Minha Irmã





Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

“As paixões são como as ventanias que incham as velas do navio. Algumas vezes o afundam, mas sem elas não se pode navegar.”
Voltaire



Hermione suspirou profundamente. Fora um dia cansativo, mais do que o normal. Estava apreensiva, afinal não é todo dia que se está numa limusine, indo em direção da casa de seu noivo para ver um homem especializado do Ministério da Magia celebrar seu próprio casamento. As mãos ainda tremiam, muito suadas, junto com o corpo e mente muito ansiosos. O coração batia a mil, ultrapassando todos os limites do corpo da moça e levando-a a um estado de loucura avançada e irreversível.

- Ainda falta muito? – indagou ao motorista.

- Alguns quilômetros – ele respondeu, displicente.

Hermione engoliu em seco. Como aquele homem poderia suportar tantas noivas e em tão pouco tempo? Porque era exatamente assim que se sentia, insuportável. Fazia a mesma pergunta a cada cinco minutos, parecendo uma criança insaciada com os doces que ganhou para calar-se durante a viagem.

Quando sentia sua ansiosidade ultrapassando novamente os limites, fitava as imagens transcorridas através da janela. Não sabia por que, mas apreciar a natureza, suas árvores e flores, seu colorido exuberante, a fazia bem. Acalmava-se, de certa forma. Não que seu desespero e angústia passassem, de forma alguma, mas com certeza eram aliviados. Ela observou as imagens irem mudando aos poucos e, quando deu por si, já estava na casa dos Weasley, A Toca.

O motorista deu a mão a ela e ajudou-a a sair da limusine de forma elegante. Por um momento, sem saber direito o porquê, imaginou John a levando até o altar. Talvez fosse a influência que Haylla Hellarien ainda tinha em sua vida. Na verdade, não conseguiria deixar de ver John como pai e Mary Ann como mãe. Então, deu o braço a seu pai, o Sr. Granger, e seguiu. No início fazia força para sorrir, mas depois tudo fluiu naturalmente, ao ver a decoração, os convidados, seu Ronald.

Havia várias cadeiras em completa ordem no jardim da casa. Todas possuíam uma espécie de toalha sobre elas, na qual estavam bordados os nomes “Hermione e Ronald” em caixa alta dourada. Fazia um efeito incrível sobre a seda branca. No chão havia pétalas vermelhas de rosas, em cima de um tapete também branco. Não podia deixar de notar também os ramalhetes de rosas vermelhas sobre os pequenos bancos que iam ao longo da entrada até o altar.

Quando levantou os olhos, viu o noivo parado à sua espera. Ostentava uma imensa felicidade no rosto. Vestia um smoking preto que caía-lhe muito bem, devido ao brilho dos cabelos ruivos e dos olhos azuis. Hermione também estava muito bonita, digna de uma princesa de conto de fadas. Usava um vestido em estilo tomara-que-caia que reluzia. A saia caía solta, esparramando-se pelo chão. Uma coroa de cristais moldava o rosto junto com um penteado que deixava cachos perfeito do cabelo à mostra.

Já estavam em frente ao altar e ela nem vira os instantes passarem. Tudo era de uma novidade convidativa, excitante.

O representante do Ministério da Magia realizou uma prece bonita, sem mencionar o fato de que a grande maioria dos presentes eram bruxos, por um pedido feito pelos próprios noivos. Havia trouxas na festa e estes não poderiam saber de nada, também por escolha de Hermione. Ela preferia que os pais de Haylla continuassem achando que ela era uma pessoa normal.

O “sim” foi dito com muita emoção por ambas as partes. O primeiro beijo como marido e mulher foi calmo, suave e arrancou uma ovação incrível dos convidados. Como todos eram amigos ou conhecidos do casal antes mesmo do sumiço de Hermione durante dois anos, emocionavam-se com o, finalmente, casamento deles.

- Feliz? – indagou Rony.

- Muito feliz. Sonhei com isso durante muito tempo.

Ele a beijou apaixonadamente, beijo só interrompido por um abraço em conjunto com Gina.

- O orgulho foi finalmente vencido! – ela disse, sorrindo.

Os aplausos novamente encheram o jardim dos Weasley.

~*~*~


Hermione estava sentada com as pernas cruzadas sobre um banco próximo a uma espécie de bar que os Weasley haviam improvisado para o casamento. Bebia lentamente sua taça de champanhe, enquanto observava todos os convidados se divertirem muito. Eles dançavam alegremente na pista de dança – os mais tímidos, fora dela – ao som dos Beatles. A parte mais séria do casamento já havia passado e agora era apenas isso, se divertir.

- Mione? – chamou uma voz, aproximando-se dela.

- Ah, Mel – ela disse. – Desculpe, querida, foram tantas coisas que até me esqueci de ir falar com você.

- Não se preocupe – ela respondeu. – Imagino a correria que foi seu dia. Não deve ser nada fácil arrumar-se, quando se é noiva.

Hermione riu.

- Sim, é complicado. Verá um dia. Mas quando se tem apoio tudo fica melhor. Obrigada por tudo, Mel.

- Que nada!

A garota imitou a noiva e passou também a fitar os convidados dançarem.

- Você está estranha. Algo aconteceu?

- Estranha? – indagou Mel.

- É, estranha. Parece um tanto triste. E não está fazendo suas habituais brincadeiras, confesso que já estou com saudades delas.

- Culpa sua, nunca mais apareceu lá em casa.

- Não me sinto muito bem voltando para lá. Sinto que não é o meu lugar.

Melissa suspirou.

- Acho que o mesmo acontece comigo – disse. – Eu lhe tratava de maneira diferente por que era Haylla. Eu conhecia a Haylla. Agora, que é Hermione, tudo parece ter mudado profundamente...

- Mas não mudou. A única coisa que mudou foi o nome.

- Digo o mesmo para você, então. Lá na nossa casa a única coisa que mudou, foi seu nome. Continua sendo da família, apesar de não ter o sangue dos Hellarien.

Hermione passou de leve a mão pelos olhos, como se quisesse conter alguma lágrima que por ventura viesse a fluir.

- É muito difícil para nós aceitar que ela não existe mais, Mione – choramingou Mel.

- Para mim também é difícil me acostumar à vida nova. Sei que vocês têm muito mais dores e motivos para preocupação do que eu, mas não deixa de ser complicado para mim também.

- Sei disso.

Uma lágrima desceu pela face de Melissa, mas esta limpou-a rapidamente, não querendo deixar transparecer a tristeza.

- Não chore – pediu Hermione. – Se chorar, farei o mesmo. E não fica bem uma noiva com o rímel todo borrado pelo rosto.

- Não se preocupe. Sabe, eu acho que ter a certeza de que minha irmã morreu mesmo, depois de tanto tempo tendo certeza do contrário, influenciou muito no meu humor.

- Você simplesmente não pode deixar de ser feliz por isso!

- Não deixei de ser feliz. Apenas estou triste – disse Melissa, em voz baixa.

Sinceramente, acho que foi muito bom para ela ter essa certeza. Não que eu torça pela sua infelicidade. Mas Mel já tem idade o suficiente para deixar de fazer brincadeiras tolas”, pensou Hermione.

- Uma vez li, em algum lugar, uma frase que dizia o seguinte: “Nenhuma mulher nasce mulher. Torna-se.”. Quem a disse foi Simone de Beauvoir. Creio que sua última experiência fez você se tornar mulher, Mel.

A garota a encarou com os olhos castanhos.

- Que quer dizer? – indagou.

- Que tudo isso com sua irmã fez você amadurecer. Fico feliz, pois hoje vejo uma pessoa feliz, apenas num momento triste – as duas riram -, e no futuro, uma mulher realizada. Às vezes aprendemos duras lições com a vida.

Melissa baixou a cabeça, como se preferisse não encarar os olhos da amiga.

- As pessoas podem achar maravilhosa a idéia de perder a memória e ir morar em outro lugar, onde não sabem nada de você, nem você sabe. Esquecer nossos piores erros sempre é o mais difícil, o aparentemente inatingível. Eles vão permanecer eternamente em nossa cabeça, cada vez com mais detalhes, mais perigosos, mais temidos... E a idéia de esquecê-los completamente é, com certeza, muito chamativa.

- É – concordou a outra.

- Mas não é assim, Mel. Durante todo este tempo em que fiquei sem memória o que mais quis foi recobrá-la. Era horrível ter de recorrer a outros para saber de si próprio. Dá uma sensação de impotência, inutilidade, dependência... E, com isso, aprendi uma grande lição. Temos que admitir nossos erros, nossas necessidades. É bom você poder afirmar a verdade sobre você mesma. Imagine-se na minha situação há algum tempo atrás. Se alguém chegasse a mim e dissesse: “Você matou alguém” ou algo parecido, o que eu poderia fazer? Poderia defender-me e dizer que isso era uma calúnia? Como, se eu nem sabia o que aconteceu comigo durante vinte anos?

- Eu nem sei o que dizer – falou Melissa, ainda um tanto cabisbaixa.

- Apenas pense nisso. Volte a presentear-nos com sua alegria, Mel. Ela nos é necessária. Admita você também suas necessidades. Talvez uma delas seja ficar triste durante alguns dias. Admita-a. Chegará rapidamente ao topo da árvore da auto-realização.

Mel abraçou Hermione, com as lágrimas descendo involuntariamente pelo rosto.

- Obrigada, Hermione – agradeceu ainda abraçada. – Suas palavras foram de grande ajuda. Jamais imaginei que fosse tão inteligente. Sabia que era bastante, mas pelo jeito, viverá me surpreendendo.

- Qual nada! Tenho certeza que você me surpreenderá muito a partir de agora.

- Hermione.

Elas se separaram e se encararam.

- Diga.

- Eu tenho uma necessidade.

- Qual? – indagou Hermione arqueando a sobrancelha.

- De admitir que eu jamais considerei alguém tão minha irmã quanto a considero agora. Nem Haylla chegou perto disso, apesar de ser minha irmã. Mas você, Mione, é diferente. Você conseguiu, por mérito próprio, o posto de minha irmã. Você é minha única irmã, por consideração.

Hermione também começou a chorar, não mais se importando com a maquiagem ou com o que as pessoas iriam pensar. “Minha irmã” era as únicas palavras que cabiam em seu pensamento agora. Só naquilo pensaria, só naquilo...

- Mel, poderia me ceder sua irmã um minuto? – indagou Rony, rindo.

- Minha irmã? – ela falou. – Bem, na verdade, não posso. Mas eu cedo, só por que agora é o marido dela.

Todos riram.

- Por que estavam chorando? – indagou Rony novamente.

- Por nada – respondeu Hermione, limpando o lápis borrado. – Ficamos emocionadas com tudo que aconteceu hoje. Sabe, o casamento, a cerimônia...

- Sua mulher me passou um sermão agora – disse Mel.

- Ah, descobri a razão de sua felicidade, Sra. Weasley.

Hermione riu, ficando feliz com a afirmação.

- Ela geralmente roda em torno disso – completou Melissa, para dar início às melhores gargalhadas.

Rony abraçou Mione profundamente e levou-a para a pista de dança, logo após Melissa ir dançar com Fred.

Hermione descansou sua cabeça no peito do marido – era estranho chamá-lo assim – e suspirou. Poucas pessoas saberiam descrever o que sentia naquele momento. Era um misto de felicidade e tensão. Felicidade, pois estava finalmente casada com seu grande amor. Tensão, pois não sabia como seria sua vida depois de toda essa reviravolta em pouco tempo.

Iria morar no apartamento de Rony, trancaria a faculdade de jornalismo, teria mais responsabilidades... Gostava delas, e sabia que ela mesma as escolhera. Mas não deixava de temer por si mesma e por Rony os possíveis estados de humor que ele teria que enfrentar.

- Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo... – sussurrou Rony ao ouvido dela.

Hermione cerrou os olhos e buscou a boca macia e o beijo suave de Ronald. Seus beijos a embriagavam, deixavam-na tonta, desprotegida e frágil. Os movimentos que ele fazia com as mãos em sua cintura enlouqueciam-na. Naquele momento, a felicidade reinava sobre a tensão.


Três meses depois

O sol que ainda pairava sobre o país deixava toda a região de Londres muito abafada. O inverno estava realmente próximo, mas não havia vestígio algum de frio ou neve nas redondezas. Os pássaros cantarolavam alegres sobre a copa das árvores, na manhã clara de domingo.

- Está se sentindo melhor, Mione?

A moça assentiu com a cabeça, como se mal tivesse forças para falar algo. Estava se sentindo imensamente fraca e o seu organismo não aceitava nada que lhe fosse oferecido. À praticamente todo minuto precisava ir rapidamente até o banheiro e lá depositar todo o alimento ingerido. Há pouco tomara um copo de suco e ele pelo visto lhe fizera bem, há dez minutos não precisava correr de um lugar para outro.

- Porque, se não estiver, podemos ir até o St. Mungus. Não me importaria em levá-la até lá para ser atendida por um curandeiro – tornou a repetir Rony pela milésima vez.

- Já disse que não é necessário – respondeu Hermione. – Estou melhorando, acho.

- Esses seus enjôos não são de hoje – ele resmungou. – Só que hoje ficaram piores. Por favor, vamos até o hospital. Será melhor para você.

- Não, Rony.

Ele sentou-se ao lado da mulher no sofá e a abraçou. Sentia que ela não estava bem e que não poderia ajudá-la sozinho. Tinha que convencê-la a ir até o hospital, mas há meia hora ela recusava-se terminantemente a fazer isso.

- Sua mãe ligou quando estava no banheiro e eu disse a ela que você não estava bem – falou ele.

- Por quê? Assim só vai preocupá-la!

- É, ela ficou bem preocupada. Queria vir aqui para ajudar a te convencer a procurar orientação médica, mas eu disse a ela que não precisava, pois daria um jeito sozinho.

- Como eles estão por lá? – indagou Hermione tentando desviar-se do assunto.

- Estão bem, disse-me sua mãe. Com muitas saudades suas. Mandaram vários beijos e abraços.

- Enviou os meus a eles, não é?

- Claro.

O silêncio predominou novamente no local por alguns instantes, nos quais Rony pensava e repensava o que poderia fazer. Uma idéia vaga do que poderia ser surgiu-lhe na mente e um sorriso quase conseguiu ser contido.

- Por que não quer ir ao hospital, Hermione? – perguntou então.

- Bem, porque... – ela hesitou. – Na verdade, eu já tenho uma suspeita do que seja.

- Como? E que suspeita é essa?

- Só uma suspeita – ela ressaltou. – E, se for isso mesmo, não há problema algum. Sequer preciso ir ao curandeiro, é só esperar.

- Mione, por favor, explique-se. Está me deixando ainda mais confuso.

- Rony, eu... Eu acho que estou... Acho não, eu...

Rony arqueou uma sobrancelha e um meio sorriso surgiu em seus lábios, junto com a certeza de que suas últimas suspeitas estavam prestes a serem confirmadas.

- Estou grávida – ela completou.

Um gigantesco sorriso surgiu nos lábios de ambos, enquanto abraçavam-se. Rony levantou-a e a rodopiou pela sala.

- Rony, não! Assim vou ficar ainda mais enjoada! – ela pediu, enquanto sorria.

Rony soltou-a e beijou-a, feliz. Esperava essa notícia desde o momento em que casara-se. Recordara-se de quando Gui e Harry contaram a todos a maravilhosa notícia da futura paternidade. Sempre o quisera e agora, estava em suas mãos.

- Um dia cheguei a pensar que nosso amor era impossível – falou Hermione em meio às lágrimas.

- Não existem amores impossíveis, mas sim pessoas incapazes de lutar por aquilo que chamam de amor.

N/A.: Bom, é isso, pessoal. Foi uma honra para mim ter tido vocês como leitores, mesmo os que não chegaram até o final da fic. Mais do que para vocês, essa fic me ajudou muito. Adoro escrever e vejo este site e as fics que todos nós escrevemos como um grande portal, que atravessado pode nos levar à uma incrível melhora pessoal e, por que não?, ao estrelato. Somos, de qualquer forma, escritores! E terminar uma obra, por menor que seja, é uma grande honra! Mas, escritores sem leitores não são nada. O que seriam das idéias difundidas pela Bíblia se ela nunca tivesse sido lida? Por isso, tudo que eu fiz nesta fic é dedicado a vocês. Obrigada a todos que passaram por aqui e fizeram os minutos da minha vida mais felizes. Amo vocês!

Nos veremos em breve!

Manu Riddle

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.