O Presente



Quarto Capítulo - O Presente

“A Dama das Horas

Um brilho elegante impresso nos olhos
Derrama gotas de ameno mistério
E um gesto lento impresso no ar
Desafia o caminhar das horas.

Perdida em si mesmo
Mas dominando os séculos
Ela apascenta a crueldade do tempo
E silencia todos os bronzes.

E, não sei se pelo brilho elegante
Se pelo mistério ameno
Pelo desafio do gesto lento
Ou pelo calar dos bronzes
Deixa um instante indelével
Guardado em mim.”

Ele deixou aquele pedaço de pergaminho velho no mesmo lugar que encontrara há algum tempo. A caligrafia impressa era fina e elegante, e não havia assinatura, nem mesmo destinatário. Estava apenas ali, esquecida sobre o criado mudo no canto de um amplo quarto antigo. Estava exatamente no lugar de onde nunca deveria ter saído.

Entretanto, ele sabia que se tratava de uma carta de amor, daquelas que apenas um poema dizia tudo sobre um sentimento tão puro. Daquelas que só se mandavam quando ‘amar’ era algo planejado, e nem sempre se amava a quem planejava. Amava-se, muitas vezes, aquele que não devia.

“Maia, não aperte muito o espartilho. Já não consigo respirar.”

“Desculpa-me, senhora.”

Havia um enorme tom de nostalgia naquela cena. Ele podia sentir isso ao ver o sorriso estampado no rosto dela, e o brilho em seus olhos.

Aqueles olhos castanhos e sorriso sempre tão superior, embora mantivesse em todas as vezes o tom singelo e simples, deixavam-no inebriado. Aquela voz, firme e segura, fazia-o tremer. Ele podia ficar ali eternamente, enganar o tempo e deixar-se preso naquela sensação de torpor, naquela dimensão que não deveria existir.

Ele poderia ficar ali para sempre. Como sempre significava o destino dele, e o dela. Mas ele poderia ficar ali por apenas mais alguns minutos, e deixar que tudo voltasse ao normal.

Não tentaria mudar mais nada, porque mudar significava perder. E ele não queria perdê-la mais uma vez.

Ele sorriu e suspirou uma última vez. Observou os movimentos elegantes de Hermione mais atentamente, e encantou-se. Descobriu, naquele momento, que mesmo que ele não quisesse, se apaixonaria por ela sempre que pudesse.

"Estás apaixonada..."

"Sim, Maia, muito!"

E ouvi-la falar daquela forma, tão categórica e clássica, era como entorpecer-se ao som de uma música. Ela falava de um jeito alegre, mas ao mesmo tempo sério. O tom expressava um nítido romantismo peculiar, ao mesmo tempo que uma pequena malícia.

Harry então, num movimento bastante lento e expressivo, retirou a máscara do bolso e colocou-a. Olhou uma última vez para Hermione e saiu, indo em direção ao salão de baile.

"Eu estarei lá dessa vez, Hermione, como eu havia prometido antes. Estarei lá agora e em qualquer outra época em que eu te encontrar. Não há como mudar algo que ultrapassa épocas e se torna mais forte que o tempo. E agora eu compreendo isso. Você fez parte do meu passado, está no meu presente e será o meu futuro. Destino."

x.x.x

O quarto estava escuro e abafado. De alguma forma, ele mal conseguia respirar, e sua cabeça transbordava em lembranças, talvez sonhos. Ele não sabia. Diversas imagens se atropelavam em sua mente, tentando formar algo plausível e aceitável, mas nada fazia sentido. Apenas o que ele podia formar era que havia uma mulher, que o levava a um mundo fantasioso, entre passado e futuro. Havia também um grande amor, e uma... dama das horas.

"Harry?" - uma batida na porta - "Harry?"

"Entra..."

Sem saber porque, Harry sorriu ao ver Hermione, e sentiu seu coração disparar. Ele não sabia que era tão bom vê-la, e o que era mais assustador, na opinião dele, era melhor ainda vê-la viva.

"Harry, o que foi?" - ele abanou a cabeça, e aparentemente saiu de um transe ao ouvir a voz de Hermione.

"Como?"

"Você está aéreo."

“Que horas são?”

“Cedo. Nós vamos à biblioteca lembra?”

"Biblioteca? Eu achei que nós tínhamos combinado em não ir à Biblioteca no meu aniversário."

"Seu aniversário é amanhã, Harry, não hoje. Eu chamaria o Rony, mas você sabe, ele está na Irlanda com os pais naquele trabalho do Ministério... o pai pediu ajuda e você sabe o final..."

"Você já não disse isso antes? Digo, eu tenho a impressão de que esta cena já ocorreu antes..." - ele piscou algumas vezes, e concluiu que aquilo era besteira - "Amanhã você vai me dar folga?"

"Amanhã eu te dou o que você quiser, Harry, agora vamos indo, ok?" - ela falou, desatenta, indo para a porta do quarto.

"O que eu quiser?"

"Ahan. O que você quiser, Harry. Vista-se!" - Hermione saiu e Harry ficou olhando durante alguns segundos para a porta fechada.

"Dèjá vu!"

x.x.x

"Eu vou ver a sessão restrita, Harry, nos encontramos onde?"

"No lugar de sempre."

Harry viu Hermione afastar-se. Parou para olhá-la durante um instante, e a cena lhe pareceu incrivelmente familiar. De algum modo ele já tinha visto ou passado por aquilo, e já tinha visto Hermione movimentar-se daquela maneira tão hipnotizante.

Ele abanou a cabeça, tentando ignorar aquela insistente sensação de dèjá vu. Passou pelas prateleiras de livros, e por algum motivo, sentiu-se incitado a ler os títulos e observas as capas.

Não demorou muito até que seus olhos parassem em um livro gigantesco, intitulado "Instituição Bruxa Educacional - Roteiro Ilustrativo e Histórico das grandes instituições bruxas de ensino / Diariamente atualizado, por Maíra Grantter".

"...achado sensacional..." - ele pensou por um instante imaginando as palavras de Hermione ao ver aquele livro.

Então, meio que apenas apanhando o livro, ele dirigiu-se à mesa em que costumava sentar-se com Hermione. Abriu o livro e apenas observou as figurinhas coloridas e vibrantes que o ilustrava.

Cerca de meia hora depois Harry viu uma pilha de livros pousar na mesa. Era Hermione, com seu costumeiro carregamento de livros.

"Achou o que queria?"

"Não sei, mas achei alguns livros interessantes..."

"Veja este, talvez te ajude em algo." - Harry empurrou o livro até ela, que olhou fascinada.

"Onde você pegou esse livro, Harry? É um achado sensacional, acho que ele vai nos ajudar bastante."

"Eu achei que você fosse falar isso, não sei porquê... sessão A9-Delta, eu acho... não prestei atenção..."

Harry estava observando Hermione já há quase uma hora. Ela lia e escrevia obstinadamente, e não tirava os olhos dos livros. De vez em quando encostava-se à cadeira e jogava a cabeça para trás, suspirava, olhava para Harry com os olhos brilhando e voltava ao trabalho.

De alguma forma ele gostava de observá-la daquele modo. Ela parecia tão atenta e esperançosa em conseguir alguma nova informação importante.

"Você deve estar entediado..."

"Nem tanto... é bom ficar olhando pra você, não é algo que me incomoda."

Hermione olhou para Harry e sentiu-se corar diante do olhar tão profundo dele. Ele sorria de uma forma genuína e singela, e seus olhos brilhavam. Ela não se lembrava de já tê-lo visto olhando para ela daquele jeito, mas o que soube de imediato é que gostava daquele olhar, sentia-se aquecida por dentro, e feliz.

"Você quer ir embora?"

"Você vem comigo?"

"Mais meia hora?"

"Combinado!"

x.x.x

"O que você quer fazer amanhã?"

"Amanhã?" - Harry parou e olhou para Hermione, confuso. Os dois estavam andando há cinco minutos, depois que saíram da biblioteca.

"Seu aniversário, lembra?"

"Ah, isso..."

"Então?"

"Eu acho que eu prefiro ficar no castelo, nós poderíamos arranjar algo para fazer lá, como nos velhos tempos."

"Eu topo, então."

Harry colocou as mãos nos bolsos e continuou andando ao lado de Hermione. O simples ato de colocar as mãos nos bolsos significava uma última tentativa de não segurar a mão de Hermione. Parecia algo patético, afinal, ela era sua amiga desde que tinha 11 anos, mas mesmo assim, algo o impelia a se render, mas algo o segurava e ele acabou por optar seguir em frente.

Não demorou para chegarem ao Castelo. Assim que se cansaram de andar aparataram nos portões de Hogwarts.

"Você acreditava que algum dia estaríamos à frente desse lugar, Mione?" - Harry perguntou, olhando atentamente para o castelo.

"Sinceramente? Eu acreditei que nunca mais te veria depois daquela guerra."

Harry olhou para Hermione e notou um brilho triste nos olhos dela, e um sorriso tímido e sem graça no seu rosto. As mãos dela se apertavam uma na outra, e Harry sabia que aquele gesto significava tensão, ou tristeza. O ato dele, diante disso, foi abraçá-la, e de alguma forma, mesmo sem saber porque, ele sabia que sentiria tanta falta dela como ela dele.

"Você vai entrar agora?" - ela perguntou, desvencilhando-se do abraço.

"Acho que não... vou ficar mais um pouco aqui, se não se importar..."

"Eu tenho algumas coisas para terminar... jantamos juntos?"

Hermione ficou parada na frente de Harry, ao que um sorriu para o outro. Sorrisos calmos e singelos, e olhares profundos. E Harry, quase sem perceber, segurou as mão da mulher e inclinou sua cabeça até que seus lábios tocassem suavemente os lábios dela. Algo bastante rápido, talvez impensado. Um simples toque, mas que arrebatou o coração de ambos. Um simples gesto, que despertou sensações em seus corpos.

"Te vejo no jantar, Harry." - ela disse, simplesmente, e saiu.

Harry não soube decifrar o tom de voz que ela usara. Fora algo sério, mas meio balançado, com um leve e quase imperceptível tom de felicidade. Entretanto, os olhos dela não mentiam para ele, e os olhos dela brilhavam.

x.x.x

Harry andava apressadamente pelas ruas do Beco Diagonal. Precisava, com urgência, achar um presente para Hermione. Era aniversário dela, e ele simplesmente não sabia de algo que pudesse dar a ela. Como ele pensaria, em um espaço tão curto de tempo, em algo suficientemente bom para presenteá-la?

Seu coração batia descompassadamente, por euforia e adrenalina, por medo de não achar nada que a agradasse. Certo que o relacionamento deles não andava lá tão normal desde que ele a beijara nos jardins do castelo, mas não estava assim tão ruim. Eles apenas não comentavam sobre o assunto do beijo, apesar de Harry querer falar com ela sobre isso. Ele queria que ela soubesse que estava apaixonado por ela, e queria tentar. Mas também, ele tinha medo de afastá-la ao contar-lhe a verdade.

Abanou a cabeça enquanto corria, e tentou focar sua mente num presente perfeito para Hermione. E foi então que, em meio a tantas e tantas lojas, ele parou na frente de uma pequenina, com a vitrine muito menos que a maioria das outras lojas. Atrás do vidro ele viu uma caixinha de música de madeira escura, esculpida em uma flor. Do lado dela um pergaminho minúsculo, com um poema escrito, chamado "A Dama das Horas".

Algo naquela caixinha o deixava nostálgico, como se ele já a tivesse visto em algum lugar, como se já tivesse presenteado alguém com ela. Mas isso não passava de um espasmo. Ele sabia que nunca vira aquela caixinha de música, e muito menos dera ela para alguém.

Ele resolveu entrar na loja, e imediatamente apanhou a caixinha e abriu-a. Dentro havia apenas uma fadinha, brilhante, que dançava eternamente ao som da música que tocava no coração de cada um. No momento, a música que tocava era orquestrada ao som de um violino, e tocava melodiosamente à medida que a fadinha flutuava sobre ela. Ele também conhecia aquela música.

E então, ele apanhou o poema, e com muito esforço, conseguiu lê-lo.

“A Dama das Horas

Um brilho elegante impresso nos olhos
Derrama gotas de ameno mistério
E um gesto lento impresso no ar
Desafia o caminhar das horas.

Perdida em si mesmo
Mas dominando os séculos
Ela apascenta a crueldade do tempo
E silencia todos os bronzes.

E, não sei se pelo brilho elegante
Se pelo mistério ameno
Pelo desafio do gesto lento
Ou pelo calar dos bronzes
Deixa um instante indelével
Guardado em mim.”


"Sabe, nunca ninguém parou para ver esta caixinha de músicas." - falou alguém, logo atrás dele, fazendo-o virar-se e olhar para a mulher da loja.

"Eu te conheço? Tenho a ligeira impressão de que te conheço."

"Chamo-me Maia, você, claro, é Harry Potter. Todos te conhecem." - Harry deu um sorriso sem graça, mas ainda assim continuava achando que aqueles cabelos pretos e olhos azuis lhe eram extremamente conhecidos, de algum lugar.

"Quer saber a história da caixinha?"

"Acho que já a vi, mas não sei onde, exatamente..."

"Ela foi feita em 1569, por um nobre apaixonado pela filha dos curandeiros de uma cidade no interior da Inglaterra. Ouvi dizer que era um amor proibido, ela estava prometida a outro nobre. Mantiveram o romance em segredo por muito tempo, ela até chegou a engravidar dele, mas o marido descobriu o romance e..."

"...matou os dois..." - Harry completou.

"Você conhece a história?"

"Não era assim que acabavam os romances proibidos no século XVI? Mas ao menos, era uma morte com motivos nobres. Morrer por amor é sempre um bom motivo no final das contas. Eu levo a caixinha."

"Para a sua namorada?"

"Ela não é... não quer ser... mas acho que é o presente perfeito..."

"Ela vai gostar, acredite."

"Obrigada, Maia."

x.x.x

Harry levou a caixinha nas mãos. Tinha certeza que Hermione ia gostar do presente. Ao menos isso.

Chegou ao castelo de noite, quando todos já estavam dormindo, até mesmo Hermione. Ele não queria ter se atrasado, mas não conseguira chegar a tempo de encontrá-la acordada. Entretanto, não era assim tão tarde, então ele não achou que fosse realmente deseducado bater na porta dela e entregar-lhe o presente. Se ele bem conhecia Hermione Granger, ela estaria, naquele momento, preparando a sua aula de Transfiguração para o dia seguinte.

Ele bateu à porta dela três vezes antes que ela o atendesse, vestida com seu roupão azul e o cabelo preso num coque.

"Harry?"

"Desculpe, Hermione, mas eu não conseguiria dormir se não te entregasse o seu presente e te desse os parabéns. Desculpe não ter dito isso antes, mas passei o dia procurando por algo perfeito... você sabe, eu sempre deixei as coisas para a última hora..." - ela sorriu.

"Você sabe que não precisava, Harry."

"Aceita o presente?"

"Jamais recusaria."

Ele estendeu a caixinha para ela, com o pergaminho preso a ela. Imediatamente ela abriu a caixa de música, e o violino começou a tocar e preencher o ambiente, intensificando o momento. Seus olhos marejaram ao ver a fadinha dançando com tanta beleza, e ela não segurou as lágrimas ao ler o poema.

"É o presente mais lindo que já ganhei, Harry!"

"Fico feliz que tenha sido perfeito..."

"Eu..."

"Shhh, não precisa falar nada, comprei especialmente pra você."

"Obrigada, Harry."

Um silêncio se instalou entre eles. Não parecia incômodo, mas era, de alguma forma, esquisito.

"Eu..."

"Eu vou para o meu quarto..." - ele a interrompeu - "Sabe, preparar a aula de DCAT..."

"Nos vemos amanhã?"

"Esteja certa disso."

x.x.x

Hermione fechou a porta do quarto e encostou-se à porta. A música da caixinha preenchia o quarto e deixava-o mais agradável do que o normal. Ela ainda não conseguira parar de chorar, e seu coração palpitava descompassado. Sua mente pensava em Harry, e o que a assustava, pensava nele como homem, e não apenas como amigo.

"Céus... eu não posso..."

"Pode sim, Hermione..."

Se a voz fosse um pouquinho mais grossa, Hermione com certeza teria gritado. Mas de alguma forma, ela conhecia a voz da mulher de cabelos pretos e olhos azuis que estava parada ao lado de sua cama.

"Quem é você?"

"Alguém que já te viu tão apaixonada por aquele homem que sou capaz de ter certeza de que, agora, você está apaixonada por ele novamente."

"Não estou... eu..."

"Vem, eu vou te mostrar."

Hermione não sabia se aquela mulher era fruto de sua imaginação. Ela podia ser apenas um delírio, uma fantasia esquisita, ou um sonho. Mas o que quer que fosse, lhe inspirava certa confiança ao estender-lhe a mão.

x.x.x

Harry ouviu três batidas na porta. Abriu os olhos e verificou o relógio na parede. Três da manhã. Quem seria a essa hora? Ele levantou-se e abriu a porta, apenas para dar de cara com Hermione, com um sorriso maravilhoso nos lábios, e os olhos brilhando como nunca.

"Mione... o quê...?"

Mas então, ele não teve tempo de terminar a frase porque fora arrebatado por um abraço de Hermione, seguido de um beijo intenso. Não era um simples roçar de lábios, era um beijo lânguido, e cheio de amor. Algo desejoso, que ele correspondeu sem entender, mas sem pestanejar.

Segurou-a pela cintura, enquanto a trazia mais para perto, sentindo mais o seu corpo, e ela finalmente conseguia agarrar-se ao pescoço dele de uma forma mais íntima, mais sedutora.

"Mione... eu..."

"Shhh... eu te amo, Potter."

Potter. Harry não entendeu, na hora, porque aquele nome, na boca de Hermione, soava tão bem e o fazia tremer. Era uma sensação boa, forte, que fazia seu coração acelerar e seus olhos brilharem.

"Eu também te amo, Mione..."

Ele sorriu para ela, de certa forma aliviado. Ao que ela novamente agarrou-se a ele e beijou-o de novo. Mas, dessa vez, empurrou-o até a cama, fazendo-o deitar-se e deitando por cima dele. Ela não queria perder tempo, já tinha perdido demais. Mas agora que finalmente rendera-se a ele, ela seria dele e ele dela.

Beijou-o como não imaginava beijar ninguém em sua vida. Havia uma necessidade urgente impressa em seus lábios ao buscarem os lábios de Harry, ao mordiscar-lhe gentilmente, ao provocá-lo com sua língua, e mesmo com seus dedos sutis em seu corpo.

Ele sorria-lhe enquanto ela o beijava. Gostava das provocações dela, eram bem melhores do que ele podia imaginar ou sonhar. O toque dela era leve e gentil, quase medido. E de vez em quando ela contraía-se, para novamente tocá-lo, com mais vontade, mais amor.

Os cabelos dela em sua face faziam-lhe cócegas, ao mesmo tempo que proporcionavam um momento delicioso e íntimo ao lado de Hermione. Ele puxou-a para um beijo intenso, enquanto girava o corpo contra o dela e ficava por cima.

Beijou-a e mordeu-lhe a curva do pescoço, deixando uma marca avermelhada no local. Ela não reclamou. Gemeu baixinho, suspirou e sorriu. Seus olhos brilhavam, um brilho elegante, de prazer e malícia, num clima de amor, paixão e erotismo.

Harry retirou a blusa de Hermione e jogou-a para um lado qualquer, enquanto ela fazia a mesma com a blusa dele. E as calças, as meias, até que sobrassem apenas as peças íntimas de cada um.

Olharam-se durante muito tempo, apreciando a expressão um do outro. Sorriram ao mesmo tempo. Beijaram-se e, vagarosamente, retiraram as últimas peças de roupa. Estavam ambos mais do que certos de que desejam um contato mais íntimo. Amor.

Passaram muito tempo naquela deliciosa brincadeira de beijos e corpos colados, de carícias e expressões. E quando terminaram, do lado de fora, o sol já se levantava, anunciando um novo dia.

Harry e Hermione não viram nada disso, porque no momento em que o sol nascera, eles dormiram, abraçados, felizes, sorridentes e cansados. Mas com uma certeza em suas mentes - e corações: Amavam-se. Muito.

x.x.x

"Acordou, princesa?" - Harry sussurrou ao ouvido de Hermione, ao senti-la mexer em seus braços.

"Tive um sonho esquisito..."

"Sonho ruim?"

"Não... era bom... você estava nele, mas era uma época antiga... de reis e rainhas, e estávamos num baile de máscaras... e você vinha até mim e falávamos coisas bonitas, quase como versos de Shakespeare, românticos e intensos."

"Isso é bom, então..."

"Pareceu tão real... como se tivéssemos mesmo vivido aquela situação..."

"Talvez tenhamos vivido...”

Ele beijou-a, de uma forma provocante e intensa, que perdurou por todo o dia...

“Harry, você tem uma marca aqui no...” – ela começou a falar, mas foi deliberadamente interrompida por um beijo caloroso e um toque ousado.

“Uhum... e você poderá explorá-la o quanto quiser, querida.”

“Sério, Potter?”

“Adoro quando você me chama de Potter...”

“Potter... Potter... Potter…” – ela sussurrou no ouvido dele, fazendo-o tremer.

x.x.x

Harry parou na soleira da porta e observou Hermione próxima à bancada da cozinha.

Seu rosto, ao longo dos anos, tornara-se severo, mas feliz. Eram traços sérios, que denotavam toda a experiência que aquela mulher de quase 50 anos possuía. E sempre que Harry a olhava, parecia que já a conhecia de muito tempo. Era linda. Sempre.

“O que está fazendo?”

“Harry... está aí há muito tempo?”

“Não muito.”

“Vinho tinto e chocolates, o que acha?”

“Perfeito. Eu arrumo a toalha.”

x.x.x

Harry segurou a mão de Hermione e a garrafa de vinho tinto, enquanto ela levava a caixa de chocolates. Foram para fora da casa e pararam por um minuto na soleira de casa.

A paisagem era algo bastante contrastante. A casinha de um jeito bucólico, entre árvores e uma bela roseira de rosas vermelhas bem na entrada e, bem à frente, um penhasco, com um céu negro ao fundo e ondas revoltas. Bem acima, um infinito de estrelas. E à beira do penhasco uma toalha grossa e fofinha estendida.

Hermione estendeu a mão e apanhou uma rosa vermelha antes de ir até o penhasco e sentar-se na toalha, ao lado de Harry, que já materializara duas taças e enchia-as de vinho.

“Você tem a sensação de já ter vivido tudo isto, Mione?”

“Nós vivemos isso quase todos os dias, Harry, é a nossa vida.”

“Não assim... mas algo como um dèjá vu.”

“Às vezes, sim. Mas por que isso agora?”

“Não sei... nada importante, eu creio.”

Hermione deitou-se apoiada ao peito de Harry, enquanto ele abraçava-se a ela. Ficaram ali por alguns minutos, apenas admirando a paisagem, perdidos em seus próprios pensamentos, como já haviam feito tantas vezes em mais de duas décadas juntos.

“Pai! Mãe!”

Viraram-se e viram os dois filhos se aproximando. Harry pensou que a combinação dos genes dele e da sua mulher havia sido realmente fantástica. Tiago era um rapaz bonito, de cabelos negros rebeldes como os do pai, olhos castanhos escuro e a postura do pai, sempre disposto a salvar o mundo; entrara na academia de aurores no ano anterior, feito digno de uma festa que durara três dias. Sophie, de 22 anos, três anos mais velha que Tiago, também não se saíra nada mal. Já era jornalista do profeta, namorava um rapaz de 25 anos há quase dois anos, comprara o próprio apartamento e tinha uma aparência física que às vezes, ele não sabia porquê, lhe lembrava Lílian, às vezes Hermione.

“Oi crianças!” Hermione conjurou outra toalha para que os filhos sentassem, e mais duas taças de vinho.

“Visita inesperada.” Harry sorriu, levantando e beijando a filha e o filho na testa.

“Tiago e eu achamos que fazia muito tempo que não vínhamos até aqui...”

“Então resolvemos tirar o fim de semana de folga.”

“Vocês vão passar o fim de semana conosco?” – Hermione perguntou, com os olhos brilhando. Era difícil estar algumas horas ao lado dos filhos, imagine então dois dias inteiros!

Tiago e Sophie sentaram-se ao lado dos pais, enquanto ambos os bombardeavam com perguntas sobre trabalho, estudos e namoro. Os filhos, claro, respondiam com graça, enquanto perguntavam, também, diversas outras coisas.

Até que, depois de um longo tempo de conversa, os quatro deitaram-se nas toalhas estendidas, os filhos entre os pais, como uma bela família.

E juntos, pela enésima vez, olharam para o céu e contaram estrelas, viram cometas e fizeram pedidos. Sentiram gotas do mar alcançarem seus corpos e gotas de chuva molharem seus rostos. Sorriram. Durante horas infindáveis. Apenas isso.

x.x.x FIM x.x.x

Rebeca Maria

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