Primeiro Dia
27 de Dezembro de 1976 (1º Dia - continuação)
- Olá! – Me sentei em frente à Lucy na mesa da cozinha.
- Peso na consciência por ter me abandonado sozinha para tomar meu café da manhã?
- Quase isso. – Respondi abrindo um sorriso, ela apenas revirou os olhos. – Andei pensando no que você falou.
- Hum. Sobre você ser um completo idiota?
- Não... sobre eu crescer...
- Isso é bom. Mas o que você resolveu fazer de concreto pra isso??
Ela cruzou as mãos sobre a mesa e me olhou sorridente. O mais engraçado foi o óculos que ela conjurou e me encarou com ar de psicóloga.
Eu ri muito, é claro.
- Resolvi te pedir em namoro.
Ela não podia deixar de gargalhar, não é mesmo? Quem já conhece essa garota sabe que rir é a reação ‘padrão’ dela. Mas será que ela precisava de tanto? Ainda assim, esperei pacientemente.
- Você... você é mesmo muito engraçado, Sirius. – Ela falou quando conseguiu se recuperar da crise de riso, ainda com lágrimas nos olhos.
- Eu sei disso. Mas estou falando sério, você quer namorar comigo?
- Não Sirius, muito obrigada mesmo.
- E porque? Porque você não me dá uma chance?
- Porque, Sirius? Acho que você já me perguntou alguma coisa assim, não?
- Já perguntei, e sua resposta veio na forma da pergunta: ‘Você se importa de me dar seu sobretudo? Estou morrendo de frio.
- Oh!
Ela mordeu o lábio inferior. Deu um meio sorriso.
- Vou ser sincera e direta: porque eu não quero.
- E não quer porque? Vai dizer que você não gosta de mim?
- Não, não gosto. Quer dizer, gosto, mas como amigo. Nada mais que isso.
- Pois eu duvido.
- O problema é todo seu. – Ela falou séria.
- Eu não vou desistir. – Eu me levantei apoiando os braços na mesa.
- E eu não vou ceder. – Ela imitou meu gesto.
- Veremos. – Me inclinei para frente e dei um beijo no rosto dela – Veremos...
Saí da cozinha sem olhar pra trás. Será que eu consegui me sair bem?
O Mapa do Maroto é, sem nenhuma dúvida, nossa melhor invenção. Estava sozinho no dormitório masculino observando os passos de Jane pela escola. Mais cedo ou mais tarde, ela teria que ficar sozinha em algum lugar, não?
Como tinha dito para Sirius ao selarmos nosso acordo: paciência será a nossa virtude. E isso era bem verdade. Passei o resto da manhã apenas esperando um momento para ‘atacar’.
Para minha surpresa, vi que ela estava sozinha e, pelo caminho que estava tomando, só ia parar em um lugar: a biblioteca. Sem perder tempo, peguei alguns materiais, e saí correndo da Torre da Grifinória. Como o meu percurso era menor, cheguei poucos minutos antes que ela.
Rapidamente entrei em um dos corredores e folheei um livro de poções. Observei pelo canto do olho ela entrar na biblioteca e ocupar uma mesa.
Não sei como Sirius conseguiu descobrir, ainda vou perguntar à ele. A verdade é que fazia algum tempo que eu só tinha olhos para essa linda Corvinal. Nesse dia ela estava muito linda, com o cabelo solto e um pouco encaracolado nas pontas. A ausência do tradicional uniforme pesado de Hogwarts a deixava ainda mais linda.
Eu tinha mais um ponto ao meu favor: éramos os únicos estudantes na biblioteca. Me aproximei um tanto nervoso da mesa dela e limpei a garganta para lhe chamar a atenção.
- Olá. – Cumprimentei sorridente.
- Oi. – Ela me olhou desconfiada.
- Posso te pedir uma ajuda?
Como ela ficou em silêncio, resolvi continuar.
- Er... eu esqueci meu óculos no salão comunal, e não consigo ler o que está escrito aqui. – Aponte para algumas letrinhas minúsculas no rodapé da página.
- Achei que o único maroto que usasse óculos fosse o Potter.
Eu não esperava que ela já tivesse reparado nesse ‘detalhe’.
- Eu uso apenas para leitura. – Respondi aliviado por conseguir arranjar uma desculpa.
- Maiorius.
- Como?
- O feitiço para que você consiga ler sem precisar usar óculos.
- Ah, obrigado.
- Pensei que você fosse o melhor aluno do professor Flitwick.
- Tem algumas coisas que eu deveria prestar mais atenção. – Falei sorrindo.
- Ok. – Ela voltou a atenção para os deveres e eu fiquei observando-a, um pouco sem ação. – Precisa de mais alguma coisa?
- Hã? Ah, não. Quero dizer... sim. O feitiço, como é mesmo? Maiorius? Então, eu aplico ele no livro, ou nas minhas vistas?
- No livro. – Ela abriu um sorriso doce. - Agora se não se importa, tenho uma quantidade enorme de deveres pra terminar.
Pedi desculpas e saí imediatamente da biblioteca. Nem percebi que tinha levado o livro comigo sem pedir permissão à Madame Pince. Chegando no dormitório, me atirei na cama.
Sorte minha que o termo ‘morrer de vergonha’ é figurado. Se não fosse, àquela hora eu estaria à sete palmos do chão...
Sirius chegou logo depois de mim. Também estava bastante desanimado.
- E então? – Perguntei levantando um pouco a cabeça do travesseiro.
- As únicas coisas que ela fez foram: rir da minha cara e dizer que não iria ceder. E você?
- Um pouco mais desastroso...
Contei pra ele tudo o que tinha acontecido desde que ele saiu pra falar com a Lucy. Ele também me contou em detalhes a conversa que teve com ela.
Não saberia dizer quem se saiu pior.
Tínhamos acabado de jantar e Lucy levantou apressada quando ficou sozinha comigo na mesa.
- Onde você vai com tanta pressa? – Perguntei ao me aproximar dela.
- Visitar o Hagrid. Faz tempo que não o vejo.
- Legal. – Coloquei as mãos no bolso no casaco e segui junto com ela pra fora do castelo.
- O que você pretende? – Ela me olhou com o canto dos olhos.
- Ir com você.
- Mas eu não quero a sua companhia, Sirius.
- Está muito tarde para uma garota indefesa e com imã pra encrencas ficar andando sozinha.
- Imã pra encrencas? Até que você se definiu bem, estou surpresa!
- Muito engraçada. Já pensou?
- No quê?
- No meu pedido, o que mais seria?
- Já te dei minha resposta.
Chegamos na cabana do Hagrid e ela bateu na porta. Alguns segundos depois o enorme guarda-caças apareceu no umbral da porta.
- O que vocês estão fazendo aqui a essa hora? – Ele perguntou preocupado enquanto entrávamos.
- Estava com saudades dos seus deliciosos bolinhos, Hagrid.
Hagrid se desmanchou com o elogio e nos serviu uma travessa de bolinhos enquanto preparava um chá.
Ou Lucy é muito mentirosa, ou muito corajosa. Como alguém pode gostar de bolos de pedra e sem gosto? Quase perdi um dente tentando mastigar aquilo.
- Você já soube do namoro do ano, Hagrid? – Lucy perguntou entusiasmada.
- Sim, eles vieram me visitar ontem de manhã. Estão muito felizes.
- Eles foram feitos um para o outro. – Falei com um tom romântico olhando para Lucy que deu um sorrisinho amarelo.
- Apaixonado, Sirius? – Hagrid perguntou gargalhando.
Era minha chance.
- Estou. Perdidamente apaixonado. – Respondi pausadamente e sem tirar os olhos de Lucy.
- E quem é a felizarda?
- Não posso contar. Ela não quer nada comigo, você acredita, Hagrid?
Mas não foi ele quem respondeu.
- Deve ser uma garota muito inteligente. – Lucy falou com um sorriso irônico.
- Inteligente? – Perguntei ainda mais irônico.
- Sim, pra não cair no seu papo furado.
- Eu não tenho papo furado.
- Aposto que usa a mesma conversa com todas. E elas, idiotas que são, acreditam em você.
- As que acreditam são muito espertas.
- Espertas? Que tipo de pessoa ‘esperta’ acha que você ta falando a verdade se você troca de namorada como quem troca de roupa?
- Eu não faço isso.
- Não?
- Ta, faço, às vezes. Mas estava procurando a garota certa.
- E pra isso tem que experimentar todas?
- Eu não experimentei todas! E também achei a garota certa sem ‘experimentá-la’. – Falei sorrindo e ela estreitou os olhos na minha direção.
- E nem vai experimentar.
- Como você pode ter tanta certeza, minha querida? – Hagrid perguntou à ela sorrindo.
- Porque eu conheço muito bem a garota.
- Então devia conversar com ela. Eu conheço o Sirius e o James desde muito pequenos. Vi eles aprontarem muita coisa nessa escola, mas nunca vi o Sirius aqui tão determinado. Talvez essa sua amiga esteja desperdiçando um ótimo partido.
Eu sorri vitorioso e Lucy apenas abanou a cabeça olhando alarmada para Hagrid.
- Não é possível que vocês já tivessem combinado isso, é?
Como ela pode pensar uma coisa dessas? Nem tive tempo de perguntar. Rapidamente ela devolveu a xícara de chá para o Hagrid e saiu sem se despedir.
- O que deu nela?
- Não sei. Até mais, Hagrid.
Saí correndo atrás daquela doida. Ela andava a passos muito rápidos.
- Foi muito engraçado, Sirius.
- Eu não achei. O que eu tenho que fazer pra você acreditar em mim?
- Nascer de novo? – Ela me perguntou séria, mas depois riu – Sirius desiste dessa brincadeira idiota, por favor.
- Eu estou falando sério. – Parei na frente dela impedindo-a de continuar.
- E eu sou a Branca de Neve. – Ela me deu um beijo no rosto e saiu rindo.
Branca de Neve? O que ela quis dizer com isso? Tudo bem que os terrenos de Hogwarts estavam cobertos de neve, mas o que isso tem a ver com a nossa conversa? Cada dia tenho mais certeza que a Lucy não regula muito bem da cabeça.
Fiquei mais um tempo ali parado, pensando em como devia agir pra conseguir ganhar a aposta. Quando decidi entrar, estava tão absorto em meus pensamentos, que não vi pra onde estava indo.
Meus pés me levaram até um corredor no sexto andar. Quando percebi que estava no lado totalmente oposto da Torre da Grifinória, suspirei cansado e me virei pra sair dali. Foi quando ouvi alguns barulhos vindo de uma sala próxima.
Minha curiosidade falou muito mais alto. Como o Mapa do Maroto estava com o Aluado, tinha que espiar. Empurrei a porta de leve pra não fazer barulho, mas não consegui refrear a palavra que saiu desesperada da minha boca.
- ECA! – Falei bastante alto chamando a atenção dos dois ocupantes da sala: Seboso Snape e minha ‘querida’ prima Bellatrix.
Vocês também não teriam outra coisa pra falar naquele momento se tivessem presenciado o que eu presenciei: Os dois Sonserinos estavam no maior amasso dentro da sala de aula abandonada. Bellatrix parecia que ia engolir o Seboso e eu me perguntei internamente de onde vinha tanta coragem!
- O que você está fazendo aqui, idiota? – Bellatrix me perguntou ‘amavelmente’.
- Você devia estar na Grifinória! Não consigo imaginar como alguém pode beijar isso aí. – Falei com nojo. – E a propósito, você não estava namorando o Lestrange?
- Isso não é da sua conta. E se eu souber que esse assunto saiu dessa sala, acabo com a sua raça. – Ela falou com raiva e saiu da sala como um furacão, me deixando sozinho com o Ranhoso.
Ele jogou a capa pra trás e tentou segui-la mas eu entrei no caminho dele.
- Pra que tanta pressa?
- Sai da minha frente, Black.
- Recebeu meu presente de Natal? Nem tive oportunidade de perguntar...
- Vocês são todos patéticos.
- Você deveria me agradecer melhor, Seboso. – Falei sorrindo e dei um tapa na minha testa – Mas que cabeça a minha. Você não sabe como funciona, não é? Aquilo, Ranhoso é um xampu, serve pra lavar os cabelos quando você for tomar banho. Você sabe o que é banho?
- Sai da minha frente! – Ele falou ainda mais bravo. Eu estava adorando.
- Você não quer usar porque todo mundo perceberia a diferença? Não precisa contar que foi presente meu. Fala só que finalmente você cansou de melecar seus pergaminhos com aquele óleo abundante que escorria do seu cabelo.
- Expelli...
- Furunculus. – Falei rápido
- Estupefaça. – Gritou uma voz atrás de mim.
Virei rápido pra ver quem tinha me ‘ajudado’. Encontrei Remus arfante.
- Vi vocês dois no Mapa. – Ele parece ter lido a pergunta nos meus olhos. – Achei que devia aparecer.
- Finalmente uma atitude de maroto! – Respondi sorridente.
Olhamos para Snape. A combinação dos nossos feitiços teve um resultado muito engraçado. Ele tinha voado longe. Da pele dele brotavam minúsculas bolhas coloridas que cresciam até se desprender e estourar no ar.
- O que você veio fazer aqui? – O Aluado me perguntou ainda sorrindo da visão que tivemos do Seboso.
- Estava andando sem rumo, pensando em como ganhar a aposta.
- Achei que você queria conquistar a Lucy.
- Sim, mas o que está em jogo são muitos galeões, Aluado, eu ganhando a aposta, a Lucy vai ser o prêmio extra, não vai?
Ele me olhou perplexo e eu não entendi o porquê. Nosso acordo era conseguir levar as meninas como namoradas para o baile, não era?
O que quer que ele estivesse pensando, não teve tempo pra falar. Na mesma hora o Ranhoso levantou com um sorriso triunfante no rosto.
- Que coisa feia! – Foi tudo o que ele falou antes de sair rápido da sala nos deixando completamente sem ação.
Um segredo nosso nas mãos do Snape? Só Sirius não conseguia entender a gravidade da situação. Tudo o que ele fez foi me dizer que provavelmente o Seboso estava falando de termos azarado ele.
É uma alternativa, mas o sorriso dele antes de sair me diz que minhas suspeitas estavam certas. De qualquer maneira, precisaríamos esperar pra saber o que ele faria com aquela informação.
Como já estava tarde, decidimos voltar logo para o salão comunal.
Lucy estava sentada no chão encarando a lareira. Troquei um olhar surpreso com Sirius.
- Tudo bem? – Perguntei me agachando ao lado dela.
- Sim. – Ela respondeu sorrindo.
- Pensando em quê?
- Na vida, Remus. Na vida...
Me virei pra ver se Sirius iria tomar alguma atitude, mas ele abanou a cabeça e subiu para o dormitório.
- Não vou te atrapalhar, então. – Falei ao levantar.
- Você nunca atrapalha.
Fiquei encarando o fogo sem resposta até que ela levantou.
- Posso te perguntar uma coisa? Mas você tem que responder com sinceridade, mesmo que não entenda o que eu queira dizer.
- Prometo responder.
- Você acha que eu estou ficando louca?
Eu ri bastante antes de responder. Sorte que ela não se intimida.
- Vamos, é pra me responder! – Ela falou rindo também.
- Você nunca foi o que a gente pode chamar de normal.
- Isso eu sei. Estou perguntando se você acha que eu estou ‘pior’.
- Não. Pra mim você continua a mesma.
- Era o que eu temia. – Ela desmanchou o sorriso. Se eu soubesse que ela ficaria tão triste, tinha falado que achava ela a louca mais desvairada de todo universo.
- Posso te ajudar?
- Não. Mas, obrigada. Boa noite Remus.
- Boa noite, Lucy.
Ela me deu um abraço e subiu para o dormitório feminino. Eu a conhecia muito bem pra saber o que estava acontecendo. Ela só podia estar disposta a ceder às investidas do Sirius.
Mas aquilo não estava certo. Sirius estava querendo apenas a ganhar a aposta. E se no outro dia ele descartasse Lucy como faz com todas as garotas? Não era certo eu compactuar com aquilo.
Por outro lado, eu também tinha que cuidar da minha parte na aposta. Jane e eu não havíamos passado daquela interação desastrosa da biblioteca, e só me restavam quatro dias.
Decidi, por fim, que resolveria a questão com o Sirius logo cedo e depois ficaria livre pra cuidar da minha vida.
N/A:
Deixa eu confessar uma coisa, na hora que eu imaginei o Snape com a Bella, vocês não imaginam o nojo que me deu? Credo, só de imaginar esses dois seres nojentos assim... tão próximos! A reação do Sirius foi a mesma que eu teria: não refrear um ‘ECA’ apavorado saindo da minha boca! Hehehe
Não deixem de comentar, é tão rapidinho deixar a opinião... e me fazem ganhar o dia, sabiam? O próximo capítulo vai vir rapidinho!
Muitos e muitos beijinhos,
Luci Potter.
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