A Carta



"Até agora ainda não consegui compreender nada do que aconteceu, não espero que entendas por carta mas também não tenho maneira de falar contigo de outra forma. Espero que não te sintas mal e que compreendas o que me levou a fazer o que eu fiz..."
A manhã estava cinzenta e as ruas Londrinas pouco movimentadas, apenas se viam alguns jovens acompanhados por anciãos que se precipitavam para dentro uma catedral cujo sino tocava alegremente ecoando por toda a cidade.
Perto das escadas havia alguém que acabara de acordar no chão. Era uma jovem que tremia de frio por baixo de uma longa capa negra. Tinha os seus 15 anos de idade, uma cara pálida por causa do frio os lábios muito vermelhos parecendo sedenta de sangue, umas fundas olheiras nos seus olhos esverdeados que outrora foram alegres e cintilantes e o seu cabelo meio avermelhado estava apanhado num carrapito, mas mesmo assim ainda brilhavam. Apesar do seu aspecto deplorável de quem não come há semanas, a jovem arranjou forças para se levantar e foi andando na direcção oposta da catedral ignorando os olhares chocados das pessoas.
"Se estes Muggles se assustam com o meu simples aspecto. Se soubessem o que eu sou, seria de certeza condenada pela religião destes”. Pensou ela, abanando a cabeça.
Foi andando pelas ruas cada vez mais desertas, porém ali ainda se conseguia ouvir algumas palavras em latim que vinham da catedral, várias pessoas pronunciando suas rezas.
"Pobres coitadas. Nem sabem do meu mundo”. Pensou, esboçando um sorriso sarcástico.
Colocou a mão no bolso, nenhum dinheiro, nem uma única moeda.
- Calma, não desanimes. - Disse para si mesma. - Vou conseguir arranjar algo.
Continuou procurando até que encontrou algo, parecia um papel. A jovem tirou e abriu-o.
- Claro! - murmurou. - Severus Snape.
Ela correu para uma cabine para ligar o mais depressa possível.
"Pode ser que ele me dê o paradeiro de meus tios" Pensou. "Os Malfoy são os únicos que me restam."
- Ali está! - Disse com um sorriso, correndo para esta, mas algo aconteceu. Ela tropeçou em algo que a fez cair e de repente viu a cabine se afastando, não apenas a cabine, mas todas as ruas de Londres estavam se afastando cada vez mais.
Fechou os olhos.
"Isto não é nada! Estou só um pouco enjoada" Repetia para si mesma em sua mente. Tentou abrir os olhos e viu tudo á roda, sua cabeça parecia que queria saltar, quando finalmente tudo acabou, deu por si num chão cheio de grama.
- Onde estou? - murmurou. - Isto...não são as ruas de Londres.
Ela esfregou os olhos e olhou em volta. Estava num enorme descampado e lá no fundo podiam-se ver umas campas até que algo lhe chamou mais a atenção. Uma casa brilhava bem lá no fundo, uma mansão velha que parecia abandonada tinha as luzes acesas, de repente num piscar de olhos desapareceu.
A jovem levantou-se num pulo.
Ela olhou o céu, as nuvens cobriam o dia, de repente a manhã tornara-se noite serrada.
- Que lugar é este? - voltou a murmurar. - Alguém ai? - Gritou.
Não obteve resposta. Em vez disso ouviu gritos vindos de muito longe.
- Alguém ai? - voltou a gritar.
Mais uma vez não obteve qualquer resposta, mas os gritos eram maiores e mais intensos, começou a sentir a cabeça á roda, de repente o cemitério ia sendo engolido assim como as ruas de Londres. A jovem antes de desmaiar conseguiu ver um símbolo que brilhava intensamente no céu, uma caveira com uma serpente saindo-lhe pela boca.
Passadas algumas horas que para a jovem pareceu ter passado séculos, ela sentiu claridade batendo no seu rosto, esfregou os olhos e olhou de testa franzida para uma senhora vestida de enfermeira que afastava as cortinas.
- Onde estou?
- Em São Mungos, querida. - Disse a senhora dirigido-se a ela com um sorriso. - Não se levante que já vou trazer o almoço.
- Estou no mundo da magia? Mas...Como? - Perguntou, confusa, mais para si mesma do que para a enfermeira. Mas esta também pareceu ignorar a pergunta, saindo do quarto.
"E foi isto que se passou até agora. Em São Mungos foram impecáveis comigo, mas achei estranho quando nessa mesma tarde recebi duas visitas inesperadas..."
Ouviram-se passos e dois homens de longos mantos entraram no quarto dirigindo-se á cama da jovem, um era baixo e calvo, Thanye conheceu logo como sendo o ministro da magia e o outro homem ela também conhecia muito bem, com as suas longas barbas e olhando por cima dos seus óculos de meia lua, Dumbledore parecia ter uma expressão mais amável que o habitual.
- Podes explicar o que aconteceu? - disparou o ministro.
Antes que ela conseguisse responder que não sabia, Dumbledore interviu.
- Calma Fudge.
- Calma? Não sabe a gravidade da situação. - bradou o ministro.
- A jovem de certeza que saberá explicar. - disse calmamente Dumbledore.
- Explicar o quê? - perguntou confusa.
"Não entendi nada do que estavam a querer dizer com aquela conversa. Mas depois de explicar que não me lembrava de nada eles não tocaram mais no assunto, muito menos explicaram o que tinha acontecido. Em vez disso, Dumbledore mudou de assunto e fez a proposta que eu mais temia depois de todo este tempo...” ·
- Ainda não entendi porque abandonaste Hogwarts, Crouch. - disse com o seu jeito sereno. - Contando que não tiveste culpa de nada do que aconteceu. O teu irmão...
- Por favor. - pediu. - Vá directo ao assunto. Se é que veio cá para me dizer alguma coisa.
- Não te quero obrigar a nada. Primeiro de tudo vim ver como estavas. - fez uma pausa, continuou a olhar para o director e ele prosseguiu. - Mas também quero que saibas que sempre que quiseres, Hogwarts está de portas abertas para ti.
Thanye baixou a cabeça em silêncio.
"...é impressionante como o professor Dumbledore parece que vê o que vai dentro de nós, o que exactamente estamos a sentir, já ninguém me compreendia á tanto tempo. Eu fui egoísta com todos, deixei os meus amigos, a minha escola só porque achava que podia tomar conta de mim mesma, arranjar uma razão para ainda continuar viva depois de perder as únicas pessoas que me restavam da família. Mas parece que me enganei..."
A jovem levantou a cabeça para encara-lo.
- Está a pedir para eu voltar, professor Dumbledore?
- Digamos que é apenas uma sugestão. - ele fez um sorriso compreensivo.
"Nunca pensei um dia dar o braço a torcer... Mas vi que realmente não tinha mais saída e vi-me obrigada a aceitar. Afinal Hogwarts é e sempre será a minha casa.
Enfim... estarei aí logo pela manhã.
Abraço.
Thanye Crouch”.
Ela assim que terminou a carta, agarrou na sua coruja, prendeu a mensagem a uma das patas e a soltou na janela, de seguida endireitou-se no banco ficou observando ela a afastar-se para longe do expresso.

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