O começo de tudo



DOMINGO, 17 DE NOVEMBRO.

SALA COMUNAL DA GRIFINÓRIA, 21H.

Meu nome é Lílian Evans, Lily, para os mais próximos. Tenho 17 anos, longos cabelos ruivos e lisos, e lindos olhos verdes, como esmeraldas. Pelo menos é o que me dizem sempre. Mas não me importo muito com minha aparência, sabe, se sou linda ou não, não estou nem aí. Sou feliz do jeito que eu sou. Mesmo com algumas gordurinhas...

Estudo na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwartz, apesar de ter nascido trouxa. Bem, não trouxa de idiota, mas trouxa, de não-bruxa. É um pouco complicado, e chocante também. Nossa, me lembro do dia em que eu e minha família descobrimos desse meu “dom”. Meus pais ficaram felizes e orgulhosos, mas minha irmã Petúnia passou a me odiar mais ainda, e até hoje me chama de “aberração”. Não que eu me importe, mas fico muito triste ao voltar para casa nas férias e ver o quanto minha irmã, que era tão minha amiga na infância, me olhar com tanto desprezo. Mas acho que não posso fazer muita coisa a respeito. Não posso culpá-la por ter este preconceito com bruxos. Às vezes penso que ela tem inveja, porque eu fui escolhida e ela não. Bem, os motivos dela não me importam, o que realmente me alegra é saber que meus pais aprovam essa minha “condição” e me apóiam totalmente.

Bem, de resto, o que posso dizer? Na escola eu sou monitora-chefe da minha casa, a Grifinória. Admito que chego a ser um pouco certinha demais, mas só tento manter a ordem. O que posso fazer se gosto de organização? Sou uma aluna muito estudiosa e aplicada, principalmente em poções, minha matéria preferida. O Professor Slughorn praticamente baba em cima de mim. Não acho que eu seja tão maravilhosa como ele diz, “a melhor pocionista que esta escola já viu”. Sou bem modesta, sabe, acho só que sou a melhor do 7º ano, nada mais. Bem, nas outras disciplinas eu procuro ser tão boa quanto, em outras eu sou boa naturalmente, por exemplo, Feitiços. Parece que nasci sabendo todos eles.

Mas uma que eu ainda não consigo ter uma nota muito boa, é Defesa Contra as Artes das Trevas. Deveria ser tão simples quanto às outras, já que eu tenho que me defender das várias azarações a que sou submetida todos os dias pelo fato de eu ser “sangue-ruim”, como os sonserinos me chamam. Antes eu até me incomodava e chorava por receber essa “nominação”, mas agora nem me importo mais, até porque o Potter vive me defendendo... Afinal, é culpa do Potter eu ser ruim em DCAT, porque como eu disse, ele me defende o tempo todo e não me deixa praticar. Não que eu goste de suas defesas, na verdade acho completamente desnecessário, pois sendo monitora eu posso descontar pontos e dar detenções, mas o Potter tem que me defender sempre... Mas falarei dele mais tarde. Precisaria de umas três páginas para falar de James Potter...

Meu horário escolar é muito preenchido, digamos. Sendo alunado 7º ano, tenho mais aulas de uma mesma matéria num mesmo dia. Mas temos alguns intervalos de1 hora, na quinta e na sexta-feira, para podermos fazer os deveres de casa, estudar e tudo mais, ou então para termos aulas extra-curriculares, que é o meu caso. Eu tenho duas, Aritmancia e Estudo dos Trouxas. A primeira eu acho super interessante, e a segunda é só pra eu me divertir e matar as saudades do meu “mundo de origem”. E também é mais uma nota excelente no meu boletim, já que seria impossível eu tirar menos que o máximo nessa matéria... Ao fim das aulas, às 17:00hs, temos uma pausa até a hora do jantar, às 19:00hs, para reuniões dos clubes da escola, fazer deveres de casa, e também tomar banho. Nos dias que eu estou realmente cansada, tomo um relaxante banho no banheiro dos monitores.

Uma coisa que eu realmente amo, é ler. Já li quase todos os livros da biblioteca, pelo menos aqueles que a Madame Pince permite. Mas não leio apenas livros relacionados ao mundo mágico, também adoro romances trouxas. Leio pelo menos uns três no período que estou na escola, e um nas férias. Eu leria mais, mas preciso estudar muito. Aliás, não sei o que seria de mim sem os livros. São meu refúgio, minha paz, com eles eu viajo para todos os lugares de meus sonhos... Engraçado pensar, que quando eu era mais jovem, sonhava em ser uma princesa e morar num castelo encantado... Mal sabia eu que meu sonho se tornaria realidade...

Mas eu não vivo só de estudos e leitura. Tenho duas grandes amigas. Ah, são amigas maravilhosas! Elas me ouvem, me entendem, me aconselham, me acolhem. Somos inseparáveis!

Alice McKellen é uma grifinória, como eu. Tem longos cabelos lisos e castanhos, rosto redondo e olhos castanhos brilhantes. Não é muito estudiosa, sempre me pede algumas anotações emprestadas e estuda em cima da hora para as provas, mas eu não a censuro por isso. Ela é divertida, espontânea, muito tagarela, se preocupa demais com suas amigas, especialmente comigo. É também muito romântica. Namora Frank Longbotton, também do 7º ano da Grifinória.

Emelina Vance é também da grifinória, uma garota alta, magra, de cabelos louros e cacheados, dotada de lindos olhos cor-de-âmbar. Ela não gosta de admitir, mas é uma das mais lindas garotas de Hogwartz, e muito inteligente também. Digamos que nós duas “competimos” quem tem a maior nota. Mas Mel já é um pouco diferente de mim: ela joga Quadribol. É uma das artilheiras, e quando começa com esse papo, eu caio fora. Não posso nem ouvir o nome desse jogo, parece que tenho algum tipo de alergia, estremeço só de pensar.

Mas é porque eu morro de medo de altura, e só de me imaginar lá no alto, em cima daquela vassourinha pequena e desconfortável... Sinto até vertigem. Bem, eu tenho vertigens o tempo todo, mas é muito diferente de quando se está lá em cima voando. Não que eu tenha que jogar, mas as minhas amigas gostam, e praticamente toda a Hogwartz. E chega até ser humilhante não conseguir me equilibrar numa vassoura e jogar bola pra lá e pra cá como todo mundo. E ainda ter que fugir dos balaços. Aff... Pra ter uma idéia, eu nunca nem dei as caras numa partida, com medo de ficar naquelas arquibancadas altíssimas e cair dali de repente, não sei. Ou então ser atingida por um balaço descontrolado. O Potter é que ama... Parece que não vive fora dos gramados... Mas voltando ao assunto, sempre que tem partidas, treinos, finais de campeonato, eu fico na sala comunal ou na biblioteca, estudando ou apenas lendo um de meus livros.

Vejamos o que mais posso falar sobre mim... Ah, sim, não tenho namorado. Não que eu me importe realmente, eu só gostaria de ter alguém ao meu lado sempre, que cuidasse de mim (não que eu não possa me cuidar sozinha; é verdade que às vezes esqueço algumas coisas, como por exemplo, de comer. Alguns pensam que faço regime porque tenho algumas gordurinhas, mas é que eu esqueço mesmo. Sou muito esquecida. E também, não gosto mesmo de comer. Nunca gostei.), me acolhesse em seus braços... Aiai... Acho que sou romântica demais... É tão bobo ficar imaginando um belo príncipe num cavalo branco, que vem me salvar de todos os perigos... Mas não posso fazer nada. Nasci assim. Sonhadora. Às vezes me distraio, durante as aulas, olhando para os jardins lá fora. Ou então paro e fico observando o céu, pensativa. À noite então, se eu estiver próxima a uma janela, não faço mais nada, fico observando a lua. Ela me encanta completamente... Mas não sou a única que olha para o céu estrelado... Várias noites eu já surpreendi o Potter na sala comunal completamente hipnotizado...

Bem, acho que agora já não dá pra escapar. Já citei esse nome várias vezes, e mesmo não querendo, acho que ele já faz parte da minha vida.

Começarei explicando sobre os Marotos. São um grupo de quatro rapazes do 7º ano da Grifinória, Remo Lupin, Peter Petigrew, Sirius Black e James Potter. São os caras mais populares da escola inteira, vivem se metendo em encrencas, confusões e etc. Há aqueles que os veneram, e outros, como eu, que os acham metidos e arrogantes. Tentarei traçar um pequeno perfil de cada um dos integrantes dessa “irmandade”:

Remo Lupin é um rapaz pálido, de olhos fundos e tristes, cabelos claros e levemente ondulados, mas bem bonitinho, muito inteligente, e é monitor-chefe como eu. Sinceramente não sei como ele faz parte desse grupo de baderneiros sendo tão correto. Ele é o único com quem eu normalmente tenho conversas agradáveis, o ajudo com algumas lições e vice-versa. Ele é tão fofo, e tão gentil... Muito humilde, também. É o que a Emelina diz sempre. Fica olhando pra ele durante todas as aulas. Tadinha, tão ingênua. Nem percebe que eu já saquei que ela ta caidinha por ele.

Peter Petigrew é o mais antagônico dos quatro amigos, já que é bem baixinho, gordinho, e não é muito popular por si só. Realmente acho que ele deveria ter ido para a Lufa-Lufa, até porque de corajoso ele não tem nada, mas quem entende as razões do chapéu seletor? Eu é que não serei a primeira... Mas continuando, ele se impressiona muito fácil com as peripécias dos outros três, é quase um mascote. Mas acredito na real amizade que exista entre todos eles, e admiro muito essa lealdade mútua.

Sirius Black: um rapaz alto, muito alto, corpo sarado (eu nunca vi, mas Mel, que está no time de quadribol, me garantiu que ele é. E também dá pra notar, mesmo por cima da camisa), cabelos pretos e lisos caindo sobre os olhos azuis e penetrantes, pele alva e uma risada rouca e cativante. É o mais cobiçado dentre todos os garotos de Hogwartz, e é batedor do time de quadribol da Grifinória. Eu nunca vi, mas dizem que ele rebate muito bem. E, como não podia deixar de ser, tem um senso de humor simplesmente hilariante. É impossível passar um minuto ao seu lado sem dar uma risada. Mas ele é muito galinha, tenho pena das várias garotas apaixonadas por ele em toda escola. Vive aprontando travessuras para mim, e está sempre cumprindo detenções supervisionadas por mim. Mas é legal algumas vezes.

E finalmente, chegamos ao último maroto. Ele. Que sem meu consentimento, já entrou em minha vida completamente. James Potter é um cara atlético, cabelos extremamente pretos e bagunçados, olhos doces e castanhos, contornados por óculos de aro redondo, dotado de um sorriso irresistível. Muito exibido, muito arrogante. Mas muito lindo. É o apanhador e o capitão do time da Grifinória, por isso, com um físico extremamente definido (de novo, quem me contou isso foi a Emelina. Ainda não tive a oportunidade de comprovar. E nem quero, não pense mal de mim.). Também está sempre cumprindo detenções juntamente com seu amigo Black. É muito assediado pelas garotas de todas as Casas da escola, mas desde o quarto ano que ele só tem olhos para uma em especial: eu.

Não sei exatamente como começou isso, provavelmente deve ter sido tipo “ah, com a Evans eu nunca saí, então ela será minha próxima vítima”. Mas ele, persistente e teimoso do jeito que é, não desistiu quando eu dei o seu primeiro fora. Me lembro como se fosse ontem...

- Hei Evans, tudo bem? Nossa você está tão bonita hoje... – disse com um sorriso maroto, encostado à parede do saguão de entrada, junto à Black, Lupin e Petigrew, enquanto várias garotas de seu fã-clube suspiravam.

- O que você quer Potter? – eu perguntei desinteressada enquanto voltava dos jardins com vários livros em minhas mãos.

- Sabe, vai ter visita a Hogsmeade esse fim de semana, e eu estava pensando se você não gostaria de ir comigo? – perguntou, desencostando-se da parede se aproximando de mim, fazendo-me encarar aqueles lindos olhos castanhos.

- Não, obrigada – respondi, virando-me para subir as escadas em direção à biblioteca. Ele me olhou com uma expressão incrédula e perguntou:

- Me desculpe, como disse?

- Eu disse que não vou sair com você – respondi displicentemente.

- Ui, essa doeu! Seu primeiro fora, hein Pontas? – brincou Sirius dando uma risada rouca. Ignorando o comentário do amigo, Tiago continuou:

- Mas, como assim, não vai sair comigo? Sabe quantas garotas gostariam de estar no seu lugar agora? – falou todo prepotente.

- Sei muito bem, e é por causa dessa sua arrogância e prepotência que me permito recusar o seu convite – respondi, começando a me irritar. Na verdade, eu disse que não iria porque eu precisava estudar. Mas não foi isso o que o Potter entendeu... E como ele é realmente metido, não pude deixar de expressar minha repugnância – Por que não convida uma dessas tantas garotas afim de sair com você? Assim me poupa de perder meu tempo com você. – e saí decidida. A última coisa que vi foi o rosto ligeiramente aparvalhado de James Potter, e Sirius Black se contorcendo de tanto rir, junto com outras garotas completamente chocadas com a minha atitude.

Foi assim que tudo começou. Eu pensei que ele ia se tocar e me deixar em paz, mas parece que minhas negativas constantes aos seus convites para sair não surtiram efeito algum naquela cabeça dura. Fui agüentando pacientemente por um tempo, sendo educada, mas ele não parava nunca, até que comecei a me irritar, e a realmente gritar com ele pela escola inteira. Impressionante como ele se alegra com essas minhas demonstrações de intenso desconforto (pra não dizer profundo ódio) ao receber seus convites diários. E foram muitos foras...

- Evans, minha adorada! - disse Potter, para toda a escola ouvir.

- Potter! Saia do meu caminho! – eu respondi, a caminho da minha aula de transfiguração.

- Não sem antes me dar uma resposta... – disse ele com um sorriso pretensioso, se postando na minha frente e impedindo que eu passasse.

- O que você quer, Potter? – perguntei bufando e revirando os olhos.

- Quer sair comigo?

- AHH! NÃO!

- Ora Evans, pra quê resistir? Você sabe que mais cedo ou mais tarde você vai sair comigo! – disse ele falando mais alto e chamando a atenção das pessoas.

- NUNCA! AGORA SAIA DO MEU CAMINHO POTTER!

- Só se responder que sim...

- AHHH! – e saí bufando e batendo os pés fortemente no chão, deixando ele e os marotos aos risos.

Minhas amigas dizem que todo esse suposto ódio que eu sinto pelo Potter é só pra disfarçar o fato de eu ser caidinha por ele como as outras garotas. Até parece! Não posso negar que estremeço toda quando ele chega perto de mim com aquele sorriso lindo e irresistível... Mas mesmo lindo não deixa de ser arrogante e metido, coisa que não suporto. E depois, se eu saísse com ele, ele ia acabar se cansando e me descartando, e eu ficaria triste, arrasada e iludida, como todas as outras. Eu quero provar que sou diferente, única. Não sou como outra qualquer. E, novamente, diário, não pense mal de mim. Eu não quero nada com o estúpido do Potter.

Mas o verdadeiro motivo de eu ter começado esse diário, é que as minhas freqüentes brigas com o Potter estavam ficando muito escandalosas, e assustando a escola inteira. Por isso a Profª. McGonaggal, diretora da Grifinória, depois da minha milésima briga com o Potter esse ano, me chamou para uma conversinha na sala dela...

- Sente-se, Srta. Evans – disse a professora, seus olhos brilhando de impaciência por detrás dos óculos quadrados – Poderia me explicar o que foi esta cena no corredor, há pouco?

- Me desculpe professora, mas é que o Potter me tira do sério! Já é a milésima vez que ele me chama pra sair, e...

- Não quero saber dos seus motivos, Srta. Evans. – replicou ela furiosamente, os lábios crispando – eu só peço, por favor, que a senhorita pare com esses escândalos nos corredores! Não me faça tirar pontos da nossa casa e lhe dar uma detenção!

- Detenção? Mas eu sou monitora e...

- Srta. Evans. – seu tom agora era forçadamente calmo - Sei que a senhorita deve ter inúmeros motivos para essas brigas com o Sr.Potter, mas peço apenas que escolha outros lugares para suas discussões, ou então aprenda a controlar suas emoções.

- Controlar minhas emoções? – perguntei confusa.

- Sim. Expresse seus sentimentos de raiva ou quaisquer outros através de algo que goste de fazer, alguma forma de arte, ou escreva um diário.

- Me desculpe professora, mas como um diário pode me ajudar?

- Ora, escreva seus pensamentos e extravase sua fúria no papel, não importa como, mas eu não quero presenciar mais nenhuma dessas cenas, pelo menos não nos corredores. E também de preferência não à noite na sala comunal, não quero ouvir mais reclamações sobre seus berros que acordam a Grifinória inteira.

- Sim senhora... – respondi envergonhada e fui para a próxima aula.

- E não se preocupe, falarei com o Sr. Potter.

- Está certo. Até mais, professora.

Até meus professores estavam cansados das gritarias. Então resolvi adotar a idéia de um diário, e descobri que não é tão ruim assim. É realmente libertador. Mas o único problema é que agora não consigo parar de escrever. Durante todo o tempo livre que eu tenho, eu escrevo em meu diário. Até nas aulas. Mas pelo menos não dou mais ataques. Bem, não muito. Até o Potter achou estranha essa minha mudança de comportamento, e passou a falar outras coisas comigo, que não fossem convites pra sair. Não gosto da presença dele, mas prefiro ficar quieta e escutar as bobagens dele enquanto escrevo o que realmente penso aqui neste meu diário. Acho que a McGonaggal deve ter dito algo realmente ameaçador, para ele parar de me assediar assim... Agora é só quando eu estou calma. Pensando bem, ele até que não é tão ruim. Mas eu nunca vou deixá-lo saber disso. Pelo menos, não por enquanto... Esses pensamentos estão ficando perigosos... Não posso nunca deixar que esse diário caia em mãos erradas, ou até nas mãos das minhas amigas, pois aí seria o desastre da minha vida! Calma Lily, concentra... E apaga qualquer pensamento sobre certo cara... Respira... Aff! Pronto. Tudo bem, tudo sobre controle.

Minha nossa, já está tarde, não tem ninguém mais aqui, só eu. E alguém sentado próximo à janela, observando o céu estrelado... Ah, é o Potter. Bem, acho melhor subir para o meu dormitório, já estou ficando com sono...

DORMITÓRIO FEMININO, 22:30

Minha nossa, não posso acreditar no que acabou de acontecer. Mal posso respirar e escrever ao mesmo tempo, mas vou tentar.

Eu estava a caminho da escada circular que leva ao dormitório das meninas, quando ouvi chamarem meu nome...

- Hey Evans. Faz tempo que não conversamos – disse o Potter se levantando da poltrona em que se encontrava e se virando para me encarar

- Conversar? E desde quando a gente conversa? – perguntei irônica.

- Desde que eu te convidei pra sair, no 4ºano – respondeu simplesmente e abrindo aquele sorriso. Ele dá cada sorriso...

- Potter, nós nunca conversamos. Você me pedia pra sair com você, e eu respondia que não, gritando. As raras vezes em que não houve berros, estávamos ambos em sala de aula, ou na biblioteca, ou eu tentava estudar e você ficava falando as vantagens de sair com você ou qualquer outra bobagem.

- É verdade, você está certa – ele disse com uma risadinha soprada, enquanto abaixava a cabeça e passava a mão displicentemente sobre os cabelos bagunçados. Detesto quando ele faz isso. Ele fica tão... – Hum, já que você tocou no assunto, eu gostaria de me desculpar por todos esses anos de tortura em que te convidei pra sair...

- Hum... O.k... Apesar de eu achar que as desculpas demoraram, eu as aceito – respondi meio surpresa. James Potter se desculpando por me convidar pra sair? Essa era novidade...

- Escuta, eu realmente acho você incrível, linda, inteligente, e gostaria muito de sair com você, até pra você ver que eu não sou tão imbecil, arrogante e metido como você acha que eu sou... eu amadureci, e você também. Não é mais a esquentadinha Evans... Pelo menos não na maior parte do tempo...

- Potter, eu... – nesse momento ele estava chegando perigosamente perto demais, estava um degrau abaixo de mim e me olhava com aqueles olhos cor de chocolate que eu simplesmente adoro (chocolate, eu adoro chocolate! Não aqueles olhos lindos.).

- Eu só queria mostrar que eu gosto de você de verdade. – agora estávamos no mesmo nível, e eu podia sentir minha respiração descompassada. Uma mão dele afastava uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, enquanto a outra se postava encostada na parede atrás de mim, de modo que eu estava presa por todos os lados. Me encostei mais ainda na parede fria, e fui lentamente me abaixando, na tentativa de fugir dali. Estávamos próximos demais e eu não consegui reagir. Meus olhos estavam hipnotizados por aquelas orbes achocolatadas, e eu sentia a respiração dele cada vez mais próxima, seu rosto se aproximando do meu. Não pude fazer mais nada. Fechei meus olhos e esperei que acontecesse o que eu pensava que ia acontecer. Mas me surpreendi. Ao invés do que eu estava esperando, ouvi sua voz rouca sussurrando em meu ouvido:

- Boa noite, Evans. – E beijou docemente minha bochecha esquerda. Quando abri os olhos, só vi a ponta de sua capa esvoaçante sumir pela porta do dormitório masculino e a porta batendo silenciosamente.

Estou passada. Não posso acreditar nesse momento que tive com o Potter lá embaixo. Peraí, “momento com o Potter”? Isso não me soa nada bem. Isso não foi um “momento”. Foi quase a realização de um pesadelo. Eu me vi completamente derretida na frente do Potter. E o pior é que ele percebeu. Ai, minha nossa, o que vai ser de mim agora? Será que ele vai comentar alguma coisa com os amigos dele? E se ele descobrir essa minha fraqueza? Ai, até eu já estou admitindo que sinto algo por ele. O que eu vou fazer? Calma, respira. Você não está, nem nunca vai ficar apaixonada pelo Potter. Pelo imbecil, idiota, estúpido, arrogante Potter. Não mesmo.

SEGUNDA-FEIRA, 18 DE NOVEMBRO.

CAFÉ-DA-MANHÃ NO SALÃO PRINCIPAL

Estou inquieta. Pelo que me lembro, tive um pesadelo com o Potter. Sonhei que passeávamos apaixonadamente pelos jardins, trocando beijos e sorrisos. Acordei assustada e tentei me levantar tão bruscamente que caí da cama junto com as cobertas todas emboladas em cima de mim. Alice e Emelina riram, mas eu fiz uma das minhas caras de TPM e elas pararam aos poucos.

- Teve um pesadelo, Lily? - perguntou Alice, me ajudando a levantar.

- Mais ou menos - respondi.

- Pensei ter ouvido você chamar pelo James durante o sono... - comentou Emelina sonsamente enquanto penteava os seus cachos louros e perfeitos defronte para o espelho. Me virei quase que instantaneamente para ela à menção do nome do dito cujo, enquanto Alice soltava mais uma risadinha. Estreitei meu olhar furioso para ela que se conteve e murmurou um “escapou sem querer”.

- Na verdade sonhei que estava estrangulando ele - menti. Elas são minhas melhores amigas, mas seriam as primeiras a me zoarem se soubessem da verdade. No fundo, acho que querem que eu aceite sair com o Potter. Mas nunca, nunca vou aceitar. - Estou com fome, vamos logo tomar café - falei. Outra mentira, já que eu nunca estou com fome pela manhã, mas eu precisava mudar o rumo da conversa de alguma forma. Lavei o rosto, escovei os cabelos que estavam ficando meio ondulados (culpa da mudança de temperatura. Meus cabelos sempre ondulam quando o tempo está mais frio), me vesti e saímos.

Quando passamos pela sala comunal, pude ver de esguelha o Potter junto do Black e do Petigrew, rindo de alguma bobagem. Nossos olhares se encontraram por alguns segundos, e ele mantinha um sorriso quase que imperceptível... Mas nosso contato visual foi interrompido por Remo, que veio em minha direção.

- Bom-dia Lílian! Tudo bem? – ele percebeu o meu olhar parado.

- Ah, bom-dia... – disse ainda entorpecida por aqueles olhos castanhos, que agora olhavam para um pequeno pedaço de pergaminho meio amassado. Desviei minha atenção e cumprimentei Remo devidamente – Ah, claro, está tudo bem comigo!

Mentirosa, mentirosa, mentirosa! Não sei como é que ninguém percebe as minhas mentiras deslavadas. É claro que eu não estava bem. Estava atordoada, ainda pelos acontecimentos da noite anterior e também pelo sonho-pesadelo que tive em conseqüência dos acontecimentos...

– Mas, e você, como tem passado? Está um pouco pálido...

- Ah, não, está tudo bem comigo... ah... eu já vou indo... e, a propósito, eu terei que viajar hoje à noite, não vou poder fazer a ronda nem cumprir as funções de monitor com você...

- Ah, ta, tudo bem. É algum problema de família? – o Remo ta sempre fazendo essas viagens rápidas, pelo menos uma vez por mês... A família dele deve ser muito frágil, está sempre doente...

- Ah, é, bem... – ele gaguejou – é a minha mãe... mas, amanhã ou depois eu devo estar de volta, não se preocupe...

- Está certo. Eu te empresto as minhas anotações depois...

- Ta. – e ele saiu pelo buraco do retrato, seguindo na direção oposta ao Salão Principal, provavelmente indo para a Ala Hospitalar, pegar uma dispensa médica, sei lá. Bem, eu continuei o meu caminho e aqui estou. Alice e Emelina conversam animadas enquanto eu estou escrevendo, e o meu prato se encontra intacto à minha frente.

- Lily, você precisa comer alguma coisa! Como acha que vai sobreviver a essa estressante manhã de segunda-feira se nem toca na comida? – falou Alice, ralhando comigo.

- Ai, deixa de ser dramática, Ali... eu to bem, e eu comi sim, ta?

- Ah, claro, não está vendo Alice, ela comeu todos os farelos... isso com certeza vai te sustentar... – falou Emelina irônica

- Ai, ta bom, eu vou comer... – disse derrotada, olhando para o meu prato. Peguei uma torrada, dei uma boa mordida e voltei a escrever.

- Ela não aprende mesmo! – disse Alice revirando os olhos e se voltando para Emelina.

Ah, o que eu posso fazer se não sinto fome? Na verdade, não me interesso muito por comida, só quando são doces... É verdade que às vezes sinto umas tonturas, e uma vez até desmaiei, mas, não é nada demais. Logo passa. E pode muito bem ser a minha constante preocupação com os exames, ao invés da minha alimentação precária. É, acho que vou sugerir isso para Alice da próxima vez que ela me repreender. Bem, agora eu tenho aula de herbologia, e... ai, o Potter ta me encarando com uma cara de bobo. Estranho... parece que ele está armando alguma coisa...

ALMOÇO, SALÃO PRINCIPAL

A aula de herbologia correu muito bem, ganhei 10 pontos por ter sido a única da turma que conseguiu “domar” e plantar num vaso uma chicória berradora (N/A: eu inventei, deu pra perceber...). Bom, como pretendo ser curandeira, eu tenho que ser muito boa em herbologia, assim como em poções também. Na aula de História da Magia é que não correu muito bem... sabe, ninguém presta atenção na aula realmente, porque o professor Binns é muito chato e entediante, mas eu sempre procuro captar todos os detalhes e faço resumos detalhados sobre as aulas, porque como eu já declarei antes, sou muito preocupada com os estudos. Mas hoje não consegui copiar quase nada do que o professor estava falando simplesmente porque o Potter ficou me mandando bilhetinhos durante toda a aula:

“E aí Evans, tudo bem? – Potter”.

Potter, caso você não tenha percebido, eu estou prestando atenção na aula – Evans.

“Sabe o que eu tava reparando? Nós nos conhecemos há um tempão, nos falamos todos os dias, e ainda nos chamamos pelo sobrenome – JP”.

É, só que eu lamento muito ter te conhecido, quem fala comigo todo dia é você e não eu, e não somos amigos nem nada pra nos chamarmos pelo nome. - LE

“Ah, Lílian, deixa disso! Vamos, de agora em diante pode me chamar de James”

Não mesmo, e é Evans pra você!

“Há! Agora é que eu não te chamo mais pelo sobrenome! Seu nome fica tão lindo no papel que eu gostei de escrevê-lo. De agora em diante só vou te chamar de Lílian. Ou até mesmo Lily. Meu lírio. O que acha? Nossa, poderia passar horas e horas inventando lindos apelidos pra você, do jeito que sou criativo... E então, qual você prefere, ruivinha? Olhinhos de esmeralda?”

Nenhum! e pare de me chamar assim! Se alguém ver vai achar que nós dois temos alguma coisa!

“E quem foi que disse que não temos? Ora, lírio vamos, me permita chamar-te por este belo nome que lhe foi dado, e que faz as minhas palavras saírem doces como os seus lindos olhos que refletem a grama verde dos jardins, que são ensolarados como os seus cabelos luminosos... viu? Já estou até fazendo poesia! Por favor, me deixe chamá-la pelo nome?”

Não.

“Tudo bem, mas vou chamar você de Lílian mesmo assim. Ih, a aula acabou. Beijos do seu amado, James”

Grr! Como o Potter me irrita! Ainda não acredito que passei a aula inteira discutindo essas bobagens. Pelo menos ele ficou quieto durante DCAT. É a única aula que eu vejo ele totalmente concentrado...

Ai ai... Alice está me convencendo a comer novamente... “Lily, daqui a pouco você vai estar desmaiando pelos corredores! Coma alguma coisa, por favor!”. Comi um pouco de batatas fritas, bebi uns goles do meu suco de maracujá (fruta exótica incluída na minha dieta anti-stress, feita por Alice e Emelina). Vou aproveitar e anotar aqui pra não esquecer:

- Suco de maracujá três vezes ao dia e antes de dormir; (pelo menos o suco não é ruim)

- Batata Frita no almoço e jantar;

- Sorvete de sobremesa;

- Biscoitos de lanche da tarde;

- Barras de chocolate toda vez que eu ficar muito nervosa (amei essa. Vou poder comer chocolate a vontade...)

Com essa dieta, além de eu relaxar, vou ficar enorme de gorda.

Logo mais eu terei aula de transfiguração, poções e adivinhação... não gosto muito dessa matéria, apesar de eu achar interpretações de sonhos interessante... Ai, o Potter ta fazendo uma daquelas idiotices de novo, junto com o Black. Sorte o Remo não estar aqui pra aturar esses dois gritando e atirando comida um no outro... Mas peraí o que é que ele está fazendo? Por que esse retardado ta me olhando desse jeito e andando na minha direção?

17:00, BANHEIRO DAS MENINAS NO 2º ANDAR

Ainda não estou acreditando no que o idiota do Potter fez. É algo tão, mas tão ridículo e... ai, que raiva! Não tenho palavras pra descrever a estupidez que ele fez depois do almoço. Vou tentar me controlar e contar detalhadamente como foi.

Eu tinha terminado de comer, quando vi aquela figura alta e de olhos acastanhados se aproximando de mim com um sorriso bobo no rosto. Tentei disfarçar e fingir que não estava prestando atenção nele, mas logo senti uma mão tocando o meu ombro. Me virei surpresa e encarei aqueles olhos de chocolate, tentando adivinhar o que ele estaria armando.

- Hey, Lílian, eu preciso falar uma coisa com você...

- Evans, Potter. Fale – respondi entediada, apanhando minhas coisas e me virando para sair em direção às masmorras.

- Ahn... será que poderíamos ir ali um pouco? – disse ele apontando para um canto afastado da multidão que ia crescendo.

- Eu sozinha com você num canto afastado bem no horário da aula? Se liga, Potter, você acha que sou tão boba assim?

- Mas é importante...

- Ai, ta bem, mas fala logo que eu não tenho a tarde toda...

- Olha só, a McGonagall me deu uma detenção, e pediu pra eu te avisar que é você quem vai supervisionar, já que ela vai estar ocupada e o Filch tem que cuidar de outra detenção...

- Ai não, mais uma? Não aprendeu nada com a de quarta-feira passada?Que é que você aprontou dessa vez, hein?

- É meio difícil de explicar... mas, digamos que a sala dela ficou um pouco... inacessível...

- Sei... ai, você só me apronta! – respondi chateada Reagi assim porque já supervisionei várias detenções do Potter, e são sempre infernais. Ele sempre dá um jeito de me distrair e me chamar pra sair. Mas o Remo sempre está por perto, então não tem muito problema.

- Desculpe meu lírio, mas prometo que vai passar rapidinho, afinal, é só uma semana... e hoje você vai ter que me supervisionar sozinha, porque o Remo ta viajando...

- Uma semana com você? Sozinha? Só pode ser um pesadelo! E não me chame de lírio!

- Tudo bem, minha ruivinha, nos vemos à noite então – disse ele um pouco mais alto, fazendo com que alguns alunos se virassem para nos observar. Ele então se aproveitou da minha distração (eu procurava por Alice e Emelina no meio dos alunos, e as descobri conversando animadamente com Sirius e Frank, que trocava beijos e carinhos com Alice) e segurou meu rosto firmemente com as duas mãos. Foi um movimento tão rápido que eu nem percebi, quando dei por mim ele já estava com os lábios colados aos meus. Tentei me desvencilhar, mas ele firmou uma mão no meu pescoço e posicionou a outra nas minhas costas, me impedindo de fugir. Senti um formigamento instantâneo passando por todo o meu corpo, ao mesmo tempo em que várias borboletas voavam inquietas dentro no meu estômago. De repente, senti uma vertigem, e vi tudo girar a meu redor, e para meu azar, foi quando o Potter decidiu me soltar. Estava tão tonta que nem tive forças pra reagir e brigar com ele.

- Até mais! – falou rindo e saiu correndo junto com Black e Petigrew. Todos agora olhavam pasmos para mim, principalmente Alice e Emelina, que tinham o queixo totalmente caído. Foi então que reparei, olhando-me no reflexo da janela, que tinha algo escrito na minha testa, com letras garrafais: "Sou do Potter".Vários murmúrios se seguiram, e uma das garotas do fã-clube do imbecil, estúpido, energúmeno veio me perguntar:

- Vocês dois estão saindo juntos? – Desmoronei. Saí correndo pelos corredores em direção ao banheiro mais próximo, que é onde estou agora.

- Lily! – gritaram Emelina e Alice e correndo para me alcançar – te vejo depois, Frank! – falou Alice e logo o burburinho se espalhou pela escola inteira.

Agora estou aqui, dentro de uma das cabines, chorando sem parar, enquanto Alice e Emelina tentam me acalmar.

- Ah, Lily, não foi tão ruim assim... não tinha nem metade da escola lá... e aposto que amanhã todos terão esquecido disso... – falou Emelina, mas não foi bem-sucedida.

- Mel! Todos vão comentar isso pelo resto da semana, e até lá, até os fantasmas já vão estar sabendo que James Potter beijou Lílian Evans e todos vão concluir que nó estamos namorando! E pior! Agora está gravado na minha testa! – funguei.

- Não se preocupe com o que os outros vão dizer, Lily...olha, se você quiser, eu posso pedir pro Frank dar uma surra no James, o que acha? – falou Alice começando a sorrir com a idéia.

- Me desculpe, Ali, mas o Potter é mais forte que o Frank e tem o Black do lado dele... – falou Mel sabiamente, mas notando o desespero no meu choro, acrescentou - mas, talvez consigamos tirar a frase da sua testa!

- Ai, não adianta...vou ser a piada dessa escola pelo resto do ano! – e voltei a chorar descontroladamente. Fez-se uma pausa, em que as duas andavam de um lado para o outro pensando numa solução e a Murta-que-Geme zombava de mim. Dei descarga nela e voltei a fungar.

- Sabe Lily, só tem uma coisa que eu não entendi até agora... – falou Emelina de repente – Por que você não deu um tapa na cara do James, ou o empurrou longe, ou então não jogou uma azaração nele? Sempre achei que se ele tentasse te dar um beijo ou algo assim, você reagiria dessa forma...

Fiquei surpresa por Emelina já ter imaginado algo entre eu e James, mas respondi limpando as lágrimas:

- Não sei... senti uma tontura na hora... talvez por eu ter comido mal...

- Tontura, é? – intrigou-se Alice

- É. – afirmei

- Sei, sei... sentiu um formigamento pelo corpo? – interrogou-me novamente, como que investigando um caso.

- S-sim. Mas, por que você está me perguntando isso?

- Simplesmente Srta. Evans, porque parece que você está apaixonada! – disse ela de sopetão.

- COMO? - Gritei escancarando a porta da cabine em que me encontrava. – NUNCA! Eu só estava mal alimentada, só isso... e depois, o que quer que ele tenha feito para aparecerem aquelas palavras na minha testa, deve ter me deixado atordoada!

- Não adianta nos negar, Lily. Está na cara. E aposto que a maior parte das coisas que você escreve neste diário tem a ver com o James! – acusou-me Mel

- Não! Parem com isso, eu não estou apaixonada por ele!

Que loucura! Pensar que eu posso sentir algo positivo pelo arrogante do Potter! Nunca! Esse acontecimento só me fez odiá-lo mais!

- Está bem, se você diz... – disse Alice. – Vamos, você já perdeu duas aulas. Não pode perder mais nenhuma.

- Não! Não posso sair e encarar todo mundo. E como posso sair, com essa blasfêmia escrita na minha testa?Não quero ver ninguém, principalmente o estúpido e idiota...

- Afinal Lily, o que ele queria com você? Só te beijar à força e jogar algum tipo de feitiço? – perguntou Emelina me cortando.

- Não, ele disse que... oh,não! Não, não e não! – me desesperei

- O que? – perguntaram as duas preocupadas

- Vou supervisionar a detenção dele hoje à noite! E sozinha!– e voltei a chorar.

Como pude esquecer deste detalhe desastroso? Além de ser ridicularizada pela escola inteira, eu ainda vou ter que vê-lo hoje à noite, sozinha... ai, que destino cruel!

19:00, SALA COMUNAL

Consegui sair do banheiro da Murta sem que ninguém me visse, a não ser o Frank, que estava passando por ali e me ajudou a chegar na torre da Grifinória a salvo. As meninas e ele desceram para o jantar, mas eu preferi ficar aqui em cima. Alice ia me censurar, mas Frank compreendeu meus motivos e a fez me deixar em paz.

Por que esse tipo de coisa tinha que acontecer comigo? Por que? Nunca mais serei respeitada nessa escola... vão fazer piadinhas... minha vida está arruinada! Tudo culpa do Potter!

Ops. Estou ouvindo vozes. O buraco do retrato está girando. Vou correr para o dormitório antes que me vejam.

19:10, DORMITÓRIO FEMININO

Bem, aqui estou eu, me escondendo. É inútil, porque vou ter que sair daqui a pouco para supervisionar a detenção do idiota, mas pelo menos não vou ter que olhar pra ninguém até amanhã. Pensando melhor, acho que eu devia ir logo para a sala de detenções e espera-lo por lá. Assim eu evito de cruzar com pessoas e ouvir comentários desagradáveis. Vou deixar um bilhete para Alice e Emelina não ficarem preocupadas:

Ali e Mel,

Fui para a sala de detenções mais cedo, para não cruzar com ninguém nos corredores. Se virem o idiota do Potter, avisem para ele chegar aqui no horário. Estarei de volta mais ou menos às 22:00hs.

Me desculpem por faze-las perderem as aulas de hoje! E muito obrigada por serem amigas tão maravilhosas! Se puderem, peguem a matéria de hoje com alguém e me emprestem depois, não posso deixar passar nada!

Beijos,

Lily

Colei o bilhete na cabeceira da Alice, porque sei que a primeira coisa que ela faz quando chega no dormitório é verificar a sua agenda e preparar o material das aulas do dia seguinte (ela nunca decora os horários, e sempre esquece os deveres pra última hora. Emelina sempre vai direto para o banheiro, dar uma ajeitada na aparência; não que ela precise...).

Encontrei um gorro vermelho no fundo do meu malão, e até que está disfarçando bem essas palavras medíocres na minha testa. Como vou fazer para apagar isso, eu não sei...

Bem, estou indo agora.

QUARTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO

ALA HOSPITALAR – 09:00 HS

Aqui estou eu. Fiquei desacordada por dois dias na Ala Hospitalar por causa da minha alimentação precária, e ainda estou surpresa pelo modo como fui parar aqui. Desmaiei no meio da detenção do Potter, e ele me trouxe pra cá, e pelo que Madame Pomfrey disse, ele só foi embora quando teve certeza que eu estava bem. Depois foi avisar as meninas, que vieram imediatamente, e passaram a noite aqui comigo. Emelina ainda está dormindo, com a cabeça e as mãos apoiadas nos pés da minha cama. Alice, pelo que entendi, não pôde ficar, porque uma de nós tinha que assistir às aulas e tudo o mais, mas trouxe o meu diário, para eu me distrair enquanto tiver que ficar aqui. Mas ela virá me ver mais tarde. E o Potter também. Aff. Já achei um milagre a enfermeira de Hogwartz deixar Mel aqui comigo... e em dia de aula... bem, agora vou tentar recordar a noite passada nos mínimos detalhes...

Eu estava a meio caminho da sala de troféus, quando senti outra daquelas vertigens. Parei, respirei um pouco, e tudo voltou ao normal. Continuei andando até que cheguei lá, e me sentei à mesa do professor; não tive que esperar muito pelo Potter. Quando ele entrou estava com umas folhas de pergaminho na mão e um prato na outra. Não deixei que ele falasse nada:

- A Profª. McGonnagal deixou as instruções da sua detenção na lousa – apontei para o quadro-negro às minhas costas – deixe sua varinha aqui, eu devolverei quando acabar o tempo. – falei secamente e desviei meus olhos para as minhas unhas roídas (preciso pintá-las urgentemente!)

- Er, Lil...– ele parou, quando estremeci de raiva à menção do meu nome – hum, Evans, suas amigas pediram pra eu te entregar isso – ele colocou o prato de comida sobre a mesa. Impressionante como elas estão sempre cuidando de mim. Tinha um bilhete junto com o prato, que dizia: “É melhor comer tudo, se não você vai se ver conosco!”. – e como você não compareceu às aulas da tarde, eu, hum, copiei a matéria pra você...

Ergui meus olhos pra ele um pouco surpresa. Por que o Potter prestaria atenção na aula só pra me ajudar? Muito estranho. Peguei as folhas de pergaminho da mão dele, e acidentalmente olhei nos seus olhos. Parecia pedir desculpas. E devia mesmo. Ele pegou uma flanela, passou um produto de limpeza e começou a limpar as vidraças sujas e empoeiradas.

Olhei para o prato à minha frente. Strogonoff de frango e batatas fritas. Tinha também um bombom junto de tudo. Sorri, e guardei o bombom. Mandei o prato de volta para a cozinha. Não estava com muita fome. Percebi que o Potter me olhava triste, e lancei a ele um olhar severo. No mesmo instante ele voltou a limpar as janelas. Voltei minha atenção para as anotações do Potter, e vi que realmente eram bem detalhadas. Ele com certeza tinha se esforçado, como que tentando me compensar. Mas o que ele fez comigo hoje foi imperdoável.

Deu dez horas, e eu o mandei parar. Peguei as anotações, e quando estava devolvendo a varinha para o Potter, senti novamente uma tontura. Meus olhos ficaram turvos.

- Lílian está tudo bem? – perguntou o Potter preocupado. Estava tão tonta que nem o censurei por me chamar assim.

- Está sim, tudo bem comigo... – entreguei a varinha para ele, e em seguida fechei os olhos e senti meu corpo desmontar.

- Lílian!

Foi a última coisa que eu ouvi. Senti ele me erguer com os braços e correr desesperado pela escola. Depois não me lembro de mais nada. Pelo que Madame Pomfrey me contou, o Potter parecia bem preocupado comigo. Pois devia mesmo, a culpa disso tudo que aconteceu é toda dele. Estúpido. Por que tinha que me beijar na frente da escola inteira? Por que tinha que escrever com magia "sou do Potter" na minha testa? Por que tinha que pegar uma detenção justo nesse dia e supervisionada por mim? Minha vida não é justa...

09:15

Emelina acordou.

- Lily, você está bem? – ela perguntou entre um bocejo e uma cara preocupada.

- Sim, já estou melhor.

- Que bom. Estou decepcionada com você Lily, deveria ser mais responsável e cuidar de si mesma! – repreendeu-me. Baixei os olhos e encolhi os ombros, mas ela conclui sorrindo – Mas vou deixar os sermões para a Ali, o.k.?

- Ta bom... dela eu sei que não escapo mesmo... – ri.

- Já viu quem está a duas camas da sua? – ela perguntou. Eu nem tinha tido tempo de vasculhar com os olhos a enfermaria.

- Não. Quem? – perguntei curiosa

- Remo Lupin... – respondeu, com um tantinho de preocupação na voz – o que acha que aconteceu com ele?

- Não sei... depois eu pergunto, pode deixar... – realmente era estranho. Nunca tinha me dado conta disso, mas sempre que ele voltava das viagens ele estava na Ala Hospitalar.

- Srta. Vance, agora que acordou, poderia fazer o favor de se retirar? A sua amiga precisa descansar, e creio que a srta. tenha aulas para assistir... – mandou a enfermeira rispidamente.

- Sim, Madame. Te vejo à noite? – me perguntou. Olhei para a enfermeira que acenou positivamente para mim, e fiz o mesmo para Emelina – Certo, vê se descansa e come mais, hein? – e foi embora.

Agora Madame Pomfrey está tentando me fazer tomar uma poção fortificante e outra para repor energia durante o sono. “Que irresponsabilidade, Srta. Evans! Pular as refeições dessa maneira! Tem que se alimentar direito! E tome logo esta poção mocinha, antes que perca o efeito. Vou preparar uma dieta para você e entregar à suas amigas, elas te farão se alimentar direito... E pare de escrever nesse diário, por favor!”. Ah, Madame Pomfrey conseguiu remover a frase escrita na minha testa, mas não sem antes dar umas risadas. Que ótimo. Até a enfermeira zomba de mim.

Tomei a poção. Tem um gosto horrível. Ai, de repente me deu um sono... Depois eu volto a...

19:00HS, SALA COMUNAL

Depois que tomei a poção estava tão lesada que adormeci com a pena em minhas mãos, e só fui acordar muito mais tarde. Para minha sorte, Alice tinha vindo quando eu estava dormindo, e não tive que ouvir a bronca por lá. Mas ouvirei daqui a pouco. Quando acordei, instintivamente procurei meu diário (que Alice tinha colocado na mesinha de cabeceira) e encontrei repousando sobre a mesinha um lírio branco e um bilhete, além das anotações do Potter, que já estavam ali antes. Abri curiosa:

Me desculpe por tudo, Lily. Pelo beijo, o feitiço, a detenção, e o apelido. Aceite o meu lírio como um desejo de melhoras.

Com carinho, James.

Realmente ele deve estar se sentindo culpado. Guardei o bilhete aqui para lembrar desse raro momento em que o Potter foi atencioso, e a flor está em minhas mãos no momento. Vou deixar enfeitando minha mesinha de cabeceira por enquanto, mas só por que lírio é a minha flor preferida. Não é como se eu estivesse perdoando aquele maroto insensível. Não mesmo.

O buraco do retrato girou e por ele entram agora os marotos. Potter abriu a boca numa expressão extremamente nervosa e surpresa por me ver. Remo está entre eles, e parece melhor.

- Remo! Te vi na ala hospitalar, o que aconteceu? Você está bem? Como foi com a sua família? Tudo bem com a sua mãe? - Desatinei a perguntar

- Tudo bem sim... ahm, depois eu falo com você tá? Preciso ver uma coisa lá em cima... – e olhou nervoso para Sirius.

- É, eu também... Rabicho, vamos... vamos subindo que eu tenho que te falar uma coisa... – falou Sirius, todos eles sem desviar o olhar de mim. O Potter está caminhando em minha direção.

- Lil-Evans... podemos conversar...?

21:00HS – DORMITÓRIO FEMININO

O Potter se desculpou pelas idiotices dos últimos dias:

- Pode falar. – eu disse secamente, sentando-me mais confortavelmente na poltrona em que me encontrava.

- Você está melhor? – perguntou sentando-se de frente para mim e me encarando com aqueles olhos brilhantes...

- Sim, estou. E, obrigada por me levar para a ala hospitalar... - falei formalmente

- Ah, não há de quê. Na verdade, eu queria me desculpar pessoalmente pelo que aconteceu ontem no almoço... eu... não pensei que reagiria daquela forma... digo... suas amigas me disseram que você ficou mal o dia inteiro... olha, eu até já desmenti todas as fofocas, e também disse a Madame Pomfrey como remover a frase... ninguém mais vai te chatear...me desculpe...

- Vou fingir que aceito essas desculpas e só não vou te dar um merecido tapa como devia ter feito antes, porque você foi realmente atencioso me levando para a ala hospitalar e me dando aquela flor depois...

- Hum... ta... e... trate de se alimentar melhor, está bem?Eu... hum... não gostaria de ver você desmaiar daquele jeito de novo...

- A minha alimentação não é da sua conta - falei friamente, e pegando as minhas coisas, me dirigi para o dormitório, mas ele me segurou pelo braço.

- É claro que é, porque eu me preocupo com você. Sabe disso...

- Pois não devia. Não pode simplesmente esquecer qu eu existo e parar de me atormentar? - falei chateada.

- Não, porque como eu já disse várias vezes, eu gosto de você!

- Pois não parece! Acha que gostei de ser humilhada na frente de toda a escola? - falei indignada, largando a mochila e os livros no chão, começando a rodar a sala.

- Já me desculpei, e estou arrependido do que fiz a você... - ele falou baixo, olhando para os próprios pés. - por favor, me perdoa... não queria te fazer nenhum mal...

- Está bem - falei mais calma - acho que posso te perdoar... - fiquei louca. Ele me encarou, os olhos tristes e um leve sorriso nos lábios.

- Obrigado... prometo que não vai acontecer de novo...

- Certo – respondi tentando parecer indiferente. Peguei meu diário e a flor e me dirigi para o dormitório – boa noite... James. – ele abriu um sorriso e respondeu da mesma forma

- Boa noite, Lily...

Eu estou enlouquecendo. Talvez seja minha alimentação precária. Perdoei o Potter, além de chamá-lo pelo nome e deixar que me chamasse de Lily. Meu apelido. Que só meus amigos mais próximos usam. Estou perdida.

Alice está brigando comigo pelo meu desmaio ocasionado pela minha má alimentação:

- Lily, eu te alertei tantas vezes! Você deveria se alimentar melhor! E olha só o que aconteceu agora!

- Ah, também não exagera... – falei relaxada, olhando distraidamente para o lírio branco ao meu lado. Emelina percebeu e sorriu. Voltei meu olhar para Alice, que andava de um lado para outro, procurando alguma coisa. – não foi nada sério, já estou melhor.

- Porque você teve muita sorte! Se não fosse pelo James, você poderia estar muito pior! E ele me contou que você não comeu o jantar que levamos pra você! E não revire os olhos pra mim! - nossa, ela parece a minha mãe...

- É, Lily, foi vacilo seu. Por favor, não faz mais isso com você... – falou Mel. Sorri pra ela fracamente.

- Achei! – gritou Alice. – a dieta que a Madame Pomfrey preparou pra você. E se depender de mim, você vai segui-la à risca, ouviu? – ela me entregou o pergaminho.

- Ta, ta bem. Mas agora, será que podemos dormir? Temos aula amanhã... – Alice respirou fundo e me olhou com olhos doces. Me abraçou fortemente, acompanhada de Emelina, e disse num tom calmo:

- Nunca mais faça isso, o.k.? nós gostamos e nos importamos muito com você.

- Pode deixar. – sorri. As duas acabaram de fechar o cortinado e murmurar “boa-noite” para mim. Peguei meu lírio, e senti seu doce perfume. Deixei de lado, e fechei o cortinado.

A propósito, aqui está a minha nova dieta:

DIETA MEDICINAL PARA LÍLIAN EVANS

Café-da-Manhã:

1 fruta

1 copo de suco ou leite

2 torradas

1 bolinho doce

2 Fatias de queijo

Almoço: Toda a variedade de comida presente na mesa, principalmente verduras escuras e legumes. Muitas carnes. Comer sobremesa.

Lanche (entre as refeições): Bolos, frutas, sucos, biscoitos.

Jantar: Idem almoço.

Ceia:

1 copo de leite

Biscoitos

Fala sério. Desse jeito eu vou ficar enorme de gorda, apesar de eu ter perdido alguns quilos nessa última semana, já que fiquei internada e tudo mais... Ninguém merece...

QUINTA-FEIRA, 21 DE NOVEMBRO

8:00, AULA DE HISTÓRIA DA MAGIA

Só pra deixar bem claro, eu vou copiar a matéria da aula, eu só preciso escrever os acontecimentos do café-da-manhã:

Tudo ia bem, acordei cedo, os pássaros cantando, um frio de rachar, mas tudo bem. Os cortinados das camas das meninas estavam fechados, presumi que ainda estivessem dormindo e aproveitei pra sair sozinha. Cheguei ao salão principal e me surpreendi ao ver ali, sentados na ponta da mesa e acenando para mim, Emelina, Alice, Frank, Remo e Sirius Black.

- O que é isso, uma reunião matinal? – perguntei irônica com uma sobrancelha levantada.

- Mais ou menos, Lily – respondeu Emelina – é pra garantir que você vai cumprir a sua dieta direitinho.

- O-o q-que? – perguntei surpresa

- Lily, você tem se alimentado muito mal, e por causa disso você ficou dois dias na ala hospitalar. Poderia ter ficado muito pior – disse Remo, preocupado – Eu não pude falar com você direito ontem, mas pode ter certeza que vou cuidar para que você se recupere.

- Mas...

- Todos nós temos cópias da sua dieta – falou Alice com um tom de liderança na voz – e vamos cuidar pra que você cumpra ela direitinho, sabe como é, eu e a Mel, não estamos sempre com você pra te lembrar, então pedimos uns reforços. Até o Frank se dispôs a te ajudar.

- É, bem... – disse ele timidamente – eu fiquei preocupado com você, sabe como é... E também pelo jeito que você estava naquela tarde...

- Obrigada Frank, mas acho que vocês estão exagerando.

- Não é exagero nenhum, lírio – disse uma voz baixa e rouca às minhas costas, que veio se sentar ao meu lado. Mirei aqueles olhos cor-de-chocolate e estremeci por dentro – Você precisa se cuidar melhor...

- Até o Potter? – falei indignada para Alice, fazendo um esforço enorme pra desgrudar os meus olhos dos dele.

- É... sabe, ele ficou realmente preocupado com você, e está sempre por perto...

- Sei. – respondi num bufo – mas o que o Black tem a ver com isso?

- Hei! Não me menospreza não! – falou ele num falso tom ofendido – você é muito importante pro meu amigo aqui – ele apontou para James, que corou e baixou o rosto – e também você é a monitora mais legal da escola, e você sabe que adoro aprontar com você...

- Black... – falei em tom de alerta.

- De agora em diante é Sirius. E, brincadeiras à parte, eu gosto de você e também me preocupo contigo.

- Certo... – concordei rendida.

- Bem, agora trate de comer direitinho – falou Alice, e quando eu fiz menção de procurar o meu diário ela completou displicentemente – ah, e eu peguei o seu diário e só vou devolver quando você acabar as suas refeições, pra evitar que se distraia – Alice é muito má! Fulminei-a com o olhar e baixei meus olhos para o prato. Comecei a comer, mas antes olhei uma última vez para o Potter, que me olhava com uma expressão preocupada.

Pois é, só fui pegar o meu diário agora. Alice é tão cruel quando quer ser!

Ontem à noite dei uma estudada nas anotações do Potter, e acho que já recuperei os dias perdidos na ala hospitalar. Só preciso me concentrar nas aulas agora...

Ai. Senti uma pontada na cabeça. Que dor... Ta tudo girando... voltou ao normal. Ufa.

O Potter percebeu e acabou de me mandar um bilhetinho:

“Lily, você ta se sentindo bem? – James”

Estou sim, obrigada – Evans (Não pude deixar de ser educada, afinal, ele é que “me salvou”)

“Tem certeza? Não precisa ir à ala hospitalar?”

Sim, tenho certeza. E depois, a aula já está acabando. E, por favor, não me chame de Lily.

“Por que não? Por que não quer que eu seja seu amigo?”

Porque você não quer ser meu amigo, você quer é sair comigo. Só. Não adianta fingir.

“Quantas vezes vou ter que te dizer, Lílian, que eu gosto de você?Se me conhecesse melhor como eu procuro te conhecer, saberia que eu me importo com você de verdade, e não estou mentindo quando digo que quero ser seu amigo. Admito que tive umas atitudes erradas com você, mas estou disposto a concertar isso. Por favor Lily, entenda de uma vez e me deixe te mostrar que eu mudei!”

Ta bem... pode me chamar como quiser, mas com respeito, viu? E... vou tentar ser sua amiga... mas só isso, nada mais.

“Muito obrigado por confiar em mim. Olha, qualquer coisa que você precisar e eu puder ajudar, me avise. Estou sempre pronto pra te ajudar. Não se esqueça disso”

Está certo. Bem, o sinal tocou. Até a próxima, James

“Até a próxima, Lily.”

09:00, AULA VAGA, BIBLIOTECA

Sendo uma aluna do 7º ano, tenho uma hora inteira de aula vaga, ótima para estudar para os N.I.E.M’s. A maioria dos alunos do 7º ano está na sala comunal ou então lá fora nos jardins, o que eu acho uma loucura, porque está muito frio e chovendo, mas alguns loucos se aventuram. Já eu, estou num dos meu lugares preferidos, estudando DCAT. Está completamente vazio aqui, a não ser por mim e Madame Pince. Pensando bem, seria melhor estudar essa matéria praticando, e não só lendo, mas as meninas nunca tem tempo pra me ajudar... bom, vou tentar aprender com o livro...

CLAC!

A porta da biblioteca acaba de se abrir, e uma figura alta e com cabelos negros salpicados de pingos de chuva está vindo em minha direção.

11:00, AULA DE FEITIÇOS

Era o Potter na biblioteca:

- Hey, Lily, e aí, estudando? – perguntou sorrindo, aquele sorriso cativante

- Tentando – respondi indiferente. Ele sentou-se ao meu lado e eu senti um arrepio, mas ele nada percebeu.

- É realmente difícil estudar DCAT sem praticar... mas é uma matéria tão fácil, nem precisa estudar muito, dá pra aprender tudo na aula. Mas no que você tem dúvida, na parte teórica?

- Não, a teoria até que eu domino, é mais a prática mesmo... estou sempre tão distraída nas aulas... – confessei. Não sei porquê, mas deu vontade de me abrir com ele naquela hora. Talvez por ele estar na biblioteca enquanto todos estavam se divertindo ou relaxando. Não sei. Mas de repente me senti... à vontade...

- Ah, se você quiser eu posso te ajudar. Você sabe como sou bom em azarações – falou exibido

- Hum, pode ser.

- Ora, vamos. Não pode negar que eu sou um dos melhores da escola toda.

- Onde foi parar a sua humildade? – falei irônica

- Está aqui comigo, um pouco reprimida, mas um dia ela aparece...

- Você não tem jeito mesmo! – falei rindo, um pouco alto de mais, no que ele me acompanhou às gargalhadas, e acabamos sendo expulsos pela Madame Pince.

- Então, vamos marcar de praticar juntos...– ele sugeriu no saguão, nós dois indo em direção aos jardins para a aula de Trato das Criaturas Mágicas.

- Certo, mas só se você se comportar muito bem e não arranjar nenhuma detenção para a semana que vem. De acordo?

- De acordo. Ah, e eu prometo chegar na hora para a detenção de hoje.

- O.k... – encontrei Alice e Emelina, e James foi ao encontro dos outros marotos numa direção oposta e acabamos nos separando.

A Aula de Trato das Criaturas Mágicas correu muito bem. Aprendemos sobre os pufosos. São tão bonitinhos!

Vou parar de escrever agora, o professor Flitwick nos mandou praticar Feitiços Convocatórios Avançados. Mais tarde volto a escrever.

16:00, AULA DE FEITIÇOS

Bem, como meu diário foi confiscado nos horários das refeições e as três aulas que se seguiram foram importantes demais para distrações, só pude voltar a escrever agora, no segundo tempo de Feitiços do dia. Os alunos do 7º ano tem muitas aulas repetidas todos os dias. DCAT correu bem, foi quase toda teórica. Só tivemos uma parte prática, na qual eu fui um fracasso. Não bastasse o fato de Emelina ter me estuporado umas três vezes, como eu não conseguia nem direcionar o feitiço direito, tendo ele passado de raspão pelo professor, e atingido um dos armários. Foi vergonhoso, mas a minha sorte é que poucos notaram, somente James (peguei mania de chama-lo pelo nome. E agora?) e Sirius, que segurou o riso e me deu uma piscadela. Em Poções, fui a única que conseguiu fazer com perfeição a Poção da Felicidade. Eu sou mesmo um gênio/um toque de prepotência./

Enfim, o almoço foi como o café-da-manhã; “Lily, coma direito!”, disse Emelina, “Não faça essa cara”, vociferou Alice, “Ouça suas amigas, por favor”, disseram Frank e Remo, "Não vá desmaiar de novo!" falou o Sirius, “Nós só queremos o seu bem”, disse o Pot... James. De todas as ordens e conselhos, o único que realmente fez efeito foi o último. Olhei aqueles olhos castanhos e tristonhos, e comi a montanha de comida que tinham colocado no meu prato sem reclamar mais. Alice ficou surpresa e encarou Mel, que por sua vez olhava de mim para James, que continuava a me observar. Frank comia tranquilamente, indicando a Alice que fizesse o mesmo, e Remo olhava perdido para os cachos louros de Emelina... É tão óbvio o que os dois sentem um pelo outro, mas nenhum deles toma a iniciativa... Se bem que, eu como grande amiga dos dois, poderia fazer alguma coisa... hum... é, vou traçar um plano... mas vou precisar da ajuda dos outros marotos para isso... Certo, o professor nos mandou praticar Feitiços de Locomoção Avançados, para locomover coisas grandes e pesadas. Vamos praticar em duplas, tentando locomover o parceiro. Isso vai ser um pouco difícil, mas bem útil. Agora, eu vou mesmo, Emelina já está impaciente ao meu lado.

23:00, DORMITÓRIO FEMININO

NOS BRAÇOS DE ALICE

Estou sem fôlego. Muita coisa aconteceu essa noite. Vou começar pelo fim do expediente escolar, quando todos subiram para as salas comunais. Eu ainda estava me sentindo um pouco cansada, estressada e confusa por conta dos acontecimentos recentes (humilhação pós-beijo roubado do Potter seguida de frase escrita na testapara todos verem e me ridicularizarem– detenção com o dito cujo - internação devido à estado de saúde debilitado pela alimentação ruim – dieta imposta para fortalecimento do organismo fraco – diário confiscado – amizade com o Potter, digo, James), e decidi tomar um bom banho quente e relaxante no banheiro dos monitores

Peguei uma toalha, meu roupão e minhas roupas, além de um produto de beleza trouxa especial para tratar meus cabelos (já estão ficando quebradiços com o frio).

Entrei na banheira quente e cheia de espuma, e tentei relaxar. Refleti sobre a minha vida toda. Sobre meus objetivos em Hogwartz, minhas metas, a carreira que eu seguirei quando me formar. Pensei nas minhas amizades, lembrei do plano de unir Emelina e Remo, e lembrei acidentalmente de James. Abri os olhos surpresa, e lembrei de lavar o cabelo. A espuma já tinha se dissipado quase que por inteiro, e me perguntei por quanto tempo tinha estado ali. Terminei de me secar cuidadosamente, inclusive meus cabelos, fio por fio.

Saí do banheiro e fui para a sala comunal. Quando estava saindo para o Salão Principal, esbarrei acidentalmente com alguém, bem em frente ao buraco do retrato.

- Ai! – exclamei, tentando me reerguer do chão, mas sem sucesso, já que a pessoa tinha caído em cima de mim.

- Lily! Você está bem? Eu estava te procurando! – falou James esbaforido, se levantando e estendendo a mão para eu me levantar também.

- Estou bem sim... mas, porque tanta pressa?

- Alice ficou preocupada e me mandou te procurar. O jantar já está quase acabando! Estão todos preocupados com você! Onde você esteve? – perguntou de uma vez, mirando meus olhos verdes com cara de preocupação

- Eu estive tomando banho... não achei que fosse demorar tanto...

- Certo, agora vamos, antes que a sua amiga arranque minha cabeça!

- O.k, estou indo – falei divertida, e fomos para o Salão Principal, onde Alice quase teve um ataque.

- Lily Evans! Onde você esteve esse tempo todo? Espero que não estivesse tentando fugir das refeições!

- Calma, só demorei um pouco no banho...

- Ta, tudo bem. Mas agora coma, está bem? O jantar já está no fim!

- Certo, certo... – olhei para o meu prato. Muitos vegetais escuros. Blergh. Pior que no almoço. Mas não tive escolha, a não ser comer tudo, já que estava sendo vigiada por todos os lados.

Terminado o jantar, todos subiram para a sala comunal; eu peguei uma barra de chocolate no meu malão no dormitório, mas antes de ir supervisionar a detenção do Potter, lembrei de comunicar a ele e Sirius sobre meu plano de unir Emelina e Remo:

- Sirius, Potter, venham aqui, preciso falar com vocês – chamei os dois para um canto da sala

- ­Fala, ruiva! – disse Sirius alegremente, no que eu revirei os olhos.

- Diga, lírio – falou o Potter.

- Olha, não sei se vocês repararam, mas o Remo tem uma queda pela Emelina e vice-versa – falei de chofre.

- Nossa, o Aluado vai ficar decepcionado ao saber que está tão na cara... Mas, sim reparamos – falou Sirius rindo. Achei esse apelido um pouco estranho, mas continuei

- Bem, obviamente os dois são tímidos demais para tomar uma iniciativa, e eu já não agüento mais a Mel suspirando por ele pelos cantos, então pensei que podíamos fazer algo para unir os dois, o que acham?

- Eu acho uma boa idéia – falou Sirius sorrindo e perguntando para James – e você Pontas, o que acha? – Pontas? Outro apelido estranho...

- Concordo, acho que vai ser bom para os dois.

- Ótimo! Vai ter passeio a Hogsmeade no primeiro fim-de-semana de dezembro, e poderíamos convencer os dois a irem juntos, sei lá, como um encontro às cegas, o que acham?

- É, acho que até lá dá sim... vamos convencer o Remo a resolver isso de vez – falou James – e você, acha que consegue convencer a Emelina?

- Ah, sim, dará certo.

- O.k, nos vemos depois então – disse Sirius se virando e olhando para uma garota de longos cabelos negros, Marlene McKinnon, que também divide o dormitório comigo, mas não converso muito.

Enfim, eu e James nos encaminhamos para a sala de troféus, local da detenção dele esta noite, conversando sobre amenidades no caminho.

- Lily, por que você nunca foi a uma partida de quadribol? – ele perguntou de repente, depois de me contar detalhadamente sobre a última partida, contra a Lufa-Lufa.

- Ah, é que... bem, eu morro de medo de altura... – confessei.

- Sério? Nunca montou numa vassoura? – perguntou ele perplexo, agora já estávamos na sala.

- Uma vez, no 1º ano. Caí de uma altura de dois metros, porque a vassoura que Malfoy tinha me oferecido estava com defeito, ele fez de propósito, claro. Foi traumatizante.

- É verdade, eu me lembro... Fiquei com tanta raiva dele que o soquei até que Madame Hooch nos separasse. Foi minha primeira detenção – ele falou com um sorriso nostálgico nos lábios e apanhando uma esponja e mergulhando-a num balde de produto de limpeza, e começando a limpar os inúmeros troféus, já que as janelas já haviam sido limpas e o chão também (ele limpou nos dias em que eu estive na ala hospitalar, supervisionado por Remo).

- Nunca entendi porque você tinha agredido o Malfoy naquele dia – comentei franzindo a testa e me sentando na cadeira, ao mesmo tempo que abria a embalagem da minha barra de chocolate.

- Ah, era tão óbvio – ele me olhou sorrindo por detrás de uma estante alta e cheia de troféus empoeirados – ele tinha feito uma coisa terrível contra você, e senti que devia te proteger, sei lá...

- Mas você acabou se dando mal – retorqui

- Ah, mas ele também. Ficou com a cara inchada a semana toda. E eu cumpri aquela detenção com muito orgulho, porque não tinha deixado aquela atitude inescrupulosa passar sem me vingar por você. – ele me olhou carinhosamente, no que eu apenas retribuí timidamente.

- Lembro que depois você passou na enfermaria pra ver se eu estava melhor... e me deu uma flor que você tinha catado no jardim aquela manhã. E contou todos os detalhes da sua “luta” com o Malfoy - sorri. Tinha me esquecido completamente deste incidente. Éramos tão jovens, tão inocentes, e ele já me defendia...

- Lembro sim – ele disse se aproximando de mim – fiquei penalizado ao te ver daquele jeito, caída no chão e chorando. Você não deve lembrar, mas eu te acompanhei até a enfermaria, e fiquei segurando a sua mão, para que não ficasse com medo. – lembrei-me imediatamente. Como podia ter esquecido esse gesto tão delicado?

- É claro que lembro... – nossos rostos estavam bem próximos agora – e você também estava segurando a minha mão quando fui parar na enfermaria na terça-feira. Não é mesmo?- Lembrei de um toque quente e familiar enquanto estava desacordada na ala hospitalar. Ele concordou com um aceno de cabeça, os olhos baixos, os lábios sorrindo. Eu estava completamente perplexa pela delicadeza e gentileza daquele ser tão arrogante e estúpido às vezes.

- Já são dez horas – ele falou olhando para o relógio de pulso – estou liberado?

- Sim, está – falei sorrindo e me levantando. Guardamos tudo e saímos da sala para trancá-la. Já na sala comunal da Grifinória, eu falei.

- Sabe, às vezes eu esqueço de como você pode ser atencioso...

- Mesmo? Pois não deveria...– ele parou e me olhou profundamente nos olhos.- Sabe Lily, eu gosto muito de você. De verdade. Sempre gostei...

Estávamos muito próximos. Podia sentir minha respiração acelerada. Ele passou o dorso da mão direita em meu rosto, acariciando minhas bochechas, que a esse ponto já estavam queimando. Meus olhos verdes estavam turvos e perdidos naqueles outros castanhos, que pareciam estar cada vez mais próximos. Senti seus lábios quentes tocando nos meus, ao mesmo tempo que uma mão se colocava na minha nuca e a outra segurava delicadamente as minhas costas, trazendo-me para mais perto dele. De repente, sem nenhum comando, minhas mãos já estavam apoiadas em seu peito largo e realmente musculoso, apesar de coberto pelo suéter. Senti o beijo se aprofundando, e já ia enlaçar seu pescoço com os braços, quando lembrei-me de quem estava beijando, aonde (na sala comunal completamente vazia), e quais as circunstâncias (tarde da noite, quando todos já estavam dormindo e qualquer coisa poderia acontecer). Me separei dele bruscamente, com os lábios vermelhos e ofegando, evitando encara-lo.

- Lily, me desculpe! Eu, não pretendia... – ele falou sem jeito. Eu apenas corri para as escadarias do dormitório feminino, onde estou agora, as lágrimas se formando em meus olhos.

Cheguei aqui as meninas já estavam dormindo, deitei na minha cama, fechei o cortinado e comecei a chorar baixinho. Por que tinha que acontecer de novo? Por que a sensação tinha que ser tão boa? Por que eu estava traindo meus princípios? Pior, por que eu não me permiti fazer isso antes? Minha cabeça estava girando. Alice escutou meu choro contido, e abriu o meu cortinado preocupada. Instintivamente ela se sentou ao meu lado e me pôs deitada em seu colo, enquanto afagava meus cabelos e me deixava chorar sem nada dizer ou perguntar, como uma verdadeira amiga. Só agora consegui parar de chorar e organizar os pensamentos para escrever. Alice adormeceu ao meu lado, não vou acorda-la agora. Fiquei com fome, um raro momento,convoquei um copo de leite com chocolate e um prato e biscoitos da cozinha e comi um pouco.

Ainda estou confusa. Por que deixei que as emoções me levassem? Eu não funciono bem sem racionalizar as coisas... acabo fazendo besteiras... mas será que foi mesmo besteira? O que estou dizendo, é claro que foi! Estávamos ficando amigos... ai, como sou ingênua! É claro que esse papo de amizade era só pra se aproximar de mim! Como sou burra! Agora ele vai se gabar pra todo mundo que me conquistou de vez. Estou perdida. E o pior de tudo: completamente apaixonada.

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N/A: olá, sou nova aqui na floreios, e essa é minha primeira fic. eu também a escrevo no site fanfiction.net, e ela já está bastante desenvolvida lá. quem se interessar, é só procurar, o meu nick aqui é o memso lá!
espero q gostem! ;**

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