O Começo do Fim
Capítulo 17
O Começo do Fim
“Apenas um beijo em meus lábios
Era só o que precisava para selar o futuro
Apenas um olhar de seus olhos
Foi como um certo tipo de tortura
Era uma vez
Havia um garoto e uma garota
Apenas um toque de suas mãos
Era só o que precisava para me fazer perder o equilíbrio.
Apenas um sorriso em seu rosto
Era só o que precisava para mudar
meu destino
Apenas uma palavra vinda de sua boca
Era tudo o que eu precisava para
ter certeza
Era uma vez
Havia um garoto e uma garota
Corações que se entrelaçam
Eles viviam num mundo diferente.”
(Forbiden Love – Madonna)
A manhã parecia não correr, frustrando Ron e Hermione, que seriam recebidos por Sibila Trelawney apenas no final da tarde. Os dois gryffindors estavam almoçando na mesa de sua casa, coisa meio sem sentido, visto que a população dos estudantes se resumia, hoje em dia, a praticamente a metade do normal. McGonagall havia sugerido que se juntassem em apenas duas mesas, mas os Slytherins previsivelmente haviam se recusado, portanto, os demais alunos acabaram por permanecer na formação antiga.
Agora era comum um maior intercâmbio entre as mesas de Ravenclaw, Hufflepuff e Gryffindor, por isso não foi inusitada a “visita” de Luna Lovegood, que tinha aproveitado uma rápida ausência de Neville e vindo se alimentar com Ron e Mione.
- Vocês dois estão estranhos. – Luna comentou, entre uma garfada e outra do seu purê de batatas.
- Porque diz isso? – Mione mal lhe lançou um olhar.
- Parecem mais animados. Estão com aquela cara da AD, sabem?
- E o que tem isso de ruim? – Ron perguntou, imaginando se Luna tinha algum tipo de sexto sentido.
- Nada de ruim, só diferente. Estão do jeito que ficavam quando o Harry estava por aqui. Prontos para a aventura.
Mione e Ron se encararam brevemente antes que a primeira dessa uma risada convincente.
- Luna, só você... Estamos animados com as aulas de DCAT. Você não está gostando de ter o Lupin de volta?
- É um bom professor, um pouco aluado, mas legal.
Ron engasgou com a comida, precisando que Hermione murmurasse o feitiço anapneo, desobstruindo a garganta do namorado, que voltou imediatamente a respirar.
- Tem notícias da Celina? – Luna perguntou, mal fazendo caso da reação do ruivo.
- Parece que está bem. – Mione respondeu evasivamente.
- Ela me mandou duas cartas nesse tempo. Deve estar sendo difícil pra ela.
- Difícil o quê? – Ron arfou ainda com dificuldade, começando a partir seu empadão em pedaços minúsculos.
- Ficar sem vocês e o Harry.
- Ahhh... certo. – ele encolheu os ombros como costumava fazer sempre que alguém mencionava os amigos ou perguntava se tinham notícias de Harry. – Pode ser.
- Vocês não querem mesmo falar sobre isso, não é?
Era estranho ou a loira parecia atenta de um modo que o olhar sonhador não aparentava? Mione a observou sem se impressionar. Depois da AD, com o convívio ficando mais estreito, descobrira muitas coisas sobre a colega, uma delas era que Luna podia ter uma atenção incrivelmente flutuante, mas captava coisas que os outros não costumavam perceber.
- É, Luna. – respondeu. – Tempos difíceis.
- Bom, quando vocês se encontrarem digam um alô. Espero que Harry consiga fazer o que precisa. O tempo está correndo.
- Como disse? – Hermione, deliberadamente, não olhou para ela.
- Digam um alô. – Luna deu um sorriso etéreo. – Você sabe, o cumprimento que se manda para quem está longe.
A frase da loira podia passar facilmente por algo dito de modo distraído, mas para Mione, que relanceara os olhos rapidamente por ela, havia um elemento novo naquela expressão. Inteligência e um tantinho de ironia. Sim, Luna não era nem de longe a cabeça avoada que os outros imaginavam.
Depois do almoço o tempo resolveu correr, e Hermione mal havia piscado os olhos quando as aulas acabaram. Enquanto subia as escadas para a sala de adivinhação, em passos lentos e amarrados, ela se deu conta de que a sensação do tempo escoando se devia àquilo que a colega dissera, à urgência do momento. Estavam lutando contra o tempo. Voldemort não tinha ficado quieto em todos aqueles meses, estava angariando aliados, se tornando cada vez mais forte e o Ministério, salvo raros acertos, parecia cada vez mais impotente. Ela forçou os pés a caminharem mais depressa, e tanto fez, que Ron foi obrigado a aumentar o quanto pôde suas largas passadas para não ser deixado para trás.
Mione sentiu que ao menos aquela pequena parte da missão lhe pertencia, apenas a ela, Hermione Granger, e mesmo tendo que engolir o orgulho, nada pequeno, diga-se de passagem, havia uma coisa ainda maior em jogo. Harry. Se Sibila tivesse a informação que procuravam e ela falhasse, então diminuiria consideravelmente as chances do amigo, e por conseqüência, as de Celina. Um motivo mais do que justo para obrigar as pernas a correr.
- Anda Ron! – ela falou esganiçada, puxando o ruivo pela mão. – Não vejo a hora de ser humilhada.
Naturalmente, à entrada da sala de aula, sua força de vontade não pôde desfazer o bico contrariado que se formou em sua boca.
- Professora? – ela enfiou a cabeça para dentro, após bater levemente.
- Pode entrar, querida. – uma voz etérea se perdeu em meio ao vapor, no interior do aposento abafado.
Eles adentraram, a Monitora um tanto acanhada e Ron abanando com ambas as mãos a densa fumaça de incenso.
- Tenho que confessar que já esperava sua visita e também a do senhor Weasley. – Sibila Trelwney consertou os óculos fundo de garrafa, no rosto.
- Naturalmente. Nós avisamos... – Mione se calou ao receber um olhar de advertência do ruivo.
- Ah... claro. – ela consertou, inspirando forte. - Ele veio apenas me acompanhando, professora.
- Pra dar força, a senhora sabe. – Ron sorriu de leve, fingindo não sentir uma cotovelada.
- Pois não, querida. O que tanto precisa falar? - os imensos olhos da professora brilharam como vaga-lumes gigantes, esperando alegremente o que a garota teria a dizer.
- Bem... eu... ah... – foi a vez de Ron a cutucar por trás. – Acho que devo desculpas à senhora.
- Mas pelo quê, querida? – Trewlaney falou mansamente.
- A senhora sabe, - Mione cerrou os dentes entre as palavras. – por não ter reconhecido seu talento...
A garota achou que tinha sido o suficiente, mas se surpreendeu desagradavelmente ao ver a mulher balançando a mão, a incentivando a continuar.
- Bom... na verdade me arrependo profundamente por ter abandonado sua matéria.
Sibila moveu a mão mais uma vez. Mione tinha certeza que não teria corado tanto se não fosse a cara satisfeita, quase risonha, que Ron Weasley sustentava, no momento.
Aquele fim de tarde seria o mais longo de sua vida.
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- Como conseguiram? – Harry olhou entusiasmado para dentro de um saco negro de veludo.
- Na verdade foi bem simples. – Ron lançou um repentino sorriso, deixando o deboche se manifestar por um momento. – No momento em que Hermione confessou, durante horas e horas, que ter deixado a matéria da Trelawney foi o maior erro de sua vida, as coisas ficaram bem mais fáceis. – ele se virou para a namorada. - Não foi tão ruim, não é?
- Acho que nós dois temos idéias muito diferentes sobre isso. – Mione resmungou, azeda.
- Você é incrível! – Harry a elogiou satisfeitíssimo, fazendo Mione arquear um pouco os cantos da boca.
- Na verdade, disse que estava fazendo uma pesquisa sobre objetos antigos e sua relação com o mundo trouxa. – ela respondeu. - Então perguntei à Trewlaney se por acaso não teria algo para me ajudar. Algo assim, como um copo ou uma taça.
- Você não se importou nem um pouco em ser óbvia, não é? – Celina sorriu marota, recebendo sabidamente um olhar mordaz da amiga. Para Hermione, a cabeça de Sibila não era capaz de pensamentos complexos. Como somar dois e dois, por exemplo.
- Mas ela entregou a taça assim? A troco de nada? – Harry estranhou, enquanto Celina esticava o pescoço a seu lado, tentando ver o objeto.
- Não. – Mione suspirou. - Ela nem deu mostras de saber do que se tratava. Eu tive praticamente que apontar.
- O quê? – a amiga perguntou. – A taça estava jogada pela sala?
- Boa definição. – Ron sentou-se sobre a mesa, estalando os músculos ainda duros pela vigília da noite anterior. – E a ilustração que a Mione conseguiu na biblioteca foi de muita ajuda. Nós só precisamos dar uma olhada por ali e “zás”, ali estava, bem na nossa cara.
- Estava na estante de quinquilharias, Harry. – disse uma Hermione ainda abismada. - Bem no meio das bolas de cristal, xícaras e as outras porcarias que ela usa.
- Pra ser sincero. – Ron tornou a sorrir. – Pelo cheiro de uma das xícaras, nossa professora parece não ter se adaptado a copos ou taças.
Celina riu rapidamente, acompanhando Ron, que sacudia os ombros silenciosamente sobre a mesa.
Hermione assentiu, dando de ombros:
- Mas o importante é que ela me entregou com as mãos nuas, como se a taça fosse qualquer coisa bonita, mas comum. O que nos levou ao fato evidente de que a magia não impede que a Horcrux seja tocada.
Harry fechou o cenho de leve.
- Como sabe? Podia não ser perigosa apenas com ela. – ele não podia correr o risco de descartar qualquer hipótese. – Quer dizer, algum poder ela tem, mesmo que seja quando está em transe.
- Acontece, Harry, que depois de uma centena de feitiços reveladores, que não mostraram absolutamente nada, sua amiga aqui tocou na taça. – Ron falou com os olhos em Mione.
Harry olhou irritado para a garota, percebendo o porquê da demora dos amigos em aparecerem. Mas antes que ele dissesse qualquer outra coisa, o ruivo se interpôs:
- Claro que ela só tocou depois de mim. – ao notar o quicar de olhos de Harry para os dois, Ron deu de ombros. – Essa luta também é minha, cara. E eu também não ia deixar minha namorada se arriscar. Não sou um legume tão insensível, afinal. – disse olhando de soslaio para uma satisfeita, Mione.
- Não, não é. É um legume de nobres sentimentos. – ela foi até ele, lhe dando um suave beijo na bochecha e cochichando brevemente em sua orelha.
Quando ela afastou o rosto, Ron parecia bastante satisfeito consigo mesmo.
- Só não se esqueça, Mione, a Sibila nos fez prometer devolver sua... como é mesmo? – um ruivo avermelhado acariciou o rosto da morena, contendo o riso.
- Taça do destino. – Hermione torceu o nariz de descaso. – Onde ela prevê nosso futuro negro e horripilante.
Ele se desviou dos olhos dela com certa dificuldade, falando para os outros:
- Bom, ao menos agora temos provas que tirando o lance da profecia, a Trelawney podia trombar com a alma do Cara-de-Cobra e achar que era um espírito de agouro. – ele completou e encarou Harry de modo a desafiá-lo a censurar qualquer um dos dois.
Harry resmungou algo como: bando de malucos. Não tinha mais nada a ser feito, os dois tinham agido como consideravam ser o correto e ele não iria começar a gritar e a se martirizar por isso. Bem, pelo menos não enquanto a dificuldade real não estivesse resolvida. Ele susteve a respiração enquanto enfiava a mão dentro do saco de veludo.
A taça de ouro era fria e refulgiu delicadamente assim que foi trazida do seu esconderijo até a luz dos archotes. Ele sentiu algo como uma comichão nos dedos, talvez por perceber a magia no objeto, não sabia dizer. Analisou os belos contornos dourados, sem encontrar nada que chamasse particularmente a atenção, cutucou os relevos utilizando o canivete de Sirius, amigo inseparável de Celina, só faltou beber xerez para ter certeza de que nada parecia anormal. Coisa curiosa, havia magia, mas parecia escondida de alguma forma. Magia em estado latente. Foi só então que a repassou, receoso, para uma impaciente Celina, que a esperava ansiosa.
- Agora só temos que descobrir como destruí-la. – ele sorriu sem humor para os amigos.
- Ai! – a exclamação de Celina o fez se voltar, alarmado.
- O que foi?
- Me machucou. – ela empurrou a taça para o saco e chupou o sangue nos dedos.
Harry a observou, estupefato.
- Machucou como? – ele tentou pegar as mãos da garota, que as retirou, mostrando que ainda estava chateada com ele.
- Sei lá. Só segurei e aconteceu.
Teimosa, ele pensou abanando a cabeça. E vendo que o ferimento não parecia nada sério, pegou a Taça novamente, descobrindo que o interior se encontrava respingado de vermelho. Sentiu novamente as próprias mãos formigarem de modo sensível sobre o objeto, ficando avermelhadas, mas ainda intactas. Fez uma nota mental sobre o fato e se ateve ao que considerava mais importante no momento, o sangue de Celina.
- Você se feriu segurando por fora da taça?
- Sim, por quê?
- Estranho, está suja de sangue por dentro.
- Ela feriu Celina propositalmente? – Hermione inquiriu, tentando juntar as peças do quebra-cabeça.
- Como assim? – Ron estranhou. – Nós todos seguramos e nada aconteceu.
- É isso que estou tentando entender. – Mione olhou da taça para a amiga.
- Aparentemente não gosta de mim. – Celina deu de ombros. – Ou vai ver que gosta do sabor do meu sangue.
Mione apertou os olhos para ela.
- Você seguraria de novo?
- Hey, isso pode ser perigoso... – Harry não gostou nada da proposta.
- Tudo bem, - Celina se adiantou - foi bem simples na verdade, só pequenas agulhadas.
Ela se aproximou com cuidado e tomou a taça das mãos de Harry, apertando-a brevemente antes de devolvê-la como se tivesse sido queimada.
- É. Gosta do meu sangue. – ela olhou pela borda do cálice. Novas gotas pintavam o interior.
- Espero que isso tenha tido algum propósito, Mione. – Harry assuntou a amiga, vendo que ela tinha um jeito pensativo, provavelmente sobre algo que o deixaria bem mais contrariado, juntando palavras como sangue, Horcrux e Celina numa mesma sentença.
Mas a bruxa se limitou a desviar o olhar, continuando em sua introspecção.
- Talvez se um bruxo poderoso o tocar, o Horcrux tenta tirar suas forças... – Ron arriscou um palpite.
- Então teria que ter atingido o Harry. – Celina negou com a cabeça.
- Mas me atingiu. – todos se focaram no amigo. – Não chegou a me ferir, mas foi como uma leve queimadura.
Um lampejo pareceu passar sobre os olhos de Hermione e ela assentiu de leve.
- Interessante... – ela pegou o objeto, olhando desconfiada de Harry para Celina.– Talvez seja preciso ter algum tipo de qualidade especial. Mais especial que força mágica.
- Ou talvez não tenha ido com a minha cara. – Celina insistiu de um jeito sério, como se tentasse encerrar o assunto de uma vez por todas. Não estava nem um pouco satisfeita com o rumo que as coisas estavam tomando.
- Nós já conhecemos muito bem a conexão de Harry com o Voldemort. – Mione pontuou. – Só isso já poderia oferecer alguma alteração sobre a magia da taça. Mas quanto à Celina... Você tem? – ela perguntou, desconfiada, para a amiga. – Alguma qualidade especial? Algo que a taça conseguiu distinguir?
- Você não está falando sério... – Celina abanou a cabeça com ironia. – Qualidade especial, tipo um super-poder?
- Não se faça de desentendida. – Hermione pegou pesado. – Há anos que todos aqui notaram que tem algo estranho com você. Todos aqueles segredos... coisas engraçadas que acontecem quando está perto.
- Sou uma bruxa. – a moça respondeu friamente. – É pressuposto coisas diferentes acontecerem.
A amiga colocou a taça sobre uma mesa e tornou a olhar de Celina para Harry, parecendo pesar uma importante questão.
- Chega de estória. Se quiserem destruir essa coisa é melhor abrirem o bico. Ronald e eu já demos provas mais que suficientes que somos confiáveis.
Harry e Celina se entreolharam rapidamente e ela deu as costas, enfiando as mãos doloridas nos bolsos da calça.
- Quando você conta um segredo para alguém ele deixa de ser segredo. – ela citou o ditado.
- Tempos desesperados pedem medidas desesperadas. – Mione contra atacou, utilizando o mesmo método.
Os ombros da garota se curvaram, mostrando que acabara de dar um longo e silencioso suspiro.
- Estou cansada disso.
Os outros permaneceram quietos, em expectativa, mas Harry caminhou até ela, deslizando uma mão por suas costas e lhe dando apoio para continuar. Ela o olhou nos olhos quando disse:
- Sou da linhagem de Godric Gryffindor. – ela ouviu Ron ofegar, mas não parou. - O sangue que corria nele, corre em mim. A Horcrux deve ter sentido algo desse sangue, algo de Gryffinfor. Ou talvez... tenha sentido o poder do amuleto que eu carrego.
Ela se voltou para os dois achando suas expressões como tinha imaginado. Ron, com a boca entreaberta e um olhar assombrado, Hermione com o semblante pensativo e algo magoado.
- É um amuleto antigo, que eu não sei controlar, mas que é muito poderoso. Me perdoem... mas não podia contar. – ela se aproximou mais de Harry, mais uma vez nervosa com a complicada estória da família. - Também não queria contar. Com vocês eu podia ser eu mesma, podia fingir que eu não tinha esse... – ela se calou, irritada.
- Esse poder. – Mione continuou em seu lugar.
Celina negou.
- Esse sangue. O amuleto é uma coisa externa e o sangue... Não é poder, é puramente uma casualidade que não me trouxe nada de bom.
- Não diz isso. – Harry virou o rosto dela para si. – Esse sangue faz parte do que você é. Não te torna mais especial pra mim, mas é um dos seus elementos.
- Tudo bem. – Hermione distendeu o rosto com um sorriso triste para a amiga, perdoando e sendo entendida por ela. – E talvez... a junção disso tudo possa nos ajudar a destruir Voldemort. – ela forçou a voz a sair segura. - Eu não te culpo por ter escondido. Deve ter sido pesado demais.
Celina assentiu, deixando que o rapaz a enlaçasse por trás, sentindo seu apoio. Então começou a relatar o que já tinha contado à Harry muito tempo atrás. Uma estória longa que ela forçou a tornar breve, tinham assuntos bem mais urgentes nos quais trabalhar.
- Cara, um descendente de Gryffindor nos dias de hoje? – depois das explicações, Ron não continha seu espanto. – Você está brincando! O cara de cobra adoraria pôr as mãos em alguém assim.
Ele nem precisou do olhar furioso de Hermione para se dar conta da mancada.
- Tudo bem, Ron. – Celina veio em seu socorro, saindo delicadamente do aconchego dos braços de Harry e passando a andar em círculos pelo aposento. - Mas ainda imagino que ele gostaria mesmo era de pôr as mãos no amuleto. Por isso Voldemort precisa ser destruído. Pro resto da gente viver em paz. – Celina olhou para as mãos pontilhadas de picadas. – Então se isso aqui fizer alguma diferença... Talvez eu possa ajudar.
Mione juntou as sobrancelhas, se concentrando. Era quase como se pudessem escutar seu cérebro trabalhar.
- Posso estar louca, mas a Horcrux parece ter reconhecido um inimigo em potencial e então reagido. – a garota se acercou de Celina. - E se ela reconheceu você como um perigo, sua parte Gryffindor, seu sangue... Você a ameaça.
- Não estou entendendo aonde quer chegar. – Harry endureceu a voz, desconfiado da conclusão daquele pensamento.
- Sei que tem mais a dizer, Mione. – Celina a incentivou, já imaginando o que vinha e apenas querendo confirmar. - Ponha as cartas na mesa. O que você acha?
- Acho que tem poder de verdade em você. Seja no sangue, nesse amuleto ou na sua própria capacidade mágica. Provavelmente na junção dos três. – ela tentou continuar sem olhar para a cara cada vez mais sombria de Harry. - Se a Horcrux se ressente de um simples toque seu... então talvez seja a única aqui que pode destruí-la.
- Não! De jeito nenhum ela vai tocar nisso de novo! – Harry se ouriçou de imediato, se colocando na frente da namorada.
- Estou tentando chegar a algum lugar, Harry. – Mione gesticulou com as mãos, pedindo paz. - Não sei o que fazer com isso.
- Pra mim parece que você está sabendo sim o que fazer. Está tentando chegar a algum lugar usando a Celina.
- Como pode me dizer uma coisa dessas? Eu me preocupo com ela tanto quanto você! – Mione se encrespou. – Não faria nada...
- O quê? Que pudesse machucá-la? É exatamente o que está sugerindo.
- Eu não sugeri nada! – Hermione se indignou. – Estava apenas levantando hipóteses! E hipóteses muito significativas de acordo com o que vimos.
- Pois me pareceu muito com uma sugestão. Indução.
- Como se atreve?!
- Hey, vocês dois, parem com isso agora mesmo. – Ron entrou no meio dos amigos ficando entre o bate boca que se tornava cada vez mais caloroso.
Sendo ignorada no momento, a figura de Celina deslizou solitária até a mesa. Ela observou atentamente a taça de ouro, pensando se era possível, se poderia fazer. Era um objeto mágico poderoso, mas o amuleto também era. Certo, ela não sabia como controlá-lo e muito menos sabia o que esperar da Horcrux. Mas algo tinha que ser feito, isso era indiscutível.
Ela concentrou-se em si mesma e no amuleto, sentindo a força se avolumar dentro de seu corpo, se avolumar à sua volta. Estava ali a chance de fazer algo real por Harry ou ao menos de descartar uma teoria. Também tinha sua família, seus amigos, e ela podia tentar se convencer de que seria por todos eles, mas a verdade é que seria por Harry. Ele precisava viver e para isso precisava destruir Voldemort, destruir todos os seus pedaços nojentos de alma. Harry precisava viver, porque ela o amava, porque sem ele só existia o vazio e o nada.
“Por Harry.”
Celina respirou profundamente, sacudiu as mãos e agarrou com firmeza a quinta Horcrux.
Um mergulho dentro d’água, sons e objetos sumindo.
Depois...
Coisas cortando sua pele.
Dor.
Luz.
Dor que queimava suas mãos, que corria célere por suas veias.
Luz doentia que a envolvia e queimava seus olhos.
Ignore. Você tem o amuleto. Você tem o sangue Dele.
Gritos. Eram seus?
Ignore a dor.
Ignore as pessoas que tentam se aproximar e são afastadas.
Seus dentes estão cerrados, os gritos são de outros.
Sangue. Um mar de sangue engolindo o mundo.
Ignore o cheiro de sangue.
Ignore o sangue que enche a taça.
Feche os olhos.
Mas seus olhos já estão fechados... O que era aquilo? Aquela voz horrenda... De onde vinha? Porque lia sua alma e coração?
“O mal, Celina, como você sempre soube que seria.”
Aquilo falava em sua cabeça. Lia seus temores e torturava mais que a própria dor física.
“Entregue-se. Reconheça o mal em si mesma.”
Dor na alma.
“Harry”, o pensamento era seu. Harry era seu. Harry estava em si. Ela estava repleta de amor e nenhum mal podia imperar em seu coração.
“Morreria por ele?” A voz chamava, atraía, machucava...
“Morreria?”
“Sim! Mil vezes, sim!”, seu corpo todo sacudiu violentamente quando sentiu a luz diminuir e a voz recuar.
Mãos seguraram as suas, mãos que se entrelaçaram nas suas, na Horcrux, em meio à calor e sangue.
Luz novamente. Dessa vez verde, forte, brilhante.
Celina abriu os olhos para a luz. O amuleto se refletia nos olhos verdes de Harry. Ela quis dizer alguma coisa.
Estavam de mãos grudadas quando a explosão aconteceu.
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Estava num lugar iluminado, via o céu azul, a vegetação exuberante, via seus próprios pés descalços quando olhava para baixo. Conhecia aquele local, aquela árvore. Costumava chamar aquele lugar de casa. Um movimento atrás da cerejeira, fez com que arregalasse os olhos. Estava em casa e ele estava ali!
- Dimitri! – ela gritou de alegria.
Correu em volta da árvore, atrás do vulto que não mais enxergava.
- Dimitri!
Ela o procurava rindo, brincando como antigamente, enquanto ignorava uma sensação estranha que dizia não ser real.
Um sussurro? Podia jurar que estava escutando a voz dele.
“Ainda não, querida. Hora de voltar.”
Começou a escutar outras vozes também.
O céu sumia, a árvore sumia. Como ela queria se agarrar a um pedacinho daquilo, a um pedacinho de Dimitri.
- Harry!
Ela escutou o nome dele muito ao longe, sendo dito por alguém. Foi como ser puxada por uma linha num anzol.
- Me digam como ela está? – a voz de Harry, nervosa, aumentando em nitidez e decibéis.
- Acalme-se, senhor Potter, ou vou ter que retirá-lo da enfermaria.
- O que está fazendo? – falou temerosamente desconfiado.
- Bom Mérlin! – Madame Pomfrey resmungou, irritada. – Estou repondo o sangue com uma poção. Como se eu não soubesse o que fazer... Para trás, menino! Estou tentando trabalhar. Olhe o estado dessa garota... e você também devia estar numa cama, não está muito melhor.
- Eu não saio daqui até que me diga que ela está bem. – ele falou com firmeza.
Ela também escutou outras vozes. Ron e Mione pareciam também haver invadido a enfermaria. Era isto ou uma verdadeira babel de estudantes resolvera dar uma festa no lugar.
- Ah... ela vai ficar bem. – Hermione disse como se procurasse confirmação. – Tenho certeza.
- Pronto. – falou a mulher. – Agora é esperar para ver.
Eles ficaram subitamente quietos, segurando as respirações, e ela quase podia ouvir o medo. Foi quando a voz de Celina voltou a funcionar:
- Então... onde é o velório? – ela murmurou fracamente, abrindo os olhos para as expressões assustadas à sua volta.
- Celina! – Harry teria se jogado sobre ela se não fosse contido pela enfermeira.
- Já encomendaram as flores? As de cerejeira são minhas favoritas...
Ron e Hermione riram de alívio e Madame Pomfrey pareceu rugir de satisfação. Fosse o que tivesse acontecido, nunca perdera um aluno em suas mãos e não seria agora que o faria.
A enfermeira lançou um olhar exasperado para a Diretora de Hogwarts:
- Por Mérlin, Minerva, o que está acontecendo nessa escola?
Uma Minerva pálida, mas de olhos espertos e brilhantes, respondeu de imediato:
- Queria poder responder a essa pergunta, Papoula, mas receio não poder. O que ouso dizer é que é esperança. Está acontecendo esperança nesta escola e no mundo mágico.
Não fosse a situação iminente, os garotos teriam se espantado. De pé, ao lado da cabeceira de Celina e encarando Harry Potter, Minerva McGonagall sorria, aberta, clara e generosamente.
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Depois de acordar pela terceira vez, praticamente curada de todas as contusões e de qualquer mal que a Horcrux pudesse ter feito, Celina terminava uma conversa nada amistosa com Harry. Já sabia que o sangue dos dois havia destruído a Horcrux, embora o seu tivesse sido de longe o mais sacrificado. Também sabia que agora estava bem, quase todo o sangue reposto por magia. E o fato de já estar bem e curada, praticamente recebendo alta depois de dois dias na enfermaria interditada, pareciam lhe tirar a vantagem de não receber as reprimendas que Harry achava merecer.
Já estavam completando um quarto de hora em que era censurada sem parar.
- Maldição, Celina! – ele se alterava, aproveitando a ausência da enfermeira. - Por que teve que ser tão cabeça dura? Por que não pôde apenas se afastar? No que estava pensando quando fez aquilo? Se é que estava pensando em alguma coisa...
Ela mordeu o lábio inferior com força, quase o ferindo. Seu coração atingira o limite de mágoa e fúria contra a injustiça.
- Você jurou me obedecer! – ele continuou vociferando, sem perceber que ela também estava no limite.
- E daí? – ela contra-atacou, sem medo. – Jurei e desobedeci. Ou então... jurei e simplesmente menti. Isso não altera nada.
- Era um juramento!
- E. Eu. O. Quebrei. – ressaltou bem as palavras. - Eu o quebraria mil vezes.
Ele pareceu recorrer a todas as suas reservas para se controlar. Não que estivesse adiantando muito.
- E eu nunca devia ter confiado em você.
Celina piscou duas vezes, certa de que alguém ali tinha chegado longe demais.
- Volte pra o esconderijo, Harry. – se referiu à Sala Precisa, lhe dando as costas sobre o colchão. – Vai se ver livre de mim antes que imagina.
E foi o que ele fez. Não estava certo de ter agido com sensatez, mas depois de horas andando ao redor da cama dela enquanto dormia, horas em que recusou os tratamentos auxiliares sobre seu corpo ainda machucado, ele sabia que não era tão simples assim. Celina podia ter morrido durante a empreitada, bem debaixo do seu nariz pretensamente cuidadoso. Fora naquela vigília circular que entendera o motivo de não ter permitido à Madame Pomfrey curá-lo de todo. Seus hematomas eram um lembrete. Pessoas que ele amava podiam ser feridas junto a ele. E agora, esperando a moça voltar da enfermaria, ele pedia forças para fazer o que era inevitável.
Celina tinha recebido alta à noite, voltando imediatamente para a Sala Precisa, onde passariam uma última noite. Depois do Horcrux encontrado dentro da própria escola, por motivos de segurança, Hogwarts estava quase que isolada, sendo ainda mais impossível sair. Principalmente durante a noite. Não que a Diretora soubesse realmente o que acontecera, mas as evidências apontavam para algo grande, algo perigoso demais. Por isso Hogwarts era agora um mundo à parte, tamanha a segurança.
Quando chegou, eles se encararam brevemente, antes que ela se afastasse para perto do sofá.
- Preciso falar com você muito sério. – ele falou com uma calma excessiva. - Talvez não goste de ouvir.
Ela o presenteou com um olhar cáustico.
- Novidade. – deu uma risadinha sarcástica. – Vai... põe pra fora o veneno que está te matando. Diga de novo como a Celina mimada trata tudo como brincadeira, como é inconseqüente, não confiável e como sua vida seria milhões de vezes mais fácil sem ela.
- Mais fácil, talvez. Mais vazia, com certeza. Seria mais fácil não gostar de você. – ele andou até a moça e tentou segurar seu braço. – O problema é que eu não quero. Quero gostar, quero amar você.
Ela se afastou indo se aboletar na cadeira mais perto do fogo.
Harry a seguiu, agachando em sua frente.
- Eu disse aquelas coisas no calor do momento. Você sabe que não penso daquele jeito. Me conhece demais pra não saber.
Celina bufou.
- Olha, eu não quero agir como uma menina mimada, Harry. Não quero dar mais valor às coisas do que elas têm. Mas acontece que eu tenho apenas 18 anos. Tem um limite pras coisas que eu posso agüentar. Eu não sou tão forte como você.
- Está dizendo bobagem. De onde acha que minha força vem? Do horror? Pela morte dos meus pais? Pela morte do Sirius? Do ódio pelo Riddle? Minha força está no amor que eu sinto por você. E eu não quero que esse amor te destrua.
- Do que está falando? – ela pensou que aquilo soava muito familiar.
- Você fez aquilo por mim.
Ela não conseguiu desviar os olhos à tempo, e mesmo que conseguisse não ia adiantar nada. Harry sabia.
- Fiz por você e pela minha família, pelos meus amigos, e porque era o correto a se fazer. – ela tentou dar segurança à afirmativa.
- Você fez por mim. Eu li nos seus olhos quando aconteceu. Eu leio o mesmo nesse minuto.
Ela o encarou, desanimada.
- E porque isso seria uma coisa ruim? Porque minha força, pelo seu amor, seria algo a se temer?
- Porque nada de ruim pode te acontecer. Nada mesmo.
- Não preciso dessa super-proteção. Sei tomar minhas próprias decisões e isso ficou muito claro depois do que aconteceu. Mérlin, esse assunto não se esgota?
- Não está entendendo, Celina. Nada de mau pode te atingir. Eu não aceito nenhuma hipótese... Não consigo pensar nisso. Eu não agüentaria. Você é minha força e meu maior ponto fraco, meu calcanhar de Aquiles. Prefiro que tenha ódio de mim a correr qualquer risco a meu lado. Por mim.
- Eu já falei...
- Eu sei, eu sei. O risco é real e já existe por você ser quem é, por ser a guardiã do amuleto. Mas meus sentimentos não são racionais e não tem que ser. É que você é tudo que eu tenho. Provavelmente não pode entender o alcance disso. Eu realmente não tenho mais nada... – os olhos dele brilharam perpassando sua dor. – Ninguém...
- Harry... – ela teve muita vontade de tocá-lo, mas ele afastou suas mãos, a contendo.
- Espera. Não terminei. Por causa disso, dessa necessidade vital de que você esteja bem, vamos ficar sem nos ver até o final da guerra.
- O que está dizendo? – ela fez uma careta de incompreensão.
- Que amanhã bem cedo vamos nos separar, talvez por pouco tempo, talvez...
- Meses? Anos? Você quer voltar à estaca zero? A levar aquela vida miserável... de saudade, solidão e me obrigar também?
- Você está supondo que eu vou sobreviver. Você sempre faz isso.
- Não estou supondo, eu tenho certeza. – ela apertou o maxilar. – E não se atreva a dizer o contrário.
- É o que eu mais quero, o que vou lutar pra acontecer, mas nós não sabemos. Se acontecer o pior...
- Pára! Não vou ficar escutando isso como uma viúva. – ela se levantou sendo seguida de perto por ele.
- Se acontecer, - ele insistiu. – não quero que esteja por perto. Meu único consolo vai ser saber que está bem.
- E quanto a mim? – ela gritou apontando para si mesma. – Qual vai ser meu consolo? Pensar que pelo menos eu fiquei viva? Eu te amo! Preciso de você perto de mim! Nunca quis um herói... – lágrimas de raiva começaram a arder em seus olhos e ela as conteve com esforço. - Só quis você, seu idiota... cretino teimoso.
- Lyn... – ele levou a mão em sua direção e ela a tirou com brusquidão.
- Diabo, me deixa ir logo! Quanto antes me trancar numa caixa escura, melhor pra você. Eu estou farta dessa vida estúpida, dessa vida... anormal. Só queria fugir...
- Se fosse possível eu seria o primeiro a ir com você. Ir para um lugar onde as coisas fizessem sentido. Mas não acho que este lugar exista.
- Existe sim. Quando nós estamos juntos. – ela o encarou pedindo que ele voltasse atrás, mas o que leu foi justamente o contrário. Mais uma vez a decisão estava tomada, e agora em seu descrédito. Ela sentiu novamente a vontade odiosa de chorar. – Então é isso? Não vou conseguir fazer você mudar de idéia?
Ele negou com a cabeça.
Ela se moveu em direção a seus pertences, com a intenção de juntar suas coisas e sair dali o mais depressa que pudesse, antes que começasse a implorar.
- Não, por favor, fica. – ele a segurou e tentou fitá-la nos olhos. – Você não pode ir desse jeito. Não pode ir com esse ódio. – e ele mesmo mostrava toda sua fragilidade com a iminência de perdê-la. - Fica comigo mais um pouco... Esta noite.
- Sabe por que deixei você dormir comigo a outra noite? - ela se afastou e finalmente ergueu o queixo trêmulo. - Por que você precisava disso. Eu estava magoada, com raiva, mas também estava preocupada com você. Eu esqueço de mim por você. E você não é capaz de enfrentar essa droga de medo pra ficar do meu lado. Não. – negou com a cabeça. - Eu não vou ficar com você esta noite. Quero suas palavras traidoras longe dos meus ouvidos, suas mãos traidoras bem longe do meu corpo.
- Você está sendo injusta. – ele tentou faze-la enxergar, fazer com que não partisse daquele jeito.
- É MESMO? POIS EU, CELINA GRYFFINDOR, - ela gritou para as paredes, dando um tom sarcástico ao próprio nome. – TENHO TODO DIREITO DO MUNDO DE SER INJUSTA! POR QUE A DROGA DA VIDA SEMPRE É COMIGO!
- E NÃO TEM SIDO COMIGO? SEMPRE? – ele também gritou, deixando a frustração ganhar. – OLHA PRA MIM E DIGA SE ESTÁ VENDO ALGUMA FELICIDADE EM TE DEIXAR PARTIR? EU TE AMO, PORRA!
Um archote se partiu com um forte estalo.
Ela negou com veemência, sentia tanta raiva dentro de si que parecia queimar, parecia explodir. Era incontrolável.
E ele continuava a gritar.
- TE AMO TANTO QUE CHEGA A DOER! SABE O QUE É ISSO? QUERER TANTO QUE MACHUCA?
- Tem razão – ela começou. – A culpa foi minha, eu devia ter procurado alguém com um amor menos complicado. – sua voz saiu baixa e tremida, do jeito que sempre saía quando ela se sentia mais perigosa. Ela sabia que alguém ia ser ferido. E esse alguém seria Harry. E ela não estava dando droga nenhuma de importância àquilo. – Devia ter procurado alguém que me quisesse por perto.
- Eu amo você do jeito que eu posso! – ele tentou se controlar. - Complicado, é verdade, mas forte demais. – abrandou a expressão e se deslocou, tentando mais uma vez puxá-la e sendo repelido novamente – Pode me repudiar, mas isso continua sendo verdade.
- Pode ser verdade, mas você não é o único.
Celina andou alguns passos até a porta, querendo deixar tudo o mais para trás, quando ele a alcançou e segurou com força.
- O que está tentando dizer? – disse com os olhos queimando.
- Exatamente o que está entendendo. Você não é o único. – ela encarou as mãos dele em sua pele com ferocidade, mas o rapaz pareceu ignorar o recado.
- Acho melhor explicar com suas palavras. – Harry sentiu seus dedos magoarem os braços dela, mas não conseguiu controlar o ciúme lancinante que subiu por suas veias. – Bem explicado.
- Não é o único que gosta de mim, Harry. Acho que sabe disso. Eu já superei um amor antes. Posso fazer de novo. – ela o encarou vendo o ódio estampado nas feições do bruxo e, imprevidente, continuou. – O bom de se machucar feio é que você descobre que não vai morrer por isso. Eu posso encontrar outro alguém num estalar de dedos. Alguém pra beijar...
- Pára com isso. – ele tentou falar com calma, mas apertou seus braços com mais força.
A moça sorriu com maldade.
- Alguém pra me tocar...
- Cala a boca! – ele finalmente a sacudiu, a raiva saindo em ondas.
- E eu vou gostar, - ela devolveu com crueldade. – vou gostar demais...
Harry a puxou com violência, esmagando a boca da bruxa na sua. Um beijo que quase o fez sentir o gosto de sangue Gryffindor.
Celina cravou as unhas nos braços dele, apertando onde ainda estava machucado. Ouviu um gemido de dor, mas ele não a libertou, continuou forçando seu corpo, se empurrando, apertando até conseguir invadir sua boca e friccionar a língua na dela num beijo áspero e duro. Ele passava pelos lábios, dentes e língua toda ira provocada pelas palavras dela. Era tudo menos um beijo de amor.
Então a soltou bruscamente.
Ela deu um passo para trás, se desequilibrando, e o olhou numa infelicidade que suplantou a própria raiva, o que surpreendeu a si mesma. Estava fraquejando.
- Eu odeio o que está fazendo comigo. – sussurrou de um jeito sentido.
- Eu odeio o que estou fazendo com você. – ele respondeu igualmente magoado. – Mas odeio ainda mais o que você está fazendo conosco.
Celina o fitou até seus olhos embaçarem.
- E ainda assim... – ele olhou seus lábios inchados e avançou novamente, a puxando pela cintura. – Como eu ainda te quero. – Ela não estava falando sério, não poderia ficar com outro, tinha que ser fingimento. Ele tinha certeza que ela o amava.
Mergulhou nas profundezas dos olhos dela. Era impossível resistir a um simples olhar sofrido que ela lhe dava. Quanto mais àquele.
A bruxa viu os olhos verdes refletirem todo desejo que ele sentia, toda vontade de que ela o tocasse, retribuísse, então foi atingida pela verdade de que para ele aquilo era uma despedida. Harry realmente a deixaria de novo.
Seu instinto mau retornou com força dobrada. Ela o deixou segurá-la nos braços, tocar seus lábios com os dedos, com seu olhar apaixonado, o deixou tomar sua boca, desta vez de forma terna e vagarosa, e retribuiu o beijo, o deixou se tornar cada vez mais quente, mais forte, até senti-lo tremer de paixão em sua boca. Então o empurrou com ódio no olhar.
- Conseguiu o que queria? – ela limpou a boca na manga com desprezo. - Agora me deixe ir pra casa.
O rapaz cambaleou alguns passos para trás com a força da repulsa. Ele contraiu as feições, sentindo o coração baquear apertado.
- Onde está a tranca? – ela forçou a maçaneta sem sucesso. O silêncio atrás de si ficando muito pesado.
- Onde?! – repetiu com raiva.
- Tente usar sua varinha. – ele disse com a voz muito distante.
Ela gostaria de poder apertar os ouvidos. Aquela voz magoada... Mas precisava ser inclemente.
- Alohomora! – ela disse uma, duas, três vezes e a porta continuou trancada.
- Não vai adiantar. – o ouviu dizer do mesmo modo.
- Por quê? Foi você que trancou? Está tentando me impedir? – ela se voltou, o desafiando. Ele tinha os cabelos ainda mais revoltos, as roupas amassadas e um filete de sangue tinha corrido pela blusa, no braço que ela unhara.
Harry fez que não.
- A sala da diretora está fechada. Não vai conseguir ir embora sem a ajuda dela. Feitiços protetores por todo lado, se esqueceu? Especialmente aqui.
A garota procurou não encará-lo, não se arrepender. Matutou furiosamente sobre aquelas palavras. Não, não havia nenhum furo no que ele falara. Hogwarts era uma fortaleza, tanto para quem queria entrar, como para os que queriam sair. Estava irremediavelmente presa a ele até a manhã seguinte.
Celina o encarou numa raiva fria.
- Que seja. Mais uma noite não vai me matar. – caminhou até seus pertences e o saco de dormir, tentando ignorar a mágoa estampada em Harry. – Não se aproxime daqui.
- Pode sossegar. Não vou. – ele foi até a lareira e sentou-se no sofá ficando meio de costas. – Não tenho mais a menor vontade.
Como a um comando dos pensamentos dele, os archotes restantes se apagaram, restando apenas a luz do fogo.
Ela se vestiu para dormir e se acomodou sentindo um gosto ruim na boca, ainda com ódio dele, com os punhos se crispando de vontade de agarrá-lo e gritar e bater, bater muito, dizer as coisas que mais o magoariam, maltratá-lo, fazer sangrar seu coração, até estar tão cansada, tão esgotada e vazia que sua única alternativa seria... beijá-lo... e fazer amor com ele.
Não era possível que estivesse pensando aquilo. Não era normal que pudessem existir aquelas duas pessoas dentro dela. A que era puro ódio e a que era apenas amor.
- Celina. – voz dele a sobressaltou no escuro. - Não.
- Quê? – ela ergueu o corpo como se empurrada por uma mola.
- A resposta pra sua pergunta. Não. – mesmo na semi obscuridade ele a segurou pelo olhar. – Não consegui de você o que eu quero. Seria preciso uma vida inteira pra sequer começar. Eu simplesmente sempre vou te amar. Não importa o que faça. – ele se virou para as chamas novamente. – Se me espancar te ajuda a me beijar... estou aqui. Só não espere cooperação.
A quanto tempo a estava observando? Seria tão transparente que ele adivinhava seus pensamentos sem nem precisar de Legilimência?
Ela não respondeu. Virou-se para o lado e tentou esfriar a cabeça e dormir. Mas se acalmar quando todas as suas terminações nervosas estão em pane é uma meta inatingível.
Depois de um tempo interminável, quando os ponteiros provavelmente haviam girado bem menos do que sua imaginação fazia crer, ela ainda continuava de olhos abertos, longe de qualquer sono libertador, de qualquer paz, ouvindo o crepitar do fogo e nenhum ruído a mais. Foi a vez dela sentir frio, sentir falta do abraço dele. Sentir que, não importavam os motivos que tivesse, tinha ido longe demais.
“Dezoito anos, peso demais.” Imagine como seria para ele?
Girou o corpo no saco de dormir até enxergar o perfil do bruxo. Harry estava imóvel, largado na mesma posição de antes, passaria fácil por uma estátua. Mas ela sabia que estava acordado.
Ela se levantou devagar e andou insegura até o pé do fogo. Ele nem se deu ao trabalho de se mexer.
- Não vou mesmo te ver até o fim, não é? – ela se virou de frente para ele.
Ele fez que não.
- Sinto muito. – a moça se viu dizendo, num fio de voz. – Tem uma parte de mim te odiando, mas a outra não queria ter feito... o que eu fiz.
- Qual é essa outra parte?
De repente, o ruído rouco da voz dele foi o som mais bonito que podia ter escutado na vida. Estava sentindo falta. Horrivelmente. Harry sempre falava do poder que ela tinha sobre ele, mas Celina tinha a percepção contrária. Era a ele que ela pertencia e cortava o coração imaginar que não se veriam por um tempo que podia ser tão longo. Talvez... Não. Não podia sequer pensar em nunca mais.
- A parte que te ama. A parte que não vai ter nenhuma alegria até te ver de novo. Que não vai suportar se... – ela não conseguiu pronunciar.
- Se eu morrer? – os olhos verdes faiscaram quando a encarou.
- Não diga isso.
- Tem idéia do mal que me fez me desprezando daquele jeito?
- Tem idéia do mal que me faz me abandonando desse jeito?
- Tenho.
- Eu também. Só queria te ferir. – ela contraiu o semblante. - Sou boa em ferir os outros.
- Então acho que sou bom em me deixar machucar por você. – ele teve um esgar de tristeza. – Estranho como nunca consigo evitar... Ser vulnerável a você.
- Me perdoa... por favor. Estou com tanta raiva de você... e tanta vontade de te abraçar...
Harry tirou os olhos dela, voltando à mesma distância de antes.
- Estou com frio... sem você. Preciso de você. – ela arrancou as palavras com dificuldade. - Não sou boa em implorar, mas se quiser... seria justo.
- Não quero que implore. – ele fitava o fogo.
- E o que você quer, então?
- É boa em ter a iniciativa? Em me convencer de que o que disse mais cedo é mentira?
Ela mordeu os lábios e assentiu devagar.
- Então, por favor, faça. – ele a fitou daquela forma intensa que se comunicava sem necessidade de palavras. – Você também é muito boa em mostrar desprezo, crueldade. Boa demais.
Celina sentiu aquelas palavras a apunhalarem. E eram todas verdadeiras. Ela caminhou insegura até o sofá, se ajoelhando de frente a ele. Afastou as pernas de Harry, se colocando entre elas. Apoiou as mãos nos joelhos do bruxo e se esticou até ficar próxima ao rosto sombreado. Ela sentia seu corpo estremecer, hesitar. O maldito orgulho reclamando, perdendo a batalha, mas não o medo. Se mesmo assim ele a rejeitasse, não poderia reclamar. Estaria apenas recebendo de volta o que tinha feito.
- Eu sinto muito. - ela pousou os lábios suavemente sobre o rosto dele, os levou lentamente pela pele do rapaz até os machucados e hematomas não curados. – Perdi a cabeça.
Ele não se moveu. A sentiu afastar sua camisa, beijar seu braço dolorido. Estava arrepiado até a alma, mas ainda assim não se moveu.
- Sinto muito. - ela levou as mãos até o pescoço dele, o beijando nos lábios com delicadeza. Sua insegurança aumentando, a confiança do que achava que provocava nele, se perdendo.
- Por favor. – se afastou um pouco e segurou uma das mãos do bruxo, beijando a palma, cada dedo. Subindo a boca pelo pulso, pelo braço. Se ele estivesse sentindo um décimo do que ela... Tanta vontade de estar nos braços dele... Mas ele não fazia nada... Não sentia...
- Quer... que eu pare? – ela perguntou mal podendo encará-lo.
- Quero. – Harry disse sério, vendo o rosto dela se encher de dor, as mãos deslizando para longe dele. – Quero que pare de me ferir.
- Vai parar também? – ela sentiu duas lágrimas quentes descendo pelo rosto. – Vai parar?
- Sua segurança é minha prioridade. Fora disso não vou te ferir de nenhuma outra maneira existente. – ele tirou as costas do sofá e se inclinou um pouco para ela. – Vai entender isso? Vai?
Ela contraiu o rosto segurando um soluço.
- Não, mas vou tentar. Que outra alternativa eu tenho?
- Vem aqui. – ele sussurrou de um modo sombrio e com uma urgência sem tamanho.
Celina obedeceu sentindo as lágrimas caírem.
Ele a puxou bruscamente, com pressa, colocando-a sobre si com as pernas abertas, encaixadas ao seu redor.
- Agora me beija, - disse muito rouco. – prova que me quer, me faz acreditar que o que disse era mentira. Faça. Agora.
Ela segurou o choro, aproximou-se mais e ensaiou um beijo trêmulo sobre a boca dele, arranhando os lábios do bruxo com os dentes, o corpo tremendo tanto que não conseguia responder corretamente a seus comandos.
- Por favor, Harry. – ela implorou quase sem voz. – Por favor...
Era uma súplica tão eloqüente, tão verdadeira, que parecia dizer com todas as palavras o quanto ela precisava dele. E de repente ele simplesmente não pôde mais suportar.
Harry a segurou pelo pescoço e a beijou devagar, se aprofundando em sua boca conforme a sentia se soltar. Ele passava pelo beijo todo seu amor, toda a saudade que já crescia do tamanho do mundo. Sentia o corpo dela se aconchegando, as lágrimas cedendo, as mãos o afagando, deixando um caminho arrepiante por onde passavam. Apenas quando sentiu Celina o apertando com mais força, a boca com fome, pedindo por mais, foi que ele se abandonou à sua necessidade, deixando de ser gentil e permitindo ao desejo comandar.
Harry a beijou furiosamente, a língua sugando toda umidade da boca dela, todo ar. A outra mão a comprimindo sobre ele, forte, tentando senti-la por baixo da roupa de dormir.
- Nunca. Nunca mais diga aquilo. – disse entre os beijos desesperados. – Que vai ser de outro...
- Nunca mais. – ela o segurava com força pelos cabelos, arqueava o corpo sobre ele, pelando de amor e desejo. – Não vou...
- Diz que é mentira. O que falou. – disse enquanto subia a camisola dela.
- Mentira. Tudo mentira. – ela ofegou com as mãos que subiam por sua cintura. - Só você... Eu quero só com você.
Ele alcançou seus seios, pressionando, circulando os mamilos, a fazendo gemer.
- Eu quero você, Harry. Só você. – ela arrancava a camisa que ele usava, o livrava dela, deixando os dedos descerem pelo peito. - Eu quero tanto... Eu amo tanto você.
Ela começou a puxar devagar a calça que ele usava, e Harry levantou um pouco os quadris, querendo ajudar, querendo que ela fosse rápida, mas continuando a sentir suas últimas peças de roupa deslizarem de mansinho, juntas, devagar demais.
Como numa provocação ao que Celina fazia, retirou a camisola dela quase com a mesma calma, então a forçou a se apoiar nos joelhos, tirando sua peça íntima enquanto lambia seu umbigo.
- Eu te amo. Te amo. – ela gemia, curvada sobre ele, sentindo a boca quente correr pelo seu corpo.
- Esse sofá... – ele falou abafado entre beijos e mordidas, descendo o corpo dela devagar sobre o seu. – Sabe quantas vezes eu imaginei isso acontecendo? Você e eu aqui... de todo jeito... Cada vez que você se enroscava em mim, cada vez que eu precisava me segurar...
- Então não se segure mais, amor. Eu quero. – ela disse em meio a um choro quando ele a colocou sobre si, deslizando devagar e fundo, até se encaixar inteiramente nela.
- Eu te amo, Harry. - ele mordeu seu pescoço com mais força.
- Me mostra. Mostra como me ama.
Ela ondulou sobre ele o ouvindo arquejar, gemer abafado em sua garganta. Seu corpo totalmente preenchido por ele. Só ele.
- Assim? – ofegou. – Estou te mostrando? – ela se moveu ainda mais leve sentindo que aquilo era quase dor. – Estou fazendo certo?
Ela travou um grito quando ele a segurou com força por trás e arremeteu mais forte, respondendo à pergunta.
- Vai me deixar louco se continuar a me provocar. E eu quero... Quero que me provoque. Sente o que você faz comigo, Celina.
Ela sorriu quando a boca dele a tomou longamente, sentindo que nada era tão perfeito, tão maravilhoso do que quando estavam conectados daquele jeito. Quando ele buscava por ela, perdendo a razão. Tinham que ficar juntos. Tinha que ser para sempre.
- Lyn... – disse em sua orelha.
- Harry...
- O que está sentindo? – ele afastou o rosto para fitá-la. – Quero ouvir... quero ver...
- Dor. – ela disse entre pequenos gemidos. – Dor tão boa.... Você está me machucando. De um jeito tão... tão bom. Tão... quente... e forte.
Ele se moveu mais rápido por baixo dela, suas palavras o atiçando como um vulcão em lava.
- Por favor... – ela choramingou.
- Por favor o quê? – ele mordeu o queixo dela, enquanto a via arquear as costas para trás. A expressão de gozo inundando suas feições.
- Por favor... Me machuque assim... assim...
Harry chegara a um limite de onde não podia voltar.
- Vem pra mim, amor. – ele falou. - Vem pra mim.
Celina sentiu suas pernas se contraindo, todos os músculos tesos, os quadris se jogando sem controle de encontro a ele, em movimentos sincronizados e cada vez mais perto da culminância. Sofregamente. Ela escutava os rugidos dele, seus próprios gritos incontidos, entrecortados, que saíram por sua garganta enquanto se sentia quebrar de encontro à força dele.
Harry a estava apertando, gritando seu nome, até que ela sentiu que ele tremia e se jogava dentro de si, longe de qualquer pensamento ou razão.
- Para sempre, para sempre. – ela repetia como um mantra, sussurrando, enquanto ele se desmanchava em espasmos dentro dela.
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Ela mal podia se mover, tal a languidez e delícia de estar com ele, enroscada naquele sofá que os sabia tão bem. Estavam naquele momento em que os problemas espreitam há um segundo de distância, mas ainda podem ser obrigados a esperar. Tudo em nome da força que move céu, terra e seres humanos, o amor.
Celina não queria saber de nada mais do que se afogar em Harry, sua presença e respiração em seu pescoço, sua voz em seus ouvidos, sua pele que ainda arrepiava seu corpo. Não importava a distância continental em que se encontravam antes, tudo se fechava como mágica, bastava se darem uma única chance. Era tão certo e perfeito como duas pessoas que falassem uma mesma língua secreta, que apenas elas compartilhassem. Tudo o que queria estava em seus braços. Se ela ao menos pudesse tornar eterno...
Mas isso também precisava esperar. Havia um certo assunto inadiável e o quanto antes fosse resolvido, mais cedo poderia se perder novamente naqueles olhos que tanto amava. Sabia Deus que precisava aproveitar cada segundo que restava.
- Preciso te dar uma coisa. – sua voz saiu tal e qual seu corpo, mole de fazer amor.
- Mais uma? – ele sorriu de leve, ouvindo um resmungo fraco que se assemelhava a uma risada.
- Pervertido.
O sorriso dele se alargou ainda mais.
- A gente pode discutir este ponto de vista. – ele esfregou o nariz na bochecha dela. – De forma não-verbal.
- Daqui há pouco. – ela afastou o rosto um pouco, fitando os olhos sonolentos do rapaz.– Tenho mesmo uma coisa pra te dar.
Harry a fitou levemente intrigado, estava com o raciocínio meio lento para qualquer coisa que não fossem os dois sobre o sofá.
- Godric... você sabe que já tenho tudo o que quero. – ele gracejou. – Embora a gente sempre possa reforçar... – ele a beijou até que a moça tomasse a iniciativa de parar.
Celina parecia sorrir, mas mordia o canto da boca como se pesasse as palavras que diria.
- Ok. - ela pareceu subitamente desperta. – Primeiro, não é uma coisa sobre a qual você tenha escolha. Quer dizer... eu também não vou voltar atrás.
Como se um sino o despertasse, Harry levantou a cabeça de imediato, apoiando o corpo com o cotovelo. Aquelas palavras não eram bom sinal. Não eram não. E ela estava com aquela expressão novamente, a de quando tomava uma decisão irreversível.
- Você tem minha total atenção. – não pôde deixar de contrair o cenho levemente. – Mas, por favor Lyn, cuidado com o que vai dizer.
Ela tocou seu rosto com as pontas dos dedos e falou seriamente:
- Um novo guardião, até que o mundo mude novamente. Eu passo para você.
Ele chegou a franzir os olhos, mas a sensação de algo repuxando em seu pescoço desviou sua atenção. Ao levar a mão, ele sentiu um fino cordão e no final deste a pedra em formato de gota. Estava usando o Amuleto de Ísis.
- O quê... – ele teria se sentado de uma vez se Celina não o tivesse retido.
- Você vai precisar bem mais do que eu.
- Você... De jeito nenhum! – ele tentou tirá-lo, sendo impedido mais uma vez. – Celina...
- Escute... eu não posso colocá-lo de volta em mim. Está feito. Já escolhi um outro guardião. Temporário, mas escolhido.
- Você não pode... – ele mal conseguia se pronunciar, tal o abalo. “Aquela maluca...”
- É claro que posso. – ela o contradisse com um doce sorriso. – Do mesmo modo que minha avó fez com Dumbledore. O Amuleto deve servir à humanidade e não à uma única família.
- Você percebe que o que está me pedindo é impossível? – ele se desvencilhou e a puxou, ficando os dois sentados. – Não posso e não vou tirar sua mais forte proteção.
- E minha mais forte fraqueza. – ela pontuou com ênfase. – Você não vai estar levando apenas uma fonte de poder com a qual lutar, mas também a fonte de toda a cobiça e perseguição que este objeto me traz. Há pontos positivos e negativos, - ela colocou os dedos sobre a boca dele, percebendo que queria interrompê-la. - mas eu acredito, que tal como Dumbledore, você vai ter uma chance muito maior de lutar contra o Riddle. – ela o beijou rapidamente, para atenuar o que diria em seguida. – E não é um pedido, meu amor.
Ele sacudiu a cabeça, em descrença:
- Você sabe que eu já tenho a...
- Eu sei. – ela enfatizou. – E agora também vai ter o Amuleto de Ísis. Ele o procura há tanto tempo... E nunca iria imaginar que está com o maior inimigo.
Ele parou de negar, sentindo um arrepio de excitação pelas palavras lógicas que ouvia, mas logo sacudiu a cabeça novamente, tentando não se deixar envolver pelos argumentos sedutores que ela usava.
- Celina, minha maior preocupação é seu bem-estar, você não percebe que estaria ficando sem uma parte de si própria? Essa pedra tem um laço com sua família, com o seu sangue, não o meu. Não basta a prova que tivemos na destruição da taça? Você cresceu com este Amuleto e ele faz parte do que você é. Não pode se ver de uma hora para a outra sem esta proteção.
- Se esta é sua preocupação, pode ficar sossegado. Eu não vou estar totalmente sem ele, Harry. – ela sorriu com mais confiança, sabendo que tinha dado o bote e que seria uma batalha de apenas um vencedor. Ela.
- Segure o amuleto. - ela levou a mão do bruxo até o pingente. - Passe os dedos por ele, com cuidado... está sentindo?
Harry a fitava, intrigado, sentindo as saliências lapidadas da pedra verde. Então percebeu algo diferente. Uma falha. Faltava uma lasca ínfima na pedra.
- Viu? – ela mostrou o local exato. - Eu ainda tenho parte dele.
- Não entendi.
Celina mirou significativamente as vestes que usara mais cedo, colocadas não muito longe dali, e ele acompanhou o seu olhar.
- Na luta entre Grindelwald e Dumbledore o cristal foi atingido. Como você viu, falta uma lasquinha mínima. Pois então... este pedaço é a parte mágica que está na minha varinha.
Harry entreviu uma parte da varinha aparecendo por um bolso lateral da calça da garota. Era como um círculo se fechando. Ele a observou atônito. Ela tinha pensado em tudo.
- É, meu amor... – Celina o puxou delicadamente sobre si, fazendo-o se deitar sem nem mesmo perceber. – Você terá todas as armas que eu puder arranjar. Sem desculpas... Você vai voltar pra mim ou eu não me chamo Celina Gryffindor.
Era a primeira vez que a ouvia dizer aquele nome com tal sutileza apaixonada, mas não era a primeira vez que sentia essa mesma paixão se transmitir por cada parte de seus poros e veias. Ele tinha Celina, dentro do coração, sobre o coração e sob o próprio corpo ardente.
A vitória parecia possível.
Eles voltaram a ser um, voltaram a fazer o amuleto faiscar, mesmo que regido por outro corpo. Não adormeceram naquela noite, seria sua despedida e eles não sabiam o que aconteceria em suas vidas, apenas divisavam que o que quer que fosse, aconteceria muito depressa.
Em sua despedida, sem lágrimas, ela disse as palavras finais que o acompanhariam pela última etapa de sua jornada. Que o acompanhariam por mais tempo ainda do que podia sonhar.
- Eu te amo. Continue lutando.
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N/A: Oi, queridos, nada de Avada, por favor. Quero ver todos alegrinhos, mesmo que o cap dezoito possa demorar um tiquinho. *Autora escuta os resmungos indignados e pesa a possibilidade de sair de fininho*
Ok, eu sei que não tem nada pior do que acompanhar uma fic que demora a ser atualizada. Mas, como consolo, pensem que é por um bom motivo: Não quero escrever de qualquer jeito, principalmente por estarmos num ponto muito complicado da trama. E outra coisa, sosseguem, não vou desistir da fic. Isto está absolutamente fora de cogitação. Desistir é deixar o filho morrendo à míngua e isto mãe nenhuma faz.
Também tenho mais alguns motivos pela demora, estou escrevendo uma nova fic: O Clã. É uma fic H/G com universo alternativo, que já se tornou mais do que especial para mim. Está sendo postada no Fanfiction e FeB, daqui há pouco no 3 Vassouras, portanto sintam-se mais do que convidados a conhecer este outro mundo (adoraria que os que ainda não foram, dessem uma olhadinha). E também temos a “Conquistando o seu Amor”, escrita por minhas deliciosas irmãs, Nani Potter, Remaria, Ara Potter, Priscila Louredo, Sally Owens, Paty Black e a autora que vos fala. A Fic das Sete Mulheres ou das Meninas Super Poderosas, como a gente costuma brincar.
Agora entenderam minha demora? Rsrsrsrsrsrsrsrsrs
Ah, e antes que digam que eu me esqueci, Ron e Mione... um passarinho me contou que um casalzinho deve se acertar em breve. Aguardem e confiem. Hehe.
Nota da Betha - Livinha: sim, eu tive o prazer de bethar esse capítulo maravilhoso! E podem ficar tranqüilos, afinal, se a Geo desistir dessa fic eu tomarei as devidas providências, das quais já a preveni! - riso malévolo - E aguardem os próximos capítulos, mesmo que durem eras pra aparecer, o que ninguém merece, obviamente, mas...... não vão se arrepender em esperar as eras..rs.. Afinal, como o título já diz, estamos no começo da etapa que dará o fim à jornada, a qual eu tenho certeza - e isso são divagações de minha cabeça, mas que têm uma verdadezinha bem singela - que será ligeiramente tortuosa! Porém, entretanto, todavia, no entanto, sabemos que vale sim, MUITO a pena transcorrê-la!! E o comentariozinho que era pra eu fazer, ficou até grande demais..hehe.. Mas, não menos importante, e para concluir: Parabéns, Geo!!
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Agradecimentos especiais:
Aos amigos do Aliança 3 Vassouras que, por uma discrepância entre a att da Pichi e os reviews, ficaram sem resposta no último cap, mas nunca foram esquecidos:
Douglas: Uau, no estilo tia Jô? Quem dera, querido. Rsrsrsrs. Que delícia que gostou da minha filhota, a Celina é meu xodó. E pode deixar que não vou parar de escrever não. Super beijo.
MaHh: É, as coisas continuam calientes... Mas era pra ser assim mesmo. Espero que continue gostando. Beijão.
Manu: Obrigada pelo elogio, linda. Quanto a terminar logo... acho que ainda temos muuuita coisa pela frente. Mas tenho a impressão que você vai gostar (eu pelo menos tenho me divertido e sofrido um bocado). Bjosssssssssss
Pri Weasley: Nossa, Pri, assim você ganhou uma amiga... Sabe como é, quem elogia o filho, ganha a mãe. Rsrsrsrs. Eu tbém amo a Celina de paixão. Sobre o cap 15 no 3V, que estranho... fui verificar e no meu pc ele aparece completo. Ainda bem que v tbém acompanha pelo FeB (fiquei encantada em ter se cadastrado por causa da Amuleto). Beijão, querida.
Andréa Pismel: Mérlin... quase morri de rir com o lance do Kama Sutra. Como te disse antes, vamos ver o que é possível. Kkkkkkkkkkkkk. Sim, eu sei que tenho demorado muito, isso é um saco para quem está lendo e gostando da estória. Tenho uma vida bastante cheia, mas no possível, vou tentar melhorar meu tempo. Só não se anime muito para o próximo cap, por abordar partes bem difíceis, deve demorar um pouco. Super beijo.
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Aos amigos do FF e do FeB:
Remaria: É... aquelas frases... naquela parte... acredita se eu disser que dá até vergonha? Rsrsrsrsrs. Mas como já estamos na chuva o negócio é abrir os braços e se deixar molhar. Também te adoro, mana postiça. Vamos ver o que vira sua mana aqui, nessas cenas de ação. Ai meu Mérlin... Onde eu fui amarrar o meu hipogrifo...
Livinha: Beta! Que bom que gostou das lembranças do Harry sobre o Dumbie. Adoro escrever de forma cíclica, sempre voltando à certos pontos da fic. Dá aquela sensação de “Ahhh... é mesmo...” Tendo você como co-piloto e leitora em primeira mão, acho que eu não poderia estar mais bem servida. Muito obrigada, querida. Beijos mil.
Sally: Hum, acho que você vai ter que aguardar mais um pouquinho por Ron e Mione. Prometo ser gentil. Hehe. Que legal que achou as coisas bem dosadas e gostou dos diálogos. Se fui feliz neste último capítulo seu banho gelado há de se repetir. Rsrsrsrsrs (Pode ficar contente, agora que att posso me dedicar aO Clã). E não sei se espero mais ansiosamente o próximo cap de Just ou Retorno. Você dá um nó no meu pequeno coração...
Arinha: Não sei por que, mas mesmo quando seus reviews não são necessariamente engraçados, eu ainda assim começo a rir. Acho que é porque adoro o seu bom humor e fico imaginando as caras que faz na hora em que está lendo. E pode deixar... o ruivão gostosão tá no papo... da Mione, que fique claro. Querida, eu também te adoro e estou sentindo falta dos seus toques, apoio e alegria nas nossas conversas (pc mau, muito mau...). Amo você.
Macah: Meu Mérlin! Tenho uma assessora de divulgação pessoal! Querida, muito obrigada por tudo, sim? Não me esqueço que você esteve presente desde o começo, quando a fic ainda engatinhava. Viu que moçona está ficando? Muitos beijos.
Mary: Querida!!! Parabéns!!! Caloura no pedaço, galera! Vamos dar trote no bicho! Rsrsrsrsrs. Agora acabaram suas desculpas... todas elas. Quero ver essa fic nova no ar. Você foi uma das primeiras pessoas a me incentivar nessa empreitada, quando o nosso ultra-mega-problemático casal era só amiguinho. Faz tempo, né? Obrigada por sua presença, miguxa, é muito bom poder contar com você.
Pry: Puxa, Pry, seu review me deixou nas nuvens. Uma estória provocar essa reação num leitor é o sonho de todo escritor, sabia? Tem algumas fics que também me deixam desse jeito, por isso só posso achar o elogio ainda maior. Obrigada, querida, não prometo att rápidas (ao menos a próxima), mas prometo tentar manter o nível. Beijão, linda!
Bebel Potter: Atualizada! Demorada, eu sei... Snif. Queria ser mais rápida, mas se fosse demais ia comprometer a qualidade do trabalho. Depois do cap 18, o 19 vem rapidinho, ok?(Abafa o caso, mas já está pronto). Estou me “pipocando” pra postar. Mega beijo, querida.
Anderson: Oi, querido, estava sentindo sua falta. Contente que tenha gostado das Nc’s. Vem mais por aí. *Autora nem um pouco corada, vai...* Beijos e não suma.
Pedro James: Kkkkkkkkkkkkkkk. Tinha esquecido, é? Pois eu não. Nosso casal se desenrolou, afinal. Espero que tenha gostado da overdose de NC’s e que continue por aí. Beijão e brigadaaaaaaaaaa...
Srta Lups: Querida, fiquei preocupada. Você recebeu meu e-mail? Tomara que sim. Em todo caso meus parabéns, de verdade. Viva a Lu!!! Tentei correr pra postar, mas não teve jeito, enquanto o cap não fica do jeitinho que eu quero, nada feito. Em todo caso, fico felicíssima que considere a Amuleto um presente de aniversário. Mil beijos e viva este momento com toda a intensidade, beleza e também com a pitada de bom senso que ele pede. Felicidades. XD
Paty Black: Manaaaaaaaaaaa... estou arrasada, devastada, destruída! Seu review foi absolutamente tragado pela pane no FeB. Agora só conto com minha memória para responder. Foi... lindo, Paty. Maravilhoso, adorável, caloroso, carinhoso... igual a você, maninha. Obrigada pelo seu apoio, viu? É muito importante pra mim. Bjo. Bjo, bjo. (Cadê a “Secreto of Veil” e a “Separados”? *bate o pezinho* Também quero sonhar acordada). :***
Queridos, se mais alguém ficou de fora pela pane do FeB ou pela demência da autora, me avisem que farei contato.
Beijos da Geo (autora cansada, acabada, mas feliz).
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