Encontros e Desencontros (ou D



SEGUNDA-FEIRA, 12 DE FEVEREIRO
SALA COMUNAL, 17:00

O resto da semana passada foi bem nada. Só aulas, deveres, realmente nada de mais. Ah, e James ficou me persuadindo o tempo todo, tentando ficar a sós comigo para me convidar pra sair no dia dos namorados. Mas eu tenho amigas legais que não me deixaram sozinha em nenhum momento.

Também não encontrei mais o Bryan. Pelo menos não por tempo suficiente para ele tentar me beijar novamente. As únicas vezes que o vi foram durante as aulas de Feitiços, Adivinhação, e no Salão Principal, na hora das refeições. E em todas essas situações ele apenas sorriu e me mandou aquele sorriso cheio de dentes, que pensando bem, parece uma tentativa de imitar o sorriso extremamente cativante e charmoso do Potter.

É impressionante. Como é que existem pessoas que realmente querem ser parecidos com criaturas como Potter? Ta, eu to apaixonada por ele e tudo mais, e ele mudou muito, não é mais tão idiota quanto antes, não azara as pessoas por aí, não fica com outras garotas (apesar de ter beijado, mesmo que supostamente forçado, Melissa Adams, que me odeia e vice-e-versa... acho que ainda guardo ressentimentos dessa história toda...), mas eu ainda o acho extremamente convencido e metido demais, embora eu meio que goste desse jeito dele... ah, fala sério, como é que eu ainda vivo sã (será mesmo?) com todas essas contradições na minha cabeça? Sinceramente, eu não sei...

Bem, deixando minhas reflexões pessoais acerca da minha mente conturbada de lado...

Sirius passou o resto da semana tentando convencer Marlene de perdoá-lo por causa do pequeno incêndio na sala comunal e consequentemente no cabelo dela, que embora já tenha voltado a sua beleza e tamanho naturais (graças à poção milagrosa de M. Pomfrey), ela ainda está muito enfurecida com ele... Acho que o Sirius faz besteiras demais...

Falando nele, não é que ele está entrando pela sala comunal agora mesmo? Hum, parece um pouco preocupado... e está vindo falar comigo...

DORMITÓRIO MASCULINO, 17:30

Sirius estava nervoso porque estava fugindo de Melinda Adams, que o tinha perseguido o dia todo querendo saber se ele a convidaria para passarem o dia dos namorados juntos. Mas ela o encontrou na sala comunal, quando ele finalmente disse que não ia rolar mais nada entre os dois, e que ele não gostava dela, a garota ficou com tanta raiva que saiu atirando tudo o que via pela frente em cima dele. E não foram coisas pequenas, como enfeites de mesa. Estou falando de vasos, livros, castiçais, quadros, cadeiras, e ela até tentou virar uma mesa em cima dele, mas não teve força suficiente, o que deu tempo para ele se esconder dela no dormitório dos garotos, e me arrastou junto, porque precisava conversar comigo.

Aqui estou eu novamente, neste recinto proibido para garotas, sentada na cama de um garoto, e se algum outro garoto me vir aqui vai ser extremamente embaraçoso, principalmente se um dos garotos estiver de roupa-debaixo, algo assim. Ai, por que Sirius tem que ser tão idiota e fazer coisas tão estúpidas?

Certo, ele acaba de falar alguma coisa, é melhor eu prestar atenção. Antes que ele decida arrancar o diário das minhas mãos. Ele não gosta de ser ignorado, sabe.

17:35

- Lily, nosso plano não está dando certo. A Lene ainda não me perdoou por ter incendiado o cabelo dela, o que só torna impossível de ela ir comigo para Hogsmeade no dia dos namorados e me perdoar pelo caso com a Adams, comprometendo o plano de eu me declarar pra ela no dia do baile como nós dois tínhamos combinado! Lily, você ta entendendo a gravidade da situação?

- To Sirius, e fica calmo! Eu já pensei em tudo isso que você me falou agora e... bem, é tudo culpa sua, porque você faz besteiras demais – provavelmente não é muito bom dizer esse tipo de coisa para alguém que está arrancando os cabelos de tão nervoso. Mas agora já foi.

- Lily!

- Sirius, sinceramente... controle-se homem! Você está parecendo uma garota falando desse jeito! – eleme olhou chocado e com um olhar mortífero. Oras, estava mesmo! Pior do que eu, devo dizer.

- Ta bem. Alguma idéia? – ele disse, se sentando na cama dele e engrossando a voz, mas sem deixar de me encarar com aquele olhar mortífero.

- Hum, ainda não. Mas eu vou pensar em alguma coisa, prometo. – acrescentei ao ver que ele fazia cara de desespero novamente. – como exatamente você tentou se desculpar com a Marlene?

- Ah, você sabe... eu tenho meus métodos... – ele falou, exibindo aquele sorriso metido, pior do que o do Potter.

- Você não está flertando com ela quando vai pedir desculpas, está?

- Mas é claro que sim!

- Sirius! Você está fazendo tudo errado! Assim ela vai achar que você está só de brincadeira! Quero dizer,você tem que mostrar seriedade, e falar o quanto está arrependido. E aí, para compensá-la por tudo, convide-a para ir para Hogsmeade no dia dos namorados apenas como amigos.

- Mas...

- Vai por mim. Ela vai se impressionar com a sua atitude madura e vai te desculpar pelo lance do cabelo. E talvez aceite sair com você. Mas dê um tempo para ela pensar, não exija resposta na hora.

- Hum... pode dar certo... valeu Lily! – ele agarrou minha bochecha e deu um beijo estalado. Ta né...

Nesse exato momento, saiu do banheiro um Peter Petigrew enrolado numa toalha. Virei a cara imediatamente no que Sirius o repreendeu:

- Peter! Volta pro banheiro!

- D-desculpe, e-eu... – e ele correu para o banheiro, voltando um pouco depois, para meu alívio, vestido.

- Pode abrir os olhos, Lily. – falou Sirius rindo, no que eu lentamente abri um olho me virando para encarar um Peter corado e sem graça. Dava pra rir da situação.

- Hum... o que você está fazendo aqui? – me perguntou o mais sem-jeito dos marotos.

- Resolvendo alguns assuntos... – falou Sirius – mas não comenta com ninguém não, principalmente o Pontas, ouviu? Ah, Rabicho, dá pra você ver se a sala comunal está vazia?

Mas a sala não estava vazia; como poderia estar? Mas Peter disse que ia tentar tirá-los de lá. E aqui estou eu, esperando o povinho sair da sala comunal para eu poder voltar para o meu dormitório, porque sabe como é, eu não posso simplesmente sair do dormitório dos garotos como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu tenho uma imagem a zelar, sabe. Minha integridade.

Sirius acaba de dizer que “a barra está limpa”. Beleza, vou sair dessa selva que eles chamam de dormitório...

DORMITÓRIO FEMININO, 17:45

Logo que nós saímos, nos deparamos com Marlene entrando na sala comunal. Ela me olhou com uma cara de surpresa seguida de raiva que me deu medo...

- Lily! O que vocês... ah, eu não quero saber! – e ela se dirigiu raivosa para o dormitório.

- Lene! – lancei um olhar indignado para ela.

- A gente tava só conversando, Le... – ela olhou para ele com um olhar surpreso e ao mesmo tempo mortal, e ele achou que seria mais seguro ficar calado na hora.

- Ah, como eu pude pensar isso de você, Lily! Você é minha amiga, e seria incapaz de trair o James com esse daí – que tipo de amiga fala isso na frente do melhor amigo do cara que a gente gosta?

- Lene! – vociferei entre dentes com meu olhar mortífero, enquanto Sirius sorria. Me virei para ele com um outro olhar ameaçador e ele parou de rir na hora, olhando para o chão.

- Hum, Marlene, será que eu podia falar com você? – ele disse sério.

- Até mais Lene! – falei e subi as escadas correndo.

- Hey, Lily! – elafalou, mas eu já estava na porta do quarto. Resignada, se voltou para Sirius – O que você quer falar, Black?

E aqui estou, tentando ouvir a conversa dos dois com o ouvido encostado na porta. Mas não dá pra ouvir nada, só os passos deles lá embaixo. E parecem passos nervosos. Hum, espero que o Sirius não faça besteira...

Ih, ela já está voltando!

17:48

Consegui pular de volta para a minha cama no momento em que a Lene entrou. Ela nem percebeu que eu tentava escutar a conversa dos dois. Hum, ela está com uma cara... indefinível. Não parece feliz... mas também não está triste... indiferente ela não está... ela acaba de se jogar na minha cama, me encarando. Acho melhor ver o que ela quer...

18:05

- Lene, o que aconteceu? O que o Sirius queria? – perguntei inocentemente.

- Bem... ele tentou mais uma vez se desculpar pelo incidente do cabelo... – ela fez uma cara de tédio - tipo, eu já nem me importava mais, até porque meu cabelo já ta normal de novo, mas tava engraçado vê-lo culpado e tal, tentando reconquistar a minha confiança... – ela sorriu. Mas sua feição mudou logo depois. - mesmo depois daquela história com a Adams. E o pior é que ele ficava flertando comigo toda hora que ia pedir desculpas... assim não dá, né! Só me deixava com mais raiva!

- Sei... – Sirius é tão idiota, né?

- ... Mas agora ele se fez de cara sério e maduro, me convidou para ir com ele à Hogsmeade no dia dos namorados, como amigos, para compensar. – ela bufou

- E... você aceitou...?

- Aceitei. – sorri. – mas não por ele...

- Como assim? – perguntei confusa

- Ah, isso não vem ao caso agora... – ela sorriu maliciosae se levantou da cama, se dirigindo para a cômoda dela. Não sei bem o que ela quis dizer com isso... – Vamos, me ajude a escolher uma roupa para usar na quarta-feira. Ah, e você também tem que escolher a sua. Ou se esqueceu do seu encontro com o Bryan? – ela falou desdenhosa.

- Não, não esqueci – falei enquanto atirava uma almofada em sua direção.

Marlene está me mostrando umas roupas. Acho que ela quer que eu opine. Ela acaba de pegar uma saia na minha gaveta, e está moldando no corpo dela. Mas é a minha saia preferida... melhor impedi-la, já!

JANTAR, SALÃO PRINCIPAL, 19:50

Ficamos experimentando roupas para nossos encontros até a hora do jantar. Convenci Marlene a não pegar a minha saia emprestada, já que eu quero usá-la no meu encontro Ela disse que essa saia preta com fenda lateral me deixa sexy demais para sair com o Bryan, e eu deveria guardá-la para usar quando estiver com James. Vê se tem cabimento! Ela é muito cruel... enfim, decidimos nossas roupas. Marlene vai usar a minha blusa de gola alta e manga comprida lilás, com uma calça jeans azul-escura e botas pretas de salto alto, bem casual.. Eu vou vestir uma blusa branca amassada e decotada de manga comprida solta nos punhos, uma calça jeans preta, e uma sandália de salto preta, em troca da blusa.

Também combinamos de nos encontrar na porta da Trapobelo Moda Mágica, boutique do povoado, logo depois de nossos encontros, para comprarmos vestidos para o noivado de Alice (Marlene tem vários outros vestidos que ela poderia usar, mas não dispensa uma oportunidade de fazer compras) que será o mesmo que eu vou usar no baile.

Certo, o banquete já acabou. Ih, acabei de lembrar! Tenho que conversar com Remo sobre o maldito Baile de Primavera! O diretor Dumbledore quer que nós apresentemos um relatório sobre as idéias para a decoração, e eu ainda nem pensei em nada! Tipo, tem que escolher e encomendar as flores, decidir como vão ser as toalhas de mesa (no último baile quem as escolheu fez um péssimo trabalho. Eram muito grandes e extravagantes, todo mundo tropeçava nelas. E também não eram muito bonitas), falar com o pessoal da divulgação (que são os, argh, sonserinos) para que os cartazes combinem com a decoração, esse tipo de coisa...

SALA COMUNAL, 20:30

Aff, estou exausta! Quero dizer, tanto planejamento deixou a minha cabeça zunindo. E ainda tem os exames, que estão cada vez mais próximos... e o dia dos namorados... é tanta coisa pra minha cabeça...

Hum... acho que vou terminar o meu trabalho de Poções... é, isso com certeza vai me ajudar a relaxar...

TERÇA-FEIRA, 13 DE FEVEREIRO

HISTÓRIA DA MAGIA, 16:45

"Lily, preciso falar com você. Por favor, é importante."

"Potter, estamos em aula. Estou tentando aprender alguma coisa."

"Ora Lily, por favor! Essa matéria nem é nova que eu sei! O Binns ta só revisando pela milésima vez a Revolta dos Duendes Proletários! "

"Uau, você me surpreendeu. Não sabia que prestava atenção na aula."

"Lily, não mude de assunto! Vai, por favor... te espero depois da aula em frente à estátua da bruxa caolha. E pare de me chamar de Potter."

"Ta bem... James."

POÇÕES, 17:35

Isso é inédito. Eu, Lily Evans, aluna-modelo e melhor da classe, escrevendo durante a minha aula preferida: Poções!

Mas a culpa não é minha. A culpa é do cara metido e arrogante de cabelos bagunçados e óculos sentado ao meu lado por pura ironia do destino, e que é o mesmo cara por quem eu estou apaixonada mas não pode saber disso (embora eu ache que é bem óbvio) porque sou orgulhosa demais. E o pior de tudo é que ele não está olhando na minha cara.

Mas como eu disse antes, a culpa é dele. Eu não pedi para ter uma conversa particular antes da aula em que agora me encontro. Nããão. Nem mesmo pedi para que ele fosse super atencioso comigo e me convidasse para sair amanhã no dia dos namorados, mesmo que eu já tivesse par, o que obviamente ele não sabia. E obviamente ele ficou muito magoado com isso, porque o cara com quem eu vou sair não é ele, e é um cara que ele odeia. Bem, não é o Snape ou o Malfoy, mas chega perto disso.

Enfim. Vou contar o que aconteceu, com detalhes.

Saí da sala de aula lenta e cautelosamente, me dirigi para a tal estátua da bruxa caolha, que fica no mesmo andar que eu já estava, e esperei um pouco. Um minuto, na verdade. Já ia me esgueirando entre a massa de lufa-lufas que ia para o mesmo lado das masmorras, com a esperança de que James estivesse esquecido, ou então não me visse, mas meu cabelo vermelho não é lá muito discreto. Bem. Ele me achou.

- Hey, Lily! Não estava fugindo, estava? – ele perguntou, passando as mãos no cabelo e sorrindo abertamente. De repente ele era aquele cara metido novamente.

- Não, mas fale logo, não quero me atrasar para a próxima aula – falei esquiva, tentando não olhar naqueles olhos hipnotizadores.

- Hum... ta. – ele ficou um pouco sério, mas o olhar amável permaneceu - É que... – nunca pensei que fosse viver para ver James Potter gaguejar na frente de uma garota - Lily... você... quer ir comigo à Hogsmeade, amanhã no dia dos namorados?

BUM! Desmoronei. Mas só por dentro. Não é como se eu tivesse caído, ou coisa assim. Não dessa vez.

- Er, James, eu... – falei olhando para o chão, no que ele se aproximou e segurou o meu queixo, me fazendo olhar naqueles olhos de avelã.

- Não aceito não como resposta! – ele falou divertido - Por favor, Lily, me dê uma chance! Me deixe provar que eu gosto mesmo de você! – ele estava com aquele olhar fofo e suplicante que eu não resisto. Acho até que ele fez um biquinho. Mas tudo o que consegui dizer foi, na maior cara de pena:

- Desculpe, eu não posso... – e tentei sair correndo, mas ele me segurou pelo braço.

- Por que não? Lily, – eu o encarei – por que não?- mordi o lábio

- Porque eu já tenho um encontro... – murmurei. Ele soltou o meu braço lentamente, se afastou um pouco e me encarou confuso.

- O-o... quê? – ele fez cara de espanto – Com quem?

- Ah... você não gostaria de saber... – falei tentando desviar do assunto.

- Não é com aquele tal de Bryan sei-lá-o-quê, é? – mordi o lábio nervosa, no que ele interpretou como um sim – Lily! Eu te chamo pra sair há três anos e você nunca aceitou, e de repente você decide sair com esse Bryan - ele cuspiu o nome - que você conheceu outro dia? – ele estava muito indignado. E nervoso. Mas a cena poderia ser meio cômica. Se não fosse trágica, é claro.

- Ah, também não é assim! É que eu não pude recusar... – tentei me explicar.

- Ah, mas a mim você pôde, não é? – e se virou para um corredor oposto à direção das masmorras.

– Desculpe! – falei, mas ele não deu muita importância. Tratei de sair dali o mais rápido possível.

Vim correndo e entrei nas masmorras, onde toda a turma já estava localizada. Sentei na única mesa livre que tinha no fim da sala e comecei a escrever a redação surpresa sobre as poções do amor que o prof. Slughorn tinha mandado. Alguns segundos depois a porta se abriu, e um James com olhar perdido e cabelo muito mais bagunçado que o normal entrou na sala. Como a única mesa disponível era a minha, ele não teve escolha a não ser se sentar ao meu lado.

Como eu sei tudo de poções, terminei a redação em poucos minutos, e aqui estou, relatando os mais recentes acontecimentos da vida amorosa de Lily Evans. Olhando de esguelha para James, posso ver que ele escreve furiosamente num pedaço de pergaminho, que espero que não seja a redação. Porque aí ficaria toda borrada, e ele receberia um zero como nota... ah, o que eu estou dizendo? Isso é hora de pensar em notas? Ele provavelmente está revoltado porque eu esmigalhei seu coração ao aceitar sair com outro cara que não ele!

Hum... mas não acho que garotos fiquem de coração partido... sei lá, eles nunca aparentam pelo menos... pobre James! Eu sou tão burra...

Ele me pegou olhando para ele, e eu imediatamente disfarcei virando o rosto; ele dá um bufo e volta a escrever. Menos furioso, dessa vez.

O prof. Slughorn disse que quem terminou já pode entregar a redação e sair mais cedo. Beleza, vou sair correndo daqui e me trancar no dormitório. Antes que mais alguma coisa aconteça...

DORMITÓRIO, 18:30

Alice terminou a redação um pouco depois de mim, e como ela percebeu que alguma coisa estava errada comigo (quando é que eu, em situações normais, me atrasaria para uma aula de poções?) veio ao meu encontro. Contei o que aconteceu. Ela suspirou e sorriu solidária.

- ... ai Ali, você devia ver o jeito que ele ficou... tipo, completamente arrasado... como se eu tivesse estraçalhado seu coração... garotos ficam de coração partido? – ela sorriu mais ainda e disse, ignorando a pergunta sem sentido.

- Lily... como é que você ainda nega que gosta do James?

É. Eu não consigo esconder nada dela. Mas é difícil admitir isso. Ainda mais quando se é orgulhosa demais como eu.

Marlene e Emelina acabam de chegar. Vou contar a elas o que aconteceu para ouvir o que elas têm a dizer. Embora eu tenha certeza de que vão dizer mais ou menos o mesmo que Alice. Mas elas são minhas amigas, precisam saber. E eu preciso de apoio.

21:30

James não apareceu no jantar. Nem Sirius. Entretanto, Bryan veio me visitar na mesa da Grifinória.

- Hey Lily, tudo certo para amanhã?

- Claro Bryan – sorri amarelo, mas ele nem percebeu.

- Certo, te espero no saguão logo depois do almoço! – e saiu com uma piscadela. Típico dele.

Logo mais vou sair para a patrulha noturna dos corredores com Remo.

23:45

Conversei um pouco com meu amigo. Ele me explicou melhor os detalhes sobre ele ser lobisomem (passou-se um mês inteiro que eu estava sabendo e eu nem fui falar com ele sobre o assunto!). Tipo, como exatamente aconteceu, como ele se sente, se é muito difícil mesmo, esse tipo de coisa. Perguntei também como que Emelina tinha descoberto, e ele contou que certa noite ela seguiu os quatro até a orla da floresta, inclusive viu os outros três se transformando em animais. E então perguntei no que eles se transformam (quando descobri que eram animagos fiquei tão atordoada que nem lembrei de perguntar). Sirius se transforma em cachorro (combina muito bem com a personalidade dele...), Peter em rato (também combina) e James se transforma em cervo... Legal. (N/A: nos EUA e na Inglaterra, veados e cervos são símbolos de masculinidade, porque tem uma “galhada imponente que usam nas disputas de território, poder e fêmeas”, essas coisas). James é um cervo.

Bem, no meio da patrulha me senti mal, e Remo achou melhor eu procurar M. Pomfrey. Eu disse a ele que estava tudo bem e decidi voltar para a Torre da Grifinória, deixando-o terminar a ronda sozinho. Realmente, acho que não tive nada de mais. Só fiquei cansada e nervosa com o meu encontro de amanhã. E com o fato de James estar me odiando por sair com Bryan e não com ele. Ta, acho que ele não me odiaria. Mas está bastante desgostoso de mim no momento. Mas isso não o impediu de me amparar quando eu desmaiei ao vê-lo saindo de uma sala no sétimo andar.

Não, eu não desmaiei só de vê-lo. Ele não é tão poderoso assim. É que eu já tava meio tonta (confesso que não me alimentei direito o dia inteiro. Mas não estou doente de novo!), e desmaiei em cima da primeira coisa que vi pela frente, que por acaso era James (que não sei o que fazia fora da cama a essa hora, sendo que não compareceu ao jantar... mas isso não vem ao caso). Mas não fiquei desmaiada por muito tempo, só alguns segundos.

- Lily! Lily, você está bem? Acorda, Lily, por favor! – ouvi a voz pateticamente aflita dele perguntar, longinquamente.

- Hum? O que aconteceu? – perguntei confusa, me levantando do chão mas com ajuda dele.

- Você desmaiou... ta tudo bem?

- Hum, acho que sim... foi só uma tontura, nada mais...

- Você tem se alimentado direito?

- S-sim... – menti descaradamente, no que ele obviamente não acreditou, um sorrisinho se formando em seu rosto. A verdade é que eu já não tinha tomado café direito, comi pouco no almoço, e no jantar, como não o vi presente, não consegui comer muito...

- Hum, é melhor eu te acompanhar até a Torre... só pra garantir... – ele falou com uma cara séria.

- Certo... – respondi tímida.

Fomos caminhando em silêncio, tive mais uma vertigem, mas não foi nada de mais, e à porta do dormitório das garotas eu falei:

- Obrigada...

- Não há de quê. – ele respondeu sem muita emoção – Não quero que você, hum, esteja mal para o seu encontro amanhã. – ele enfatizou bem a palavra “encontro”.

BUM! Outra bomba caiu no meu estômago.

- James, olha... – tentei argumentar, e explicar a situação, mas ele me cortou.

- Boa noite Evans. E... se cuida. – e fechou a porta do dormitório dos garotos atrás de si, sem nem me dar tempo de responder. Subi para o quarto cabisbaixa e me atirei na cama. Ele me chamou de Evans! O que só confirma as minhas suspeitas: eu parti o seu pobre coração e ele agora me odeia! 

Amanhã terei apenas aulas de Herbologia, DCAT e Transfiguração. Depois do almoço iremos à Hogsmeade.

QUARTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO

DIA DOS NAMORADOS, SALÃO PRINCIPAL, 12:00

As aulas foram bem rápidas. Às 11 horas subimos para a Torre e fomos nos arrumar.

Aqui estou. Almoçando. Sozinha. Minhas amigas me mandaram descer primeiro, porque tinham que “dar uns retoques finais”. Não entendo porque eu não podia ficar lá. Eu poderia me “retocar” um pouco mais também. Mas elas disseram que eu preciso me alimentar. Estranho, já que eu não contei à elas que desmaiei ontem... E Remo não me viu desmaiando. A não ser que James tenha contado à elas... mas, por que ele faria isso? E por que elas me expulsaram do dormitório e da sala comunal, para ficar aqui sozinha? Bem, não totalmente sozinha. Peter também está aqui, mas isso é porque ele é um esfomeado e não tem um encontro. Mas ele mais parece um espião das minhas amigas traidoras. Fica dizendo toda hora que é melhor eu comer direito, porque se alguma coisa acontecer comigo elas vão esfolá-lo vivo. Vem cá, e eu com isso?

12:20

Hum, finalmente elas terminaram de se “retocar”. Demoraram tanto que eu já terminei de comer. Desceram Emelina e Remo, Alice e Frank, e Marlene sozinha. Nem Sirius nem James estão aqui. Ah, espera, lá vem o Sirius. Senta-se ao lado de Marlene e vai se inclinando para beijá-la...

- Ai! – acertei uma bolinha de papel na cabeça dele.

Lancei a ele um olhar repreensivo e nervoso, no que ele fez uma cara de compreensão e disfarçou fingindo apanhar a travessa de purê-de-batatas. Sorriu amigável para Marlene que o olhou confusa, mas retribuiu o sorriso.

12:25

James acaba de se juntar a nós. Bem, não especialmente à mim, e sim ao resto do grupo. Ele lançou um olhar e um sorriso sacana para mim ao encher a boca de carne moída. Mas parece alegre. Muito estranho... eu não tinha estraçalhado o coração dele? (não que seja o que eu realmente quero que aconteça...)

12:30

Alice e Frank compartilharam com todos o itinerário de seu passeio de dia dos namorados. Que romântico. São tão fofos... eles vão dar uma volta pelo vilarejo, trocar presentes (apesar de Frank já ter presenteado Alice com rosas vermelhas ao pé da cama quando ela acordou. Remo fez parecido com Emelina, mas eram cor-de-rosa), e depois vão para uma pracinha que tem ali perto. Emelina e Remo vão fazer mais ou menos o mesmo, mas eles vão passar numas lojas antes; Remo precisa passar no correio, e Emelina quer comprar cerdas novas para a vassoura dela. Marlene e Sirius vão andar a esmo pelo vilarejo, passar na Zonko’s e tomar umas cervejas amanteigadas, coisas assim. Peter vai passar o dia na Dedosdemel. E James não comentou com ninguém o que ia fazer, se tinha um encontro, nada. Ninguém lhe perguntou também... E eu é que não me atreveria a querer saber...

12:45

Acabo de lembrar que devo encontrar Bryan no saguão. Ele provavelmente já está lá, não o vejo na mesa da Corvinal. E também, o pessoal já ta saindo. Melhor eu ir...

HOGSMEADE, BANCO EM FRENTE AO LAGO, 15:30

Que confusão! Nem acredito que estou aqui!

Saí do Salão Principal junto com o grupo, e Marlene me disse:

- Não se esqueça! Me encontre em frente à Trapobelo às 16:00, ok?

Concordei e fui encontrar Bryan parado à porta do saguão, que segurava uma rosa vermelha nas mãos. Tão clichê...

- Olá, Lily! – ele disse sorrindo, e me estendendo a rosa: – Pra você!

- Oh, obrigada, Bryan... – sorri o melhor que pude e fomos caminhando lado a lado durante todo o percurso.

Fiz questão de conversar muito com ele durante o trajeto (para que não desse tempo para mais nada), sobre aulas, deveres, e ele tocou no assunto do Baile de Primavera...

- E então, como vão os preparativos da decoração do Baile?

- Ah, vão bem... estamos planejando algo bem leve, suave... e as músicas?

- Também serão bem leves e suaves... – ele falou, se aproximando de mim, eu virei o rosto na hora, dizendo:

- Oh, olha só aquilo ali! – e apontei para o nada à minha frente.

- Não estou vendo... – ele falou confuso, e eu o arrastei para dentro do vilarejo.

- Ah, deixa pra lá! Vamos indo, vamos passear!

Olhamos algumas vitrines, e quando estávamos no fim da Rua Principal ele falou:

- Hum... Lily, espere aqui, sim? Acabei de ver uma pessoa que preciso muito falar... me encontre daqui a 10 minutos no Madame Puddifoot, ta?

- Ta bom... – falei confusa

- Prometo que não demoro. – e sorrindo, me lançou mais uma piscadela.

Fiquei parada em frente à Escriba Penas Especiais com cara de confusão. Não que eu quisesse passar mais tempo com Bryan (ele se esforça pra ser legal, mas é tão sem graça... não fala nada engraçado, não faz piadas... não é James...), mas ele me convidou para sair no dia dos namorados! Era pra pelo menos passarmos a tarde juntos...

Aproveitando que estava ali, decidi então entrar na loja e comprar uma linda pena vermelha que estava na vitrine (as minhas penas ficam velhas muito rápido, porque escrevo muito. Esse diário é prova disso). Saí da loja e trombei com um certo alguém...

- Hey, olha por onde anda! –gritei, deixando as sacolas (aproveitei e comprei mais rolos de pergaminho, tinta, outra pena menos sofisticada, envelopes, um novo caderno-diário porque este já está acabando...)

- Olá senhorita-eu-tenho-um-encontro-com-o-cara-mais-chato-do-mundo! – falou James sorrindo sarcástico. Pronto. Ele tinha se tornado aquele idiota, estúpido e arrogante maroto novamente!

- P-potter! – exclamei surpresa.

- Evans! – ele imitou.

- O que está fazendo por aqui? – perguntei recolhendo minhas sacolas de compras do chão, no que ele enfiava as mãos nos bolsos e olhava a esmo pela rua.

- Ah, nada especial. Mas, onde está o seu acompanhante? – ele perguntou com um tom de sarcasmo e procurando-o à nossa volta. Que cara irritante! Como é que eu gosto dele?

- Ele já volta... Er, James, você...

- Ah, está tudo bem comigo, obrigado por se importar... – ele falou sarcástico e com uma cara meio brava.

- Olha, eu... me desculpe se... eu não pretendia, é que... – gaguejei tentando consertar a situação, e surpresa por tê-lo magoado tanto. Detesto magoar as pessoas...

- Sei, sei... vem comigo! – ele falou sorrindo e displicente me puxou para um beco.

- Hey, o que está fazendo? – perguntei

- Te tirando do seu encontro!

- Mas, mas... James Potter! Me largue agora! – mandei com uma expressão de confusão no rosto. Que cara louco!

- Ta bom... – e ele me soltou, mas com um impulso tão forte que eu bati de encontro a uma lata de lixo, aos tropeços. E ele, como não podia deixar de ser, começou a rir.

- Grr! O que deu em você para agir assim? – fiz minha melhor cara de brava.

- Ora, nada especial... só uma súbita vontade de atrasar o seu encontro...

- Mas, mas... você não pode fazer isso! – que idiota faria esse tipo de coisa? Só o Potter!

- Ora, vai dizer que você prefere mesmo passar o dia com esse cara do que comigo? Hein? – ele falou dando um daqueles sorrisos convencidos.

- Bem... mas eu dei a minha palavra, tenho que cumprir com o que prometi! – respondi incerta.

- Hum... mas você não respondeu se prefere ele à mim... – um sorriso triunfante tomava conta de seus lábios.

- Ora! Isso não vem ao caso! E eu preciso ir agora, ele está me esperando!

- Está bem... – ele deu um outro sorrisinho sacana – mas acho que você poderia esperar um pouco... ele ainda vai demorar para encontrá-la...

- Como assim? Você sabe onde ele está? – nesse momento, ele parecia o Gato Risonho da história da Alice no País das Maravilhas; aparece quando você menos espera, sabe de tudo...

- Digamos que sim... mas, eu não vou te dizer – ...mas não conta nada...

- James... – falei em tom de alerta

- Lily... – ele repetiu no mesmo tom.

- POTTER! – me revoltei, tentando fazer com que ele saísse do meu caminho e me deixasse voltar para a Rua Principal.

- Hey, calma... – ele segurou o meu braço, sério. – eu o vi na Dervixes e Bangues.

- Fazendo o quê? – perguntei desconfiada.

- E eu lá sei? O acompanhante é seu... – ele falou com um pouquinho de amargura, me fazendo sentir culpada, e logo depois mudando o tom de voz para um animado – Bom, eu tenho um encontro, preciso ir. Até mais! – ... e some quando você mais precisa.

Ta, isso estava muito esquisito. Eu esperava que ele ficasse chateado comigo, afinal eu o tinha recusado por 3 anos e agora, quando estávamos começando a... nos entender, eu decido sair com outro cara, que aparentemente ele odeia. Eu esperava que ele ficasse magoado por isso. E que me evitasse o dia todo, e não quisesse falar comigo. Mas não; ele estava totalmente ironizando a situação. E ainda por cima, queria atrapalhar!

Saí marchando pela Rua Principal, indo em direção a Dervixes e Bangues, mas não encontrei Bryan lá. Mas encontrei Peter que disse que o tinha visto na Zonko’s. Lá fui eu, e esbarrei com Sirius e Marlene (que estavam se divertindo com os novos artigos pregadores-de-peça que eu terei que confiscar depois), que disseram que Bryan tinha perguntado por mim lá no Três Vassouras. Fui até o pub, mas não o vi lá. Mas vi Alice e Frank, que disseram que ele acabara de sair dali à minha procura, e que talvez estivesse na Dedosdemel. Fui na loja de doces, mas ele não estava lá também, porém, encontrei Emelina e Remo (comprando o novo doce Delícia Achocolatada. Remo adora chocolate, assim como eu. Terei que confiscar isso mais tarde... sabe como é... só pra experimentar...) que disseram que ele tinha ido para o Madame Puddifoot me encontrar.

Me senti mais ainda como a pobre Alice no País das Maravilhas, procurando o Coelho Branco (Bryan) sem nunca encontrar, porque todos os personagens (meus amigos) ficam confundindo ela o tempo todo.

Fui pra tal casa de chá, mas eu estava completamente sozinha e confusa (onde está o Gato Risonho quando se precisa dele?). Tinha passado metade da tarde procurando pelo Bryan, e não conseguia encontrá-lo de jeito nenhum! E o estranho, é que eu também não via mais ninguém das outras casas, ninguém que pudesse me ajudar! Hogsmeade parecia estar incrivelmente vazia! Será que é por que o número de solteiros aumentou em Hogwartz?

A casa de chá da Madame Puddifoot era assustadora. Parecia ter sido vomitada por Melissa Adams, de tanto que tinha babadinhos, coisinhas cor-de-rosa bem forte, e corações, e outros fru-frus. Bem brega. Mas isso só de olhar pela janela. Decidi entrar, ainda um pouco receosa, e pude constatar que o lugar era ainda pior! Vomitado por Melissa e Melinda Adams. E ainda tinham confetes cor-de-rosa que caíam em cima da nossa cabeça, jogado por querubins dourados! Enfim, procurei pelo Bryan, e percebi que ele não estava ali, e algumas pessoas me olhavam curiosos, porque eu estava sozinha e lá só tinham casais. Nenhuma exceção. Uma senhora muito sorridente e toda vestida de vermelho e rosa veio em minha direção.

- Venha querida, tem uma mesa reservada para você! – fiquei aliviada e confusa, e ela continuou ainda sorrindo – seu acompanhante pediu para eu acomodá-la na melhor mesa da casa, ele já a está esperando!

- Ahn... como a senhora sabe que eu sou a mesma que...? – comecei a perguntar curiosa, mas ela me cortou enquanto me arrastava para os fundos do lugar.

- Ah! Ele descreveu a senhorita claramente: uma linda ruivinha de olhos verdes com um olhar perdido! - ela falou animada. Ta né.

Ela me encaminhou até uma ala reservada, com mesas acopladas a sofás em formato de L (para os casais poderem “se agarrar” enquanto comem, eu imagino) no lugar de cadeiras, tudo muito vermelho e cor-de-rosa pro meu gosto, mais querubins voando, guardanapos cor-de-rosa em forma de coração, rosas vermelhas em todo o lugar! Blergh!

Finalmente cheguei à minha mesa, bem afastada do resto, e vi que tinha alguém sentado lá. E não era o Bryan.

- Potter! – exclamei muito, mas muito surpresa. – O que você... como foi que... – nisso a dona lá já tinha me feito sentar e eu estava com cara de pateta olhando pro garoto de óculos à minha frente.

- Eu disse que tinha um encontro, não disse? – ele falou sorrindo. Foi espantoso. Ele sorria do mesmo modo que o Gato Risonho da história da Alice, daquele jeito meio lunático. Mas não posso dizer que não fiquei feliz ao vê-lo ali...

- M-mas... o-o... e-eu... – balbuciei.

- E então Lily, gostou da surpresa? – ele falou simplesmente.

- Mas... por que... James... como assim... o que você quer? – perguntei soltando o fôlego, derrotada. Ele me encarou sério.

- Lily... tudo o que eu queria era sair com você... mas você não me deu oportunidade... e eu fiquei muito chateado quando soube que você ia sair com outro e não comigo... – a voz dele estava mesmo frustrada nesse ponto - e... bem, os meus métodos não foram os melhores, mas... acho que consegui... certo? – ele sorriu. O sorriso especial.

Suspirei. E também sorri. O jeito que ele falou na hora foi tão fofo... Mesmo ele sendo um inconseqüente, louco, exagerado, estúpido e idiota... ele consegue ser fofo.

- Claro... – falei por fim - E então, como foi bolar todo esse plano? E o que aconteceu com o Bryan? – e ele contou o plano todo desde o início.

Na hora do almoço quando as meninas estavam se “retocando”, na verdade elas estavam mesmo é combinando o plano todo com James, que tinha passado a noite toda arquitetando tudo... eu deveria ficar furiosa por se meterem na minha vida desse jeito, mas... até que não foi ruim... tipo, eu já tinha conversado com James antes, é claro, mas depois das últimas complicações, tudo estava muito indefinido entre nós. Principalmente a parte do nós. E não conversamos só sobre a escola, quadribol, nossos amigos, nada disso. Ele me contou da família dele, eu contei da minha, contei como são as minhas férias (ele ficou fascinado com todas as coisas trouxas que eu mencionei), ele contou das dele, contamos piadas, rimos muito, nunca tive uma conversa que rendesse tanto com um cara (nem mesmo com Remo)!

O que aconteceu com o Coelho, digo, Bryan, eu realmente não sei. Tudo o que James disse é que o viu cercado por garotas histéricas num beco, e parecia bem “ocupado”. Não sei o que ele quis dizer com isso, mas, sinceramente, não me importo nem um pouco. Mas, como na história da Alice, a busca pelo coelho era apenas uma fuga da realidade (N/A: não sei bem se é isso mesmo na psicologia; agora não estou lembrada do seu real significado, mas creio que seja algo assim. De qualquer forma, é a minha interpretação da história). E a realidade é que eu gosto de outro, por mais que seja difícil de admitir.

Depois de uma hora só na conversa, M. Puddifoot começou a nos encarar ansiosa, e achamos que ela queria que saíssemos da melhor mesa da casa, já que não estávamos “nos agarrando” nem comendo nada, e tinham outro casais na fila (como existem casais bregas no dia dos namorados!). Decidimos então tomar umas cervejas amanteigadas no Três Vassouras (um lugar muito mais agradável), onde encontramos Remo e Emelina trocando beijinhos tímidos. Passamos na Dedosdemel e James ficou feliz em ver que Peter tinha encontrado companhia (uma garota da Lufa-Lufa, um pouco gordinha, que estava compartilhando curiosidades sobre doces e parecia realmente interessada nele).

Por fim viemos para esse banco, o mesmo que eu usei como refúgio na última visita ao povoado, mas a diferença é que daquela vez estava nevando. Muito na verdade. Bem, o tempo ainda está frio, e alguns flocos de neve caem lentamente, mas nada muito violento. Está um bonito dia de inverno. Embora eu prefira as primaveras... (sabe como é, é quando eu faço aniversário...) Eu estou sentada no banco, e James está deitado com a cabeça em meu colo, que está servindo de apoio para este livro em que escrevo, muito contrariado por sinal. Ele não pára de falar na última partida de quadribol, no próximo jogo, como estamos perto de ganhar a Taça, essas coisas de garotos. Ta né... ¬¬

Hum, já são quase quatro horas. Devo encontrar Marlene na Trapobelo.

DORMITÓRIO FEMININO, 19:00

Marlene estava me esperando na porta da loja, junto à Sirius. Notei que os dois estavam bem sorridentes. Entramos e começamos a experimentar alguns modelos (James e Sirius ficaram do lado de fora, esperando e conversando). Eu logo escolhi um bem bonito e básico; de veludo verde bem escuro, saia justa na altura dos joelhos, manga comprida com os ombros à mostra. Marlene demorou um pouco mais, mas logo se decidiu por um preto vaporoso, de decote em V. Quando ela finalmente saiu do provador e se dirigiu ao caixa para pagar, estava com dois vestidos nos braços, o segundo era longo e rodado azul-claro e tinha uma echarpe acompanhando.

- Ué Lily, cadê o outro vestido? – perguntou ela confusa.

- Que outro?

- O do baile! – alguns segundos depois ela continuou – Lily, você não aproveitou para comprar o vestido do baile também? Não haverá outra visita à Hogsmeade até lá... a não ser que você esteja pensando em não ir... – ela fez uma cara de pânico.

- Não, eu vou... é que eu tava pensando em usar este aqui mesmo... – apontei para o vestido que eu tinha nas mãos – quase ninguém vai ver mesmo... – Marlene fez uma cara de choque.

- Lily! O que está dizendo? Por quase ninguém você está querendo se referir a todos os seus amigos! Não somos ninguém, é isso? Não merecemos que você esteja vestida de forma especial? Afinal, estamos falando do Baile de Primavera! – ela falou com seu tom de indignação que me dá vontade de rir. Mas ela estava falando sério. E, sussurrando, continuou – e depois, o James vai te ver usando esse vestido no noivado! Não quer que ele tenha uma surpresa no dia do baile?

- Lene! E quem disse que eu vou com...– ralhei, mas fui interrompida por dois garotos extremamente entediados que adentravam o recinto.

- Vocês já acabaram? Eu to cansado de esperar... – falou um Sirius que mais parecia uma criança impaciente.

- Ah, vocês não precisavam ter nos esperado! – falou uma Marlene com voz irônica e doce, sorrindo, como se falasse mesmo com uma criança, olhando para James que também exibia um semblante entediado, mas disfarçava melhor, e olhando novamente para Sirius – Já podemos ir Sirius.

- Ah, finalmente! – ele se animou e o sorriso cativante voltou aos seus lábios.

- Ah, James, não deixe Lily sair daqui sem ter comprado o vestido do baile! – e saiu com uma piscadela.

- Lene! – tarde demais. Ela já tinha se ido com o Sirius e me deixado na loja sozinha com James.

- Eu pensei que durante todo esse tempo você estivesse comprando o vestido... – ele falou confuso e se jogando numa poltrona próxima.

- Bem, eu comprei o vestido que vou usar no noivado de Alice, que seria o mesmo do baile... – ele abriu a boca pra contestar – ta, eu sei, eu não posso repetir roupa... – aff! ¬¬

Ele se calou e abriu um sorrisinho. Aquele tipo de sorriso. A dona da loja, a Sra. Truncheble, veio alegre ao meu encontro (antes tínhamos sido atendidas pelas outras vendedoras, e agora que a loja estava quase vazia, ela mesma veio me atender), empurrando uma arara (N/A: aqueles cabideiros grandes e com rodinhas, que se usam no teatro) cheia de vestidos de baile pendurados. James, para o meu espanto, estava realmente decidido a ficar ali, me esperando... E cismou de me ajudar a escolher o vestido! Como se ele entendesse alguma coisa de roupas femininas... eu falei isso a ele, que respondeu rindo “Minha querida... eu sou o mais especializado no assunto, acredite!”. Fiquei séria. Ele tinha que lembrar que era um galinha galanteador? Ele pareceu perceber o que tinha falado, limpou a garganta e tentou consertar: “Ora, a minha opinião deve servir para alguma coisa, não?”. Assenti com um leve sorriso, mas ainda um pouco mexida, sabe como é.

Comecei a experimentar alguns vestidos simples (“Nada muito exagerado, por favor!”, pedi) mas a dona da loja insistia para que eu experimentasse uns vestidos que mais pareciam suspiros de tanta saia e babado... e James apenas ria da minha desgraça!

Mas ele realmente entende da coisa! Me aconselhou a não escolher o vestido preto de um ombro só e barra assimétrica, que era uma das minhas opções.

- Muito sem sal. Você precisa de algo que te valorize mais! – ele falou fazendo um gesto dramático, se posicionando ao meu lado no espelho.

- Como o quê, um decote gigante e uma saia bem justa e curtinha? – perguntei irônica.

- Hum... não seria má idéia... – ele falou me analisando. Atirei o vestido-suspiro que estava próximo em cima dele – ok, sem piadinhas!

Depois de experimentar trocentos vestidos e ouvir outros comentários, como:

“Muito simples”, (um bege bem básico)

“Muito extravagante”, (um vestido cheio de flores enormes, lantejoulas, plumas, tudo o que se pode imaginar e todo colorido)

“Não combina com seus olhos”, (um roxo berrante que eu realmente tinha detestado)

“Rouba sua beleza”, (foi um comentário educado, é claro. O vestido era quase uma burca, daquelas que cobre a mulher inteira!)

“Linda!” (era um vestido verde-claro que até ficava bem em mim, mas eu não gostei muito... e também não ia levar só porque ele tinha gostado)

“Horrorosa!” (tentativa de me fazer levar um vestido lilás lindo que parecia realmente tentador, cheio de plumas e brilhos... mas acho que combina melhor com o inverno... e também porque era caro demais... e eu não deixaria o Potter pagar nunca, mesmo que ele tenha se oferecido para isso e tenha bastante dinheiro.)

“...”; (lê-se: babando e quase caindo da cadeira, após eu ter experimentado um modelo longo e vermelho muito decotado e com uma fenda lateral que ia até a minha coxa. É claro que revirei os olhos e ignorei o comentário, vestindo minhas roupas normais novamente.).

Me dei por vencida.

- Ah, eu desisto! Não vou encontrar nenhum vestido que fique bem em mim! – falei saindo do provador de braços cruzados e fazendo bico, ao mesmo tempo que me atirava na poltrona onde James estava anteriormente. – pra falar a verdade, nem sei se quero ir nesse baile!

- Ah Lily, não fica assim... você sabe que terá que ir no baile de qualquer jeito... – é, eu sei. Só porque eu sou “monitora-chefe”. Blé. E, tentando me incentivar – você não gostou daquele verde-claro? Ficou realmente bonito em você...

- Ah, me senti como um limão, ou folha... uma uva-verde, isso sim!

- Mas uma uva bonitinha... – ele falou divertido, no que eu lancei a ele um olhar mortífero – ta bom, ta bom. Hum... o vermelho de jeito nenhum? – joguei nele uma pilha de caixas vazias, e ele se sentou ao meu lado, também derrotado.

Mas eis que surge a Sra. Truncheble, lá do fundo da loja, com uma caixa branca e grande, e com um sorriso muito contente no rosto.

- Mocinha, venha ver este aqui! Acho que vai gostar! – deitei um olhar cansado para James, que sorriu me incentivando. Fui até a velhinha, peguei a caixa e me enfiei no provador. Abri a caixa. Ali estava o vestido mais lindo que eu já tinha visto. Experimentei. E constatei que me servia perfeitamente. Não ficou largo, ou apertado, e eu podia me mover perfeitamente com ele. Parecia feito pra mim.

Do tom de rosa mais claro e suave que é possível imaginar, o vestido era longo, rodado com a saia de tule, tomara-que-caia com um decote em forma de coração, e um bonito bordado no corpete, com alguns brilhinhos; dando uma volta em frente ao espelho, pude notar florzinhas coloridas em tons pastéis aplicadas ao longo da saia, que davam a impressão de fazerem parte de um verdadeiro jardim. O vestido era simplesmente perfeito. E eu não gosto muito de rosa.

Ainda me admirando no espelho, ouvi uma voz antipática e conhecida adentrando a loja. Melissa Adams estava chegando acompanhada da irmã e das comparsas, provavelmente tinha vindo comprar o vestido também. Antes que a voz dela se tornasse mais audível e consequentemente mais próxima, senti a cortina do provador se escancarar e por ela entrar uma pessoa completamente em pânico e aos tropeços. É claro que eu gritei.

- Shh! – sibilou James, pondo a mão na minha boca. Me aliviei por ele ser o invasor, mas comecei a estapeá-lo em seguida.

- Ai! Lily, pára! – ele sussurrou, no que eu o imitei.

- O que está fazendo aqui? – perguntei furiosa

- A Adams acabou de chegar na loja... se ela me vir... não vai mais desgrudar...

- Mas precisava ter vindo se esconder aqui? E se eu estivesse sem roupa? – perguntei ainda furiosa, mas um pouco divertida. Sabe, ele estava fugindo da Adams. Era engraçado...

Então ele abriu um sorrisinho malicioso e se virou para me olhar melhor. E o queixo dele simplesmente caiu! Sério! Ele ficou sem palavras ao me ver naquele vestido maravilhosamente perfeito.

- L-lily... – ele balbuciou – v-você está... - Era impossível não rir da cara de bobo que ele fazia!

- Pavorosa? – perguntei incerta, mas sorrindo.

- N-não! Você está... linda... – mesmo esperando por essas palavras, não pude deixar de corar.

- Hum... obrigada... sabe, não sei se ruivas ficam muito bem de rosa...

- Bom, as outras ruivas eu não seil... mas você fica ótima...

- Certo... – sorri. Passados alguns segundos de silêncio, voltei a falar – James, quanto tempo você pretende ficar aqui dentro?

No exato momento em que perguntei, ouvi a voz estridente da Adams num provador próximo, e pés passando do lado de fora da minha cabine. Ele precisou se encolher mais ainda, me prensando contra a parede (a cabine do provador é bem apertadinha, e o vestido ocupa bastante espaço).

- O tempo que for necessário para a Adams e as amigas dela irem embora... – ele falou com a voz rouca, ainda sussurrando.

- Mas... a Sra. Truncheble... – perguntei receosa. E se ela nos pegasse ali, o quão constrangedor não seria? James sorriu bem de leve e passou um dedo nos meus cabelos.

- Ela não vai sentir a nossa falta... – ele sorriu levemente com um pouco de malícia e se inclinou, beijando de leve bem atrás da minha orelha, com as mãos na minha cintura.

- E... o que vamos fazer até lá...? – perguntei lentamente num fio de voz, sentindo a respiração acelerar.

- Que tal... – ele falou ao pé do meu ouvido, - isso... – e rumou para os meus lábios, partindo para um beijo lento e terno.

Os braços de James me envolveram; enquanto uma mão segurava delicadamente na nas minhas costas, a outra acariciava a minha nuca; minhas mãos, que antes jaziam imóveis contra a parede, logo foram parar nos seus cabelos bagunçados, o puxando para mais perto de mim, receosa de que se eu o soltasse, desmontaria ali mesmo, como uma boneca, de tão mole e derretida que eu estava.

O beijo foi se aprofundando e se tornando mais... ardente. Senti nossos corpos mais próximos ainda; as mãos de James deslizavam agilmente pelas minhas costas, e ele levantou um pouco a minha perna direita, acariciando-a de leve, mesmo por cima do vestido. Minhas mãos acariciavam sua nuca, o deixando arrepiado, e algumas vezes puxando o cabelo dele carinhosamente.

Ficamos muito tempo naquele beijo profundo e apaixonado, tinha esquecido de tudo; do baile, da dona da loja, da Adams, das minhas amigas me esperando, do Bryan que não conseguiu sair comigo no dia dos namorados, do Potter imbecil que tinha me magoado e me seqüestrado do meu encontro e agora se encontrava aos beijos comigo na cabine do provador da loja de roupas... nada mais existia. Até que...

Senti o beijo se tornando mais intenso, me deixando quase sem ar; mas antes que isso acontecesse, ele descolou a boca da minha e desceu para o meu pescoço beijando-o com voracidade e dando pequenas mordidas de vez em quando; eu estava mesmo derretendo. Até que ouvi a voz da Sra. Truncheble se despedindo das Adams e perguntando por mim. Empurrei James para longe (que não era tão longe, já que a cabine era apertada) e respondi aflita:

- Já estou saindo! A Sra. poderia ver se tem um sapato que combine com este vestido? – falei para despistá-la; ela concordou e foi para o fundo da loja. Respirei aliviada.

- Er... Lily... – ele balbuciou, ainda ofegante e um pouco corado. Cruzei os braços lentamente, meu rosto vermelho, e disse rouca, evitando encará-lo.

- Acho melhor você sair. – minha voz quase inaudível devido à falta de fôlego.

- Lily, desculpe se... eu não tive intenção de... – ele tentou se explicar, sem muito sucesso. Ele não tem muito jeito com as palavras...

- Vá, eu acho que elas já foram. – falei indiferente espiando pela cortina do provador – Anda, eu preciso me trocar. – retorqui impaciente.

Ele lançou um último olhar de desculpa e saiu cautelosamente do provador, me deixando ali sozinha com meus pensamentos.

Céus! Justo quando a gente tava numa boa, a amizade restabelecida, ele me agarra no provador da boutique! Não que eu não tenha gostado, mas... podia ter sido em outra hora, outro lugar, sei lá... de repente me senti tão, tão... vulgar. Como aquelas garotas que ele costumava sair e agarrava em qualquer canto. De repente senti que virei uma delas... E isso não foi legal.

Tirei o vestido, vesti as minhas roupas e saí da cabine do provador. A Sra. Truncheble apareceu dos fundos da loja e disse sorrindo:

- Infelizmente não achei nenhum sapato... mas, gostou do vestido? - Olhei de soslaio para James, que continuava na loja, evitando me encarar, e depois respondi.

- Sim, vou levar. Esse e o outro verde. – ela sorriu mais uma vez, embrulhou os dois vestidos, eu paguei e saí da loja, acompanhada de um James cabisbaixo e com as mãos nos bolsos.

Saí disparada na frente, determinada a voltar logo para o castelo. Felizmente James não me seguiu. Eu também não encontrei minhas amigas, fazendo o caminho de volta pra escola sozinha. No meio dos alunos, pude ver Bryan cercado de garotas, parecendo muito nervoso e sem jeito; pelo que ouvi agora há pouco, alguém fez alguma travessura com ele, borrifou uma espécie de poção do amor em spray (artigo da Zonko’s), algo assim, nele, que atraiu todas as garotas desacompanhadas de Hogsmeade. Ele tentou se livrar delas o dia inteiro, mas não conseguiu. Tadinho... quase fico com pena...

Agora estou aqui, trancafiada no dormitório na hora do jantar, sem fome e sem cara para encarar o Potter. Ainda não contei para as meninas sobre o acontecido. E não sei se pretendo contar também...

20:30

Como eu cheguei e vim direto para o dormitório, e as garotas foram direto para o Salão Principal, ainda não tínhamos nos visto nem conversado direito. Elas acabaram de voltar do jantar animadas, sorridentes e saltitantes, perguntando por mim.

- Lily! Como foi o seu encontro? – perguntou Emelina muito, mas muito feliz.

- Ah, você sabem, ajudaram a planejar tudo! – falei com um quê de ofendida mas sorrindo – mas foi legal... – disfarcei.

- Só legal? – perguntou Alice decepcionada.

- Ah, foi ótimo. Melhor do que sair com o Bryan. – falei e elas sorriram.

- Ah, deixa eu ver o vestido que você comprou para o baile? – implorou Marlene.

- É Lily, mostra! – apoiou Emelina animada.

Tirei o vestido da caixa e pendurei num cabide na porta do meu armário, para admirarmos melhor. Elas só falaram uma coisa: Uau. É. O vestido causa mesmo esse efeito.

Sábado é o noivado de Alice. Vamos todos (eu, Emelina, Marlene, Remo, Sirius, James e Peter) pegar o trem à tarde para a casa do Frank (ele e Alice já estarão lá desde cedo, preparando tudo).

20:55

Continuamos olhando para o vestido, abobalhadas.

- Como é que eu não vi esse vestido lá na loja? – perguntou Marlene indignada.

- Ah Lene, não começa! – falou Alice sorridente – o seu vestido também é bonito.

Marlene pegou o vestido azul e pendurou ao lado do meu. É verdade, ele é bonito, mas... não se compara ao meu...

- Eu agora é que me arrependo de não ter ido lá na loja hoje! Me antecipei comprando o meu por catálogo... aposto que lá tinha outros modelos mais bonitos que o meu... – falou uma Emelina dengosa.

Ela vasculhou o malão e pendurou o vestido pêssego ao lado do meu. É bonito, e combina muito com ela. A saia não é tão rodada, e o decote é simples, e tem alças.

- Ah, como vocês são bobas! – riu-se Alice. – seus vestidos também são lindos! Lene, você fica muito melhor de azul do que de rosa, acredite... e Mel, o seu vestido é tão bonito quanto o da Lily, o dela só é... diferente, é isso. Deve ser um modelo novo, exclusivo.

- E o seu vestido, srta. Quase-Longbottom, não vai nos mostrar? – perguntou Marlene desafiadora com uma cara emburrada. Nesse ponto, ela é igualzinha à Sirius: adora se fazer de criança em algumas situações...

- Já que insistem... – ela foi até o malão e tirou de lá um lindo vestido vermelho, rodado, com alguns brilhos na saia de tule. Uau, exclamamos todas. Só Alice mesmo para escolher um vestido tão... fatal...

- Hum... Lily, Ali... vocês não querem trocar comigo e Mel não? – perguntou Marlene com voz de criança pidona, no que rimos e atiramos almofadas, iniciando uma guerra de travesseiros.

Elas desceram para a sala comunal. Perguntaram se eu não queria jogar xadrez-bruxo ou outra coisa com elas e os marotos. Disse que estava cansada e com dor de cabeça, e elas brigaram por eu não ter comido nada. Emelina pegou uma Delícia Achocolatada de Remo e me deu para tapear a fome. Eba! Na verdade, só estava querendo evitar o Potter mesmo... não sei como vou encará-lo amanhã.

Bom, como não tenho nada mais pra fazer, nem dever de casa... vou escrever um poema:

Timidez

"Basta-me um pequeno gesto,
Feito de longe e de leve,
Para que venhas comigo
E eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
Das montanhas dos instantes
Desmancha todos os mares
E une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
Entre os ventos taciturnos,
Apago meus pensamentos,
Ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
Os mundos vão navegando
Nos ares certos do tempo,
Até não se sabe quando...
- e um dia me acabarei. "

Ouço batidas na janela. Estranho...

Era uma coruja. Trazia um lírio pêssego no bico. Sem bilhete, sem nada. Mas não preciso de bilhete nenhum pra saber de quem é. Sei muito bem. E também sei o que significa este lírio; talvez um pedido de desculpas, ou mais uma prova do amor que ele sente por mim. Talvez ambos. Mas ainda não posso me entregar. Por mais que seja difícil. Mesmo sabendo que, ainda que contrariada, eu esteja me traindo e me entregando aos poucos.

Quando deixarei de ser
essa pessoa medrosa
que sabe o que quer,
mas tem medo de se ferir?

Quando deixarei de ser
essa pessoa orgulhosa
que sabe o que sente,
mas tem medo de admitir?

Quando deixarei de ser
essa pessoa insegura
que sabe o que fazer
mas receia em agir?

Preciso de respostas.
E só eu as tenho.
Ora, não estão na mesa, postas.
Mas escondidas no meu sofrimento.

Sofrimento, este, que insisto em alimentar.
Não seria mais fácil dele logo me livrar?
E assim, quem sabe, aliviar o meu pesar
de amar a quem me ama, sem nunca poder contar.


N/A: O primeior poema é de Cecília Meireles; o segundo é de minha autoria. ^^

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