Vestida Para Matar - Parte I



10 Vestida Para Matar – Parte I



Hermione respirou fundo ao olhar pela janela do quarto. Já era quase dez da noite e nada, simplesmente NADA, de Gina chegar. O que ela estava fazendo, afinal? Concordando em ir a uma festa cheia de sonserinos e onde, provavelmente, Miguel estaria, só pra se humilhar? Agora já estava feito, não poderia mais voltar atrás! A única coisa que restava era fazer o que estava planejando, e colocar em prática coisas pelas quais sua mente passou a tarde toda trabalhando furiosamente, tentando achar meios de como realizá-las. Ela respirou fundo novamente, tentando se acalmar e se convencer de que agora tudo dependeria do que ela fizesse, e do que Gina lhe fizesse.


– Você demorou muito! – Hermione exclamou ao ver a porta sendo levemente aberta, indo se sentar na cama.

– Calma Mione, eu já cheguei não tá vendo? – Hermione deu um leve sorriso da obviedade da amiga.

– Trouxe o que eu te pedi, Gin? – a ruiva confirmou com um leve aceno de cabeça, se esgueirando pela porta para não fazer muito barulho caso Filch estivesse fazendo sua usual inspeção pelos corredores – Eu acho que realmente é muita sorte usarmos o mesmo manequim.

– Aiii Hermione, eu acho que estou mais empolgada que você! – Gina abriu um largo sorriso, deixando Hermione desconfortável.

– Correção: Você está empolgada, eu não! – a ruiva se limitou a rolar os olhos.

– O que temos aqui, então? – Gina se dirigiu à cama de Hermione, sentando-se preguiçosamente lá e jogando ao seu lado a mochila que trazia – Uma garota desesperada, que vai a uma festa à uma hora dessas e, vale lembrar, uma festa proibida por via de regra. Regra de Hogwarts, que você tanto insiste em seguir.

– Falta mais alguma coisa? – Hermione perguntou cruzando os braços de forma entediada.

– Na realidade falta sim. – Gina deu um sorriso maroto para a amiga – Que história é essa que você disse de se humilhar? E aquela história toda do Miguel? Sinceramente eu não entendi nada Hermione! Você falou tão rápido... E se o Rony não tivesse chegado você poderia me contar com mais calma. – ela lançou um olhar curioso e intrigado para Hermione – E então? O que está esperando para satisfazer a minha curiosidade?

– Na realidade eu não disse nada de humilhação... – Hermione tentou desviar da pergunta de Gina.

– Você disse sim, Hermione! Eu ouvi muito bem!

– O que eu quis dizer foi... bem, foi que... – Hermione olhava para os lados tentando encontrar uma forma de contornar algo que ela quase tinha dado com a língua nos dentes – É que... o que eu quis dizer foi diversão! É isso! Você sabe, eu não me dou bem com essa diversão de sonserinos...

– Nada disso, Mione! – Gina interrompeu – Eu ouvi muito bem a palavra humilhação! Agora trate de explicar o que isso tem haver com essa festa e com aquele lá.

– Ok Gina! – Hermione respirou pesadamente se dando por vencida – Eu odeio quando você me faz falar coisas que eu não quero. – Gina sorriu, deitando na cama – Tem essa festa do amigo do Draco e eu sinceramente não tenho nem idéia do que vestir, e foi por isso que eu pedi a sua ajuda!

– E o que isso tem haver com o traste? – Gina perguntou interessada.

– É que ele vai estar lá! – Hermione ia continuar, mas parou ao ver um brilho muito suspeito no olhar da ruiva.

– E você quer mostrar para ele o que ele perdeu, não é? – Hermione balançou a cabeça afirmativamente, com um certo constrangimento – Mas essa é a melhor oportunidade que você pode ter, Hermione Granger! – Gina falou alto, abrindo um sorriso malicioso.

– Certo, eu já entendi! Mas será que dá pra não gritar?

– Foi só empolgação de momento! – Gina se recompôs, sentando novamente na cama e acariciando o queixo de forma pensativa – Nós precisamos pensar no que está faltando. Deixe-me ver... Um namorado lindo e que causa inveja nele. Isso você já tem! A oportunidade de tê-lo por perto e causar ciúmes. Essa você vai ter! – Hermione girou os olhos, esperando logo a amiga terminar – Uma roupa arrasadora para deixá-lo babando...

– Essa você vai ter que me arranjar! – Hermione complementou.


Gina levantou da cama, e foi decidida ao guarda-roupa de Hermione. Ela abriu as portas e, sem pensar, pegou várias roupas penduradas em cabides e começou a jogá-las sobre a cama.


– Qual visual você quer ter? ‘Queridinha da mamãe’, ‘Eu sou gostosa, mas não sou pra você’, Sou um anjinho de dia, mas de noite você sabe...’ ou ‘Estou pronta para matar, baby’? – Gina perguntou, fingindo seriedade.

– Eu acho que um ‘Estou pronta para matar, baby’ não me parece muito conveniente. – Hermione disse em meio a sorrisos.

– E que tal o ‘Eu sou gostosa, mas não sou pra você’? – Gina tentava se controlar para não rir, enquanto vasculhava o armário de Hermione.

– Hum... – Hermione fingiu pensar – Isso inclui um vestidinho preto justo, uma maquiagem fortíssima, cabelos soltos, e uma bota de stripper? Exagerado de mais...

– Ele me parece um pouco arrasador. – Gina disse, fazendo uma careta bem pensativa.

– O que foi?

– É que estou vasculhando o seu guarda-roupa e a única coisa que eu encontro são roupas que cairiam bem para assistir a uma missa. – Hermione bufou.

– Ah Gina, não exagera!

– Exagerar? – a ruiva fez uma careta de incredulidade – Olha pra isso! – ela puxou do cabide uma saia de Hermione, e levantava na altura do olhar da amiga – Nem uma freira usa uma saia desse comprimento hoje em dia! Fala sério Hermione, você está pensando em entrar para um convento ou o quê?

– Ora, isso é só uma saia decente! – deu de ombros.

– E como é que você usou uma minissaia vermelha que eu nunca vi? – Hermione engasgou – Esqueceu da entrevista?

– Ahn? – Hermione mudou a expressão assustada para uma fingidamente calma – Eu não tenho mais essa minissaia. Ela já não cabe em mim há tempos! – deu de ombros novamente.


Gina murmurou somente um ‘Sei’ e voltou a olhar as roupas de Hermione. Ela vasculhava o guarda-roupa por inteiro sob o olhar apreensivo da amiga, tentando decidir o que ela poderia usar para chamar a atenção de Miguel no meio de tantas roupas comportadas de mais na opinião da ruiva.


– Sinceramente Mione, – Gina puxou a saia de farda da Castanha olhando-a de cima a baixo – se você quer realmente chamar a atenção daquele canalha e fazê-lo se arrepender pela sacanagem que ele te fez, não vai mais poder usar coisas assim... – ela apontava para saia – Você entende não é? Essa saia dá quase nos seus pés!

– E o que sugere, ruiva? – Hermione perguntou, não demonstrando interesse.

– Um feitiço redutor ora! – Gina deu de ombros.

– Nada disso! – Hermione levantou de uma vez da cama, tirando a sua saia da mão de Gina – Você não vai fazer uma loucura dessas de jeito nenhum!

– O problema é o seguinte, Hermione: você me chamou aqui pedindo por uma ajuda! E aqui estou eu pronta pra te ajudar. Você quer jogar na cara daquele desgraçado que não precisa mais dele e fazê-lo ter remorsos pelo resto da vida por ter te trocado, não é? – Hermione ficou muda – Responde Hermione! É isso que você quer? – Hermione deixou escapar um simples ‘Aham’ – E como você pretende fazer isso? Indo à missas com esse tamanho de saia digno de uma freira e implorar por uma benção divina para atender o teu pedido? – Hermione sentou de uma vez na cama, derrotada, jogando a sua saia de volta pra Gina.

– Ok Gina! Faz com ela o que você achar que tem que fazer! – Gina deixou escapar um largo sorriso.

– Você sabe que essa foi a escolha certa a ser feita! – Gina jogou a saia de Hermione à um canto, junto com outras roupas que ela estava decidida a transformar – E vê se não atrapalha o meu trabalho aqui! – avisou.


Gina voltou a sua atenção ao guarda-roupa que estava à sua frente, tirando todas as calças jeans que via, e não se agradando com nenhuma. Todas as peças que ela pegava analisava de cima à baixo e sempre com uma cara insatisfeita, começando a acender o desespero em Hermione pela hora.


– Estou quase desistindo, Gina. E isso é sério! – Hermione deitou na cama, cobrindo o rosto com as mãos – Eu sou feia, horrorosa, sem estilo nenhum! E o que eu estou fazendo indo pra essa festa? Só pra sacanearem com a minha cara? – Gina sentou ao lado de Hermione, com uma expressão séria.

– Primeiro de tudo: você não é feia, e nunca foi! O único problema aqui é que você nunca foi de se arrumar muito! Você é linda, Mione. Mas também só é quando quer, e assim não vamos conseguir atingir o nosso objetivo dessa noite nunca. – Gina continuava a falar com Hermione, mas com o olhar atento às roupas que tinha separado – E segundo: você sabe muito bem pra quê está indo nessa festa. Você quer arrasar, é isso! E você vai conseguir se deixar-me fazer tudo que tiver de ser feito! E vai deixar todo mundo babando, isso sim!


Hermione deu um sorriso fraco para a amiga, que lhe retribuiu com um mais confiante. Gina pegou a sua mochila, que tinha o interior aumentado por magia, e começou a vasculhá-la com o cenho franzido, analisando tudo o que pegava e, em seguida, lançando um olhar interessado para as roupas de Hermione.


– O problema aqui não é só roupa Mione, é auto-estima também! – ela voltou a olhar para Hermione – E a sua está muito pra baixo! A impressão que você tem que causar para ele é de uma garota forte, decidida, mostrando que não te abalou nem um pouco ele ter terminado com você, e, mais ainda, mostrar que você é superior e muito melhor que essa “zinha” que ele arranjou. – Gina voltou a mexer na sua mochila, mas logo parou, e lançou um olhar intrigado à Hermione – À propósito Mione, você nunca me disse quem era essa tal que ele te trocou.

– Era a Chang. – Hermione disse com simplicidade sentindo um gosto amargo da raiva na sua boca, e não prestando atenção na cara abismada de Gina – Algum problema Gin? Gina? Giiiina? – Hermione sacudiu a sua mão na frente de uma Gina em estado de choque, e olhando fixamente para algum lugar que Hermione não tinha a mínima idéia – Acorda Ginny!

– EU SABIA! – Gina pulou de uma vez da cama, batendo o punho de uma mão contra a palma da outra – Eu sempre soube que aquela lá era uma verdadeira vaca! Uma vadia, uma vadia! Eu disse! Eu não acredito que ele te trocou por ela. Por ELA! Logo ELA! Uma garota horrorosa, que se faz de santa pra todo mundo! – ela bateu com o punho sobre a cama – Eu sabia que ela não passava de uma vaga-bunda que seduzia garotinhos inocentes. Tudo bem que o Harry não é tão inocente assim... Mas e daí? Ela vai continuar sendo uma piranha, vaca, vadia, vaga-bunda, sem-vergonha, desgraçada, filha-da...

– Certo, Ginny! – Hermione tentava acalmar a amiga – Não se preocupa que tudo isso eu já sei e todos esses palavrões eu já disse também! – Gina virou com uma cara feroz para Hermione.

– Me escuta bem, Mione: Você vai chegar lá com a roupa que eu te der aqui e vai arrasar, ouviu bem? ARRASAR! Não me importa o que você faça, e nem me importa o que vai acontecer, só o que eu quero é que esse filho-da-mãe olhe pra você e se arrependa amargamente de ter preferido a Changalinha! Agora a palavra-chave é AR-RA-SAR! Você entendeu, Hermione? Não interessa nem um pouco que artifícios você use, a única coisa que você tem que enxergar é os seus objetivos, melhor, os nossos!

– Senta Gina, é melhor! – Gina continuava a encarar Hermione com ferocidade – Você já tá me assustando...

– Tem idéia da responsabilidade que você tem agora, não é? – Hermione balançou a cabeça em um sim, assustada com a expressão de Gina – Então, não-me-de-ce-p-ci-o-ne!


Gina sentou de novo na cama, com uma cara que dava calafrios em Hermione só de imaginar o que se passava na mente da ruiva naquele momento. Gina voltou a mexer na sua mochila, tirando coisas lá de dentro e murmurando toda hora um ‘Você me paga Changalinha!’, deixando Hermione até um pouco preocupada com a roupa que Gina iria lhe arranjar agora. Ela mexia incessantemente na sua mochila, já atraindo a atenção de Hermione para lá.


– O que você tem tanto aí nessa mochila? – perguntou interessada.

– Esse aqui é o meu kit transformação. – ela disse, já um pouco recuperada do seu acesso de raiva – Tem algumas peças de roupas que eu separei para trazer, uma revista com vários feitiços de como deixar o seu cabelo deslumbrante, algumas maquiagens básicas, e algumas outras coisinhas... – Hermione esfregava as mãos freneticamente não dando muita atenção ao que Gina falava – Hermione, você tem que parar com esse nervosismo todo. Você tem que se mostrar segura quando encontrar o traste. Não pode chegar dizendo “O-Oi Mi-Mi-Mi-Gue-Guel!” – Hermione se limitou a lançar um olhar de descrédito e pegou da mochila a revista.

– Mas eu estou segura! Não tá vendo a minha cara de confiança? – Hermione deu um sorriso amarelo e Gina achou melhor não tecer nenhum tipo de comentário.


Já tinha passado pelo menos uns cinco minutos que Hermione folheava a revista tentando acalmar as convulsões nervosas que já estava a ponto de ter. Gina parecia estar em uma espécie de transe, tentando se concentrar nas roupas e, vez por outra, respirando fundo para impedir a vontade de amarrar Hermione em algum lugar ou fazer algo para tentar parar as crises de tremor da outra.


– Achou algo de interessante na revista? – Gina perguntou, sem desviar o olhar das roupas.

– Hum... Estou aprendendo aqui como usar a cor certa. Sabia que o preto emagrece? Oh, é claro que não! Ninguém sabe disso, não é mesmo? – Hermione continuou a folhear a revista – ‘Para ocasiões que exigem trajes mais sofisticados, use roupas com risca-de-giz no sentido vertical. Isso lhe deixará com a sensação de estar mais alta.’ Realmente bem útil.

– Dependendo do que você chama de utilidade, até que pode ser útil sim.

– ‘O seu signo combina com o dele?’ – ela deixou escapar uma risada curta e incrédula – Que teste mais ridículo! Você não fez isso, não é?

– Ah sim, eu fiz! – Gina não percebeu quando a boca de Hermione abriu alguns centímetros, descrente com tamanha inutilidade – Aí diz que o meu signo combina com o do Harry. Por que não vê se o seu combina com o do Malfoy?

– Ah, não é necessário! O nosso combina... – ela voltou a olhar para a revista, tomando um tom mais baixo – ... em nada. – Hermione olhou de soslaio para o relógio e sentiu o seu coração acelerar – Não dá mais Gina! Olha aí, já são 10:15!

– Mione, será se não percebe que esse teu nervosismo tá atrapalhando a minha concentração? – Gina bufou, passando a mão pelo cabelo de forma irritada – Por que você não conta até dez?

– Eu já contei até mil! – ela arremessou a revista para o outro lado da cama.

– Então canta, ora! Mamãe sempre faz isso quando tem um ataque com o Fred, ou com o Jorge, ou com os dois, sei lá!

– Gina, se você realmente é minha amiga faça o favor de não me lembrar que a palavra “cantar” existe, ok? – Gina deixou o seu olhar confuso encontrar com o de Hermione – Quando eu me lembro dessa palavra, eu lembro que tenho que cantar na frente de uma platéia imensa esperando com toda a ansiedade que eu erre alguma sílaba ou gagueje para caírem de vaia em mim! – ela passou os dedos pelo cabelo deixando-os lá – E pra piorar, se é que é possível, McGonnagall, em meio a uma crise mental perfeitamente explicada pela idade, resolveu tirar uma com a minha cara me mandando inventar uma bendita música. – Gina escutou a tudo calada, enquanto Hermione entrava em parafuso.

– E qual tipo de música você tem que cantar?

– Sei lá! Algo que rime, talvez. – ela respirou fundo, colocando as mãos sobre os joelhos – Mas tem que ser alguma coisa legal, porque se eu falar merda ela me estrangula!

– E que tal “O meu coração por ti bate como caroço de abacate”? – Gina fez uma careta gozada.

– Qual parte do ‘Se eu falar alguma merda ela me estrangula’ você não entendeu?

– Mi, eu te conheço há seis anos! E eu nunca (nunca, ouviu bem?) poderia imaginar na minha vida que você era uma garota tão problemática assim!


Gina puxou uma blusa de dentro da mochila e desviou o seu olhar para as calças jeans de Hermione. Ela tornou a olhar para a blusa e mais uma vez olhou para a calça. Ela repetiu esse ritual pelo menos uma dez vezes sob o olhar de desespero da outra grifinória.


– Alguma idéia? – Hermione perguntou ansiosa, olhando para o relógio, que já marcava 10:25.

– Eu ainda não sei se é uma idéia... – Gina se aproximou pensativa de uma calça jeans de um azul escuro que estava jogada junto com as outras. A calça era um pouco justa, com umas pequenas tachinhas no bolso, valorizando o conjunto. Ela a recolheu com um sorriso satisfeito – Eu não tinha reparado nessa calça. O que acha dela? – Hermione contorceu os lábios.

– Ela é justa e estranha! Minha mãe comprou em um ataque de loucura! Ela sabe que eu não uso essas coisas. – completou sob o olhar interessado da ruiva.

– Pois eu acho que agora ela vai te servir muito bem! – Gina foi até a sua mochila procurando uma blusa que havia colocado lá.

– O quê? – Hermione levantou da cama, assustada – Nem inventa Ginny! Eu não vou usar isso nem sob feitiço! – Gina bufou.

– Eu não te dei opções, Mione! – disse de forma autoritária – Esqueceu que agora tem uma missão a cumprir? – Hermione cruzou os braços impaciente.

– Mas isso não significa que eu vou usar isso aí!

– O que você chama de isso é a nossa salvação! Ou será que você prefere ir com aqueles sacos que costuma usar?

– Também não precisa ofender!

– Não é ofender, Mione! O que estou fazendo é simplesmente abrindo os seus olhos para fazer você enxergar a garota linda que é, e parar de usar aquelas roupas que só te escondem!

– Ai Gina, eu não sei ok? – Hermione se jogou na cama com apreensão – Há algumas horas eu estava feliz e tranqüila e agora eu estou aqui, nervosa, sem saber o que fazer! – Gina girou os olhos de forma monótona – Essas coisas não combinam comigo! Eu vou é pagar mais mico!

– Essa não é uma hora muito adequada para crises, Mione! E quem te disse que essas roupas não combinam com você? Elas combinam com qualquer pessoa que estiver a fim de usa e ponto! Você tem é medo de ousar, isso sim!

– Eu não tenho medo de ousar não senhora! – disse ofendida.

– Tem sim!

– Não tenho!

– Tem Mione, e você sabe disso!

– Ok! Eu tenho! Satisfeita agora? – Hermione levantou os dois braços de forma rendida.

– Ainda não! – Gina tirou uma blusa da mochila. Era uma blusa preta e tomara-que-caia, com discretos fechos na frente e com fios transpassados nas costas, deixando-as quase nuas – Agora sim eu estou realmente satisfeita.

– Oh Céus! O que eu fui fazer te chamando pra me ajudar? – Hermione colocou as duas mãos sobre o rosto de forma aterrorizada.

– Você foi fazer a coisa certa, ora! – Gina deu um leve sorriso, mas a sua atenção foi desviada para algo dentro da sua bolsa que lhe fez abrir um sorriso bem largo de satisfação – Sabe de uma coisa Hermione, acho que você vai vestida de ‘Eu sou gostosa, mas não sou pra você’! – dessa vez ela falava sério.

– O quê? – Hermione perguntou com incredulidade, se assustando com o estranho brilho no olhar da ruiva – Certo, Gina! Agora você realmente está me assustando!


Gina puxou de dentro da sua mochila, sob o olhar assustado de Hermione e o seu de satisfação, um par de botas pretas de cano longo, que tinha o bico um pouco afilado, mas sem exageros, e um salto alto finíssimo, que daria inveja na mais metida das mortais. Hermione olhou com seriedade para a amiga, e a viu estender a bota na altura de seu rosto e com uma das sobrancelhas levantadas. Hermione começou a rir do nervosismo.


– Sabe de uma coisa? – Hermione ria sozinha, enquanto Gina continuava a lhe olhar séria – Por um instante eu acreditei que você iria me forçar a usar isso!

– E quem te disse que eu não vou te forçar? – Gina perguntou seriamente, agora sob o olhar desaprovador de Hermione.

– Eu disse que era sorte ter o mesmo tamanho de roupa que o seu? – Gina concordou com um aceno de cabeça entusiasmado, contrastando com a expressão derrotada da Castanha – Me desculpe, mas é que... sabe, olhando aí esse par de botas eu vejo que me enganei.

– Chega de gracinhas, Mione! E não reclame das roupas que eu te der! – ela puxou a cadeira que estava no outro extremo do quarto com um feitiço convocatório – Agora senta aí querida, que o show vai começar.

– Mas eu não posso usar isso, Gin! – disse de forma infantil.

– E por que não? – Hermione desviou o seu olhar para as botas como se a resposta fosse óbvia – Afinal, qual é o problema com elas?

– Elas são... como eu posso dizer... Escandalosas? – perguntou, em dúvida.

– Como pode falar isso das minhas botas lindíssimas? Isso – a ruiva apontava escandalizada para o seu par de botas pretas, que estava em cima da cama – é couro de dragão romeno! Esse couro é caríssimo e provavelmente o Carlinhos deve ter gastado todas as economias dele para me dar o melhor presente da minha vida. – Hermione sorriu sem graça – Agora trata de sentar aí já Hermione Granger, antes que eu tenha que usar o feitiço da perna presa e te forçar a sentar. – apontou de forma mandona para a cadeira.

– Já que pede assim com tanta delicadeza Sra. Weasley... – Hermione foi sentando devagar enquanto Gina sorria satisfeita não ligando para a brincadeira da amiga – Mas que fique bem claro que eu só vou concordar com isso pelo mais puro e legítimo desespero, ok?

– Que seja, Hermione! O importante é o resultado, e esse eu sei que vai adorar. – Gina mexia na sua mochila com um sorriso de orelha a orelha, ao mesmo tempo em que Hermione observava a tudo, apreensiva – Não esqueça: Você tem que ir vestida para matar!








Hermione andava apreensiva pelos corredores escuros do Castelo, usando uma jaqueta jeans para cobrir a sua blusa, que ela considerava “um pouco” nua, que quase fez Gina ter ataques de raiva. “Se ele fosse um namorado decente iria me buscar no quarto!” Ela resmungou entre seus pensamentos, esquecendo, por um instante, que ele nunca iria lhe buscar onde quer que fosse se ele não quisesse. “E ele também não é seu namorado, Hermione! Lembre-se disso!”

Hermione respirou fundo, procurando acalmar as mãos que tremiam sem motivo muito aparente, e se revezando na tarefa de examinar bem os corredores antes de passar por eles e se concentrar em lembrar tudo o que Gina lhe dissera antes de sair. ‘Confiança, segurança e ousadia! Não esqueça isso, Mione!’ Ela esqueceu por um instante a ansiedade e se deixou rir, lembrando que Gina estava muito mais empolgada que ela, ou, melhor, era a única empolgada naquele quarto.

Ela repassou por uma última vez tudo o que tinha feito, lembrando de ter deixado Gina no seu quarto, aconselhando-a a sair depois que ouvisse Filch fazendo a sua última ronda, e pedindo-a para trancar a porta deixando a chave, assim como pediu, atrás da estátua de Morgana. E deixando esses pensamentos, seguiu o caminho do Salão Principal, onde Draco combinou de encontrá-la depois que terminassem os últimos preparativos, concentrando-se em equilibrar-se no salto agulha da bota e tentando diminuir o eco que o salto fazia ao bater contra o chão frio do corredor vazio. Já deveria ser mais de 11:00, e Draco a mataria por isso.

Ela sabia que já se aproximava da grande porta do Salão Principal, faltando apenas dobrar o canto do corredor em que estava. Ela se equilibrava com mais segurança, fazendo esforço para acalmar os seus músculos do tremor repentino, ora correndo, ora retardando os passos, sentindo aquele famoso incômodo na barriga como se estivesse fazendo algo muito sério... ou muito errado. Mas antes que pudesse pensar nas conseqüências de estar quebrando as regras da escola, ou que a sua consciência lhe arrastasse de volta para o quarto em sumo arrependimento, sentiu-se colidir com outra pessoa que vinha correndo na mesma direção também dobrando a esquina.


– Me**a! – a outra pessoa praguejou quando já estava no chão.


Hermione levantou um pouco tonta pelo impacto, se segurando na parede para não tontear e cair novamente. Ela já ia falar qualquer coisa não muito agradável, mas não conseguiu fazer com que a sua voz saísse. Draco estava caído no chão, com uma feição assassina e vestido que nem os bad boys dos filmes trouxas. Ele estava com blusa e calça pretas (Por que será que ela não se surpreendeu?), com um sapato social, que dava um ar completo ao traje, e o cabelo levemente bagunçado (e, com certeza, propositalmente) dando um ar de desleixo que o deixava (infelizmente) sexy.

Ela se aproximou dele, balançando a cabeça para afastar tais pensamentos, e estendendo a mão para ajudá-lo a levantar.


– Vamos Draco, levanta! – ele reconheceu a voz dela e se apoiou no chão, ignorando a mão estendida

– Você adora fazer isso não é? Já viu a hora? São 11:30! – ele ia levantando o olhar para encará-la enquanto continuava reclamando – E eu tenho mais o que fazer do que esperar uma garota lerda e...


O olhar dele caiu em cima de uma Hermione constrangida, com uma expressão angelical que contrastava com o ar de mulher que demonstrava. Ela estava com a calça jeans justa e cheia de tachinhas que Gina lhe forçou a usar, colocando-a por dentro do par de botas dando sensualidade, e com uma jaqueta também jeans e com todos os botões fechados, que cobria o restante da roupa não o deixando ver com detalhes o corpo modelado dela. A maquiagem dela não estava simples, mas também não era nada carregado, apenas um lápis preto contornando os seus belos olhos castanhos, com uma sombra prata e delicada, tendo o olhar realçado pelos seus cílios um pouco mais alongados, e seus lábios com um batom claro, realçando mais o contorno perfeito deles. Cada uma de suas orelhas estava adornada por uma argola média, da cor prata, combinando com o restante da roupa.

Ela estava em uma perfeita roupa de anjo fatal, com os cabelos soltos caindo no meio das costas, sem estarem cheios como de costume, e sim com perfeitos cachos, soltos e mais lisos, deixando um perfume exalar por entre os fios, fazendo com que a boca dele abrisse várias vezes na inútil tentativa de pronunciar algo. Ele sentiu a sua boca secar, sem condições de dirigir qualquer xingamento diante do conjunto perfeito que estava na sua frente.


– Você está... está... – o olhar dele viajava em cada detalhe dela, fazendo-a corar até o último fio de cabelo com o olhar indiscreto que ele lhe dirigia. Mas a consciência dele surgiu subitamente, tirando-o de um transe vergonhoso – Atrasada! Você está atrasada! Francamente Hermione, acho que tenho que te comprar um relógio! – ele arrumou a camisa, e ela fez o mesmo, arrumando desnecessariamente a jaqueta, enquanto soltava um suspiro discreto de decepção.

– Eu tentei vir mais rápido, mas é que não deu...

– Chega de desculpas que já estamos atrasados! – ele a interrompeu, se recusando a olhar para ela novamente – E tudo culpa sua!


Ela bufou. Por que ele tinha que ser sempre assim? Sempre chato, arrogante e antipático! Ele não mudaria nunca mesmo, e ela desconfiava que não existisse ninguém nesse mundo capaz de mudar o temperamento dele. Eles caminhavam lado a lado, seguindo o caminho das Masmorras da Sonserina, em completo silêncio. Draco parou por um instante e segurou no braço de Hermione, dessa vez encarando-a.


– O que foi idiota? – ele sorriu cinicamente.

– É você mesma! – constatou, sob a face corada dela, continuando o trajeto.


Hermione se limitou a girar os olhos e segui-lo. Ela deixou que os seus pensamentos se acalmassem e tomassem um outro rumo: a festa! Miguel estaria lá, ou talvez não! Será se ele realmente iria? Se ele não for vai significar que tudo tinha sido à toa, e ela iria novamente pagar mico na frente dos sonserinos. E, no fundo, ela realmente não sabia se queria ou não que Miguel estivesse lá. Mas, se estivesse, não poderia deixar passar a oportunidade.


– Dá pra se virar? – a voz de Draco soou tirando Hermione de seus devaneios.

– Hã? – ela perguntou, um pouco confusa, só agora percebendo que já havia chegado à porta do Salão Comunal da Sonserina.

– Eu não vou falar a senha na sua frente! – ele tornou a falar, com um tom óbvio, esperando que ela se virasse – E, de preferência, tape os ouvidos também.

– Eu não vou fazer isso! – cruzou os braços.

– E eu não vou correr o risco de depois ter o Potty ou o Weasel entrando aqui! – ela virou, irritada, querendo encerrar logo a discussão.


Hermione ficou encarando a armadura medieval que ficava no corredor onde estava, esperando escutar uma música alta, gritos de sonserinos ou qualquer outra coisa que indicasse que a passagem do Salão Comunal havia sido aberta. Mas a sua espera parecia ter sido frustrada pelo mais absoluto silêncio. Ela virou já se preparando para indagar a Draco quando ele pretendia abrir a porta, quando viu que a porta já estava aberta e ele estava de braços cruzados, provavelmente esperando quando ela se viraria.


– Feitiços silenciadores. – ele disse com simplicidade, diante da feição interrogadora dela.


Eles realmente não eram bobos, ela pensou, acompanhando receosamente Draco, e se encolhendo o máximo possível que podia para tentar passar despercebida. Ela entrou no Salão Comunal, que possuía uma iluminação um pouco fraca, talvez para a sorte dela, e com uma decoração bem festiva: no teto havia vários balões pretos (Por que sempre pretos?, ela se perguntou, analisando-os), entre os balões estavam coladas fitas prateadas que refletia a pouca luz existente, dando até a impressão de um baile de Halloween. Ela notou que havia sofás espalhados por todo o local, com grupos de pessoas reunidas para conversar ou curtir a música, que ainda não estava muito alta, e outras... bem, outras pessoas se preocupavam em distribuir sessões gratuitas de amassos que não incomodavam ninguém ali, exceto ela mesma. Pareceu à primeira vista uma reunião de amigos, na verdade, muitos amigos. Provavelmente todo o sexto e sétimo ano da Sonserina estava lá.


– Isso parece uma orgia! – Hermione reclamou, fazendo cara de nojo, enquanto olhava ao redor da sala.

– Você está enganada! – Draco disse naturalmente – Orgia é só às terças e quartas!


Hermione ficou parada enquanto Draco continuava a andar e acenar para algumas pessoas. Será se ele estava mesmo falando sério? Mas, pelo visto, isso não seria muito difícil de acontecer...


– Oh! Ele já chegou! – a atenção de Hermione voltou-se para um grupo de meninas que chegava abraçando Draco e dando longos beijos no rosto dele, como se ali ele que fosse o aniversariante, e não dando pela existência dela logo atrás.

– Lizzie, você está belíssima! – Draco exclamou, sorrindo com galanteio para a morena, que se desmanchava em sorrisos para ele. As outras soltaram muxoxos indignados – Na verdade, todas vocês estão lindas. – ele disse, agora fazendo reverência para as outras garotas, e recebendo abraços apertados, e nada comportados, em troca.


Hermione ficou paralisada logo atrás, boquiaberta com toda aquela situação. Como Draco poderia ser tão cara-de-pau fazendo isso ali, com ela logo atrás? Era como se ele estivesse esfregando na cara dela que ela não era nem um pingo importante e que ele não estava nem um pouco se importando se ela via aquilo ou não. Ela sentiu que o seu sangue já deveria ter entrado em ebulição vendo aquela cena patética dele tecendo elogios com todas as garotas, de forma galanteadora e muito, mas muito irritante.


– Nós estávamos esperando ansiosamente por você! – a morena gesticulava com uma mão, enquanto segurava uma taça de bebida na outra, fazendo o máximo possível para se manter próxima dele – Você saiu a mais de duas horas! Pensei que não iria mais querer a nossa companhia! – ela fez um biquinho magoado.

– Infelizmente (ou felizmente, no caso pra mim) ele vai ter que perder a ilustríssima companhia de vocês, porque, caso não tenham percebido, ele está acompanhado. – Hermione surgiu por trás de Draco, se colocando na frente dele e ao lado do grupo de garotas – Vamos Draco, eu quero que você me mostre o restante da festa! – ela fez uma cara de quem não pedia, e sim mandava. As meninas olhavam dela pra ele, fazendo pouco caso do olhar ameaçador da Castanha, e Draco continuava sem mover um músculo. – Ótimo! Talvez eu encontre algum garoto que esteja interessado em me acompanhar por aqui!


Hermione bateu em retirada, se recusando a ver se ele viria ou não atrás dela. Mas, no fundo, ela sabia que ele não viria... Draco girou os olhos de forma impaciente, se perguntando o porquê dela ser sempre tão infantil. Ele continuou em pé, ao lado do grupo de garotas, e contando os segundos que ela voltaria e pediria a companhia dele.


– Olá gatinha! – um garoto alto e moreno surgiu na frente de Hermione, interrompendo o trajeto dela – Tá a fim de uma bebida?

– Eu não bebo! – respondeu grosseiramente.

– Quer dançar? – ele insistiu.

– Eu não... – ela se calou por um instante, respirando fundo. Abaixou o olhar para os próprios pés, lembrando do que havia dito há quase um minuto, e, por fim, levantando a cabeça e dando um largo sorriso – Sabe, até que seria uma boa idéia.


O garoto sorriu maliciosamente estendendo a sua mão para alcançar a de Hermione, e teria conseguido se uma outra mão não estivesse feito isso. Draco havia corrido disparado, ignorando a sexta vez que Lizzie declamava a dificuldade de achar vestidos justos, decotados e de marcas famosas em Londres. Hermione se assustou, mas, ao ver Draco, lançou um olhar significativo ao moreno, dando a entender que não entendia o porquê daquele “desconhecido” pegar a sua mão.


– Kevin, vejo que já conhece a minha namorada. – ele respirava pausadamente tentando esconder o quanto havia corrido.

– Namorada? – ele perguntou confuso – Ele é seu namorado? – perguntou, olhando para Hermione.

– Eu sinceramente não sei do que ele está falando. – ela falou, dirigindo-se à Kevin, e, logo em seguida, olhando para Draco – Solte a minha mão, por favor. – ela tirou grosseiramente as mãos das de Draco – Não vê que estou acompanhada?

– Não é hora de gracinhas, querida. – Draco tornou a pegar na mão dela, dessa vez puxando-a de lá. Hermione virou para trás, mandando um tchauzinho para o garoto com a mão livre, fazendo Draco puxá-la com mais força.

– Vai sempre fazer isso quando eu tento conhecer alguém? – Hermione perguntou, puxando sua mão da de Draco.

– Você está compromissada comigo, esqueceu? – eles pararam perto de uma das inúmeras mesas de bebidas espalhadas pela sala, longe das outras pessoas, como se buscassem privacidade para mais uma de suas discussões.

– Oh, mesmo? – ela colocou uma das mãos sobre a boca, fingindo surpresa – Você chegou a avisar isso para alguma das suas amiguinhas?

– Cena de ciúmes logo agora, Hermione? – ele sorriu marotamente, observando a face furiosa da “namorada”.

– Eu? Com ciúmes de você? – ela deu um sorriso sarcástico – Vê se te enxerga Draco! Eu tenho mais com o que me preocupar do que impedir que violem a integridade de um ser tão inocente quanto você. – Um garoto passou por Hermione, dando uma piscadela para ela que ela não chegou a notar, e fazendo Draco, num impulso ciumento, abraçá-la por trás e puxando-a pela cintura de forma que os seus corpos ficaram muito próximos – E será se dá pra parar de me agarrar? – ela perguntou, sentindo arrepios nas costas, sem saber que ele também os sentiu.

– Isso faz parte do plano! – ele sussurrou com a voz rouca ao ouvido dela, ainda sem conseguir soltar a sua cintura fina, deixando-a com um frio no estômago e com arrepios incessantes percorrendo-a.

– É melhor deixar esse plano para quando o Miguel estiver por perto. – ela falou, já sem forças, tentando tirar sem sucesso as mãos dele da sua cintura, e não sabendo se não conseguia por sua fraqueza ou porque ele não queria.


Ele não largou a cintura dela, tampouco dirigiu qualquer outra palavra, e ela sentiu que a respiração dele estava bem perto do seu pescoço, quente e envolvente, fazendo as pernas dela quererem falhar. Draco encostou os seus lábios sobre o cabelo dela, sentindo o cheiro de rosas que emanava, e tecendo um caminho calmo até chegar ao pescoço dela. Hermione fechou os olhos lentamente, e, em um movimento involuntário, as mãos dela apertaram ainda mais as dele contra a sua cintura, declinando a sua cabeça para o lado na intenção de deixar o seu pescoço mais à mostra...


– Então você tá aí! – a voz de Leo soou um pouco grogue, fazendo-os se separarem subitamente. Hermione agradeceu mentalmente ao ouvir a voz dele, achando que estava a ponto de fazer uma besteira se ele não chegasse à tempo e interrompesse o que nem havia começado.

– O que foi, Leo? – Draco perguntou, mostrando impaciência, e tentando esconder o constrangimento.

– Cara, eu tava te procurando! – a festa ainda não tinha nem começado, e Leo já estava aparentemente fora de si, com a voz meio embolada – Você saiu há um tempão e... UAU! – os olhos dele caíram sobre Hermione, com um brilho malicioso – Você não me apresenta? – perguntou à Draco, tendo como resposta apenas a careta irritada do loiro.

– E por que te apresentaria? – perguntou grosseiro. Leo apenas sorriu, segurando firme no copo de bebida que estava em sua mão, e voltando a sua atenção para Hermione.

– Está sozinha? – Draco girou os olhos, e Hermione apenas o olhava, não dando atenção – Talvez seja melhor você andar comigo. Sabe, ele tem namorada.

– É mesmo? – Hermione perguntou, fazendo pouco caso.

– E ela é horrivelmente ciumenta! – Hermione arregalou os olhos – Você não iria gostar dela. Ela é chata, é metida à CDF, e é mandona de mais. Se ela estivesse aqui provavelmente já teria acabado com toda a nossa diversão, já teria nos dado detenção, ou nos levado para McGonnagall...

– Leo, ela é a Hermione. – Draco disse com simplicidade, interrompendo o discurso do amigo, e se contorcendo para segurar o riso. Leo parou de falar, mas logo começou a rir descontroladamente, tomando mais um gole da sua bebida, ignorando o olhar da Castanha.

– Por um instante eu tive a certeza de ter ouvido o nome da Granger. – ele olhou para Draco, e logo o seu sorriso desapareceu – Granger? – ele piscou os olhos várias vezes, olhando a garota de cima a baixo, e os esfregou tentando enxergar melhor – Acho que eu bebi de mais...

– Você bebeu de mais e eu bebi de menos! – Draco foi até a mesa de bebidas próxima a eles, e voltou de lá com dois copos nas mãos.

– Isso é suco de abóbora? – Hermione perguntou interessada, olhando para o líquido alaranjado, e não entendendo o porquê deles rirem daquela forma.

– Você ouviu, Leo? – Draco deu logo um dos copos para Hermione, antes que ele caísse devido às suas risadas – Nas festas da Grifinória vocês só tomam suco de abóbora? – Hermione se sentiu corar de vergonha, e Leo se encostou contra a parede tentando segurar a sua crise de risos – Como são as festinhas de vocês? Todo mundo se reúne em uma roda, contando piadas, comendo sapinhos de chocolates e cada um enche a cara com... suco de abóbora? – ele riu mais uma vez, limpando as lágrimas com a costa da mão – Nossa, que divertido!

– Para o seu governo, nossas festas são divertidas sim! – ela cruzou os braços, já furiosa com a crise dos dois – E também tem bebidas! – ela disse, lembrando que Fred e Jorge contrabandeavam barris de cerveja amanteigada para dentro do Castelo.

– Claro que tem bebidas! – Leo disse com naturalidade, já recuperado dos seus acessos – Suco de abóbora, ora! – Draco não agüentou e mais uma vez caiu na gargalhada. Hermione podia jurar que, se ele não parasse, ela jogaria toda a bebida na cara dele.

– Não vai tomar a sua bebida? – Draco perguntou, dessa vez sem rir, encarando Hermione.

– E o que é isso? Veneno? – ela perguntou, levantando o copo na altura do rosto de Draco.

– Depende do seu ponto de vista. – ele disse, tomando o conteúdo do seu copo a longos goles – É Firewhisky.

– Vai me dizer que nunca bebeu na vida, Granger? – Leo perguntou, fazendo uma careta gozada.

– É claro que eu já bebi! – disse irritada, lembrando que a única coisa que realmente já bebeu na vida foi cerveja amanteigada que, ela sabia, o efeito alcoólico não era nem um quinto do firewhisky – E eu bebo agora, se quiser!

– É? – Draco arqueou uma sobrancelha em sinal de desafio – Pois eu duvido!

– Duvida? – ela deu um sorriso forçadamente confiante a ele, e olhou com certa repulsa para a bebida – Então, apenas veja!


Sem ao menos se dar o luxo de pensar no que estava fazendo, Hermione entornou o copo, bebendo a longos goles o seu conteúdo. Ela tentou controlar uma careta, mas era impossível. Aquilo era simplesmente horrível, no início tinha um gosto amargo e descia pela garganta fazendo-a arder, e ela tinha a impressão que aquilo rasgava a sua garganta. Ela tentou abrir os olhos uma, duas, três vezes, mas havia ficado difícil, e a sua mente parecia ter ficado instantaneamente devagar, e ela só lembrava que o seu estômago estava vazio, e que isso só iria piorar.


– O que estão olhando? – ela perguntou, conseguindo finalmente abrir os olhos, e encarando o olhar curioso dos dois.

– Como se sente? – Draco respondeu com outra pergunta.

– Bem. – mentiu. Como eles podiam beber aquilo como se fosse água? – Mas não bêbada o suficiente. – completou, tirando o copo de Leo das mãos dele com facilidade, já que a única coisa que ele realmente prestava atenção era nas pernas dela.

– Não, Hermione! – Draco tirou o copo das mãos dela – Você já provou o quanto você bebe. Agora já chega! – Hermione tentou puxar de volta o copo, com uma careta mimada, mas Draco foi mais rápido, elevando o copo – Eu disse que já chega! – ele tornou a falar.

– Chato! – ela resmungou, sentindo que a sua cabeça não estava mais em condições normais.

– Já está quase na hora. – Draco olhava o relógio, que já marcava quase meia-noite – Daqui a pouco ele vai chegar.

– É, ele vai chegar. – Leo repetiu, ainda sem se dar conta do que Draco falava, e mais preocupado em observar outras coisas...

– Eu tenho que ir falar com a Marietta. – Draco se lembrou do combinado, colocando o seu copo vazio sobre a mesa – Eu volto já. – ele disse, se dirigindo à Hermione.

– Hei, e eu? – ela perguntou, já preocupada em ficar ali sozinha.

– Se quiser, eu posso te fazer companhia. – Leo respondeu prontamente – Podemos conversar um pouco, beber algo, dançar...

– Você vai comigo! – Draco não deu tempo de Leo continuar, apenas o puxou pelo braço, não gostando muito da sensação que experimentara vendo um garoto dando em cima dela.

– E o que eu faço aqui sozinha? – ela perguntou à Draco, se aproximando deles.

– Siga o meu conselho: Se divirta! – ela ficou parada logo atrás, vendo-os se afastar, e não acreditando que ele ia deixá-la sozinha em uma sala repleta de sonserinos.


Como ele podia falar naturalmente “Se divirta!” como se fosse a coisa mais fácil do mundo? Não dá pra caber ma mesma frase ‘sonserinos’ e ‘diversão’, pelo menos não o tipo de diversão dela. E, certamente, as diversões deles eram bem diferentes. Eles deveriam se divertir torturando pessoas com crucios, queimando trouxas na fogueira, treinando avadas em sangues-ruins, bebendo até cair... E ela? O que faria ali, no meio de tantos sonserinos reunidos por metro quadrado?

Hermione bufou, e rumou para o local mais escondido que viu já se sentindo envergonhada com alguns olhares em cima dela. Já havia passado alguns minutos sem sinal de Draco, até a porta do Salão Comunal ser aberta, e ela respirar aliviada por isso achando que ele já teria voltado. Mas, para a sua surpresa, não era Draco que aparecia, e sim uma garota de traços orientais e cabelos negros e lisos, que balançava como se pudesse haver um vento forte ali. Cho Chang entrava ao lado de John, que estava acompanhado de uma sonserina que Hermione não conhecia, e de mãos dadas com Miguel. “Por que esse traste tinha que estar tão bonito?”

Ele vestia uma camiseta branca com um casaco negro por cima, uma calça jeans, um tênis e pronto! O cabelo com aparência molhada e levemente bagunçado (Bagunçar o cabelo agora virou moda?, ela pensou ao olhá-lo) caindo sobre os olhos, junto com uma expressão não muito amigável traduzida em seu olhar. Cho passou o seu braço pelo dele, como se mandasse um recado para as desavisadas que ele não estava sozinho. John passava cumprimentando alguns garotos da Sonserina, Cho acenando para algumas meninas, e ele limitou-se ao silêncio, não se sentindo exatamente confortável ali. Cho parou perto de um grupo de garotas, iniciando uma conversa animada com elas, enquanto ele continuava parado ao lado dela, de mãos dadas, com uma feição desconfiada. Ele rodou o seu olhar pela Sala e, por um momento, Hermione achou que ele poderia estar procurando por ela, e tratou de se encolher mais onde estava. Talvez ainda não tivesse chegado o momento.


– O Draco tá te procurando. – Leo surgiu ao lado de Hermione, fazendo-a pular de susto – Não se preocupe, eu não mordo! – brincou.

– Eu não teria tanta certeza. – ela respondeu, acompanhando-o, e vendo que ele já estava com outro copo de Firewhisky na mão. Como ele podia agüentar?


Ela passava por entre grupos de pessoas, andando logo atrás de Leo, e querendo sumir com alguns olhares maliciosos que os garotos lhe dirigiam. Ela pensou o que aconteceria se não estivesse usando a sua jaqueta, mostrando a blusa de que Gina lhe emprestara, na verdade, lhe forçara a usar. Com certeza já teria corrido de lá.


– Agora deu pra sumir? – Draco perguntou ao ver Hermione se aproximando, puxando-a logo para ficar do seu lado, e sem saber exatamente o porquê disso... (N/A: Mas nós sabemos! hauhauhau)


Hermione preferiu não responder nada. Não tava nem um pouco a fim de discutir com Draco, apenas ficava se matando internamente só de pensar onde foi se meter. Miguel estava a alguns metros dela, e ela tentava de todas as formas se encolher entre Draco e Leo, sem ter ainda um pingo de coragem para passar na frente dele.

Quando a porta do Salão foi levemente aberta, o som foi logo desligado e as luzes foram automaticamente apagadas. Hermione murmurou um ‘Que brega!’, mas, no fundo, agradeceu por isso. Blaise passava pela porta, agarrado na cintura de Marietta, sem ter idéia que dezenas de pessoas estavam vendo isso, e sem entender o porquê da relutância dela. Certamente ele acreditava que ela queria lhe dar um “presentinho” de aniversário, e nessa hora Hermione imaginou que eles já estavam muito bem acostumados a fazer isso ali. E todos também ouviram quando Marietta falou um ‘Espera docinho!’. “Credo!”


– SURPRESA! – as vozes dos convidados ecoaram pelo Salão ao mesmo tempo em que as luzes foram acesas e o som foi ligado na altura máxima. Blaise encarava a todos com os olhos arregalados, enquanto todos riam por ele ser quase pego no “flagra”.


John foi o primeiro a aproximar-se de Zabinni, dando um abraço forte nele, enquanto ele ainda se recuperava do susto. Marietta lhe enlaçara pelo pescoço dando-lhe um longo beijo sob os constantes assobios de censura. Ele foi erguido por alguns sonserinos, enquanto passavam com ele pelo aglomerado de pessoas e ele estendia a mão para apertar a de todos por onde ele passava. Hermione não conseguia esconder o quanto achava aquilo ridículo, e ficou imaginando o que acontecia nos aniversários de Draco. Certamente ele deveria chegar imponente, voando na sua vassoura, enquanto os seus “súditos” o chamavam de rei. E ela riu ao imaginar isso.


– Cara! – Zabinni foi colocado no chão perto de onde Draco, Hermione e Leo estavam, e foi correndo até lá, abraçando os dois amigos – Eu sei que vocês fizeram isso! Cara... Eu... Eu nem sei o que dizer! Sério!

– Oh não! – Leo fez um biquinho enquanto tentava se equilibrar – Ele vai chorar. Pega aí um lencinho, Draco, que a mocinha tá emocionada! – eles três riam com as “porradas” mútuas que se davam, fazendo Hermione girar os olhos imaginando o quanto meninos eram carinhosos.

– E... DRACO? – Zabinni já estava a ponto de falar algo, quando percebeu uma pessoa ao lado do amigo que olhava para os lados fingindo que não estava ali – Esse aí é o meu presente?

– Hã? – Draco perguntou, fingindo que não havia entendido a piada, enquanto Hermione olhava indignada para o moreno – Essa é só a Hermione! – ele disse, fingindo pouco caso, enquanto Zabinni o encarava com a boca escancarada e Hermione lhe fuzilava com o olhar querendo entender o que ele quis dizer com ‘É só a Hermione’.

– Só? – Zabinni olhou Hermione de cima a baixo, esfregando os olhos da mesma forma que Leo havia feito anteriormente – Você tem certeza que é ? – ele e Leo trocavam olhares cúmplices, e Draco se sentiu desconfortável com isso – E desde quando virou muito? – Draco levou o seu copo de bebida à boca, não sabendo se era para dar tempo de pensar em algo para falar ou se era para evitar um palavrão justo no dia do aniversário do amigo.

– A festa está cheia. – o loiro mudou o rumo da conversa – Espero que tenha gostado.

– Se eu gostei? – Zabinni dava murros no ar, curtindo o rock pesado que estava tocando – Eu amei, cara! Quando eu vim pra cá, não imaginava uma festa dessas nem em anos-luz!

– É claro que não! – Leo o encarou, fingindo seriedade – Você estava mais preocupado em agarrar a Marietta.


E logo eles riam para se acabar, com as típicas conversas de meninos, enquanto Hermione ficava de costas fingindo que escutava a música (Green Day – Basket Case **), que, na verdade, ela nem sabia qual era. Zabinni pegou de qualquer jeito uma garrafa de cerveja amanteigada que um garoto, que passava por eles, bebia. E eles logo estavam em uma conversa pra lá de animada, cantando todas as meninas que passavam e, por alguns momentos, não se dando conta da presença de Hermione. Ou, pelo menos, fingindo não dar conta...

Hermione virou para encará-los, já querendo perguntar à Draco quando ele pararia de fingir que ela não existia, e deu de cara com Leo e Zabinni analisando algo nas suas costas que ela não tinha idéia do que era, ou, pelo menos, fingia não ter. Hermione se limitou a lançar um olhar mortal para eles dois, que fingiram não perceber.


– Mas é claro que você não vai ser tão egoísta não é, Draco? – Draco ainda ria, sem entender do que Zabinni falava – Você vai me deixar dançar com a sua namorada, não vai?


Certo, agora ele já havia passado dos limites! Primeiro ele já chega achando que ela é o seu presente, fica olhando algo nas costas dela que ela prefere nem pensar no que seja, fica lhe encarando como se ela fosse a própria garrafa de cerveja amanteigada, e ainda tem a cara-de-pau de querer dançar com ela? Hermione cruzou os braços, e olhando sério para Draco, cobrando, no mínimo, uma postura de namorado. Draco tomou um longo gole da sua bebida, dessa vez sem saber o que responder. Ele respirou fundo, contendo um “NÃO” que ele quase deixou sair, e olhou sério para Zabinni. Hermione respirou aliviada, acreditando que Draco não a trataria assim, como uma coisa.


– Ok, eu posso te emprestá-la. – ela arregalou os olhos, sem acreditar no que ele havia falado – Mas só porque hoje é seu aniversário. – ele disse por fim. Era impressão dela ou ele havia acabado de lhe tratar como um objeto?

– Hei, você não pode fazer isso, Draco! – Leo reclamou, olhando sério para o loiro.

– Finalmente você falou uma coisa que preste, Connel! – Hermione o apoiou, acreditando que havia alguém sensato ali.

– Se o Zabinni pode, eu também posso! – Hermione emudeceu, não acreditando que eles estavam discutindo uma decisão que só cabia à ela – Eu também quero, ora!

– Eu disse que só o Zabinni pode porque ele é o aniversariante! – Draco explicou, dando de ombros. Mas, no fundo, ele também não estava se agradando muito.

– Isso não é justo, Draco! Só por causa de um detalhe desses, ele pode e eu não? – Leo cruzou os braços, indignado.

– Será se ninguém aqui está interessado na minha vontade própria? – Hermione protestou, vendo que eles não se calariam – Eu não quero dançar com nenhum de vocês!

– A sua vontade é só um mero detalhe, Granger. – Zabinni disse sorrindo.

– Eu não vou dançar e ponto final! – ela cruzou os braços de forma mimada, fazendo os três garotos girar os olhos quase ao mesmo tempo.

– Era muito bom pra ser verdade. – Zabinni suspirou, tomando um gole da sua cerveja – A velha Granger está de volta.

– O que você quer dizer com velha? – Hermione perguntou, se amaldiçoando pela milésima vez por ter ido àquela festa.


Zabinni se limitou a sorrir, enquanto um garoto se aproximava deles, indo na direção dele. Hermione o reconheceu como sendo o mesmo garoto que conheceu, ou quase conheceu, no começo da festa. Kevin se aproximou de Zabinni, apertando a sua mão, e conversando sobre algo que Hermione não conseguia escutar devido à altura da música. Ele notou que Hermione estava lá e abriu um largo soriso para ela, o qual foi retribuído, fazendo Draco dar alguns passos até ficar no meio dos dois, interrompendo o contato visual.


– Nós estamos reunidos bem ali – Kevin apontou para um grupo de garotos, que bebia e conversava animadamente, sentados em um dos sofás – e queríamos saber se não querem sentar com a gente. – Draco olhou desconfiado na direção do grupo de garotos, e, em seguida, olhou para Hermione. Ele não parecia ter gostado muito da idéia.

– Eu não sei... – Draco disse prontamente, ainda na frente de Hermione.

– Ah não, Draco. – Leonardo protestou diante da careta não muito empolgada do amigo – Hoje é aniversário do Zabinni, e não é todo dia que fazemos festa por aqui! – ele disse sorrindo, lembrando que todas as semanas havia festa lá.

– Todos nós vamos! – Zabinni disse por fim, fazendo Draco dar um aceno quase imperceptível concordando. Kevin esticou um pouco mais a cabeça querendo fitar Hermione atrás de Draco.

– Você não vem? – Kevin perguntou, encarando Hermione com um olhar esperançoso.

– Eu...

– Ela fica! – Draco a interrompeu, evitando um possível “vou” – Eu volto já! – ele disse, e saiu logo em seguida sem dar nenhuma explicação, deixando-a com cara de boba.

– Definitivamente ele esqueceu que eu tenho vontade própria! – Hermione resmungou um palavrão, se dando conta que ninguém escutaria por causa da música, e ficando no meio da Sala, de braços cruzados.


Como Draco poderia fazer aquilo? Ela rumou para um dos cantos da sala querendo evitar alguns olhares que insistiam em procurá-la. Já era a segunda vez que ele lhe deixava sozinha, no Salão Comunal da Sonserina, no meio de um monte de gente estranha e nem um pouco confiáveis.

Garotos seriam sempre garotos! Provavelmente Draco deveria estar agora dando em cima de uma sonserina oferecida, e ela deveria estar dando altas gargalhadas das piadas sem-graça que ele sempre conta, agindo como se fosse algum tipo de sensação local. E, querendo ou não, ele era uma sensação local. Zabinni deveria estar enfeitando mais a cabeça de Marietta, e Leo talvez estivesse bebendo o seu centésimo copo de firewhisky e, daqui a pouco, já estaria jogado em qualquer lugar que fosse.

Hermione cruzou a sala, e encostou-se à parede que ficava em frente à uma mesa de bebidas, cruzando os braços. Ela esticou o olhar para a mesa. Havia bebidas de todos os tipos e cores, algumas em garrafas e outras em jarras, e elas estavam sempre cheias, provavelmente enfeitiçadas para nunca terminarem, e ela imaginou o estrago que Leonardo não faria com uma garrafa dessas. Ela se aproximou mais e resolver fazer algo: se já estava ali mesmo o que custava tomar só um pouquinho? Ela se repreendeu por isso, mas, afinal, todos não estavam bebendo ali? E talvez isso fosse até bom para esquecer o fiasco que essa festa estava sendo...

Já havia passado meia hora e nada de Draco voltar! No meio do Salão estavam grupos e mais grupos de pessoas, dançando feito bêbados (e, com certeza, bêbados) e pulando em cima dos sofás existentes. Os garotos se batiam uns nos outros, ao som de uma música agitada (N/A: Simple Plan – Grow Up) e jogando bebidas para cima, molhando todas as pessoas que passavam. Aquilo era diversão? E os hematomas também seriam divertidos por acaso?

Já havia passado pelo menos uns quarenta minutos e a sua cabeça já dava voltas. Ela sorvia longos goles da garrafa de firewhisky, que era interminável, e já nem tinha mais idéia de quanto tempo havia passado. Quarenta minutos, uma hora, uma hora e meia... Ela já nem dava mais conta disso, só sabia que Draco ainda não tinha dado as caras, e, pelo jeito, deveria ter lhe abandonado lá! Ela tomou mais outros goles e, lentamente, o ardor já não era mais sentido e o gosto amargo praticamente não existia. Vendo assim, era até gostoso... Já era a milésima vez que se repreendia por tomar uma bebida tão forte, e era a milésima vez que tentava dar conta do que passava pelo seu cérebro, mas ele já nem raciocinava mais e lhe deixava totalmente vulnerável. Estava sendo ridícula? Mas, e daí se estivesse? Amanhã não lembraria mais de nada mesmo!


– Droga! O Draco me paga! – ela murmurou para si, vendo a sala girar pela enésima vez, e sentindo o seu estômago borbulhar. Aquela não parecia ter sido uma boa idéia...


Ela colocou as mãos sobre os olhos, esfregando-os. Miguel estava na sua direção, mas, felizmente, no outro extremo da sala. Ele e Cho conversavam com um sonserino loiro, de porte atlético, que fazia parte do time de Quadriboll. Ela teve a leve impressão de ter visto Cho dando uma piscadela suspeita para o garoto loiro, mas deixou aquilo como invenção da sua cabeça, afinal, ela estava bêbada não é mesmo? E a sala estava rodando de mais para tirar qualquer conclusão de uma simples piscadela.

Ela tentava colocar o seu cérebro para funcionar fazendo uma lista de coisas que deveria fazer no dia seguinte, mas essa lista logo voou para o rumo de Draco e, consequentemente, para os outros garotos. O que eles estariam fazendo agora?


Leonardo era o típico galinha, daqueles que não se preocupam nem um pouco com a quantidade de cabeças que saem enfeitando, isso se ele já teve alguma vez na vida um namoro sério. Sempre conseguindo iludir garotas bobas com o seu ar despreocupado e o seu jeito de mexer nos cabelos negros, nunca deixando de dar piscadelas maliciosas com os seus belos olhos escuros e brilhantes, e, vez por outra, usando da arma de ‘Olhar De Cachorro Pidão’, jogando charme para qualquer garota que passasse. Ou quase qualquer garota...


– “Fala sério! Essa história de ‘Olhar de Cachorro Pidão’ é do tempo da vovozinha! Isso não deve funcionar mais!” – Hermione bebeu mais um gole da sua bebida e apertou os olhos ao ver Leonardo subindo para o dormitório abraçado a duas garotas e completamente bêbado – “É, acho que me enganei...”


Blaise Zabinni já era o famoso garoto arrogante, não mais que Draco na opinião dela, que só gostava de ser chamado pelo sobrenome como se isso lhe dessa a sensação de importância. Sempre mexendo nas suas trancinhas de um lado para o outro tentando chamar a atenção das garotas. E isso... bem, isso realmente funcionava! Fidelidade parecia uma palavra desconhecida pra ele já que, segundo Draco, ele namorava Marietta, mas, mesmo assim, era constantemente visto em companhias femininas, e sempre diferentes... Céus! Ele é mais rodado que um nuque! Já era comum nos jogos de Quadriboll vê-lo tirando a blusa só porque tinha defendido um gol, querendo mostrar todos os músculos que conseguiu com tanto esforço. Por Merlin! Quem tira a blusa só porque defende um gol? Não que aquela não fosse uma visão bem interessante, mas ele tinha que ser tão exibido assim?


– “Exibido e idiota!”


Draco seria talvez o único que não poderia faltar nessa lista. E, por quê? Somente porque ele insiste em sorrir galanteador para as outras garotas, fazendo Hermione se perguntar se ele realmente estava cumprindo o acordo de fidelidade? Ou porque ele nunca abandona aquele sorriso canalha que fica tão bem nos lábios dele? Ódio, ódio, ódio! Era só o que sentia por ele! E era possível sentir outra coisa? Claro que não! Como sentir algo que não fosse ódio por uma pessoa que só sabia irritá-la? Ou seria porque ele tocava piano de uma forma que fazia as borboletas no estômago dela voarem felizes? Sim, e ele merecia a cadeira elétrica por isso! Ou porque ele falava francês fazendo biquinho e deixando-a sonhar noites a fio com aquele biquinho? Sim, e ele merecia ficar o resto da vida com uma mordaça na boca para nunca mais mostrar aquele biquinho pra ninguém! Safado, safado, safado! Era isso o que ele era! E não interessava nem um pouco as razões, afinal, ser safado tem explicação? Obviamente não! E agora ela estava ali, sozinha, se escondendo do olhar de qualquer um, enquanto ele, possivelmente, estava cantando alguma garota.


– “Tudo bem que o nosso namoro é tão verdadeiro quanto o fato de eu achar o Filch sexy. Mas eu mereço ao menos um pingo de respeito!”


Harry não era nenhum safado, tampouco era conhecido na escola como o menino-que-sobreviveu-a-chifres ou, melhor, colocando chifres. Não que aquela reportagem boba sobre as “puladas de cerca” dele não tivesse diminuído um pouco a sua reputação como garoto doce e ingênuo, e Hermione sabia que era assim que ele era, talvez tirando a parte do ingênuo... Mas será se não dava para incluí-lo na lista pelo simples fato dele nunca ter percebido existência dela? Pelo menos não como ela queria... E, para piorar, olhando para outras garotas enquanto ela estava sempre ali, ao lado dele, embaixo do seu nariz, esperando por um simples ‘Eu te amo’, mesmo não sendo tão simples assim! Ele era um destruidor de corações sem ao menos saber...


– “E, se depender de mim, não vai saber nunca!”


O que falar de Rony? Não tinha muito que falar de Rony fora o fato dele passar as últimas férias na Toca, principalmente quando algum membro da Ordem trazia mais evidências da volta de Voldemort, tendo colapsos mentais com medo que a guerra chegasse logo e ele morresse virgem. Mas isso seria pecado ou então seria um forte sintoma típico de homens safados? Talvez não, afinal, qual garoto não tem medo de morrer antes de fazer sexo? NENHUM! E se esse for um pré-requisito para ter a entrada garantida na “Lista de Homens Safados”, um Convento parece ser uma boa opção...


– “Será se pedir a Luna em namoro o enquadra na lista?” – ela balançou a cabeça negativamente – “Não, Hermione! Isso não tem nada haver! Quem sabe quando eu fizer a lista de ‘Piores Loucuras Já Cometidas’ ele fique no topo?”


E Miguel...


– “Preciso mesmo explicar?”


Richard talvez fosse o único garoto que não era galinha, ou metido. Conquistaria qualquer garota com o seu sorriso tímido e sem jeito. E, com certeza, nunca estaria metido em um local como aquele, rodeado de meninas passando a mão. Ele deveria ser o único garoto que realmente valeria à pena, uma espécie de exceção na sua lista. E porque não o último de uma espécie em extinção: a dos homens honestos? E ele seria um ótimo namorado se ao menos as garotas daquela escola notassem a existência dele, notassem a sua simpatia, notassem...


– Eu não acredito! – Hermione apertou os olhos tentando acreditar no que estava vendo – Acho que essa espécie não existe!


A poucos metros de onde estava, havia um sofá repleto de garotas e, no centro delas, estava Richard. Elas passavam a mão pelo cabelo dele fazendo-o prometer que faria gols para elas. Hermione esfregou os olhos diversas vezes tentando acreditar que não era bem aquilo o que via, mas não: Era realmente ele. E, pela sua expressão, ele não estava muito confortável, tinha um sorriso tímido e engolia em seco quando as garotas passavam as mãos pelos braços dele. Mas ele não podia negar uma coisa: estava gostando daquilo. Será se elas finalmente tinham notado o monumento que estava sempre ali, perto delas, ou só agora sabiam que ele era o novo artilheiro do time de Quadribol?


– Ei Ricky! – ela se aproximou dele, dando-lhe um sorriso, e se equilibrando para não tontear.


Ele piscou uma, duas, três vezes, ainda não tendo certeza se o que via era verdade. Hermione se aproximou mais dele, e sorriu quando ele levantou indo a seu encontro.


– Acho que agora você merece estar na lista! – ela disse enquanto ele se aproximava.

– Hã? – ele perguntou olhando para ela, confuso.

– Esquece. – ela sorriu novamente ao vê-lo arregalar os olhos, analisando-a – Está se divertindo?

– Eu não sei... Eu... Hermione? – ela arqueou uma sobrancelha vendo-o engolir em seco – É você mesma?

– O que você acha?

– Eu acho que eu estou sonhando... – ele pigarreou ao vê-la corar – Quer dizer... Eu... Er, eu nunca imaginaria que era você. Você está... linda? – ele pigarreou novamente, tentando esconder o quanto gaguejava – Acho que isso não é o suficiente...

– Pelo visto você não está sozinho. – Hermione olhou para as garotas, que olhavam para ela como se a medissem – De onde vieram tantas garotas? – ela perguntou de uma forma cômica.

– Acho que elas surgiram...

– Surgiram? – Hermione gargalhou ao vê-lo desconcertado – Surgiram de onde? Azkaban? – perguntou, ao ver o olhar assassino que elas lhe lançavam.

– Muito engraçada! – ele sorriu para ela, enquanto suas bochechas ficavam avermelhadas de vergonha – Você quer sentar em algum lugar? Nós podemos conversar... Isso se você estiver sozinha, é claro.


Hermione sorriu. Finalmente teria alguma companhia para conversar, e tirá-la daquele tédio. Mas quando pensou em responder, uma garota loira surgiu sem aviso algum e tascou um beijasso em Richard, na sua frente. Richard arregalou os olhos devido ao susto, e Hermione apenas deu meia volta, ignorando os chamados dele enquanto ele tentava desgrudar a boca da garota da sua.


– Ótimo! Mais uma para o meu estoque de humilhação da noite!


Agora ela podia ter a certeza que a ‘Espécie Dos Homens Honestos’ estava terminantemente extinta da face da Terra. E Ricky, a sua última esperança, tinha vendido a alma no instante em que aquela garota o beijou. Eles tinham que ser todos sarados e bonitos? Isso era algum tipo de carma? Como sempre eles eram mais preocupados com a cabeça de baixo do que com os sentimentos de alguém. Falsos! Cretinos! Hipócritas! HOMENS! Se juntar todos não valem uma cerveja amanteigada!

Hermione voltou novamente para o local que esteve a poucos minutos, tendo a certeza de que nunca deveria ter saído de lá, praguejando contra o maldito ser que quis que ela existisse. Foi quando ela viu uma garota correr aos prantos. Marietta passou chorando por Cho, limpando as lágrimas com fúria enquanto atravessava a porta que dava saída daquele Salão. Draco realmente estava certo sobre aquela história de “atual futura ex-namorada”! Cho falou qualquer coisa para Miguel, enquanto lhe entregava a sua bolsa para que ele segurasse, e saiu correndo atrás da amiga, sempre balançando os cabelos de um lado para o outro esquecendo que não havia ventania daquela proporção em uma sala fechada. E, ao mesmo tempo, o mesmo garoto loiro que ela viu conversando com eles dois anteriormente também saiu do Salão Comunal, e logo depois dela... “Você já está viajando, Hermione Granger!”

Hermione respirou fundo. Aquela era a hora de fazer o que já deveria ter feito! Ela olhou para os lados tentando achar pelo menos um vestígio de Draco, mas ela tinha a certeza de que ele não apareceria e que ela teria que fazer isso só. Ela encheu o copo de firewhisky, e tomou tudo a longos goles. A sua cabeça deu tantas voltas que ela teve que se segurar na parede para não tontear. “Agora Hermione, tem que ser agora!” Ela colocou o copo sobre a mesa e começou a andar a passos pouco firmes na direção dele. “O que foi mesmo que a Gina disse? Confiança, perseverança e lealdade? Não, foi segurança, ousadia e igualdade... social? Ou será que foi... Droga! A minha cabeça tá um caco!”

Miguel bufou não gostando muito da idéia de ficar sozinho ali. Ele se encostou contra a parede, com a bolsa de Cho em uma das mãos, e olhando para os lados a todo o tempo com se receasse ser azarado. Foi quando o olhar dele caiu sobre uma garota que vinha em sua direção, e se aproximava cada vez mais. Ele a olhou da cabeça aos pés e, sem querer, deixou o seu queixo cair alguns centímetros. Hermione deu um sorriso malicioso quando viu que a bolsa que ele carregava caiu no chão...




Continua...


N/A: Oi pessoas! Uma N/A descente no próximo capítulo! Bjos



Srta. Granger Malfoy

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