A santinha observadora

A santinha observadora



Capítulo 6 – A santinha observadora


Terça-feira, 16 de setembro, dormitório feminino do sétimo ano


Lily observadora: Dia 1


Observações totais: 0


Plano de quatro passos da Lily Evans para se tornar uma excelente observadora


PASSO NÚMERO UM: Observe o seu redor


Para se tornar um Excelente Observador, deve-se aprender a sempre observar o seu redor. O redor inclui todos os lugares, pessoas, objetos e OVNIs (coisas bem comuns no mundo mágico, apesar de não serem tão comum no dos trouxas).


PASSO NÚMERO DOIS: Aprender a estipular se uma determinada observação merece um exame mais detalhado ou não


Todos os observadores geniais são capazes de determinar se um certo assunto mudou/apareceu ou não. Observadores Geniais devem, então, decidir se determinado assunto merece uma observação mais detalhada. Para ser considerado um observador Genial, você deve ter essa característica decisiva.


PASSO NÚMERO TRÊS: Observe com atenção


Observadores Geniais são sempre capazes de reconhecer sujeitos interessantes e mudados. Uma vez que um O.G. acha que um sujeito merece um exame mais detalhado, eles então irão elaborar essas simples perguntas em suas cabeças geniais e que-pensam-rapidamente:


Qual é o sujeito?


Por que o sujeito mudou?


OU


Por que esse sujeito apareceu?


Essa mudança/aparecimento é útil? Se é, como essa mudança pode ser preservada?


Essa mudança/aparecimento é prejudicial? Se é, como isso pode ser detido, ou prevenido para que não aconteça de novo?


PASSO NÚMERO QUATRO: Entre em ação!


Utilizando as belas perguntas do Passo Número Três, O.G.s devem continuar a escolher o melhor curso de ação com suas novas informações obtidas.




Mais tarde, comendo um café-da-manhã atrasado no Salão Principal


Lily Observadora: Primeiro Dia


Observações totais: 1


Sabe, eu acho que eu sou uma observadora de besteiras nata. Sério. Eu realmente acho que eu sou. Quero dizer, eu sei que eu supostamente perdi alguma coisa grande e importante que todo mundo, menos eu, parece saber, mas obviamente não deve ser assim tão aparente porque os meus maravilhosos sentidos de observação não detectaram nada. E eles são bons. Meus sentidos de observação, quero dizer. Essa manhã, por exemplo, eu segui todos os meus passos bobos e fiz todas as coisas certas como eu deveria fazer e resultados suficientemente interessantes e recompessadores surgiram.


PASSO NÚMERO UM: Observar o meu redor.


Eu acordei cedo e resplandecente essa manhã, pronta e preparada para o meu primeiro dia como uma Observadora Genial. Eu entrei no Salão Principal com uma missão. Eu sabia o que eu tinha que fazer e, por Deus, eu iria fazer isso.


Caminhando rápido pelo corredor, prendendo um bocejo e tentando não esbarrar em nada, eu parei no limiar da entrada e comecei o trabalho. Movendo minha cabeça de um lado para o outro, estreitando meus olhos para enxergar melhor, eu dei uma boa e rápida olhada no lugar. Era uma tarefa um tanto difícil, claro, porque, normalmente, ninguém em seu estado normal olharia os estudantes de Hogwarts com tanta atenção assim de manhã tão cedo (infelizmente, nós não somos exatamente um dos grupos mais bonitos a essa hora), mas eu fiz isso sem a menor hesitação. Afinal de contas, Observadores Geniais têm que se acostumar a esse tipo de imagem horrível. Você não pode estar sempre observando as flores crescendo e as folhas caindo, sabe. Observadores Geniais observam tudo. O bom, o mal e o feio. E isso é exatamente o que nós, crianças de Hogwarts, somos em uma hora como essa – feios. Você pode ser a pessoa mais bonita, mais cheia de vida e mais mística no mundo inteiro, mas mesmo assim você não vai parecer muito encantadora as 6:30 da manhã. É assim que a vida funciona. De manhã bem cedo é a única hora do dia em que todo mundo é igual porque, mesmo que você se pareça e se sinta um lixo, com certeza a pessoa perto de você também sente o mesmo, se não pior, então ei, todo mundo pode simplesmente ser amigo.


Mas eu estou mudando de assunto. Então, de qualquer modo, eu estou olhando pelo Salão Principal, tentando não notar todas as coisas nojentas ocorrendo ao meu redor (primeiranistas dormindo em cima de seus pratos, um casal de quintanistas fazendo experiências com seus ovos e mingau, etc) e depois de decidir que não, nada de extrema importância estava acontecendo, eu fui em direção a mesa da Grifiniória para me sentar. E lá estava eu, me preparando para me sentar no banco, quando eu percebo quem está bem na minha frente: um garotinho infeliz com um olhar muito cansado – mas ainda muito capaz de olhar furiosamente.


Marcus Hillpitt.


PASSO NÚMERO DOIS: Determinando.


Então, enquanto eu me sentava, uma perna por cima do banco, a outra atrás, eu olhei curiosamemte para o quartanista inocente que estava na minha frente, me olhando com uma ferocidade que não poderia ser legal em uma hora dessas. E você sabe o que eu descobri? Que isso me incomodava bastante. O seu olhar, quero dizer. Ninguém gosta de receber olhares furiosos, e muito menos com a intensidade com a qual Marcus estava atualmente me olhando. Não era um sentimento agradável, saber que esse garoto antes inocente tinha, de alguma forma, adquirido uma rixa pessoal contra mim bastante detestável. E, de repente, eu percebi que não havia nenhum motivo para prolongar o ódio desse garoto contra mim. Quero dizer, gostando ou não, eu sou monitora-chefe agora, e apesar de eu ter bastante certeza de que Dumbledore estava bêbado quando ele escolheu os monitores-chefe este ano, por enquanto, eu tinha que ser um modelo exemplar. Modelos exemplares simplesmente não possuem quartanistas raivosos com raiva deles. Eles simplesmente não têm.


Então, foi aí que eu decidi que era uma boa hora para corrigir certos erros de uma vez por todas.


“Oi, Marcus”, eu disse, com uma voz que eu esperava que tivesse sido feliz e com uma voz de você-deveria-simplesmente-parar-de-me-odiar-porque-assim-nós-evitaremos-muitas-confusões.


Eu esperei alguns segundos, observando Marcus enquanto ele olhava em minha direção de forma indiferente. Ou ele não entendeu a felicidade direcionada a ele, ou ele simplesmente não se importava com o fato de que eu estava tentando corrigir certos erros, porque ele me ignorou. Ele simplesmente resmungou um pouco e sentou. Isso, sabe, foi realmente um aborrecimento. Quero dizer, lá estava eu, tentando ser legal e ele estava apenas me ignorando como se...


E aí eu me lembrei.


Lentamente, tudo isso começou a ter sentido.


Não há nenhum mistério em ele estar sendo tão hostil! Se alguma garota tivesse arruinado o meu projeto de-fim-de-ano-letivo – mesmo que tivesse sido por acidente – e nunca, realmente tivesse pedido desculpas, eu também iria odiá-la!


É, é isso mesmo. De repente, eu me lembrei que eu nunca tinha realmente, verdadeiramente e honestamente pedido desculpas ao Marcus! Bem, tenho certeza que eu lamentei e gemi algumas desculpas enquanto eu estava deitada na Ala Hospitalar, tratando todas aquelas mordidas horríveis, enquanto Hillpitt estava berrando e gritando, mas eu duvido muito que ele se lembre de alguma coisa. Além disso, não ia valer de qualquer jeito, porque eu tenho plena certeza de que eu não quis dizer nenhuma delas.


PASSO NÚMERO TRÊS: Observando com atenção.


Qual é o sujeito?


O sujeito é Marcus Hillpitt.


2) Por que o sujeito mudou?


Nada mudou. Exceto, talvez, suas roupas, mas elas não contam. Ele ainda me odeia. Assim como ontem...e antes de ontem.


3)Essa mudança/aparecimento é útil?


Ser odiada não é útil. Não é nada últil.


4) Se é, como essa mudança pode ser preservada?


Eu não quero preservar o ódio do Sr. Hillpitt.


5) Essa mudança/aparecimento é prejudicial?


Prejudicial? Sim, eu acredito que seja prejudicial. Afinal de contas, ser odiada estraga minha reputação como monitora-chefe. Isso não vai dar.


6) Se é, como isso pode ser detido, ou prevenido para que não aconteça de novo?


Eu posso pedir desculpas – apropriadamente- para que Sr. Hillpitt não me odeie.


PASSO NÚMERO QUATRO: Entrando em ação.


“Escuta, Marcus”, eu comecei, me sentando e tentando chamar sua atenção. “Eu sei que eu estou inacreditavelmente atrasada e que isso pode parecer, talvez, um pouco inesperado no momento, mas eu apenas queria te pedir desculpas por causa da sua planta no ano letivo passado. Eu, sinceramente, não tive a intenção de derrubá-la ou algo do tipo, mas mesmo assim eu deveria ter prestado atenção no que eu estava fazendo. Me desculpe”.


Eu não achei necessário fazer um discurso de “garoto-idiota-a-estufa-número-quatro-está-amaldiçoada-e-não-é-adequada-para-projetos-importantes”, já que eu estava tentando pedir desculpas e não achei que esse discurso me ajudaria nessa situação, mas eu estava pensando nisso. Eu também não vi sentido em contar a ele que, naquela hora, eu estava tentando dar uma boa olhada no Amos Diggory porque meus hormônios adolescentes gostam de cobiçá-lo, mas eu estava pensando nisso também. Ser clara e simples. É sempre o melhor nesse tipo de situação.


Marcus ficou parado por um momento, me olhando, me contemplando, e possivelmente listando todas as coisas horríveis e terríveis com as quais ele poderia me chantagear por causa do complexo de culpa que eu tenho por causa de sua planta idiota e então...ele acenou com a cabeça.


“Tudo bem”, ele me disse, dando de ombros. “Agora, você pode, por favor, me passar os ovos mexidos? Eu estou morrendo de fome”.


Missão: Cumprida.




Mais tarde, Defesa Contra as Artes das Trevas


Lily Observadora: Primeiro Dia


Observações totais: 4


Vocês nunca vão adivinhar o que eu fiz hoje de manhã no café! – LE


Você provavelmente está certa. – EV


Deixa eu adivinhar...você finalmente criou coragem e agarrou o Diggory inconscientemente? – GR


Hum, não.


Sua boba.


Cala a boca. Eu estou tentando contar pra vocês o meu grande feito!


Por favor, compatilhe conosco, Lily.


Está bem. Então, essa manhã eu acordei, como vocês sabem, super cedo, e corri para tomar o café. Mas quando eu cheguei lá, vocês nunca vão adivinhar quem estava parado bem na minha frente...


O Ministro da Magia?


Aquele garoto incrível e adorável que nós conhecemos no verão passado no show da Varinha Mágica?


Não! Marcus Hillpitt!


Quem?


O garoto cuja planta quase te matou?


Au contraire, amiga. Eu quase matei a PLANTA.


Espera um segundo. Vocês estão falando sobre o Gerânio com garras da Estufa 4?


Sim, mas –


Lily, aquela planta quase te decapitou! Por que você está dizendo ‘Eu quase matei a PLANTA’? Você ficou a dois segundos de ser cortada em picadinhos!


Não fiquei não! E, além disso, fui eu que esbarrei nela. Mas nós estamos fugindo do assunto. Então, de qualquer forma, eu olhei pra ele, e ele olhou pra mim furiosamente, e aí, de repente, eu tive uma...er...uma epifania! E –


Uma epifania?


Por causa de um quartanista esquelético?


Sim!


Oh, Merlin, Lily.


Estou falando sério!


Então, por favor, compartilhe conosco.


Está bem. Então, como eu estava dizendo, eu estava o observando, e então eu percebi que ele não precisava me olhar furiosamente!


É claro que ele não precisava te olhar furiosamente! Você não fez nada de errado!


Eu matei o projeto dele!


Você, definitivamente, ficou mais marcada do que a planta vermelha, Lily.


Vocês duas, definitivamente, não estão entendendo.


Bem, então você pode se apressar um pouquinho, porque eu acho que o Professor Crandy está pronto para nos atacar.


Ele realmente parece um pouquinho nervoso hoje, né?


Eu acho que pode ser porque nós estamos jogando bolinhas de pergaminho umas nas outras, quando nós deveríamos estar fazendo anotações.


Quer saber de uma coisa, DEIXA PRA LÁ. Se vocês não querem saber da minha epifania, então TUDO BEM. Façam as malditas anotações. Vocês acabaram de perder uma amiga.


Você é tão melodramática.


Acabei de acertar um papel na sua orelha.


Eu odeio vocês.




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Quando Emma e Grace finalmente pararam de agir como idiotas e me deixaram explicar sobre a minha epifania – assim como sobre o meu Esquema da Lily Observadora – elas duas acharam que eu estava maluca. Talvez eu esteja, mas, pelo menos, ninguém pode me acusar de não perceber mais as coisas, certo?


Ser maluca é uma coisa inconstante, não acha?




Ainda mais tarde, Salão Comunal da Grifinória


Lily Observadora: Primeiro Dia


Observações Totais: 8


Eu realmente odeio a McGonagall às vezes. Quero dizer, sério, eu pensei que ela gostava de mim? Da última vez que eu chequei, eu era um de seus estudantes especiais – daqueles que ela dá pontos mesmo quando eles são um fracasso completo. O que aconteceu com aquele nosso laço especial que dividíamos, Professora? Como você pode fingir que me ama em um dia e depois se virar e me designar uma maldita tarefa impossível no outro? Aonde nosso amor foi? O que aconteceu com ele? Por que você me odeia agora?


Ela está fazendo isso de propósito. Eu sei. É algum tipo de punição duvidosa dada a mim por não ter contado sobre os meus problemas com o Potter – ou, como eu gosto de chamá-lo, Sr. Pior Professor Particular do Mundo. Apesar do fato de eu não estar falando com ele não ser culpa minha, mas dele, McGonagall obviamente parece achar a situação bastante cômica!


É, bem, eu não. Isso não é nada engraçado. É cruel, é mau e é...ugh.


De qualquer forma, o que há com Emma, dizendo que ela não vai me ajudar? Psh! Quando uma garota não tira alguns minutos do seu precioso dia para ajudar sua melhor amiga com sua tarefa, você sabe que há algo de errado – ou então, essa amiga já citada acabou de adquirir um garoto-brinquedo, mas de qualquer forma, trocar AMIGAS POR GAROTOS!!


Talvez eu desça até a o Salão Comunal e veja quem eu posso subornar em troca de ajuda. Eu acho que eu tenho um pouco de chocolate por aqui em algum lugar...




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Primeiro Dia


Observações Totais: 9


Quando eu desci até o Salão Comunal, eu fiquei muito irritada por descobrir que só havia um número limitado de setimanistas na sala. Entre as multidões de primeiranistas conversando e quintanistas estudando, havia apenas dois grupos de setimanistas que eu pude ver. Do lado mais longe da sala, sentada perto da janela com um grupinho, Elisabeth Saunders e seu pessoal de peruas “peruentas” estavam lendo revistas e provavelmente fofocando sobre coisas que não deviam ser nem remotamente interessantes e provavavelmente apenas verdade. Perto do fogo, metade dos marotos – Sirius e Peter, pra ser mais exata – estavam sentados em um dos sofás maiores, livros abertos e penas se mexendo. Eu suspirei, arrumei o livro de Transfiguração em minhas mãos e fiz a escolha mais óbvia: caminhei em direção ao sofá.


“Ei”, eu disse, lançando um sorriso para os dois garotos. “Se sentindo caridosos hoje?”.


Sirius e Pedro trocaram olhares, obviamente se perguntando que tipo de ação maluca eu iria pedir a eles com esse tipo de cumprimento direto. E sério, quando você pensa sobre o que eu poderia ter pedido a eles, me ajudar com as minhas tarefas realmente não era grande coisa.


“Depende”, Peter finalmente respondeu, depois que ele e Sirius tinham, de alguma forma, se comunicado silenciosamente e tinham chegado a algum tipo de conclusão em relação ao meu cumprimento.


“De que?”, eu perguntei.


“Se você está disposta ou não a explicar esse maldito feitiço absurdo”, Sirius respondeu secamente, acenando na direção de seu livro aberto e de seu pergaminho praticamente em branco. Eu quase ri da minha boa sorte. Isso era perfeito.


“Se vocês me ajudarem com esse lixo”, eu disse, apontando para o livro de Transfiguração em minhas mãos, “eu ajudo vocês com Feitiços”.


Nem Sirius, nem Peter perderam um segundo.


“Sente-se, Evans”, Sirius respondeu automaticamente. Eu sorri. Obrigada, Merlin.


Depois que eu me sentei perto do Peter no sofá, eu abri meu livro de Transfiguração e tirei um pedaço de pergaminho. Houve uma pequena pausa silenciosa antes que Peter falasse curiosamente.


“Não que eu esteja reclamando”, ele começou, seu olhar me questionando, “mas você não deveria estar perguntando isso pro James?”.


Eu quase deixei sair um gemido com a pergunta.


Eu sabia que era bom demais pra ser verdade.


“Ei, é verdade”, Sirius também começou. “Prongs não é o seu professor particular?”.


Por um segundo, eu considerei não responder, pensando que se eu não respondesse, eles iam, de alguma forma, esquecer o fato de que eles tinham me feito essa pergunta e abandonar o assunto, mas com apenas uma olhadinha para os olhares curiosos e interessados dos garotos, eu sabia que não tinha nenhuma esperança de que isso acontecesse. Eu deixei sair um suspiro de frustração e olhei para os garotos, deixando-os notar que eu estava qualquer coisa, menos satisfeita com a pergunta. De qualquer forma, qual é o problema? Por que as pessoas têm que tornar tudo tão difícil toda hora? Nós não poderíamos simplesmente fazer nossas tarefas, trabalhar direito e depois terminar tudo? Nós realmente precisamos perguntar tudo, droga?


Obviamente nós precisamos.


Idiotas...


“Se vocês estão falando do Potter”, eu respondi com uma voz tensa, vagamente reconhecendo os apelidos que os quatro idiotas usavam uns com os outros, “então, sim...em parte”.


“Em parte?”, Sirius me amolou. “O que você quer dizer com ‘em parte’? Apenas a parte de cima dele é seu professor? Apenas um braço e uma perna?”.


Tecnicamente ele é meu professor”, eu respondi de mau humor. “Mas ele não é de verdade. Pelo menos, não agora”.


“Então, amanhã?”, Peter perguntou, brincando como seu amigo. “Ou só nas quartas e nas sextas? Ou, talvez, só das nove até às cinco?”.


Eu os olhei furiosamente, enquanto eles começavam a rir muito, rindo de suas próprias piadas, o que era realmente muito patético se você for pensar nisso. E isso é o que eles são. Patéticos. Eles e seus brilhantes sensos de humor.


“Bem, talvez não tivesse que ser um detalhe técnico”, eu respondi com raiva, ignorando suas risadas e deixando a minha raiva provocada por seus questionamentos aparecer, “se o amigo idiota de vocês crescesse e parasse de me olhar furiosamente toda hora, como se eu tivesse acabado de matar o seu maldito bichinho de estimação ou algo assim!”.


Eu odiei o fato de eu ter deixado a minha raiva levar a melhor. Eu odiei ainda mais por eu ter tentando controlá-la. O que há com esses garotos me deixando nervosa? Eles se esforçam pra isso ou o quê? Eles simplesmente acordam e decidem, ‘Hoje eu vou ver o quão horrível eu posso deixar o dia da Lily Evans’? Eu estou realmente achando que sim.


Tentei me recompor e tentei retornar o meu rosto para a sua cor normal não-vermelha (porque eu tenho certeza que ele estava extremante vermelho naquela altura), e não foi até eu olhar para Sirius e Peter de novo alguns segundos depois, que eu percebi que eles tinham parado de rir. Na verdade, eles estavam bem longe de rir. Na verdade, eles estavam me olhando quase como se eu tivesse ganhado outra cabeça.


“O que foi?”, eu disse com raiva, me mexendo desconfortavelmente diante de seus olhares esquisitos.


“Caralho!”, Sirius sorriu. “Você...você falou palavrão, Evans!”.


Revirei os olhos e soltei o ar aborrecidamente, um pouco aliviada por não ter sido algo como, “Caralho! Suas roupas sumiram de repente!”, ou algo parecido. “É claro que eu disse um palavrão”, eu zombei, “Todo mundo diz palavrões!”.


“Mas você nunca diz palavrões”, Pedro afirmou, um leve pavor ainda em seu rosto.


“Do que, por Merlin, vocês estão falando?”, eu respondi com raiva, sem ter a menor idéia do que eles estavam falando, e odiando o fato de que eu não sabia.


Os dois garotos trocaram olhares, tendo mais uma de suas conversas silenciosas, das quais eu nunca poderei fazer parte. Alguns segundos depois, Sirius se virou para mim, coçando, com distração, a parte de trás da cabeça e disse, “Bem – não entenda mal nem nada, Evans – mas você meio que tem a reputação de – como eu digo isso? De...er...”.


“Monitora conservadora?”, Peter propôs.


Minha boca se abriu.


“Na verdade”, Sirius continuou, ignorando completamente o meu olhar chocado, “eu estava procurando algo mais ou menos como a santa sabe-tudo – “.


A O QUÊ?


Como é que é?!”, eu gritei, incapaz de manter as minhas emoções caladas por nem mais um segundo. “Do quê você acabou de me chamar?”.


“Bem, não é nada pessoal, Lily”, Peter me garantiu imediatamente, agindo como se realmente existisse um jeito disso não ser pessoal. “É só que...você é realmente inteligente, e também é monitora-chefe – “.


Inteligente?”, eu exclamei. “No caso de vocês não terem percebido, eu vim até aqui para pedir ajuda com as minhas tarefas. E como vocês dois tão educadamente me lembraram, eu tenho um professor particular, porque eu sou um fracasso! Como, por Merlin, isso pode ser classificado como inteligente?!”.


“Transfiguração é apenas uma matéria”, Sirius insistiu com um aceno desatento. “E, além disso, você não é um fracasso. Você só precisa de um pouquinho de...ajuda. E você é perfeitamente incrível em todas as outras matérias”.


Eu encarei os dois, completamnete espantada e totalmente sem palavras. Eu ignorei o pequeno elogio espontâneo, porque eu sabia que ele tinha dito aquilo apenas para suavizar a desgraça do seu comentário anterior. Quero dizer, os dois estavam completamente malucos? Eu? Inteligente? Eles têm que estar brincando! Quero dizer, eu sou incrível em Feitiços, isso eu posso dizer sem modéstia, mas eu sou um fracasso em Transfiguração, eu nunca presto atenção em Herbologia, eu invento os meus deveres de Adivinhação. E Runas Antigas? Apenas uma desculpa para eu estar na mesma sala que Amos. Francamente! Isso se parece com uma programação de uma pessoa inteligente?


Não, isso com certeza não se parece!


Mas isso não era o que estava realmente me incomodando. O fato de eles estarem dizendo que eu sou inteligente, quero dizer. Porque, sério. E daí? Se eles acham que eu sou inteligente, mais poder para mim. Eu realmente deveria corrigi-los? É tão ruim assim pensarem que você é inteligente, mesmo quando você é tão idiota, que chega a ser assustador? Não, na verdade, não é. E, tudo bem, sabe-tudo é um pouco depreciativo, mas não é melhor saber tudo do que não saber nada? Então, essa parte eu poderia agüentar. Na verdade, eu acho que isso não me incomodaria, se não fosse pela parte que Sirius disse antes de sabe-tudo...


Eu? Uma santa? O quê?


“E esse negócio de santa?”, eu perguntei com uma voz metade-ofendida, metade-angustiada. “O que que tem? Vocês realmente acham que eu sou uma santinha?”.


Os dois garotos ficaram imediatamente incomodados com a minha pergunta. Peter começou a tirar coisas de suas vestes e Sirius começou a coçar sua cabeça de novo. Pude sentir meu coração morrendo em meu peito. Eu gemi, me afundando no sofá, cobrindo meu rosto corado em minhas mãos.


“Bem, não é tão ruim assim, Lily”, Peter disse de modo consolador, apesar de ser ruim. “Pelo menos as pessoas não pensam que você é uma piranhaou algo do tipo, certo?”.


Eu gemi de novo, afudando ainda mais minha cabeça em minhas mãos. A parte patética disso tudo é que eu não estava muito certa de que pensarem que você é uma piranha é pior do que pensarem que você é uma santa. Pelo menos piranhas se divertem um pouco. E elas usam roupas bem atraentes também. Sem mencionar que elas têm encontros impuros com garotos atraentes como Amos Diggory...


ESSAS DIVAGAÇÕES SE PARECEM COM PENSAMENTOS DE UMA SANTA?


“Mas eu não entendo”, eu murmurei, retirando minhas mãos do meu rosto ainda corado. “E daí que eu não falo palavrões? Muitas pessoas também não falam e ninguém pensa que elas são santas”.


“Bem, pense sobre isso criticamente, Evans”, Sirius respondeu, colocando sua mão em meu ombro, sem se importar em esconder seu puro divertimento em sua voz falsamente séria. “Você é uma garota bonita, certo? Você é inteligente, legal quando não está gritando, sabe, as regras. Mas, quando foi a última vez que você teve um namorado? Alguns encontros idiotas em Hogsmeade que não vão a lugar nenhum é praticamente a sua especialidade”.


“Então, você está dizendo que só porque eu não estou namorando ninguém, todo mundo pensa que eu sou uma santa?”.


Sirius sorriu. “Eu diria que é mais porque você não está pegando ninguém, mas é realmente a mesma coisa esses dias, não?”.


Eu peguei o meu livro e bati com ele em sua cabeça. Peter caiu na gargalhada.


“Ai!”, Sirius exclamou, esfregando sua cabeça e lançando um olhar em minha direção. “Viu? É disso que eu estou falando! Um minúsculo comentário sujo e você já vai logo soltando os cachorros!”.


“Eu não soltei os cachorros!”, eu protestei, imediatamente percebendo o meu erro. “Eu só...é...não foi...”.


Sirius me lançou um olhar conhecido, enquanto Peter começou a rir de novo, dessa vez provavelmente por causa da minha expressão quando eu percebi tudo. Eu era um pouco parecida com uma santa, não? Pelo menos, é isso que eu devo parecer para todo mundo. Eu nunca falo palavrão, a não ser aqui ou com Grace e Emma, e ninguém além delas duas sabem sobre minhas fantasias vulgares em relação ao Amos, e quando você exclui tudo isso...


Oh, Merlin. Totalmente santa.


Isso não é bom. Não é nada bom.


Para não arriscar deixar o meu rosto ainda mais vermelho e possivelmente ficar desse jeito pra sempre, mudamos de assunto e começamos a trabalhar. Eu tentei me concentrar no que eles estavam dizendo, mas eu não conseguia tirar a nossa conversa da cabeça. Lentamente, tudo começou a fazer sentido. Não me admira que Dumbledore tenha me escolhido como monitora-chefe. Quem não ia querer escolher uma monitora-chefe intelegente e que claramente-não-vai-agarrar-o-monitor-chefe? Eu certamente iria. Haveria muito menos drama desse jeito.


Isso é horrível. Isso é terrível. Eu acho que eu vou chorar.


Observação #9) Pessoas me acusaram injustamente de ser uma santinha sabe-tudo.




Muito, muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Primeiro Dia


Observações Totais: 9


Eu tenho tentado dormir por meia-hora, mas toda vez que eu fecho os meus olhos, eu me lembro da conversa.


Como as pessoas podem pensar que eu sou uma santa?


Eu não sou. Eu realmente não sou. Quero dizer, tudo bem, então eu nunca, realmente, fiz nada como...aquilo, mas não é por falta de querer. Eu quero. Com a pessoa certa. E na hora certa. Não é um crime não querer agarrar todo garoto com quem eu tenho um encontro, é? Porque, sério, eu já saí com uns bem horríveis. Se esperassem que eu agarrasse cada um deles, eu me mataria. Mas isso não significa que eu seja uma santa. Eu pularia em cima do Amos Diggory em 0.2 segundos se me dessem uma chance. Nenhuma santa que eu conheço faria isso.


Eu tenho que fazer alguma coisa a respeito disso. Eu tenho que fazer alguma coisa que faça todo mundo acreditar que sua monitora-chefe não é uma santa. Ela é uma garota normal, sem vergonha e não-santa de dezessete anos de idade que fala palavrões como todo mundo e que também tem uma mente suja como todo mundo.


Agora, eu só tenho que descobrir uma maneira de fazer isso.


Eu, Lily Evans, tenho que, oficialmente, me “des-santificar”.


E eu acho que eu sei uma maneira de fazer isso.


Observação #10) Missão Des-Santificação Começa Amanhã.




Quarta-feira, 17 de setembro, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Segundo Dia


Observações Totais: 11


Missão Des-Santificação: Pronta pra Começar


O mundo parece estar favorável para a Missão Des-Santificação. Sério. Eu acho que está. Quero dizer, tem que estar, porque não existe outro jeito de explicar tudo isso. Obviamente, teve que lutar bastante contra meu carma ruim e todas as forças da natureza que geralmente fazem da minha vida um inferno, porque eu acordei essa manhã com alguns benefícios muito incomuns – apesar de serem muito legais – que irão esplendidamente bem com o plano que eu tenho em mente.


Observação #11) Meu cabelo está tendo um dia completamente fabuloso.


Estou falando sério. Eu acordei essa manhã temendo um pouco o início da Missão Des-Santificação – sabendo que provavelmente iria fracassar, mas também consciente de que eu não tinha outra escolha a não ser continuar com ela – e entrei no banheiro para fazer a minha diária rotina matinal (escovar os dentes, lavar o rosto, pentear o cabelo, etc). Bem, eu escovei os dentes, lavei meu rosto, e fiz todas essas coisas matinais, mas quando eu tirei meu cabelo do já acabado rabo-de-cavalo e comecei a penteá-lo, ele não começou a frisar de repente e a ficar todo enrolado/liso/não-consegui-decidir-então-escolhi-os dois como ele sempre faz. Na verdade, ele ficou bem...bonito. Sério. Quero dizer, claro, ainda havia algumas mexas de cabelo que resolveram se enrolar por acaso ou permanecerem bem lisas, mas a maioria delas permaneceu em lindas ondas. Ondas muito bonitas. Isso é incrível. Sem mencionar que isso é muito conveniente para a Missão Des-santificação, porque agora eu posso deixá-lo solto e todo sexy. E, ainda melhor: eu tenho Runas Antigas hoje, PRIMEIRA AULA, então Amos vai ver o meu cabelo em toda a sua bonita e ondeante glória.


Portanto, é com meu lindo e ondulante cabelo e com o sorriso antecipado de Amos que a Missão Des-santificação irá começar, como se segue:


Missão Des-Santificação:


Três Passos Simples Para Se Des-Santificar


Passo Número Um) Maquear-se bem


Junto com meu cabelo bastante conveniente, eu, na verdade, arranjei um tempo do meu horário ocupado e coloquei maquiagem no meu rosto. Foi um pouquinho estranho no início, porque eu não sabia a quantidade, mas eu fiz o meu melhor. As primeiras tentativas ficaram muito berrantes, então eu tive que refazer umas sete vezes, mas eu acho que ficou bastante decente (ou, o mais decente que poderia se esperar de mim, de qualquer forma). Eu não coloquei muita maquiagem porque eu descobri que existe uma linha estreita entre se des-santificar e se tornar uma piranha, mas dá pra saber a diferença. E é uma boa diferença. Pelo menos, eu espero que seja.


Passo Número Dois) Pressionando os limites


Eu descartei minhas vestes normais da escola e vesti só meu uniforme. Minha saia está – pode contar – não uma, mas duas polegadas menor do que ela esteve em toda a minha vida. Eu pareço com um clone total da Elisabeth Saunders e eu estou adorando isso. Eu não só diminuí o tamanho da minha saia, como também desabotoei o primeiro botão da minha blusa, deixando aparecer um pouquinho da pele do pescoço (eu não tenho coragem suficiente para desabotoar mais algum. Ou peito suficiente). Pressionar os limites é tão incrível.


Passo Número Três) Falar muitos palavrões


É isso mesmo. Já se foram os dias em que palavras como ‘maldito’, ‘foda-se’ e ‘bosta’ me intimidavam! Agora eu sou uma máquina de palavrões grande e velha! Bem, quero dizer, eu vou ser uma máquina de palavrões grande e velha quando eu tiver uma chance. Por agora, eu apenas estou praticando dizê-los para o espelho. Sabe, assim vai ficar fácil quando eu realmente começar a fazer isso.


Cuidado mundo. Lily Evans agora está pronta para a Des-Santificação.




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Segundo Dia


Observações Totais: 13


Missão Des-Santificação acabou de começar


Missão Des-Santificação: Primeira Reação – Grace e Emma


“Lily, você está usando maquiagem?”.


“Você está usando o seu cabelo solto?”.


“Você está mesmo usando uma saia?”.


Um passo fora do banheiro e fui imediatamente atacada. Missão Des-Santificação começou oficialmente.


Eu joguei meu cabelo lindo, legal e ondulante por cima do meu ombro e andei até a minha cama, onde Grace Emma estavam congeladas. “Ah, se manda, vocês duas”, eu disse. “É só uma merda de experiência”.


Silêncio.


O que você acabou de falar?”, Emma perguntou.


Eu olhei pra ela casualmente, mentalmente transpirando que nem uma louca, mas mantendo uma disposição externa calma e controlada.


“Eu disse que é apenas uma experiência”, eu respondi com um dar de ombros. “Bem, mais ou menos, de qualquer forma”.


“Não”, Emma respondeu imediatamente, se aproximando, me examinando lentamente. “Antes de experiência, o que você disse?”.


Eu engoli em seco, me preparando para dizer aquilo de novo, esperando que eu pudesse dizer sem gaguejar que nem uma idiota. No entanto, quando eu ia abrir minha boca, a risada insana da Grace me interrompeu, imediatamente quebrando a tensão do quarto e me impedindo de continuar.


“E-ela...ela...”, Grace gaguejou por entre suas risadas, segurando seu estômago com uma irrefreável alegria. “Ela disse merda!”.


Eu abri um sorriso e acenei com a cabeça. É isso mesmo. Eu disse merda! Merda, merda, merda, merda, merda!


Uau. Talvez eu não esteja tão pronta assim pra isso ainda.


Grace deu uma batidinha no meu ombro. “Bem-vinda ao mundo da profanação, Lil!”.


Eu ri junto com Grace, acenando para ela e me virando na direção de Emma, mas ela não parecia achar nada disso engraçado. Ela ainda estava me observando de forma totalmente suspeita – sabe, quase como se eu fosse outra pessoa. Mas eu não a culpo, claro. Quero dizer, eu parecia outra pessoa, eu estava agindo como outra pessoa, eu estava falando como outra pessoa...se eu não fosse eu, e se eu não estivesse perfeitamente ciente da Missão de Des-Santificação, eu iria pensar totalmente que eu não era eu. Eu iria supor que aquilo era poção polissuco e imediatamente mandaria a Falsa-Lily para o chão. Por que ninguém está supondo? Por que ninguém pulou em cima de mim ainda? Eu poderia ser um bruxo das trevas, me preparando para matar cada e qualquer pessoa em Hogwarts uma por uma! Por que elas estão simplesmente me olhando? Se eu realmente fosse um bruxo das trevas, elas e seus traseiros confiantes e imóveis estariam na metade do caminho para o submundo nesse momento!


Percebe? É por isso que nenhuma delas poderia ser auror. Elas não estão pensando. Bem, na verdade, elas estão pensando, eu acho, porque eu tenho certeza que Emma está pensando em pular em cima de mim, mas ela não está se movendo, e é isso que conta. É por isso que eu vou ser uma auror decente. Eu sou desconfiada por natureza. Eu suponho e depois eu ataco. Mesmo que a pessoa seja inocente, não tem problema. Pelo menos, depois você pode simplesmente não se preocupar e dizer a eles que você estava apenas fazendo o seu trabalho. Isso seria fabuloso. Principalmente, se você ver uma pessoa como a Elisabeth Saunders andando pela rua. Você poderia totalmente atacá-la, começar a puchar o cabelo dela e a gritar coisas rudes e obscenas para ela, e uma vez que você tiver acabado, levantar, tirar a sujeira dos seus ombros e pedir desculpas, dizendo: “Desculpe, madame, só estou fazendo meu trabalho”.


Aurores são tão geniais.


“É melhor você se explicar, Evans, ou então você não sairá desse dormitório!”, Emma me repreendeu, sacudindo seu dedo para mim.


Eu disse as duas que tudo seria revelado na hora certa. Emma me olhou furiosamente. Grace apenas riu.


Observação #12) Nem Grace, nem Emma seriam aurores muito boas.


Observação #13) Também, tanto Grace quanto Emma podem facilmente ficarem nervosas ou caírem na gargalhada por causa de saias mais curtas, cabelo bonito e um pouquinho de profanação.




Mais tarde, Café-da-manhã no Salão Principal


Lily Observadora: Segundo Dia


Observações Totais: 13


Missão Des-Santificação Continua


Missão Des-Santificação: Segunda Reação: Os marotos


Quando estávamos descendo para o café-da-manhã, Grace e Emma ainda estavam tentando me persuadir a contar sobre a Missão Des-Santificação. Claro que eu resisti bastante bem, dizendo ‘foda-se’ e dizendo para elas ‘não se preocuparem tanto com essa merda’. Foi uma tremenda confusão. Pelo menos foi pra mim, que ri durante a coisa toda. Grace também riu bastante, mas eu acho que Emma está completamente furiosa comigo. Mas eu realmente não sei o porquê. É só um pouquinho de maquiagem e um pouquinho a mais de perna. Não é como se eu estivesse andando pela rua pelada ou algo do tipo.


Quando eu entrei no Salão Principal, eu estava meio que esperando que todo o barulho parasse e que todo mundo parasse imediatamente de fazer qualquer coisa que eles estivessem fazendo para que, assim, eles pudessem olhar fixamente para a sua nova monitora-chefe não-santa. Mas é claro que eles não fizeram isso. Afinal de contas, isso não era mais um filme da Audrey Hepburn, mas sim um dia da vida da Lily Evans, e isso nunca aconteceria comigo. No entanto, eu consegui ganhar a atenção de um certo grupo de garotos setimanistas que estava parado alguns passos longe da porta pela qual nós tínhamos acabado de entrar.


E, enquanto o resto do povo pode não ter percebido minha nova e melhorada aparência, os marotos certamente perceberam.


“Ei”, Sirius me chamou, rindo e acenando com a mão. Eu, Grace e Emma andamos até onde os quatro estavam sentados.


“Bom dia, cavalheiros”, eu disse, lhes lançando um sorriso e jogando meu cabelo em-dia-bom sobre os meus ombros, um gesto que eu estava começando a gostar. Tanto Sirius quanto Peter estavam sorrindo, totalmente cientes do porquê dessa saia mais curta, do porquê dessa maquiagem, do porquê do botão aberto e do porquê desse jeito parecido com a Elisabeth Saunders. Os outros dois, no entanto, tiveram uma reação levemente diferente. Remus ergueu suas sobrancelhas, me observando com um olhar incerto, enquanto Potter tirou um tempinho do seu estilo de vida eu-vou-ficar-com-raiva e olhar furiosamente e me olhou fixamente com uma cara que parecia metade-surpreendida e metade-doente. Eu sorri. Esse plano era tão completamente genial.


“Ora,ora,ora”, Sirius disse, lançando a minha saia e a mim um rápido olhar. “Eu devo dizer que você não está parecendo nada com uma santa hoje, Evans. Alguma ocasião especial?”.


Eu abri um sorriso, o olhando diretamente nos olhos. “Ah, foda-se, Black”, eu disse a ele, minha voz sem tremer nenhuma vez. “Eu tenho que tomar café-da-manhã, se você não se importa. Te vejo na aula”.


Então, eu simplesmente fui embora, deixando para trás dois cavalheiros impressionados e outros dois que estavam em completa histeria, rindo tão alto quanto um casal de loucos no St. Mungos.


“É uma aposta”, Grace disse enquanto eu ia embora. “Com certeza é uma aposta”.


Eu sorri um pouquinho e balancei meus cabelos de novo. Minhas amigas são tão ingênuas às vezes.




Mais tarde, Feitiços


Lily Observadora: Segundo Dia


Observações totais: 14


MISSÃO DES-SANTIFICAÇÃO É O MELHOR PLANO QUE JÁ EXISTIU


Esse dia é, de longe, o melhor e mais genial de TODA A MINHA CURTA VIDA DE ADOLESCENTE CHEIA DE CARMA RUIM!


Quero dizer, apenas com a coisa toda de cabelo-bom/saia curta/e todo mundo sabendo que eu não sou uma santa, eu já estava tendo um dia sem-carma-ruim bastante decente, mas agora isso?É inconcebível. É apenas totalmente genial.


Ai. Eu acho que toda essa excitação me causou um coágulo em um dos meus tubos respiratórios. Sim, eu acho que eu parei de respirar. Ai, meu Deus, de fato. Eu não consigo respirar e eu não consigo falar e eu não consigo fazer nada a não ser sorrir PORQUE EU SOU A PESSOA VIVA MAIS FELIZ!


Sim, a mais feliz!


Eu já mencionei antes que eu amo o Professor Lundi totalmente e completamente? Eu enfatizei esse ponto o suficiente? Porque eu, literalmente, beijaria o chão que ele pisa se não fossem me olhar ou implicar comigo (e, além disso, com a minha saia recém-feita mais curta, as pessoas, provavelmente, iriam ver minha calcinha, então, não é uma boa idéia). Eu doaria o meu rim pra ele. Honestamente, eu doaria. Eu poderia planejar uma dieta de 6-passos pra ele se ele quisesse. Eu faria qualquer coisa para aquele homem adorável e agradável porque ELE ACABOU DE FAZER A MELHOR COISA!


Não que ele saiba que ele tenha feito algo do tipo. Na verdade, ninguém, a não ser eu, realmente sabe o que ele fez, mas tudo bem. No final das contas, eu vou conseguir escrever o que ele fez assim que eu conseguir respirar apropriadamente e puder fazer Grace parar de jogar coisas em mim. Ela quer saber o que está acontecendo também. Emma abandonou as suas melhores amigas fiéis de muitos, muitos anos para que ela pudesse sentar com o Sr. Namorado-Que-Pensa-Que-Eu-Perdi-Minha-Identidade a algumas carteiras a frente. Ela ainda não se virou para reconhecer suas amigas fiéis de muitos, muitos anos, então, ela ainda não sabe da minha felicidade sorridente-e-radiante, e, portanto, ainda não perguntou sobre isso.


Tudo bem. Respiração relativamente voltou ao normal. Agora, se eu pudesse jogar esse pergaminho no ângulo certo...aí. Já tomei conta da Grace.


Agora, sobre o Lundi...


Então, essa manhã, enquanto o meu eu nada santo caminhava para a sala de Runas Antigas, eu estava toda pronta e confiante em pegar o meu lugar duas carteiras atrás do meu potencial marido – formalmente conhecido como Amos Diggory, atualmente conhecido como Deus do Sexo – e eu estava mais do que preparada para fazer isso durante a aula toda, jogando meu cabelo com aparência boa, e sorrindo com a minha boca coberta de maquiagem e sendo uma piranhatotal no departamento da paquera. Isso era novo, mas eu sabia que eu poderia fazer. Afinal de contas, eu dividi um dormitório com a Elisabeth Saunders (a Rainha da Paquera e da “Piranhice”) por sete anos. Algumas de suas habilidades tinham que passar pra mim.


Mas para a minha completa surpresa, quando eu fui pegar o meu lugar usual, duas carteiras atrás do meu potencial amante, eu vim a descobrir que alguém já estava ocupando o lugar já mencionado. Era, na verdade, Penny O’Jean, que tinha pegado o meu lugar de propósito, para ela poder sentar perto do seu último brinquedo-sexual, Timmy Ricks – ou, como eu gosto de chamá-lo, o Hiena Humano, já que tudo no mundo parece ser engraçado pra ele.


“Você não se importa, não é mesmo, Lily?”, Penny parou sua sessão de agarramento para me perguntar, com uma voz muito esperançosa, enquanto eu entrava na sala. No início, eu iria enfrentá-la. Eu ia dizer pra ela sair e ir agarrar o seu namorado em alguma outra hora, mas então, meu lado egoísta entrou em cena e eu percebi que a situação funcionava bem melhor pra mim, de qualquer forma. Veja bem, Penny O’Jean geralmente senta na carteira convenientemente localizada bem do lado do meu potencial marido. Sim, bem do lado dele! Eu não teria mais que paquerar atrás de duas cabeças de estudantes! Eu sentaria bem do lado dele! Que sorte, não?


Naturalmente então, eu sorri só um pouquinho e acenei de forma descolada, dizendo a ela com uma voz indiferente, “Claro que não! Eu acho que eu vou pegar o seu lugar, então?”.


Penny sorriu e confirmou com a cabeça e depois continuou a agarrar o cara de Hiena. Em outras circunstâncias, isso provavelmente teria me desagradado, me fazendo tirar pontos da casa por causa da exibição nauseante de afeição em público, mas eu estava feliz demais para fazer uma coisa dessas. Então, ao invés de eu fazer essa coisa totalmente de santa, eu casualmente andei até o meu lugar perto do Amos e confiantemente coloquei o meu bumbum na cadeira.


“Trocando de lugar por um tempo, em?”, Amos me perguntou, me lançando um daqueles sorrisos completamente de babar que valem a pena.


Eu lutei muito para manter a minha compostura e lhe lancei um pequeno sorriso. “Eles me pediram, eu concordei”, eu respondi com um dar de ombros. Ele sorriu um pouco mais e depois me lançou um olhar curioso. Eu podia muito bem ter dito naquele momento particular, “Sim, Amos, querido, minha saia está curta e minha blusa está com um botão a menos, por favor, sinta-se a vontade para soltar os seus hormônios pervertidos e masculinos de um garoto de dezessete anos e dê uma boa olhada”, mas eu não disse. Mesmo seu tivesse dito, não teria importado. Amos é um cavalheiro muito perfeito para fazer coisas tão pervertidas. É por isso que eu o amo.


“Você está diferente”, ele me disse.


“Diferente?”, eu perguntei, fingindo uma completa inocência. Eu dei de ombros de novo. “Talvez eu tenha crescido ou algo assim”.


Psh. Crescido ou algo assim. Eu sou tão implicante.


Ele concordou com um sorriso e depois a aula começou.


Durante toda a aula, eu o paquerei com sutileza. Eu movia meu cabelo e lhe lançava sorrisos e eu até mesmo escrevi as minhas anotações com a mão esquerda para que nossos braços pudessem se esbarrar casualmente. Foi completamente ridículo, mas ao mesmo tempo, completamente perfeito. E quer saber de uma coisa? Ele ainda tem aquela pena que eu dei pra ele alguns dias atrás! E a estava usando! Sim, usando! Foi ótimo! Tudo foi ótimo!


Mas sabe de uma coisa? Me sentar perto do Amos nem foi a parte mais legal do dia inteiro! Essa parte veio depois, quando a aula estava acabando.


“Tudo bem!”, Professor Lundi disse, se afastando do quadro atrás dele e se sentando em sua mesa. “Isso é o suficiente por hoje. Eu queria agora começar aquele projeto que eu disse pra vocês na última aula”.


Uh, projeto? Última aula? Er, eu não me lembro disso.


“É um projeto simples que nós executaremos nas próximas três semanas”, Lundi disse. “Tudo que é exigido de vocês e de seus parceiros é escolher uma das passagens da parte de trás do seu livro, traduzi-la e depois apresentá-la pra turma. Sua nota será julgada pela exatidão, apresentação e toda a sua habilidade. Alguma pergunta?”.


Mãos se ergueram. Lundi chamou a Hiena.


“Nós podemos escolher nossos parceiros?”.


Lundi ponderou sobre isso por um momento, dando uma rápida olhada pela sala. Ele sorriu e sacudiu sua cabeça. “Vamos tornar isso simples”. Ele olhou a sala de novo, seus olhos se demorando em mim e depois na Penny. “Eu vejo que ocorreram algumas mudanças de lugar mas, no entanto, vamos permanecer com o nosso parceiro de mesa. Algum problema?”.


Algum problema?ALGUM PROBLEMA? Eu tenho que trabalhar com Amos Diggory por três semanas inteiras e ele quer saber se tem algum problema?!


Eu juro que eu não conseguia respirar. Eu estava pra morrer de pura empolgação. Foi o momento mais maravilhoso da minha vida. Três semanas com o Amos! Três! Pode acreditar? Eu não sou a pessoa mais sortuda de todo o planeta? Quero dizer, foi o destino! Agora, nós vamos ter que passar um monte de tempo juntos, e eu sabia que Amos ia terque finalmente descobrir que ele me ama desde que ele me conhece. Depois, ele vai me pedir em casamento de imediato e nós iremos viver felizes para sempre, com duas crianças, um cachorro e uma casa no interior.


Ah, perfeição.


Observação #14) LILY EVANS É A GAROTA MAIS SORTUDA QUE JÁ HABITOU NESSE PLANETA!


Curso de Ação Tomada: COMEMORAR!!




Mais tarde, Defesa Contra as Artes das Trevas


Lily Observadora: Segundo Dia


Observações Totais: 15


Missão Des-Santificação: Oficialmente Ainda a Melhor


Ai, droga. Emma está completamente brava comigo e eu não estou muito certa do porquê. Talvez seja por causa de toda a coisa da Missão Des-Santificação, ou talvez porque Grace e eu estávamos rindo do Projeto Amos depois da aula de Feitiços, e já que ela estava sentada com o Sr. Mac, ela não pôde ouvir. Ou talvez seja porque eu disse ao Sr. Mac que seu sapato parecia um pouquinho peculiar hoje – o que, definitivamente, parecia, e não era como se eu tivesse querendo dizer isso ou algo assim. Eu só estava tentando iniciar alguma conversa. Mas por qualquer motivo que seja, eu sei que ela está com raiva de mim agora. Grace diz que isso não importa e que, qualquer que seja o motivo, Emma irá superá-lo, mas eu não tenho muita certeza.


Mas você sabe o que é mais esquisito? Normalmente quando Grace ou Emma estão com raiva de mim, eu fico louca de ansiedade mas, agora, eu estou perfeitamente feliz. Todo esse projeto com o Amos teve um efeito incrivelmente recompensandor em minha disposição. È, na verdade, um tanto engraçado.


Ai, meu Deus. Eu sou tão patética.


Observação #15) Lily Evans está em sério risco de perder uma melhor amiga. Nada bom.




Mais tarde, Ala Hospitalar


Lily Observadora: Segundo Dia


Observações Totais: 17


Missão Des-Santificação Continua


Tudo bem, tudo estou completamente ciente de que o que eu acabei de fazer foi completamente imaturo e infantil. Eu também estou completamente ciente de que como eu agi feito uma criança, eu sofri as conseqüências. Blá, blá, blá. Por que todo mundo tem que passar sermões? Não foi tão ruim assim. Quero dizer, foi um acidente. Não é como se eu tivesse feito de propósito. Por que todo mundo tem que ficar falando e falando como se tivesse sido?


Psh. Essas pessoas de hoje em dia...


Aconteceu essa tarde quando Grace e eu estávamos simplesmente limpando o nosso dormitório desastroso, conversando sobre o Projeto Amos, rindo ocasionalmente, e geralmente bagunçando ainda mais o nosso dormitório já catastrófico. Como já tinha se tornado costume ultimamente, nós não tínhamos a mínima idéia de onde Emma estava. Nós achávamos que ela estava com Mac, como já tinha se tornado usual, mas nenhuma de nós duas tinha certeza.


“É parecido com algo que tem em um desses livros”, Grace me disse, falando, claro, do Projeto Amos, enquanto ela limpava sua coleção de romances.


“Tem mesmo?”, eu perguntei, honestamente sem saber porque eu me recusava a ler aquele lixo.


Grace concordou com a cabeça, me jogando um dos livros. “Como naquele”, ela disse. “A heroína é completamente invisível para o herói, e depois eles são obrigados a ficarem juntos quando o herói é atingido por uma Azaração da Imobilidade. Então, a heroína é obrigada a passar todo o seu tempo com ele, cuidando de sua saúde. E depois ele se apaixona por ela”.


Eu peguei o livro que ela jogou e o olhei fixamente, dando uma folheada. “Mas Amos não foi atingido por uma Azaração da Imobilidade”.


Grace revirou os olhos e jogou outro livro pra mim. “Você não está entendendo, idiota”.


Eu olhei para a capa horrível, que tinha uma garota loira em um uniforme de enfermeira piranha e um garoto com cabelos castanhos, deitado em uma cama de hospital. Nada a ver comigo e Amos.


“Nada a ver comigo e Amos”, eu repeti alto, jogando o livro de volta pra Grace. De repente, e eu não sei de que parte do mundo isso veio – um grande ataque de bobeira explodiu pelo meu corpo e eu comecei a rir que nem uma louca. É sério. Apenas rindo que nem uma mulher louca sem nenhum motivo. “Mas você está certa em uma coisa”, eu contei a Grace, subindo em minha cama coberta de roupas e ficando em pé em cima dela. “Nós iremos passar algum tempo juntos, e ele vai se apaixonar completamente por mim!”.


Grace riu e sacudiu sua cabeça, me observando em cima da cama. “Qualquer coisa que você diz, Lil. Agora, desça daí! Ou você vai tropeçar em todas essas roupas e se matar”.


Eu ri e claro que eu a ignorei. Ao invés de ouvi-la e descer da cama como uma pessoa normal e civilizada, eu comecei a pular que nem uma criança hiperativa.


“Lily!”, Grace berrou entre suas risadas. “Pare com isso! Você quer quebrar a cama?”.


“Quem se importa?”, eu ri, ainda pulando, as enormes pilhas de roupas sob os meus pés. “Eu vou trabalhar com o Amos! Ele vai se apaixonar por mim! Ele vai – “.


E justo quando eu ia proclamar as verdades sobre Amos e nosso futuro juntos, meu pé se prendeu em uma das muitas camisetas espalhadas na minha cama. Eu tentei manter o equilíbrio, mas sendo a completa desengonçada que eu sou, eu não consegui me equilibrar e, com um grito, eu escorreguei e caí da minha cama.


“Sua idiota!”, Grace respondeu, rindo muito. Eu estava rindo também, mas quando eu ia me levantar e recuperar minha dignidade, meu tornozelo começou a pulsar dolorosamente.


“Oh, ma – merda!”, eu mudei no meio da fala, olhando para o meu tornozelo já inchado. “Eu acho que eu torci ou – Grace! Dá pra parar de rir e me ajudar?”.


“Sua idiota estúpida”, Grace suspirou, colocando meu braço sobre os seus ombros para que eu pudesse me levantar do chão. “Eu acho que está quebrado ou algo assim. Nós temos que te levar para Madame Pomfrey”.


Quebrado?”, eu exclamei, olhando para o meu tornozelo vermelho. Tinha começado a inchar de novo e estava parecendo um grande balão vermelho. E, apesar do meu pé estar agora do tamanho de uma melancia, eu não pude evitar, comecei a rir de novo. Eu sei que não era engraçado – na verdade, meu tornozelo estava queimando, e se eu não estivesse agindo como uma tonta, eu provavelmente teria chorado histericamente – eu sou uma bebezona quando eu me machuco – mas vendo como eu estava tão amalucada, eu apenas continuei a rir e, logo depois, Grace se juntou a mim. Nós estávamos dando gargalhadas que nem um par de Timmy Ricks (o garoto hiena), enquanto nós descíamos a escada do dormitório feminino, tentando chegar até a Ala Hospitalar sem me machucar mais. Quando nós chegamos até a Sala Comunal, nosso barulho tinha atraído quase todo mundo e eles nos observavam enquanto eu me apoiava em Grace, rindo e mancando. Acho até que eu estava chorando naquele momento, enquanto nós fazíamos nosso caminho para o buraco do retrato. Quando nós estávamos quase saindo – eu mancando, rindo e chorando, Grace só rindo – nós fomos, repentinamente, interrompidas por um grupo de pessoas que tinha acabado de entrar.


“O que vocês duas estão fazendo? Lily, por que você está andando desse jeito?”.


Emma estava encarando nós duas com um olhar de censura. Atrás dela, Potter e Remus também nos observavam. Grace ainda estava rindo e eu estava metade-rindo e metade-chorando, então, levou um tempinho para a gente se acalmar o suficiente e responder.


“Nós estamos indo para a Ala Hospitalar”, Grace respondeu alguns segundos depois, sua voz ainda cheia de pesadas risadas.


“Ala Hospitalar?”, Remus perguntou. Ele me encarou. “O que você fez?”.


Eu apontei para o meu tornozelo-balão. “Acho que está quebrado”, eu disse a ele entre risadas e gemidos.


“Quebrado?”, Potter perguntou, me olhando com seu primeiro olhar não-maldoso da semana. Bem, além daquele olhar impressionado essa manhã no Salão Principal, mas quem podia culpá-lo? “Como?”, ele exigiu.


A simples pergunta fez Grace começar a rir de novo. Emma estava começando a parecer mais do que um pouquinho zangada, então, eu tive que controlar os meus gemidos/risadas e responder.


“Caí da minha cama”, eu ofeguei, a dor no meu tornozelo aumentando a cada minuto.


“Caiu da sua cama?”, Emma perguntou com suspeita. “Você quebrou seu tornozelo desse jeito? Sua cama é – o que, a dois pés do chão?”.


Eu ia começar a inventar uma desculpa, mas Grace pareceu achar aquele momento apropriado para recuperar um pouco de sua fala.


“Foi quando...foi quando ela estava pulando em cima da cama!”.


Eu senti meu rosto esquentar e olhei para o meu tornozelo inchado. Minha bobeira de antes tinha ido embora, eu rezei para que o chão abrisse e me engolisse inteira. Por que, por que eu sou tão imatura?


“Você estava pulando na sua cama?”, Emma me perguntou com um leve tom de desprezo. Foi como eu soube que ela estava com raiva de mim. Se ela não estivesse, ela nunca teria usado esse tom. “Quantos anos você tem, Lily? Sete?”.


Meu rosto ruborizou de novo. “Não parecia uma idéia tão ruim naquela hora”, eu murmurei, ainda olhando para o chão. Eu sabia que Emma ia dizer mais, mas meu tornozelo começou a queimar de dor de repente, então eu extraí tudo que valia a pena e comecei a arfar dramaticamente, tentando empurrar Grace para fora do buraco do retrato. Todo mundo pareceu entender, e Potter e Emma saíram do caminho para que Grace e eu pudéssemos mancar.


“Você precisa de alguma ajuda?”, Remus perguntou, enquanto Grace e eu passávamos lentamente por ele. Grace confirmou com a cabeça entre suas risadas ainda presentes. Eu ainda estava humilhada demais para dizer alguma coisa. Remus colocou meu outro braço por cima dos seus ombros e nós todos continuamos a mancar em direção ao buraco do retrato.


“Ah, espera!”, eu disse, repentinamente me lembrando de algo. Eu virei minha cabeça e vi que Potter e Emma ainda estavam atrás de nós. Emma desviou o olhar, mas Potter ainda estava nos observando, surpreendentemente não estava olhando furiosamente. “Hoje à noite as oito, certo?”, eu perguntei a ele, apesar de que pode ter parecido um pouquinho incoerente por causa dos restos dos meus gemidos e risadas. Sua cabeça se moveu para trás como se tivesse acabado de perceber que eu estava falando com ele.


“O que?”, ele perguntou, sua voz cheia de confusão.


“Hoje à noite”, eu repeti. “Aula particular. Hoje à noite as oito na biblioteca”.


“Você vai pelo menos conseguir ir até a biblioteca?”, Emma, logo atrás dele, me interrompeu. Eu considerei a olhar furiosamente por um tempinho, mas eu decidi o contrário. Não adiantaria nada deixá-la com mais raiva. Ao invés disso, eu simplesmente dei de ombros.


“Eu vou conseguir, ou vou morrer tentando”, eu respondi. Essa foi outra prova de que Emma estava com raiva. Ela sabia tão bem quanto eu que Madame Pomfrey consertaria meu tornozelo em um instante. Ela estava, deliberadamente, tentando me fazer sentir idiota. Psh! Que raiva! Mas eu continuei a ignorando naquele segundo, e olhei na direção do Potter de novo, esperando sua resposta.


Potter assentiu.


“Hoje à noite”, ele disse.


Eu assenti também e depois, Grace, Remus e eu fomos à Ala Hospitalar, que é onde eu estou agora, “descansando” como Madame Pomfrey me disse para fazer entre seus sermões sobre minha irresponsabilidade e falta de julgamento, os quais eu quase não escutei.


Mas uma coisa é certa. Eu nunca vou pular em cima da minha cama de novo.


Observação #16) Coisas infantis, como pular em sua cama, são perigosas e prejudiciais para a saúde de uma pessoa.


Observação #17) Existem três Elfos Domésticos muito legais que trabalham na Ala Hospitalar mas, apesar deles dizerem que eles estão ali para ajudar e fazer você se sentir confortável, eles se recusam a roubar arroz da cozinha para pacientes que deviam estar “descansando”. Droga.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Segundo dia


Observações Totais: 18


Missão Des-Santificação continua


Exatamente às 8 da noite, eu fui até a biblioteca mancando levemente (Madame Pomfrey disse que poderia ser um pouquinho estranho andar por algumas horas), nem um pouco intimidada pelo pensamento de que eu teria uma aula particular com o Potter por uma hora. Sabe, no meu caminho até a biblioteca, simplesmente aconteceu de eu deparar com Amos, e ele não só disse oi, como também notou o meu passo levemente manco e me perguntou o que tinha acontecido (Vê? Ele se importa!). Eu simplesmente disse a ele que eu tinha quebrado o meu tornozelo em um acidente, não querendo entrar em detalhes completamente embaraçosos. Ele me lançou aquele sorriso adorável e me desejou melhoras, antes de ir embora com uma promessa de uma reunião de Runas Antigas em breve. Então, depois dessa conversa incrivelmente animadora, eu estava novamente com o meu estado de boba dessa tarde. Portanto, enquanto eu silenciosamente procurava o Potter, eu não estava nem um pouquinho apreensiva a respeito dessa reunião. Sério. Quero dizer, talvez ele tenha superado toda essa coisa de ‘não estar notando o que quer que seja que eu não estou notando’. Ele não estava me olhando furiosamente e nem fazendo caretas pra mim essa tarde. Era possível. Realmente era.


Com isso na cabeça, eu continuei procurando.


Eu finalmente o localizei na mesa que nós usamos da última vez, no fundo da biblioteca. Ele estava sentado de forma relaxada na cadeira, lendo um livro. Eu manquei-andei até ele e coloquei o meu traseiro na cadeira em frente.


“Oi”, eu disse com um sorriso. Ele me encarou por trás do seu livro.


“Você está atrasada”, ele disse friamente, fechando seu livro lentamente. Imediatamente, os pensamentos sobre ele esquecendo a coisa toda de ‘não perceber’ desapareceram. Ele ainda estava com raiva. Eu dei uma olhada no relógio da parede curiosamente. 8:14. Devo ter falado com o Amos por mais tempo do que eu pensava.


“Desculpe”, eu respondi, dando de ombros. “Eu tive que mancar-andar desde o Salão Comunal”.


“Mancar-andar?”, ele me perguntou com um olhar esquisito. “O que diabos é mancar-andar?”.


“É andar e mancar ao mesmo tempo”, eu disse a ele simplesmente. Ele revirou os olhos, mas eu ignorei isso e apontei para o meu tornozelo. “Madame Pomfrey diz que provavelmente vai ser um pouquinho esquisito andar por um tempo”.


“Interessante”, ele respondeu secamente, agindo como se não se importasse nem um pouquinho, apesar de ter sido ele quem perguntou sobre isso, em primeiro lugar. Eu tive que evitar o olhar furiosamente, enquanto ele continuava a me encarar com aquela expressão vaga e seca. Ele não estava me olhando com raiva, mas ele também não estava tornando as coisas nada fáceis. Mesmo com a minha disposição feliz inacreditável, a sua raiva estava começando a me incomodar. Eu lhe lancei um olhar que mostrava que eu estava irritada.


“Qual é o seu problema?”, eu perguntei, sacudindo minha cabeça por causa da sua expressão ainda vazia. “Você não precisa ser tão rude comigo, sabe. Não é nada educado, o jeito que você está agindo”.


“Como se você se importasse com o jeito que eu me comporto”, Potter respondeu com raiva e sem nem se importar em olhar para mim. Eu soltei um suspiro irritado e ele levantou os olhos, me olhando furiosamente de novo.


Eu respirei fundo, tentando ignorar seus comentários e tentando manter o meu bom humor intacto. Pense no Amos, eu disse a mim mesma. Pense no Amos e no projeto de Runas Antigas. Hm. Isso. Paraíso. “Quer saber de uma coisa?”, eu disse, lhe lançando um sorriso que era um pouco tenso, no entanto, sincero. “Apesar de você estar sendo um babaca, eu estou muito de bom humor para me importar”.


Ele bufou e continuou sem rodeios, “Ah, bom humor. Deve estar tendo um dia de sorte, então?”.


Eu suspirei de novo, meu bom humor começando a se sentir ameaçado mais uma vez por causa de seus comentários maldosos. “Sabe”, eu disse, lhe lançando um olhar severo, “diferente do que você pensa, eu não gosto quando as pessoas estão com raiva de mim – mesmo você – e eu não gosto quando você me olha furiosamente e faz caretas e faz apenas comentários grosseiros e desnecessários!”.


Potter me olhou de forma curiosa, obviamente surpreso com a minha rápida mudança de atitude.


“E eu sei que eu, supostamente, perdi algo grande e importante”, eu continuei, tentando falar baixo e manter meu temperamento sob controle. “Eu sei que você está com raiva de mim porque eu, aparentemente, não percebi alguma coisa, ou não fiz alguma coisa, ou algo do tipo, mas não há nada que eu possa fazer para mudar isso, ok? E eu não tive a intenção de fazer isso. Qualquer que seja o que eu não estou percebendo, eu não tive a intenção de não perceber”.


Nós ficamos sentados lá por um momento, eu tentando recuperar a minha calma de alguns segundos atrás, ele me olhando cuidadosamente, como se estivesse esperando que eu explodisse de novo. Eu poderia, claro, com o meu temperamento do jeito que é, mas eu estava determinada a manter esse confronto de forma pacífica. Ou, o mais pacífico possível, quando se trata de mim e Potter, de qualquer forma.


“Sabe”, ele disse depois de algum tempo, se reclinando na sua cadeira. “Para alguém que diz que não gosta quando as pessoas estão zangadas com ela, você, com certeza, tem um monte de gente que está”.


Eu tentei evitar o desejo de o olhar furiosamente por causa da sua cara sorridente. Tanto quanto eu queria não saber, eu sabia exatamente do que ele estava falando.


“Emma?”, eu disse com frustração.


Ele confirmou com a cabeça.


Eu pude sentir a minha raiva aumentar e aumentar e, novamente, eu lutei para manter a calma. Eu sabia que ele estava tentando me importunar. Por qualquer que seja a razão, ele estava, deliberadamente, tentando me deixar chateada ou com raiva. Eu não queria lhe dar essa satisfação, mas enquanto eu encarava o seu rosto sorridente, eu podia sentir a raiva fervendo por dentro. Quero dizer, sério, isso era mesmo necessário? Ele tinha que, propositadamente, tentar me chatear? Qualquer que seja o que eu fiz para deixá-lo com tanta raiva, eu não fiz isso intencionalmente. Ele nunca ouvir falar que duas coisas erradas não fazem uma certa?


Essa aula particular não estava indo como eu esperava.


“Vocês fazem reuniões ou algo do tipo?”, eu perguntei sem pensar, depois que eu tive certeza de que minha raiva e meus olhares estavam sob controle.


O rosto de Potter permanceu brando. “Reuniões?”, ele perguntou.


“Reuniões”, eu repeti, sacudindo minha cabeça, as palavras ainda saindo despropositalmente. “Sabe, a Sociedade Nós-Estamos-Com-Raiva-Da-Lily-Então-Nós-Todos-Vamos-Nos-Reunir-E-Falar-Sobre-O-Porquê-De-Estarmos-Com-Raiva-Dela? Quero dizer, tem que ter uma. Todo mundo parece saber porque você está com raiva de mim, e eu acho que até a Grace sabe porque Emma está com raiva de mim, então, tem que ter algum tipo de explicação para todo mundo saber e eu não, certo? Então, por que não uma sociedade?”.


Eu sei que eu parecia uma louca, mas eu estava com tanta raiva e frustração reprimidas na minha cabeça que eu nem me importei com o fato de que eu estava falando como uma fugitiva do St. Mungos. Eu não podia acreditar que Emma tinha contado ao Potter – JAMES POTTER – porque ela estava com raiva de mim. Quero dizer, por que ela contaria a ele e não a mim? Não sou eu que tenho que arrumar seja lá o que for que eu estou, aparentemente, fazendo errado? Ele tem a ver com alguma coisa? E Potter tem razão. Por que todo mundo está, repentinamente, com tanta raiva de mim? O que tem de tão errado comigo que eu espalho aborrecimento por qualquer lugar que eu vou?


POR QUE EU NÃO POSSO SER NORMAL COMO TODO MUNDO?


Eu estava tão perdida nas minhas frustrações, tão envolvida com as minhas auto-críticas mentais, que eu pulei quando Potter falou de novo alguns segundos depois, sua voz estranhamente gentil.


“Sem reuniões”, ele me disse calmamente, me encarando por um momento com o mais estranho dos olhares , e depois, desviando o olhar de novo, como se ele não pudesse suportar olhar para mim por mais tempo. Eu me movi desconfortavelmente na minha cadeira, sem saber o que fazer. Ele não parecia mais com raiva, e eu não tinha certeza se isso era uma coisa boa ou uma coisa ruim. E, de novo, ele se recusou a fazer contato visual comigo, então, eu presumo que isso não é nada bom. Depois de algum tempo desse silêncio de tensão, Potter deixou escapar um suspiro, pegou o livro de Transfiguração que estava na minha frente e ficou passando as páginas. “Vamos começar, certo?”.


Sem saber o que fazer, eu concordei, e nós finalmente começamos a aula.


Nós nos sentamos lá por mais ou menos uma hora, falando só quando era extremamente necessário e apenas sobre Transfiguração. Nós nem nos olhávamos direito. Eu tentei digerir o maior número de informações possíveis, mas meus pensamentos ainda estavam na nossa conversa anterior e eu sei que os dele estavam também. Eu não podia acreditar que eu me fiz de idiota. Ficar nervosa e culpar pessoas de pertencerem a sociedades não-existentes não é exatamente a coisa mais normal de se fazer. Sem ser nenhuma surpresa, nós não fizemos muito progresso nessa uma hora.


Quando eu voltei para o Salão Comunal, eu fui diretamente para o nosso dormitório. Emma não estava lá e Grace estava dormindo, um livro em cima da sua barriga. Eu vou ter que perguntar a elas amanhã.


A vida é tão complicada quando você tem sociedades te odiando.

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