguns segundos ofegante, com uma mão apertando a cintura, que doía pelo esforço.


 


            - Monitora... – ela ouve a voz do caçador cantarolando – Vou te pegar...


 


            Candy volta a correr e entra no banheiro das monitoras no terceiro andar. Sorrateira como uma ratinha se aninha sobre o toalete da sétima e ultima porta e se concentra tentando controlar a respiração ofegante.


 


 


***


 


 


            Benoît fecha os olhos concentrando-se por alguns segundos e seu corpo começa a transfigurar-se. Os olhos se enchem e arredondam. A boca se afina, formando um bico curto. O corpo encolhe, como se minguasse, suas pernas e braços acompanham em tamanho e esses últimos, abertos, adquirem penas se transformando em asas castanhas pouco mais escuras que as que cobrem o restante de seu corpo. Uma belíssima coruja caçadora alça vôo no céu noturno.


 


***


 


 


 


            O homem adentra o banheiro batendo a porta com violência.


 


            - Saia monitora! De onde quer que você esteja! – ele brinca com voz rouca.


 


             A garota se assusta com o barulho, e sufoca um grito com ambas as mãos sobre a boca. Ela treme, gotículas de suor se formam em sua testa e colo.


 


            Ela escuta outro baque, agora na porta do primeiro toalete.


 


            - Nada na porta numero um ... – ele fala plagiando, sem saber, um programa trouxa de televisão. – Tsi, tsi, tsi, tsi, tsi, vem cá gatinha, gatinha... – fala como quem chamasse um animalzinho de estimação.


 


            Outro estrondo! A menina mal consegue conter a ansiedade e tapa, outra vez, a boca com ambas as mãos.


 


            A terceira porta é aberta violentamente.


 


            - Saia Grifinória... – fala com voz grave – O bicho papão vai te pegar! – e chuta com força mais uma porta.


 


            Candy sabe que vai ser pega, não tem escapatória. Sua mente maquina febrilmente por uma solução, por uma saída.


 


            Mais um chute, e outra porta atinge a parede oposta com o som já conhecido.


 


 


 


***


 


 


            A coruja castanha sobrevoa alegremente todo o castelo. Se demora um pouco às janelas do dormitório feminino da Corvinal e vai até o lago, molha as patinhas nas águas geladas sentindo um arrepio prazeroso e segue em direção a floresta proibida.


 


 


***


 


 


            Num assomo de coragem, a garota sai de sua cabine e se posta em posição de combate para o inimigo a sua frente.


 


            - Não é que a monitorinha é bem bravinha? – ele escarnece – Vai lindeza, é seu o primeiro ataque!


 


            - Então toma seu comensalzinho de merda! – grita já lançando o feitiço.


 


            Facilmente o comensal a bloqueia e em seguida expeli outro feitiço, que a puxa até ele...


 


 


 


***


 


 


            Benoît  planava sobre a floresta tranqüilamente, quando percebe três criaturas encapuzadas, suspeitamente paradas em uma clareira. Dá um rasante sobre suas cabeças, os assustando. Pousa a uma arvore próxima e emite o som característico aos de sua espécie.


 


 


***


 


 


            Ele a envolve pela cintura.


 


            A moça puxa firmemente a mascara, levando com ela, o capuz para as costas do rapaz.


 


            - Está arredia dessa vez, heim? – ele pergunta com voz rouca mordendo sensualmente o pescoço dela.


 


            - Eu sei que é assim que você gosta...


 


            Beijam-se sofregamente. Ele a ergue, a posicionando sobre a bancada da pia e se acomoda entre suas pernas. Ela tira capa dele a segurando, com as duas mãos, às suas costa, enquanto ele aperta seu bumbum macio e a despe de sua calcinha branca a colocando no bolso de sua calça. Ele a puxa para si com vontade a fazendo soltar um gemido alto e gostoso. Os movimentos aceleram-se se tornando quase selvagens e ela, quando não pode mais, larga a capa no chão molhado do banheiro deixando a mostra o distintivo verde e prata de monitor que, há minutos atrás, ele trazia grudado ao peito e que refulgia bordado em letras garrafais a palavra “CHEFE”.


 


 


 


***


 


 


            Os homens entreolham-se e deles para a coruja pousada no galho a poucos metros.


 


            - Não estou sentindo um bom presságio. – um deles começa – Acho melhor voltarmos...


 


            Os outros dois confirmam com um movimento de cabeça ao sentir o animal passar novamente a centímetros deles.


 


            - Palhaços esses sonserinos... – Benoît pensa se aproximando do castelo.


 


            Porém não percebe que o caminho que os “palhaços” faziam era exatamente o inverso.


 


 


 


 


 


 


 


            O dia acabara de amanhecer e Candy, apesar da noite anterior, já estava de banho tomado e vestida com uma roupa colante de ginástica na cor chumbo com detalhes em rosa, impacientemente esperando que as amigas de dormitório terminassem de se arrumar.


 


            - Vamos lá Mary! – sacudia a menina que cada vez mais se enrolava na coberta – Tenho certeza que você vaia adorar...


 


            - Me deixa dormir... – cobre a cabeça fugindo – Não quero saber de nada que eu tenha que sacudir meu bumbunzinho...


 


            - Maluca! – Heidi Fleck uma menina com longos cabelos loiros, bem alta, de olhos num azul quase cinza, também amiga de dormitório, bate em seu bumbum coberto pela manta – Você tem que sacudir é o pompom, e não o bumbum.


 


            - Parece até que você não conhece a Candy. – levanta a coberta mostrando parte do rosto com uma expressão engraçada – A gente vai balançar os pompons no inicio, mas ela vai fazer tudo de um jeito, que no final, vai tá todo mundo, sacudindo o popozão.


           


            - Deixa de bobeira menina!– Lana sai do banheiro vestida com um abrigo azul claro e enxugando os cabelos – Nós duas vamos só nos divertir nos ensaios. Estamos no time de quadribol de qualquer jeito... Lembra? – e revira os olhos, que Mary retribui dando-lhe a língua.


 


- Tá Mary! – Margareth Anderson, outra companheira de dormitório, de pele rosada,  estatura mediana, cabelos ruivos na altura dos ombros,  intervem tentando apaziguar - Se você não quiser participar, tudo bem. Mas vamos com a gente, pra dar um apoio moral.


 


- Mas minha cama tá tão quentinha...


 


- Vamos logo preguiçosinha! – Candy puxa a manta da amiga, a deixando só com o pijama de flanela – Juro que não vou fazer você balançar o popozão. – fala para que só ela ouvisse, enfatizando você e popozão e pisca um olho significativamente.


 


A garota ri, e levanta achando que talvez fosse divertido ver as outras sob o comando de Candy.


 


 


 


No campo de quadribol, alguns jogadores das equipes das casas treinavam alguns passes, enquanto outros, só brincavam com suas vassouras aproveitando a manhã de sol.


 


Ao chegarem foram recebidas por mais uma turma de garotas que haviam se candidatado a integrar a equipe. As meninas se instalaram em uma parte mais afastada do campo. Candy começa fazendo uma pequena palestra do que eram e o que faziam, no mundo trouxa, as animadoras de torcida e explica que ali não haveria torcida para cada casa e sim uma grande equipe que faria uma apresentação antes do jogo, elevando os ânimos dos dois times. A seguir, Candy começa os testes para saber quem integraria a equipe.


 


Ao fim de duas longas horas, o time ficou composto por Louise e Sophie da Lufa-lufa; Angel, Emma e Brenda da Corvinal; Annie e Nathalie da Sonserina, Lana e Mary que participariam somente dos ensaios e Maggie, Heidi e Candy (a líder), todas da grifinória.


Apesar do cansaço das outras, Candy decide começar a ensinar parte da coreografia, que ela mesma criara. Fazendo um movimento amplo com a varinha, cria uma redoma transparente entorno delas abafando o som da musica com uma batida forte, que magicamente começara.


 


Isso chamou a atenção de alguns garotos que treinavam quadribol. Esses curiosos, se posicionaram estrategicamente na arquibancada da Lufa-lufa, que ficava mais perto da bolha onde estavam as cheerleaders, para visualizar melhor o que acontecia.


 


Candy pega dois pompons e começa um movimento sensual, logo imitado pelas outras. Mary, só de ouvir a musica, fica com as bochechas rosadas, faz que não com a cabeça e vai se sentar encostada na borda do semi-circulo.


 


 Em mais alguns minutos, o campo fica completamente deserto, com exceção das animadoras na redoma e a arquibancada lufana, repleta de garotos.


 


Isso não passa desapercebido por Cole e Benoît que vinham do castelo, onde acabaram de tomar seu desjejum, visto que acordaram mais tarde que a grande maioria, aproveitando a manhã de folga. Curiosos com os gracejos dos jovens na arquibancada, sobem para ver o que tanto os chamava a atenção. Logo se animam com a cena das garotas e entram no clima de descontração.


 


- Cara, adorei essa história trouxa de animadoras de torcida – fala Cole, excitado vendo Candy e as cheerleaders treinando sua coreografia e balançando seus pompons.


 


            - É, até eu tô começando a gostar desse negocio de quadribol. – Benoît assovia, aplaudindo entusiasmado.


Algum tempo depois, a líder desfaz o feitiço liberando as garotas, que saiam risonhas, algumas ainda fazendo alguns passos da coreografia. Afinal, ainda iriam a Hogsmeade pela primeira vez no ano letivo naquele sábado.


Todos estavam alvoroçados. Estudantes se acotovelavam para entrar nas carruagens.


 


Chegando a Hogsmead a maioria das garotas correm até a filial da Madame Malkins querendo escolher suas fantasias para a festa de Halloween. A loja já estava bem tumultuada mesmo antes do quinteto grifinório entrar. Algumas garotas se acotovelavam tentando levar para si uma das fantasias originais do outono passado que estavam em liquidação.


 


            - Meu Deus!! – Candy murmura sem conter uma careta de reprovação – Que horror!!


 


            - Pois é! - Heidi emenda – Precisa essa algazarra para comprar uma fantasia?


 


            - Vocês falam assim por que podem comprar o que quiserem. – Lana argumenta ofendida – Se mamãe não tivesse feito minha fantasia, provavelmente estaria no meio dessa bagunça.


 


            - Pois eu duvido! – Mary fala se desvencilhando de uma calda de sereia que uma garota da corvinal conseguira pegar na frente de outra da lufa-lufa e corria o mais rápido possível para o caixa tentando despistá-la. – Você teria nos feito chegar antes da loja abrir, e essa hora, já estaríamos no três vassouras bebendo uma boa cerveja amanteigada.


 


            As outras três sorriem balançando a cabeça em concordância.


 


            - É! Você tá certa. – a moça admite com uma careta engraçada, juntando-se a elas.


 


            Lana se senta a uma poltrona em frente aos provadores, enquanto as garotas escolhem suas fantasias.


 


            - Olha essa Candy! – Mary estende uma malha vermelha, que parecia se colar perfeitamente ao corpo, e uma tiara da mesma cor com chifrinhos – Diabinha é perfeita pra você.


 


            - Muito simplesinha. – Candy comenta observando a roupa – Quero que minha fantasia tenha alguma coisa. Um acessório legal ou, pelo menos, muito,... muito brilho.


 


            Todas riem e continuam a procurar suas fantasias.


 


            - Hey! – Maggie exclama – o que acham dessa aqui pra mim...


 


            Nesse instante ouve-se um ruído de “ram ram” na voz da dona da loja, amplificada por magia.


 


            - Informo a todos os clientes que todos os trajes da sessão de fantasias originais estão, a partir de agora, com 50% de desconto.


 


            Ouve-se um grito histérico coletivo vindo da frente da loja.


 


As garotas se entreolham assustadas e notam uma marcha crescente vinda em sua direção.


 


Antes que a avalanche de garotas irrompesse na seção, Lana ainda pode ver Candy agarrar um traje branco, decorado com algo que lhe pareceu penas, Heidi correr para o fundo da loja com outra grifinória em seu encalço, Mary ameaçar, a mesma corvinal que lhe enroscara a sereia, com alguma coisa parecida com um arco e flecha e Maggie gritar aflita um “Por Zeus” e se esconder dentro do provador.


 


A menina encolhe as pernas para cima da poltrona antes que fossem pisoteadas e, sem enxergar nenhumas das amigas, passa pelo braço da poltrona indo pelo corredor à esquerda, onde mantinham uniformes de quadribol e outros esportes.


 


Ao sair da loja é atingida por uma brisa fria, não própria a época, que não havia antes de entrarem no estabelecimento.


 


 


 


Adrian e Josh, com olhares de reprovação pelo levante de garotas, seguem até a seção de entrega de mercadorias e perguntam por suas encomendas. A mocinha que os atende pede o recibo de pagamento e entra. Alguns minutos depois, volta com uma caixinha em cada mão e verificando o número de cada recibo, entrega cada uma a um rapaz. A moça guarda, cuidadosamente numa gaveta, os recibos que exibem uma cifra de três dígitos de cada um.


 


 


Cole, Jim Alex e Benoît escolhem suas fantasias na seção masculina. Jim e Alex já haviam escolhido as suas. Cole, dentro da cabine, experimentava três fantasias diferentes, ainda bem indeciso. Enquanto Benoît vadiava entediado entre os corredores.


 


- Vamos lá! – Jim bronqueia com a demora de Cole – Não temos o dia todo!


 


- Putz! Se quiser pode se mandar, cara! Não tô com a mínima pressa...


 


- E você Ben? Nada ainda?


 


- Hã? – o outro responde de má vontade


 


- Como é que é? – agora Alex se mete


 


- Não preciso de fantasia... – fala após um pigarro forçado, fingindo muito interesse no corredor atrás da prateleira que olhava, chamando a atenção do colega.


 


Alex segue o olhar de Ben e vê Lana do lado de fora da loja.


 


- Engraçado... – Benoît se vira para Alex – Achei que elas só andavam em bando... – e se volta para fora da loja, o rosto permanece com o mesmo olhar impassível de antes.


 


 


 


Parada em frente à vitrine há uns quinze minutos, se cansa de observar mais um round da “luta feminina para conseguir uma fantasia” e se vira para a rua esfregando as mãos, tentando aquecê-las.


 


 A Madame Malkins ficava no fim da rua principal. Dali, Lana podia ver toda movimentação de Hogsmead. A rua estava coalhada de rapazes, via-se uma ou outra garota, a maioria acompanhada e no Podsmore, a casa de chá freqüentada pelos casais apaixonados de Hogwarts, pois todo o restante estava na loja atrás de si.


 


O dia estava bonito, um céu azul com poucas nuvens, mas a temperatura parecia cair a cada instante.


 


Apesar de estar vestindo uma camisa gola rulê de manga comprida, jaqueta e calça jeans escuro e uma botinha preta de cano curto, começava a sentir muito frio.


 


- Que friagem! – pensa esfregando os braços. Suspira e se surpreende ao ver a nuvem de vapor se formar de sua respiração – Cruzes...


 


A moça sente-se ser envolvida num casaco bonito de toque gostoso e se vira pensando em encontrar um de seus amigos da grifinória.


 


- Não tá muito frio pra você ficar aqui fora? – Alex pergunta friccionando as mãos nos braços da garota.


 


- Tá mesmo! – fala surpresa – Mais esquisito que esse frio repentino, é você estar com esse casacão...


 


- Acabei de comprar. – aponta para a loja – Pele de dragão legitima! Bonito, né?


 


- É muito bonito, mas se você acabou de comprar é porque também está com frio, não é? – ela o tira o casaco castanho dos ombros – Toma, pode vestir.


 


- Não é melhor nós dois sairmos desse vento? – ele propõe a cobrindo de novo – Vamos pro três vassouras. Nos fundos perto da lareira, fica bem quentinho. Vem? – segura a mão da garota com um sorriso sincero.


 


            Ela sorri sem jeito e o deixa conduzi-la.


 


            Alguns segundos depois eles percebem uma nuvem tapar o sol os deixando na sombra. Ambos olham para cima e se espantam ao ver o denso nevoeiro que descia velozmente.


 


            - Rápido! – Alex a puxa a fazendo quase correr, mas não rápido o suficiente. São alcançados pela nevoa pouco antes de entrarem no pub.


 


            Eles trocam um olhar ao entrar, os dois de cenho franzido, os rostos contraídos,... agoniados,... confusos...


 


            Várias pessoas do estabelecimento lotado vieram para a janela ver o fenômeno climático, dando lugar às mesinhas do fundo. Alex a enlaça protegendo-a com o corpo e tirando-a do meio da multidão. Uma sensação gostosa o invade quando a percebe o encarando com os olhos surpresos.


            - Ali tem uma das mesas que eu falei... – ele aponta a deixando passar a sua frente, desconsertado sem entender a súbita mudança de angustia, para um sentimento reconfortante logo abaixo da boca do estômago.


 


 O proprietário acendia algumas velas para iluminar o ambiente que ficara na penumbra.


 


Eles se sentam.


 


A moça lhe entrega o casaco, que ele joga de qualquer jeito na cadeira ao lado.


 


 – Uma cerveja? – ele pergunta tentando parecer natural, já se dirigindo ao balcão próximo.


 


            - Eu preferia um chocolate quente ou um chá.


 


            Ele ri fazendo uma careta. – Eu consigo um conhaque, se você quiser. – fala num tom baixo - É bom pra esquentar.


 


            - Não... Obrigada. – fala doce achando graça do jeito dele.


 


            - Sai um chocolate e uma amanteigada então... – ele pede ao balconista dando de ombros.


 


            Lana se sentia como se a tivessem chacoalhado. Não entendia o porquê de ter ido de um pico a outro. De uma sensação de opressão quase física, para um estado de letargia prazerosa. Logo depois de entrarem no pub... Logo após ele tê-la...


 


            - Acorda, Lana! – ordena a si mesma se ajeitando na cadeira.


 


            Alex trás as bebidas. Ela sorve um gole do liquido quente com cuidado, sentindo-se reconfortada.


 


            - Tá melhor?


 


            - Muito...


 


            - Estranho esse nevoeiro, né? – o rapaz pergunta depois de um gole de cerveja direto da garrafa.


 


            - Muito estranho... – ela volta o rosto para a porta do pub pensativa – Eu senti uma coisa esquisita quando passamos por dentro dele...


 


            - Uma sensação de tristeza?


 


            - É! – o olha surpresa por ele confirmar seu pensamento - Por um segundo, pareceu que eu nunca mais seria feliz de novo. Você sentiu também?


 


            - Senti... – ele sorri de lado, olhando para a garrafa meio vazia em sua mão – Por um segundo...


            A moça desvia rapidamente o olhar para a xícara a sua frente e disfarça o desconforto colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Sorve mais um gole do chocolate olhando cismada para a névoa que não deixava transparecer nada além da vitrine e a porta fechada.


 


            - Você já tem par para o Halloween? – ele pergunta tentando recomeçar a conversa.


 


            - Par? - responde voltando o rosto para ele – É Halloween e não um baile, Adams.


 


            - E daí? Quer ir comigo?


 


            Ela ri antes de responder.


 


            - Mas o legal do Halloween é exatamente o não saber quem vai encontrar…


 


            Ele revira os olhos divertido.


 


            - Putz! Vai me dar outro toco? – ela ri mais ainda e ele finge indignação – Qualquer dia eu desisto...


 


            - Será que a intenção não é essa? – o olha provocativamente reprimindo um sorriso.


 


            Ele a encara fixamente, o cenho franzido no rosto momentaneamente sério, apóia o queixo com uma das mãos a avaliando.


 


            - Não acredito... – fala pausadamente, sorrindo enviesado em seguida a constrangendo.


 


            - Você se acha, né Adams? – maneia negativamente a cabeça.


 


            Ele só continua sorrindo.


 


            - Sai comigo. – chega bem perto dela, e pede com a melhor carinha de cachorrinho sem dono de que ela pôde se lembrar.


 


            - Que fofo! – a garota pensa, se segurando para não aceitar e responde – Eu tenho um bom motivo dessa vez.


 


            - Qual? – pergunta meio decepcionado por não desarmá-la como acontecia, sempre que ele usava essa artimanha com qualquer outra garota.


 


            - Fiz uma fantasia maneira e não quero que ninguém saiba quem eu sou durante a festa.


 


            - Ahh! Nada haver! – reclama


 


            - Quero vestir o personagem! – fala sonhadora – E pra isso ninguém pode saber que sou eu. Quero um clima de mistério.


 


            - Tá bom! – dá uma solução – “Aqueles que Não Querem ser Nomeados” vão tocar no inicio da festa. Eu toco minha batera, você faz sua entrada triunfal e depois a gente se encontra.


 


            - Se você me achar...


 


            - Como assim?


 


            - Ora, se você descobrir quem sou eu!


 


            - Eu te encontro até vestida de dementador. – se vangloria a fazendo gargalhar alto.


 


            - Du-vi-do! - cantarola o provocando


 


            - Tá! – ele faz uma carinha marota – Então tá combinado. Se eu conseguir te achar, você fica comigo na festa...


 


            - Outra aposta? – faz um muxoxo, desagradada.


 


            - Não! – ele conserta rápido – Nada de aposta. É só um... Acordo... – e completa com a mesma carinha de antes - Me dá uma chance, pô!


 


            - Então, nada de cinco minutinhos no paraíso e nada de armário de vassouras com meia escola sacaneando do lado de fora... – a moça se certifica.


 


            - Juro que não! – ele cruza os dedos na frente da boca os beijando duplamente em sinal de promessa. – Mas você também não vai tentar me tapear, né?


 


            - Não vai se empolgando muito não, Adams! – estala a língua no céu da boca – Você acha mesmo, que eu aceitaria isso se tivesse à mínima possibilidade de você me reconhecer?


 


            - Isso é problema meu. – fala presunçoso – Eu resolvo... Sua parte é manter o acordo...


 


            - Bem, falando do acordo... – arqueia as sobrancelhas – Você vai ter que me achar antes que eu fique com alguém. Porque eu pretendo ficar com alguém na festa, e não necessariamente é você.


 


            - Tá, mas você não pode ficar com ninguém até uma hora depois que acabar o show. – retruca


 


            - Meia hora...


 


            - Combinado. – afirma rápido – Mas quem é esse cara?


 


            - Que cara? – se faz de desentendida, brincando com ele.


 


            - Esse cara que não sou NECESSARIAMENTE eu... – debocha a fazendo rir.


 


            - É um gatinho da sonserina que eu conheci um dia desses...


 


            - O que? – faz cara de nojo – Vai ter coragem de ficar com um panaca da sonserina? - quase grita indignado.


 


            - Fala baixo garoto. – ela segura seu braço se contendo para não dar uma sonora gargalhada e olhando para os lados, se certificando se ninguém da sonserina ouvira o comentário do colega – Eu tô brincando...


 


            - Pô morena, não me assusta assim, não! – bota uma mão no coração dramatizando a cena.


 


            O sol volta a iluminar o ambiente chamando a atenção da garota de volta a vitrine.


 


            - Olha lá! – ela aponta para a janela – O nevoeiro tá discipando...


 


            - Cara, que troço sinistro. Do mesmo jeito doido que veio, foi. – fala intrigado


 


            Os poucos as pessoas voltam a circular pelas ruas da cidade. Muita gente entra no bar comentando como o tempo mudara, voltando a esquentar novamente.


 


            Alex pedia a terceira cerveja e Lana brincava com a colherinha na xícara vazia quando alguém chega falando rudemente.


 


            - Quero falar com você!


 


            Uma garota de longos cabelos loiros se apóia à mesa olhando de um para outro com uma cara de poucos amigos.


 


            - Oi Angel! – ele fala arrastado, como quem tivesse acabado de lembrar de alguma coisa, visivelmente desconsertado.


 


            - Então, comprou o casaco? – olha para a peça de roupa jogada na cadeira falando ironicamente.


 


            - Comprei. – começa a mostrar irritação – Gostou? – pega o casaco entregando a garota e se vira para Lana. – Tem certeza que não quer outra bebida? – bota a mão sobre a dela com um sorriso no rosto.


 


            - Não,... Obrigada! Alias, eu tenho que ir andando, as meninas já devem estar me procurando... – começa a se levantar e é impedida por ele.


 


            - Não, fica mais um pouco! – pede apertando delicadamente sua mão, a olhando nos olhos, demonstrando que realmente queria que ela ficasse. – Elas vão deduzir que você tá aqui.


 


            - Sabe... – ela olha de esguelha para a outra – Eu queria dar uma ida na Dedos de Mel, pra abastecer nosso dormitório, que tá meio precário... – se desculpa já levantando – Obrigada pelo chocolate. – Diz um “Tchau” dirigido a moça e sai, os deixando a sós.


 


            Ela sai do bar e atravessa a rua. Quando está quase a porta da outra loja, ouve a chamando. A garota se vira e vê Alex parado do outro lado da rua.


 


            - Me esqueci de dizer! – ele grita chamando atenção de algumas pessoas que passavam – Sua boquinha tem um gostinho delicioso de morango! – fala deliciado passando a língua nos lábios.


 


            Ela ruboriza violentamente com o comentário sobre a tarde do dia anterior. Se volta para frente quase escondendo o rosto, quando resolve devolver na mesma moeda.


 


            - Hei Adams!


 


Ele, que já estava a meio caminho do pub, pára surpreso.


 


– E a sua tem gosto de filé de peixe! – completa, conseguindo constrangê-lo, e entra rapidamente na Dedos de Mel com um sorriso divertido brincando nos lábios.

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