Prisão Romena
Capítulo 4. Prisão Romena
Durante semanas, Bellatrix foi mantida incomunicável e submetida a interrogatórios desde o amanhecer até tarde da noite, com breves interrupções apenas para as refeições. Não permitiam que dormisse ou que se levantasse da cadeira, a não ser para ir ao banheiro.
Esse tempo todo, Bellatrix foi interrogada por aurores ingleses, que, apesar de defenderem tanto o tratamento humanitário aos trouxas e sangue ruins, não tiveram nenhum receio em usar a Maldição Cruciatus nela na tentativa de obter alguma coisa - sem sucesso.
Em meados de outubro, após quase dois meses de prisão, Bellatrix começou a desconfiar de que sua detenção pudesse significar algo mais sério. A total ausência de informações sobre as providências dos Comensais para libertá-la e, principalmente, sobre o que seus acusadores realmente sabiam sobre ela, deixavam-na apreensiva. Não tinha nem como saber se já conheciam sua verdadeira identidade.
Foi na manhã do dia 14 de outubro que a espera terminou. O carcereiro simplesmente abriu a porta da cela e ordenou:
— A senhorita está em liberdada, não conseguiram provar nada contra você.
Bellatrix juntou os poucos objetos pessoais que tinha tido a chance de trazer consigo (duas vestes, uma escova de dentes e um caderno de anotações com uma pena de repetição), rabiscou uma assinatura na ordem de soltura, apanhou sua varinha e saiu. Pegou o primeiro táxi para casa e suspirou aliviada ao ver que o cofre escondido debaixo da pia da cozinha continuava intacto, embora o resto da casa tivesse sido claramente revirado diversas vezes durante aquelas semanas em que estivera presa.
O mesmo, ela descobriria mais tarde, não acontecera com a casa de Lestrange, no centro da cidade. Todos os documentos que o rapaz acumulara haviam sido confiscados pelos aurores romenos e agora eram usados em seu processo de condenação e deportação.
Os dias seguintes passaram sem notícias dos outros Comensais, ela nem sequer sabia se mais alguém havia sido preso ou se Lestrange havia falado alguma coisa. Nem cartas de Voldemort ou da alta cúpula Comensal recebia mais.
Bella, enfim, conseguiu localizar Snape numa cidade bruxa do interior do país e ele lhe explicou o que tinha acontecido: aparentemente a Ordem de Dumbledore vinha intervindo em Ministérios da Magia de toda a Europa e agora uma guerra sangrenta deflagrava na Inglaterra. Lestrange continuava preso sem nenhum tipo de acusação formal, de modo que era impossível tentar defendê-lo legalmente.
Bellatrix mergulhou de cabeça no trabalho no mês seguinte, na tentativa de esquecer a angústia e a ansiedade por estar longe de seu país e de seus companheiros Comensais. A preocupação com o que Lestrange poderia revelar aos aurores, porém, ela não conseguia contornar. Os dias transcorriam sem que o Ministério romeno viesse a público para dar qualquer notícia sobre o processo que mantinha o jovem preso.
Mas ninguém jamais esquecera da ousadia que era a marca daquela garota. Afinal, não fora ela quem transformara Hogsmeade, a cidade mais vigiada pelos aurores ingleses, num centro de recrutamento de Comensais? E, como ela dizia sempre entre risos irônicos, bem debaixo das barbas brancas de Alvo Dumbledore!
Então, no fim de novembro, decidiu ousar novament. Acendeu a pequena lareira do apartamento e fez contato com Frederich Wolf, o Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia romeno. Falando serenamente, mas sem perder a firmeza, Bellatrix se apresentou como noiva de Lucas Berghner (nome falso de Rodolfo Lestrange) e pediu autorização para visitá-lo e levar alguma comida para ele. Irritado com o atrevimento da ex-presa, Wolf, que esperava que ela estivesse entrando em contato para anunciar que colaboraria com as investigações, mandou-a fazer o requerimento por escrito e cortou a comunicação.
O requerimento foi redigido caprichosamente por Bellatrix e assinado com o nome que usava desde que se instalara na Romênia. Elise se incumbiu da tarefa de levá-lo ao Ministério — já estava há muito mais tempo em Bucareste e conhecia a cidade muito bem.
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Entretanto, dezembro começaria muito mal para os comensais na Romênia. Os aurores enviados pelo Ministério da Magia inglês levantaram a hipótese de que Janice Weser fosse, na verdade, Bellatrix Black, que, meses antes, liderara uma invasão ao prédio do Ministério e era a principal suspeita do assassinato de Ernest Brown. Estavam aguardando a chegada da Inglaterra da ficha de Bellatrix com fotografias e cópias de documentos para confirmarem suas suspeitas.
A identidade falsa de Rodolfo, Lucas Berghner, por outro lado, já tinha sido descoberta há tempos e agora todos os esforços se concentravam em descobrir quem era ele realmente. Na verdade, os aurores não tinham a certeza nem sequer de que ele fosse inglês, como constava em seus documentos.
Enquanto diplomatas e agentes dos Ministérios da Magia romeno e inglês reviravam fichas de inquérito tentando arranjar algum motivo para manter Lestrange preso ou mesmo deportá-lo de vez, Rodolfo passou a sofrer torturas diárias. As equipes e os feitiços usados variavam incrivelmente e iam desde obrigarem o jovem a ingerir poções mortificantes pouco concentradas até a tradicional Maldição Cruciatus.
Mesmo estando há quase três meses isolado numa cela que nem sabia exatamente onde ficava, Rodolfo Lestrange resistiu corajosamente à violência, negando com calma e firmeza impressionantes todas as acusações, falsas ou verdadeiras, irritando e impacientando os investigadores.
As perguntas foram se tornando cada vez mais raras depois que as primeiras seções de tortura se mostraram incapazes de conseguir qualquer informação relevante do rapaz. Assim, sabendo como Rodolfo era resistente, os agentes passaram a concentrar todos os esforços em minar sua força de vontade.
Em pouco tempo, seu corpo estava coberto de hematomas e vergões causados por feitiços dolorosos. Quando decidiram finalmente retomar o interrogatório, a violência aumentou ainda mais, mas não adiantou tampouco. Nada que aqueles bruxos fossem capazes de fazer seria suficiente para arrancar qualquer palavra de Rodolfo.
O rapaz acabou por perder a noção do tempo que se passara desde a captura. Só sabia que o inverno se aproximava por causa do aumento do frio e da umidade em sua cela escura.
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No dia sete de dezembro, Bellatrix, que estudava romeno desde que chegara ao país, leu no jornal bruxo local que o julgamento de Lucas Berghner havia sido marcado para o dia vinte daquele mesmo mês, ainda que nenhuma das suspeitas que pesavam sobre ele tivesse sido apurada. Sem explicações, ele era acusado de perturbar a ordem e pregar idéias de purificação mágica. Alguns diziam que se tratava de um espião búlgaro.
Bellatrix sabia que isso seria suficiente para que Rodolfo passasse as próximas décadas preso ou fosse deportado para um lugar qualquer (provavelmente a Inglaterra, já que, ao que tudo indicava, já tinham quase certeza da verdadeira nacionalidade do preso), onde certamente estaria sendo esperado por dezenas de agentes especiais da Assembléia Internacional dos Bruxos. Ela repetia para os outros Comensais que aquilo significaria uma enorme perda para o Movimento, e um enorme risco para todos os Comensais.
— Não é possível que ninguém vá fazer nada! — resmungava repetidamente com Elise. Mas todos sabiam que não havia como defender Rodolfo sem se comprometerem.
O que nem Bellatrix nem nenhum de seus companheiros tinham como adivinhar era que o desejo de fazer alguma coisa para evitar a deportação de Rodolfo não era apenas seu. Do outro lado da fronteira com a Bulgária e na longínqua Inglaterra, outros Comensais planejavam exatamente a mesma coisa e só esperavam pela oportunidade ideal para agir.
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A segunda semana de dezembro já avançava quando os agentes finalmente desistiram e anunciaram a Frederich Wolf, Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia romeno, que o preso Lucas Berghner não falaria e que não encontrariam um motivo para mantê-lo preso por muito mais tempo, principalmente quando o julgamento trouxesse o caso a público.
Wolf chegou a pensar em ordenar a eliminação do prisioneiro. Não queria passar pelo constrangimento de deportar alguém sem razões convincentes (a não ser que ter material sobre a teoria purificadora em seu apartamento pudesse ser considerado uma razão convincente para se deportar alguém) e muito menos queria ter um daqueles desprezíveis "Comensais" armando coisas em seu país.
Mas sua intenção morreu quando recebeu a notícia de que, a pretexto de apurar a suposta origem britânica do preso, agentes do alto escalão do Ministério da Magia inglês entraram em contato com os aurores romenos. Rodolfo acabara de ganhar mais alguns dias de vida - apenas tempo suficiente para que fosse interrogado por Bartolomeu Crouch em pessoa.
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