Capítulo 14 parte 3

Capítulo 14 parte 3



N/T: Aí está o capítulo 14 parte 3! Espero que gostem! Dessa vez não demorei muito, né?


Bjos e feliz ano novo para todos!!! ;-)




CAPÍTULO 14 – PARTE 3


Mais, mais tarde, escada para o dormitório feminino, Sala Comunal da Grifinória


Lily Observadora: Vigésimo sexto dia


Observações Totais: 165


Eu costumava pensar que eu era imune aos efeitos malucos do Quadribol.


Quero dizer, eu sei que todo mundo fica um pouquinho volúvel e louco quando as partidas de Quadribol acontecem – dizem coisas que normalmente não diriam, fazem coisas que normalmente não fariam – mas eu? Por favor. Eu nem mesmo gosto do maldito jogo. Por que deveria me afetar? Nunca me afetou antes. Mesmo nos meus estados eternos de amar Amos jogando Quadribol, eu nunca me comportei fora do normal. Nunca. Nem uma vez.


Mas agora que eu estou sentada aqui, na escada para o dormitório feminino na sala comunal, silenciosamente pensando sobre as últimas horas, eu sei que alguma coisa tem que estar errada. E apesar de qualquer outra evidência que se oponha a minha conclusão, eu estou bem, pronta e preparada para colocar toda a culpa no Quadribol. Porque essas...coisas...que eu estou dizendo...sentindo...elas não são normais. Elas simplesmente não são. Elas não são eu. E eu não sei mais onde colocar a culpa, a não ser em Quadribol. Não há outra explicação. A não ser…bem, quero dizer, a não ser…


A não ser que elas sejam eu.


E isso, infelizmente, não pode ser bom.


Mas eu estou mudando de assunto...


Eu poderia gastar um bom tempo e muito papel em uma tentativa insignificante de tentar descrever o tipo de...insanidade que foi o jogo de quadribol Lufa-Lufa vs. Grifinória, mas eu não tenho nem a habilidade nem a inclinação para entrar em algum tipo de detalhe, então eu não vou fazer isso. Quero dizer, pra falar bem a verdade, metade do tempo que eu gastei assistindo a partida eu estava simplesmente tentando entender o que diabos estava acontecendo, e na outra metade, eu estava simplesmente tentando não ficar surda, então eu não tenho certeza se haveria algum tipo de precisão caso eu contasse como foi, de qualquer forma. Uma coisa que eu sei, no entanto, é que eu acho que meus ouvidos nunca mais serão os mesmos.


Ninguém nunca consegue perceber como nós, grifinórios, conseguimos ser escandalosos até que alguém nos dê um bom motivo para gritar.


E nós tivemos muitos motivos para gritar.


Foi bastante aparente depois que a Grifinória conseguiu marcar o primeiro gol da partida quatro segundos depois do início do jogo – e depois, rapidamente marcaram mais um, doze segundos depois – que a partida não seria da Lufa-Lufa. Meu coração sofreu pelo pobre Amos, que parecia completamente chocado (apesar de também estar suculento naquela vassoura dele também!) quando James marcou seu primeiro gol e totalmente humilhado quando Marley conseguiu marcar o segundo. Eu também tentei não me sentir culpada, quando eu vi os rostos surpresos na maioria no time da Lufa-Lufa, quando a Grifinória parecia ignorar sua defesa e praticamente agredia os atacantes. Eu tentei não pensar muito no fato de que eles estavam assim por minha causa. Mas eles pareceram se recuperar rapidamente, de qualquer forma. Não que isso tenha ajudado muito. Eles, ainda assim, iriam perder.


No entanto, a Lufa-Lufa não parecia ter planejado perder assim sem uma luta antes.


E eles lutaram.


Literalmente, pra falar a verdade.


Eu juro que eu nunca vi tantos…golpes em toda a minha vida! A cada dois segundos, algum jogador parecia estar golpeando outro. E era o time do meu coração que estava na frente dessas pancadas. Agora, eu sei que golpes são meio que uma norma em Quadribol, mas até mesmo Peter e Remus – que são bem informados sobre Quadribol – estavam gritando e berrando para Hooch fazer algo. Era assim tão ruim. E apesar de eu amar o meu querido futuro marido com todo o meu coração, meus amigos estão no time de Quadribol que ele estava, negligentemente, golpeando, então, eu não pude evitar gritar de raiva juntamente com o resto dos meus colegas de casa. Eu sabia que não deveria ser fácil pra eles, com eles obviamente não ganhando a partida mas, francamente, existem maneiras melhores de se lidar com o sofrimento!


Nada de Lufa-Lufas bonzinhos, pelo jeito.


Ah, mas tudo fica bem, quando termina bem eu acho. Demorou bastante tempo (meus ouvidos estavam quase congelados, e também surdos), mas o apanhador da Grifinória finalmente conseguiu pegar o pomo, terminando o jogo com um placar bastante constrangedor de 410-90.


E nós, grifinórios…bem, eu acho que nós ficamos um pouquinho malucos.


Ou, sabe, mais do que um pouquinho malucos.


Mas como eu disse, é quadribol, sabe.


No campo, os times ficaram completamente loucos, berrando e gritando (um grito bem alto eu tinha certeza que era de Gracie) e dançando em suas vassouras (muito perigoso, mas ninguém pareceu perceber). Na frente das balizas, Chris Lynch quase caiu da vassoura no meio de sua comemoração da vitória. E apesar de eu ter um pouquinho de vergonha de admitir isso, nós, nas arquibancadas grifinórias, não estávamos muito melhores. Nós, meros espectadores, comemoramos a nossa vitória, nos abraçamos e gritamos e aplaudimos, enquanto o time dava uma voltinha da vitória pelo campo, agindo como se essa fosse a última partida da temporada, ao invés de ser apenas a primeira. E, enquanto eu estou feliz por dizer que eu fui uma das poucas pessoas que conseguiram manter um semblante de racionalidade durante toda essa loucura, eu não posso exatamente dizer que eu não comemorei um pouquinho. Era difícil não fazer isso.


A culpa é toda do ar fresco.


Mas ainda bem que todo mundo rapidamente começou a cansar de gritar e pular – apesar de que, na verdade, eu acho que foi culpa do frio – e rapidamente decidiram que a festa deveria continuar na sala comunal. Seguindo as massas, Emma e eu começamos a descer da arquibancada e fizemos nosso caminho até o campo, onde Grace e o resto do time de quadribol (assim como a maioria dos grifinórios) estava realizando suas últimas comemorações, antes de seguirem até seus respectivos vestiários e salas comunais. Pelas massas, eu rapidamente vi Gracie bem no meio do campo.


Ela estava nojenta e toda suada, mas os melhores amigos têm que fazer o que melhores amigos têm que fazer, eu acho.


“Partida sensacional, Gracie!”, foi o que eu disse quando Emma e eu finalmente conseguimos alcançá-la. Eu lhe dei um grande abraço (eca) e ela sorriu de orelha a orelha. “Você foi magnífica! Bom trabalho! Ótima voadora! Sério. Foi fascinante”.


Eu não tinha idéia do que eu estava falando, mas eu peguei umas boas frases durante o tempo que eu passei na arquibancada e pensei em colocá-las em prática.


Pois é, eu tenho minhas fontes.


“Você é louca”, Grace murmurou, mas ela estava rindo enquanto dizia isso e parecia bastante tonta. “Mas obrigada, de qualquer forma. Foi uma partida brilhante, não foi?”.


Eu não estava tecnicamente certa do que qualificava uma partida como sendo brilhante ou não, mas a Grifinória ganhou e Gracie parecia que achava que sim, então eu apenas assenti com a cabeça copiosamente.


Parecia a coisa certa a fazer.


“Mas não consigo acreditar no número de faltas”, Emma entrou no meio, sacudindo a cabeça depois de abraçar Grace rapidamente. “Foi uma partida bem suja”.


“A Lufa-Lufa estava desesperada”, eu disse, tentando mais ou menos defender as ações do meu marido. Meu orgulho grifinório não iria me deixar falar mais do que aquilo. Eu pensei que meu amor entenderia.


Gracie respondeu dando de ombros. “Quadribol é quadribol”, ela disse. Então, ela sorriu com maldade. “Além disso, nós acabamos com eles. Foi patético”.


Nós todas rimos antes de Grace começar a falar sobre o que ela considerava os momentos mais sensacionais da partida (como se eu e Emmeline não tivéssemos acabado de assistir a mesma partida e precisássemos de uma recapitulação detalhada), então eu naturalmente comecei a viajar, não exatamente querendo ouvir mais alguma coisa sobre Quadribol. Eu comecei a dar uma olhada em volta para ver se eu conseguia achar Amos, mas era praticamente impossível ver dois palmos diante do nariz com toda aquela gente que havia agora se reunido no campo. Eu comecei a procurar por James então, pensando que eu deveria provavelmente parabenizá-lo também. Surpreendentemente, eu achei James facilmente, apesar do amontoado de gente.


Mas quando eu o vi...bem, eu preferia não tê-lo visto.


Foi quando começou, sabe.


A loucura-do-Quadribol-que-talvez-não-seja-loucura-do-Quadribol-talvez-seja-uma-loucura-só-minha-e-eu-não-sei-como-me-sinto-em-relação-a-esse-dilema.


Porque James estava em pé, perto dos vestiários, rindo com seus amigos e parecendo bastante feliz consigo mesmo. E eu acharia isso normal e magnífico se não fosse pelo fato de que bem ali do lado dele, enfiada em seus braços e rindo também, estava Elisabeth Saunders.


Repentinamente, eu senti vontade de vomitar.


Existem bilhões de motivos para isso. Apenas um deles me passou pela cabeça no momento, e se eu estivesse pronta para discutir esse motivo em particular, eu discutiria, mas já que eu não estou mentalmente/fisicamente/espiritualmente/etc preparada para tal coisa, eu simplesmente preferi colocar a culpa toda no Quadribol.


No entanto, essa desculpa não fez meu estômago melhorar.


Mas ainda bem, nesse preciso momento eu consegui engolir o meu vômito e retirei meu olhar daquela cena pavorosa lá perto dos vestiários (apesar de eu ainda poder ouvir as risadas altíssimas de Saunders e querer bater em alguma coisa, isso não é minha culpa), eu achei um rosto bem familiar indo na direção do vestiário da Lufa-Lufa.


Amos.


Eu quase chorei de alívio.


Ele era distração suficiente.


Bem, quero dizer…ele não estava exatamente parecendo uma distração particularmente contente no momento, mas eu tinha que aceitar o que eu poderia pegar.


Eu queria ir e falar com ele, para consolá-lo em seu tempo de necessidade, mas eu não tinha certeza do que eu poderia dizer. Eu não sabia se ele estava com raiva de mim, sabe, pela coisa toda com a defesa-ataque. Ele provavelmente não estava. Quero dizer, por tudo o que ele sabia, a mentira foi simplesmente um erro não-intencional. Eu sabia que não era isso, claro, mas essa não é a questão. A questão é que ele não sabe. Mas, de novo, o garoto estava bastante chateado – ele poderia estar procurando alguém para culpar. E, naquele momento, eu provavelmente parecia um ótimo bode expiatório.


Mas talvez eu fosse um ótimo consolo, também.


Droga.


Decisões, decisões, decisões.


Eu tinha acabado de começar a caminhar até Amos, decidindo que eu enfrentaria sua possível fúria se eu tivesse a chance de abrandar sua tristeza, quando, repentinamente, eu senti um rápido puxão no meu cachecol – ou, sabe, no cachecol de James. Eu me virei.


“Deixa ele ficar deprimido sozinho, Infalível. Venha e seja uma Grifinória por um tempo, hum?”.


James estava ali, na minha frente – sans (N/T: “sem” em francês”) Saunder, eu percebi imediatamente – com o tipo mais bobo de sorriso em seu rosto e o tipo mais alegre de brilho nos olhos. Ele estava nojento e suado e cheirava a madeira e grama, mas do jeito que ele estava bem ali, como se ele tivesse acabado de ser nomeado rei do mundo, nada disso parecia importar. Eu rapidamente olhei por seu ombro, mas enquanto Remus, Sirius e Peter estavam conversando animadamente com Grace e Emma sobre a partida (ou, eu presumi que fosse sobre a partida. Eu não podia ouvir), Saunders não estava à vista.


Eu pessoalmente esperava que ela talvez tivesse caído no Lago.


Preferivelmente, bem no fundo do Lago.


E que ela não soubesse como nadar.


Nada mesmo.


“Mas olhe pra ele”, eu disse pra James, finalmente encontrando minha voz e me livrando dos meus pensamentos um tanto homicidas (apesar de que eles eram merecidos). Eu acenei na direção de Amos, que estava chegando cada vez mais perto do vestiário da Lufa-Lufa. “Você não acha –“


“Não”.


“Não?”.


“Não”.


Foi quando ele riu. Ele riu como ele ria antes e mais do que isso, ele colocou seus braços em meus ombros, assim como ele tinha feito com Saunders apenas alguns minutos antes. E, num primeiro momento, eu ia me livrar de seu abraço, não querendo ser reduzida ao status de Saunders ou ter seus germes misturados com os meus, mas depois eu percebi que, se eu fizesse isso, eu estaria mandando uma mensagem de que Saunders tinha me afetado. Eu basicamente estaria dizendo que ela e James eram melhores amigos do que nós dois, que ela gostava dele mais do que eu gostava, que podia tocá-lo mais do que eu, que podia fazer outras coisas que eu não podia...e eu estaria errada se dissesse que aquele simples pensamento não fez com que eu sentisse vontade de vomitar de novo. E, enquanto em minha cabeça eu continuava dizendo que “É o quadribol. É o quadribol”, o mantra não me fez sentir melhor. Ao invés disso, eu tentei me consolar com o fato de que James claramente gosta bem mais de mim do que da ‘Lizzie’, e que nossa amizade é bem mais forte do que qualquer sentimento de luxúria (porque isso era claramente tudo o que já havia ocorrido entre eles).


Quero dizer, Saunders claramente só gostava dele por causa de seu corpo e de suas fortes habilidades de agarramento – pelo menos, eu acho que elas são fortes. Se os rumores são verdadeiros, elas são. Eu não exatamente tenho algum tipo de experiência com essa sua habilidade. Quero dizer, só aquela vez que ele, sabe, beijou minha bochecha e tudo mais, mas isso não conta. Aquilo não foi um agarramento. Foi um beijinho perfeitamente inocente de agradecimento. Não um agarramento. De jeito nenhum.


E eu não ia querer agarrá-lo de qualquer forma, mesmo se fosse só por motivos experimentais, para saber se os boatos eram verdadeiros.


Ele provavelmente é terrível, de qualquer forma.


Mas, sim, ela só estava o usando.


E eu não estava.


Amigos acima de garotos, e toda aquela besteira.


“Vamos”, James disse me tirando dos meus pensamentos, seus braços ainda ao redor dos meus ombros. “Nós estamos perdendo a festa. E, por falar nisso, você ainda não me parabenizou pela minha performance completamente sensacional e eu receio que eu ficarei arrasado por tempo indeterminado se eu não receber algum tipo de elogio logo”.


Eu revirei os meus olhos e sorri com maldade.


Ai, credo.


Que babaca.


Um babaca e péssimo beijador.


“Eu te elogiaria, certamente”, eu respondi, o olhando inocentemente, pronta para apagar o sorriso bobo de seu rosto, “mas eu estou experimentando algo novo, sabe. Chamam de “contar a verdade”.


“Extremamente valorizado”, James respondeu imediatamente, e eu comecei a rir da sua cara completamente séria. Ao invés de desaparecer, seu sorriso idiota aumentou ainda mais e James continuou a caluniar a verdade. “Sim, extremamente valorizado. Nem vou me incomodar”. Ele me cutucou com seu quadril. “Vamos lá”, foi o que ele disse depois. “Você sabe que eu mandei bem”.


Eu não vi motivo para lhe contar que ele realmente “mandou bem” (uma frase do Quadribol, será?) porque eu tinha o pressentimento de que se sua cabeça crescesse mais um pouquinho naquele momento, ele não seria capaz de passar pela porta do castelo. Então, ao invés disso, eu simplesmente dei de ombros, ganhando mais um sorriso dele. Eu decidi que uma rápida mudança de assunto era necessária. “Como sua mão está?”.


“Me matando”, James respondeu, e apesar dele dizer isso casualmente, eu tinha a impressão que ele estava me contando a verdade. “Por que você acha que eu a pendurei nos seus ombros?”, ele me perguntou. “Você a está apoiando”.


“Foi por isso que você também a pendurou nos ombros de Saunders?”.


Eu não sei porque eu perguntei. Eu não me lembro de ter mandado um sinal para o meu cérebro para ele mandar um sinal para minha boca para fazer essas palavras idiotas saírem, mas, de alguma forma, elas saíram de qualquer maneira. Eu não podia explicar, a não ser dizer que o Quadribol havia obviamente colocado minha boca traidora em sistema de aceleração e minha boca decidiu mais uma vez assumir o controle. Quando eu me virei para olhá-lo, James parecia chocado com a pergunta. Eu fiquei toda corada e eu teria me desvencilhado dele e corrido de vergonha se eu não tivesse certeza de que James iria correr logo atrás de mim.


Eu não mais queria que Saunders fosse a única a se afogar no lago.


Eu sempre gostei de água.


“O que você quer dizer com isso?”, ele me perguntou.


Eu não sabia – talvez não quisesse saber – então eu simplesmente dei de ombros. Mas James se recusou a deixar isso pra lá.


“Liz e eu somos amigos, Lily”, foi o que ele me disse, me olhando de forma estranha. Ele disse isso como se esse comentário fosse me fazer sentir melhor. “Assim como eu e você somos amigos”.


“Melhores amigos do que eu e você?”.


Eu não consegui parar minha boca. As perguntas idiotas simplesmente continuaram saindo. Se isso era possível, eu me senti corar ainda mais. Eu só podia imaginar o tom de vermelho que eu deveria estar naquele momento.


Isso não era bom.


Não era nada bom.


“Melhor não”, James respondeu lentamente, sua voz estranhamente grave por alguma razão. “Simplesmente diferente. Eu a conheço por mais tempo do que você”.


“E você a namorou”.


Eu quero uma boca nova.


EU QUERO UMA BOCA NOVA!!!


“E tem isso também”, James respondeu calmamente, meneando a cabeça. “Ele parou de andar e retirou seu braço dos meus ombros. “Lily – “.


Eu não sabia o que ele iria dizer – o que ele poderia dizer, quando eu estava ali, parecendo uma babaca? Ele não parecia nervoso, só...confuso, eu acho, mas havia algo a mais ali, algo que eu não poderia dar um palpite. E apesar de eu não ter certeza do que era, eu sabia que eu não queria saber o que ele poderia dizer em seguida. Seja lá o que era.


Eu não podia.


Eu simplesmente não podia.


“É melhor você ir tomar banho”, as palavras escaparam da minha boca rapidamente – rápidas demais, eu sabia, mas talvez lentas demais também. 100% idiotas de qualquer forma. “Só Merlin sabe que a festa provavelmente já começou na sala comunal”.


Eu estava muito inquieta que eu estou surpresa que James não pensou em cravar uma daquelas canetas impressionantes que se usa nos ataques epiléticos, mas eu não consegui evitar. Ele deve ter pensando que eu tinha ficado completamente maluca, porque eu me recusei a olhá-lo e fixei meus olhos em algum ponto além de seu ombro. Minha cabeça estava latejando, meu estômago estava revirando e mais uma vez minha boca traidora tinha dito um monte de coisas idiotas que não deveria ter dito. Mas, diferente de qualquer outra vez antes, eu pensei tudo que minha boca falou. Eu só não queria ter dito nada daquilo. Não em voz alta, de qualquer forma, e certamente não para James.


Era tudo muito preocupante.


“Você está bem?”, James me perguntou, colocando sua mão em meu ombro. Eu fiquei rígida, mas se ele notou, não disse nada. Eu teria respondido, mas eu não confiava em minha boca, ela podia muito bem fazer mais algum comentário idiota, então eu simplesmente meneei a cabeça. Eu recebi um olhar cético como resposta. “Lily, o que está –“.


Eu acho que nunca fiquei tão agradecida. Quando James estava prestes a me questionar novamente sobre minhas ações malucas e antes que começasse a gaguejar sobre tudo e qualquer coisa que estivesse na minha mente, porque meu carma havia, mais uma vez, atacado na forma da minha boca traidora, Grace, Emma e o resto dos marotos escolheram aquele exato momento para aparecerem, me salvando de uma desgraça completa.


Graças a Merlin.


“Ei!”, Sirius gritou, ficando ao lado de James e colocando seu braço em seus ombros (algo muito comum hoje em dia, em?), sorrindo pra ele e depois para o resto de nós. “Nós decidimos que provavelmente é para o seu próprio bem fazer uma pequena viagem em breve, cara”.


Aquele sorriso maldoso se espalhando pelos lábios de Sirius implicava que essa “viagem” – seja lá o que ela era – não seria nada boa.


Ai, cara.


O que eles vão aprontar agora?


Parecendo tão confuso quanto eu, indubitavelmente, parecia, James franziu suas sobrancelhas. “Viagem?”, ele perguntou inexpressivamente. “Padfoot, do que você está – “. Então, de repente, ele gemeu. “Ah, não”, ele reclamou, fazendo uma cara. “Por que eu? Por que Pete não pode ir?”.


“Eu fui da última vez!”, Peter exclamou, a indignação forte em sua voz. Eu ainda não tinha idéia do que eles estavam falando. “Eu não vou nesse frio todo”, ele acrescentou, firme, cruzando seus braços.


“Vamos votar”, James tentou de novo, ignorando o meneio de cabeça de Peter.


“Nós já votamos”, Remus disse animado. “Você perdeu”.


James olhou de cara feia.


Eu não consegui ficar calada por mais tempo.


“Er”, eu comecei lentamente, olhando de um rosto sorridente a outro (ou, no caso de James, uma cara feia). “Onde exatamente você tem que ir?”.


“Missão cerveja amanteigada”, Sirius me informou, se divretindo muito com o desagrado de James. Ele parecia satisfeito com o azar de seu amigo. “É um negócio sujo, mas alguém tem que fazer isso”.


“Vamos mandar os sextanistas”, James insistiu, parecendo arrasado. Sirius pareceu escandalizado com a sugestão.


“Mandar garotos para fazer o trabalho de um homem?”, ele zombou, sacudindo a cabeça para James. “Estou decepcionado com você, Prongs!”.


James revirou os olhos, mas sentindo a derrota, olhou de cara feia mais uma vez antes de sair pisando pesado.


“Que criança”, Sirius disse, antes de seguir, todo alegre, logo atrás de James, na direção do vestiário.


“Vejo vocês na sala comunal?”, Grace perguntou, acenando sua cabeça na direção do vestiário, implicando que ela iria tomar banho. Emma e eu meneamos a cabeça, concordando. Ela correu atrás de Sirius, nos deixando sozinhas.


“É melhor nós irmos”, eu disse para Emma com um suspiro, indicando o castelo. “Só Merlin sabe a confusão que aqueles malucos já estão aprontando”.


O trabalho de uma monitora-chefe nunca termina.


Mas, surpreendentemente, nada estava queimando e/ou quebrando e/ou destruído e prestes a ruir o castelo, quando Emma e eu finalmente chegamos a sala comunal, com Remus e Peter nos seguindo até que eles sumiram para pegar comida na cozinha. E, enquanto eu não posso dizer que a festa estava calma e digna, ninguém parecia estar subindo nas paredes ainda, então eu agradeci. A música estava tocando, a comida estava boa, todo mundo estava de bom humor, e parecia que estava sendo uma festa bem divertda.


Então, o time entrou.


E, enquanto que é meio injusto culpá-los pelo caos...bem, se a varinha serve.


O time inteiro de quadribol – menos o James, que eu presumo ainda esteja em busca da cerveja amanteigada – entrou na sala e como um redemoinho de vento poderoso, deixou um caminho de destruição em seu rastro. A festa ficou um pouquinho maluca então, e apesar de que minha perspicácia de monitora-chefe deveria ter ficado irritada pelo fato de que a festa repentinamente havia subido bastante na escala de insanidade, eu realmente não consegui evitar rir e me juntar a diversão.


Eu considerei isso como um bom sinal.


Afinal de contas, que santinha faria isso?


Talvez eu finalmente esteja melhorando.


Era um pensamento muito reconfortante.


Todo mundo estava se divertindo e nós, os mais velhos, nos sentamos ao redor da lareira, comendo nossa comida (James ainda tinha que voltar com a cerveja amanteigada) e ouvindo Chris Lynch nos alegrar com mais uma de suas várias escapadas de verão – essa aconteceu fora do Beco Diagonal, e incluía uma mulher polonesa velha e as cuecas de Chris – quando nós ouvimos aquilo pela primeira vez.


Era alto, era retumbante, e acabava com um sonoro pof!


“O que foi isso?”, Chris perguntou, parando no meio da frase. Muitas pessoas refletiam o seu mesmo sentimento confuso, olhando em volta em busca do barulho, mas eu sabia exatamente o que era. Afinal de contas, ninguém vive no dormitório feminino por sete anos sem achar familiar aquele barulho, pelo menos uma vez recorrente em toda a sua estadia em Hogwarts.


O alarme da escada das meninas.


E, óbvio, quando tudo mundo olhou na direção que o barulho estava vindo, estendido precariamente numa confusão de braços e pernas estava um casal desnorteado do quinto ano e a escada-escorregador estava gritando o seu desagrado.


Infelizmente, esse foi apenas o começo.


Primeiramente, todo mundo simplesmente riu. Os quintanistas envergonhados se mandaram para encontrar outro lugar em que pudessem se agarrar e nós todos voltamos a escutar o conto de Chris sobre a idosa escandalosa. Ninguém deu muita confiança para o acontecimento.


Até que disparou de novo.


Dessa vez, um par de terceiranistas.


A risada foi um pouquinho tensa dessa vez, mas mesmo assim. Nós todos os olhamos com diversão, eles correram, todos corados, e nós voltamos a escutar o Chris.


Na terceira vez, não foi engraçado.


Na quarta vez, foi irritante.


E antes que eu soubesse, eu estava lá, sentada na escada das garotas, assegurando que nenhuma criança estúpida decidisse ter a idéia brilhante e original de se enfiar no dormitório feminino. Porque, apesar do fato de que o alarme tinha disparado mais vezes do que eu posso contar, a população da Grifinória não parecia entender que se eles realmente precisassem de um lugar para se agarrar, a escada dos garotos seria, claramente, a melhor opção.


Mais uma vez, eu culpo o Quadribol que pegou todos nós.


Eu ainda estava sentada nas escadas, prestes a abrir este diário e colocar as últimas horas em palavras quando, pena perto da página, uma garrafa de cerveja amanteigada repentinamente obstruiu minha visão. Eu olhei pra cima, e James estava ali, sorrindo.


“Eu pensei que a guarda precisava de provisões”.


“Obrigada”, eu disse de maneira estranha, porque eu estava prestes a contar nossa conversa anterior totalmente constrangedora aqui e, portanto, ainda estava viva em minha memória, o que, portanto, me fez reviver o meu constrangimento e pensar sobre como eu tinha me comportado como uma idiota e porque eu tinha me comportado como uma idiota e se eu queria ou não admitir o porquê de eu ter me comportado como uma idiota, e –


Bem, é, estranha.


Entre outras coisas.


“Quando você voltou?”, eu perguntei, observando enquanto James se sentava no segundo degrau, logo abaixo de mim, que estava no terceiro. Eu sabia (depois da última hora como prova) que o alarme não dispararia até que a testosterona atingisse o quinto degrau, então, estava tudo bem. Eu não tenho certeza se eu devia estar agradecida por James também saber isso ou esperar que fosse só uma coincidência.


“Há alguns minutos”, ele respondeu, tomando um gole de sua própria cerveja amanteigada. “Uma das passagens desmoronou – não sei quando. Eu não a usava já faz algum tempo – mas eu tive que voltar para Hogsmeade para poder voltar por outra. E estava congelando”.


“Se você estivesse com seu cachecol”, eu ressaltei com sensatez, levantando uma das pontas desgastadas do objeto em questão, que ainda estava confortavelmente ao redor do meu pescoço, “talvez você não sentisse tanto frio, não é mesmo?”.


“Talvez”, James respondeu. “Mas então, nós não teríamos ganhado”.


“Não teríamos ganhado o quê?”, eu perguntei.


“A partida”, James respondeu. Ele apontou para o cachecol com sua garrafa. “Esse é o meu cachecol da sorte, esse que você está usando displicentemente ao redor do seu pescoço, Evans. Essa é a razão de nós ganharmos”.


Eu o encarei inexpressivamente. “Seu o quê?”.


“Segundo ano”, James respondeu, tomando mais um gole rápido, não olhando para mim, mas para a festa, que parecia estar em pleno vapor. “Eu fiz o teste para o time de quadribol usando exatamente este cachecol. Nem estava assim tão frio, eu simplesmente senti que eu deveria o estar usando. No dia seguinte, Derrick Kings – ele era o capitão na época – veio e me disse que havia entrado para o time de reservas. Eu era um mero segundanista e eu havia entrado no time de reservas”. Ele parou de olhar para a festa e olhou pra mim, com um sorriso em seu rosto. “Dá sorte”, foi o que ele disse. “Dá muita, muita sorte”.


Eu meneei a cabeça, porque apesar de eu achar esse tipo de superstição bem um tanto engraçada (Gracie tem um par de meias que ela usa em toda partida. Eu rio toda vez que eu a vejo as colocando), James parecia bem sério, então eu achei melhor guardar o meu divertimento para mim mesma.


Além disso...bem...


“Mas se dá assim tanta sorte”, eu comecei hesitante, dizendo o que eu estava pensando. “Por que...por que você não o estava usando?”.


Ele não perdeu nem um segundo.


“Porque você está usando”, ele respondeu.


“Mas por quê?”, eu perguntei, frustrada.


“Porque eu queria que você o usasse”.


Era uma resposta idiota. Evasiva, obtusa, nem um pouquinho informativa... mas meu estômago pulou quando ele disse isso. Não muito por causa do que ele falou, mas por causa do jeito que ele disse isso. Foi...eu não sei. Estranho. Diferente. Assim como o olhar que ele me lançou no campo que eu não consegui entender. Eu não conseguia entender esse som distinto também. Tudo o que eu sabia é que me deixava nervosa. E mais do que isso, ele estava me olhando com um tipo de expressão meio séria que parecia tão deslocada por causa da festa que estava acontecendo ao nosso redor. Simplesmente não era...certo.


Eu não estava bem.


Alguma coisa estava errada.


E só agora que eu fui perceber.


“Você está agindo de forma muito estranha hoje”, eu murmurei rapidamente, tomando um rápido gole da minha cerveja amanteigada para me impedir de dizer mais alguma coisa.


“Você também”, James respondeu, me lançando um olhar de esguelha. Eu poderia ter negado, mas teria sido inútil, já que nós dois sabíamos que era verdade.


“Eu sei”, eu disse, sacudindo minha cabeç o olhei, um pequeno sorriso em meu rosto. “Eu acho que provavelmente é culpa do quadribol. Sabe, ele mexe com a cabeça. Faz com que as pessoas fiquem malucas”.


“Mas eu pensei que você fosse sempre maluca”, ele implicou.


“Não assim tão maluca”, eu respondi sem rodeios.


Nós dois rimos, apesar de ter sido rápido e estranho e eu não gostei de nada disso. Eu não sabia porque que tinha que ser desse jeito – só Merlin sabe como eu já havia dito coisas insanamente idiotas para ele antes, mas aquela parecia ter sido a coisa mais idiota, apesar de que a única coisa que eu fiz foi perguntar sobre a idiota da Saunders. E ele não deveria estar se sentindo estranho também, porque na verdade, tudo o que ele fez foi me lançar alguns olhares esquisitos e dizer alguns comentários meio malucos. Nós dois estávamos agindo estranhamente e, portanto, isso deveria ter cancelado a nossa estranheza, mas isso não aconteceu. Eu acho que até fez ficar pior.


Eu estava prestes a dizer algo sobre isso, fazer alguma piada sobre como nós dois estávamos sendo idiotas, ou fazer uma cara engraçada ou alguma coisa para acabar com a loucura do momento, quando, de repente, alguém fez isso por mim. Com aquele chamado familiar de “Ei”, Sirius apareceu diante de nós, sorrindo como um maníaco, com uma caneca vazia em uma mão e duas garrafas abertas de cerveja amanteigada na outra.


O que diabos ele iria aprontar agora?


“Nós fomos desafiados”, ele anunciou, seu sorriso de homem maluco focalizado em James. “Lynch e Carter acham que podem nos vencer. Você pode acreditar nisso?”.


“Te desafiaram a fazer o quê?”, eu perguntei, não muito certa se eu realmente queria saber, mas perguntando assim mesmo. Não importou muito no final, na verdade, já que Sirius escolheu me ignorar. Ele continuou falando, disfarçando tudo. James o ouviu um pouco incomodado e ficou lançando olhares furtivos-que-não-eram-assim-tão-furtivos-porque-eu-claramente-percebi para mim.


“Er, Padfoot”, ele tentou o interromper, cortando Sirius no meio da frase, me olhando de forma incisiva. “Talvez agora não seja – “.


“Ah, por favor”, Sirius zombou, tomando um gole de uma das garrafas que estava na sua mão esquerda. “Nós vamos esperar até que os primeiranistas saiam. Evans não vai se importar”.


“Não vou me importar com o quê?”, eu perguntei, exasperada.


“Com o nosso jogo”, Sirius respondeu simplesmente.


Eu quase o estrangulei naquele momento.


Que jogo?”, eu quase gritei, mas dessa vez eu olhei para James, porque eu claramente não estava recebendo respostas adequadas da pessoa maluca que era Sirius Black. “Do que vocês dois estão falando?”.


“Er...não é nada, na verdade”, James respondeu, coçando vagarosamente o sua cabeça. “Só...sabe...um rápido jogo de...er...”.


E, então, de repente, caiu a ficha.


Canecão.


As cervejas amanteigadas com sua cor levemente alterada.


Os olhares muito culpados.


Ah, não.


Canecão.


Eles queriam jogar canecão.


Só por cima do meu cadaver.


Só por cima do meu maldito cadaver!


“Vocês ficaram loucos?”, eu explodi, olhando furiosamente para os dois, mas principalmente para James porque eu não posso dizer que esperava algo diferente de Sirius. “Vocês estão completamente malucos?Vocês sabem o que McGonagall vai fazer se ela descobrir? Não. Não!”.


“Ah, por favor, Evans – “.


Vocês não vão ficar bêbados na minha frente!”.


Porque, claro, era isso que eles queriam fazer. Eles queriam jogar aquele jogo idiota – aquele em que pessoas jogam pequenas bolinhas em canecões de cervejas amanteigadas fortemente corrompidas e depois engolem tudo e ficam todos bêbados, o que na sociedade atual é, de alguma forma, considerado como diversão, e eles queriam fazer isso na minha frente.


Não. Isso não vai acontecer.


“Não é nada demais”, James tentou se justificar, mas claro que isso não era uma justificativa, porque para que seja uma justificativa, o argumento tem que ser lógico. Mas jogar canecãocertamente não era. “Ninguém realmente fica bêbado jogando canecão, Lily. A não ser que você jogue, tipo, uns quarenta e dois jogos”.


“Ou use uísque de fogo puro”, Sirius murmurou.


“O que nós não vamos usar”, James acrescentou rapidamente, e naquele momento eu não era a única a olhar furiosamente para Sirius Black. “Por favor”, ele disse de novo, se virando pra mim. “Se nós não começarmos, você sabe que outra pessoa vai começar. E aí nós não conseguiremos controlar”.


“Não se pode controlar a bebida”, eu murmurei com raiva. “Você é monitor-chefe, James. Você não deveria impedir esse tipo de coisa, não começar!”.


“Eu sei, mas – “.


“Mas o quê? Como você ainda pode dizer “mas”?”.


“Eu não sei. É só que – “.


“Você quer ficar bêbado”, eu terminei por ele, com raiva. “Você não consegue se divertir sem ter algum tipo de álcool no seu sistema e, portanto, precisa provar sua masculinidade engolindo não sei quantas cervejas amanteigadas alteradas a fim de provar seu...seu...eu não sei, que seu pau ainda funciona de forma adequada ou algo assim! Estou certa?”.


Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, apesar de não saber se era porque eles estavam arrependidos e se sentindo culpados por considerarem jogar canecão, ou se era porque eles estavam chocados demais para falar por causa do fato de eu ter acabado de gritar a palavra “pau”.


Mas eu acho que foi a segunda opção. Eu também me assustei bastante ao usar aquela palavra vulgar.


“Caramba!”, Sirius finalmente murmurou, parecendo um pouquinho irritado. “Quem meteu o pau na sua bunda, Evans? É só canecão.Eu pensei que você tivesse passado da fase de ser a santinha perpétua e conservadora?”.


“Eu não sou santinha nem conservadora!”.


“Então qual é grande problema?”.


Eu não deveria tê-lo deixado me atingir. Não deveria. Sirius pode ter estado certo da primeira vez – sim, algumas semanas atrás, eu posso ter parecido com uma santinha, um pouquinho conservadora, mas agora não. Agora não. Como ele se atreve a insinuar isso? Eu não era uma santinha conservadora. Eu não era. Eu só não queria uma repetição do episódio do quinto ano: ‘Mergulha, mergulha, bebe!”. Era assim tão errado? Mas mesmo assim eu sabia que eu não deveria ter deixado ele me atingir...ele atingiu. Atingiu mesmo. Porque, ao que parece, eu tenho um complexo do calcanhar de Aquiles bem grande em relação a minha santidade. Um comentário e bum, eu acredito na acusação. Porque, mesmo sabendo que era a coisa mais idiota do mundo e que nós iríamos nos encrencar feio se nós fôssemos pegos, eu comecei a hesitar de qualquer forma.


Já havia álcool na festa. Isso era evidente pelas garrafas de cerveja amanteigada nas mãos de Sirius. Eu podia tentar recolher todas e jogá-las na janela mais próxima, mas Merlin sabia que alguém, de alguma forma, encontraria outras e, então, eu acabaria passando a festa inteira sendo a monitora-chefe idiota que estava tentando acabar com a diversão de todos. E eu acho que James estava certo. Realmente levava um tempo até alguém ficar bêbado com cerveja amanteigada adulterada, e ninguém realmente bebe tanto assim durante o jogo de canecão, a não ser que você perca de forma impressionante ou algo assim, mas isso é bem difícil de acontecer.


Mas mesmo assim...


Eu não podia...


Ou talvez...


Ai, droga.


“Se eu ver”, eu comecei lentamente, já me odiando, “um jogo antes de cada um dos primeiranistas e segundanistas – e, quer saber de uma coisa, os terceiranistas também – estiverem na cama, eu juro a Merlin que eu mesma vou até a Mcgonall, entenderam?”.


Sirius deixou escapar um grito satisfeito. “Isso aí, isso aí, Evans!”, ele exclamou, sorrindo com maldade. Ele deu uma piscadinha. “Eu sabia que nós a tínhamos corrompido de forma adequada!”.


Eu já estava com nojo de mim.


Eu senti a mão de James no meu ombro e eu me virei pra ele, vendo-o sorrir também. “Eu fico aqui com você se você quiser”, ele disse, dando de ombros. “Você está certa. Eu sou monitor chefe. Eu provavelmente não deveria jogar”.


Ele estava dizendo uma coisa, mas seus olhos estavam dizendo outra completamente diferente. Era claro que ele queria jogar. Ele era James Potter! Até esse ano, ele nem mesmo teria esperado por uma permissão. Na verdade, ele provavelmente ele já estaria meio caminho andando para o mundo da tontura e tropeços nesse momento. Eu sabia que eu provavelmente deveria dizer para ele ficar, mas por algum motivo, eu não consegui fazer isso. Acabar com sua diversão, sua personalidade. Quero dizer, que tipo de James Potter ficava quieto quando tinha canecãopra jogar?


Nenhum tipo de James Potter.


Só Lily Evans.


“Vá”, eu disse, revirando os olhos para as suas patéticas tentativas de responsabilidade. “Vá antes que eu mude de idéia. Mas eu estou falando sério, James – não faça nada até mais tarde. Os alunos mais novos – “.


“Sim, sim”, Sirius interrompeu, impaciente. “Nós não vamos deixar ninguém ver. Nós temos que treinar de qualquer jeito. Vamos, Prongs. Hora de reciclar as suas habilidades”. Então, ele saiu, cantando algum tipo de música de bebida irlandesa bem alto. James riu, mas eu não consegui exibir a mesma diversão.


“Nós realmente te corrompemos, não foi?”, ele disse, ainda rindo um pouquinho. Ele bagunçou meu cabelo, o que o fez receber um bom olhar furioso porque agora que ele finalmente parou de bagunçar o próprio cabelo, ele de alguma forma começou a bagunçar o meu, o que era tudo, menos uma evolução. “Eu vou ficar de olho”, ele me assegurou, se levantando de seu lugar na escada. Ele me lançou um sorriso travesso, e depois se inclinou, como se fosse me contar um segredo. “Eu sou o melhor jogador de canecãoque essa escola já viu”, ele murmurou, ainda sorrindo. “Está tudo sob controle”.


“Claro”, eu murmurei, apesar do jeito que ele estava sorrindo, como um idiota sem cérebro, agindo quase como um Garoto Pomposo bobo, eu não consegui evitar sorrir um pouquinho. “Me encontre mais tarde, quando você estiver bêbado, ok?”.


“Claro”, James riu, antes dele mesmo sair, mas não da mesma maneira escandalosa que seu amigo.


Então, agora eu ainda estou aqui, pensando como é possível uma garota ser tão idiota sobre tantas coisas em um período de tempo tão curto. Não pode ser normal. Não pode ser normal mesmo.


Mas desde quando eu sou normal?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.