Um túnel sem fim



Capítulo 5
Um túnel sem fim


Gina acabara de deixar Harry em companhia de Neville Longbottom e Luna Lovegood no vagão do Expresso de Hogwarts. Rony e Hermione eram os monitores e precisavam patrulhar os corredores do trem para que nenhum aluno fizesse bobagens. A ruiva sabia que tal atitude poderia ter mexido com Harry algum dia, mas agora acreditava que não fazia mais diferença. Neville e Luna provaram ser fiéis companheiros da Armada de Dumbledore e estavam dispostos a lutar contra o mal para ajudar o amigo. Portanto, não era nada demais deixar Harry na companhia deles, mesmo que o resto da escola os julgasse, no mínimo, como pessoas estranhas. Mas o que importava, afinal, se Harry também era visto como uma lenda viva em Hogwarts?

No entanto, parecia que Harry havia ficado um tanto quanto desconsertado ao ver Gina se afastar com seus companheiros. “Ele ficou assim porque viu que eu estava feliz”, pensava. E ela sabia que o fato de ser feliz, engraçada, e também de estar se tornando uma bela mulher. poderiam chamar a atenção do bruxo. “Ora, mas o que é que estou pensando? Ginevra Weasley, você quer esquecer Harry Potter, e não pensar em formas diferentes de conquistá-lo”. Envolta em seus pensamentos, foi acompanhando os colegas até encontrar um vagão vazio no já lotado e barulhento Expresso de Hogwarts. Foi lá que, enfim, Gina procurou se esquecer um pouco dessas “baboseiras românticas” e mostrar aquilo que havia literalmente contrabandeado para o trem, longe dos olhos atentos de Hermione e da visão desleixada de seu irmão Rony: uma garrafa de whisky de fogo roubada da despensa dos Weasley.

- Uau Gina, dessa vez você foi longe hein! Trouxe os copos? – perguntou uma quintanista amiga da ruiva.

- Trouxe sim, July. Mas trouxe apenas dois, portanto teremos que dividir ou alguém será obrigado a beber no gargalo! Que seja eu, já que contrabandeei a garrafa, não é mesmo?

- Você é maluca, trazer essa garrafa sendo que seu irmão é monitor! – completou Miguel Corner, que estava junto com Gina no vagão, tentando em vão demonstrar que ainda queria alguma coisa com a menina. Gina fazia questão de ignorá-lo, mas ele ainda julgava que estava juntos.

- Ah, meus queridos, tenho sangue de Fred e Jorge Weasley correndo nas minhas veias! E, com a agilidade de um trasgo que meu irmão tem, eu poderia roubar todo o estoque de whisky de fogo da Grã Bretanha que ele seria incapaz de perceber!

Várias risadas se seguiram ao comentário sagaz de Gina, que já enchia um dos copos com o líquido castanho e viscoso. Ela se lembrou, por um breve momento, que não comia nada desde o café da manhã. Mas aquela não era hora para se preocupar com comida. Havia uma garrafa inteirinha para beber, para esquecer um pouco da monotonia e da dor de ter que fingir constantemente que não amava Harry, que não se preocupava com ele, que não o desejava ardentemente cada vez que ia dormir e acordava triste só de pensar que não estava com ele. Ao mesmo tempo, beber significava a possibilidade de tentar apagar aquela cena do pesadelo, quando Gina invadiu o quarto de Harry e presenciou a perturbação do bruxo durante o sono. Aquilo havia deixado Gina chocada de tal forma que não conseguia apagar a lembrança da cabeça. “Talvez um pouco de bebida correndo no sangue funcione para baixar essa adrenalina, essa vontade de correr para os braços do meu eleito e fingir que nada mais existe, esse monte de coisas que não faz sentido” – Gina pensava e bebia, alheia às conversas dos colegas do vagão, que já começavam a ficar alteradas pelo nível de álcool presente no local. Sentia que naquele momento, longe dela, Harry estava protegido. Apesar dos pesadelos, era como se ela soubesse que o maior perigo para o bruxo era estar ao lado dela. Gina não conseguia explicar porque sentia isso, mas era uma sensação clara naquele momento.

A ruiva precisava se concentrar na conversa, senão todos começariam a indagar porque ela estava tão quieta. Gina não era uma pessoa que poderia ser chamada de introspectiva, muito pelo contrário. Ela era bastante alegre e falante, portanto não poderia deixar ninguém perceber o que estava sentindo naquele momento. Tentou prestar atenção nas conversas, mas sentia que já estava sob o efeito de whisky de fogo demais.

O trem estava reduzindo a velocidade, o que significava que em breve chegaria ao seu destino, a estação de Hogsmeade. Gina precisava trocar as roupas normais por vestes de bruxo, mas não tinha forças para sequer se levantar do assento. Resolveu tirar a blusa ali mesmo, o que impressionou os garotos e fez Miguel ruborizar. Mas Gina não estava no seu normal, e se importou pouco com os olhares curiosos dos rapazes para seu sutiã.

- Que foi? Isso é só um pedaço de pano, poxa!

E vestiu o uniforme rindo de um jeito estranho. As bochechas da ruiva já estavam tão vermelhas quanto seus cabelos, o que dava a ela uma aparência de quem havia tomado sol demais. Quando o Expresso de Hogwarts parou e começou a apitar, indicando que havia chegado à estação, Gina resolveu se levantar. Mas o movimento foi brusco demais e uma tontura sufocante atingiu a garota. Algo subiu e desceu do estômago para a garganta. Na segunda vez que esse algo fez o mesmo movimento, foi impossível segurar: Gina vomitou nas vestes de Miguel, que olhou enojado e ao mesmo tempo preocupado para a ruiva. Gina não conseguiu mais firmar o peso do corpo sobre os joelhos, caindo estatelada no chão. A sensação era de entorpecimento de todos os membros, e a garota sentia a boca ficar seca pela falta de água e comida por um tempo prolongado demais. Miguel pediu para que os outros levassem a mala de Gina e ele a acompanharia até a enfermaria, para ver Madame Pomfrey.

- Eu... eu... não queruuu verr.... ninguém.... querruuuu.... é... Harry. – Gina balbuciava, já com lágrimas nos olhos, mas não podia ser ouvida porque a algazarra dos alunos deixando o trem era altíssima.

Miguel seguiu empurrando Gina para a saída, pedindo a Merlim que ela não vomitasse outra vez. Seria complicado explicar aos professores o que aconteceu com ela durante a viagem se ela conversasse com alguém. Pensando dessa forma, Miguel resolveu levar Gina até a beira do Lago Negro para molhar um pouco o rosto da ruiva antes de ir para as carruagens que os conduziriam ao castelo. Ao virar as costas para tentar identificar se as carruagens já estavam partindo, Miguel foi pego de surpresa. Gina não estava mais na beira do lago onde ele havia deixado a garota segundos antes! Onde ela estaria? Era difícil saber com aquela escuridão. Talvez a garota tivesse avistado a luz, ouvido o barulho das carruagens e seguido para lá. Com esse pensamento fixo na cabeça e uma preocupação cada vez maior, Miguel se afastou do Lago.

Gina não queria ficar perto de Miguel. Havia se escondido atrás de uma árvore e contou com a escuridão para ficar oculta. O bolo no estômago ainda subia e descia, e fez com que ela vomitasse mais uma vez. Mas, ao terminar, sentiu um alívio repentino. Foi como se as idéias ficassem mais claras. O vento frio da noite bateu no rosto da menina, dando a ela uma sensação de falsa consciência. “Preciso voltar ao castelo”. Ao atentar para esse pensamento, já podia ver as carruagens se locomovendo ao longe, e os barcos conduzidos por Hagrid também já estavam a meio caminho na superfície do Lago. Sem opções, Gina começou a caminhar. Após alguns minutos, já podia divisar as luzes, principalmente na imponente Torre de Astronomia.

- Vou contar as estrelas... o céu do tamanho do amor que sinto por Harry Potter... Harry Potter, o eleito de Gina Weasley. HARRY POTTER!!!

O grito saiu sem querer. E a esse se seguiram outros, como se Gina clamasse por um invisível alento para o seu desespero. Foi quando ela viu um vulto do lado norte do Castelo, próximo de onde ficavam as masmorras. Levou a mão aos lábios, como que para impedir a si mesma de gritar novamente. A sombra não se movia enquanto ela se aproximava, como se não estivesse com medo de ser descoberta. Na verdade, parecia que ela queria mesmo ser vista, e por isso deixava a ruiva se aproximar. Ao chegar bem perto da parede, Gina percebeu que o vulto havia desaparecido por um corredor. Ela não se lembrava daquela parte do castelo, mas resolveu entrar mesmo assim. Foi quando num momento de lucidez, pensou no Mapa do Maroto e nas passagens secretas que havia em Hogwarts. Será que havia alguma passagem que os Marotos não conhecessem? A curiosidade e o jeito de ser avessa às regras, assim como Harry e Riddle eram, levou Gina a continuar pelo túnel. Archotes nas paredes acendiam magicamente conforme a garota avançava pelo caminho de pedra batida. Mas as luzes não deixavam a ruiva ver mais do que alguns passos à sua frente, o suficiente para que pudesse caminhar.
Gina não saberia dizer quanto tempo passou dentro do túnel. Mas o tempo, combinado aos efeitos do exercício dispersaram um pouco do álcool que havia em seu sangue. “Será que o Chapéu Seletor já fez a seleção das casas? Será que há novidades para se ver na Grifinória? Estou com fome, não como desde o café da manhã. Esse túnel é infinito e eu não sei...”. O pensamento de Gina foi abruptamente interrompido. Ela olhou à frente e viu que o corredor acabava numa porta escancarada, meio esverdeada pelo limbo que recobria a madeira antiga e mofada. De dentro do cômodo que a porta aberta deveria guardar saía uma luz esverdeada, como se uma lâmpada daquela cor estivesse acesa. Enchendo-se da coragem que todo o membro da Grifinória traz dentro de si, Gina entrou.

Ela nunca havia estado ali, mas esses formalismos visuais não eram necessários para reconhecer o local. As janelas trancadas com ripas de madeira meio podres, a escrivaninha largada a um canto e apenas um estrado de uma cama de ferro. Ela estava na Casa dos Gritos. E o que Gina viu ao olhar para a lareira no centro do aposento a chocou de tal forma que ela permaneceu por um tempo em transe.

- Olá, Gina Weasley. Achou que iria se livrar de mim tão cedo? Ainda não terminamos nossos... digamos... negócios. E eu tenho muitos negócios a tratar com você.

Era Tom Riddle.

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