Festa da Hipocrisia
Pensamentos. Brota na essência da sua mente em um piscar de olhos. Permanece, seja por um segundo, seja por uma vida. E lá perece, desaparece do mesmo modo que apareceu. Tão instável, tão estúpido, tão real. Será que perfeito? Como em pensamento repentino nos faz fazer coisas que poderiam ser inimagináveis? Ainda mais quando estamos sob o poder do álcool. Sou outra quando bebo, ou seja, sou outra todos os dias. Quem me vê hoje, já não verá um mesmo eu amanhã. Sou assim, mais instável que meus estúpidos pensamentos. A bebida e os cigarros, uma conspiração alheia, que me destrói cada dia mais. Desde o fim da guerra, desde o fim da minha família, desde a fama do meu homem. Sim, a fama o tirou de mim, por mais que eu o segurasse, ele escapou por entre meus dedos. Já se passaram treze anos, de pura e intensa fama do escritor Draco Malfoy e a decadência contínua da minha alma.
Estava com as mãos apoiadas naquele gélido mármore, que eu já nem sentia afinal naquele momento da minha vida eu era fria de mais para senti-lo. Observava minha face naquele espelho, estava tão instável quanto meus pensamentos. Aqueles cabelos loiros, que já estavam tão longos a ponto de chegar ao fim de minhas costas. O único detalhe com que eu realmente zelava em minha aparência, e que por uma artimanha de meus pensamentos havia decidido mudá-los para o negro. Negro como minhas vestes, negro como minha mente, sangue e coração. Os apetrechos jaziam sobre o mármore fazia um bom tempo. Cansada de enrolação fiz o que tinha de ser feito.
Sai do banheiro algumas horas depois, de roupão e toalha nos cabelos, ainda não havia visto o resultado. Sentei-me a uma pequena mesa, onde o elfo havia deixado um bule com café e algumas guloseimas que em nada me atraiam. Além disso, havia o jornal da manhã, só lia o jornal durante o fim da tarde, aquilo nada me trazia de útil, apenas a manipulação implícita que eu já havia desvendado há anos. Olhei a primeira pagina rapidamente, nada de “muito importante”, algumas paginas a frente e lá estava ele. Como sempre naquela foto com uma falsa felicidade, segurando mais um livro, seu nono livro para ser mais exata. Nem me dei ao luxo de ler a matéria, mas não havia como não ver que naquela mesma tarde, naquele mesmo momento ele estava sentado atrás de uma mesa, na floreios e borrões. Com muitos fãs, melhor muitas fãs fazendo uma fila enorme só para estar na presença dele e receber um mero “Obrigado fulano, por ler meu livro abraços, Draco Malfoy!”. Como as pessoas conseguem ser tão ávidas a uma futilidade? Chego a me impressionar, como a cabeça de alguém pode ser tão fechada!
Mas seria talvez a minha chance de revê-lo, por aquele minuto em que ele nem olha em seus olhos. Meus pensamentos, aqueles que brotam num piscar de olhos começaram a bombardear minha mente com comos e porquês, para que então finalmente tomasse a decisão de ir ver toda essa atração. Afinal, os livros dele eram bem diferentes do comum, e para as pessoas tudo que é diferente, vira a festa da gente. Hipócritas. Lambem ele dos pés a cabeça, mas pelas costas mal sabe ele os verdadeiros comentários. Quem se importa, ele tem fama não é mesmo? Ele tem dinheiro, ele tem mulheres, ele tem poder, tem o que quer. Um pirralho mimado pelos pais de forma descarada. Estúpido.
Com os pensamentos ainda borbulhando na minha mente, enchi uma xícara de café, acendi um cigarro e me dirigi ao closet na esperança de achar algo que me servisse para esse esperado evento de hipocrisia. Acabei por achar uma saia-lápis, negra obviamente. Adorava aquela saia, me alongava e silhueta e, diga-se de passagem, eu ficava luxuosa vestindo ela. Sem demora, tirei o roupão coloquei uma lingerie e logo após a saia, por cima daquilo coloquei um terninho sem nada pó baixo deixando boa parte de meus seios amostra, linda. Para o toque final na roupa coloquei um scarpan e segui ao banheiro. Tirei a toalha da cabeça e analisei o cabelo por alguns minutos, totalmente diferente, como era digno de minhas “crenças”. Fiz um coque alto, leve maquiagem e estava pronta. Sai do banheiro peguei minha bolsa, um casaco longo e simplesmente aparatei, sem avisar nada, afinal os elfos domésticos não tinham que cuidar da minha vida.
Caminhei pelo beco diagonal, estava apinhando de gente, mesmo estando escurecendo. A floreios e borrões, sem sair a risca dos meus pensamentos estava cheia de gente.
- Que comece o show! – disse a mim mesma.
Entrei sem fazer cerimônia, empurrando quem estivesse na minha frente. Peguei um exemplar em uma das prateleiras e logo entrei na fila, na frente obviamente. Sob vários protestos e gritos de mulheres, que bem haviam perdido seu dia naquela fila, ele chamou:
- Próxima!
Sorri vitoriosa olhando nos olhos dele e caminhando em sua direção. Sem duvidas alguma ele não havia me reconhecido num primeiro momento, eu definitivamente não era a mesma. Ao chegar perto o bastante, depositei o livro grosso na mesa na frente dele. Ele sorriu simpaticamente e perguntou:
- Seu nome, por favor?
Exitei. Ele abriu o livro e começou a escrever a frase já manjada na contracapa. Com a cabeça baixa repetiu a pergunta.
- Qual o seu nome?
- Pansy Parkinson... – respondi em alto e bom som.
Ele fez menção de escrever meu nome, mas percebeu o quão significativo ele era. Olhou para mim, para que talvez pudesse ter certeza que aquela moça de estirpe parada a sua frente era realmente, Pansy Parkinson. Ficamos assim por algum tempo, ele extasiado e eu sorrindo falsamente. Até que uma mulher se abaixou ao seu lado e disse algumas coisas no ouvindo dele, o fazendo voltar à realidade. Já eu continuava sorrindo, as mulheres postadas atrás de mim já gritavam histericamente. Ele baixou a cabeça, escreveu meu nome fechou o livro e o empurrou de volta para mim. Peguei o livro e sai da frente dele, me dirigi ao caixa. Paguei pelo livro e ao me virar para sair daquela pocilga, me dei de frente com a mulher que interromppera os pensamentos de Malfoy.
- Senhora... – ela começou e eu logo cortei.
- Senhorita! – e então comecei a abrir minha bolsa na busca por um cigarro.
- Senhorita, me desculpe, mas o senhor Malfoy perguntou se a senhorita gostaria de esperá-lo num pub aqui no beco, para que possam conversar, ou se poderia marcar um dia, nalgum lugar para que pudessem se encontrar.
Finalmente coloquei o cigarro na boca e o acendi enquanto pensava no que dizer.
- Até que horas ele irá ficar aqui? - perguntei.
- Mais uma hora apenas. – ela respondeu imediatamente.
- Diga para ele aparecer em minha casa ainda hoje se quiser conversar. Tenho assuntos a tratar agora e não posso adiá-los. – disse displicente e procurei um relógio na parede. – Agora são 6 horas, diga a ele que apareça as onze, estarei esperando...
A mulher sorriu docilmente e se retirou. Dei uma tragada no cigarro e continuei a caminhar em direção a porta. Ao entrar no campo de visão dele, não fiz questão de olhar para trás, mas sentia cada centímetro das minhas costas se arrepiarem com apenas o olhar dele. Ainda éramos ligados por aquilo que ninguém jamais poderia saber, nem mesmo eu e ele.
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