Uma dura convivência.
Parte 1
O antes.
Capitulo um.
Uma dura convivência.
—Durma meu netinho...—Dizia uma senhora idosa, de olhos maravilhosamente azuis.—Já está tarde...
—Mas vovó...—Disse a pequena criança, de uns Três anos, sentado na cama, olhando para a avó. Balançava as perninhas que mal chegavam ao chão, os olhos muito azuis vidrados na senhora, cheios de energia.—Quero aproveitar que a senhora está aqui! Me conta uma história?
—Claro, Seth...—Disse a avó, sorrindo bondosamente. Levantou-se de sua cadeira e caminhou até a porta.—vou pegar um livro.
Abriu a porta. Parado atrás dela, encontrava-se um vulto, completamente vestido de negro. Sua respiração parecia exalar um ar frio. As luzes do quarto tremeram e apagaram, apenas a azulada luz da lua e das estrelas iluminando.
—Avada...—O vulto ergueu a varinha. Um forte vento soprou da varinha, tirando-lhe o capuz do rosto, revelando a face maníaca de uma mulher de cabelos negros e olhos cinzentos.—kedrava!
O feixe de luz verde encheu o quarto. O corpo da senhora caiu.
—Nãaaaaaaaaaaao!—Gritou Seth, sentando-se na cama violentamente, ofegante, sentindo o suor que escorria por sua têmpora.
Apertava com força os lençóis sobre o joelho. Lentamente a respiração foi voltando ao normal, mas seu coração ainda batia fortemente. Respirou fundo e ergueu o rosto, encarando o dossel de sua cama. Fechou os olhos com força, para evitar que as lágrimas caissem.
—Droga de pesadelos...—Rangeu os dentes, apertando o lençol com mais força com as mãos.
Seth Edric Ashford. Esse era o garoto que havia acordado subitamente, por causa do pesadelo. Estava em seu setimo ano em Hogwarts, na casa grifinória. Cabelos negros, olhos muito azuis, físico nada invejável. Não era fã de esportes. Preferia ficar lendo algum livro sentimentaloide no salão comunal do que sair para treinar quadribol.
Mas havia mais sobre Seth. Algo mais que ele queria esquecer e não podia. Em sua infância, durante uma noite, Bellatrix Lestrange invadiu sua casa, assassinando seus tios, tias e avós, que haviam reunido-se para o aniversário de seu pai, o famoso auror, Edric Ashford.
Por isso, mais do que tudo na vida, sua familia odiava os Lestrange, com todo o coração. Não esconderam o medo quando foi noticiada a fuga de Bellatrix da cadeia. Quiseram tirar ele da escola e irem se esconder em algum país distante, mas Seth não concordou.
Seth olhou para os pés algum tempo, antes de balançar a cabeça negativamente, tentando afastar todos os pensamentos dela. Esticou os braços para cima, estalando as juntas, antes de abrir as cortinas e levantar-se.
O dormitório do sétimo ano da Grifinória estava quase vazio naquela hora. Exceto por ele, ainda restava dois garotos, que não davam sinais de acordar tão cedo.
Abriu seu malão e foi tirando as vestes da escola. Embaixo das vestes negras, estava um porta retratos, onde ele, ainda criança, estava com seus dois avós, alegre. Atirou-o novamente entre as roupas e fechou o malão, saindo na direção do banheiro.
Próximo às seis e meia, Seth já encontrava-se descendo até o salão principal. Não estava rodeado de seus amigos do sétimo ano, como de costume. Já haviam descido todos. Portanto, Seth encontrava-se sozinho em meio a multidão de alunos mais novos ou da Corvinal.
Próximo a uma das entradas para o grande salão, Seth deparou-se com Três das figuras mais temidas do colégio. Três garotas que apenas a menção do sobrenome fazia até sonserinos tremerem. O nome que fazia as entranhas de Seth se revirarem, raivosamente. As irmãs Lestrange.
—Perdeu algo, grifinório?—Perguntou Violet Lestrange, a irmã do meio. Cabelos negros e olhos azuis.
—Se tivesse perdido algo, não estaria procurando em vocês...—Respondeu Seth, desdenhando.
—Não tem noção do perigo?—Perguntou Violet, já com a mão no bolso interno das vestes.
—Não perca seu tempo com ele, Vih...—Disse a mais velha e talvez a pior entre as Três. Lauren Lestrange. Igual a irmã, exceto pelos cabelos um pouco ondulados e as feições mais maduras. Também estava no sétimo ano, assim como Seth. Dividiam as aulas de poções, transfiguração e herbologia. Como não poderia deixar de ser, não se davam bem.—um verme grifinório não merece nem um segundo de nosso tempo.
E saíram de sua frente, entrando no salão principal. A irmã mais nova, Stephanie Lestrange, ainda lançou-lhe um olhar frio, antes de seguir com as irmãs. Seth ficou ali parado, olhando para elas, com os punhos fechados, tremendo. Subitamente perdeu o apetite. Deu as costas e foi direto para as masmorras, pisando duro.
Teria um primeiro horário duplo de poções e logo depois história da magia. Teria que ter muito estômago para aguentar aquilo, com a barriga vazia e com a cabeça cheia.
Encostou-se na parede, ao lado da porta, esperando o horário da aula. Não tardou e logo vários alunos já chegavam até o corredor. Seus amigos lhe perguntavam por que ele não havia ido tomar café, mas Seth resumia-e a responder que estava sem fome. Slughron abriu a porta, minutos depois, chamando todos para dentro.
—Bom dia, meus alunos!—Disse o professor, batendo as mãos e esfregando-as.—Espero que estejam prontos para continuarem a poção do mata-cão. Hoje iremos começar a ultima etapa.
Virou-se para o quadro e tocou o quadro negro com a varinha. Varias palavras foram aparecendo, indicando as instruções do dia. Seth foi anotando que estava escrito, enquanto ria aqui e ali de alguma piada que seus amigos faziam. Assim que terminou de anotar, levantou-se e foi com mais dois amigos pegar os ingredientes.
—Então, ele entrou no meio do mato e...
—E aí o cérebro do grifinório mofou...—Disse um sonserino que também ia pegar os ingredientes.—Ops...foi mal...esqueci que vocês não tem cérebro...
O grupo que o acompanhava riu. O grifinório enfiou a mão no bolso interno das vestes, mas Seth deteve-o.
—Não vale a pena, Richard...—Lembrando do acontecimento do inicio da manhã.—vamos...
—Com medo, Ashford?—Perguntou um sonserino alto, com cabelos negros espetados e nariz de porco.
—Sim...porco faz mal para o colesterol...—Seth respondeu irônico e dirigiu-se até o armário.
Os sonserinos ameaçaram continuar a briga, mas Slughron já aproximava-se para ver o que acontecia. Seth carregou seu caldeirão até a bancada, junto com os ingredientes restantes. Notou que os sonserinos ainda lhe olhavam, mas resolveu ignorar.
—Muito bem...—Slughron esfregou as mãos gordas mais uma vez e olhou para cada aluno.—podem começar...
Rapidamente a sala encheu-se com o aroma acre da poção. Uma fumaça verde musgo ergueu-se no ar, cobrindo todo o ar da sala, impedindo a visão dos alunos. Seth tentava preparar bem os ingredientes, cobrindo o nariz com a manga das vestes.
—Meia sanguessuga devidamente cortada...—Murmurou, tomando cuidado para não deixar um pedaço maior que o outro.
Despejou a metade com cabeça da sanguessuga no caldeirão e mexeu no sentido anti-horário. Largou a colher de madeira grande sobre a mesa e voltou a ler as anotações. Voltou-se para o caldeirão, mas não encontrou a colher de madeira.
—Onde diabos foi parar?—Perguntou a si mesmo, abaixando-se para procurar no chão.
Tateava o chão, procurando a colher de madeira. Talvez não tivesse apoiado bem ela no caldeirão e tivesse caído, rolado para algum lugar. Quando já estava distante de sua bancada, sentiu algo colidir com sua nuca.
—Então, grifinório?—Perguntou o Sonserino com nariz de porco, aproximando o rosto do dele, maldoso.—Não tem medo de mim inda?
Seth levantou-se lentamente, o nariz sangrando pelo choque com o chão. Antes que pudesse pôr-se de pé, recebeu um forte pisão nas costas, sendo novamente atirado no chão. Os sonserinos ao redor começavam a juntar-se, atingindo Seth com as colheres de pau, com força, principalmente nas costas e na cabeça.
—O que está acontecendo aqui?—Slughron aproximou-se, notando uma movimentação estranha em meio a fumaça.
Os sonserinos dispersaram-se. Seth continuou no chão, o rosto em contato com a pedra fria. Sentia um liquido pastoso escorrer por seu nariz e sua boca e fortes dores nas costelas. Não tinha forças para levantar. Escutou os passos de Slughron mais próximos e o feitiço de dispersão, afastando a fumaça.
—Meu Deus!—Disse o professor, apressando-se a conjurar uma maca.—O que houve aqui?
Ninguém pronunciou-se. Os alunos da Grifinória olhavam assombrados para o estado do monitor-chefe, Seth Ashford, no chão. Os da Sonserina reprimiam risadas e faziam gestos desdenhosos.
Com ajuda de alguns amigos de Seth, Slughron levou-o até a enfermaria. Madame Pomfrey recebeu-os apressada, colocando-o sobre uma das camas. Dispensou todos, prontamente tratando dos machucados de Seth, que não movia-se ou falava um só palavra.
Não eram apenas aqueles machucados externos. Sua alma, seu orgulho haviam sido muito mais agredidos do que ele. Fechou os olhos com força, deixando lagrimas caírem.
—Querido...—Madame Pomfrey aproximou-se, secando-lhe as lagrimas do rosto.—o que houve.
Seth não respondeu. Permaneceu de olhos fechados até que a enfermeira afastou-se, indo até sua salinha particular.
Apesar de curar rapidamente os ferimentos do grifinório, madame Pomfrey insistiu para que ele ficasse por ali pela noite. Seth não contestou. Não tinha vontade. Durante a tarde, recebeu a visita de alguns amigos e amigas que ficaram até o inicio das aulas da tarde. Ganhou um pouco de comida e doces, que deixou intocados sobre a mesa de cabeceira.
Não dormiu bem durante a noite, acordando as quatro da manhã, sem mais um pingo de sono. Encarou o teto, onde a luz branca do sol arrastava-se lentamente, formando algumas figuras com a sombra das cortinas.
Resolveu levantar-se. Não viu madame Pomfrey por perto então não viu problemas. Trocou a bata da ala hospitalar pelas roupas que usava quando chegou saiu da ala, sem fazer barulho.
A primeira coisa que iriam fazer quando encontrassem Seth era perguntar o que houve. O grifinório nada podia provar. Ninguém havia visto nada. Estavam todos em meio a fumaça verde da poção. Seria inútil.
Seth suspirou e pôs-se a subir as escadas. Entrou em passagens secretas, caminhos alternativos e logo viu-se na entrara do corujal. Estendeu a mão para abrir a porta, quando essa abriu-se com violência, acertando-lhe a testa, derrubando-o no chão.
—Ah!—Disse Lauren Lestrange, saindo.—Desculpe, eu não lhe vi...ah...—Mudou o tom rapidamente, passando para o desprezo.—é só um grifinório.
—Humpf...não podia esperar outra coisa de um sonserino.—Disse Seth, passando a mão pela testa, onde a porta atingira.—Só sabem agir com violência. E atacar pelas costas.
—Isso é mentira!—Defendeu-se Lauren, irritada.—Veja agora, por exemplo, eu acertei você de frente!
Seth prendeu uma risada. Ela não deixava de ter razão. Balançou a cabeça negativamente, afastando aqueles pensamentos e encarou a garota, novamente sério.
—Deve ter achado muita graça no que seus amiguinhos fizeram ontem...—Levantou-se com dificuldade, tonto pela pancada.
—Na verdade não...—Disse Lauren, tirando alguns fios de cabelo da frente dos olhos, colocando-os atrás da orelha.—eles foram covardes, não honraram o nome da casa Sonserina. E agiram como trouxas. Isso é repugnante.
Seth ergueu as sobrancelhas, impressionado com o pensamento da garota sobre os próprios companheiros de casa.
—Não me olhe assim, não sou uma boa samaritana que ajuda grifinórios...—Passou por ele rapidamente.—para falar a verdade, não sei por que não te quebraram por inteiro...ainda por cima são incompetentes.
Seth olhou por cima do ombro, enquanto a garota distanciava-se. Soltou um muxoxo desanimado, pensando que foi cedo de mais para achar que ela era diferente dos outros. Entrou no corujal e já procurou uma grande coruja das torres. Teria que enviar uma carta a seus pais antes que Hogwarts o fizesse. Assim não ficariam paranóicos.
Enviou a carta e logo pôs-se a caminho do salão principal. Já deveriam chegar perto das seis horas e vários alunos sonolentos caminhavam pelos corredores. Alojou-se na mesa da Grifinória, servindo-se de um belo prato de torradas.
—Olhem! Quem está de volta!—Disse Richard, dando uma chave de braço em Seth, passando a mão com força por seu cabelo, bagunçando-o.—Mr. Edric!
—Não me chame assim, Richie...parece que está chamando meu pai..—Sorriu Seth, afastando o amigo e ajeitando o cabelo.
—Que bom que está de volta, Seth...—Disse Allyson, uma garota bonita, de olhos verdes e cabelos castanhos. Sentou-se ao lado dele e beijou-lhe a face.—sentimos sua falta.
—É, cara!—Adan Sullivan, primo de segundo grau de Seth, sentou-se a sua frente. Era alto, forte, físico de batedor. Cabelos loiros e olhos bastante negros.—Essa mesa não é a mesma sem você.
—Valeu pessoal.—Seth sorriu sem graça, brincando com uma torrada.—Também senti muito a falta de vocês.
—Deixa de mentiras, Ashford!—Disse Richard, servindo-se de uma concha de mingau.—Você estava dando graças por não ter que nos agüentar.
Seth sorriu sem graça e não respondeu. Mordeu um pedaço da torrada e ficou olhando para o outro lado da mesa. Os mesmo sonserinos que lhe bateram estavam ali, sentados, rindo e encenando tudo que fizeram ontem, na aula de poções. Um pouco mais para o lado, as irmãs Lestrange, ignorando completamente qualquer ação deles.
—Temos o que hoje?—Perguntou Richard, tomando uma grande colherada do mingau.
—Herbologia, história da magia, dupla de transfiguração e feitiços para terminar.—Disse Adan, cortando um pedaço do presunto.
—Não tenho história da magia, tenho que ir numa reunião com monitores.—Disse Seth, jogando para dentro da boca o ultimo pedaço de torrada.
—Ah! Isso é só desculpa para matar aula!—Disse Richard, fechando a cara, para logo depois rir.
Todos riram e continuaram o café. Terminaram e logo seguiram para o lado de fora do castelo. Fazia um dia bonito e ensolarado. O sol forte fazia o cheiro da grama subir alto até suas narinas. Rapidamente chegaram a estufa numero quatro, onde Sprout esperava o restante dos alunos. Alguns alunos da Corvinal juntaram-se a eles e por ultimo dois ou três alunos da Sonserina chegaram.
—Vamos começar então!—Disse Sprout, puxando uma pesada chave de ferro do bolso e abrindo a porta.
Entraram em meio a plantas com tentáculos espinhosos e pétalas dentadas. Chegaram ao centro da sala, onde varias mesas estavam dispostas. Sobre elas ,haviam pequenas mudas com gengivas vazias, como as de um bebê recém nascido.
—Muito bem! Começaremos a cultivar uma planta carnívora.—Sprout puxou um saco de couro do bolso e colocou sobre a mesa.—Para aumentar a interação entre os alunos, os grupos serão definidos por sorteio. Cada um venha aqui e tire um numero. Os números repetidos iram formar duplas.
—Se eu pegar um sonserino, eu juro que jogo ele dentro de uma dessas plantas...—Disse Richard, sussurrando ao ouvido de Seth.
O grifinório riu e esperou sua vez de ir pegar o numero. Enfiou a mão dentro do saco e puxou um pedaço de pergaminho com o numero sete. Olhou ao redor, procurando se alguém já tinha pego o numero sete também.
—Alguém pegou o numero sete?—Perguntou uma voz, logo atrás dele.
Seth virou-se para falar que havia pego, mas parou. A pessoa que havia falado era Lauren Lestrange. Começava a pensar em perseguição. Por que teria que formar dupla justamente com uma das pessoas que mais odiava e que por acaso estava muito presente em seu dia.
—Eu peguei o numero sete.—Disse Seth, desanimado, mostrando o pedaço de pergaminho.
Lauren analisou o grifinório, com um certo asco e receio, antes de aproximar-se e indicar uma mesa. Sentaram-se, mantendo uma grande distancia um do outro, olhando diretamente para Sprout, que recolhia o saco dentro do bolso.
—Muito bem, vamos começar...vocês tem esterco, podadores e aditivos especiais para cultivar-las. Podem começar.
Iniciaram o cultivo. Seth tentava aproximar o podador do caule da planta, para tirar um galho imperfeito, mas ela sempre avançava, tentando morder com a boca sem dentes. Lauren apenas ria desdenhosa de suas tentativas, sentada com os braços e as pernas cruzadas.
—Se está rindo é porque sabe fazer...—Atirou a tesoura para o lado.
—Claro que sei...—A sonserina pegou a tesoura e aproximou-se da plantinha.—é só fazer assim e...hey! Fique parada! Não se mecha tanto!
Seth riu enquanto Lauren travava uma luta contra a planta. Tentou segurar-la pelo caule, mas a planta abocanhou o dedo da sonserina. Apesar de não ter dentes, pressionou com bastante força.
—Nossa...—Disse Seth, segurando a barriga de tanto rir.—parece que...você não sabe tanto assim.
—Cale-se, grifinório!—Disse Lauren, puxando o dedo e enrolando nas vestes.—Maldita planta.
—Você machucou-se?—Seth parou de rir, inclinando-se para frente, pegando a mão de Lauren.
—Me largue!—Deu um tapa na mão do grifinório, virando-se de costas.
—Tudo bem, tudo bem...eu só queria ajudar...—Seth virou-se para a planta, fechando a cara, voltando ao trabalho enquanto Lauren estancava o sangue do dedo.
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