Recomeço
Capítulo 12 - Recomeço
Hermione entrou no restaurante vinte minutos atrasada, Ron a fizera se atrasar, a segurar no chuveiro, dizendo que ela não tinha almoçar com ninguém a não ser ele. Logo que entrou no recinto reconheceu Severus em uma mesa quase aos fundos, o rosto nada amigável. O lugar era simples, como qualquer outro restaurante trouxa que se tinha em um bairro mais simples de Londres.
Severus a viu se aproximar com um sorriso de desculpas e não conseguiu ficar inteiramente bravo, mas ela sabia bem o quanto ele odiava demoras e atrasos.
-Achei que havia se esquecido. – ele disse enquanto ela agradecia o cardápio que lhe entregavam.
-Bom dia pra você também, Severus. – ela respondeu sem se importar com o comentário dele, sorriu indicando que levaria qualquer malcriação como brincadeira e desceu os olhos para a lista de comidas a sua frente.
-Como conseguiu sair de sua casa com seu namorado possessivo lhe segurando? – ele perguntou, vendo ela lhe olhar quase surpresa. ”Nunca disse que Ron é meu namorado.” ela pensou, mas um sorriso bobo se postou em seus lábios pintados de vermelho.
-Primeiro: ele não é possessivo, é apenas um pouco ciumento; segundo: ele não me segurou, eu que perdi a hora; e terceiro: ele não é meu namorado. – ela concluiu e voltou a olhar para o cardápio, chamando um garçom e fazendo seu pedido – Já fez o seu?
-Sim, faz alguns minutos. – ele respondeu achando graça na resposta dela. – Me diga, como ele lida com sua dupla personalidade?
-Assim como você. – ela se divertiu com a carranca que ele fez – Vamos Severus, já lhe disse que fazer cara feia pra mim não adianta.
-Que seja. – suas bebidas chegaram e ele olhou fixamente para o copo dela – O que é isso?
-Caipirinha. – respondeu mexendo com o canudinho a bebida – É uma bebida brasileira, quer?
-Com o que se faz essa bebida? – ele perguntou sentindo o cheiro forte de álcool que subia da bebida.
-Essa é limão, vodca e sal. – colocou o canudo na boca e experimentou um pouco da bebida, soltando um som de aprovação e fechando os olhos – Quer?
-Não, obrigada. – recusou educadamente e se voltou para seu copo com suco de laranja, o mais próximo que se podia ter de uma bebida decente naquele local.
-Vamos direto ao assunto então. – falou a morena depois de alguns momentos somente bebendo e vendo Snape com um olhar aflito. – O que acontece?
-Precisa por um fim nisso. – declarou a olhando nos olhos, mesmo que ela tivesse outro nome, outros valores, outra vida, ainda conseguia ver Hermione Jane Granger, a irritante Sabe-Tudo de Hogwarts; não sabia bem se aquele assunto lhe interessava, mas parecia ser seu dever ajudá-la.
-Fim? Em que? – Nick perguntou, ficando na defensiva, já sabia bem do que ele falava.
-Não adianta colocá-la para lhe defender, Hermione. Sabes muito bem do que falo. – a voz de Snape saiu um pouco mais nervosa, mas ainda estava baixa.
-Se fala daquele garoto que me tocou, sem preocupações, já é passado. – ela disse retirando o canudo do copo e bebendo um grande gole.
Ao olhar de Snape a diferença de personalidade era incrível, Hermione era delicada, fina, recatada, sabia o que deveria ou não fazer, o que deveria ou não falar; entretanto Nick era mais masculina, mais agressiva, não pensava para falar e era espalhafatosa. Não conseguia entender como duas pessoas podiam conviver dentro de um só corpo, não conseguia entender como ela conseguia ser duas pessoas sendo somente uma. Tudo era muito confuso, até mesmo para ele que já vira de quase tudo na vida.
-Ele ainda acha que é seu dono. – disse tentando provocar a ira de Nick, e conseguindo. A morena o olhou como se ele a tivesse ofendido e espalmou as mãos na mesa, parecendo um gato pronto para atacar.
-Ninguém é meu dono.
-Prove. – respondeu vendo o olhar dela vacilar e suavizar.
-O que posso fazer? – ela perguntou cruzando os braços e olhando na direção da janela, ignorando o sorriso feliz que aparecia quase que imperceptível nos lábios finos de Severus.
-Você pode contar toda a verdade para Ron. – ela o olhou como se ele fosse um monstro, porém ele continuou – Ou pode conversar com Potter, e fazê-lo entender que seus sentimentos já não são mais dele.
Mione sorriu quando ele disse o nome do moreno quase que cuspindo, e achou a idéia de se ter uma conversa com Harry boa; ia se sentindo mais aliviada por ter uma saída para toda aquela confusão quando ele retornou a falar.
-E logo após pode voltar para o mundo que pertence. – o sorriso dela sumiu na hora, mas ele continuou a encará-la sem se preocupar com o brilho que sumiu, trazendo Nick outra vez.
-Meu mundo é esse. – ela respondeu tão certa de si, que não viu o que fazia com os talheres da mesa.
-Está certa disso? – perguntou olhando para os talheres da mesa, que flutuavam alguns milímetros; Nick olhava aquilo como se fosse a primeira vez que via algo assim.
-Como fiz isso? – a pergunta saiu um pouco mais agressiva do que ela queria.
-Você está com raiva, é normal quando bruxos sentem raiva esse tipo de liberação de energia. – explicou como se estivesse em uma sala de aula ensinando um aluno – E ainda diz que não quer voltar. Por que você é tão teimosa?
-Voltar pra que? Pra sofrer? Relembrar coisas que já esqueci? – a voz saiu baixa e insegura, porém continuava firme, revelando Mione. Essa troca de personalidade estava deixando Severus um tanto confuso.
-Não, não relembrar. Apenas continuar a viver. – ele falou aproximando a mão da dela por cima da toalha branca; Mione sentiu a mão dele segurar a sua de forma paterna e carinhosa, sorriu disso.
-Preciso resolver muitas coisas antes. – ela disse como se tivesse aceitando o inevitável, algo que já sentia que a esperava fazia tempo.
-Sei disso, por isso vim lhe oferecer ajuda. – os olhos dela, que estavam pregados na toalha da mesa, subiram ligeiros para encontrar os dele, um sentimento estranho de amizade se apoderando dela.
-Ajuda?
-Sim, ajuda. – falou mais baixo, não acostumado em falar aquelas coisas – Você tem certas coisas para deixar para trás e outras para construir, estarei ao seu lado. Lhe oferecendo apoio.
-Obrigado. – ela disse após alguns segundos analisando o que ele dissera; a verdade estava ali, lhe cobrando certas coisas que deixara passar, agora já não podia mais, tinha que enfrentar e voltar a viver.
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-Precisamos conversar. – foi a única frase que ela disse ao vê-lo abrir a porta da própria casa. O moreno quase não acreditava que ela estava ali e se conteve para não beijá-la. Hermione entrou na casa de Harry e parou no Hall, sem querer ir a mais nenhuma parte da casa, sem olhar para detalhe algum, somente os olhos verdes dele.
-Venha, vamos para a sala e...
-Não, aqui está bom, não vou demorar. – ela o cortou, se mantendo firme em sua decisão.
-Pois bem. – ele cruzou os braços, esperando ela falar; um certo receio passava por seu corpo todo, parecia pressentir o que ela estava prestes a lhe dizer.
-Eu já te amei um dia. – ela começou, lembrando do texto que decorará a caminho dali – E um dia você também me amou, eu tenho certeza disso. Mas acabou, acabou naquele dia em que eu fui capturada.
-Hermione...
-Me deixe terminar. – ela o cortou outra vez, não queria perder sua linha de raciocínio, estava indo muito bem para se deixar atrapalhar agora – O que houve entre nós alguns tempos atrás não vai se repetir, simplesmente pelo fato de que sei que se ainda sente algo de mim vai me respeitar e se afastar.
Harry a olhava sem acreditar nas palavras que ela dizia, então era verdade que ela queria que ele sumisse de sua vida, que ele fosse embora das duas vidas dela; sem se conter a segurou pelo braço, com certa força.
-Por que fala isso? – a voz dele era agressiva, porém baixa.
-Porque é assim que tem que ser, Harry. – ela puxou um braço, libertando-se dele com certa dificuldade – Por favor, me deixe viver.
O som daquelas palavras atingiram Harry como se fossem ferro, aquele pedido feito por aquela boca era sincero e doloroso demais para que ele recusasse. Por alguns momentos ele somente a olhou, ela vestia uma blusa de uma banda trouxa, calça jeans escura, sandálias de salto baixo, uma bolsa grande no ombro direito; a pele que podia ver era clara, um perfume de baunilha exalava dela, um cheiro de morango escapava por sua boca, parecia que tudo nela era sensual e atraente, tentador.
Não podia negar aquele pedido, mas parecia mais difícil do que jamais achara deixar ela partir; quando achara que ela estava morta era mais fácil aceitar que ela partira, mas sabendo que ela estava viva era difícil, pois sabia que poderia estar com ela, mesmo não sendo certo. Estava na hora de tomar uma atitude de homem, a primeira desde que ela voltara para sua vida.
-Hermione, eu vou te deixar viver. – ele aproximou-se um passo, ela não se moveu; percebendo que ela não se afastaria, ergueu a mão devagar e lhe fez um carinho no rosto com as costas da mão – Porém saiba que sempre te amarei.
A morena nada disse, apenas deixou Harry lhe fazer mais alguns segundos de carinhos e afastou o rosto, dando uma última olhada para aqueles olhos verdes que outrora foram seu maior amor e desejo, andou em direção a porta; girou a maçaneta sentindo o olhar dele queimando em suas costas, mas não se virou, apenas girou o metal da porta e saiu para a rua.
Assim que a porta se fechou em suas costas, respirou fundo, algo dentro dela estava vivo outra vez, algo que ela não sentia fazia cinco anos; fechou os olhos e respirou fundo mais uma vez, sorrindo para o nada. Sabia que a convivência com Harry era inevitável, mas agora poderia lhe olhar sem se sentir presa por um segredo, por uma mentira, uma dor; agora poderia ser feliz com Ron, vivendo como deveria viver há cinco anos.
-Hei, como foi? – uma voz a chamou para realidade outra vez, e ela se virou para olhar um homem encostado em um poste, a esperando.
-Estou livre. – ela disse como se tivesse sido absolvida de algum julgamento, sorrindo e abraçando Severus; esse assustou-se com o comportamento dela, mas a abraçou em retornou.
-Livre? – ele perguntou quando se separaram e começaram a andar – Acho que você esqueceu que namora Ronald Weasley.
-O que tem isso? – ela perguntou sorrindo já sabendo da resposta que ele iria dar.
-Você está na verdade namorando a família dele também, ou seja, namora pelo menos nove pessoas. – e desatou a rir baixo e contido, porém Mione ria abertamente e se segurava no braço dele, apoiando-se.
-Pode se dizer que você está certo, mas prefiro assim. – ela disse ainda rindo, mas já se recuperando; depois de alguns segundos em silêncio somente andando ao lado do moreno, ela continuou – Estou voltando para meu mundo.
-De onde nunca deveria ter saído. – a voz de Ron soou em seu ouvido e ela olhou para o lado, onde Severus estava segundos antes, não o viu. Sorriu e abraçou Ron e por cima do ombro do ruivo pode ver Snape, andando na direção de uma praça, olhando para trás e um sorriso contido em seu rosto. Ela conseguira tudo outra vez, tudo que nunca havia perdido na verdade.
FIM.
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