A Roda da Fortuna
Capítulo 21
A Roda da Fortuna
Depois que Celina chegara à Londres, terminada a missão, ficara enfurnada no ministério junto aos aurores que a acompanharam. Tinham chegado à noite e tiveram uma breve reunião com Kingsley Shacklebolt e relatórios sem fim. O desaparecimento que investigaram não havia se mostrado em nada, como se alguém estivesse brincando de esconde-esconde com os aurores. Havia algo errado, ela podia farejar, era como se, nos últimos meses, uma quantidade incomum de coisas aparentemente simples estivessem acontecendo, mas não fossem tão comuns como os meios de comunicação diziam. Desaparecimentos, mortes estranhas, tudo parecendo estar fora do mundo mágico. Mas Celina conhecia o mundo trouxa, e algo ali não fazia sentido. Quem se interessaria em dar fim a historiadores, por exemplo? Alguém interessado em alguma história? Mas, se fosse o caso, qual história?
Celina suspirou, o banho servindo para relaxar as articulações e os músculos doloridos. Era madrugada alta quando, finalmente fora liberada para ir para casa, e agora se via sem conseguir dormir. Havia um vestido muito bonito esticado sobre sua cama, coisa trazida por Florência, com certeza. Graças a Merlin, pelas mães corujas. O que lhe lembrava: o baile para o Ministro seria na noite daquele dia que se iniciava. Alongando demoradamente o corpo, Celina pensou em descansar, estar pelo menos apresentável para a ocasião. Mas, como acontece quando se está cansado demais para dormir, seu corpo se recusou a simplesmente se desligar. Ela então resolveu se ocupar de seu apartamento, enquanto o sono não vinha. Desfez malas, organizou coisas e, por fim, deu atenção a seu correio, dois montes empilhados lado a lado sobre uma mesinha. Correio “trouxa”, correio bruxo. Mais uma vez, coisa de Florência, que ainda insistia em aparecer para ajudar em tudo.
Foi um velho baú, encostado a um canto, que tirou toda sua atenção das correspondências. O que seria aquilo? Parecia familiar... Foi quando viu o bilhete fixado no tampo da caixa. Letra de Florência.
“Querida, com os atuais acontecimentos, talvez seja hora de retornar ao passado. Faça isso para melhor entender o presente e, talvez, planejar o futuro.
Com amor, mamãe.”
Atuais acontecimentos? Celina juntou as sobrancelhas, não entendendo o bilhete e nem o objeto antigo, estacionado em sua sala. Então se lembrou num estalo: o baú onde a mãe guardava suas lembranças! O mesmo baú no qual Celina encerrara todas as suas memórias depois de finda a guerra. Ela sacudiu a cabeça, com um arrepio. Quisera ter enterrado seu passado também.
Cinco anos depois. Cinco anos de distância das suas lembranças. Ela abriu o baú sem temor, parecia não haver nada que ainda a fizesse sofrer. Fotos desbotadas acenavam sorridentes, bilhetinhos, flores secas e um inexplicável papel de chicle baba-bola. Montes de coisas soltas. E ali estava seu “túmulo”, a caixa de música que ganhara num Natal distante.
Remexendo devagar, Celina retirou os papéis envoltos numa larga fita roxa, resquícios de sua antiga vida. Por cima de todos, a prova de que já sorrira despreocupada, de que já confiara nas pessoas e na vida. Harry e ela numa foto da época de Hogwarts. Ela se lembrava exatamente do momento em que fora batida, de Colin Creevey pedindo permissão. Mas como era estranho se observar “de fora”, sorrindo para a câmera, enquanto Harry não se desviava de seu rosto, jamais olhando para frente. Parecia enxergar apenas a ela, estar perdido nela.
Analisando a foto com distância, Celina concluiu que era como se pertencesse a pessoas desconhecidas, o que acabava por ser verdade. Não se reconhecia mais ali. Não reconhecia ao rapaz tampouco. Estranho que, mesmo assim, aquilo se parecesse com um agouro. Não sabia se bom ou ruim. Foi quando, como que para aumentar a estranha sensação, um bilhete solto escorregou de sua mão e ela o apanhou no ar.
“Para você nunca se esquecer de dançar, ser feliz e fazer os outros felizes. Harry”
Um estremecimento. Coisa leve, controlada. Ela realmente não se esquecera de dançar. Pena que fosse apenas aquilo. Girando a pequena chave de corda, Celina se pôs à prova e fez a música tocar, liberando a pequena bailarina em sua dança. Lá fora, o dia nascia em tons de violeta, mas seus olhos vermelhos de cansaço continuavam se recusando a fechar, mas ela conseguiu até sorrir com a balada. Sim, ao menos quando acordada, Celina comandava seu coração. Ficou assim por muito tempo, revirando o passado, sorrindo de si mesma. Jamais suspeitaria que, entre o seu sono e o seu acordar, sua vida voltaria a mudar, trazendo velhos fantasmas de volta, velhos sentimentos que não achava mais possuir. A roda da fortuna girava novamente.
Well you didn't wake up this morning,cos you didn't go to bed,
Bem, você não acordou esta manhã, porque você nem foi para cama
You were watching the whites of your eyes turn red.
Você ficou observando o branco dos seus olhos ficarem vermelhos
The calendar on your wall,is ticking the days off,
O calendário na sua parede está tiquetaqueando até os dias de folga
You’ve been reading some old letters,you smile and think how muchyouv'e changed,
Você andou lendo umas velhas cartas, você sorri e pensa o quanto você mudou,
All the money in the world couldn't buy back those days.
Todo dinheiro do mundo não traria de volta aqueles tempos
You pull back the curtains and the sun burns into your eyes,
Você puxa as cortinas e o sol queima os seus olhos
You watch a plane flying,across the clear blue sky.
Você vê um avião voar através do claro céu azul
This is the day,your life will surely change,
Este é o dia, sua vida realmente vai mudar.
This is the day,when things fall into place.
Este é o dia, quando as coisas vão se encaixar.
You could of done anything,you'd wanted,
Você poderia ter feito qualquer coisa, se você quisesse
And all your friends and family think that your lucky.
E todos os seus amigos e familiares acham que você é sortudo
There's a time you'll never see,when you left them only memories,
Há um tempo que você nunca verá, é quando você está sozinho com suas memórias
That hold your life,together like glue.
Que unem sua vida como cola
You pull back the curtains and the sun burns into your eyes,
Você puxa as cortinas e o sol queima os seus olhos
You watch a plane flying across the clear blue sky,
Você vê um avião voar através do claro céu azul
This is the day,your life will surely change,
Este é o dia, sua vida realmente vai mudar.
This is the day when things fall into place.
Este é o dia, quando as coisas vão se encaixar.
XXX
Celina começara a ter pesadelos recorrentes depois que se recuperou das maldições de Bellatrix e, após um tempo, descobrira que o melhor meio de conseguir uma boa noite de sono era se cansar ao máximo, caindo num torpor pesado que durava até o dia seguinte. Porém, ainda aconteciam. Eram três pesadelos, os principais. Acordar por sonhos com o pai, o que a fazia chorar sentidamente. Acordar por sonhos com Harry, o que não era exatamente um pesadelo, mas a deixava furiosa. Como podia sonhar com alguém que a desprezara? Ela se fazia esta pergunta com raiva, procurando negar o orgasmo profundo que a despertava. Em dias assim, Celina ficava feliz em poder correr para um trabalho que não lhe dava tempo para nenhuma introspecção incômoda. Porém, a terceira categoria era um caso à parte. Nunca eram muito nítidos, nem necessariamente os mesmos, mas eram sonhos muito ruins. E com a mesma tenebrosa conseqüência. Já tinha sido com Bellatrix a torturando, com o assassinato de Gabriel McGregor e com o seu filho chorando por ela, sem que pudesse salvá-lo. Este último era, de longe, o pior.
E os efeitos desta última categoria de pesadelos não eram apenas emocionais, mas físicos. Celina acordava com uma profunda náusea e, não raras vezes, com as mãos sangrando em abundância, sem qualquer ferimento ou explicação plausível. Apenas sangrava pelos poros das palmas até desmaiar. Já acontecera algumas vezes, e todas a deixaram fraca o suficiente para Florência beirar um colapso de pânico. Mãos sangrando. Igualzinho a quando Bellatrix morrera por suas mãos. Amaldiçoando-a.
Maldições... Celina se remexeu inquieta em seu sono. Maldições não eram fáceis de serem quebradas. O pesadelo estendia suas garras frias. Hora de sofrer. Foi quando sentiu algo a trazendo de volta, algo morno, familiar. Um peso se afundando na cama, a seu lado. Estava em seu quarto e não estava sozinha. Mas se este também era um sonho... Certamente não parecia ruim.
- Você está dormindo, mas não é sonho, maluquinha – ele passou as mãos em seus cabelos devagar.
- Você voltou? – ela sentou-se aturdida, examinando um rosto jovem e inalterado pelo tempo.
Dimitri Kasinski, aos quinze anos de idade.
- Eu nunca fui embora realmente – ele sorriu segurando suas mãos. – Mas você precisava parar de esperar por mim. Voltar a ser feliz.
- Eu não fui – ela confessou com um sussurro. – Não tive nada de feliz.
- Não? – ele a fez encará-lo. – O sofrimento não anula os momentos bons, ou eu jamais estaria aqui. Feliz e ao seu lado. Você não acredita?
- Você é um sonho – ela constatou, franzindo o rosto com amargura. – Um sonho bom e cruel. Isto não é real.
- Você ficaria surpresa com o que é real – ele sorriu suavemente. - Sua vida não está sendo real. Eu sou o mesmo Dimitri de sempre. O que brincava no seu jardim, o que te abraçava sob a cerejeira. Sou eu sim, e vim te trazer a esperança que você perdeu.
- Como? – ela falou sem perspectiva.
- Confia. Sua vida está para mudar. Só não sei como. Isso vai depender de você e do que fizer com suas oportunidades. Nada mais.
- Eu não sei se posso mudar. Não sei se quero – Celina sentiu lágrimas queimando seus olhos. – É tarde demais.
- Eu não teria vindo se soubesse que era um caso perdido – ele disse docemente. - Você me ama?
As lágrimas não puderam ser impedidas, seu corpo todo tremia e Celina fez uma careta de profunda dor.
- Para sempre – disse quase sem voz.
- Então confia, seja forte... E continue lutando.
- Não vá embora! Ainda não! – ela tentou retê-lo, então ele se inclinou em sua direção e pousou um beijo delicado em sua testa, ao mesmo tempo em que tambores impertinentes começaram a soar.
Celina pulou da cama com o coração aos saltos. Na porta, alguém batia sem cessar.
- Dimitri... – claro que ele não estava lá. Já era noite e ela estava confusa, no meio do quarto escuro, como há tantos anos. Mas desta vez era diferente, ele viera, não para se despedir, mas para dizer que nunca se fora. Dimitri viera para lhe ajudar.
Celina vestiu um robe e correu para a porta. Quando a abriu. Deparou-se com Jason, Benjamin e David Kiddo. Seus amigos aurores, em seus melhores trajes. “O quê...”
- O baile! – ela bateu com a mão na testa. Já era noite e tinha se esquecido completamente. - Ah, Merlin, estou muito atrasada? – Celina os colocou para dentro e não perdeu tempo em correr para o quarto.
- Considerando que a festa está sendo dada em sua antiga casa, por sua mãe – Jason falou divertido – e que você é prima do Ministro...
- Só um pouquinho atrasada, Lux! – David riu, se jogando no sofá.
- Charmosamente atrasada – completou Benjamin, falando alto para o corredor. – Todo o Ministério reunido te esperando, quero ver qual desculpa você vai dar.
- Não enche, Travis! – a voz dela chegou abafada até eles. Um barulho distante de chuveiro se fazendo.
Eles sentaram-se relaxados e risonhos, comentando sobre a festa que estavam indo, não para trabalhar, mas para aproveitar. Kingsley achara que o grupo merecia um descanso depois da última missão. Uma alteração bastante agradável em suas rotinas.
Pelos ruídos, os rapazes calcularam que Celina já tinha saído do banho e que estava correndo para todo lado do quarto.
- Depressa! Olha o Ministro! – Dave trovejou, só pra chatear.
- Não precisam me esperar! – ouviram-na gritar do quarto. – Podem ir na frente!
- Claro que precisamos te esperar! – David devolveu da sala, raciocinando espertamente. – Com você do lado, vamos ser convidados VIP!
Benjamin deu uma rápida gargalhada sob este comentário:
- Aproveite bem, Kid – implicou. – Se o Ron estiver neste baile, e há boas possibilidades, esta pode ser sua última noitada.
O auror novato fez um esgar de apreensão:
- Mas aquilo do ombro dele foi sem querer. Será que ainda está bravo? – olhou significativamente para Jason, que parecia ter sempre o poder de sanar as aflições de todo mundo.
- Nahh... – o auror respondeu, escondendo rapidamente um sorriso maroto. – Ele provavelmente já se esqueceu. Mas eu não ficaria na mira daquela varinha, se quer saber.
Dave engoliu em seco, e nos longos minutos que se passaram, ele tamborilou os dedos sobre o braço do sofá, aparentando descaso, mas não estando mais tão impaciente com a demora de Celina. Não estava lá com muita pressa de dar de cara com um ruivo furioso.
- Cara – falou com um falso ar de impaciência, só para despistar -, por que garotas demoram tanto?
- Por um bom motivo – Benjamin olhava para o corredor, logo em seguida dando um longo assovio.
David seguiu o olhar do amigo, vendo Celina surgir com um longo vestido preto de gaze que descia até os pés, mas a despeito da saia farta, parecia tão leve que era quase como se ela não estivesse usando nada. Parecia um anjo negro. A boca do garoto caiu, fazendo Jason rir gostosamente:
- Valeu esperar, heim, Kid?
- Obrigada pelo elogio, Dave – Celina riu de leve, caminhando até o centro da sala. – Não poderia ser mais enfático, ainda que me faltem as asas.
- Merlin, Lux! Você está... Cara, eu não sei como fez isso tão depressa, mas devia se vestir de garota mais vezes! – o garoto estava tão embasbacado que nem reparou que a colega havia usado legilimência em si.
- Você nunca tinha visto ela assim? – Ben gracejou para o amigo, com um jeito de superioridade. – Eu já tive o privilégio, em Hogwarts. E, se meus lábios não me enganam, tive um outro melhor ainda...
- Bah... Deixa de lorota, Travis – Kiddo rebateu – Todo mundo já escutou essa história patética de como você queria beijar a Lux, mas Harry Potter te azarou.
- Quis, cara pálida? – Ben arqueou uma sobrancelha, metidamente - Eu beijei e muito bem, até que... O quatro olhos resolveu atrapalhar.
- Duvido – David desafiou, descrente. – Tenho certeza que a Lux jamais... – mas parou no ato, ao ver a troca de olhares aborrecidos de Celina para Benjamin.
Por ser estrangeiro, nascido “trouxa” e o mais jovem dos aurores, Kid, como era mais conhecido, nunca tinha visto Harry pessoalmente, mas era um grande fã, conhecendo a história do bruxo como a palma de sua mão. Mas isso não significava que soubesse dos detalhes passados em Hogwarts, tantos anos atrás.
- Diga ao garoto, Celina – Benjamin incentivou a amiga, erguendo a mão direita solenemente. – A verdade, nada mais que a verdade.
- Ben - Celina endureceu a voz, saindo pela tangente -, se a Phillys te escutar falando assim, sua vida amorosa vai ficar ainda mais atrapalhada. Fora a azaração que vai levar.
O amigo fez um gesto de desgosto:
- Do jeito que as coisas andam, Phelícia não precisa de incentivo nenhum pra querer me azarar. E em todo caso, ela sabe que a gente já se beijou.
- É claro que sabe, pois se eu mesma contei... – Celina ajeitou a gravata torta do amigo, dando um tapinha de consolo em seu ombro. – As coisas entre vocês vão se ajeitar, vai ver. Eu só estou te dando a dica de não provocá-la. Você já conhece o sangue quente dos McGregor.
- E como – Ben entortou a boca.
Logo ao lado, David lançava olhares estarrecidos, captando que, de fato, algo acontecera entre aqueles dois na adolescência.
- Então é verdade, Lux? – Dave sacudiu a cabeça sem querer acreditar. - Você beijou este pobre diabo?
Celina olhou para o rapaz, fazendo uma cara entediada de “Pois então...”, o que deixou Kid, novamente, de boca aberta.
- Yes! - Benjamin piscou para o rapaz e fechou o punho junto à cintura, fazendo um gesto de vitória. – E Travis pega a goles e marca!
- Qual o problema das mulheres da sua família? – o rapaz americano perguntou, inconformado. – Você, sua prima...? É algum tipo de doença?
- Apenas bom gosto – Ben estufou o peito. – E um corpinho como o meu que não é de se jogar fora. Mas vamos logo, garotos, já passou da hora. Vamos exibir este vestido e ver a Celina deixar os bruxos do Ministério com câimbras na virilha.
- Sabe, Ben - ela apertou os olhos com o comentário do amigo –, um vestido não devia ter o poder de alterar uma pessoa desse jeito. Chega a ser maligno.
- Não é o vestido que altera – Ben sorriu exagerado e ela revirou os olhos.
- O Travis tem certa razão – Jason se voltou para David. – Você está habituado com a Mac fria e calculista do Ministério, usando vestes de trabalho e vez por outra dando porrada em grandalhões com dois metros a mais que ela.
- Quantos elogios... – ela falou com azedume.
- Hei! Ela não é nada fria quando está dançando no Dark Room – Dave sorriu matreiro.
- Certo, gênio – Jason deu de ombros. – Mas agora vamos entrar em outro mundo. Uma festa de sociedade. Então estou avisando pra não pagar mico. Você vai estar diante de uma mulher que vai derramar charme e sorrisos. Dores na virilha são apenas algumas das conseqüências. Mas, por mim... Ela não precisa de um vestido de festa, é bonita de qualquer jeito – Jason voltou a olhar nos olhos dela, com sincera afeição.
- Tocante, Connor – Ben fingiu limpar as lágrimas. – É agora que entram os violinos?
- Eu posso assobiar a trilha sonora – Dave ajuntou, pondo as mãos no coração. – Ah, é tão enternecedor...
- Ah, calem a boca, vocês dois! – e antes que Celina puxasse a varinha, ou qualquer outra coisa que o valha, Benjamin abraçou Dave pelo ombro, saindo depressa do apartamento.
- Vem comigo, Kid. Já estou ficando com náuseas.
Ficando mais atrás, Celina falou entre os dentes:
- Um dia...
- Eles estão só brincando – Jason lhe deu o braço, mais acostumado que ela ao ambiente masculino de saudável implicância. Os amigos podiam até ter algumas desconfianças sobre o tipo de relacionamento que ele tinha com Celina, mas, no fundo, tinham a noção de que não podia ser mais que uma forte amizade.
A moça o olhou rapidamente, enquanto trancava a porta com um feitiço:
- Mas obrigada pelo elogio, assim mesmo. Acho que fiquei vermelha. Acredita nisso?
Jason a fitou, divertido, vendo que a moça estava mesmo corada:
- Ficando mole, Mac? Você precisa receber mais elogios. A intenção não era rasgar seda, mas dizer que é bom ver você aceitando um pouco da beleza que tem em vez de tentar - e inutilmente - se apagar.
Ela não pôde evitar revirar os olhos mais uma vez. A convivência com os colegas a estava deixando perita naquilo.
- Lux! – se esquecendo do pseudo-perigo, David agarrou o braço da garota de repente. – Será que você pode entrar comigo de mãos dadas? Por favor...
- Por que todo esse amor, agora? – ela fez uma rápida careta desconfiada.
- Bom... Quero ver a cara de espanto do Gordon.
- Como é mesmo? – Ben interferiu, coçando o queixo e se lembrando da noite anterior, quando voltaram da missão e deram de cara com Lukas Gordon, que se plantara diante da moça, a crivando de gentilezas. Fazendo uma mímica exagerada, imitou o colega: – “Celina, que ótimo! Já de volta da missão? Posso trazer um chá? Te fazer uma massagem nas costas? Ou quem sabe um beijo de língua?”
Nem ela conseguiu conter o riso:
- Parem de implicar com o rapaz. Deviam tentar ser gentis como ele.
- Se for pra ganhar um beijo de língua... – Dave piscou, malandro.
Ela fingiu preocupação:
- Seria ilegal, Kid. Não tenho certeza se já tem idade para essas coisas.
Jason e Ben caíram na risada, enquanto Kid, sem dar a mínima para a provocação, abriu um sorriso rasgado no rosto, se preparando para desaparatar para a Mansão McGregor com Celina à tira colo. Antes de sumirem, ainda arriscou:
- Você não tem alguma prima solteira, tem? Por que se a genética for a mesma... – e gritou com o beliscão.
XXXXXXX
Uma onda de luz e som atingiu os aurores e Celina quando aparataram diante da casa McGregor. O som da orquestra deixava claro que as coisas estavam animadas dentro do lugar. E a luz... Não havia um único recanto que não estivesse iluminado com minúsculas luzinhas douradas e fadinhas multicoloridas esvoaçando pelo ar. Jatos de luz verde banhavam todas as árvores ao redor da fachada e flores de todas as cores enfeitavam o próprio caminho até a porta de carvalho maciço, as duas folhas abertas em par.
- Você não disse que morava num palácio – David era o mais impressionado, parecendo transportado para outro mundo.
- Não moro mais aqui há um ano – mas Celina também estava encantada com o aspecto festivo da casa onde tinha nascido. – Ela definitivamente se superou...
- Ela quem? – o rapaz perguntou, sem deixar de correr os olhos por todos os lados.
- Florência fez tudo sozinha? – Jason acabou por responder a pergunta, caminhando encantado por entre as imensas velas quadradas que ladeavam a passagem externa.
- Você não imagina que eu tenha talento pra algo assim – Celina riu para os amigos. – E considerando que vovó Lilith não vai aparecer... Em suas próprias palavras: “A velhice dá poucas vantagens, a indelicadeza é uma delas.”, então acho que mamãe fez tudo sozinha, sim.
- Não me admira – Jason sorria consigo mesmo. – Ela é bem capaz de coisas surpreendentes.
Celina relanceou os olhos rapidamente para o amigo, pensando ver um vislumbre de algo diferente, mas com o adiantado da hora, logo se preocupou mais em forçar a todos a se mover e seguir até a guarda ministerial e os funcionários encarregados das boas vindas. Ela foi cercada por alguns empregados mais antigos, que a saudaram encantados.
- Hei, Chuck! – Ben acenou para um colega uniformizado mais à frente. – Muito trabalho?
- Não me diga que é convidado, Travis – o bruxo emaciado, de olhinhos pequenos e espertos, saudou o colega com uma careta. – Seu grande sortudo. E vejo que não veio só.
- Sabe como é... íntimos da família.
Chuck espichou o pescoço para Dave e Jason que se apressaram em se juntar ao colega.
- Soube da missão. Parabéns, caras – Chuck seguiu a figura da mulher de negro que chegara com os aurores, e esta acenou em sua direção enquanto subia os poucos degraus até a porta.
- Não vejo o porquê dos parabéns – Jason deu de ombros. – Um trabalho muito mais simples do que se podia imaginar.
- Tem horas que estes bruxos parecem estar curtindo com a cara da gente. – Ben concordou, mas logo percebeu que Chuck não mais acompanhava a conversa, seguindo os movimentos de alguém no topo da escada. – Chuck? Está acordado?
- Cara, quem é a Deusa? – o bruxo esquelético apontou com o queixo para Celina.
Os três aurores se entreolharam, divertidos.
- Veio comigo – Dave usou uma expressão indiferente. – Insistiu muito, sabe como é.
Do alto da escada Celina gritou:
- Solte meus garotos, Chuck! Tenho certeza que adorariam ficar a noite toda conversando, mas infelizmente eu tenho deveres a cumprir ali dentro.
Os aurores aumentaram os sorrisos, enquanto que o bruxo magro agora se parecia muito com uma toupeira subnutrida de olhos fendidos:
- Mas...
- Ah, meu par me aguarda - Kiddo bateu nas costas magras do homem e começou a galgar alegremente os degraus até Celina. – Não consegue ficar um minuto longe de mim.
Chuck estalou a língua três vezes:
- Então ela usa vestidos? – ele finalmente reconheceu a jovem. – Acho que estou precisando de óculos – disse apreciando a visão da moça, no que poderia ser facilmente definido como um assobio silencioso. – Sim, óculos. Mas uma luneta também viria bem a calhar.
Os amigos riram antes de se despedirem com outros tapinhas amistosos.
- Hei, Kid! – Chuck ainda gritou, a voz estremecendo por risadas contidas. – Me conte sobre a cara do Gordon! Vai ser meu ponto alto da noite!
“Bem, o segundo...”, ele pensou acertadamente, enquanto a figura da moça sumia pelo portal. Aquela parecia mesmo uma noite cheia de surpresas.
XXX
O imenso salão estava excessivamente cheio. O mundo mágico se comprimindo alegre em conversas ruidosas, dança e cachimbos de perfume exótico. Vez ou outra uma baforada de fumaça colorida e um espocar de luz cintilante anunciava que, como de costume, fazer farol ainda era a atividade social preferida entre os bruxos.
- Hei, Celina! Uma foto para o Pasquim! – um rapaz magro e quase frenético se postou à frente do grupo, disparando um flash de fotografia que os cegou momentaneamente.
-Ah... Colin... – Celina piscou várias vezes. – Não se cansa de trabalhar? – O comentário foi feito com malícia. Na verdade os convites para o baile foram feitos para os amigos e não à trabalho, o que a fez pensar... – Onde está a Luna?
- Circulando, você sabe. Uma boa reportagem surge de onde menos se espera. E hoje então... Estão todos empolgadíssimos!
- Claro... – ela disse, segurando um sorriso. Será que a amiga esperava encontrar Bufadores de Chifre Enrugado no baile Ministerial? “Bem... talvez Narguilés, se tivesse sorte.”
Ela se despediu do rapaz, arrebanhando os amigos apressadamente até ver a pessoa que procurava:
- Perdemos o discurso? – Celina fez uma careta quando chegou até a mãe.
- Celina! – Florência a puxou num abraço apertado. – Por que não respondeu a meus recados? Quando soube que chegou... Mandei corujas e telefonei a tarde inteira.
- Eu lamento mamãe. Perdi a hora...
- Você falou com alguém?! – Florência mal cumprimentou os aurores, parecendo mesmo um pouco pálida.
Celina estranhou a preocupação:
- Dormi o dia todo. Algo errado?
A mulher abriu a boca, mas não disse nada. Encarou Jason com urgência e logo quis segurar o braço da filha, procurando por um lugar mais reservado. Mas antes que pudesse tirá-la dali, uma figura imponente de meia idade avançou até o grupo.
- Prima! Já estava achando que não vinha.
- Gavin! – Celina abraçou o Primeiro Ministro, não se importando com protocolos.
- Viu isso? – Ben cutucou em Jason, debochadamente. – A aristocrata se refere ao Ministro como “Gavin”.
Mas Jason tinha a atenção exclusivamente focada na expressão preocupada no rosto de Florência. Um alarme soando baixinho na cabeça: algo errado, algo errado.
Menos de dez minutos de conversa com o requisitado primo e Celina, à contragosto da mãe, se viu envolvida e afastada por todo o ramo Russo da família McGregor, que comparecera em peso ao importante evento. Ela se deixou levar, rindo para os parentes, alguns deles muito próximos à Dimitri. E assim foi abandonando para trás uma Florência que cochichava desesperadamente no ouvido de Jason.
Também separando-se do grupo, Benjamin pensou ver uma velha conhecida:
- Luna! – ele gritou para a moça de cabeleira dourada.
Ela estava conversando com um alto funcionário ministerial, pelo que Ben observou. Luna falava com convicção e gesticulava enfaticamente para um imenso lustre de cristal, sob suas cabeças. O funcionário, antes risonho, pareceu subitamente apreensivo. Não foi surpresa que o homem tenha se retirado levemente alarmado, lançando olhares preocupados para o recém mal afamado lustre.
- O que estava conversando com ele, Lovegood? Sobre alguma infestação de seres mágicos trevosos? – ele a beijou na face ao mesmo tempo em que esboçava um sorriso franco. – Talvez sobre o lustre estar contaminado?
- Sobre isso e também sobre a conspiração – ela soltou satisfeita, como se Ben soubesse exatamente do quê se tratava.
- Ãh... Qual delas? – rodeou, cuidadoso. Um ataque de risos não seria muito elegante, não naquele tipo de evento.
- Ora vamos! Você não acha que “Eles” vão permitir que um Ministro nascido “trouxa” ocupe o cargo por muito tempo.
- Bom... – Benjamin resistiu bravamente a coçar a cabeça confusamente. – Se não me engano, a família McGregor é uma família muito antiga e toda formada por bruxos. Ou seja, sangue puro.
- Não senhor. Gavin McGregor é um parente afastado. Você não sabia? – e antes que Benjamin pudesse se retratar, se lembrando que era verdade, Luna estragou todo o efeito, dizendo: - Eu tenho uma fonte que me garantiu que o Ministro foi adotado num orfanato para meios-gigantes, o que complica tudo ainda mais.
- Sei... – agora Ben coçou a cabeça de leve, um sorriso surgindo enquanto se perguntava como é que ela não mudara nadinha. – Mas e quem são “Eles”?
- Adoradores de Você-Sabe-Quem – ela respondeu como se o rapaz fosse ligeiramente retardado.
- Você-Sabe-Quem? O mesmo Você-Sabe-Quem que está morto e enterrado? – desta vez ele não sorriu. Apesar das idéias bizarras de Luna, o movimento das trevas ainda cultuava bruxos malignos, e Voldemort sempre seria um dos seus gurus. – Bom, você pode deixar isso conosco, os aurores, mas qualquer informação é sempre bem vinda.
Ela lhe lançou um radiante sorriso e Benjamin se arrependeu de suas palavras quase que no mesmo instante. Um auror pedindo informações para a editora do Pasquim? E como se não bastasse, para a editora do Pasquim, Luna Lovegood?
- Pode deixar, Ben. Qualquer novidade, eu te procuro. Embora que, no momento, estes seguidores das trevas devem estar bem assustados com a volta de...
- Phillys... – a voz baixa do rapaz interrompeu a moça, de súbito.
Seguindo a direção do rosto do amigo, Luna viu a bela morena que entabulava conversa com uma outra, bem mais jovem. Era tal a semelhança entre as duas que pareciam ser parentes.
- Não me diga. Não me diga – ela gesticulou pedindo silêncio. – Deixa eu adivinhar... Essa Phillys é alguma namorada e você acabou de levar um pé na bunda. Acertei?
Benjamin a olhou sombriamente.
- Veja só – Luna aumentou o sorriso. – Estou ficando boa nisso. Você pode chamar de talento cultivado. Um bom repórter precisa ser um pouco adivinho, embora no seu caso...
- O que tem meu caso? – ele pareceu levemente ofendido.
- Ora, Ben, você sempre aprontou das suas, desde Hogwarts. Não é porque não nos vemos a algum tempo, que as coisas mudaram, hein?
- O que quer dizer? – ele se surpreendeu pela colega parecer saber tanto de sua vida. Sempre tinha achado Luna meio... Muito desligada.
- Você sempre foi atrás das garotas erradas. É isso que eu estou dizendo – falou com uma satisfação quase maldosa. – E parece que as coisas não mudaram.
Ele abriu bem a boca, mas não pôde refutar. Quanto mais pensava a respeito, mais sentido via.
- Pode ser... – falou meio na defensiva. – Eu dei minhas cabeçadas por ai. Mas a Phillys... Com ela não é assim. Ela é... Acho que ela pode ser “aquela” pessoa, sabe?
- Ah, é mesmo? – Luna falou com uma pontinha de despeito, e logo se surpreendeu de como os fantasmas da adolescência teimavam em voltar, mesmo depois de tanto tempo.
Não que ela ainda alimentasse alguma paixão mal curada por Benjamin. Ah, não. O tempo se encarregara de curar muitas dores mal sanadas. Mas ouvir aquilo, estranhamente a fazia se lembrar do quanto fora sozinha e de que, ainda hoje, nenhum homem dissera que ela era a pessoa certa em sua vida. Por outro lado, Benjamin se surpreendia de estar se abrindo com uma colega que não via há tanto tempo. Dizendo coisas que andava negando até para si mesmo. E logo com a Luna... Ele sorriu para a amiga, que agora parecia um pouco menos falante.
- Vou dar uma circulada – ele se despediu, pensando, meio inconscientemente, em beirar Phelícia. – Você é uma pessoa legal, Luna – ele se inclinou até beijar as bochechas da moça. – De verdade.
Ela sorriu com seus botões, ao ver o amigo se afastar. É... ela era legal. Era a única coisa que os homens pareciam enxergar.
XXX
A festa já chegava àquele ponto em que a elegância dava lugar à pura diversão, e risadas escandalosas irrompiam cada vez com maior freqüência.
- Vocês viram a Mac? – Jason vinha afobado, finalmente encontrando os amigos sumidos.
- No momento só tenho olhos para uma McGregor – Benjamin tentava atrair a jovem de cabelos negros, usando olhares quase que perfuradores.
-Você tem os olhos e ela os pés – Dave riu com gosto, um olho posto no colega, o outro colocado sobre a moça que ainda conversava com Phillys. – Cara, foi a pior patada que eu já assisti.
- Ela me ama – Ben deu um muxoxo, sorrindo de lado em direção à morena impassível.
- Bom, em todo caso, se ela te der esta forcinha... – Dave mirou a jovem companheira de Phillys, esperançosamente. – Você bem poderia me apresentar àquela gracinha.
- Lívia?! – Benjamin rosnou como um pai enfurecido. – Nem pense nisso, espertinho! Minha cunhadinha mal completou dezessete aninhos e, definitivamente, não é para o seu bico.
- Lívia... – Dave repetiu o nome sonhadoramente, não dando a menor importância ao resto das coisas que o amigo vociferara. – Fada Lívia... Acho que estou apaixonado.
- Hei, vocês dois! – Jason interferiu irritado, impedindo Benjamin de acertar um forte peteleco, ou algo pior, no rapaz. - Certo, vocês não sabem onde está a Mac. Vou dar umas voltas e ver se a encontro, e se, por acaso, ela aparecer, digam que precisamos nos falar urgentemente. Ouviu Travis? Kiddo? – Jason se impacientou com a contenda dos amigos. – Urgentemente!
- Pode deixar comigo, Connor – Kid se prontificou, um olho em Ben, outro na bela moça. – Não arredo o pé daqui por poder nenhum deste mundo.
XXX
Já fazia algum tempo que Nastazia McGregor, prima em terceiro grau, lhe contava pormenorizadamente sobre seu terceiro e milionário casamento. O problema é que a prima era russa e Celina não estava entendendo quase nada do inglês enrolado que a loira escultural falava. Quando a prima tomou fôlego para continuar com a tortura, Celina usara a desculpa de ajudar Florência com a recepção e rodeara o salão, se detendo aqui e ali, até achar David e Benjamin.
- Me salvem – ela sussurrou, arregalando os olhos e se colocando de frente para os amigos. – Mais um interrogatório engrolado sobre quando é que vou me casar e juro que viro monástica. Alguém notou como todo mundo está esquisito? Não falando coisa com coisa?
- Lux, Jason quer falar com você – Dave lançava olhares descarados para a moça, enquanto a mesma, mal parecia dar pela sua presença. - Espera um pouco aqui, sim?
- Não tenho a menor intenção de me mover um passo - ela falou um pouco mal humorada. Não conseguira achar Mione, Phyllis e nem voltara e ver a mãe em meio àquela babel, e percebia que precisava conversar com alguma delas. Tinha algo diferente no ar.
Os dois aurores pareciam absolutamente alheios, por isso, foi com curiosidade que Celina os viu mudar a direção sonhadora dos olhares e focarem com seriedade um ponto logo atrás dos ombros dela. Antes que tivesse a chance de perguntar do que se tratava, ouviu uma voz inconfundível às suas costas.
- Celina McGregor... Minha fadinha inesquecível.
Aquela voz fez Celina apertar os olhos, miudinho, ainda sem se voltar:
- Só uma pessoa teve o topete de me chamar de fadinha, e foi o pulha de um filho da mãe que me namorou, me deu o primeiro amasso da minha vida, e nunca mais sequer escreveu – ela se virou, mirando o bruxo de feições simpáticas e vestes elegantes. - Ah, Merlin... - Então, foi imediatamente esmagada pelos braços de Joshua Parker.
- Tem bem uns cinco minutos que eles não lançam um olhar mortífero em nossa direção – Josh olhou de rabo de olho para Dave e Ben, fingidamente entretidos numa conversa entre si. – São aurores?
- Sim, são os bravos cavaleiros do Ministério – ela brincou. Tinha se afastado com Josh para conversarem com mais privacidade, e mesmo assim os amigos tinham feito questão de se portarem como dois irmãos enciumados.
- Algumas coisas nunca mudam... – Josh falou, gozador.
- Como assim?
- Você sempre vai estar cercada por bravos cavaleiros do reino, sejam eles de que reino for.
- Não é nada disso – ela riu. – Eles trabalham comigo.
- Sorte deles. Azar o meu. Estão me olhando de novo daquele jeito estranho... Devo me preocupar?
- Por enquanto não – ela piscou, mudando logo de assunto. – Soube que está trabalhando com crianças. Parabéns pela condecoração! Diretor do Departamento de Acidentes e Traquinagens de Bruxinhos. O St. Mungus nunca fez melhor aquisição.
- Obrigado – ele olhou para os pés e balançou o corpo se fazendo de encabulado. – Sabe como é... Crianças gostam de mim, uma vez que nunca deixei de ser uma delas.
- Acredito nisso – Celina logo juntou as sobrancelhas. – Mas voltando ao ajuste de contas, por que você nunca me escreveu como prometido?
- Ah... este assunto. Vejo que não vou conseguir me safar. – O olhar dela confirmou suas suspeitas. – Bom, achei que precisava de um tempo. Anos, talvez – ele sorriu maroto. – Na nossa despedida no trem... à propósito, fui mesmo o primeiro amasso da sua vida?
Ela assentiu resignada.
- Uau... – Josh balançou a cabeça, aumentando o sorriso. – Uau...
- É, uau pra você também – ela sorriu com o canto da boca.
- Mesmo? – Josh estalou a língua – Ok. Voltando à terra e às explicações embaraçosas... Como nossa despedida claramente mostrou, eu tinha grandes chances de fraquejar em sua presença. Outra sessão de beijos como aqueles e meu pobre coração teria se despedaçado para todo o sempre – ele pôs as mãos no peito em tom de brincadeira. – Ouch!
- Você realmente não mudou – ela o olhou com admiração. – Mas eu te perdôo. Pra que servem as ex-namoradas?
- Para flashbacks? – ele deu um sorriso engraçado, de segundas intenções.
- Hummm... - ela fez uma cara falsamente maliciosa. – Tentador... Mas não no momento.
- Sempre uma dama. Mas obrigado assim mesmo – Joshua beijou sua mão. – Só em saber que signifiquei alguma coisa...
- Significou muito.
Ele sorriu um pouco corado.
- Soube que você namorou o Potter depois que me formei – ele tocou na velha ferida. -Na verdade todo mundo soube. Mas pra mim já era de se esperar.
- Outra vida – Celina fez um gesto indicando que era passado. – Você não ficou chateado, ficou?
- Nah, depois da tentativa de suicídio me recuperei muito depressa.
Ela deu um tapa amigável no ombro dele.
- Então não existe mais nada entre vocês? – Josh assuntou, curioso.
- Aquele livro infeliz... – ela suspirou, pensando no livro de Eldred Worple/Rita Skeeter e pondo as mãos nas cadeiras. – Cinco anos sem ter o menor contato com ele e as pessoas ainda me perguntam isso. E como perguntam... – e balançou a cabeça, cansada. – Só esta noite já escutei coisas assim uma dezena de vezes. Será que é tão difícil entender que um namoro de crianças acaba quando elas crescem?
- Pessoas adoram estórias de amor. É por isso que ainda acredito na humanidade – Josh sentenciou. – É claro que estórias de gente famosa que acaba junto são ainda mais fascinantes.
- Não sou famosa, Josh – ela fez uma careta desgostosa.
Joshua franziu os olhos fazendo um gesto com o polegar e o indicador.
- Só um pouquinho.
- Bom, se você considera as matérias de quinta da Rita Skeeter... Felizmente aquela criatura está banida deste baile – ela pensou nos feitiços anti-animagos, espertamente sugeridos por Mione. – E em todo caso, hoje à noite não sou eu o centro das atenções – sorriu se referindo a Gavin.
- É, ele não é Gryffindor no sangue como você, mas é realmente famoso – tornou Joshua com um sorriso. – O bruxo mais famoso do mundo. Será que já se cansou de dar autógrafos por ai? – ele olhou ao redor. – Você já o viu, não é?
- Acabei de cumprimentá-lo... – ela estranhou o comentário. Gavin era o novo Ministro, mas autógrafos?
- As pessoas vão comentar sobre esta festa por anos. É a primeira a que ele comparece depois de tanto tempo fora. Não é de se admirar que todos estejam eufóricos.
- Primeira festa? – ela começou a achar que não estavam falando sobre o mesmo assunto. – Gavin vai a festas toda semana desde a confirmação do cargo, e não fiquei sabendo de nenhuma viagem...
- Gavin? Gavin McGregor? – Joshua se espantou. – Oh, não. Não estou falando do Ministro...
Mas o rapaz foi calado por Jason, que interrompeu a conversa repentinamente:
- Desculpe a grosseria - o bruxo falou para Joshua –, mas está tocando minha música favorita e Celina me prometeu uma dança – ele se virou para ela. - Se lembra?
Celina o observou cuidadosamente. Jason sorria, mas o conhecia o suficiente para ver que algo o estava incomodando, e não eram ciúmes de irmão postiço.
- Sim... eu me lembro. Desculpe Josh, promessa é dívida – ela beijou o rosto do rapaz. – Acho que nossa conversa fica pra outro momento.
O rapaz assentiu com um aceno de cabeça:
- Apareça em St. Mungus! – ele gritou sobre o barulho, enquanto ela era puxada pelo auror. – E não como paciente!
Ela riu e deixou que Jason se embrenhasse com ela na pista de dança. Quando o amigo enlaçou sua cintura, ela arqueou uma sobrancelha.
- Não estão tocando Clapton.
- O quê? – ele perguntou automaticamente.
- Eu posso não freqüentar o Dark Room há muitos anos, mas desde quando essa coisa que estão tocando é sua música favorita?
- Não é.
Ele apertou sua cintura a conduzindo para o centro super lotado da pista de dança.
- Então você interrompeu a conversa com meu amigo, que eu não vejo há anos, apenas para me matar de claustrofobia?
- Achei que você gostaria de ar puro – ele insistia em observar ao redor, não olhando para ela.
- Ar puro? – Celina olhou indagadoramente para ele. – O que está acontecendo? Colocaram poção alucinógena nas bebidas? Por que todo mundo está agindo tão estranho? Francamente, é só uma festa de posse...
- O ar puro está do outro lado do salão – ele a cortou, preocupado. - Mas precisava de uma desculpa pra chegar com você até lá sem maiores problemas.
- Jason... desembucha! – ela já estava ficando irritada.
- O que seu amigo estava prestes a comentar, e que é o assunto de toda festa - ele soltou sua cintura e consultou o relógio de pulso -, a essas horas o assunto nacional que apenas nós não sabíamos... – o auror suspirou. - Digamos que não gostaria de te ver levando o maior susto da sua vida.
- O que está acontecendo? Algum problema com Gavin? Minha mãe? – ela se agitou.
- Gavin McGregor não tem nada a ver com isso e Florência está muito bem, apenas preocupada com você.
Eles haviam dançado até o outro extremo da pista, saindo para um local mais tranqüilo, ao lado das gigantescas portas de vidro que davam acesso ao jardim da mansão.
- Jason... – Celina repuxava o braço que o amigo agarrava enquanto a conduzia. – Jason!
Ele estacou. Não tinha jeito de ser delicado com aquilo:
- HP está aqui – lançou sem mais rodeios.
Celina continuou olhando para o amigo, sem processar minimamente a notícia.
- Não estou entendendo...
- HP, O-Menino-Que-Sobreviveu, O Eleito – ele a encarou com firmeza. - Harry Potter está aqui, em Londres, nesta festa, em carne e osso.
Jason girou a cabeça por entre a multidão:
- Está, mais exatamente, no meio daquele aglomerado de gente importante, mulheres deslumbradas e puxa-sacos de ocasião.
Celina observou o amigo à procura de algum sinal que indicasse que era uma brincadeira, uma peça de mau gosto. Jason permanecia sério, numa expressão que ela algumas vezes associava ao seu falecido pai. Então, Celina virou-se muito devagar para o local em que o amigo se fixava. Era uma pequena massa compacta de bruxos excitados. Excitados com alguma coisa, alguém. Havia um homem no meio?
Ela viu o grupo se mover, viu um impecável traje de gala, viu cabelos negros, fartos e rebeldes, um homem alto, mais alto que a maioria dos que o rodeavam. “O que...?” Então o rosto inconfundível de Harry James Potter se tornou absolutamente visível e todo o ar foi sugado de seus pulmões.
Seu coração parou. O sangue rugiu em seus ouvidos, diminuindo o barulho da música e das risadas. Teve a impressão de sair do próprio corpo, acompanhada por uma sensação longínqua de alguém tocando seu braço. Sacudindo? A cor devia ter fugido de seu rosto ou alguma outra coisa muito errada devia estar lhe acontecendo, por que escutou muito distante a voz de Jason dizendo:
- Você está bem, Celina? Precisa se sentar?
“Celina?” Não era comum Jason lhe chamar assim.
- Vamos, garota. Você está se sentindo bem?
Lentamente ela voltou o rosto fantasmagórico para o auror.
- Estou vendo que eu estava com a razão – desajeitado, ele pegou três taças da bandeja que um garçom equilibrava por ali e colocou duas delas nas mãos de Celina. – Beba isso.
Mas ela permaneceu apenas segurando o vidro gelado, sentindo pequenas bolhas salpicarem suas mãos.
- Mac? – ele chamou, segurando seu ombro gentilmente. – Você pode falar? Mac!
Ela pestanejou e, como num estalo, levou uma taça mecanicamente até a boca, sorvendo todo seu líquido dourado e dando igual destino à segunda.
- Boa menina – Jason suspirou meio aliviado, virando sua própria bebida e devolvendo as taças vazias para a bandeja de um espantado garçon. – Precisamos dar um jeito de sair daqui.
- Não – ela murmurou. – Quero saber o que está acontecendo. Agora mesmo.
- Tem duas pessoas que podem te ajudar nisto bem melhor do que eu.
Ela mal enxergou Ron e Hermione surgirem afogueados a sua frente.
XXX
“Ela mudou o cabelo.” Foi a primeira coisa sensata que suas sinapses conseguiram articular. Desde que a tinha descoberto entre a multidão, longe de si, Harry se concentrou nos detalhes, não conseguiria ficar de pé se olhasse o todo. O cabelo. Estava com um daqueles cortes despontados, uma franja lateral teimava em se desmanchar e cobrir seu olho quando ela se movia, e ela a retirava impaciente. Mesmo estando displicentemente preso dava pra ver que não era mais um cabelo de menina, mas ele gostou ao perceber que ainda era comprido. O vestido era longo, fluido, sem vulgaridade, mas estranhamente arrebatador. Não deixando dúvidas sobre a mulher que estava por baixo dele. Não deixando dúvidas sobre o desejo palpável que ele era capaz de sentir.
Quase não usava maquiagem, ela não mudara nisso. E nela este artifício não fazia a menor falta. Os olhos, pedras preciosas sem nome, vagavam pelos convidados com falso ânimo, como se procurassem por algo ou alguém. A boca... ah, Merlin, a boca. Cheia, entreaberta, mostrando um pedacinho dos dentes de marfim, um convite que devia enlouquecer seus fervorosos admiradores e incinerar os ciúmes que ele já voltava a sentir. Ciúmes que estavam apenas adormecidos, esperando a hora de agarrá-lo como um monstro que consome uma presa longamente ansiada. Quando ela se virou, ele pôde analisar a curva da coluna, que o vestido deixava toda exposta. E não conseguiu deixar de salivar, se lembrando de sua boca deslizando feliz por aquele caminho. Aquela era uma mulher completa, formada, diferente da garota sofrida demais que ele fora obrigado a deixar há cinco anos. E ao mesmo tempo... tão igual.
Finalmente pôde observar o todo que formava Celina. Seus movimentos, modo de olhar, a energia que escapava por ela. Deslumbrante. Mas...
“Ela não é feliz.” Harry constatou numa certeza absoluta, sem se’s, e’s e mas. E, sentindo-se péssimo, ele não soube se devia ficar triste ou contente com isto.
- Você voltou para casa – ele pressionou a mão sobre as vestes, sentindo a forma dura do Amuleto. – Nós voltamos.
- Como disse? - Ludus Bagman o interrogou sorridente.
Harry respondeu alguma coisa apressada e quando se voltou, ela tinha saído do seu campo de visão.
XXX
- Como... é possível... – Celina não conseguia se articular, pensar.
- Ele voltou. Só isso – Ron Weasley gesticulou com a mão, como que pedindo para que ela ficasse calma. - Harry não estava morto, Celina – ele mordeu o canto da boca, procurando palavras certas. – Ele apenas voltou.
- Vocês sabiam disso? – ela se voltou para Mione e Ron, sucessivamente. Um brilho acusatório no olhar.
- Não. Descobrimos há dois dias, quando o Harry bateu à nossa porta – Ron prosseguiu, desafiador. – E estamos mais do que felizes com o retorno dele.
- Isso sempre poderia acontecer – Mione atalhou, conciliadora. – Você sabe, querida. Sempre soubemos que era questão de tempo.
- Eu não sabia! – Celina se escutou, nervosa. – E preferia que não fosse! Preferia que ele continuasse enfiado no lugar onde estava. Para sempre!
- Sei que precisa de tempo pra assimilar – Hermione reconhecia a dificuldade da situação, portanto tentava rodear o assunto até que a amiga se acalmasse.
- O quê... – Celina voltou a gaguejar. – Mione, o que ele está fazendo aqui?
- Tenho certeza de que há uma longa resposta para isso, mas de modo objetivo... – a jovem procurou pelos olhos de Ron, sem saber ao certo o quanto podia revelar. - Ele apenas está acertando certas contas em sua vida. Coisas que não podem mais esperar.
- Coisas, Mione? – ela engoliu pesado. – Aqui? Neste país, na minha casa? Que tipo de coisa...
Ela se interrompeu de chofre, pensando que não era possível. Não, ele não teria vindo por causa dela...
Então, como se só estivessem esperando por aquele pensamento, os olhos da bruxa foram puxados abruptamente para onde estava a figura magnífica do jovem homem. Harry a fixava diretamente, os olhos pregados nela, numa intensidade que fez suas pernas deixarem de funcionar. Sua alma foi varrida por um forte turbilhão quando os olhos verdes dele se chocaram com os seus. Cinco anos.
Então ele andou.
“Merlin!” Celina fez uma oração mental. Ele estava se esquivando dos bruxos e andava depressa, um brilho de determinação nervosa no olhar.
Ela não sabia nada sobre a estranha sensação que se espalhou por seu corpo, mas de repente, achou que, pela primeira vez na vida e sem qualquer motivo físico, fosse simplesmente desmaiar.
- Jason... – ela sussurrou sentindo o corpo pregado no chão. Precisava saber o que aqueles passos significavam. Ele não podia...
- Fica firme, garota – o auror cochichou em seu ouvido. – Acho que nosso amigo está vindo pra cá.
Ela olhou para os amigos. Ron parecia entre nervoso e empolgado, e Mione totalmente apreensiva.
- Ele... só quer falar com você, Celina – Hermione tentou acalmar a moça. – Nada demais. Só falar. Se você pudesse apenas ouvir...
Celina sentiu Jason deslizar a mão para a dela, apertando de um modo encorajador. Mas não, ela simplesmente não podia lidar com aquilo. Soltou a mão do amigo e o encarou pedindo por socorro, por um milagre.
- Celina? Festa adorável – Lukas Gordon estacionou à sua frente, a cumprimentando gentilmente. – Ainda não tinha tido o prazer de elogiar a perfeição do evento. É sem dúvida o melhor baile de posse em anos.
Ela nem ao menos assentiu, estando com a cabeça à mil, percebendo que em poucos passos, Harry estaria a seu lado.
- Estou pensando se seria inapropriado lhe convidar para uma dança... – o rapaz tentou não parecer excessivamente ansioso.
A bruxa fixou os olhos assustados sobre Lukas e achou que se o momento não fosse tão urgente, seria capaz de rir.
- Não! Adoraria dançar com você! Neste momento! – ela abriu um sorriso nervoso e praticamente se jogou sobre o bruxo, que na falta de definição melhor, pareceu totalmente extasiado.
Jason coçou a cabeça e lançou um olhar de advertência sobre Harry, que, sincronizadamente, acabara de chegar.
- Potter – cumprimentou secamente com a cabeça.
Mas Harry mal deu pela presença do auror, se fixando nos amigos e indagando silenciosamente porque não a fizeram esperar.
- Ela fugiu de você, cara – Ron ergueu um ombro, de leve. – Sinto muito.
- Eu sei – ele a enxergou ainda não longe dali. - Mas ela não vai poder fazer isso pra sempre.
Antes que pudesse dar um único passo, Jason se interpôs em sua frente.
- Olha... Mac não quer falar com você esta noite.
- Eu não me lembro de ter pedido sua opinião – Harry devolveu, o encarando friamente. A antiga rixa voltando mais forte do que nunca. Seria Jason, o tal namorado misterioso?
- Claro... – Jason se esforçou a continuar sendo polido. Era um baile ministerial e na casa de Florência. Nada de confusão. – Você não pediu a minha opinião, mas eu a ofereço gentilmente, assim mesmo. Apenas não faça nada que possa contrariar a Mac. Algo como... ficar há menos de dez metros de distância. Coisas desagradáveis podem te acontecer.
- Gostaria de me explicar quais? – Harry tornou, sarcástico.
- Naturalmente. Lá fora.
- Vamos, está tudo bem – Mione se colocou entre eles, sendo ajudada por Ron, que colocou as mãos sobre os ombros do colega.
- Com licença – Harry se afastou sem cerimônia, sem tempo a perder. – Penso ainda não ser proibido simplesmente circular.
Foi quando o perderam no meio da multidão. Mas podiam jurar que ele tomara o rumo por onde Celina tinha abandonado o seu par e desaparecido.
- Deixa, Jason – Ron encarou o colega com seriedade. – Eles precisam resolver umas coisas.
O auror pareceu negar com a cabeça.
- Ela não quer.
- Celina não é mais criança – Mione lhe lançou um olhar de profundo entendimento. – Não precisa mais ser protegida. Deixa eles se entenderem, Jason. Eles têm cinco anos para porem em pratos limpos.
- Então espero que o seu amigo tenha muita água e sabão. Tem coisas que são muito difíceis de limpar.
XXX
Ele tinha andado, se espremido entre os convidados, se esquivado de incontáveis bruxos, e sentido muitas saudades de sua capa da invisibilidade. E Celina parecia ter evaporado.
“Celina...”, Harry semicerrou os olhos, procurando sentir a energia dela, um vislumbre qualquer que indicasse onde estaria a moça. Foi sem sentir que ele se aprofundou no interior da casa, passando por portas fechadas até chegar a um lugar tranqüilo, longe da agitação do baile. Naquele espaço, uma espécie de corredor largo, ele percebeu que estava num território familiar da mansão. E a surpresa maior foi se deparar com a imensa pintura na parede, uma tela retangular e comprida que se estendia por grande parte do corredor.
No início dela aparecia uma pequena menina vestida de bailarina, flores suaves formando uma coroa em sua cabeça. E esta menina familiar sorria e girava, e enquanto percorria a tela, sempre dançando, uma maravilhosa mudança ia ocorrendo. Diante de seus olhos, Harry viu a criança crescer, ir se tornando uma bela adolescente, sua velha conhecida. No outro extremo da tela, a jovem desaparecia num volteio, para logo ressurgir no início, criança novamente. Eternamente sorrindo, eternamente dançando, eternamente feliz. Como se fosse tão fácil recomeçar... Harry queria que a vida fosse simples assim.
Não soube dizer quanto tempo permaneceu naquela posição diante da pintura mágica, seguindo a menina, a moça, querendo que ela se materializasse a seu lado, que se jogasse em seus braços dizendo: quanto tempo eu dancei e te esperei. E ele estava sendo um perfeito egoísta novamente, sabia disso. Mas os desejos, assim como os sonhos, não costumam dar muita trela para o que é racional.
Foi quando um de seus desejos se realizou. A bailarina realmente se materializou ao pé de uma longa escadaria. A bailarina verdadeira, mulher, parecendo tão assombrada quanto ele mesmo. Harry pensou que fosse morrer.
- Oi... – ele tentou mover o rosto rijo. Cinco anos depois e “oi” era a única coisa que saía.
Ela o olhava de um jeito confuso, distante, como se ele fosse uma assombração.
- Estou sendo inconveniente de vir aqui – subitamente seus movimentos voltaram e ele pareceu dançar, apontando ao redor. - É uma ala familiar, não é? Eu não deveria ter invadido, me perdoe.
Mas ela não disse nada. Estava parada como uma estátua de sal.
Harry tentou furiosamente pensar em mais alguma coisa para dizer, em algo que quebrasse o palpável muro de pedra:
- Estava vendo sua pintura – ele apontou para a menina alegre. – É perfeita. Como se eu tivesse voltado ao passado.
- Passado... Suponho que é – ela escutou a própria voz como que vinda de muito longe, como se não precisasse da aprovação de seu cérebro para soar. Era outro de seus pesadelos ou ele estava mesmo ali?
Harry sorriu para ela, fazendo os dentes brancos faiscarem de evidente alívio por escutar sua voz.
- Quem a fez? A pintura?
- Não lembro bem – era mentira, fora feita por Gabriel, que reproduzira o processo de crescimento da filha, com todo seu amor, até a época em que Dimitri morrera. Quando a garota recusara a se deixar pintar novamente. - Um parente qualquer, acho.
- Um parente próximo – ele voltou o olhar brevemente para a bailarina adolescente, com medo de a verdadeira desaparecer. – Captou exatamente como você era quando nos conhecemos. Toda paixão que você transmitia.
- Artistas fazem isso – ela não queria ninguém, principalmente ele, conhecendo mais ainda de sua vida. – Transformam coisas comuns.
Estavam tendo algum tipo de conversa comum? Constrangedora? Do tipo que velhos conhecidos, distantes conhecidos, costumam ter? Ela jamais esteve tão confusa na vida.
- Tem amor neste quadro, como se ele gritasse de alegria – Harry não pôde evitar a comparação entre a tela e a mulher logo à sua frente. Não queria uma conversa de estranhos, longínqua. Queria uma aproximação real. Voltou-se para Celina de modo intenso. – E você nunca, nunca foi comum.
Como ela voltasse a seu mutismo, Harry continuou:
- Você não mudou – ele devorou sua alma com o olhar. – E mudou demais.
- É verdade – Celina fez que sim, voltando devagar a sentir as próprias pernas e terminando de descer as escadas. Ela podia fazer isso. Podia conversar com um simples conhecido do passado. É o que ele era, certo? Apenas um conhecido, perdido na sua história.
- Mas você também mudou – ela continuou. - Óculos? – fez um gesto para o rosto dele, evidenciando a surpresa pela falta das lentes em seus olhos.
- Ainda uso boa parte do tempo – ele sorriu sem graça. - Principalmente pra ler.
- Mudanças – ela assentiu, mostrando seu ponto de vista.
- Só em algumas coisas. Não nas mais importantes - ele deu um curto passo em sua direção, o que foi o suficiente para ela se enrijecer violentamente.
“Não, não, não”, ela repetiu mentalmente. Aproximação física não fazia parte de conversas sociais entre dois quase estranhos. Muito menos entre aqueles quase estranhos.
Harry interrompeu seus passos imediatamente. Ela estava tão, tão perto... E ao mesmo tempo, do outro lado de um espelho.
- Você... – Merlin, ele não sabia o que dizer. Palavras ensaiadas inutilmente. – Seria muito clichê dizer que está linda? – ele coçou o pescoço e levou as mãos aos bolsos, num gesto muito seu, que fez o homem bonito se parecer fortemente com um garoto inseguro. – Porque está. É a mulher mais linda que eu já vi. Como era desde quando nós tínhamos treze anos e eu me apaixonei por você.
- Eu preciso voltar – ela sussurrou urgentemente, sem tirar os olhos dele, querendo passar, mas não ousando ultrapassá-lo.
Harry se aproximou da parede, dando espaço para ela sair, mas quando Celina caminhou, algo urgente, que não podia mais esperar, o fez dar um passo instintivo, fechando a saída da moça.
- Dança comigo?
Celina entreabriu a boca, sem ar, parecendo realmente chocada.
- O quê? – o barulho distante da orquestra quase abafou seu fio de voz.
- Uma dança – ele apontou para o fim do corredor. – Só... dançar.
- Você não dança – ela falou por reflexo.
Ele deu um sorriso nervoso com o comentário.
- Talvez agora eu saiba. Ou ao menos... gostaria de tentar.
- Eu preciso mesmo ir – ela evitou encará-lo. Sair correndo parecia uma ótima opção. – Estão me esperando.
- Dança comigo – ele soltou o ar como se o pedido fosse uma necessidade vital e uma confissão.
“Não”, ela sentiu mover os lábios, mas não ouviu nenhum som.
- Dança... – ele também falou muito baixo. Milhões de significados numa única palavra.
Havia dor naqueles olhos verdes. Profunda dor e alguma emoção indecifrável. Não... Ela poderia decifrar se quisesse, e este era o horror. Celina soube que iria correr se não saísse dali naquele segundo. Ele deu mais um passo em sua direção. Ah, o que aqueles olhos estavam lhe dizendo?
- Com licença – ela se lançou para frente, esbarrando nele ao passar depressa, fazendo o coração dos dois falhar uma batida.
- Celina – ele a seguiu tentando se emparelhar. Quanto mais rápido ela andava mais depressa a seguia. – Celina...
A bruxa agarrou a saia do vestido, se fingindo de surda, se concentrando nos passos que faltavam para chegar à ala de distribuição, que daria acesso à antecâmara do salão. O importante era andar, não parar. A segurança estava perto, há poucos passos.
- Preciso conversar com você.
- Não – desta vez a voz dela saiu em alto e bom som. – É impossível.
“Não. Não. Não.”, por dentro ela gemia. Tudo estava voltando. Tudo. Celina teve o ímpeto de apertar as mãos nos ouvidos e correr, e correr, e acordar, e descobrir que tudo não passava de mais um sonho ruim. Dimitri... “sua vida está para mudar.” Já chegava ao final do corredor quando a porta deste se lacrou num ruído retumbante. Ela se voltou bruscamente, totalmente acuada.
- Você... – ela arquejou, apavorada.
- Não... Fique tranqüila. Não vou chegar perto – Harry procurou acalmá-la espalmando as mãos. – Eu prometo.
Ela começou a tremer. Onde estava sua maldita coragem? Onde estava sua voz que não saía? Todo aquele champanhe e o corpo não parava de sacudir.
- Só preciso falar com você – ele pediu em numa voz que tentava soar tranqüilizadora. - Não tem que ser agora. Qualquer outro dia. Só preciso saber que aceita. Eu preciso muito, muito, que você me ouça.
- Eu não quero falar com você. Não tenho – ela conseguiu falar, a voz trêmula, é verdade, mas audível. – Esta é minha casa. Abra a porta, agora.
- Claro. Não pretendia ser rude – ele fez um gesto mínimo com a mão e a porta se abriu novamente. – É só que... foi tempo demais imaginando este encontro.
- Por que está aqui? – ela se ouviu murmurar antes que pudesse se deter.
- Quer mesmo saber?
- Não – ela sacudiu a cabeça recuando.
- Tenho algo que te pertence... – ele pôs a mão sobre a camisa, onde estava o Amuleto.
- Não quero... Não posso conversar. Estão me esperando...
- E você ainda tem algo meu – ele se achegou, fazendo com que Celina desse pequenos passos de costas, meio paralisada, meio lenta e desesperada.
- Com licença... Eu tenho... – ela ia se virando quando sentiu a mão dele pousar suavemente em seu pulso.
O mundo desacelerou, uma sensação de irrealidade, de estar mergulhada dentro d’água. Gelo quente correndo por seu pulso e se espalhando pelos braços, por todas as suas terminações nervosas, com enorme rapidez.
- Você tem algo meu... E vai ter para sempre – ele a fitou dentro dos olhos. – Você sabe o que é, não sabe? – ele estava próximo, próximo demais.
Acordes mais fortes vieram do salão, fazendo Celina ouvir o barulho da orquestra às suas costas. Então, ela acordou daquela hipnose, daquela loucura impossível, mas real, e puxou o braço, se virando rapidamente, em pânico com o que ele poderia dizer, com o que poderia fazer. Ao invés de tomar o caminho para o salão, ela correu para a cozinha. Ainda olhava sobre os ombros, como uma fugitiva, quando pegou uma garrafa cheia de champanhe e deixou a casa apressadamente. Precisava fugir. Precisava, “ah, Merlin, por favor”, acordar.
XXX
- Celina! – Draco apertou, surpreso, a faixa do roupão.
- Posso entrar? – ela balançou uma garrafa vazia na mão abaixada.
- Você não precisa de convite – ele a fez entrar notando que parecia um pouco alta. – Quando chegou de viagem?
- Esta manhã – ela tirou as sandálias com os próprios pés, se desequilibrando um pouco no processo.
- Está maravilhosa. Imagino que foi um bom baile – ele olhou do vestido para o relógio de parede. – Ou talvez não. Ainda não é cedo para ter acabado?
- Te acordei? – ela ignorou a pergunta.
- Pode fazer isso quando quiser. – ele a observou com uma fina ruga na testa. – Festa interessante?
- Surpreendente – ela se aproximou dele, esperando que isso cessasse o fluxo de perguntas.
Mas o beijo não veio.
- Você o viu – as palavras dele, quase como uma acusação, a fizeram recuar.
Não era uma pergunta e, no instante em que foi dita, ela soube que Draco falava de Harry Potter. O mesmo Harry Potter que quisera lhe dizer... fazer... Ela sacudiu a cabeça. “Não, não se lembre...”
- A esta altura acredito que toda a Grã-Bretanha o tenha visto – ela seguiu até a janela, abrindo o vidro e deixando a brisa fria do início da madrugada entrar.
- E você fugiu até mim – ele terminou o pensamento, refazendo os passos dela.
- Eu vim até você, é diferente – ela se voltou para ele, soltando os cabelos. - Fiz uma má escolha?
- Veio me pedir socorro? Está no lugar errado, amorzinho.
- Pedir socorro? Como se... – ela franziu os olhos até seu humor explodir. - Vá pro inferno, Malfoy!
- Você me tem como certo, Celina. E se esquece que não sou seu estepe – ele riu com raiva. - Eu podia estar acompanhado, sabe? – ele apontou em direção ao quarto.
- E eu podia sair – ela fez menção de ir.
- Não vou transar com você enquanto pensa no Potter – mas ele a segurou com brusquidão.
- Potter, Potter, Potter. Você está apaixonado por ele ou o quê? Acredite, HP – então, ela começou a rir sem controle -, é a última pessoa em que eu penso quando estamos na cama.
- Merlin... Você deve ter acabado com todo estoque de champanhe da cidade.
- E foi muito pouco. Estou me sentindo inteiramente poderosa – girou abrindo os braços. - Eu poderia tomar veneno que não me faria mal. Nada me faria mal. – “Não, nada mais”. E ela se curvou e segredou – Vai ver, é por isso que vim até você.
- Tem um sofá bem confortável na sala. Faça bom proveito.
- Conheço um lugar ainda mais confortável – ela se aproximou sorrindo.
- Mas não vai dormir nele.
- Quem falou em dormir? – ela levou a mão até o zíper lateral das vestes. – Quer tirar meu vestido?
- Não, nem lhe dar um banho frio se quer saber.
- Tem certeza?
- A respeito do quê? Do vestido ou do banho? – ele mordeu na língua, não podendo evitar o jogo que se iniciava sempre que estavam próximos.
- A respeito do que quiser – ela desceu o zíper e deixou o vestido deslizar para o chão. - Me beija.
- Não acho que esteja merecendo.
- Me beija – ela colou o corpo no dele, mas não tomou mais nenhuma iniciativa. - Beija...
- Vai tentar me vencer pelo cansaço?
- Tive um bom professor.
Ele finalmente a puxou num beijo titubeante, que se tornou cada vez mais duro e ousado, e se praguejou por não conseguir lhe dizer não. Se Celina fugira do Potter até ele, Draco faria com que se esquecesse de qualquer coisa que estivesse fora de seu quarto. Se ela realmente fora até ele num pedido de socorro, então faria com que fosse seu nome que ela murmurasse quando estivesse dentro dela.
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NB: Vou repetir o que comentei durante o capítulo (com minhas notas doidas..rs): não sei se espanco ou se consolo esse povo! Fiquei o tempo todo com os olhos grudados na leitura desse capítulo, só esperando, na expectativa! No encontro Harry x Celina (ai, meu Jesus! que momento, senti as sensações da Lyn), torcendo pra que tivesse ao menos uma leve oportunidade pra fagulha, bem escondida, voltar a se tornar um fogaréu monstruoso! Bem, se tornou um fogaréu, mas também sei que ele vai ficar bem controlado, ao menos na Celina. Mas tenho fé nesse Harry mais amadurecido e, com certeza, bem mais HOT! \o/ rsrsrs.. E sim!! EU FUI NO BAILE! Fada Lívia! Tô me sentindo agora! Dave me ama! Ben me ama! Sou irmã da Phillys! Sou prima da Lyn!hihihihi... Agora sim, posso dizer abertamente que amo a Lyn! Afinal, é priminha minha!hehe..
Mas depois do surto! Capítulo maravilhoso, Ge! Com trancos, barrancos, desesperos e tentativas de acertos! Sorte com certeza lançada! Momentos que..Aihm...Jason! Dimitri! (olhinhos brilhando) Só deixou a gente com gostão de quero mais!(porque gostinho..aff.. que mané gostinho..rs) Mas nisso, você já se tornou especialista! Parabéns, irmã! Muito carinho!
***
N/A: A música é: “This Is The Day”, do The The. Anos 80, que eu AMO, e está no meu Multiply (é só clicar no banner, no final da página). Enjoy.
E como prometido, tivemos o primeiro encontro depois de tanto tempo. Resta ver no que vai dar. ^^
Agradecimentos Especiais: (Inclusive aos queridos amigos que mandaram seus recadinhos via e-mail. :-*)
Livinha: É, irmã... É você mesma ali! Rsrsrsrsrsrs Rejuvenescida e bem atrevida, você vai ver. XD. E antes que vc se escandalize: não, eu não vou te pôr em nenhuma NC cabulosa. Ahuhauhuahuahuahauhaua! E vc está certa sobre o veneno da Celina. Tem pessoas que põe a amargura pra fora, enquanto outras a guardam por anos a fio. Mas sempre acho que ela teve suas razões. Obrigada por todo o incentivo e pela betagem maravilhosa. O que seria de mim sem Lili? :-*²³¹³²
Priscila Louredo: Ai, cobiçar homem alheio dá nisso. Hihihi. Espero que tenha se divertido muito no baile e visto de camarote o reencontro do Harry com a Celinny. À propósito, vc viu a quantidade de ruivos presentes? XD Bjokas, mana.
Ninguém: Acho que vou pedir pra curandeira Priscila te medicar. Múltiplas personalidades é doença mental! Rsrsrsrsrs E quanto à festa, foi vc quem tomou aquele porre homérico e vomitou no pé do ministro? XD Hum... deve ter se divertido bem, antes. Beijos, Nin. :-*
Remaria: E eu amo Rêzinha! Amo, amo, amo! XD Potter Perfeito de volta, Draquinho com a pulga atrás da orelha e o baile bombando. Festou? Montes de beijos pra vc e o Apolo, o nosso Deus (ainda principezinho) grego. Rsrsrs
Patty Potter Hard: Obrigada, linda. Espero que tenha gostado. Bjão.
Florência Snape: Mamãe da Celina! ^^ Ai, espero que vc não esteja muit braba com a demora. É que escrever nem sempre é fácil. Dançou bastante no baile? Espero que sim. Beijos, querida.
Máira Vivian: Ah, querida, não se preocupe, o importante é que vc ter lido e gostado tanto assim. Vc não calcula a delícia de ler algo deste jeito. *_* Obrigada mesmo. E pode comentar o quanto quiser, do tamanho que quiser, que eu adoro ler. \o/ Montes de beijos.
Elessar: Ai, que bom! *balança os pom-pons. Amei que tenha gostado e me solidarizo com sua ansiedade. Sei o quanto é ruim ficar esperando atualizações. Brigada, brigada mesmo, querido. Está vendo que com a volta de HP as coisas vão se agitar? ^^ Bjux.
Melissa Craft: Mel, voltei! XD Desculpa a demora, querida, mas aí está. Capítulo fresquinho com uma boa dose de tentação. Valeu pro todos os recadinhos e toda a expectativa. A-do-rei. ^^ Mega beijo, linda.
Yumi Morticia Voldemort: Mas eu não quero que se humilhe!!! Ahuahuahuahuahua! E o pior é que nem sei qual é o seu nick no FF. Mas tomara que vc tenha se divertido no baile e gostado dos bafões. Hihi. Valeu pelo super elogio, querida. Bjooo
Ioseff Cesar Maia: ATUALIZEIIII ²¹³¹² Rsrsrsrsrsrs Beijinhos, querido.
Dani Weasley Potter: Oi, linda, estou toda contente com seus recadinhos *Geo sorrindo rasgado. E espero que tenha paciência comigo, pois os afazeres do cotidiano são muitos e o tempo para a escrita, pouco. Mas as fics nunca deixam de ser escritas, mesmo que demorem um cadinho. Bjão. :-*
Gabriela Duarte: Capítulo postado, Gabi! \o/ tomara que tenha ficado à gosto. Beijos mil.
**Lúh**: Oi, querida! Não se preocupe com o sumisso, sei como as coisas podem ser corridas. E agora, contente com a volta DELE? Rsrsrs Um beijo carinhoso e boa sorte nas provas. ;-***
PS: Nem todos os recadinhos do Floreios apareceram com os nomes. Mas meu obrigada de coração pelo carinho de quem os colocou e muitos beijinhos estalados.
Montanhas de amor,
Geo.
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