Comum
N/T: Essa fic é perfeita. Por isso resolvi traduzi-la! Espero que gostem! Não deixem de comentar
Capítulo 1 – Comum
Sexta-feira, 29 de agosto, casa dos Evans.
Ele é louco.
Na verdade, eles são todos loucos. Cada um daqueles que são chamados de “professores” estão TOTALMENTE MALUCOS.
Quem, EM SEU ESTADO NORMAL, me nomearia MONITORA-CHEFE?
Quero dizer, sério. Eu devo ser a garota mais comum, chata e desorganizada que já habitou o planeta Terra. E monitoras-chefe não são assim. Chatas, desorganizadas e comuns, quero dizer. E essa nem é uma daquelas vezes nas quais eu posso dizer que eles me escolheram porque eu sou especial, já que eu sou uma bruxa, porque SURPRESA! TODO MUNDO NAQUELA MALDITA ESCOLA É BRUXO!ENTRE TANTAS SETIMANISTAS PRA ESCOLHER! (todas, por sinal, TÊM uma vida, diferentemente de mim).
É isso mesmo. Eu, Lily Christine Evans, estou desesperadamente precisando de uma vida. Sério. Eu até mesmo PAREÇO chata e medíocre. Quero dizer, normalmente, ruivas como eu se destacam assim como dedões inflamados. Todas as outras ruivas que eu conheço ou são:
Supermodelos
Ou
Mulheres extremamente bem sucedidas e que DEVERIAM ser supermodelos.
E depois, claro, tem eu. Totalmente sozinha no grupo C – a garota ruiva completamente entediante, cujo cabelo tem mente própria e que deveria fazer um favor a todos e pintá-lo de loiro como todo mundo e sumir na multidão. Ou então, colocar um papel bem largo e marrom na cabeça e esperá-lo ficar grisalho.
Mas, o cabelo não é o meu único problema. Não. Eu também estou parada nos meros 1,70 m. O que significa que eu não sou nem alta nem baixa. Eu estou bem no meio daquela bagunça genética. E, apesar da minha médica dizer que 1,70 é uma altura perfeitamente adequada, ela simplesmente não consegue entender. Ela não consegue entender que minha altura de 1,70 me coloca ainda mais alto no Quadro da Vida medíocre. E se eu fosse muito alta e magra ou então muito baixa e beirando uma obesidade? Bem, pelo menos eu teria uma característica distintiva. Eu poderia dizer: “Oi, eu sou a Lily, sou alta e muito mais magra do que é considerado saudável”. Ou então: “Oi, eu sou a Lily, sou baixinha e quase obesa”.Qualquer uma dessas opções seria melhor do que o que eu sou forçada a dizer agora: “Oi, Eu sou a Lily, ninguém em especial e/ou única. Sou apenas comum”.
Percebe o que eu quero dizer? Tudo isso é um saco!
Tá, ok. Esquecendo o fato de que minha aparência não é perfeita, aqueles professores ainda estão loucos. Porque, você sabe de uma coisa? Academicamente, eu também não sou tão sensacional assim. Quero dizer, eu sou péssima em Transfiguração. É sério. Eu estou apenas três pontos longe de reprovar nessa estúpida matéria. Como alguém pode escolher uma monitora-chefe que está praticamente reprovando em uma matéria essencial? Isso não faz sentido nenhum. Mesmo que não seja minha culpa eu estar reprovando. Professora Mcgonagall é simplesmente muito rápida pra mim. Estudantes lentos, que nem eu, precisam de professores lentos. Mcgonagall não é uma professora lenta. Nem todos conseguem ser transfiguradores superinteligentes como minha amiga, Emma Vance, ou como James Potter, o idiota. É assim que é a vida. Algumas pessoas vão ter “aquilo” e outras não. Mcgonagall deveria tentar entender isso e não me reprovar já que eu não posso fazer nada, porque sério, não é minha culpa que eu não tenha “aquilo”. É culpa dos meus pais por não terem me dado “o” gene.
Ah, e não podemos esquecer o fato de que eu sou uma pária total, socialmente falando. Eu ando por aí soltando meu temperamento totalmente incontrolável em cima das pessoas mais sociáveis de Hogwarts, completamente sem saber das conseqüências. Isso, claro, não dá muito certo com as então chamadas vítimas, e me faz descer ainda mais na escada social. (HÁ! Como seu eu pudesse descer ainda mais!).
Então, agora, eu pergunto a vocês, depois de revelar alguns dentre todos os meus defeitos:
O QUE, POR MERLIN, ELES ESTAVAM PENSANDO?? ELES PERDERAM COMPLETAMENTE A CABEÇA? EU NÃO CONSIGO AGUENTAR ESSA PRESSÃO!!
Por favor, me dêem licença enquanto eu vou afogar minha cabeça no lago.
Sábado, 30 de agosto, fazendo as malas na casa dos Evans
COISAS PARA FAZER:
1. Procurar o distintivo perdido de Monitora-Chefe. Tá vendo? Eu não consigo nem guardar o meu distintivo, quanto mais fazer o meu trabalho. PRESSÃO!! 2. Recolher todas as roupas que eu peguei emprestado da Grace e da Emma. Tenho certeza que elas querem as roupas de volta. 3. Obrigar a Winnie a entrar dentro da gaiola. Coruja idiota. 4. Perguntar à mamãe quem vai me levar até a estação de trem. Por favor, por favor, por favor, Petúnia, não! 5. Continuar procurando um lago.
Mais tarde, na casa dos Evans
DROGA!
Todo ano! TODO MALDITO ANO!
Como minha mãe não consegue entender a IMENSA AVERSÃO que minha irmã e eu temos uma pela outra? Ela não entende que o motivo da gente não se FALAR não é porque nós somos muito ocupadas, mas sim por causa da dificuldade de ficarmos em um mesmo LUGAR juntas por grandes períodos de tempo?
Minha mãe é completamente maluca. Ela deve ser. É a única explicação lógica. Quero dizer, eu não me dou bem com a minha irmã cara-de-cavalo desde que eu recebi a carta de Hogwarts sete anos atrás! Vocês pensariam que minha mãe já teria percebido nossa aversão recíproca, mas ela não percebeu.
Merda. Isto simplesmente não é justo. De qualquer forma, Petúnia ODEIA me levar! POR QUE minha vida é tão podre??
Mamãe, obviamente, ainda pensa que há esperança para nós. Petúnia e eu, quero dizer. É por isso que ela continua colocando nós duas juntas desse jeito. Quero dizer, nós nos dávamos bem quando éramos mais novas - ou seja, antes de descobrirmos que eu sou uma bruxa. Desde então, tudo mudou. Petúnia nunca gostou de variedade. Tudo precisava ser perfeito e arrumado; a visão completa de normalidade. Eu não me importava tanto com sua necessidade de perfeição quando eu era menor. Afinal de contas, Petúnia era minha irmã mais velha – bonita e perfeita em todos os sentidos. Qualquer coisa que ela fazia, eu queria fazer. Tudo que ela era, eu também queria ser. Para todos os lugares que ela ia, pode apostar que eu estava lá, logo atrás dela. Ela era, sem exageros, meu ídolo.
Cara, eu era uma criança estúpida.
Eu lembro que quando eu recebi a carta de Hogwarts, eu achei totalmente sensacional. Eu pensava que ser uma bruxa era a coisa mais extraordinária que poderia acontecer comigo. Minha irmã, por outro lado, achou estranho e anormal. Ela basicamente pensou que eu era algum tipo de aberração (o que eu sou, mas não porque eu sou uma bruxa). Ela falou comigo apenas umas seis vezes durante todo o verão e todos os comentários dela foram pequenos, curtos e totalmente necessários (“Não encoste naquilo, Lily!”, “Guarde essa vareta! Minhas amigas irão vê-la!”, “Esconda essa coruja e a faça ficar em silêncio! O que, por Deus, os vizinhos vão pensar?”). O verão depois do meu primeiro ano foi ainda pior. Ao invés de me ignorar, como ela tinha feito no verão anterior, Petúnia mudou de tática. Insultos.
Desde então, eu desisti de consertar nosso relacionamento. Eu aprendi a ignorar as advertências de Petúnia e simplesmente continuei com a minha vida, sem irmã.
É por isso que não consigo entender a linha de pensamento da minha mãe. Eu aceitei a minha vida sem irmã, por que ela não consegue também?
Eu preciso de terapia.
Na verdade, toda a minha família precisa de terapia.
Pah.
Mais dois dias! PRESSÃO!
Lembrete: PROCURAR O DISTINTIVO!
Domingo, 31 de agosto, casa dos Evans
Falta um dia para eu ir pra Hogwarts. Eu estou empolgada, apesar do fato de ser uma Monitora-Chefe escolhida por engano e de não ter praticado Transfiguração o tanto que eu tinha prometido a Mcgonagall...
De qualquer forma, eu estou empolgada. Meio empolgada. Um pouco empolgada. É que...Quero dizer, não me entenda mal, Hogwarts é sensacional – eu não a trocaria por nada – mas... Mesmo as maçãs mais suculentas têm vermes. E, agora, com toda essa pressão e tudo mais...Eu não sei.
Eu realmente deveria parar de reclamar. Não importa quantos vermes a maçã de Hogwarts tenha, sempre vai ter aquela estrela no meio. Sempre vai ter as minhas amigas.
Grace Reynolds, Emmeline Vance e eu somos melhores amigas desde o nosso primeiro ano em Hogwarts. Aquele primeiro dia. Eu estava um pouco assustada, para dizer o mínimo. Eu me lembro que eu fiquei vagando sem rumo pela estação de King Cross, procurando pela Plataforma 91/2, rezando para que esse mundo mágico em que eu, de alguma forma, tinha sido aceita para fazer parte, fosse mesmo real. Esta foi uma das poucas situações que eu me lembro em que os meus pais foram tão úteis quanto lenhas de madeira. Eles andaram do meu lado, virando suas cabeças e olhando em volta, tentando ajudar, mas falhando miseravelmente. Sabe, eu era trouxa e não tinha a mínima idéia de como era o mundo dos bruxos. Eu estava pulando de cabeça em um novo mundo, com apenas minha inteligência e com os poucos conhecimentos sobre o mundo bruxo que eu tinha pra poder me virar.
Eu vi a Grace pela primeira vez quando eu estava parada estupidamente em frente à barreira (eu tinha onze anos! Trouxas de onze anos não pensam em atravessar paredes!), quase chorando diante da apavorante possibilidade de que eu, de alguma forma, perderia o trem, ou pior, perceberia que essa história toda era apenas o que alguém considerava uma piada de mau gosto.
“Você também vai pra Hogwarts?”.
Eu me virei, meu coração batendo fortemente contra o peito ao ouvir a palavra “Hogwarts” sair da boca de alguém. Eu não estava louca! Era real! Eu fiquei tão empolgada que eu esqueci de responder, até que a moreninha de tranças me perguntou de novo, “Bem, você vai?”.
Eu acenei que sim com a cabeça imediatamente, com um enorme e ridículo sorriso na minha cara. “Sim!”. Eu respirava depressa, o alívio se espalhando rapidamente pelas minhas veias.
A garota concordou com um aceno. “Eu sou Grace Reynolds”. Ela estendeu sua mão para mim.
Entusiasmada, apertei a mão dela. Minha primeira amiga bruxa! “Eu sou Lily”, eu disse a ela, “Lily Evans”.
Grace sorriu, seus olhos azuis brilhando. “Você está indo para a plataforma?” Ela me perguntou. “Minha mãe disse que ainda é cedo, mas nós ainda temos que carregar nossos malões e tal”.
Eu ia confirmar, mas parei ao me lembrar da minha busca pela mesma plataforma durante quinze minutos. “Er, eu ia, mas...” Eu olhei em volta mais uma vez, tentando ver se a plataforma tinha aparecido repentinamente, como resultado da minha nova amizade. “Aonde é a plataforma exatamente?”.
Grace franziu as sobrancelhas. “O que você quer dizer com ‘aonde é’? É bem ali!”.
Ela apontou para a parede.
Eu olhei em volta dela. Olhei em cima dela. Eu até tentei ver se tinha alguma escada secreta debaixo dela. Não havia nada. Só uma parede.
Eu tentei não rir quando eu me virei para Grace. “Er... o quê?”.
Grace, mais uma vez, me olhou com curiosidade, a confusão evidente em seu rosto até que, finalmente, ela percebeu. “Oh!” Ela disse dando um tapa em sua testa. “Você é trouxa, não é?”.
Eu olhei inexpressivamente para ela. “Sou o que?”.
Grace sorriu. “Seus pais são bruxos?”.
Eu sacudi minha cabeça. “Não”, eu respondi. “Só eu. Ninguém mais que eu conheço é –” eu tentei tirar o sorriso bobo do meu rosto quando eu disse, “bruxo”.
Grace balançou a cabeça; “Isso explica tudo”, ela disse. Então ela sorriu e colocou seu braço em volta do meu ombro. “Bem, parece que eu tenho que te ensinar muita coisa, Lily Evans”.
Eu confirmei com a cabeça, empolgada e nervosa ao mesmo tempo. Se ela estava pronta pra me ensinar, eu estava pronta pra aprender.
Depois de dar o meu último adeus aos meus pais, Grace me ajudou a atravessar a barreira (depois de eu, finalmente, perceber que a parede era a barreira) e me colocou por dentro de todos os fatos básicos do mundo bruxo que ela conseguiu se lembrar enquanto nos aproximávamos do trem. Grace é uma sangue-puro, então, tudo que eu não sabia, ela sabia. Só depois que entramos no trem e começamos a procurar um compartimento que não estivesse cheio de assustadores quintanistas e sextanistas, é que conhecemos Emma.
“Nós podemos nos juntar a você? A maioria dos outros compartimentos está cheia”, Grace perguntou para Emma quando chegamos ao compartimento dela no final do trem. Emma, sendo a traça de livro que ela é, nem se incomodou em levantar a cabeça do espesso livro que ela estava lendo para nos responder; ela apenas acenou com a cabeça e continuou lendo. Apesar disso, Emma imediatamente me chamou a atenção. Sabe, minhas duas amigas meio que pertencem ao grupo da beleza. Elas são como a Barbie – tirando o fato de que elas não são de plástico. E, talvez, nem tão peitudas. Mas, mesmo assim, Barbies. Com personalidades, quero dizer. Personalidades um pouco estranhas quando você examina mais a fundo, na verdade.
Emma é a mais calma das duas e tem belos olhos azuis claros e um lindo cabelo loiro e liso. Ela também é a mais estudiosa de nós três (pelo menos, ela é agora, já que eu me tornei uma pessoa preguiçosa. Eu não costumava ser assim tão ruim. Francamente. Eu não era sempre a garota descuidada que eu sou hoje em dia. Só aconteceu.). Se bem que ela também tem uma fascinação esquisita por objetos estrangeiros e estranhos. Ela sempre traz esses objetos quando ela volta das viagens dela ou então, os compra naquela loja não confiável lá de Hogsmeade. Uma vez, quando ela foi com a família dela para a Índia, ela comprou um xale verde-esmeralda e insistia em usá-lo todo o dia ela encontrava uma nova maneira de usá-lo. Eu e Grace achamos super estranho, mas nós já estamos acostumadas com a estranha fascinação da Emma por esses tipos de objetos. No entanto, no dia em que acordamos e vimos a Emma com um novo turbante verde-esmeralda na cabeça, decidimos dar um fim a essa loucura (apesar de saber que ela ainda o tem. O xale, quero dizer. Eu o vi uma vez quando eu estava olhando o malão dela.). Emma é tipo a Barbie Estudiosa ( que vem com um xale verde-esmeralda especial! Veja as diversas maneiras que ela pode usá-lo!).
E a Grace? Ela seria mais ou menos a desordeira Teresa (N/T: uma das amigas da Barbie). A garota tem muita energia e uma concentração do tamanho de uma ervilha. Ela é uma mulher completamente maluca quando não tem nada para fazer, o que já a colocou – sem mencionar eu e Emma – em um monte de confusões mais de uma vez. Como em uma vez que ela não tinha nada para fazer e aí pensou que seria divertido pegar um pouco de sorvete no freezer da cozinha de Hogwarts...Claro, era apenas “diversão” às três da manhã. Então, nessa noite, ela arrastou uma relutante Emma e uma Lily ainda meio sonolenta por 14 lances de escada até a cozinha às três e meia da manhã. Isso, isoladamente, já teria sido ruim o bastante, mas então, nós, de alguma forma, conseguimos nos trancar naquele maldito freezer idiota quando Grace, acidentalmente, fechou a porta (que era daquelas que se trancam automaticamente) assim que nós entramos. Cinco horas depois, quando um elfo-doméstico finalmente abriu o freezer, nós fomos mandadas para a ala hospitalar.
E quer saber de uma coisa? Quando nós estávamos lá na ala hospitalar, congeladas dos pés à cabeça, Grace sugeriu que fizéssemos aquilo de novo algum dia (o que, claro, NÃO irá acontecer porque eu prefiro manter todos os meus dedos e não quero perdê-los por causa de congelamento). Entende o que eu quero dizer? Louca! Mas Grace, de alguma forma, também herdou os genes da beleza. Ela tem longos cabelos castanho-escuro e uma pele permanentemente bronzeada. Ela tem um nariz um pouco comprido, mas é apenas uma característica distintiva que ela tem, nada para se desesperar.
E eu? Bem, eu sou a Barbie ruiva, aquela que pararam de fabricar porque ninguém gostava dela. Como eu fiquei amiga dessas pessoas que parecem muito com supermodelos, eu nunca vou saber.
Mas essa não era a questão. Onde eu estava? Ah, certo, no trem. Então, de qualquer forma, eu e Grace passamos os primeiros vinte minutos falando sobre as nossas vidas até que Emma não teve outra escolha, a não ser se juntar a nós. É engraçado como três pessoas tão diferentes podem se dar tão bem. Mas, de certa forma, nós conseguimos. Nós temos, tipo, duas coisas em comum, mas isso nunca pareceu ser um problema.
“Minha mãe ficou na Corvinal, mas eu gostaria de ficar na Grifinória”, disse Emma, quando estávamos discutindo a cerimônia do chapéu seletor que aconteceria naquela noite.
“Há anos que minha família fica na Grifinória”, Grace disse, dando de ombros. “Eu espero ficar lá também”.Depois, ela se virou pra mim. “E você, Lily? Em qual casa você quer ficar?”.
A pergunta me pegou de surpresa. Eu não sabia a diferença entre as casas. Segundo a breve descrição de Grace, as crianças más iam para a Sonserina, as corajosas para a Grifinória, as inteligentes para a Corvinal e todas as crianças boas para a Lufa-Lufa. Eu achava que eu não pertencia a nenhuma dessas categorias específicas, mas eu queria ficar com a Grace e a Emma, então eu respondi que queria ir para a Grifinória também.
“Não seria ótimo se todas nós ficássemos juntas na Grifinória?” Emma perguntou, sorrindo alegremente.
“Seria genial!” Grace concordou com um aceno da cabeça. “Mas com a sorte que eu tenho, eu provavelmente vou ficar na Sonserina!”. Ela fez uma cara de nojo ao dizer a última palavra, o que nos fez rir. Nossa risada foi rapidamente cortada quando a porta do nosso compartimento foi aberta violentamente e depois fechada novamente com a mesma pressa, revelando um dos pontos negativos de Hogwarts.
O maldito James Potter.
(Bem, não só ele. Três dos quatro marotos também estavam lá. De qualquer modo, que tipo de pessoas se auto-nomeiam “marotos”? Quero dizer, eu nem consigo me lembrar de alguma época que eles não foram chamados de “marotos”. Eu sei que eles causam problemas e tal mas, francamente, que estúpido!)
“Gracie!”, exclamou um divertido e muito sujo (até hoje eu não sei o porquê) Sirius Black. Sirius é um dos muitos primos de Grace. Essa é uma outra coisa a respeito do mundo bruxo – todo mundo, de alguma forma, é parente de todo mundo. Sério. Bem, em todas as famílias puro-sangue, pelo menos. Grace e Sirius são primos muito distantes e remotos, mas ainda assim, primos de qualquer jeito. Sirius é um tanto popular entre os alunos de Hogwarts porque todo mundo o acha maravilhoso e bonito. Eu não posso me opor muito a esses comentários porque eu sei que ele é muito engraçado e meio atraente com aquele jeito misterioso e obscuro que ele tem, mas nunca o consideraria como um potencial encontro. Quero dizer, ele é muito imaturo. Seria como estar gostando de um garoto de seis anos.
“Black!”, Grace sorriu ao cumprimentar seu primo. Ela observou os três garotos, que estavam todos com vestes muito sujas. “O que, por Merlim, vocês estão aprontando?”.
“Eles insistiram em fazer uma visitinha ao Snape”, disse o segundo garoto, Remus Lupin, enquanto apontava o dedão na direção dos amigos. Remo é um pouco diferente do resto dos “nossa-vida-é-focada-em-azarações-e-somos-uns-idiotas” marotos. Ele é bastante estudioso e realmente se importa com os deveres de casa, ao contrário dos outros três, que nunca parecem estudar e simplesmente consideram as aulas como um tempo pra dormir e planejar azarações. Eu não o conheço tão bem assim, apesar de termos sidos monitores nos últimos três anos, mas ele parece não ser tão persistente em aprontar confusões e azarações como o resto dos marotos. Ele também é bonito, mas de uma maneira diferente da do Sirius. Remus tem cabelos claros e olhos castanhos e, enquanto ele é um pouquinho misterioso (que cara não é?), ele não é exatamente “obscuro”. Eu não acho, pelo menos.
Grace bufou. “Vocês todos são uns babacas”.
“Fala sério, Grace! Nós não somos tão maus assim!” Insistiu o terceiro e último garoto.
Merlin, eu detesto ele.
James Potter deve ser o mais egoísta, pomposo, arrogante homem que já habitou o planeta. Ele é a pessoa que tem o maior cabeção que eu conheço. Sério. E tem mais. Ele é mau – bem, ok, não com todo mundo, mas ele é comigo. Todo mundo parece achá-lo completamente legal, mas isso é só porque eles não têm medo de passar no corredor quando ele está lá. É. Ele é mesmo um chato. Só porque ele é inteligente e joga Quadribol todo mundo parece achá-lo brilhante, apesar do fato de que tudo que ele faz é se mostrar. Ele se acha é um presente de Merlim para o mundo. É patético. E daí se ele teve muita sorte com os genes dele? E ele nem é TÃO bonito assim. O cabelo dele está SEMPRE bagunçado, os olhos dele são castanhos demais, e nem todo mundo gosta de um corpo malhado por causa do quadribol.
Está bem. Ele é bonito sim, mas o problema é que ele sabe disso. Ele é totalmente convencido.
“Quem é Snape?”, Emma murmurou para mim enquanto Grace continuava conversando. Eu dei de ombros.
Grace continuou conversando por, pelo menos, mais cinco minutos, completamente inconsciente de que eu e Emma ainda estávamos no compartimento. Nós, claro, ainda não tínhamos a menor idéia de quem eram aqueles estranhos intrusos.
“Ah! Eu me esqueci!” Grace finalmente disse, olhando para mim e Emma como se fosse a primeira vez. “Lily, Emma, esses são Remus Lupin, James Potter e meu primo, Sirius Black. Garotos, essas são Emma Vance e Lily Evans”.Nós todos nos cumprimentamos.
E, então, começaram as lendárias guerras Evans-Potter.
“Sabe”, Potter disse para mim, “seu cabelo parece que está pegando fogo”.
Ele, Remus e Sirius também, pareciam ter achado esse comentário um tanto genial e completamente hilário e todos começaram a rir bem alto. Eu, por outro lado, me senti bastante ofendida. Eu sei que meu cabelo é completamente horrível e eu realmente o detesto, mas isso NÃO SIGNIFICA que eu iria deixar um bundão como James Potter o insultar.
“Não parece não!”, respondi irritada, abrindo as fechaduras da ofensa atrás das minhas orelhas.”Além disso, o seu cabelo parece com um esfregão sujo e velho! Já tentou, alguma vez, penteá-lo?”.
O que é totalmente verdade. Sobre o cabelo dele, quero dizer. Eu descobri que, ou o cabelo do Potter é naturalmente bagunçado, (provando que, realmente, existe alguém com um cabelo pior que o meu) ou então, ele simplesmente não se importa (provando que eu ainda mereço o Prêmio do Pior Cabelo do Mundo).
Infelizmente para mim, no final das contas, a minha resposta ofensiva totalmente genial não pareceu incomodar o grande James Potter. Em vez disso, ele simplesmente passou a mão pelos cabelos como ele sempre faz, e começou a rir.
“Eles são muito esquisitos”, Emma murmurou enquanto observava o trio rindo como um bando de hienas.
“Garotos”, Grace suspirou, como um meio de explicação.
Depois, quando eu estava certa de que as coisas não poderiam ficar piores, (eu tinha, afinal de contas, um grupo de possíveis colegas de turma rindo de mim), elas ficaram.
Ela entrou.
O verdadeiro motivo pelo qual Hogwarts pode se tornar um inferno.
A VERDADEIRA Barbie de Hogwarts moveu-se lentamente para dentro do nosso compartimento (que, por sinal, estava bastante cheio naquele momento. Com risco de incêndio, apesar de eu não ter percebido isso naquela hora.).
“James! Sirius!”, ela gritou ao mesmo tempo em que acenava a sua mão perfeitamente tratada em saudação. “Eu estava esperando me esbarrar com vocês! E esse é o Remus Lupin? Eu não o vejo faz tempo!”.
A única coisa boa dessa situação foi que os Marotos finalmente tinham parado de rir.
“Elisabeth”, Eu vi Potter se engasgar lentamente. “Er... como você tem passado?”
Sabe, eu acho que eu posso realmente ter sentido um pouquinho de pena do Potter naquele momento...Não, esquece. Mesmo convencida, esnobe e anormalmente bonita, Elisabeth Saunders não consegue me fazer sentir pena daquele idiota.
“Bem”, Elisabeth respondeu, enquanto se sentava entre os três garotos, que pareciam ter acabado de engolir alguma coisa horrível. “Mamãe me levou a Paris esse ano. Eu fiquei tão chateada de não poder ir a festa de vocês. Eu queria tanto vê-los”.
“Sério?” Grace respondeu, entrando na conversa. “Nós realmente não sentimos a sua falta. De verdade. “
Elisabeth lhe lançou um olhar penetrante de falcão. Grace estava sorrindo triunfante.
“Eu pedi sua opinião, Reynolds?” Elisabeth perguntou com severidade. Grace a olhou de novo. “Eu acho que não”.
E então, apesar de eu não ter nada haver com aquela pequena briga e de eu mal conhecer aquela gente, o meu incontrolável e independente temperamento levou a melhor sobre mim (eu disse que era horrível).
“Bem, eu também não acredito que a gente tenha pedido que você nos honrasse com a sua presença, mas você vê, é a vida”.
Assim que as palavras saíram da minha boca, eu as queria de volta. O olhar de Elisabeth imediatamente abandonou Grace e se virou para mim ao ouvir o meu insulto grosseiro e completamente inesperado. Ela pareceu chocada no início, mas depois seus olhos se arregalaram ao olhar minha vestimenta: roupas de trouxa. Ela deixou escapar um pigarreio característico dela. Eu não sabia que ela estava pigarreando para mim. Eu não sabia que alguma coisa estava errada. Eu estava ocupada demais me preocupando em parecer ameaçadora. Eu tentei lançar um olhar típico, mas eu acho que estava apenas enrugando meu nariz. Eu apenas olhei enquanto Elisabeth se virava lentamente na direção da Grace.
“Gracie, Gracie, Gracie...”, Ela suspirou, colocando sua mão no ombro de Grace de um jeito bem zombeteiro e confortante. “Eu nunca pensei que veria o dia em que você começaria a se tornar amiga de sangues-ruins. O que todo mundo vai pensar?”.
Eu vi a boca de Emma abrir e ouvi um resmungo raivoso vindo de Grace e até os Marotos pareciam ofendidos, mas eu simplesmente fiquei parada, sem fazer nada. Eu não tinha a mínima idéia do porquê deles estarem a olhando como idiotas. Eu não sabia o que era sangue-ruim. Eu não sabia que Elisabeth tinha acabado de me insultar da pior maneira possível.
“Saia. Agora”, Grace mandou com uma voz bem fria.
Elisabeth simplesmente sorriu, graciosamente se levantou e seguiu até a porta do compartimento e, depois, como se tivesse se lembrado de alguma coisa, ela se virou na minha direção.
“Se cuida, sangue-ruim. Você não gostaria de entrar na lista negra de certas pessoas”.
E depois ela se foi. Eu queria tê-la chutado, ou puxado o seu cabelo, ou tê-la xingado até minha cabeça doer. Alguma coisa. Qualquer coisa. Mas, não. Eu ainda não tinha a mínima idéia sobre o que ela estava falando. Eu apenas “olhei” até meu nariz começar a doer.
E é isso.
Então, aqui estou, sete anos depois, não muito melhor do que naquela época. Elisabeth e eu ainda nos desprezamos e por causa de algum fenômeno, ela – junto com a Emma, com a Grace, com os Marotos e eu – fomos todos sorteados para a Grifinória. Você pode imaginar como é o nosso dormitório. Nada divertido. Eu posso contar algumas histórias malucas sobre –
Ei.
Espere um segundo.
Eu sou monitora-chefe.
O que significa... que Elisabeth não é!
Eba!!
Ah, eu achei meu distintivo. Ele, de alguma forma, apareceu nas minhas vestes. Agora, quem o colocou lá? Provavelmente, alguém responsável...E organizado...E não completamente medíocre.
Eu é que não fui.
Segunda-feira, primeiro de setembro, no carro a caminho da estação de King Cross
Minha irmã é uma idiota.
Quero dizer, muito, muito idiota. É quase engraçado o fato dela estar sendo uma idiota.
Ela realmente acha que usando óculos escuros, ninguém a reconhecerá.
Isso é completamente ridículo porque eu sei que qualquer um pode reconhecê-la. Eu sei disso porque não existem muitas mulheres ossudas, com cara de cavalo e pescoço de girafa vivendo em Little Whinging. Na verdade, eu não acho que tenha muitas mulheres ossudas, com cara de cavalo e pescoço de girafa vivendo na Inglaterra. Ou no mundo, no que me diz respeito. Percebe aonde eu quero chegar? Ela é simplesmente idiota.
Eu realmente tenho que parar de ser tão má. Eu não gosto quando as pessoas são más comigo então, porque eu deveria ser tão má com Petty? Afinal de contas, o feitiço pode virar contra o feiticeiro e eu já tenho um carma ruim suficiente.
“Então, como tem passado, Petty?”, eu perguntei pra minha irmã, me esforçando para ser legal.
Ela bufou e não respondeu.
Bem, essa tentativa de conversa acabou de dar errado miseravelmente.
Quer saber de uma coisa? Petúnia simplesmente bufou. Eu não acho que ela deva bufar desse jeito. Porcos bufam. Petty não é um porco. Ela tem cara de cavalo e pescoço de girafa, mas ela não tem características de porco. Cavalos e girafas não bufam. Na verdade, girafas nem têm cordas vocais. Cavalos fazem muitos barulhos esquisitos, mas eles não bufam. Por isso ela não deveria bufar. Eu acho que é contra as regras da natureza ou algo assim.
Droga, estou sendo má de novo. Eu realmente tenho que parar. Eu vou aprender a ser legal. Talvez eu peça Emma umas aulas. Ela é a pessoa mais legal que eu conheço.
É. Eu acho que eu vou...
Mais tarde, no Expresso de Hogwarts
Alguma coisa está errada.
Alguma coisa está terrivelmente e horrivelmente errada.
Ou isso, ou então alguma coisa ficará terrivelmente e horrivelmente errada.
Enquanto eu estou sentada aqui, olhando Emma ler o seu livro e Grace dormir, eu estou preocupada. Eu estou preocupada porque se o que eu acho que aconteceu, realmente aconteceu, uma, entre essas duas coisas, está correta:
Eu serei vítima de alguma brincadeira muito má dos marotos em um futuro muito próximo.
Ou
Eu acabei de ter uma conversa decente e PAQUERADORA com James Potter.
É. Eu estava pensando na opção A também.
Deixa eu explicar, porque eu preciso resolver isso e eu estou com medo do que Emma e Grace poderiam dizer/fazer se eu contasse a elas. Aqui vai o que aconteceu...
Eu cheguei à estação de King Cross bem mais cedo do que eu esperava. Parecia que Petty estava muito ansiosa em se livrar de mim porque ela foi embora com o meu malão ainda no carro. Isso, claro, não foi uma coisa bonita de se ver, porque eu tive que segui-la pelo estacionamento até que ela, finalmente, parasse o carro há uns 100 quilômetros de distância da entrada da estação. Felizmente, havia um carrinho de mão abandonado lá perto, então eu coloquei o meu malão em cima dele e andei os 100 quilômetros de volta (está bem, eram mais ou menos uns 100 metros, mas parecia mais distante). Quando eu cheguei na entrada, ainda eram 9:55. Então, eu fiquei vagando por lá um pouquinho.
Eu nunca tinha percebido como a estação de King Cross era realmente grande. Quero dizer, é uma estação de trem, então tem que ser grande, mas eu nunca realmente apreciei o quão grande ela era. Perto da Plataforma 15 até tinha uma pequena banda tocando. Até que eles eram bons para um bando de músicos velhos tocando em uma plataforma de uma estação de trem, então eu dei uns trocados para eles.
Quando eu cheguei nas Plataformas 9 e 10 eram 10:15. Eu percebi que era melhor chegar cedo do que atrasada, então eu atravessei a barreira. Foi bem fácil, na verdade. Ano passado, tinha um homem que não parava de olhar para a Emma, então o pai dela teve que distraí-lo enquanto eu e Emma atravessávamos a barreira. Não foi divertido. Um pouco engraçado me lembrando disso agora, mas não foi divertido.
A plataforma não estava cheia como ela geralmente está, mas tinha uma quantidade decente de pessoas. Havia alguns estudantes conversando com seus pais na plataforma, mas nenhum que eu conhecesse. Eu presumi que a maioria deles deveria estar no primeiro ano porque eles não estavam usando nenhuma das cores das casas. Eu dei mais uma rápida olhada ao redor antes de me dirigir à porta principal do trem para levantar meu malão e embarcar.
Foi aí que aconteceu.
Não havia nenhum dos usais sujeitos levantadores de malões na frente do trem como sempre tem. Eu nunca tinha realmente colocado meu malão dentro do trem antes, porque aqueles úteis sujeitos estavam sempre lá para fazer isso por mim, mas eu tinha plena certeza de que não poderia ser muito difícil. Afinal de contas, as mulheres têm ficado cada vez mais fortes. Eu vi uma competição de força de mulheres na televisão durante o verão e elas conseguiam levantar carros, por que eu não poderia levantar um malão? É claro que eu conseguiria. Eu sou uma jovem garota atrevida, forte e em forma. Eu conseguiria fazer isso.
É. Claro. Tá bom.
Por que às vezes eu sou tão idiota?
Eu estava levantando meu malão quando, de repente, ele decidiu ficar muito pesado...extremamente pesado. Eu não quero dizer o tipo de peso como não-mãe-eu-não-posso-carregar-a-roupa-para-o-meu-quarto-porque-é-muito-pesado. Era mais como duas-vezes-o-peso-do-meu-corpo. Agora que estou pensando sobre isso, eu estava sendo muito idiota. Como a idiota da Petúnia. Eu deveria ter simplesmente esperado um daqueles sujeitos fortes chegarem para carregarem meu malão. O fato de que eu não tinha nenhuma força parecia ter sumido da minha mente naquele momento particular e crucial. Eu estava ocupada demais, pensando em todas aquelas mulheres fortes que poderiam levantar malões como aquele com um dedo, sem considerar o fato de que eu não era uma delas. Então, eu fiquei lá, parada estupidamente, meu malão um pouco levantado e eu quase o derrubando. Eu estava esperando os meus braços desistirem e meu malão cair e abrir, revelando toda e qualquer coisa que uma garota esconderia em seu malão...Mas isso não aconteceu.
Na verdade, meu malão foi totalmente levantado das minhas mãos secas e colocado no trem antes mesmo de eu perceber que ele tinha ido embora. Primeiramente, eu não tive a menor idéia do que tinha acontecido. Eu pensei que, talvez, no meu completo desespero de impedir que minhas coisas não-mencionáveis caíssem do malão para todos verem, minha adrenalina contribuiu e me ajudou a levantá-lo. Aí eu percebi que tinha alguém em pé perto de mim e todas as minhas fichas caíram.
“Obrigada”, Eu disse, me virando para encarar o estranho que, naquele momento, tinha se tornado o meu cavaleiro-de-armadura-brilhante.
Tirando o fato de que não era um estranho que estava atrás de mim.
E com certeza, que diabos, não era meu cavalheiro também.
Era James Potter.
“De nada”, ele respondeu, com uma voz não James-Potter-falando-com-Lily-Evans. Esse gentil e amigável tom que ele estava usando não era igual aos que eu já tinha escutado antes, já que nós nunca fomos gentis um com o outro. Eu olhei para ele ceticamente, o esperando soltar algum comentário rude sobre como eu não consigo levantar as minhas coisas e como eu era uma fracote estúpida...Mas isso também não aconteceu. Ele simplesmente ficou lá, olhando e sorrindo para baixo – e eu quero dizer para baixo porque ele, diferentemente de mim, não foi amaldiçoado com uma altura de 1,70m, mas com uma ótima, alta e masculina altura de 1,87m. Mas a altura dele não era o que estava me incomodando. O que estava me incomodando era o sorriso dele. Não era um daqueles sorrisos eu-sou-melhor-que-você-e-posso-levantar-malões-pesados que eu esperaria de James Potter em um momento como aquele. Era mais como um sorriso eu-sou-um-cara-legal-e-você-realmente-quer-gostar-de-mim que eu nunca teria esperado. Eu estava muito absorvida em contemplar seu sorriso e suas ações que eu nem percebi que eu deveria ter respondido ao “de nada” dele. Eu simplesmente fiquei lá parada, olhando e sendo completamente rude. Naturalmente, ele não pareceu perceber. Isso, ou ele simplesmente não se importava.
“Você é monitora-chefe?”, ele perguntou, quebrando a minha ridícula linha de pensamento e me fazendo voltar à realidade. Ele apontou para o distintivo que estava pregado nas minhas vestes.
“Er – sim. É, eu sou”.Eu olhei para o bonito e brilhante distintivo que parecia estar me zombando agora. “Na verdade”, eu disse, as palavras escapando da minha boca antes que eu pudesse pará-las. “Eu meio que estou esperando alguém vir e tirá-lo de mim. Sabe, eles me dizerem que tudo foi um engano e que eles o dariam para alguém como a Elisabeth Saunders ou algo assim”.
Por que eu disse isso a ele? POR QUÊ? Havia alguma necessidade, seja lá qual for? Que boca traidora que eu tenho.
“Por que eles fariam uma coisa dessas?”, ele me perguntou, com um tom realmente parecendo que ele estava preocupado. Isso me pegou de surpresa. Eu não tinha a mínima idéia do porquê dele estar sendo tão legal comigo – bem, não exatamente legal, essa parte ainda não chegou, mas, certamente, não como ele é geralmente. Ele não tinha me insultado ainda, o que era um grande recorde.
“Porque eu sou completamente desorganizada e medíocre”, eu respondi, as palavras, novamente, saindo sem meu consentimento. “Sem mencionar o fato de que eu não sou inteligente. Então, por que me escolher quando você pode escolher a perfeita e sociável Elisabeth?” O que era tudo verdade, mas eu não tinha a intenção de contar para ninguém. Por que eu estava, repentinamente, contando tudo isso para James Potter, eu não tenho a menor idéia. A culpa é toda da minha boca traidora.
E então, ele riu.
Mas, novamente, não era uma risada maléfica ou uma risada convencida, como as que eu costumava ouvir. Era uma risada muito gentil e amigável (o que eu, realmente, não deveria estar falando já que eu nem gosto do James Potter, então sua risada não deveria estar soando gentil).
“Não seja ridícula”, ele disse, ainda rindo com aquela mesma risada. “Eles teriam que estar malucos para escolher Elisabeth ao invés de você”.
Minha boca quase chegou ao chão.
Eu nunca, jamais ouvi James Potter dizer algo legal como aquilo. Pelo menos, não seriamente, de qualquer forma, o que foi como ele disse naquele momento. Eu estava esperando algo como “Há! Você está certa! PERDEDORA!”, mas não, ele tinha que ser todo legal comigo, o que apenas me levou a uma enlouquecedora dor de cabeça.
E então, uma idéia me ocorreu.
Tinha que ser uma brincadeira.
Em algum lugar ali perto, o resto dos marotos estavam escondidos e esperando para jogar algo em minha cabeça, ou me empurrar para os trilhos, ou algo igualmente diabólico. Essa era a única explicação lógica que poderia ão, eu fiz o que qualquer pessoa na minha situação faria: eu comecei a olhar e procurar ao redor da gente, examinando ao nosso redor por qualquer sinal dos marotos, ou então por qualquer tipo de balde, ou de corda, ou então qualquer outro tipo de objeto suspeito.
Apesar de fazer sentido para mim, Potter estava, obviamente, um pouquinho confuso a respeito do que eu estava fazendo.
“Er, Lily? O que você está fazendo?”.
Eu, instantaneamente, parei a minha busca por marotos/balde/corda e meu corpo congelou. Minha cabeça começou a girar.
Ele me chamou de Lily.
Lily.
Ele NUNCA me chama de Lily. Eu sempre fui Evans. Nunca Lily.
E aí foi quando minha boca traidora mudou para o modo suspeito e realmente deixou o estúpido sujeito saber de tudo.
“Por que você está sendo tão legal comigo?”, eu exigi, estreitando meus olhos enquanto um pequeno sorriso continuava no rosto do Potter. “Isso é algum tipo de brincadeira ou algo assim? Eu vou ser atingida ou, possivelmente, jogada em algum lugar –”.Meu descuidado interrogatório foi cortado quando Potter começou a rir de novo.
“Eu não posso ser legal com você?”, ele perguntou, com uma expressão esquisita no rosto. “Eu sou legal e, imediatamente, você pensa que é uma brincadeira? Isso é, sinceramente, o que você pensa de mim?”. Por trás de sua risada, ele pareceu quase magoado, mas isso não me enganou. Eu só queria que minha boca Benedict Arnold (N/T: general americano que traiu os americanos na Revolução. Hoje, nos Estados Unidos, Benedict Arnold é sinônimo de traidor) tivesse se sentido da mesma forma.
“Essa é uma pergunta retórica?”, eu me ouvi dizer em um tom baixo. Mas, minha boca desleal arruinou a minha fala de novo porque, ao invés de soar completamente sério como eu tinha pretendido que o comentário soasse, saiu muito parecido com um flerte, o que NÃO era, definitivamente, o que eu estava querendo. Eu queria ter explicado para o Potter sobre a minha boca traidora porque ele pareceu bastante chocado com aquele meu tipo de tom de voz.
Então, de novo, lá estava eu.
“Você quer que eu seja mau com você?”, ele perguntou então, de um jeito meio paquerador, mas de um jeito mais sério que eu. Eu fico pesando se Potter também tem uma boca rebelde. Se tem, aquele jeito de agir meio paquerador deve ter sido não-intencional. Porque, certamente, não foi intencional. Isso simplesmente não é possível.
“Bem...”, eu suspirei, procurando por uma resposta à sua pergunta. Eu QUERIA que ele fosse mau comigo? Eu acho que não...mas...um Potter legal? Isso seria muito esquisito. Quero dizer, super esquisito. Então, eu disse isso a ele.
O estúpido bastardo simplesmente fez brotar aquele estúpido sorriso eu-sou-um-cara-legal,o que está agora na minha lista de coisas a odiar (junto com a risada dele) e olhou para mim pensativamente.
“Esquisito?”, ele perguntou, coçando seu queixo e fingindo ponderar a minha resposta. Então, minha boca estúpida simplesmente TINHA que sorrir de um jeito estúpido. Claro, não ERA para eu sorrir, considerando que a velha, e-não-controlada-por-sua-boca Lily NUNCA sorriria para qualquer coisa que James Potter falasse ou fizesse. Mesmo que ele parecesse completamente ridículo coçando o queixo dele daquele jeito. “É, acho que sim”, ele disse sorrindo (daquele jeito que eu odeio) respondendo ao meu sorriso (que, eu lembro a vocês, não estava lá por minha livre e espontânea vontade).
“É”, eu concordei, ainda tentando retirar aquele estúpido e independente sorriso da minha cara. “Muito esquisito”.
Então, veio o silêncio. Para qualquer um que olhasse, tenho certeza que toda essa situação deve ter parecido bem estranha. Vocês nunca pensariam em ver Lily Evans e James Potter parados em frente ao Expresso de Hogwarts, sorrindo como idiotas um para o outro (apesar de eu ter certeza que ambos os sorrisos eram não-intencionais), tendo, o que parecia ser, uma conversa normal. Eu ficaria um pouco assustada, na verdade.
“Então”, ele disse, acabando com a minha guerra interna (minha cabeça vs. Minha boca). “Você não saberia me dizer quem é o monitor-chefe, saberia?”.
Essa não era a primeira vez em que eu me perguntava isso. Tenho certeza que qualquer outra monitora-chefe organizada, popular e incomum saberia exatamente com quem ela trabalharia, mas, naturalmente, como eu não tenho NENHUMA dessas qualidades já ditas, eu não tinha a menor idéia. Secretamente, eu estava rezando para ser Amos Diggory, um lufa-lufa pelo qual eu tenho uma quedinha desde sempre. Ele era uma das melhores opções, da última vez que eu ouvi falar, então, talvez Dumbledore tenha decidido me dar uma folga e tenha o escolhido.
“Claro que não”, eu respondi, dando de ombros. “Apenas uma monitora-chefe responsável e corretamente escolhida saberia desse fato e, como eu vou sofrer um impeachement logo, eles não se importaram em me contar”. Essa tinha sido a explicação que eu tinha dado à minha mãe e a mim mesma quando perguntada, então, eu não vi nenhum porquê de eu não contar para James Potter, já que eu já tinha estupidamente contado a ele tudo sobre as minhas inseguranças a respeito do meu cargo.
“Nós já não discutimos isso?”, ele me provocou, sacudindo sua cabeça. Depois, ele tinha que ir e colocar suas mãos nos meus ombros, tentando se tornar todo forte e tal pelo gesto, o que foi não só completamente inesperado, mas também me fez sentir aqueles arrepios indesejáveis na minha espinha. “Você NÃO vai sofrer impeachement, ok? Eles não poderiam ter escolhido alguém mais perfeita para o trabalho. Entendeu?”.
Eu queria que alguém tivesse me avisado que tudo isso aconteceria antes. Assim, eu poderia ter me preparado psicologicamente para toda essa gentileza e todo esse flerte e não ficaria com a língua presa como eu fiquei naquele momento. Eu, provavelmente, parecia uma idiota lá, em pé, acenando com a cabeça enquanto James Potter segurava os meus ombros. Claro, provavelmente, eu não teria pensando em nada para dizer de qualquer jeito, mesmo que tivessem me avisado antes.
“Excelente”, ele disse, finalmente me soltando. Eu não tinha percebido que eu estivera prendendo minha respiração, mas, aparentemente, eu estive, levando em conta o longo suspiro que saiu da minha boca depois que ele me soltou.
“Você não saberia me dizer, saberia?”, eu perguntei, assim que eu recuperei minha compostura. James apenas deu de ombros, obviamente detestando o assunto. Foi, então, que eu me lembrei que, apesar de todas as confusões, James também fora um dos principais candidatos para o cargo de monitor-chefe e eu, imediatamente, me senti horrível por trazer este assunto à tona.
“Mas eu sei de uma coisa”, ele disse calmamente. “Quem quer que ele seja, ele com certeza é um cara de sorte”.
“Por quê?”, eu perguntei estupidamente. Era óbvio que James queria ter sido escolhido e estava de luto diante da perda do cargo.
Pelo menos, eu pensava que ele estava.
“Bem”, ele respondeu suavemente, ficando um passo mais perto de mim. “Ele vai ter que trabalhar com você, não?”.
Foi AÍ que eu fiquei confusa. Quero dizer, totalmente e COMPLETAMENTE confusa. Garotos como James simplesmente não falam coisas como essas para garotas como eu. Talvez para garotas como Elisabeth Saunders, ou então as parecidas com a Grace Kelly, mas NUNCA para garotas como eu. Vai contra todas as regras sociais. E, não podemos esquecer que, antes de toda essa conversa, Potter e eu completamente nos DETESTÁVAMOS.
Então, toda a idéia da brincadeira ressurgiu de novo, porque eu estava certa de que o que ele acabara de falar ia contra todas as forças da natureza.
Foi um verdadeiro milagre o resto dos marotos terem escolhido aquele momento para aparecer e buscar James, porque eu tinha certeza que, apesar das minhas suspeitas, minha boca traidora estava quase dizendo uma coisa que eu me arrependeria totalmente como: “Eu queria que fosse você”, ou alguma coisa igualmente inapropriada.
“PONTAS!”, Sirius gritou enquanto ele, Remus e Peter Pettigrew – o quarto e último maroto – se aproximavam de onde eu e Potter estávamos. James imediatamente se afastou de mim, o que me fez ficar totalmente agradecida. Eu olhei Sirius se lançar e, instantaneamente, fazer uma cabeça-de-chave no Potter.
“Eu acho que ele está feliz em te ver, Pontas”, Remus riu enquanto Sirius cruelmente começava a bagunçar o cabelo de James, ocasionando sua vítima a puxar fortemente seus braços. James fez um alto barulho de protesto em resposta ao comentário de Remus. Eu não pude evitar rir um pouquinho, o que, no final das contas, levou Sirius a perceber que eu também estava lá. Então, claro que ele soltou James e se jogou em cima de mim. Sorte a minha.
“EVANS!”, ele gritou, me dando um enorme abraço de urso. “Cara, como é bom te ver! Não te vi o verão todo!”. Um pequeno barulho de concordância escapou da minha garganta, enquanto eu observava os outros marotos por cima dos ombros de Sirius. Remus e Peter riam abertamente da minha situação desagradável e James parecia estar reajustando seus óculos depois de seu ataque. Ele tinha uma expressão esquisita no rosto, quase de desapontamento. Eu não estaria desapontada se eu fosse ele. Eu estava esperando ansiosamente rever as MINHAS amigas. Por quê ele não estava?
Pensar nas minhas amigas me fez perceber que eu deveria ter me encontrado com elas no nosso tradicional compartimento há muito tempo atrás. Além disso, eu precisava de uma desculpa para sair dali.
“Você viu sua prima?”, eu perguntei para Sirius, assim que ele decidiu me soltar do seu abraço assassino.
“Gracie?”, ele perguntou, coçando seu queixo assim como James tinha feito algum tempo atrás (claro que minha boca traidora não sorriu quando SIRIUS fez isso. Maldita boca estúpida). Eu confirmei com um aceno de cabeça. Agora eu percebo que eu não deveria ter dito ‘prima’, considerando que metade da escola, de alguma forma, é parente de Sirius, mas eu só poderia estar procurando Grace, então eu acho que era aceitável. “Ela entrou no trem há uns minutos atrás”, Sirius me disse alguns segundos depois. “De qualquer forma, eu acho que ela estava procurando por você”.
“Obrigada! Er, então, tchau”. Depois eu me afastei dos marotos o mais rápido que eu pude, subi no trem e andei rapidamente pelo corredor até a parte de trás. Nosso compartimento era o sexto. Era o que a gente sempre sentava desde o primeiro ano e nós sempre nos encontrávamos lá.
“Lily!”, Grace gritou enquanto eu abria a porta do nosso compartimento. Eu sorri imediatamente diante da familiar visão das minhas amigas. Emma estava, como sempre, sentada no assento do meio, lendo um livro grosso, e parecia que Grace já estava se preparando para dormir no assento do lado direito. Eu puxei Grace para um abraço e Emma imediatamente se levantou para que eu também pudesse abraçá-la. Era um alívio imediato ver que, pelo menos elas não tinham mudado. Eu já tinha tido o bastante disso por hoje.
“Onde você estava?”, Emma me perguntou enquanto eu me sentava no meu tradicional assento perto dela.
Eu realmente não queria dizer o que tinha me distraído, porque eu estava com medo do que elas poderiam dizer, ou de que elas me apontassem o óbvio (que eu não queria ouvir). Então, em vez disso, eu menti.
“Trânsito”, eu declarei com hesitação. “Eu fiquei parada no caminho até aqui”.
Eu fiquei aliviada quando elas não continuaram com assunto.
Nós nos sentamos e conversamos sobre o que tínhamos feito durante o verão. Emma tinha ido à Roma com a mãe dela no mês de Julho. Ela retirou uma pedra velha de um dos prédios de lá e a amarrou em um barbante para que ela pudesse usar como um colar. Eu e Grace dissemos “ahhh” para o esquisito pedaço de jóia, apesar de eu, pessoalmente, ter pensado que era uma pedra um tanto feia e que ela pertencia à caixa de entulho ao invés de pertencer ao pescoço de Emma. Grace esteve ocupada todo o verão viajando para todas as suas festas de família. Ela disse que foi completamente entediante porque Sirius não foi a nenhuma delas, já que agora ele morava com o Potter (por causa de alguma briga de família, eu acho), então ela não teve ninguém para conversar (o que ela realmente quis dizer é que ela não teve ninguém para criar confusão com ela). Eu, claro, fiquei em casa todo o verão, fazendo absolutamente nada a não ser comer e assistir televisão. Elas ficaram extremamente felizes com o meu cargo de monitora-chefe (eu tinha escrito a elas no segundo em que eu tinha recebido meu distintivo) e insistiram mais uma vez que eu não sofreria impeachment e que eu tinha sido corretamente escolhida para o cargo.
Psh. Que mentirosas.
Então, aqui estou.
Uau.
Me sinto bem melhor.
Talvez eu conte para Grace e Emma.
Veremos.
Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano.
ELE MENTIU PRA MIM!
AQUELE NOJENTO DESAGRADÁVEL MENTIU PRA MIM!
EU NÃO ACREDITO NISSO!
Eu estava sentada na mesa da Grifinória, jogando conversa fora com a Grace, com a Emma e alguns primeiranistas, quando Dumbledore se levantou para fazer seu anual Discurso de Boas-Vindas.
“Saudações, estudantes de Hogwarts!”, ele disse sorrindo, enquanto dava uma olhada em todo o Salão Principal. “Sejam bem-vindos a mais um ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Eu tenho alguns avisos a fazer antes de vocês começarem seu banquete. Primeiro, gostaria de lembrar a todos que a Floresta Proibida é apenas isso: proibida.” Eu tenho plena certeza de que ele estava olhando diretamente para os marotos quando ele disse isso, porque é de conhecimento de todos que eles já estiveram lá mais do que em poucas ocasiões. O porquê de eles quererem entrar num lugar pavoroso e cheio de monstros como a Floresta Proibida, eu nunca vou saber.
“Segundo”, Dumbledore continuou, seus olhos cintilando com o calor da vela acesa do Salão Principal. “Sr. Filch me pediu para avisá-los de que todos os produtos comprados na Zonko’s não podem ser usados no interior do castelo. A lista dos outros objetos proibidos pode ser encontrada perto da sala do Sr. Filch no corredor do quarto andar. Terceiro, gostaria de informar a todos os estudantes de Hogwarts do terceiro-ano pra cima, que a primeira visita a Hogsmeade está marcada para dia dezoito de outubro. E, por último,”, ele disse olhando por todo o Salão Principal, me avistando por um momento. “Eu gostaria de anunciar os monitores-chefes desse ano: Senhorita Lily Evans da Grifinória”, eu me levantei lentamente (na verdade, foi mais a Grace me empurrando para cima, mas eu levantei de qualquer forma) do meu lugar, enquanto todo mundo aplaudia lentamente. “e nosso monitor-chefe”, Dumbledore continuou, enquanto eu me sentava novamente, rezando silenciosamente que ele chamasse Amos, “ é o Sr. James Potter, também da Grifinória”.
James Potter.
Era ele.
Ele era o monitor-chefe!
Custou toda a vontade do meu corpo inteiro para que eu não me levantasse de novo e começasse a estrangular o Potter. Ao invés disso, eu fiquei sentada lá, de boca aberta, encarando o maldito idiota. E você sabe o que mais? Ele ao menos nem se importou com a mentira. Você sabe como eu sei que ele não se importou? Porque ele também estava me olhando. E você sabe o que ele fez?
ELE SORRIU!
Agora, por que, por DEUS, alguém SORRIRIA mesmo sabendo que tinha MENTIDO e aumentado as esperanças de uma pobre garota? POR QUE ELE FARIA UMA COISA DESSAS? EU PENSEI QUE ELE TIVESSE MUDADO PRO MODO LEGAL! QUAL É O PROBLEMA DELE?!
E eu me senti mal por ele também! Por ele e o seu estúpido tom ‘não-vamos-conversar-sobre-isso’. Uma coisa é certa: eu NUNCA mais vou me sentir mal por James Potter de novo! Na verdade, eu nunca mais vou FALAR com James Potter de novo! Nunca mais! Em toda a minha patética e dispensável vida!
E a noite também ficou ainda pior. Não só eu estava completamente deprimida durante todo o banquete, (porque eu estava esperando ansiosamente trabalhar com Amos Diggory, que eu tenho certeza que nunca mentiria pra mim, já que ele é perfeito de todas as maneiras), mas também porque eu tive que ficar sentada lá, ouvindo Grace e Emma tentando me consolar. Mas elas não entendiam nada.
E essa nem é a PIOR parte! Porque depois que eu deixei todos os primeiranistas falantes no Salão Comunal da Grifinória (mantendo a maior distância humanamente possível entre eu e Potter), eu estava quase satisfeita em apenas subir, deitar em minha cama e dormir para esquecer a minha noite horrível, mas Merlin sabe que isso não podia acontecer. TUDO tem que dar errado para a Lily.
ELISABETH SAUNDERS TINHA QUE SE INTROMETER NA MINHA HORA DE DORMIR!!
“Então”, eu ouvi sua voz venenosa, enquanto eu entrava no nosso dormitório. Eu a olhei, sem a menor vontade de brigar, mas sabendo que isso aconteceria do mesmo jeito. Elisabeth estava sentada em sua cama, perfeita como sempre, com sua leal aliada, Carrie Lloyd (que também é uma setimanista da Grifinória) sentada perto dela. “Você é a monitora-chefe”.
Eu mordi meus lábios para não ter que responder. Eu não queria ter que lidar com ela. Eu não queria que ela me perturbasse.
Ela balançou sua cabeça com tristeza por causa do meu silêncio. “Eu poderia dizer francamente que foi um choque completo, Evans”. Um sorriso pequeno e presunçoso apareceu em seus lábios. “Afinal de contas, quem escolheria uma garota como você para um cargo como aquele?”. Ela, então, virou sua cabeça para Carrie. “Meu pai sempre disse que Dumbledore era completamente maluco”. Ela se virou novamente para mim, com aquele seu ameaçador sorriso idiota. “Eu acho que isso só mostra que ele estava certo”.
Eu não tinha saído da porta durante toda a conversa, e apenas fiquei lá, de boca aberta, sem poder responder. Afinal de contas, ela estava certa. Eu NÃO DEVERIA ser monitora-chefe. Eu SEMPRE soube que eu era errada para o cargo.
Talvez tenha sido o dia horrível que eu tive que me fez ficar tão emotiva, ou talvez tenha sido o fato de que foi Elisabeth que apontou os fatos óbvios, mas o que quer que tenha sido, eu fiz a coisa mais idiota que uma garota no meu lugar poderia ter feito.
Eu comecei a chorar.
Era uma coisa tão idiota pra se fazer, eu sei, mas, honestamente, eu não consegui evitar. Tinha sido um dia tão horrível. E foi tão injusto porque, geralmente, eu não sou o tipo de garota que cai no choro por qualquer coisa. Geralmente, eu sou muito boa em guardar as lágrimas para poucas situações. Eu nem podia me lembrar da última vez que eu tinha chorado. Mas, no entanto, lá estava eu, parada perto da porta, as lágrimas ameaçando cair, enquanto eu tentava as segurar com toda a minha vontade.
“Oh, eu atingi um ponto fraco, Evans?”, Elisabeth zombou, enquanto elas caminhavam até mim. Eu não me movi uma polegada, mas isso pareceu dar a Elisabeth ainda mais satisfação já que ela e Carrie esbarraram em mim e desceram, rindo, para o Salão Comunal.
Então, essa sou eu. A monitora-chefe grande, velha e chorona. POR QUE eu fui escolhida para essa tarefa? Só fez esse ano ficar mil vezes pior.
Merlin, eu tenho uma vida horrível.
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