O Futuro



Terceiro Capítulo - O Futuro

"Então?"

"Então o quê?"

"Você vai me explicar o que está acontecendo?"

"Eu deveria?"

"Não deveria?"

"Claro que não. Você criou este futuro, deveria saber o que acontece nele. Deveria saber que você só foi meu amigo e do Rony até o final de Hogwarts, na verdade, até quando você saiu na missão suicida das Horcruxes. Depois disso, nossos caminhos se separaram. Você desapareceu por cinco anos, enquanto nós lutamos na guerra de um lado, mas foi você quem derrotou Voldemort. Quando você voltou, não passava de uma lembrança na nossa mente. Mais porque você voltou diferente do que porque nós tínhamos te esquecido. Nós não esquecemos, na verdade, você quem nos esqueceu. No seu lugar entrou Draco Malfoy, o melhor amigo de Ronald Weasley, marido da Ginny e todo aquele papo de casal feliz. Hogwarts fechou, definitivamente, depois da guerra. Você passou a ser o herói eterno do mundo bruxo, e por isso deixou-se ficar desleixado e irresponsável. Nunca ligou mesmo para responsabilidades e sacrifícios... então, eu não me espanto que você tenha se tornado um babaca."

"Eu estou sentindo uma ponta de hostilidade da sua parte?"

"Eu? Quem sou eu para ser hostil com o cara que eu amo... amei... e que esqueceu de mim... céus, quem me dera eu pudesse ser hostil da maneira que eu gostaria. Mas continuando com a historia que você escreveu. Eu me casei com o Rony. Os primeiros dois anos foram até fáceis."

"Então isso quer dizer que você está feliz, para mim isso basta!"

"Eu disse fáceis, não felizes. Há uma diferença enorme entre essas duas palavras. Rony e eu nos damos muito bem na cama, tanto como nos damos bem brigando, como eu já tinha dito antes, mas não passa disso. Sexo, sexo e sexo. E às vezes só isso cansa."

x.x.x

"Vocês moram no litoral?" - Harry perguntou, ao notar-se à beira de um penhasco. Alguns metros dali havia uma casa, bonita e bastante rústica, com um canteiro de rosas negras e vermelhas na porta. Mais negras que vermelhas.

"Eu sempre gostei do litoral. Adoro olhar as ondas batendo no penhasco, e sentir a brisa salgada me alivia, e me deixa viva por mais alguns instantes. Também gosto de deitar na beira do penhasco depois que vejo o pôr-do-sol. Sempre chamei o Rony para vir ficar comigo, mas ele nunca vem, por isso eu passo a maior parte do tempo sozinha. Adoro passar horas e horas olhando as estrelas." - ela apontou para o céu escuro e por um momento sorriu - "Vê aquela? É Andrômeda. É a minha preferida, não sei porque. Mas sempre achei que ela fosse a mais expressiva e bela."

Harry notou um tom melancólico na voz dela. Era um tom triste e cortante, frio. Por algum instante ele teve vontade de chorar, apenas por ver um rosto tão belo com aquela expressão medonha. Não havia brilho misterioso nos olhos, nem sorriso elegante e controlado. Nada. Era quase como ver um rosto sem vida. Era doloroso, e talvez até mais do que vê-la morta. E notório uma pessoa morta não ter expressão, mas uma pessoa viva sem expressão, significa que por dentro ela já está morta. Morte da alma e do coração.

"Você vê as rosas negras? Eu plantei rosas vermelhas nesse canteiro assim que nos mudamos para cá, quando nos casamos. Mas à medida que o tempo passou, elas foram ficando negras. Dizem que as rosas são a expressão da alma de quem as plantou." - uma lágrima incontida e o coração de Harry palpitava dolorido no peito - "Eu já estou saindo, espera."

Um momento depois, a porta da casa se abriu. Harry, então, pôde prestar mais atenção na cena. A casa era feita de madeira, com janelinhas pequenas de vidro. Havia uma escadinha bem ao pé da roseira, que dava para a entrada. Uma chaminé logo acima, algumas árvores. Algo bastante bucólico e simples. E do outro lado, a oposição, o contraste de paisagem. O penhasco, alto e escorregadio, o mar revolto banhado por uma noite escura e triste.

Hermione saiu da casa, desceu as escadas e apanhou uma das rosas negras. Numa das mãos ela carregava uma garrafa, que ao chegar mais perto, Harry reconheceu como sendo vinho tinto. Ela cambaleava um pouco, denunciando sua pouca sobriedade, mas sorria debilmente. Chegou ao pé do penhasco e sentou-se, com as pernas balançando e sendo molhadas por algumas gotas de água do mar que alcançavam o topo.

"Sabe qual é o sentimento que mata mais rápido, Harry? A indiferença. Eu hoje já não sei mais o que é um olhar caloroso ou um beijo que signifique outra coisa além de sexo. Eu sou indiferente a tudo, e Rony é indiferente a mim. E isso, aos poucos, foi me matando por dentro. Mas hoje é diferente..."

"Por que é diferente?"

"Porque não há mais indiferença. Olhe."

Harry olhou. Hermione levantara-se. Olhava atentamente para o céu enquanto apontava para as estrelas. Depois, jogou a rosa negra ao mar. Deu um último e generoso gole no vinho e lançou a garrafa ao mar também. Depois abriu os braços e jogou a cabeça para trás. A brisa parecia brincar com seus cabelos e suas roupas. Ela sorriu, como se estivesse se libertando. Num gesto bastante lento, ela começou a tirar a roupa.

Logo depois, uma fina e insistente chuva passou a cair. Harry sentia as gotas geladas em seu rosto, mas percebeu que Hermione não se importava, ou não estava sentindo as gotas frias sobre a pele despida. Na verdade, ela parecia gostar da sensação, pois continuava sorrindo, mesmo que debilmente.

"O que ela está fazendo?"

"Ela vai nadar, Harry."

"Nadar?"

A última peça de roupa caiu à beira do penhasco. Hermione deu um passo para frente e, logo depois, deixou-se cair no mar, em meio a pedras e ondas revoltas. Mas, por um instante, ela pôde se sentir livre de tudo. Na roseira, na frente da casa, quem olhasse atentamente, veria que aos poucos as rosas negras voltariam a ser vermelhas. Libertação da alma, uma pontinha de felicidade.

"Ela... se matou..." - Harry caiu de joelhos e nem tentou segurar as lágrimas.

"Ela se libertou. O que é diferente. Agora você vê porque sou eu quem estou aqui, e não o meu futuro de 50 anos? Eu não existo neste futuro."

"Eu... eu... não sabia..."

"É, ninguém nunca sabe. Ninguém nunca tenta saber quais as conseqüências de seus atos antes de fazerem alguma coisa. Apenas fazem e se responsabilizam por eles depois. Mas então, com base nisso, entendemos o significado de sacrifício."

"Céus... eu sou mesmo um idiota!"

"Já é alguma coisa. Admitir ter um problema é o primeiro passo para a solução deste problema."

"Eu preciso..."

"Mudar isso?"

"Eu preciso te salvar."

"Me salvar?"

"Eu preciso te salvar, Hermione!" - ela sorriu largamente e estendeu a mão para ele, fazendo-o levantar-se.

"É a primeira vez que você aceita que eu sou a Hermione e me olha desse jeito. Você finalmente entendeu que eu sou parte de você, Potter, não importa o que aconteça, algum dia seu amor teria que me encontrar." - ela apanhou uma carta em suas vestes e entregou-a a Harry - "Você sabe o que fazer."

"Exatamente."

Harry apanhou a carta, colocou-a no bolso e olhou para Hermione. Sorriu para ela e curvou-se, dando um beijo carinhoso na testa dela. Abraçou-se a ela durante alguns minutos, enquanto sentia a chuva engrossar e molhar a ambos. A sensação parecia boa, mas Harry ainda sentia seu peito apertado, sabia que tinha que consertar as coisas o mais rápido possível. Ele segurou o rosto de Hermione entre as mãos e olhou profundamente para ela.

"Você foi o meu passado, é o meu presente e será o meu futuro, Hermione Granger! Eu te prometo isso! Você vai receber a sua carta, como prometido!"

Então ele olhou para o penhasco. Suspirou uma vez e fechou os olhos. E, num ato de amor e coragem, correu e saltou. Mas de alguma forma, nunca chegou a atingir as águas do mar.

Fim do Terceiro Capítulo

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Fim do Terceiro Capítulo

Rebeca Maria

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