Nova Era



Capitulo 27 – Nova Era


O sol, finalmente, iluminou a todos, forte e quente, cegando-os e aquecendo-os. Uma brisa fresca veio de longe, limpando qualquer cheiro de sangue ou morte.


Quando todos puderam ver novamente, um homem de cabelos grisalhos caindo-lhe aos ombros atravessava os ferros queimados e retorcidos com outro homem, de cabelos negros e compridos, inerte em seus braços.


Todos, sem nenhuma exceção, tiveram reações à base da surpresa. A comemoração parou para dar lugar aos gritos, suspiros e lamentações. Ninguém conseguiu impedir que o pior se desenhasse em suas mentes. Para eles, pior do que Voldemort vencer, era aquela visão que tinham.


O corpo de Harry Potter nos braços de outro.


Inerte.


Frio.


Morto.


- Não! – Hermione caiu sobre os joelhos, o rosto já manchado pelas lágrimas.


- Harry... – Rony ficou em choque, paralisado.


- Não! Harry... NÃO!!! – Gina correu até seu amado, lágrimas escorrendo livre, o rosto em uma máscara de pavor.


Cassius McWell parou, os olhos firmes sobre a guerreira ruiva.


- Ginevra Molly Weasley! – chamou ele, a voz forte e sábia fazendo-a parar de correr – Preste atenção! – ordenou.


Ela encarou-o aturdida, a respiração descontrolada e o coração a mil. Cassius abaixou o olhar para Harry. Gina seguiu-o. Seu coração rachou ao ver seu amado daquele jeito. Pálido e mort...


Não!


Pálido e vivo!


O coração da ruiva restaurou-se quando um sorriso leve tomou seus lábios. Ela correu, ainda sorrindo, até o mago, que caminhava ao seu encontro. Ao se encontrarem, ela estendeu as mãos e tocou o rosto frio e pálido de Harry. Ela riu levemente. Uma risada calma e divertida que sempre vem quando se nota que o pavor que acabara de sentir era falso.


- Vivo. – sussurrou Cassius para ela, o sorriso sincero que Gina conhecia no rosto de Owen.


- É... – Gina riu novamente – Vivo.


- Vivo? – uma voz perturbada estava próxima.


- Sim, Owen. – respondeu Cassius - Vivo.


- VIVO! – gritou Owen, virando-se para todos – ELE ESTÁ VIVO!!!


Um coro de vivas e aplausos explodiu pelos terrenos. A comemoração reiniciou-se, mais viva e forte que antes.


=-=-=


O sol já estava alto. Os terrenos de Hogwarts refletiam o calor e o conforto do astro, limpos de qualquer resquício de sangue, lágrimas ou morte. Os alunos haviam sido encaminhados às suas famílias. Permaneciam apenas os que escolheram ficar e eram muitos, por sinal.


Durante todo o dia, assim que a limpeza fora terminada, ocorreram velórios de pessoas vinculadas à escola: professores, alunos, aurores e membros da Ordem, que auxiliaram na defesa do castelo desde o começo. Além das homenagens que foram enviadas aos familiares.


Apesar do luto e da tristeza, ninguém se vestia de preto. Todos, sem nenhuma exceção, trajavam vestes brancas. Lágrimas escorriam de incontáveis olhos, contudo, o número de sorrisos era maior. Outros sentimentos superavam a tristeza.


O principal era a esperança de um futuro melhor.


Uma nova vida para todos.


=-=-=


Hogwarts estava praticamente vazia. Os corredores, salas e salões desfrutavam de uma solidão incomum para as últimas centenas de anos. Os alunos e professores haviam se retirado antes do pôr-do-sol e os fantasmas estavam reunidos em um salão esquecido pelos vivos realizando sua própria festa.


Sobre seres viventes, os únicos presentes em toda a área da escola estavam na Torre da Grifinória. Homens altos de cabelos ruivos estavam jogados de qualquer jeito nas poltronas do Salão Comunal e dormiam tranquilamente como se estivessem nas camas mais confortáveis do mundo. Um casal com os mesmos cabelos vermelhos jazia adormecido, muito bem acomodado, em um dos dormitórios.


Em outro dormitório, uma morena e um ruivo dormiam abraçados em uma cama, vencidos pelo cansaço e pelo sono. Em outra cama, uma ruiva dormia com a cabeça sobre os braços, que repousavam sobre a beirada da cama, o corpo sentado no chão gelado.


Ela não havia saído daquele lugar por um instante sequer. Tentara, inutilmente, vencer o cansaço que vencera os outros e permanecer acordada e vigilante.


Sobre a cama, um moreno de cabelos compridos dormia há horas e sem nenhum sinal de quando despertaria. Estava pálido e frio, desgastado pela batalha mais difícil de sua vida e que dera inicio a uma nova era.


Harry Potter abriu os olhos, a cabeça pesando e o corpo duro. Olhou para o lado e viu Gina dormindo. Ele forçou o corpo e sentou-se. A nova deformação do colchão acordou a ruiva, que ergueu o olhar para fitá-lo instantaneamente.


Não houve palavras, nem tempo para elas. No segundo seguinte eles estavam abraçados, as lágrimas escorrendo pelo rosto dela.


- Eu fiquei com tanto medo. – confessou ela com um sussurro abafado, o rosto enterrado no peito dele.


Harry não disse nada, apenas deitou-os e a abraçou mais forte. Demorou alguns minutos até que ela se acalmasse e silenciasse.


- Você está bem? – perguntou ela, a voz controlada, mas fraca.


- Meu corpo e minha cabeça doem, mas não se comparam ao caos da minha mente. E eu me sinto... – ele fez uma pausa e suspirou sem conseguir continuar, obrigando Gina a se erguer e olhá-lo nos olhos, que fitavam o teto – Ele se foi. – disse ele por fim, fugindo da afirmação que se formara em sua mente.


- Cassius disse que você estava sozinho. – o corpo dele tremeu ao som da última palavra e ela percebeu que cometera um erro, beijou-o ternamente e envolveu-o em seus braços para afastar dele aquele sentimento de solidão – Eu estou aqui, com você, agora.


Ele inspirou uma grande quantidade de ar, acalmando-se pelo cheiro floral dela. Com um delicado movimento, soltou-se dela e a afastou o suficiente para fitá-la. Não havia nada que Gina pudesse compreender nos verdes intensos dele. Ele mesmo dissera que sua mente estava um caos e isto se refletia em seus olhos. Harry forçou um sorriso e acariciou os braços dela com as mãos. Uma ruga surgiu em sua testa e ele a encarou confuso.


- Você está quente!


- Não! – ela riu baixinho – É você quem está gelado. Estava frio como gelo quando voltou... – uma sombra passou pelos olhos dela – Mas sua temperatura está voltando ao normal aos poucos.


- Normal?


- Ainda não sabemos. – confessou ela.


- E você? – ele acariciou os braços dela novamente.


- Cassius não soube explicar. Eu sou mais fria que os outros, mais fria que o normal humano. – explicou Gina.


- Está feliz com isto? – ele ficou preocupado.


- Claro! – ela deu um selinho nele e sorriu marota – Assim ainda seremos Gelo e Fogo.


Ele sorriu sincero, contudo ele viu em seus olhos a tristeza da perda. A ruiva virou-os de lado e puxou Harry de encontro ao seu corpo, encaixando a cabeça morena sob seu queixo e envolvendo-o com um abraço terno. Ele se aninhou naquele abraço acalentador e suspirou.


- Você não está sozinho. – sussurrou ela serena – Você tem a todos nós. Rony, Mione, papai, mamãe e todos os outros. Cassius, Owen e Sarah. Você me tem, Harry, para toda a eternidade. E se... – ela respirou fundo e sua voz saiu mais triste – se isto não basta... – ele se moveu, tentando se soltar para protestar, mas ela apertou-o e continuou – Fuoco e Luce estão com você também.


Ele paralisou com o som dos nomes.


“Tu nunca mais estará sozinho.” – a voz de Luce tomou a mente do moreno, uma lembrança que ele decidiu conservar para sempre.


A mão de Gina se moveu pelas costas dele e se espalmou no centro.


- Está sentindo? – perguntou ela.


Ele prestou atenção na mão dela. A outra, que pousava em sua nuca, estava quente, entretanto, aquela estava fria.


- Você...


- Não sou eu. – interveio ela, a mão fria percorrendo as costas dele, os dedos desenhando linhas – Consegue entender?


Ele concentrou-se nos dedos dela, desenhando em sua mente o que ela desenhava. Quando parte do desenho se completou, ele se soltou dela e a olhou nos olhos, espantado.


- Luce ou Fuoco?


- Ambos. – ela sorriu e o puxou para fora da cama, encaminhando-os até um espelho próximo.


Harry olhou seu próprio reflexo e se assustou. Os cabelos compridos e negros destacavam a palidez intensa de sua pele e o brilho de seus olhos verdes.


- Não se apavore. – Gina sorriu – Você estava completamente branco quando voltou. – ela tentou dar uma risadinha, mas a sombra em seus olhos a impediu.


Ela fez alguns movimentos com as mãos e, logo em seguida, ele estava sem camiseta e um espelho surgira atrás deles. Com um passo para o lado, a ruiva liberou a visão dele.


Por todo o tronco, da cintura ao pescoço, vermelho e branco tingiam a pele pálida. Representados perfeitamente, Fuoco e Luce circulavam um ao outro e suas cabeças terminavam uma oposta a outra, encarando-se.


Lágrimas formaram-se nos olhos verdes. Gina envolveu Harry com um abraço pela cintura pouco antes das pernas dele cederem e sustentou-o. Os braços pálidos circularam o pescoço da ruiva e a cabeça morena se enterrou no ombro dela.


- Você nunca mais ficará sozinho. – sussurrou ela, sentindo o ombro ficar molhado de lagrimas – Nunca mais.


Demorou alguns minutos para que ele se acalmasse. Mesmo quando parou de chorar, Harry não soltou Gina, tampouco moveu qualquer músculo.


- Escuta... – sussurrou Gina, a voz firme e decidida, os olhos brilhando pela decisão que tomara e pela loucura da mesma – quer uma prova de que eu nunca mais de deixarei? Depende apenas de você.


Harry retirou o rosto manchado de lágrimas do ombro dela e a fitou nos olhos, confuso.


- Pouco me importa a nossa idade e, se a Hermione vier falando dos nossos estudos ou o meu irmão ralhar por qualquer coisa estúpida que ele conseguir pensar, eu os estuporo sem pensar duas vezes! - ela ameaçou risonha, porém, seus olhos mantinham-se firmes e decididos.


- Gina... - ele ia contestar, pois não estava compreendendo.


- Casa comigo, Harry? - perguntou ela, súbita.


O espanto tomou a face dele e a expressão congelou. Cada segundo que se passou fez os músculos de Gina oscilar de tensos para desanimadamente soltos e sua face tomar uma expressão desolada.


- Ah! - exclamou ela, soltando-o e se afastando - Loucura minha. Imagina... A gente se casar assim... De uma hora pra outra. Esquece isso! - ela se virou de costas para ele e fez o espelho extra sumir, suspirando - Eu não devia ter dito isto, desculpe. - ela balançou os cabelos compridos - Não é a hora e...


Ela foi puxada para trás subitamente, as mãos e braços de Harry envolvendo-a pela cintura e trazendo seu corpo para junto do dele, colando-os com um abraço apertado.


- Verdade. - ele pousou o rosto no ombro dela - Não é hora. - ele depositou um beijo na pele macia - Que dia será? - ele estremeceu o corpo completamente quente em contraste ao frio dela.


Ela ficou imóvel, o choque paralisando-a.


- Que tal junto com o Owen e a Sarah? - pensou ele em voz alta, alheio ao estado dela - Ah, não! Eu quero aqueles cabeças duras como padrinhos! Quem mais podemos chamar? Rony e Hermione, não contam. Ele é teu irmão e ela é como uma irmã para mim. Acho que Remo e Tonks seria melhor, não? - ele pensou por alguns segundos - A Hermione vai ficar chateada, você não acha? Mas, creio que podemos recompensá-la com a apadrinhagem dos nossos filhos...


Ao som da última palavra, Gina despertou completamente e se desvencilhou dele, virando-se para encará-lo, abismada.


- Filhos?!


Ele estudou os olhos dela e suspirou, passando as mãos pelos cabelos.


- Você não ouviu nada do que eu disse, não é? – lamentou-se.


- O quê?


Ele deu uma risada animada e pôs as mãos quentes nos ombros frios dela, os olhos verdes fitando a cor de mel com carinho e intensidade.


- Ginevra Molly Weasley, sim! Eu aceito casar com você! - disse ele em alto e bom som.


A ruiva arregalou os olhos e abriu o maior e mais belo sorriso que ele já havia visto. Com um grito de felicidade, ela pulou sobre ele, selando seus lábios em um beijo ardente, os braços circulando seu pescoço e as pernas cruzando-se em sua cintura. Ele correspondeu ao beijo com paixão, uma das mãos envolvendo-a pela cintura e a outra cruzando as costas frias.


Em uma cama próxima, um casal despertou e se sentou sobre o colchão para ver o que acontecia no meio do dormitório.


- Harry! - gritou Hermione.


Gina separou os lábios já vermelhos dos de Harry e ambos fitaram a morena.


- Ele mal acordou e você já está abusando dele, Gina? - ralhou Rony, a expressão séria apesar do tom brincalhão.


- Cala a boca, Ronald! - Hermione o empurrou, jogando-o no chão e tomando impulso para pular da cama, na direção do casal.


- Ai! Doeu! - exclamou Rony, apoiando-se nos braços para se erguer.


Gina e Harry riram e se soltaram. Hermione jogou os braços em torno de Harry e o abraçou com carinho. Ele retribuiu o abraço e sorriu feliz. Era muito bom ser abraçado por uma irmã.


- Deixa um pouco dele para mim. - brincou Rony, aproximando-se.


O ruivo cerrou uma das mãos em punho e esmurrou a palma da outra, os olhos fixos em Harry, um sorriso brincalhão desenhado nos lábios. Hermione soltou o moreno, que ria de Rony. Os dois se abraçaram fortes e firmes. Risadas escapando de suas bocas.


Gina e Hermione abraçaram-se de lado, rindo da cena que acontecia. Os homens separaram-se por um braço e estenderam os outros para elas. Os quatro abraçaram-se mutuamente. Um abraço coletivo, entre irmãos, amigos e amores.


Ao se soltarem totalmente, Rony desferiu um soco no ombro de Harry.


- Isso é pela falta de vergonha de vocês dois.


- Falta de vergonha nossa?! - ralhou Gina, dividida entre o riso e a irritação - Não era que estava abraçada à Hermione com um sorriso pervertido no rosto enquanto dormia.


- Ronald! - exclamou Hermione, risonha e envergonhada.


- Não é minha culpa! - defendeu-se Rony, irritado - É sua! - ele apontou para a morena, acusador - Quem mandou você...


- Cala a boca, Ronald! - berrou Hermione, completamente vermelha.


Harry e Gina caíram em uma gargalhada gostosa e feliz, apoiaram-se nos pilares da cama mais próxima e deixaram-se levar pela alegria. Hermione e Rony fitaram os dois e, depois de se entreolharem, seguiram-nos na mesma gargalhada.


Depois de algum tempo, que eles não souberam dizer quanto, eles acalmaram os risos e se sentaram, Gina e Harry em uma cama de frente para Hermione e Rony.


- Tudo bem com vocês? - perguntou Harry, preocupado.


- Estamos ótimos. - respondeu Rony com um sorriso imenso.


- Cansados, para dizer a verdade. - corrigiu Hermione um pouco mais séria - Nós varamos a noite recolhendo os corpos e encaminhando os feridos e boa parte da manhã fazendo a limpeza dos terrenos.


- À tarde foram os velórios. - Rony assumiu um semblante carregado.


Hermione jogou um dos braços sobre seus ombros e ele a envolveu pela cintura. Harry percebeu que algo de muito ruim havia acontecido e, mesmo com medo da resposta, perguntou:


- Muitos mortos?


- Um bocado. - respondeu Gina, a expressão levemente carregada - Mais dos dele do que dos nossos, é verdade.


- Depois que você sumiu a coisa ficou realmente caótica. - começou Hermione - Os lobisomens se transformaram sem controle algum.


- Até mesmo os comensais os atacaram. - disse Rony, o semblante voltando ao normal.


- Algum conhecido? - Harry arrependeu-se de ter perguntado.


Tanto Rony quanto Gina ficaram mais sérios, as faces carregadas por sentimentos tristes.


- Percy. - respondeu Hermione, puxando Rony para mais perto.


- Ah, não! - exclamou o moreno, escondendo o rosto nas mãos.


Apesar de Percy ter atraído-o para uma armadilha de Snape, Harry não guardava rancor algum, pois, se fosse o contrário, teria feito o mesmo. Protegeria sua família a qualquer custo.


Hermione relatou o ocorrido quase aos sussurros. A tristeza de Rony a abalava. Ela ficou de joelhos sobre o colchão, puxou Rony para seu colo, depositando a cabeça ruiva logo abaixo de seu queixo, e acariciou os cabelos com as pontas dos dedos. Ele a envolveu pela cintura e fechou os olhos.


Harry se recompôs e puxou Gina para mais perto. Ela jogou as pernas sobre o colo dele e o envolveu pela cintura com uma das mãos e a outra posicionou sobre seu peito, depositando a cabeça sobre sua clavícula. Ele circulou as costas frias com o braço e pousou a mão em sua cintura, a outra sobre seus joelhos.


Quando Hermione terminou, eles se entregaram ao silêncio que se seguiu. Aproveitando-o cada um ao seu modo.


Depois de um tempo, Rony abriu os olhos, suspirou e relatou sobre outros mortos, citando nomes e explicando os ocorridos. Harry e ele se fitaram todo o tempo.


O moreno não soube o que sentir ao saber sobre Slughorn. Contudo, sentiu-se mal por, no primeiro instante, ter gostado da morte de Umbridge.


- Não se atormente por ter ficado feliz. - disse Hermione, fitando-o também - Muita gente ficou e não tinham sofrido um terço do que você. Eu admito, fiquei feliz sim dela ter morrido. - a confissão dela chocou a todos - Ela era uma má pessoa. Aposto que, se tivesse a oportunidade, teria se tornado uma comensal da morte.


- Nunca se sabe, Mione. - opinou Rony - Verificaram o corpo em busca da marca? - perguntou ele, ligeiramente risonho.


Harry deu uma leve risada, seu corpo tremendo levemente.


- Não se mecha Harry! - exclamou Hermione, de repente.


Ele congelou, assustado.


- O que? - perguntou.


- Fala baixo! - sussurrou ela - Eu nem acredito, mas a Gina dormiu!


- Ih... é verdade. - Rony soltou Hermione e se inclinou na direção de Harry - Ela praticamente desmaiou. - reclamou ele.


- Não é pra menos, Rony. - Hermione deu um tapa no ombro dele, recriminando-o - Ela ficou com o Harry desde que ele chegou. Só comeu porque eu a obriguei e ameacei sumir com o Harry. Aposto que ela não dormiu nem por um instante.


- Não. - interveio Harry, sussurrando e ainda imóvel - Ela estava dormindo quanto eu acordei.


- Devia ter desmaiado de cansaço. - disse Rony, triste pela irmã.


- Vamos acomodá-la na cama, Harry? - Hermione se levantou e se aproximou dele.


Ele concordou e, com muito cuidado, soltou Gina. Hermione o ajudou a se afastar da ruiva e a depositá-la no colchão. Atrás deles, Rony bocejou sonoramente.


- Rony! - ralhou Hermione, a voz baixa, mas perigosa.


- Eu também estou cansado. - defendeu-se Rony, espreguiçando-se.


- Pronto. - a morena sorriu, afastando-se da cama onde Gina deitava.


- Boa noite pra vocês. - desejou Rony, deitando-se sobre o colchão e virando-se de costas.


Harry sorriu, fitando o amigo.


- Tudo bem? - perguntou Hermione, estudando o moreno.


- Agora sim, Mione. - ele sorriu para ela - Agora sim.


Ele a abraçou com carinho e sussurrou em seu ouvido:


- Você é como uma irmã para mim. Sabe disto, não é?


Ela concordou com um resmungo, claramente emocionada. Ao se soltarem, ela depositou um beijo na face dele e sorriu, os olhos brilhando.


- É muito bom te ver assim.


Ele fez um carinho na face dela, os olhos brilhando com um carinho fraternal.


- Vai dormir, também, Mione. - Harry sorriu ainda mais - Todos nós precisamos de mais algumas horas de sono.


- Espero que esteja se incluindo nesse "todos nós". - ela bocejou e deu uma risadinha, afastando-se.


Ele acompanhou-a com o olhar, dando a volta na cama e se deitando junto a Rony. Um sorriso ainda maior se formou ao ver os dois amigos se aninharem um no outro, tão unidos quanto ele e Gina.


Ao pensar na ruiva ele se virou e fitou-a. Um sono tranquilo caia sobre a face dela, deixando-a serena. Com todo o cuidado que tinha, ele deitou-se ao lado dela. Ficou surpreso, e paralisado, quando Gina se moveu, virando-se para ele e deitando a cabeça em seu peito e a mão caindo em seu ombro. Ele a circulou um dos braços em suas costas frias e, com um movimento da mão livre, puxou o lençol para cobri-los.


Um sorriso se desenhou nos lábios dela, mesmo estando adormecida. Ele sentiu-se pleno de felicidade. Quanto mais breve fosse dormir e acordar com aquela mulher, mais feliz e realizado ele se sentiria. Com ela ali, em seus braços, ele sabia que ela estava segura e feliz. Beijou carinhosamente a cabeça ruiva e murmurou:


- Boa noite. Minha mulher. – suspirou ele em latim com um sorriso.


Após lançar um olhar para o rosto angelical da mulher que amava, ele se aninhou nela e no aconchego da cama.


O sono veio rápido e tranquilo, levando-o para um mundo de paz em seus sonhos.


=-=-=


Trevas. Uma escuridão mental e sensorial. Sem pensamentos e sensações. Nenhuma emoção. Nenhuma lembrança.


Então, um pensamento. O rosto de um anjo.


Uma sensação: o toque dos lábios do anjo em seu rosto.


Várias emoções: felicidade, carinho e amor.


Uma lembrança: sua mãe.


Novos pensamentos e sensações. Muitas emoções e apenas duas lembranças: pai e irmão.


Uma enchente de tudo o que a pouco não tinha. Pensamentos, sensações e emoções deixando-o tonto e perdido. Lembranças que se desenhavam sob seus olhos e davam forma ao caos de sua mente.


A última lembrança. A mais confusa.


Sua mãe saindo, após dar-lhe um beijo e dizer que o amava.


Seu irmão brincando consigo.


Sei pai chegando e ordenando aos dois irem para seus quartos.


Seu irmão, e ele próprio, confusos e com medo.


Seu pai retornando, calmo e pálido. Diferente.


Então, trevas novamente.


Contudo, nas trevas havia sons e sensações. Respirações e a brisa fresca que vinha de algum lugar. Não eram as trevas que o mantinham no escuro, eram seus olhos fechados.


Seus pensamentos estavam ordenados e normais, sequer lembrava-se do caos que o atingira anteriormente. A lembrança viva em sua mente era a expressão calma e pálida de seu pai. O que poderia ter acontecido para deixar seu pai tão diferente?


Abriu os olhos e avistou o teto manchado pelas sombras que os raios do sol da manhã produziam. Estava em seu quarto, reconhecia-o, embora estivesse diferente. A madeira do foro parecia envelhecida e a das paredes também, pelo pouco que conseguia ver.


Sentou-se na cama e olhou em volta. O guarda-roupa estava ali, empoeirado e envelhecido. Antes que seus olhos percorressem todas as paredes, eles se pregaram na parede oposta à cama, onde a figura de um homem o encarava.


Sorriu para ele, educado. Imediatamente o homem retribuiu.


Atrás do homem a cortina balançou e roçou em seus braços. A brisa fresca veio mais intensa sobre ele e, unido ao roçar de um tecido suave em sua pele, fazendo-o arrepiar-se. Abaixou o olhar para o tecido que passava em seu corpo. Branco, assim como o lençol da cama que refletia a luz forte do sol, cegando-o.


Ergueu os olhos e fitou o homem novamente. Que ainda o encarava. Levantou a mão para acenar. A mão do homem o seguiu, imitando-o perfeitamente, como um reflexo.


Paralisou. A mão levemente erguida tremendo. Abaixou-a. O homem seguiu-o sem nenhuma diferença de tempo ou movimento. Franziu a testa. O homem o imitou.


Aquela brincadeira estava irritando-o. Brincadeira, sim só podia ser isto, uma brincadeira de mau gosto.


Abriu a boca para ralhar com o homem. Fechou-a assim que o homem imitou-o. O mesmo também fechou os lábios.


- Para. – pediu, depressa para que o homem não o imitasse.


Duas coisas o espantaram. A primeira foi sua voz, rouca e forte. A segunda foi o homem, que o imitou perfeitamente, mas não emitiu som algum.


Fechou os olhos e esperou que, talvez, o homem parasse com a brincadeira. Bufou quando fitou o homem e este retribuiu o olhar e o bufo. Desviou os olhos e desceu da cama. De pé, o guarda-roupa pareceu tão pequeno. Ergueu a mão e tocou a madeira do foro do móvel. Não se lembrava de alcançá-la antes de ir dormir. De fato, lembrava-se de apenas conseguir abrir as portas pela própria madeira e não pelo puxador, que não alcançava.


Deu a volta na cama e parou entre ela e a parede onde o homem estivera. Ali estava ele novamente, mais perto e de pé.


Arregalou os olhos, pois estava da altura do homem, olhava em seus olhos diretamente. Estendeu a mão, o homem o seguiu. Tocou seus dedos nos do homem, entretanto, não os sentiu. Sentiu apenas a superfície lisa e gélida do espelho.


Espelho.


O homem era ele. Ele era o homem!


- Lars?! – ouviu uma voz conhecida chamá-lo.


Ele olhou para o lado, para a parede do quarto que ainda não tinha visto. Um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis profundos se levantou de uma poltrona e estendeu os braços para ele.


- Pai? – perguntou, reconhecendo os olhos do homem.


- Filho. – o homem abraçou-o carinhosamente.


- Eu to sonhando? – ainda abraçado ao pai, Lars fitou seus reflexos no espelho.


- Não, meu filho. – Cassius acariciou os cabelos loiros do filho, fitando-o através do espelho – Você cresceu. Tornou-se um homem.


- Por que eu não me lembro?


- Eu vou te contar tudo, meu filho. Tudo. – Cassius beijou a testa do filho e o puxou para a cama.


Eles se sentaram e os mistérios do vazio na mente de Lars começaram a ser preenchidos vagarosamente.


- Eu fiz tudo isto? – perguntou Lars horas depois, as mãos escondendo o rosto manchado de lágrimas.


- Não se culpe. – pediu Cassius – A culpa foi minha.


- Mas fui eu quem fez tudo isto. – a voz do loiro soou abafada.


- Escute. – Cassius segurou as mãos do filho e retirou-as de seu rosto – Ninguém te culpa.


- Eu quase matei meu irmão. Ele não me culpa? – perguntou com medo.


- Não. Ele me ajudou a te salvar. – respondeu o mago com um sorriso – Ele e Sarah estão lá embaixo, aguardando noticias suas.


Lars abriu a boca e fechou-a rapidamente, desviando o olhar do pai.


- Diga, filho, o que te perturba?


- Por que o senhor mentiu para nós? – Lars manteve seu olhar nas próprias mãos.


- Medo. – suspirou Cassius – Medo de que vocês ficassem sedentos de vingança, de que vocês deixassem de serem os dois garotos maravilhosos que sempre foram e muitos outros fatores.


- Por que... – Lars suspirou triste – Por que o senhor me tratou diferente? O senhor não me ama? O que eu fiz de errado?


- Não diga isto! – suplicou Cassius, abraçando o filho – Eu te amo muito, mais do que imagina! Você não fez nada de errado, filho, nada!


- Então...


- Devo pedir seu perdão, meu filho. – disse o mago, soltando Lars e fitando seus olhos verde-oliva – Não vou tentar te explicar os motivos que me levaram a te tratar daquela forma. Eles não justificam nada que eu te fiz.


- Mas...


- Tudo o que eu sei, Lars. – ponderou Cassius, sorrindo – É que eu te amo e quero reparar tudo o que te fiz de mal.


Lars deu um sorriso largo. Ele deu uma olhada rápida pra porta e pulou da cama.


- Vamos pai, vamos! – ele puxou as mãos de Cassius, levando-o ao chão – Opa!


Cassius riu e se levantou.


- Desculpa, pai. – pediu o loiro.


- Não tem problema, Lars. – Cassius controlou o riso e completou – Foi divertido.


- É... – Lars deu uma risada divertida – Foi.


- Vamos? – o mago apontou para a porta.


Quando eles saíram do quarto, Lars disparou em uma corrida através do corredor. Ele sentou sobre o corrimão da escada e desceu escorregando, rindo alegremente. Ao pular para o chão, no hall, um casal surgiu na porta lateral, atraídos pela risada. Eles se encararam e Lars reconheceu os olhos sinceros do irmão.


- Owen! – gritou o loiro, pulando sobre o irmão para abraçá-lo.


Os gêmeos foram ao chão. Sarah riu, os olhos sendo tomados por lágrimas. O moreno abraçou o irmão pelo pescoço, rindo como há muito não fazia.


- É tão bom te ter de volta! – falou ele entre as risadas.


Lars soltou-o, sentando-se sobre o irmão. Superioridade emanou dele e seu sorriso tipicamente sonserino veio à tona.


- Eu sempre fui melhor. – ele permaneceu sério por alguns segundos.


Owen o encarou, o semblante fechado. Sarah parou de rir e olhou-os pesarosa, temia que brigassem. Cassius terminou de descer as escadas e parou para assistir.


- Pior que sempre foi mesmo! – Owen não aguentou o clima tenso e voltou a rir – Não é a toa que você me deu uma surra!


Lars gargalhou e se levantou, estendendo a mão para auxiliar o irmão. Owen a tomou e, ao ficar de pé, deu outro abraço no irmão.


- Você é um sonserino arrogante, sabia? – brincou ele.


- E você é um grifinório estúpido. – retrucou Lars aos risos.


Sarah suspirou, aliviada. Cassius riu e se afastou, entrando pela porta da Sala de Jantar.


- Quero te apresentar uma pessoa. – Owen soltou o loiro e, deixando o braço sobre o ombro dele, virou-os para Sarah – Esta é a Sarah.


Lars olhou para a mulher. Ela sorriu para ele, os olhos brilhando.


- Você é linda. – disse o loiro.


Sarah corou e seus olhos caíram sobre Owen, para avaliar sua reação.


- Não foi por coincidência nós dois termos nos apaixonado pela mesma mulher. – disse Owen, calmo.


Enquanto Lars estudou Sarah de cima abaixo, os segundos se passaram como tortura para ela. A última coisa que ela queria era promover a briga entre os irmãos novamente.


- Eu posso ser o padrinho? – perguntou Lars subitamente, os olhos brilhando animados, fitando Owen.


- Quê? – perguntaram o casal, juntos.


- Vocês vão se casar não vão? – Lars pareceu confuso.


- Cassius te contou? – questionou Sarah, aturdida.


- Não. – Lars sorriu – Você tá com um anel de noivado. – ele apontou para a mão dela onde, de fato, havia um anel.


- Ah! – exclamou ela, fitando o próprio anel.


- Então... posso?! – Lars reforçou a pergunta.


- Po... pode! – respondeu Owen, confuso.


O moreno fitou Sarah por um instante.


“Ele não...”


“Não!” – cortou-o ela – “Ele não gosta de mim. Nunca vai gostar!”


Os dois sorriram felizes e aliviados.


- Lars! – uma voz estridente atraiu a atenção dos três.


- Cristy! – Lars sorriu e ergueu a elfa, abraçando-a carinhoso.


- Ah, mini-mestre, é tão bom que tenha voltado são e salvo. – disse a elfa entre lágrimas.


- Mini-mestre?! – exclamou Owen aos risos – Há mais de vinte anos não ouvia isto.


- Cristy e suas manias. – riu Lars, soltando a elfa.


Cassius surgiu pela porta da Sala de Jantar, Benny logo atrás.


- Ah, ela está aqui. – falou o mago – Assim que informei a ela que Lars estava acordado, ela desapareceu.


- Perdão, mestre. – pediu a elfa, fazendo uma reverência com a cabeça.


- Não há o que perdoar, minha querida. – Cassius sorriu.


- Mestre. – Benny fez uma reverência educada para Lars.


- Benny! – Lars puxou o elfo para o alto e o abraçou também.


Owen e Sarah riram com a expressão de surpresa do elfo. Cristy escondeu uma risadinha e Cassius apenas balançou a cabeça, risonho.


“Esse meu filho... idêntico à mãe.” – ele assistiu às atitudes do loiro, ficando sério – “Graças à Merlim tenho a chance de recomeçar com ele.”


- Cassius? Tudo bem? – perguntou Sarah, que vira a mudança de seu semblante.


Ele fitou-a e sorriu.


- Claro. Está tudo ótimo, Sarah querida. Tudo perfeito.


=-=-=


A Sede da Ordem da Fênix estava estranhamente vazia, exceto pelos seus moradores permanentes. Neville Longbottom era um deles. O pavor corria pelas veias do antigo grifinório.


- Neville, acalme-se! – pediu Luna, sentada sobre uma das mesas próximas.


- Como posso me acalmar, Luna?! – bradou ele, caminhando de um lado para o outro na sala – Todo o nosso trabalho foi jogado no lixo! Quando eu achar quem fez isto... – ele parou e ergueu a mão em punho como uma ameaça.


- Querido... – Luna se colocou atrás dele e o abraçou – Por favor... acalme-se! Deve haver uma boa explicação para isto.


O corpo de Neville amoleceu e ele suspirou, entregue à desolação do trabalho perdido.


- Teremos de começar tudo novamente. – murmurou ele, triste – A poção foi tão complicada... Os testes estavam caminhando favoravelmente.


- É... Mas e aquele efeito que você diagnosticou?


Ele respirou fundo.


- Aquele efeito me preocupou. Dependência. Isso é um problema mental também, um tipo de loucura. Eu não gostaria de gerar um problema na solução de outro.


- Talvez... – ela pensou bem nas palavras – tenha sido bom. Assim recomeçamos e evitamos tal efeito.


- É... – ele se virou para abraçá-la – Pode ser.


A porta se abriu e Alastor Moody entrou.


- O almoço foi servido à quase meia-hora, não vão se alimentar? – perguntou o chefe da Ordem.


O casal se soltou, sério. Moody analisou suas expressões, apoiou-se sobre a bengala e ficou sério também


- Qual é o problema, Longbottom?


- Alguém alterou a poção. – respondeu Neville – Toda a estrutura do liquido foi modificada.


- O que os testes dizem? – perguntou Moody, ainda mais sério.


- Acabamos de descobrir a mudança, Moody. – respondeu Luna – Eu ia começar a fazer os testes agora.


- Informem o resultado assim que o obtiverem. Essa poção é muito importante. – Moody se virou para sair – Não desista tão facilmente, Longbottom. Seus pais não desistiram.


A porta se fechou.


Luna fitou o rosto vazio de Neville, preocupada.


- Vamos começar. – a voz dele foi seca.


=-=-=


- Você não vai acordá-lo! Ele precisa descansar!


- Eu não vou acordá-lo, Molly! Quero apenas ver meu afilhado!


Molly Weasley e Sirius Black gritavam um com o outro no meio da Sala Comunal da Grifinória.


- Parem de gritar, por favor! Eles vão acordar. – disse Arthur, sentado em uma das poltronas.


- Já acordamos. – uma risada veio das escadas.


Gina surgiu, aos risos, puxando Harry pela mão. Rony e Hermione vinham um pouco atrás igualmente risonhos.


- Harry! – Sirius abriu os braços, sorridente.


- Sirius. – Harry soltou a mão de Gina e colocou-se entre os braços do padrinho, retribuindo o abraço com força.


- Obrigado, mãe, por ter nos acordado. – ironizou Rony, a voz arrastada pelo sono.


O rosto de Molly ficou vermelho e eles não sabiam dizer se era por vergonha ou por raiva.


- Tudo bem, Harry querido? – perguntou ela, a voz calma demais.


- Sim, senhora Weasley. – o moreno soltou Sirius e foi envolvido pelos braços de Molly.


- Deixe-o respirar. – pediu Sirius.


- Fica quieto, Sirius. – riu Gina, dando um soco contido no braço do maroto.


Ele riu e foi seguido por todos. Segundos depois, os gêmeos e Carlinhos surgiram pelo quadro. Uma nova sessão de abraços e comprimentos seguiu-se.


- Que horas são? – perguntou Hermione, virando-se para o relógio – Nossa! Já passou do meio-dia.


- Pois é, vocês são uns dorminhocos. – Fred deu alguns tapinhas no ombro de Rony.


- Quero só saber, que horas você dormiu? – perguntou Rony, sério.


- Calma ai, Rony. – Jorge ergueu as mãos em rendição – Estamos apenas brincando.


- Que bom, Jorge, que sabe o perigo que corre ao me irritar. – os olhos de Rony ficaram estreitos e sua voz seca.


Os gêmeos se entreolharam, ligeiramente pálidos. Rony piscou para Hermione, que segurou uma risadinha.


- Ok, meninos... – Arthur, que vira a piscada de Rony, sorriu e se levantou – Vamos para casa?


- Claro! – respondera os gêmeos juntos.


Todos riram.


Os Weasleys começaram a sair. Rony envolveu Hermione pela cintura e os conduziu quadro afora. Gina se virou sorridente para Harry, contudo, seu sorriso perdeu a força.


O moreno olhava para o aposento, o olhar triste e a expressão vazia. Sirius enfiou as mãos nos bolsos, o olhar e a expressão imitando a de Harry.


- Vou sentir falta. – disse o maroto – Sempre senti.


Gina concordou com o homem com um maneio da cabeça e caminhou até Harry, abraçando-o por trás e dando um beijo em seu pescoço.


- Vamos dar uma última volta? – perguntou ela.


Ele resmungou positivamente.


- Vejo vocês na Sede. – disse Sirius, saindo sem esperar resposta.


=-=-=


- Cadê o Harry?


Remo Lupin tinha o rosto pálido e os olhos assustados. Os Weasleys haviam entrado na sala, silenciosos, e se sentado nos sofás e poltronas. Rony e Hermione ficaram à porta.


- Em Hogwarts. – respondeu a morena.


- Ele quis apenas dar uma volta antes de vir. – Sirius entrou e se jogou no sofá, ao lado de Tonks.


Ele a puxou e deu um beijo em seus cabelos alaranjados.


- Bom dia. – desejou, sorridente.


- Dia. – Tonks sorriu.


- Então o Harry está bem? – perguntou Remo.


- Sim. – respondeu Rony – Perfeitamente bem.


Um som monstruoso preencheu a sala. Todos olharam para Rony e caíram na risada.


- O quê?! Vocês sabem quando foi minha última refeição? – o rosto de Rony ficou da cor de seus cabelos.


- Vamos, também estou morrendo de fome. – Hermione, aos risos, puxou Rony pela porta.


Os outros permaneceram na sala e pararam de rir ao ouvir a voz de Rony, para compreender perfeitamente o que ele dizia.


- Para de rir, Hermione! – a voz do ruivo era raivosa.


A mulher respondeu algo que ninguém entendeu devido à risada da morena.


- Eu disse... – a risada da morena morreu e eles ouviram algo bater na parede – para... parar. – completou Rony, a voz rouca.


Hermione deu uma risadinha, que foi abafada por alguma coisa que Rony fizera.


Jorge se levantou, seguido de Fred, e caminhou até a porta.


- Isso é que é um amasso, hein Roniquinho? – exclamaram os gêmeos, saindo para o corredor, ainda às vistas do pessoal na sala, e se abraçando, como em uma imitação cômica do que Rony e Hermione faziam.


Todos na sala caíram na risada novamente.


- Ora seus! – bradou Rony, soltando Hermione e avançando contra os irmãos.


- Ronald! – a morena pulou nas costas de Rony, envolvendo sua cintura com as pernas e o pescoço com os braços.


O ruivo parou para sustentar o corpo da namorada, a última coisa que ele queria era cair com ela sobre ele. Hermione sussurrou algo no ouvido dele, risonha.


- Ok. – disse Rony, um sorriso nascendo em seus lábios – Eu deixo essa passar. – ele disse aos gêmeos.


Hermione desceu das costas dele e o puxou pela mão através do corredor.


- Podem me agradecer mais tarde, cunhados. – ela abanou a mão antes de sumir pela porta da cozinha.


Os gêmeos voltaram para sala, aos risos. Minutos foram precisos para acalmar a todos e deixá-los sérios.


- O que o Ministério está fazendo? – perguntou Arthur à Tonks.


- Scringeour não se recuperou ainda. – disse a bruxa – Então todas as decisões estão sendo tomadas pelos chefes dos departamentos. Cada departamento está controlando os problemas da sua área. Em uma análise geral, a situação está sob controle.


- Que bom. – disse Sirius.


- E Hogwarts? – perguntou Remo – Como fica a situação da escola para o resto do ano letivo?


- O castelo não sofreu nenhum dano. – respondeu Sirius – McGonagall vai convocar uma reunião com o conselho para pedir a continuação do ano letivo.


- Ela esta sobrecarregada. – disse Molly, atraindo os olhares de todos – Vocês não notaram o semblante cansado dela? Aquilo não foi somente pela batalha, foi o acumulo de tudo o que ela esteve passando esses últimos anos.


- Explique, Molly. – pediu Sirius.


- McGonagall assumiu a diretoria e não abandonou as aulas de Trasnfiguração. – falou a matriarca – Todos os diretores devem abandonar suas matérias para dedicar-se exclusivamente às tarefas da diretoria, que são muitas e exige do diretor muita atenção.


- Entendo o que quer dizer, Molly. – assentiu Tonks – Ela tem uma preocupação dupla. A diretoria e as aulas de Transfiguração de todos os anos.


- Por que ela continuou? – perguntou Sirius.


- Não encontrou nenhum professor de Transfiguração decente, ela disse. – respondeu Remo.


- Ela ainda procura? – Sirius pareceu interessado.


- Creio que não. – respondeu Arthur – Ela deve ter se acostumado com a rotina cheia.


- Então... Se me dão licença... – Sirius se levantou com um pulo e cruzou a sala rapidamente.


- Aonde vai? – perguntaram todos.


- Fazer um teste seletivo. – sorriu ele antes de desaparecer pela porta de entrada.


- Teste seletivo? – perguntaram os gêmeos.


Remo riu.


- O que foi? – perguntou Tonks.


- Ele quer lecionar em Hogwarts. – explicou Remo.


- Nunca vai conseguir. – Molly cruzou os braços.


- Não se deixe enganar pela máscara de homem despreocupado, Molly. – advertiu-a Remo – Sirius era o melhor em transfiguração na nossa turma. McGonagall tinha um grande orgulho dele. Aposto que se ele não aprontasse tanto ela teria lhe dito isto.


- Se você diz. – Molly abanou as mãos com descaso e todos riram novamente.


=-=-=


- Então?


Não houve resposta. A concentração deixava o ambiente tenso e pesado.


- Neville, responda!


O homem respirou fundo e olhou para o resultado o último teste que fazia na poção alterada. Luna contornou a mesa e tomou o objeto da mão dele para analisá-lo contra a luz.


- Não! – exclamou ela com um fio de voz, os olhos arregalando-se.


Neville deu as costas para ela e esmurrou a mesa. Um xingamento escapou pela boca dele. Luna respirou fundo várias vezes, os olhos ainda fixos no objeto do teste.


- Ne... Nevi... Neville! – chamou-o ela, exasperada.


Ele virou o rosto para ela. Um sorriso enorme cobria a face dela e nos olhos havia um brilho feliz.


- O que foi? – ele se virou de completo para ela


- Olha! – ela estendeu o objeto para ele.


Assim que ele o tomou ela saiu correndo pela porta.


- MOODY! – berrou ela, descendo as escadas.


“O que será...” – Neville olhou para o objeto e o colocou contra a luz, analisando.


Demorou poucos segundos para ele entender o que acontecera à sua namorada.


- De... deu...


- DEU CERTO! – gritou Luna, entrando no laboratório seguida de Moody.


O líder da Ordem caminhou até Neville, os olhos brilhando esperançosos.


- Está comprovado, Longbottom?


Neville lançou outro olhar critico para o objeto antes de responder:


- Sim. – ele riu levemente – Está perfeito.


=-=-=


A porta da Sede se abriu e um casal entrou silencioso. Dois homens, que vinham andando pelo corredor, pararam ao vê-los.


- Potter. – exclamou Draco Malfoy, seco.


- Malfoy. – desdenhou Gina.


Harry apertou a cintura da ruiva, mantendo-a quieta. Ele fitou o outro homem.


- Como está a sua situação, Snape? – perguntou calmo.


O mestre de poções manteve-se sério.


- Alastor entrou com um pedido de absolvição no Ministério. Certamente serei interrogado sob a ação do Veritasserum, o que não me importo. – respondeu ele – Minerva concordou em me readmitir em Hogwarts.


- Poções ou defesa contra as artes das trevas? – questionou Harry, sinceramente curioso.


- Ainda não fui informado. Além de Slughorn, Jack Stevenson, que ministrava defesa contra as artes das trevas, foi morto. O que deixa ambas as disciplinas livres.


- Ainda penso que você devia exigir o direito de escolher. – disse Draco, arrogante.


- Ao contrário do que pensa, Malfoy, - disse Snape, frio – eu fico contente de retornar à Hogwarts. Mesmo que fosse para ser assistente do Filch, eu ficaria contente.


- Ok, Snape, não precisa exagerar. – riu Gina.


Harry sorriu ao ver um sorriso torto aparecer nos lábios de Snape e desaparecer rapidamente.


- E você? – perguntou Snape, a voz branda.


- Estou bem. – assentiu Harry, sorrindo abertamente da situação.


De fato, aquela era uma cena que nenhum dos presentes sequer poderia imaginar. Snape perguntando a Harry se ele estava bem. Apesar da voz branda, o moreno conseguia ver nos olhos do homem a sincera preocupação, um brilho que ele sempre vira nos olhos de Alvo Dumbledore.


- Não somos mais tão fortes. – sustentou Harry, dando de ombros – E como Tom está morto, finalmente sou um homem normal.


- Com uma cicatriz na testa. – desdenhou Draco.


Harry gargalhou ante a tentativa de ofensa do loiro.


- Você não pode dizer muita coisa, Malfoy. Foi e sempre será uma doninha. – retrucou o moreno, ainda aos risos.


Draco expôs um semblante enraivecido.


- E, para piorar a sua situação, - Gina também riu – é um traidor. – ela ficou séria e fitou Snape – Com todo o respeito, Snape.


Ele moveu a mão com descaso, demonstrando que não se importava com o que ela dissera. Draco encarou o homem com lívida injúria. Ele bufou e caminhou com passos duros através do corredor, dando um empurrão em Harry ao passar e batendo a porta ao sair.


O casal parou de rir logo em seguida. Eles fitaram Snape, que permanecia impassível.


- O que pretende fazer, Potter? – perguntou ele.


- Vou ver como fica a minha situação de desistente de Hogwarts. Avaliarei se é vantajoso manter meu plano de tornar-me auror. Eu aprendi muitas coisas com Cassius McWell e durante estes últimos seis meses de reclusão, pode ser que o melhor para mim seja distribuir parte deste novo conhecimento. Veremos. – ele deu de ombros, dando o curso de seu futuro nas mãos do destino.


- Weasley?


- O mesmo. – Gina sorriu, grata pela sincera curiosidade do homem.


Snape caminhou silencioso até eles e estendeu a mão para Harry, o rosto ainda impassível.


- Até nosso próximo encontro, Potter.


Harry tomou a mão do homem e a apertou, firme.


- Fizemos um bom trabalho, não? – perguntou ele.


- Suponho que sim. – Snape afastou-se um passo e virou-se para Gina – Até, senhorita Weasley. – ele acenou com a cabeça.


Gina sorriu e retribuiu o aceno.


Snape passou por eles e saiu.


O casal retomou a caminhada, sorridentes, até a porta da cozinha.


- Harry! – gritaram várias vozes.


Gina deixou Harry livre para os abraços de Remo, Tonks, Neville e Luna. Moody restringiu-se apenas a um vigoroso aperto de mão.


Passaram-se vários minutos que foram cheios de brindes, risadas e conversas. Os recém-chegados receberam pratos generosos de comida e começaram a se alimentar.


- Neville tem uma ótima novidade. – Hermione cutucou Harry e apontou para o amigo com a cabeça.


- O que é? – Harry engoliu a comida que estava em sua boca e fitou Neville, curioso.


- Bem... – o homem corou envergonhado.


- Eu comentei com vocês na festa sobre a poção do Neville? – perguntou Luna para Gina.


- Nossa poção! – corrigiu Neville.


- Está pronta? – perguntou Gina, confirmando que ouvira sobre o assunto.


- Sim. – respondeu a loira, um sorriso vitorioso e orgulhoso nos lábios – Tiramos a prova hoje de manhã.


- O mais incrível é que ela estava completamente diferente da poção que eu vira no dia anterior à nossa ida para Hogwarts. – informou Neville – Ainda teremos que refazer a poção para ver em que ponto aconteceu a mudança.


- Ou se alguém mexeu nela. – completou Moody.


Logo a seguir uma das sobrancelhas de Harry se elevou e ele olhou para Hermione.


“Antes que fale alguma coisa...” – a voz dela soou na mente dele, brincalhona – “Eu não fiz nada. Juro. Dei uma olhada na poção, sim. Mas não mexi em nada nela.”


“Quando viu concluiu o quê?” – perguntou ele, curioso.


“Eu espiei os resultados dos exames e estudei toda a estrutura da fórmula por alguns minutos.” – explicou a morena, um sorriso zombeteiro brotando nos lábios – “Acho que Snape deve se preocupar com seu posto de mestre de poções.” – ela riu mentalmente – “A poção precisava apenas ficar parada por alguns dias. Alguns componentes somente reagiriam sob temperatura ambiente e com o liquido imóvel. Foi o que aconteceu.”


“É incrível, não?” – Rony intrometeu-se na conversa.


“Opa...” – exclamou Gina, o olhar preocupado – “Mentes ainda unidas? Eu ouvi tudinho.”


“Não.” – Hermione balançou a cabeça com veemência – “Eu estava apenas pensando em uma ‘frequência’ que apenas vocês captariam.”


“Ótimo, Mione.” – ironizou Rony – “Compare-nos com aparelhos de TVs.”


Os quatro riram em meio ao silêncio. Despertando curiosidade dos outros.


- Não foi nada. – disse Harry, voltando sua atenção para o prato.


A porta se abriu logo depois.


- Harry! – gritou Sarah, as mãos voando para sua boca.


O moreno ergueu-se e abraçou a amiga.


- Como é bom te ver. – disse ele, apertando-a carinhoso.


- É ótimo que você já tenha se recuperado. – ela riu, soltando-se dele e dando um beijo estralado em seu rosto.


- Sarah! – Sirius surgiu atrás da mulher.


Eles se abraçaram.


- Onde estão Cassius e Owen? – perguntou Hermione, esticando o pescoço para ver por detrás deles.


- Cassius pediu para que vocês quatro fossem até a casa dele mais tarde, depois que terminarem de almoçar. – respondeu Sarah.


- Por que eles não vieram com você? – perguntou Harry.


Sarah deu um sorriso torto e triste antes de responder:


- Eles e Lars foram ver o túmulo da Sophia.


=-=-=


Três homens caminhavam silenciosos, um ao lado do outro, cada um preso em seus próprios pensamentos. Passaram através das árvores frutíferas desprovidas de folhas, flores ou frutos e, ao saírem do pomar, avistaram uma margem de pedregulhos brancos que conduzia a um pequeno córrego de águas cristalinas.


Eles seguiram com passos firmes, os olhos fixos em um ponto específico, perto da água corrente, onde uma lápide branca refletia os raios do sol.


Vestidos apenas de calças negras e camisas brancas, os três pararam na frente da lápide. Apenas duas palavras e dois anos estavam entalhados na pedra:


Sophia McWell


1941 - 1975


O loiro se ajoelhou e depositou um buquê com vários tipos de tulipas aos pés da pedra branca, erguendo-se em seguida. O moreno suspirou e recebeu a mão de seu pai sobre o ombro.


- Agora sabe por que nunca te trouxe aqui, por que havia uma barreira que impedia a ultrapassagem do pomar. – disse Cassius McWell, sereno.


- Ela sofreu? – perguntou Lars, o semblante triste.


Cassius suspirou. Lars gemeu baixinho, não foi preciso resposta.


- Contudo... – a voz de Cassius soou rouca de emoção – ela morreu feliz. Pensando em vocês, em nossa família e em como éramos felizes na época.


- Disse certo. – desdenhou Owen, a voz falhando e seus olhos cheios de lágrimas – Éramos.


- Se não somos, – iniciou Lars, as lágrimas rolando pelo rosto pálido – voltaremos a ser.


Cassius passou o braço sobre os ombros do filho loiro, sorrindo, enquanto as lágrimas começavam a escorrer. Owen caiu de joelhos e se entregou à tristeza, chorando como nunca antes, deixando que todo aquele sentimento saísse.


O silêncio era impedido apenas pelos sons de dor e tristeza que Owen emitia. Ao contrário de Lars, ele se lembrava de toda a dor da lembrança falsa, que fora a sua verdade por toda a sua vida; de todo o sofrimento de seu crescimento e de todo o vazio que a falta de sua mãe gerara.


- Por que não há nada além do nome da mamãe? – perguntou Lars, minutos depois, quando Owen passou a chorar silenciosamente.


- Eu não pude escrever nada. – respondeu Cassius, a voz rouca e baixa – Guardei este direito para vocês.


Owen passou as mãos pelos cabelos, jogando-os para trás e estendeu a mão. Ele abriu-a sobre a pedra e pensou por alguns segundos. Ele se levantou e respirou fundo, o olhar profundo.


Cassius fitou-o e sorriu. Agora o filho estava livre para viver sua vida.


- Como faço? – perguntou Lars, os olhos brilhando admirados pelo que o irmão fizera.


- Concentre-se apenas. Formule o que quer escrever e imagine isto entalhado na pedra. – orientou Owen, a voz mais fraca do que nunca.


Cassius fitou o filho loiro se ajoelhar e imitar os movimentos do irmão. Demorou alguns segundos a mais para que ele se erguesse, um sorriso carinhoso em seus lábios. Ele passou pela frente do pai e puxou o irmão para um abraço, que foi retribuído.


O mago abaixou o olhar e sentiu algo completamente novo. Enquanto lia o novo epitáfio de sua esposa, pôde senti-la. Era como se ela estivesse ao seu lado, segurando em sua mão e rindo em seu ouvido, um riso emocionado, orgulhoso e cheio de amor.


- Agora escreva. – as palavras chegaram ao ouvido dele.


Embora ele tivesse certeza de que elas haviam sido proferidas por um de seus filhos, foi a voz cristalina de sua esposa que ele ouvira.


Cassius caiu de joelhos, assustando os filhos, que mantinham os braços sobre os ombros um do outro. O mago apoiou-se nas mãos e inclinou a cabeça, as lágrimas grossas pingando no pedregulho branco.


Nunca em toda a sua vida a falta de Sophia pesara tanto quanto naquele momento. Nunca sentira tanto, nem quando revia certas lembranças dos anos que convivera com a mulher; nem quando a avistava nas fotos com os filhos pequenos; nem quando sonhava com a voz e o carinho dela.


Tudo isto era apenas uma gota comparado ao oceano que o inundava. Ele a sentia ali - intensamente viva ao seu lado. Inclinada sobre ele, acalentando-o enquanto ele deixava a dor dos anos de solidão explodir das prisões que havia criado.


Ouviu, então, um canto suave. A canção de ninar que Sophia cantava todas as noites para os gêmeos.


Exile – Enya


Exílio


 


Cold as the northern winds,


Frio como os ventos boreais,


in December mornings.


nas manhãs de dezembro.


Cold is the cry that rings,


Frio é o grito que ressoa,


from this far distant shore.


desta praia muito distante.


Somente naquele instante ele percebeu que uma brisa calma vinha do norte. Uma brisa que carregava o frio do dezembro que acabara de terminar. Podia ouvir o correr das águas do córrego sendo superado pelo seu choro gritante.


Winter has come too late.


Inverno chegou muito atrasado.


Too close beside me.


Próximo demais a mim.


How can I chase away


Como posso expulsar


all these fears deep inside?


todos estes medos interiores?


Aquela dor da solidão era tão fria quanto o inverno. A neve que caíra nos últimos dias nada era comparada à nevasca que o atormentava agora. O frio da solidão misturado à turbulência do medo. Ele chorava desesperado, queria sair da nevasca, queria sentir-se livre do medo.


I'll wait the signs to come.


Esperarei os sinais chegarem,


I'll find a way.


Encontrarei um rumo.


I will wait the time to come.


Esperarei a hora chegar.


I'll find a way home.


Encontrarei um caminho para casa.


Em meio à nevasca ele sentiu o toque de mãos em seus ombros, além do carinho que vinha de Sophia. Aquele toque extra acalmou a nevasca e ele conseguiu ver na distância. Não era Sophia que estava no final de seu caminho. Eram seus dois filhos.


My light shall be the moon


Minha luz será a lua


and my path - the ocean.


e meu caminho - o oceano.


My guide - the morning star,


Minha guia - a estrela matinal,


as I sail home to you.


enquanto eu navego para casa, para você.


Contudo, ele via o brilho dos olhos de Sophia lá atrás. Ela era a luz de sua vida, seus olhos o seu caminho, toda ela a sua guia. Era isto. Sophia não era a sua casa, o seu conforto e felicidade, não mais. Ela era o caminho.


O canto parou. Quem quer que estivesse cantando imaginara que não era mais necessário fazê-lo.


Livre da nevasca ele pôde seguir o caminho. Ergueu a cabeça e fitou a pedra branca. Estendeu a mão e tocou a pedra quente.


Cassius mentalizou algumas palavras, já livre do choro desesperado e gritante. Pôs-se de pé, notando que as mãos em seus ombros eram dos filhos. Ele sorriu, as lágrimas ainda presentes, e continuou a canção.


I'll wait the signs to come.


Esperarei os sinais chegarem,


I'll find a way.


Encontrarei um rumo.


I will wait the time to come.


Esperarei a hora chegar,


I'll find a way home.


Encontrarei um caminho para casa.


Agora ele não sentia mais Sophia acalentando-o, embora ainda pudesse senti-la ali. Fitou o vazio à sua frente e viu seu caminho. Lá no fundo, Sophia sorria carinhosa. Ela levou uma das mãos à boca e jogou um beijo para ele, moveu os lábios, pronunciando um “Eu te amo” mudo.


Who then can warm my soul?


Quem então pode aquecer minha alma?


Who can quell my passion?


Quem pode dominar minha paixão?


Out of these dreams - a boat.


Lá fora desses sonhos - um barco


I will sail home to you.


Eu navegarei para casa, para você


O sorriso dele se alargou. Agora ela sempre estaria ali, além do destino. Ela seria o caminho que o conduziria, depois de chegar ao seu destino, até ela própria.


Cassius abriu os braços e envolveu ambos os filhos, puxando-os para um abraço. A presença de Sophia desapareceu por completo. O mago beijou a cabeça dos filhos e, ainda envolvendo-os com seus braços, virou-os.


Owen e Lars sorriram, as lágrimas, aos poucos, cessando. Eles se deixaram guiar pelo pai, voltando para casa. Os gêmeos fizeram um acordo silencioso. Sempre voltariam àquele lugar, fosse para visitar o túmulo da mãe ou para simplesmente aproveitar a margem larga para divertir-se ou, ainda, apenas para relaxar.


Nenhum dos três virou-se para a lápide branca. Sabiam de cor o que estava entalhado à pedra. O epitáfio de Sophia que a definia melhor do que qualquer outra coisa.


Mãe amorosa e completa.


Anjo de felicidade e carinho.


Luz da vida dos que amava.


Caminho para os que estavam perdidos.


=-=-=


- Bem vindos!


- Oi Cristy. – Sarah sorriu e entrou.


- Jovens mestres. – Benny surgiu pela porta da sala de jantar e fez uma leve reverência.


- Mestres?! – exclamou Hermione, surpresa.


- Calma Hermione! – riu Rony.


- Foi apenas uma cordialidade, senhorita Hermione. – interveio Cristy, risonha.


- Tudo bem por aqui? – perguntou Sarah à elfa.


- Tudo perfeito Sarah. – respondeu Benny.


- Onde estão Cassius e Owen? – perguntou Harry, fechando a porta.


- No jardim. – respondeu Cristy.


- Obrigada. – Gina sorriu para o casal de elfos e puxou Harry pela mão, seguindo Sarah.


Os cinco cruzaram a sala de estar vazia e saíram pela porta que conduzia ao jardim. A cena que viram, contudo, os imobilizou e os calou.


Owen estava de pé, a varinha em punho, duelando contra Lars. O loiro dominava os feitiços que o irmão acabara de lhe ensinar. Algo dentro do loiro, sua energia, não havia perdido o que aprendera, tinha apenas de relembrar.


- Harry! – berrou Owen, ao vê-los.


A distração custou ao moreno um feitiço no peito. Ele foi arremessado para trás, caindo por entre as árvores do pomar.


- Lars! – ralhou Sarah, indignada.


- Não foi minha culpa. – respondeu o loiro irritado.


O quarteto foi atraído por um som baixo e estranho. Em meio às Cassianius acinzentadas, um belo lobo cinzento estava deitado, o focinho repuxado por um sorriso, deixando as presas brancas a mostra, e os olhos azuis profundos fitando Lars.


- Está tudo bem. – Owen surgiu do meio das árvores, a mão esquerda sobre o ombro direito, atraindo todas as atenções.


- Machucou? – a voz de Lars era debochada.


Owen riu e se aproximou do irmão. Com um movimento rápido e inesperado, ele fechou o braço direito em torno do pescoço do irmão, abaixou a cabeça dele e, com a mão esquerda em punho, raspou-a no topo da cabeça do irmão.


- Hey! – Lars riu, erguendo os braços para tentar se livrar da chave do irmão.


- Você pode ser mais forte, maninho, mas eu sempre serei o mais velho. – Owen forçou ainda mais o punho esquerdo.


Sarah riu, o quarteto seguiu-a, embora dirigissem olhares preocupados para o lobo que ria. As atenções se focaram nos gêmeos quando Sarah parou de rir e fez uma exclamação de surpresa.


Agora, Lars segurava o braço direito de Owen nas costas dele, forçando o ombro direito.


- É... eu sou o mais forte. – confirmou Lars, um sorriso arrogante nos lábios.


- Eu disse que pode... não que é! – retrucou Owen, flexionando os joelhos para se livrar e prender o irmão.


Um latido alto e rouco paralisou os gêmeos. O lobo estava de pé, as presas ameaçadoras e o olhar irritado.


Lars soltou Owen e ambos riram.


- É brincadeira, pai. – disse Owen, sorrindo.


- É claro que é. – confirmou Lars, dando um soco no ombro do irmão – É certeza que eu sou mais forte. – completou, caindo na gargalhada.


Sarah riu e caminhou até os irmãos, deu um beijo estralado no rosto de Lars e puxou Owen para um beijo apaixonado.


- Pai?! – repetiu Gina, sussurrante, para os outros.


Eles encararam o lobo, que agora sorria sereno. O animal fitou-os por um segundo. Então, ele ficou sobre as patas traseiras e a mudança ocorreu. Segundos depois, Cassius sorria para o quarteto.


- Cassius?! – exclamou Rony, surpreso.


- Acha mesmo que eu ensinaria animagia ao Owen se eu mesmo não a soubesse? – Cassius riu, caminhando até eles.


Gina e Hermione o abraçaram, juntas, e beijaram seu rosto. Rony puxou Cassius para um abraço esmagador.


- Ronald! – interveio Hermione quando viu os músculos do braço do namorado flexionar-se.


- Obrigado Hermione. – agradeceu o mago, liberto do ruivo, que apenas riu.


O mago fitou os olhos de Harry.


- Certo dia... – começou o mago, a voz e os olhos serenos – um garoto atrevido entrou nesta casa. Ele superou minhas expectativas e ganhou meu respeito, embora eu não o demonstrasse.


Owen e Sarah pararam de se beijar e fitaram o mago. Lars olhou a cena com curiosidade, pois desconhecia o real sentido.


- Ele se tornou um curioso, tornando-se ainda mais digno do meu respeito e ganhando meu afeto, que também ocultei. – continuou Cassius - Ele estava perdido e se encontrou.


Harry sorriu.


- Embora o garoto tenha crescido e feito coisas inimagináveis, eu nunca me surpreendi, pois aquele era o destino do garoto: tornar-se grande e poderoso. Contudo... – um sorriso torto brotou nos lábios do mago – uma única vez ele me surpreendeu. Mesmo sem demonstrar meu respeito e meu afeto, o garoto expôs todo o dele, sem pedir nada em troca.


- Cassius... – sussurrou Harry, o mago não precisava, de fato, retribuir o que ele havia dado.


- Harry. – Cassius cortou-o, o sorriso desaparecendo e os olhos começando a encher-se de lágrimas – Ver-te como eu vi: pálido, frio e imóvel; causou-me uma dor tão forte quanto a que senti ao ver Owen quase morto e Lars à beira da morte. Você me tomou como um pai, disse que se sentia um Filho de McWell. Pois bem, Harry, eu o tomei como meu filho e senti que perdia um filho ao te ver daquele jeito. Portanto... – Cassius respirou fundo, as lágrimas desaparecendo de seus olhos e um sorriso zombeteiro tomando seus lábios – não faça mais isto.


Hermione e Gina riram levemente, embora lágrimas caíssem de seus olhos. Rony abafou uma gargalhada, enterrando o rosto nos cabelos de Hermione, para manter-se quieto. Sarah abraçou Owen com mais força, os olhos brilhando pelas lágrimas que teimavam em não cair. Lars franziu a testa, pois não compreendia o motivo que levava o pai a gostar tanto daquele moreno.


Harry riu suave e feliz. Ele encerrou a distância que o separava do mago e o abraçou. Cassius deu uma risada breve, que lembrou ao moreno um latido.


“Obrigado por ter ido me salvar.”


“Não precisa agradecer, Harry. Era meu dever ir atrás de um Filho de McWell.” – Cassius soltou-o e segurou-o pelos ombros, fitando-o com os olhos azuis profundos e sérios – “Fico imensamente honrado por te ter como um filho. Mas, você deve saber que eu não posso e nem quero substituir Tiago e Lílian Potter.”


“Eu sei.” – Harry sorriu ainda mais – “Sirius também é como um pai para mim, tal como Remo.” – ele fez uma careta de reflexão – “Não, minto. Sirius é como um irmão mais velho e Remo é como um tio.” – ele assentiu com a cabeça – “Dumbledore foi como um guardião e mentor.” – ele retribuiu o olhar de Cassius, a expressão convicta – “Porém eu preciso de alguém como um pai. Sei que nada substituirá os meus pais verdadeiros, mas ter alguém que se preocupa comigo como um pai e que me ame como tal, é o que eu realmente preciso.”


Cassius sorriu e abraçou Harry novamente.


Os outros os acompanharam com os olhos, certos de que tinham uma conversa privada e importante.


- Você está bem? – perguntou Cassius, depois de soltar o moreno.


- Perfeito. – respondeu Harry – Só não estou pronto para outra.


- Nem brinque com isto. – riu Gina, aproximando-se dele e envolvendo-o pela cintura.


- Pai! – gritou Lars, atraindo os olhares – Quem são estes? – ele apontou para o quarteto com o queixo.


Cassius ergueu o braço, chamando o filho loiro, que caminhou até ele. O mago depositou o braço erguido sobre os ombros do filho.


- Lars, estes são Harry Potter e Gina Weasley. – ele apontou para o casal a sua frente e virou-se – E estes são Ronald Weasley e Hermione Granger.


Lars manteve a expressão de incompreensão. Cassius suspirou e retomou a palavra:


- Harry foi quem derrotou Tom Riddle, Voldemort.


- Ah. – exclamou Lars, compreendendo.


O loiro olhou Harry criticamente.


- Mas ele é tão novo. – afirmou, cético.


- É um prazer, Lars. – Harry estendeu a mão, sorrindo da afirmação do outro.


- É um prazer conhecer um ex-comensal? – Lars fitou a mão do moreno.


- É um prazer conhecer um irmão. – respondeu Harry.


Lars soltou uma risada brutal e tomou a mão do moreno com vigor.


- Prazer, então, irmão. – falou o loiro.


Owen e Sarah aproximaram-se.


- Mais um irmão mais novo?! – ironizou Owen.


- Mais um irmão mais forte, você quer dizer! – desdenhou Lars, soltando a mão de Harry e rindo.


- Também. – Owen acenou com a mão, fazendo pouco caso do desdém do loiro.


- Preciso falar com eles a sós. – disse Cassius aos filhos, referindo-se ao quarteto.


- Nós vamos lá para dentro. – sustentou Sarah.


- Preciso de um copo de suco. – afirmou Owen.


- Peça vitamina. – riu Lars, seguindo o irmão e a cunhada para dentro da casa.


- Vamos. – sorriu Cassius, conduzindo-os para o pomar.


=-=-=


O quarteto entrou na Sala de Reuniões da Ordem de Merlim. Gina fora a primeira e fez uma reverência engraçada, exclamando seu cumprimento informal. Harry viera logo atrás e apenas inclinara a cabeça, mudo. Hermione fez uma reverência formal, sorriu e falou educadamente. Rony entrara logo em seguida e acenara com a mão com um descaso.


- Tarde!


- Oi.


- Beleza?


- Olha os modos Ronald!


- Está tudo bem, Hermione. – uma voz soou zombeteira.


- Viu?! – Rony olhou a namorada, o semblante magoado.


Harry e Gina riram. Uma risada nova e forte soou também. Cassius ficou parado à porta, os olhos arregalados de espanto fixos no quadro de Merlim.


- Cassius? – chamou Hermione, próxima a ele.


- Ele... – o mago apontou para o quadro.


- É. – respondeu Gina à pergunta não dita.


- Entre Cassius, não tenha medo! – riu Rony, levando um tapa forte de Hermione na nuca – Ai!


O mago entrou na sala e suas vestes mudaram, como as dos jovens. Os olhos dele não saíram do quadro de Merlim. Este cruzou os braços e seu corpo tremeu com uma risada muda.


- Ele sempre fez isto? Ele... escuta tudo? – perguntou Cassius.


- Não me trate como uma terceira pessoa não presente, Cassius. – respondeu Merlim antes de qualquer outro, a voz forte e bruta – Dirija-se à mim, aprendiz, não aos outros.


Cassius engoliu em seco e fez sua reverência costumeira, um sorriso largo nos lábios.


- Claro mestre. – confirmou.


Harry moveu a mão vazia e cinco poltronas surgiram, formando um semicírculo em frente à tapeçaria negra.


- Estou curiosa. – confessou Gina, sentando-se.


- Por que nos chamou? – perguntou Hermione, já sentada.


- Não posso simplesmente querer conversar com vocês? – perguntou Cassius em tom ofendido, sentando-se ao lado da morena.


- Você não é dessas pessoas, Cassius. – disse Rony, sério pela primeira vez, sentado entre Hermione e Gina – E se você quisesse apenas conversar conosco não teria vindo até aqui.


- Certo, Ronald. – concordou Cassius, encostando-se na poltrona e unindo as mãos.


Harry se sentou ainda calado. Os outros não tinham nenhuma ideia do assunto que seria tratado, mas ele sabia e não lhe agradava nada.


- Eu gostaria de saber, por pura curiosidade – admito - qual a dimensão de suas atuais habilidades. – falou Cassius, fitando todos um por um.


- Você quer saber se a gente ainda tem alguma habilidade adquirida através da profecia? – perguntou Gina.


Cassius confirmou.


- A gente ainda tem muita facilidade para nos comunicar mentalmente. – disse Hermione – E eu ainda tenho a mesma visão de antes, mas com um nível infinitamente inferior.


- Visão? – perguntou Rony.


- Depois de ter despertado, eu passei a ver por uma perspectiva diferente. Minha mente estava mais desenvolvida e meus sentidos eram mais aguçados, assim eu conseguia “ver” praticamente tudo a minha volta, prestar atenção em tudo, analisar tudo criticamente, coisas deste tipo. – explicou ela, sorrindo – Eu ainda consigo fazer isto, mas não plenamente. É mais complicado pensar em tantas coisas ao mesmo tempo.


- Uma habilidade que você ganhou, Hermione. – falou Cassius – Creio que, se você praticá-la com a devida segurança, poderá até desenvolvê-la um pouco.


- Pensei o mesmo. – concordou a morena.


- Algo a mais? – perguntou o mago e, quando Hermione negou com um aceno da cabeça, virou-se para o ruivo – Ronald?


- Para ser sincero, não havia pensado nisto até agora. – confessou Rony – Mas, consegui reparar que ainda possuo parte da minha força. Eu quase quebrei uma porta lá na Sede só por que a empurrei para fechá-la.


- Isto é meio óbvio, não? – perguntou Gina de súbito – Cada um de nós ficou com um resquício das nossas antigas habilidades.


- Não é tão óbvio, Gina. – ponderou Hermione – Não havia como sabermos disto sem ter esta conversa. Vocês sequer sabiam desta minha habilidade.


- Verdade. – concordou Rony, esparramando-se na poltrona – E eu não sinto dor.


- O quê?! – perguntou Hermione, pasma.


- Isso mesmo. – confirmou o ruivo, risonho – Eu não sentia dor antes, acabei de reparar. Ainda sinto frio e calor, mas não dor.


- Que maneiro. – afirmou Gina – Isto vem bem a calhar. – ela ergueu o punho como uma ameaça, os olhos brilhando terríveis.


- Vamos ver se você consegue, maninha. – Rony estufou o peito, dando a impressão de que todo o seu corpo estava maior.


A ruiva mostrou a língua para o irmão e abaixou a mão.


- O que você ainda consegue fazer, Gina? – perguntou Cassius, curioso.


- Ainda consigo aparatar em Hogwarts. – respondeu ela com naturalidade.


- As proteções estavam ativas? – questionou Hermione.


- Sim, cruzamos com McGonagall logo em seguida e ela confirmou. – Gina apontou para Harry, sorridente.


Ele confirmou com um maneio da cabeça, permanecendo calado e sério.


Cassius fitou o moreno, seu filho, criticamente. Quando o verde encontrou o azul, o mago percebeu que aquilo o machucava e compreendeu o motivo.


- E mais... – exclamou Gina, empolgada – eu consigo sentir a energia de tudo.


- Nós também conseguimos. – contrapôs Rony.


- Não, Rony. – retorquiu a ruiva – Vocês sentem a magia branca e somente porque foram treinados para isto. Eu não. – ela sorriu largamente, quase arrogante – Sinto a energia vital das coisas. Tudo tem um poder mágico em torno de si e eu o sinto.


- Fantástico! – exclamou Cassius, impressionado.


- Obrigada. – Gina se levantou e fez uma reverência divertida, sentando-se em seguida, rindo.


Rony e Hermione acompanharam-na na risada. Cassius apenas suspirou divertido pela atitude da ruiva. Seu olhar foi até Harry, que fitava a tapeçaria. Cassius seguiu o olhar de Harry, fazendo com que os outros fizessem o mesmo.


O que atraiu a atenção de todos foram os nomes do quarteto. Não estavam escritos mais em branco. O mesmo azul que tingia o nome de Owen e de Lars, que havia surgido mais cedo naquele mesmo dia, iluminava os nomes deles.


- Então voltamos a ser guerreiros? – perguntou Rony.


- Sim. – consentiu Cassius – O Herdeiro Luz partiu, levando com ele tudo o que ele e o Herdeiro Trevas trouxeram.


Eles ficaram em silêncio por algum tempo, admirando a beleza da tapeçaria.


- Bem. – o mago se pôs de pé, sorridente – Vamos subir.


- Hey! – exclamou Hermione – O Harry ainda não falou.


O sorriso de Cassius morreu no mesmo instante e seus olhos fitaram a reação de Harry. Este, contudo, permaneceu indiferente, mantinha a expressão serena.


- Isso ai! – concordou Rony – Então, Harry, o que você ganhou? Aposto que é algo muito melhor que os nossos.


Um sorriso torto e irônico surgiu nos lábios de Harry.


- Eu ganhei o que precisava para continuar minha vida. – respondeu ele, simples.


- O que? – Rony pareceu entusiasmado.


- Harry... – começou Cassius.


- Tudo bem, pai. – disse Harry, assustando o mago pelo termo empregado.


O moreno virou-se para o amigo, nenhum sorriso em seu rosto.


- Eu ganhei uma tatuagem, Rony. Apenas isto. – falou ele, sério – E é o que eu precisava. Não me importo de ser mais fraco que vocês, até gosto disto. – ele confirmou seu argumento com um maneio da cabeça – Estou feliz por vocês. Aproveitem o que Luce deu a vocês, ele foi muito atencioso.


Hermione concordou com a cabeça, triste pelo que o amigo sentia. Rony arregalou os olhos e “murchou”.


- Desculpa. – pediu o ruivo.


- Tranquilo, Rony. – Harry deu um sorriso sereno.


Gina ergueu-se e aproximou-se dele, depositando um beijo terno em seus láina ergueu-se e aproximou-se dele, depositando um beijo terno em seus l mesmo dia, iluminava os nomes deles.


bios.


- Desculpe-nos por te lembrar dele. – pediu a ruiva – Devíamos ter percebido isto antes.


- Está tudo bem, Gina. – tranquilizou-a Harry – Ele foi o que aconteceu de melhor em nossas vidas. Não devo lembrar-me de sua morte, mas sim dos momentos bons que passamos juntos e das alegrias que, mesmo depois do fim, ele nos concede.


- Vamos subir? – perguntou Hermione, contida.


- Sim. – respondeu Harry.


Eles se ergueram e rumaram para a saída.


- Harry. – a voz forte de Merlim soou.


Todos pararam e se viraram. Harry fitou os olhos brilhantes do mago.


- Tu sabes que não é o fim. – disse Merlim, a voz suave.


- É claro que não é. – Harry riu, envolvendo Gina pela cintura – É apenas o começo. O começo de uma nova era.


=-=-=


A noite tingiu o céu de negro. Um estalo denunciou a aparatação de alguém na Rua dos Alfeneiros, em Little Whinging. Do meio das árvores, surgiu Harry Potter, vestido com roupas comuns de trouxas. Caminhando alguns metros, ele entrou pelo cercado do número quatro e parou à porta.


- Eu atendo! – berrou uma voz de dentro da casa depois que a campainha soou.


A porta se abriu e a figura gigantesca de Duda Dursley surgiu. Ele fitou Harry por alguns segundos antes de reconhecê-lo.


- Harry? – perguntou ele, certificando-se.


- Olá, Duda. – Harry sorriu educado e estendeu a mão – Bom te ver.


Duda olhou a mão estendida do primo com indiferença.


- Quem é Duda, querido? – perguntou Petúnia, vindo pelo corredor.


Ela puxou o filho pelo braço, para abrir espaço. Quando o olhar dela pousou sobre Harry, sua expressão ficou fria e apavorada.


- Oi, tia. – Harry recolheu sua mão, ainda sorrindo.


- O que você quer? – questionou a mulher, seca e nervosa.


A expressão do moreno denunciou sua surpresa e ele não soube como reagir.


- Eu fiz o que aquele homem ordenou sob a promessa de que você nunca mais retornaria a esta casa. Vá embora e nunca mais volte! – berrou Petúnia, fechando a porta com um estrondo.


Harry ficou parado por algum tempo, fitando a porta fechada a sua frente. Ele não compreendia o que havia acabado de acontecer. Antes de ir embora daquela casa, anos antes, sua tia havia sido bondosa e carinhosa. Qual era o motivo para aquela mudança?


“Eu fiz o que aquele homem ordenou sob a promessa de que você nunca mais retornaria a esta casa.” – repetiu Harry, afastando-se do número quatro.


Alguém prometera a ela que ele nunca mais voltaria. Fora apenas um acordo. Contudo, quem havia proposto isto?


=-=-=


Na Toca todos estavam aguardando o jantar, Molly cantarolava ao fogão enquanto Arthur arrumava a mesa junto de Rony.


- Que cheiro bom! – exclamou Rony.


- Vai ter que esperar um pouco. – disse Arthur, terminando de arruar a mesa.


- Por quê? – perguntou Rony, vendo que a mãe já havia terminado de cozinhar.


- Remo e Tonks virão para jantar. – respondeu a matriarca, retirando o avental – Seja educado e espere.


- Cadê o Harry? – perguntou Hermione, surgindo com Gina ao pé da escada.


- Ele foi até Little Whinging. – respondeu Rony, puxando uma cadeira para Hermione – Ele queria ver os tios.


- Deve estar voltando. – argumentou Molly, dando uma última inspecionada nas panelas.


A porta se abriu em seguida e o moreno surgiu.


- Você não morre mais. – exclamou Rony, risonho, sentando-se ao lado de Hermione.


- Por quê? – perguntou Harry, curioso.


- Estávamos falando de você agora mesmo. – respondeu Gina, caminhando até ele e dando um beijo rápido em seus lábios.


- Como estão os seus tios? – perguntou Hermione.


- Bem. – respondeu Harry, ocultando a tristeza.


Gina percebeu a mudança nele e o segurou perto de si.


- O que foi? – sussurrou ela.


- Nada. – ele sorriu e deu outro beijo rápido nela, puxando-a para a mesa em seguida.


- Remo e Tonks vão vim para jantar. – disse Hermione ao vê-los se sentar.


- Bom. – exclamou Harry, envolvendo Gina com o braço.


- Creio que Sirius virá também, Molly querida. – especulou Arthur.


- Ele não larga do Remo e da Tonks. – argumentou Molly com tom ultrajado – O pobre casal não deve ter um pingo de intimidade.


- Não vejo porque, mamãe. – contrapôs Gina – Veja você e o papai, por exemplo, mesmo com seis filhos pequenos em casa tiveram intimidade suficiente para que eu viesse a nascer.


O rosto de Molly ficou rubro instantaneamente. Arthur olhou a filha com repreensão. Rony deu uma gargalhada enquanto Harry e Hermione abafavam as suas.


Para alívio da matriarca Weasley, batidas na porta anunciaram a chegada dos convidados.


- Boa noite! – desejou Remo, após a porta ser aberta.


- Olá! – Tonks acenou para todos.


O casal entrou sorridente enquanto Molly fechava a porta.


- Onde está Sirius? – perguntou Arthur, que esperava a vinda do maroto.


- Em Hogwarts. – respondeu Tonks, sentando-se à mesa.


- Vocês não souberam? – perguntou Remo, sentado ao lado da esposa.


- Do quê? – perguntou Molly, levitando as panelas para a mesa.


- Sirius foi aceito como professor de transfiguração. – respondeu Tonks.


- Que maravilha! – exclamou Hermione.


- É muito bom mesmo. – concordou Harry – Sirius realmente ama Hogwarts. Vai ser muito bom para ele viver lá.


- Aposto que quem não gostou foi o Snape. – disse Rony, rindo.


- De fato... – Remo coçou o queixo, pensativo – Snape ficou surpreso, disse-me Sirius, ao ser informado sobre sua contratação. Contudo, acho que os dois ficarão em paz.


- Tenho certeza que Minerva exigiu isto. – retrucou Molly, sentando-se.


- Não duvido nada. – exclamou Gina, fazendo todos rirem.


O jantar correu calmo e divertido. Todos conversavam animados sobre Hogwarts, o Ministério e todo o mundo mágico em geral. As mudanças que a derrota de Tom havia acarretado eram imensas.


Depois do jantar, as mulheres iniciaram a limpeza enquanto os homens se dirigiam para a sala. Assuntos mais sérios começaram a ser debatidos.


Harry permaneceu calado, de pé ao lado da janela, olhando o céu.


- O que foi, Harry? – perguntou Remo, surgindo ao lado do moreno.


- Fui ver meus tios. – respondeu Harry.


Remo engoliu em seco, o que não passou despercebido pelo outro.


- Sua tia te tratou mal, não foi? – questionou Remo, a voz baixa.


- Como sabe? – retrucou Harry.


- Não me leve a mal, Harry. – iniciou Remo em tom de desculpas – Mas eu coagi sua tia a te tratar bem nos seus últimos dias naquela casa.


Harry analisou a expressão do homem e suspirou.


- Tudo bem. – ele deu de ombros – Era muito bom para ser verdade.


- Olhe. – Remo segurou-o pelos ombros, o rosto em um misto de medo e suplica – Eu não tive a intenção de te iludir. Eu queria apenas que você fosse feliz naquela casa.


- Eu entendo, Remo. – Harry sorriu sincero – Eu teria feito a mesma coisa. – completou sério.


- Ok. – Remo suspirou aliviado e soltou-o.


- Você acha mesmo que Sirius vai deixar Snape em paz? – perguntou Harry, maroto.


Remo deu uma gargalhada lupina, fazendo Harry rir também.


- O que você acha? – retrucou Remo.


Harry segurou a risada por alguns instantes, refletindo. Depois, fitou Remo o mais sério que podia.


- Não!


Todos os outros presentes na Toca se assustaram com as gargalhadas que partiram dos dois e riram de ambos.


=-=-=


A aurora irrompeu, iluminando o céu de vermelho e amarelo.


No jardim d’A Toca, sentado perto do lago, Harry olhava para o leste, esperando que o astro rei nascesse, a mente distante.


- O que faz aqui? – perguntou Gina, aproximando-se.


- Vim ver o sol nascer. – ele apontou para o leste.


- Posso ver com você? – Gina sentou-se ao lado dele.


- Claro. – ele a puxou para mais perto, cruzando seu braço nas costas dela.


Ficaram em silêncio, admirando o nascer de um novo dia.


- É estranho, não? – perguntou ela.


- O que?


- Não parece que há pouco mais de um mês estávamos em Guerra. – ela se aninhou nele.


- Sim. É estranho. – concordou ele.


- Tudo tem dado tão certo desde então. – analisou ela – Scringeour acordou e tem ministrado corretamente. Hogwarts retomou suas atividades com normalidade, sem nenhum imprevisto.


- Scringeour tem ministrado corretamente por causa da Mione, não se esqueça. – retrucou ele.


- Ainda nem acredito que ele passou por cima do orgulho dele e pediu a ajuda dela. – confessou Gina – Tudo é estranho, não?


- Entendo o que quer dizer. – respondeu ele – Tudo ficou certo rápido demais para acreditarmos que seja real.


- Mas, é real, não é? – ela se afastou um pouco dele, a fim de fitá-lo nos olhos.


- Sim, Gina. – ele acariciou a face dela, sorrindo – É completamente real.


Beijaram-se carinhosamente e ficaram abraçados por longos minutos, vendo o sol nascer.


- Quando você vai se mudar? – perguntou ela, mudando de assunto.


- Está me expulsando? – retrucou ele, rindo.


- Você entendeu o que eu quis dizer. – ela deu um beliscão na barriga dele, contendo-o.


- Sirius disse que conseguiu um apartamento para nós dois no centro trouxa de Londres. – informou ele – Vai ser divertido.


- Cassius gostou da ideia de você morar sozinho durante boa parte do ano? – perguntou Gina, zombeteira.


Harry riu.


- Não muito. Ele disse que Londres era muito estressante e barulhenta e que eu não conseguiria fazer nada que gostasse e precisasse.


- Treinar. – ela revirou os olhos – Cassius insiste que nós treinemos regularmente.


- Eu concordo com ele. – retrucou Harry – Você, Rony e Hermione devem praticar os poderes que Luce deu a vocês.


- Eu sei. – resmungou Gina, abraçando-o ainda mais para evitar uma discussão.


- Novidades da Luna? – perguntou ele, minutos depois.


- Sim! – exclamou Gina, soltando-o com um pulo, os olhos brilhando animados – Eles deram a poção para os pais do Neville.


- E? – Harry desencostou-se da árvore, ansioso.


- Funcionou! – berrou Gina, rindo – Luna disse que Neville não se aguenta de tanta felicidade.


- Que maravilha, Gina! – Harry a abraçou – Imagine quantas pessoas a poção deles não poderá ajudar?!


- Nossa... você não imagina o que aconteceu com o Neville! – Gina soltou-se, animada demais para ficar presa nos braços dele.


- O quê? – Harry não conseguia ver nada além do fato do amigo ter seus pais com saúde novamente.


- McGonagall convidou-o para lecionar poções no próximo ano letivo. – respondeu a ruiva.


- Caramba! – Harry riu, surpreso, encostando-se na árvore novamente – Isso sim era inesperado.


- Imagina a reação do Snape?! – indagou Gina, risonha.


- Agora ele vai lecionar apenas defesa contra as artes das trevas. – ponderou Harry – Deve ter ficado feliz.


- É. – Gina abanou as mãos com descaso, demonstrando que não havia analisado por este lado.


Ela sentou ao lado dele novamente e inclinou-se sobre seu peito, abraçando-o e sendo abraçada.


Eles admiraram o astro rei, que agora surgia por completo, em silêncio.


- Vamos casar durante o nascer do sol? – perguntou Harry subitamente.


Gina se assustou, não contava que ele ainda se lembrava disto. Ela se aninhou ainda mais nele.


- Sim. – respondeu ela, baixinho.


- Vamos esperar, certo? – perguntou ele, sereno – Vai ser um choque para todos.


Ela resmungou um consentimento.


- Vou atrás do chefe dos aurores, pois quero um emprego. – informou ele – Vou juntar mais dinheiro e procurar uma casa para a gente. Mesmo que demoremos para casar, quero que esteja tudo preparado para que, no instante em que decidirmos nos casar, não haja complicações.


- Concordo. – ela sorriu – Vou conversar com o chefe do Saint Mungus. – informou serena.


- Saint Mungus? – surpreendeu-se Harry.


- Ontem eu descobri uma coisa. – Gina soltou-o e sacou a varinha – Dê-me sua mão. – ele obedeceu e ela fez um movimento seco com a varinha.


- Ai! – exclamou ele, sentindo uma faca cortar a palma de sua mão – Gina?!


- Espere. – ela soltou a varinha e segurou a mão ferida dele entre as suas.


A respiração da ruiva tornou-se mais suave e controlada, quase inaudível. Ela fechou os olhos. Instantes depois, Harry sentiu todo o seu corpo arrepiando-se e a dor em sua mão desaparecer. Gina abriu os olhos e retirou sua mão de sobre a palma da mão dele. Não havia mais ferimento nenhum.


- Você me curou?


- Sem nenhum feitiço. – respondeu ela, sorrindo – Apenas me concentrei na sua energia e manipulei-a para que você se curasse. Não fui eu quem te curou, foi você mesmo.


- Incrível, Gina! – ele fitou-a no fundo dos olhos, admirado e orgulhoso.


- Acha que eu consigo um emprego de curandeira? – perguntou ela, esperançosa.


- É claro! – ele a abraçou – Você tem um dom maravilhoso, Gina. Aprimore-o ao máximo que você puder. Pratique muito. – ele fez uma pausa e deu uma gargalhada – Se precisar serei sua cobaia.


Ela gargalhou.


- Acho que manipular somente a sua energia é muito fácil. – ela ficou séria – Tenho que manipular a energia das pessoas, Harry. Conhecendo-as, como conheço você, torna tudo fácil. Mas... como poderei manipular a energia de alguém que nunca vi antes?


Harry soltou-a e segurou o rosto frio dela com suas mãos quentes. Um sorriso carinhoso tomou os lábios dele.


- Não tenha medo, Gina. Vá até o Saint Mungus e peça para fazer um estágio. Sempre vá acompanhada de um medi-bruxo experiente, exija isto, você tem credibilidade mais do que o suficiente.


A ruiva concordou com um aceno da cabeça e o beijou.


Afastaram-se, minutos depois, apenas devido ao susto causado por um pio de coruja. Ao lado deles, uma bela coruja cinza trazia preso na pata um envelope branco como a neve.


Gina estendeu a mão e tomou o envelope nas mãos. A coruja alçou vôo logo em seguida.


- De quem é? – perguntou Harry.


- Owen e Sarah! – exclamou Gina, depois de ler – É o convite do casamento!


=-=-=


A última semana da primavera despejava o calor do sol e a brisa fresca do Lago Negro e da Floresta Proibida sobre os terrenos de Hogwarts. O reflexo dos raios do sol produzido pelo túmulo branco de Alvo Dumbledore era superado apenas pelos reflexos das cadeiras e decorações brancas que estavam perto do Lago.


Membros da Ordem da Fênix e antigos estudantes de Hogwarts ocupavam as cadeiras para prestigiar o matrimônio de Owen e Sarah.


Sob o arco branco, posicionado à frente das cadeiras, decorado com tulipas de várias cores, o noivo aguardava, ladeado pelos irmãos, Lars e Harry, e pelo pai, Cassius. Este possuía um sorriso orgulhoso enquanto aqueles faziam piada e riam da expressão de pânico de Owen. Do outro lado do arco, Gina e Susan Mark, esta a melhor amiga de Sarah, conversavam com Alice Sanderson, mãe da noiva.


Na primeira fila de cadeiras, as cabeleiras ruivas dos Weasleys chamavam a atenção ao lado de Hermione, Remo e Tonks. Alguns dos antigos professores dos noivos também estavam presentes. Minerva McGonagall, professora favorita da noiva, concedera o jardim de Hogwarts naquele primeiro final de semana das férias de verão para a realização da cerimônia com orgulho e prazer.


Preenchendo o espaço de gramado até a margem do lago, mesas brancas, circuladas por cadeiras também brancas, eram decoradas cada uma com um arranjo de tulipas e uma pista de dança estava montada e equipada com um pequeno palco.


Apesar de toda a beleza e esplendor da decoração, todos se vestiam com simplicidade. Owen, a única exceção, usava um completo traje de noivo. O terno negro caia muito bem no corpo malhado do moreno e era enfeitado por um botão de tulipa branca. Lars e Harry trajavam calças negras, camisas brancas e coletes também negros, mantidos abertos com despreocupação. Cassius vestia um sobretudo negro por sobre a calça também negra e a camisa branca.


Gina usava um vestido leve de verão verde escuro, que criava um belíssimo contraste com seus cabelos ruivos, que estavam presos em um coque frouxo, de onde pendia algumas mexas. A maquiagem era leve e simples, os lábios ornados de vermelho vivo e os olhos definidos por um suave contorno de lápis preto. Susan trajava um vestido azul anil, que se harmonizava à sua pele claríssima e os cabelos loiros escuros. Os lábios com gloss transparente brilhavam sob o sol e os olhos negros estavam ainda mais sombrios com o forte delineador também negro. Alice estava bela, a juventude de outrora fazendo seus olhos castanhos brilharem felizes e orgulhosos. A pele pálida e com aparência levemente doentia era apaziguada pelo vestido lilás, que deixava ainda mais evidente seus cabelos levemente grisalhos.


Os sussurros dos convidados cessaram quando o celebrante ergueu a mão. Todos viraram-se para olhar. Através do pequeno corredor, formado pelas cadeiras divididas em dois grupos, surgia a noiva de braço dado com Sirius Black. Os cabelos do maroto estavam curtos, impecavelmente cortados, e ele vestia uma calça negra e uma camisa branca, mantendo-se simples para que todo o esplendor emanasse da mulher ao seu lado.


Sarah possuía o rosto iluminado pelo sorriso mais belo e feliz que todos os presentes jamais haviam visto. Seus cabelos estavam para trás, presos por uma florida armação prateada. A maquiagem ressaltava seus traços femininos e angelicais, marcando ainda mais seus olhos brilhantes. No braço esquerdo jazia um bracelete florido, combinando com o adorno nos cabelos. O vestido tomara-que-caia realçava as formas e curvas de seu corpo com suavidade, mostrando algumas curvas belas e ocultando as mais perfeitas. Todo o tecido era liso, exceto pelos bordados prateados no busto, que desciam até desaparecer sob uma faixa que marcava sua cintura; e por um corte duplo, que marcava o tecido no centro, da cintura até a barra, moldurado por bordados floridos e belos.


Sirius conduziu a sobrinha até o arco branco, beijou-lhe o dorso das mãos e a testa, com carinho, depois olhou para Owen, sério.


- Vou fazer vista grossa, McWell. – disse o maroto, extremamente sério – Se eu suspeitar que magoou minha sobrinha, nem mesmo o Harry poderá me parar. – advertiu ele.


Owen riu levemente, porém era perceptível sua tensão. Ele estendeu a mão e recebeu um aperto vigoroso de Sirius.


- Vou tomar cuidado. – retrucou o noivo, sorridente.


Sarah deixou escapar uma risada leve. Owen olhou-a, absorto em sua beleza. Ele nunca pensara que a veria tão bela quando naquele momento. Era fato que já a vira de várias maneiras, mas sua mente nunca poderia imaginá-la tão perfeitamente linda.


Sirius se afastou e colocou-se ao lado de Alice, tomando o braço da antiga esposa do irmão. Ela agradeceu aos sussurros, emocionada. Ele apertou a mão dela entre as suas e apenas sorriu, assistindo Owen aproximar-se de Sarah e depositar um beijo terno em sua testa, tomando seu braço em seguida.


A cerimônia foi longa, contudo, ninguém pareceu notar o passar dos minutos. A paz e felicidade eram tantas que o tempo que passava não era sentido. O casamento era feito perante a lei bruxa e trouxa. Os noivos decidiram que iriam viver entre os trouxas, no subúrbio de Liverpool, e deviam ter sua união legalizada perante a sociedade onde viveriam para não ter de se preocupar com quaisquer problemas futuros.


O celebrante, já próximo do final da cerimônia, estendeu as alianças para os noivos. Sarah e Owen viraram-se um para o outro e fitaram-se, sorridentes.


- Com esta aliança, perante os bruxos e trouxas, agora eu te tomo como minha esposa. – Owen beijou a aliança dourada, que agora ornava a mão dela.


- Com esta aliança, perante os bruxos e trouxas, agora eu te tomo como meu esposo. – Sarah colocou a aliança no dedo dele e beijou-a.


O celebrante disse suas últimas palavras para os noivos e, direcionando-se aos convidados, exclamou:


- Eis, perante todos vós, Owen McWell e Sarah Black McWell!


Owen puxou Sarah e a beijou com paixão, uma mão firme em sua nuca e outra a envolvendo pela cintura. Ela correspondeu com desejo, as mãos moldurando o rosto dele.


As palmas e vivas explodiram dos convidados, que ficaram de pé. Berros empolgados e divertidos partiram de Lars e Harry, obviamente contaminados pela paixão e desejo do casal. Cassius deu um tapa na nuca de cada um, risonho e sério ao mesmo tempo. Eles deram uma gargalhada e pararam de berrar e curtir com a cara do irmão mais velho. As madrinhas riram, tanto do casal quanto dos irmãos e do pai.


Owen e Sarah separam-se, ofegantes. Fitaram-se em silêncio por alguns segundos. Sorrisos iluminaram suas faces e, de mãos unidas, viraram-se para os convidados, que ainda aplaudiam e exclamavam vivas.


O casal cruzou o caminho, cumprimentando os convidados mais próximos. Sob o arco, Harry e Gina deram-se as mãos e seguiram os noivos, Lars tomou a mão de Susan com um sorriso encantador e inconsciente, que fez a loira corar, e seguiu com ela os outros. Alice puxou Cassius e segurou-o com seu braço vazio.


- Bem vinda à família, Alice. – desejou o mago, sorridente.


- Bem vindo à família você, Cassius. – gracejou Sirius, fazendo-os rir.


Os convidados seguiram os recém-casados, padrinhos e madrinhas e os pais dos noivos até as mesas brancas, sentando-se em seus lugares pré-determinados.


Na única mesa retangular, sentaram-se, no centro, Owen e Sarah. Alice e Sirius sentaram-se do lado da noiva e Cassius do lado do noivo. Harry e Gina terminavam a mesa ao lado do mago, enquanto Lars e Susan posicionavam-se ao lado do maroto.


Quando todos estavam sentados, um jantar magnífico foi servido. Mais um detalhe que Minerva McGonagall teve o prazer de conceder, com os elfos do castelo.


O sol sumiu no oeste e o local foi iluminado pela lua cheia que tomava o céu límpido e por velas brancas, que flutuavam sobre todos.


Muitos convidados que terminaram suas refeições caminhavam por entre as mesas, cumprimentando quem não vira na cerimônia e conversando com amigos. Muitos dos antigos colegas de Owen e Sarah estavam presentes e eles eram os que mais conversavam. Afinal, não é sempre que se encontra os velhos amigos.


Logo, os noivos se levantaram e começaram a caminhar entre as mesas, cumprimentando a todos e agradecendo a presença.


Conversas eram travadas nas mesas. Sirius levara Alice até a mesa onde Remo, Tonks, Moody e Quim estavam sentados. A mulher estava levemente corada, pois há muito tempo não era o centro das atenções.


Lars e Susan conversavam animados. Ela contava para ele sobre a época de escola, quando cursaram Hogwarts no mesmo ano, embora ela pertencesse à Corvinal. Ele, devido à amnésia, não se recordava de nada, porém, estava fascinado pela maneira com que Susan se portava e falava.


Cassius percebeu isso e cutucou Harry, interrompendo a conversa despreocupada que este tinha com Gina e atraindo a atenção de ambos.


- Mais um McWell laçado. – brincou o mago.


- Será? – duvidou Gina – Eles se conheceram hoje, tecnicamente.


- Para Lars pode até ser, Gina. – Cassius deu as costas para o filho loiro, para que este não percebesse seus olhares, e fitou a ruiva – Mas Lars aprende rápido.


- Aprende? – repetiu Harry, sem entender.


- Ele não parece ter esquecido os feitiços brancos que ele criou. – informou Cassius – Ele executou-os, semanas atrás, com facilidade. Ele disse que apenas pensou como seria interessante se existisse tais feitiços.


- Intrigante. – admitiu Harry.


- Você acha que ele vai se lembrar? – perguntou Gina.


- Acho que não. – respondeu Cassius, sincero – Creio que esses reflexos de sua memória antiga seja algo superficial. Os feitiços não pertenciam totalmente à memória dele, eles estavam dentro de sua energia, interligados ao seu instinto. Talvez... – o mago lançou um olhar rápido ao filho, que ria com Susan – essa amizade instantânea com a senhorita Mark seja um reflexo de uma amizade antiga, que possuía ligações com seus sentimentos e emoções.


- Entendi. – disseram Gina e Harry, sorrindo.


- Senhoras e senhores! – soou a voz forte de Owen.


Todos dirigiram seus olhares para o palco, onde Owen estava de pé, segurando um microfone.


- Eu gostaria de agradecer a presença de todos e vos desejar uma ótima festa! – ele pulou do palco, que explodiu em fumaça azulada e esverdeada.


Gritos animados partiram dos convidados, cuja maioria dirigiu-se à pista de dança em rápidos segundos.


Uma banda de rock surgiu por entre a fumaça. No fundo estava uma grande bateria, um homem sentado atrás dela. De pé, na frente, um homem carregava sua guitarra e outro seu baixo, enquanto um segurava o microfone nas mãos.


- Boa noite! – desejou o vocalista, um homem de meia idade, com óculos escuros e cabelos até os ombros.


- Boa noite! – gritaram os convidados.


- É um prazer voltar à Hogwarts! – berrou o guitarrista, homem de meia idade, com uma touca preta na cabeça e barba por fazer, no seu próprio microfone, levando os convidados à loucura.


- Isso, The Edge, acaba com o suspense. – ironizou o vocalista, fitando o colega ao seu lado.


- Só estou animando a galera, Bono. – retrucou The Edge, dando uma batida nas cordas da guitarra e arrancando um som forte, fazendo os convidados gritarem.


- Vocês querem rock?! – perguntou Bono.


- Sim!!! – responderam os convidados.


- Noivos, por favor! – pediu Bono, acenando para a pista de dança completamente lotada.


Owen e Sarah surgiram no meio de um circulo aberto.


- Finalmente hein, McWell? – desdenhou o baixista, o mais velho, de cabelos curtos e totalmente brancos.


- Eu estou pagando vocês para quê, hein?! – gritou Owen, fingindo irritação.


- Você não está pagando nada! – respondeu o baterista, homem de cabelos castanhos escuros e espetados.


Os convidados caíram na risada e Owen fez um movimento de desinteresse com as mãos.


- Todos prontos?! – perguntou Bono aos convidados, que gritaram afirmativamente – The Edge?! – o guitarrista assentiu – Adam?! – o baixista soltou uma nota grave de seu instrumento, sorrindo – Larry?! – o baterista fez uma sequência de sons e ergueu as mãos, mostrando as baquetas – Essa, então, é para os noivos.


All Because of ou – U2


Tudo Por Você


Uma nota aguda foi dada pelo guitarrista, o eco persistindo por alguns segundos. Pouco depois, The Edge retomou a melodia, baixinho, aumentando o volume gradativamente até ser acompanhado pela bateria e pelo baixo. Bono aproximou-se do pedestal e encaixou o microfone ali.


Owen e Sarah começaram a dançar, movimentos despreocupados e sincronizados. Os convidados gritaram, animados, enquanto a dança dos noivos se tornava tão agitada quanto à música.


Quando o vocalista iniciou o canto, todos foram ao delírio, pulando e gritando.


- Venham! – gritaram Owen e Sarah, chamando os convidados para a pista.


Logo, a pista de dança se tornou pequena. Todos os convidados estavam dançando, até mesmo Moody e McGonagall. Cassius passou a conduzir Sarah, enquanto Owen dançava com Alice.


Era um casamento nada comum, tanto para os padrões bruxos quanto para os trouxas. Todo o glamour dos convidados fora negado por eles mesmos, dando este efeito somente aos noivos. A cordialidade e formalidade da festa, tal como a valsa dos noivos e dos pais dos noivos, fora substituída por uma banda de rock e uma dança livre e despreocupada.


- Quem são? – perguntou Harry a Owen, quando se aproximaram no meio da pista.


- Você nunca os ouviu? – Owen ficou paralisado e chocado.


- Não me é estranha. – admitiu Harry.


- Eles são uma banda irlandesa. U2. – informou Owen, sorridente – O guitarrista é amigo meu. Ele cursava o último ano em Hogwarts quando eu entrei.


- Ele não é mais velho que isto não? – perguntou Harry.


- Sim. Mas ele reprovou alguns anos. – respondeu Owen, aos risos.


- Nem imaginava que um integrante de uma banda mundialmente famoso fosse bruxo. – disse Gina, que era conduzida por Owen.


- O mundo está cheio de surpresas. – disse Owen, entregando a ruiva para Harry e se afastando.


Harry e Gina viram-no, através da pequena multidão, aproximando-se de Sarah e a puxando para dançar. Ambos riam e se divertiam, ocasionalmente parando para se beijar.


- Vai logo pra casa! – gritou Lars, do lado do irmão, enquanto dançava com Susan.


- Cala a boca! – retrucou Sarah, corada.


Lars mostrou a língua, infantilmente, e se afastou, levando Susan consigo.


Os convidados gritavam, pulavam e dançavam embalados pela batida eletrizante e agitada da banda. Os casais não eram fixos. Os homens e mulheres se separavam depois de alguns poucos segundos, para dançar com os outros à sua volta, rindo e divertindo-se ainda mais.


Depois de algum tempo dançando sem parar, alguns convidados se dirigiam às suas mesas para descansar um pouco e beber algo refrescante. Remo e Tonks estavam entre esses. Eles caminharam até sua mesa e se sentaram. Ela retirou os sapatos e sorriu, aliviada. Com um único pedido, bebidas se materializaram para o casal, que sorveu da bebida com vontade. Depois, ficaram sentados, assistindo aos outros convidados dançarem e rindo, ocasionalmente.


- Estou grávida. – disse Tonks, de súbito.


- O quê? – Remo fitou-a, surpreso.


- Eu já fui ao Saint Mungus. – ela olhou para ele, os olhos brilhando de felicidade – Estou grávida, Remo.


Uma sombra de medo escureceu os olhos do maroto lupino.


- Hey! – Tonks tomou o rosto dele com as mãos – Não vai acontecer nada com ele. Alguns exames já foram feitos e eles comprovaram que o bebê é completamente humano.


- Certeza? – perguntou Remo, temeroso.


- Sim. – garantiu Tonks, sorridente.


Ele olhou para o ventre dela. Ainda não eram visíveis os sinais da gravidez. Com ambas as mãos, ele tomou-a, envolvendo o local onde certamente estava crescendo seu filho. Seu filho.


- EU VOU SER PAI! – berrou o maroto, erguendo-se depois de beijar Tonks com paixão – EU SEREI PAI! – berrou mais uma vez.


Os mais próximos, por coincidência Sirius, Harry, Gina, Rony e Hermione, viraram-se, surpresos.


- EU SEREI PAI! – gritou Remo novamente.


Os cinco ficaram em choque, no primeiro instante, depois correram até ele e o parabenizaram. Sirius tomou a prima entre os braços e a ergueu no ar, abraçando-a com força.


- Sirius! – gritou Remo, preocupado.


- Calma, Remo. – pediu Sirius, pondo Tonks, que gargalhava, no chão – Não vou machucá-la.


- Parabéns! – desejou Hermione, abraçando a mulher.


- Finalmente, hein! – Rony deu um soco leve no braço de Remo, que o levou a dar um passo para o lado, para não perder o equilíbrio – Opa, desculpa.


A noite caminhou rápida e feliz. Todos se divertiam, embalados pelo rock apaixonante e elétrico da banda irlandesa.


Depois de um longo tempo, Harry deixou que Gina dançasse com Carlinhos e retornou para a mesa retangular, onde Cassius estava sentado, sozinho. Assim que se sentou, um copo de bebida se materializou e Harry bebeu-o com um único gole.


- Bela festa, não? – perguntou Cassius, sorridente.


- Com toda a certeza. – riu Harry, encostando-se na cadeira e observando tudo.


Todos estavam muito felizes e agitados. A pista estava lotada de gente. Alguns convidados dançavam fora do local apropriado, em torno da área das mesas. Os Weasleys eram uma massa ruiva que não se dispersava. Eles haviam formado um circulo e no centro, naquele momento, Gina e Carlinhos dançavam animados. Os outros batiam palmas e gritavam. Rony puxou Hermione para o centro do circulo assim que os irmãos saíram.


Harry riu. Hermione estava completamente solta, gritava e pulava como nunca antes. Isto fez o moreno lembrar do Baile de Inverno no seu quarto ano, onde Hermione dançara com Vitor Krum um rock pesado. Ele tinha certeza que Hermione estava mais solta que naquela noite e sabia que o motivo era o novo parceiro.


Em outro grupo, fora da pista de dança, os membros da Ordem dançavam todos juntos. Os que, provavelmente, estavam bêbados puxavam um trem, onde todos se uniam pondo as mãos nos ombros do companheiro à frente. Moody era o primeiro da fila, o corpo debilitado fazendo movimentos estranhos ao tentar pular e se agitar como os outros.


Era tão estranho ver os defensores do mundo bruxo, durante a Primeira e a Segunda Guerra Bruxa, dançando como adolescentes loucos e bêbados. Harry riu com esta comparação.


- Olhe! – Cassius segurou Harry pelo braço e apontou para uma extremidade da pista de dança.


- Wow! – exclamou Harry, caindo na gargalhada.


- Eu disse, não disse?! – perguntou Cassius, animado, batendo na mesa e rindo.


Em meio aos convidados, mas à vista de Cassius e Harry, Lars e Susan estavam aos beijos, os corpos colados e as mãos e braços impossibilitando uma separação.


Harry moveu as mãos, como se comandasse uma orquestra, e cantarolou a música trouxa comum nos casamentos, fazendo Cassius rir ainda mais.


- Do que vocês estão rindo? – perguntou Sarah, os cabelos completamente soltos e o rosto corado de cansaço, aproximando-se com Owen para beber algo.


- Olhem aquilo. – Harry apontou para Lars e Susan.


- Caramba! – exclamou Owen, chocado – Que rápido.


- Eu disse que ela gostava dele. – disse Sarah, sorridente.


- Armação! – Harry apontou para Sarah, acusador.


- Eu quero o melhor para o meu cunhado. – ela mostrou a língua e bebeu todo o conteúdo de seu copo – Cadê a mamãe?


- Está dançando com o Sirius. – respondeu Owen, apontando para a outra extremidade da pista.


Alice estava sorridente e tão corada quanto a filha. Sirius ria muito e a conduzia sem dar descanso.


- Coitada. – disse Cassius – Black não vai lhe dar sequer um segundo para respirar.


- Deixe-o fazer isto. – retrucou Sarah, surpreendendo a todos – Mamãe precisa sentir a vida novamente. Ninguém melhor do que um maroto para fazer isto a ela, não?


- Concordo. – responderam Owen e Harry, juntos.


- Vamos! – Sarah puxou o marido para a pista de dança.


Cassius e Harry caíram na risada novamente.


- Vai ser uma longa noite. – ponderou o mago.


- Não está reclamando, está? – retorquiu Harry, indignado.


- Não! – apressou-se Cassius a responder – De maneira alguma! – ele deu uma leve risada e continuou – É uma noite de celebração, Harry, e não apenas do casamento, creio eu.


- Não entendi. – admitiu Harry.


- Há praticamente seis meses a Segunda Guerra acabou Harry. – explicou o mago – Todos que lutaram pela Ordem estão aqui. Você ficou sabendo de alguma comemoração sobre a vitória que algum deles concedeu ou participou?


Harry negou com a cabeça.


- Olhe para cada um, Harry. Análise suas expressões e atos. – Cassius fez uma pausa, enquanto Harry fazia o que lhe fora pedido – A paz é plena e a felicidade é quase palpável. Isso não se consegue em um casamento, nunca. Você acha que Owen e Sarah quiseram casar em Hogwarts só porque ninguém nunca fez isto antes? Não. Eles queriam reviver as emoções boas que todos nós sentimos nestes terrenos. Eles queriam enterrar, para sempre, as lembranças ruins que ganhamos durante a batalha.


- Compreendi. – disse Harry, dando um sorriso e olhando para o céu, onde a lua cheia brilhava forte.


- Mesmo? – perguntou Cassius, somente para confirmar, pois ele mesmo demorara muito tempo para entender a complexidade de tudo aquilo.


- Sim. – confirmou Harry – Owen e Sarah acompanharam de perto os fatos da Primeira e, principalmente, da Segunda Guerra. Eles sabem como é ser atormentado pelos fantasmas das perdas e das dores.


Cassius deu um sorriso largo. Sim, de fato, Harry compreendera tudo.


- A Segunda Guerra marcou a vida de todos nós com ferimentos que, quando cicatrizarem, permanecerão dolorosas. – continuou Harry.


- Esta noite...


- Sim. – Harry fitou o mago, que o olhava – Esta noite elas estão se cicatrizando e, por hora, não nos atormentam ou causam dor.


- Contudo, vão. – Cassius completou o raciocínio do filho.


- Claro. – confirmou Harry, sorrindo – Não é possível superar a perda de um filho. – o olhar dele caiu sobre os Weasleys – Nem a perda de um companheiro. – ele voltou a olhar a lua – A perda e a dor torna-se apenas suportável.


- Suportável. – repetiu Cassius, confirmando.


- Tudo isto só não é pior que a solidão. – afirmou Harry.


- Você não está sozinho. – contrapôs Cassius, sério.


- Sei que não. – Harry riu, uma risada mais triste do que ele gostaria ou pretendia – Somente pensar nisto me faz ver e ouvir Luce novamente. Uma lembrança que vem aos meus olhos instantaneamente e sozinha.


- Harry... – Cassius virou-se para o filho, recebendo o olhar dele – você não está sozinho porque Luce disse que não estaria ou porque possui uma tatuagem nas costas. Você tem uma mulher que te ama e que nunca te abandonará. Tem amigos verdadeiros e leais que sempre estarão ao seu lado, não importa o que aconteça. Você tem os Weasleys, uma família carinhosa, que te acolheu de corpo e alma. E, agora, você tem a nós, os McWells, uma família complicada e complexa, eu sei! Mas que te ama e tem orgulho de você por ter superado e aprendido muito mais do que era necessário até chegar aqui.


Harry suspirou e olhou em volta.


A festa continuava alheia à conversa que eles tinham e alheia ao sentimento de perda, dor e solidão que ele sentia.


Os membros da Ordem da Fênix continuavam firmes no seu trenzinho. Sirius, Remo e Tonks perceberam o olhar dele e acenaram. Ele acenou de volta. No meio da pista de dança, os convidados eram embalados pelas músicas agitadas e apaixonantes da banda. Em uma das extremidades, Lars, Owen, Sarah e Susan dançavam juntos, um pequeno círculo unido por seus braços sobre os ombros dos outros. Os irmãos roubavam beijos de suas companheiras de poucos em poucos minutos, fazendo todos rir.


Harry deu uma risada baixinha e rápida. Os McWells eram orgulhosos e cabeças-duras, mas era carinhosos e preocupados com qualquer pessoa que se mostrasse merecedora ou necessitada. Sarah mandou um beijo para ele, que se assustou ao notar que ainda a encarava. Ele retribuiu o carinho, deixando um sorriso torno nos lábios.


Um grande agito atraiu a atenção do moreno. No grande círculo criado pelos Weasleys, Arthur e Molly dançavam no centro, enquanto os filhos gritavam animados e batiam palmas, seguindo o ritmo da música. Uma risada explodiu do moreno e ele não pode segurar. Os Weasleys eram malucamente amorosos e unidos.


Com carinho, ele viu Hermione batendo palmas agitada e aos gritos, animando o casal que dançava. Ela era sua irmã, desde sempre. Rony estava lodo atrás da namorada, envolvendo-a com seus braços fortes pela cintura e beijando, ocasionalmente, seu ombro e pescoço. Um sentimento de realização tomou Harry. Era tão ruim viver com Rony e Hermione brigados, na época de Hogwarts. O desentendimento do casal levava os três à desunião. Era horrível.


O sorriso de Harry sumiu, segundos depois. Ele procurara por uma mulher de vestido verde e cabelos ruivos, sua mulher, mas não a encontrara. Ele precisava dela, apenas da visão dela, da certeza que ela estava em segurança e feliz. Contudo, ela não estava à sua vista.


Braços gélidos envolveram-no pelo pescoço e lábios frios e macios beijaram sua nuca, arrepiando-o completamente. Ele se virou e puxou-a para se sentar sobre seu colo. Gina riu, os cabelos ruivos estavam completamente soltos e o rosto corado. Ela deixou as mãos frias na nuca dele, fitando seus olhos com intensidade. Ele a segurou pela cintura, sentindo suas mãos quentes fazerem o corpo dela estremecer. Um sorriso maroto surgiu nos lábios dela e um apaixonado nos dele.


- Eu não estou sozinho. – afirmou Harry, a certeza iluminando sua mente e sua alma – Nunca mais, por toda essa nova era.


Gina o puxou para um beijo apaixonado, selando a união de ambos. Gelo e Fogo unidos por toda a nova era. Unidos por toda a eternidade.

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