Sabe-tudo
Resumo: Poções Avançadas, Último Horário: Professor Slughorn.
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Capítulo 10 – Sabe-tudo
O Professor Slughorn tinha certeza que havia se esquecido de alguma coisa. Já havia um bom tempo que ele havia dado aulas; um pouco mais de quinze anos. Que idéia tola de sair da aposentadoria. Ele poderia estar sentado em frente a uma lareira quentinha, com os pés num puffe e uma taça de vinho do porto. Ao invés disso, ele estava de volta nestas gélidas masmorras preparando a aula de Poções Avançadas para outro bando de ingratos.
Educação. Uma instituição maravilhosa. Ensinar pequenas crianças precoces o que eles pensavam que não precisavam saber, antes que eles se dessem conta de que precisavam sabê-las e bem antes deles poderem apreciar o esforço hercúleo que era ensiná-los. Certamente que uma lareira e uma taça de vinho do porto seriam melhores.
Quatro poções estavam em estado de êxtase e borbulhavam dramaticamente – apenas para dar um efeito – em várias mesas da sala de aula. Use algo que prenda a atenção deles. Professores sempre precisavam de algumas táticas. Táticas e a paciência de um santo.
Vozes adolescentes no corredor anunciaram a chegada deles. O Professor Slughorn ajeitou suas vestes e assumiu sua personalidade de professor sem dificuldade. Quarenta anos de prática se fizeram presentes quando ele alinhou a postura e mascarou a face com uma expressão de maestria autoritária. Assim, ele abriu a porta para o bando de doze estudantes sextanistas que haviam apresentado interesse e notas suficientes para freqüentarem suas aulas.
Ele recepcionou o grupo com o que ele achava que era um favoristismo quase imperceptível por aqueles com maior potencial de ascensão social ou conquistas acadêmicas, “Blas! Maravilha. Entre, entre, meu caro garoto. Harry! Bem-vindo, sente-se… isso mesmo, bem na frente. Adorável.”
Os estudantes reuniram-se ao redor de três bancadas. Quatro Sonserinos exibidos, quatro Corvinais caxias e o resto era uma mistura que incluía o Sr. Potter e seu melhor amigo ruivo. O Professor Slughorn, que nunca deixava de manter suas idéias para si, fez uma nota mental para separar Potter de seu colega na próxima aula. Iria colocá-lo com Blas. Manteria seus Premiere Cru* longe do povão. Ele esperou todos se sentarem e começou a aula.
“Quatro poções, fervendo gentilmente. Todas poderosas e perigosamente corruptas. No primeiro caldeirão temos… Ah, mas não me deixem estragar a surpresa. Alguém pode me dizer o verdadeiro nome dessa primeira mistura?”
Hermione estava um pouco estarrecida. Tal costesia na sala de Poções era muito estranho para ela. Ela olhou para o caldeirão que o Professor Slughorn estava apontando. Fácil. Ela levantou a mão.
“Veritaserum, Senhor,” ela respondeu com autoridade. “Ela não tem nem cor nem odor. Uma vez ingerida, força a pessoa que bebeu a dizer a verdade, apenas a absoluta verdade.”
“Excelente!” disse Slughorn. Bem, ele havia dado uma boa dica. “E a próxima poção?” ele perguntou, sem dar tanta informação desta vez.
Hermione ergueu a mão no ar, ainda que desejasse que Harry ou Ron respondessem essa. Ela estava ficando enjoada pelos rolos de fumaça que emanavam do caldeirão a sua frente. Havia um aroma que a lembrava de Severo na noite em que eles...
“Sim, Senhorita?” perguntou Slughorn.
“Hum, é a Poção Polissuco, Senhor,” ela respondeu.
“Muito bem. Agora, alguém consegue identificar a poção na mesa do Senhor Potter? Você de novo, querida? Tenaz, não é mesmo? Muito bem…”
Hermione tentou manter sua mente na resposta que tinha que dar ao professor, mas estava achando difícil se concentrar com o aroma estonteante de patchouli e de sândalo...
“Amortência, a poção de amor mais potente conhecida, Senhor.”
“Maravilha. Como você a identificou?”
“Ela tem um cheiro único para cada pessoa. Isso nos lembra, nos traz memórias do que nós achamos mais atraente. Eu mesma sinto o cheiro de… grama – reminiscência de uma tarde que eu passei perto do lago... pergaminho e –“ ela parou rapidamente. Ela quase havia dito ‘o chão de madeira encerado da sala de DCAT.’ Ruborizando, ela abaixou a cabeça.
Slughorn olhou realmente para Hermione pela primeira vez desde que ela havia entrado em sua aula. Ela era uma jovenzinha bem inteligente. Lembrava-o de uma jovem que ele havia ensinado há muitos anos atrás. Como era o nome dela? Ela era de sua casa, o que o deixava muito orgulhoso. Filha de um fabricante de varinhas, estrangeira. O nome... ele lembraria, eventualmente.
“Qual é o seu nome, querida?”
“Hermione Granger, Senhor.”
Era isso! Hermione. Como aquela peça que ele havia visto no Dominion Theatre - ‘O Conto de Inverno’.
“Culpe-me, cara rocha, devo dizer sem dúvida tu és Hermione.”
“Professor?”
“O fabricante de varinhas. Hermione, a filha do fabricante de varinhas.”
Hermione começou a entrar em pânico, ela havia sido descoberta! Ela deveria fugir da sala? Se esconder sob a mesa? Beber a Polissuco?
“Você me lembra Hermione, a filha do fabricante de varinhas. Uma Gregorovitch. Talvez você tenha algum parentesco…?” ele perguntou atentamente.
“Não, Senhor, Eu sou nascida trouxa. Sem nenhum parentesco com ninguém do mundo bruxo, especialmente fabricantes de varinhas. Nunca ouvi falar dela, Senhor.”
Hermione manteve a cabeça baixa e tentou esconder-se por trás dos vapores que subiam do caldeirão à sua frente. O ar muito quente e úmido fazia o cabelo dela frizar. Mesmo Vanity não fazia milagres. Slughorn olhou-a de outro ângulo para estudá-la melhor.
“Talvez não,” ele disse após um momento de agonia. “Ah! Eu sei quem você é! O nosso jovem Harry aqui me falou sobre você. Você é a bruxa mais inteligente da idade dele!”
Hermione suspirou de alívio.
“Vinte pontos por reconhecer as três poções, Hermione. Gostaria de tentar completar os vinte e cinco?”
“Como, Senhor?”
“Sobre a minha mesa há outra poção. Sua beleza dourada dança frente nossos olhos. Observem as bolhas subindo e voltando à poção, sem nunca espirrar para fora do caldeirão. É hipnotizante. Se importa em dar um palpite sobre o nome desta, Senhorita Granger?”
“Eu nunca vi nada como isso antes, Senhor.”
“Essa pequena mistura se chama Felix Felicis.”
Hermione engasgou-se, ela conhecia a poção pelo nome, mas não a aparência “É uma poção da sorte, Senhor!”
“Cinco pontos, Senhorita Granger. Essa é, sem dúvida, uma poção que dá sorte a quem a beber. Uma dose lhe dá o dia mais sortudo da sua vida.”
A sala estava silenciosa, com a atenção de todos concentrada no professor.
“E isso,” ele disse, tirando um pequeno tubo de líquido dourado de seu bolso, “é uma única dose de Felix que será dada como prêmio para a melhor poção do Morto-vivo feita hoje.”
As intruções para o exercício prático foram dadas e Hermione começou imediatamente. Sorte líquida, o que ela faria com aquilo? Ela poderia bebê-la, ir direto para a sala de DCAT e confrontar Severo. Talvez com a sorte ao seu lado ele a ouvisse. Ela queria desesperadamente dizer a ele que a questão da idade não importava. Que era por ele, o Professor Snape, que ela havia se apaixonado desde o início.
Olhando ao redor pela sala, ela avaliou os competidores. Ron e Harry não eram ameaça, não se ela não os ajudasse. Ela teria que ficar de olho em Ernie, ele era um elemento desconhecido, ela nunca tinha tido aula de Poções com ele antes. Similarmente, os Corvinais não tinham nenhuma poção tomando forma, aindaque tivessem um bom ritmo. Malfoy liderava a concorrência e se destacava dos Sonserinos, mas Hermione poderia vencê-lo mesmo num dia ruim. Essa competição estava ganha; a Felix Felicis era dela, sem dúvida.
“Hermione, você pode me emprestar sua faca de prata?” Harry pediu, interrompendo seus pensamentos. Ela passou a dita faca ausentemente para ele.
Se ela conseguisse tirar Severo do Castelo talvez ele pudesse enxergá-la de modo diferente. Convenções sociais e a propriedade de comportamento não importariam se eles estivessem em território neutro. Com sorte líquida ao seu lado, ela poderia sugerir que eles fossem a algum lugar calmo para um jantar. Isso seria aceitável; daria a eles a chance de redescobrir o relacionamento deles. O que exatamente ela era dele? Namorada? Noiva? Felix poderia dar-lhe a chance de descobrir. Depois de dezenove anos à deriva, eles dois precisavam passar um tempo juntos.
Harry e Ron haviam emprestado suprimentos e um livro cada do Professor Slughorn, pois nenhum dos dois esperava ter N.O.M.s suficientes para continuar nesta disciplina. Harry estava preparando sua poção ao lado dela, e a poção parecia boa. Espere aí, um adversário! – a poção estava parecendo MUITO boa.
“Harry, como você está fazendo isso?” ela sussurrou.
“Mexa no sentido horário a cada…”
“Mas Harry, no livro diz sentido anti-horário!”
“Então faça do seu jeito,” ele respondeu, voltando ao próprio caldeirão.
Ela voltou a seus planos para Severo. Ela precisava quebrar o gelo. Talvez eles pudessem tomar metade da poção cada um e fazer uma excursão ao banheiro dos monitores. Isso ajudaria muito e os cabelos dele estavam mais oleosos que nunca – o que ele hava feito com Netuno?
“O tempo acabou!” anunciou o Professor Slughorn. Ele andou entre as mesas inspecionando cada caldeirão. Hermione olhou a poção de Harry. Estava excelente. Slughorn concordou e declarou Harry o vencedor, entregando-lhe seu prêmio. Hermione limpou sua bancada com o coração pesado. Aquela dose de Felix deveria ter sido sua.
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“Muito bem, Harry,” ela disse mais tarde, com um toque de amargura. “Como você fez aquilo?”
“Foi aquele livro velho que Slughorn me deu. Está cheio de notas de rodapé e dicas. Foi por isso que eu soube que tinha que mexer para o outro lado a cada dezessete mexidas.”
Harry mostrou o livro a ela. Eles estavam jantando e outras pessoas estavam de olho neles. Hermione pôs o livro sob a mesa e deu uma olhada na capa. “Parece apenas um velho livro-texto, mas devemos ser cuidadosos, lembrem-se do diário de Riddle.”
Gina entrou na conversa deles. “Que história de diário é essa?”
“Harry está seguindo intruções que ele achou num livro,” Hermione respondeu, tirando a varinha do bolso.
“Você está o quê?” Gina quase gritou.
"Specialis revelio!" Hermione sussurrou, apontando a varinha para o livro. “Não consigo descobrir nada perigoso neste livro, Gina.”
“Eu não acredito em vocês dois! Tratem o maldito livro com suspeita!”
Hermione devolveu o livro a Harry. Ele deixou o livro cair, mas este não explodiu nem fez nada, então ela o ignorou. Olhando para a Mesa Principal, ela viu Severo, e queria estar ao lado dele. Ela estava começando a ter problemas para discernir entre o Snape adolescente e o professor à frente dela. As linhas da face, a pele levemente mais grossa, o cabelo escorrido, tudo parecia menos notável agora. Ele ainda era seu Severo e ela queria ficar sozinha com ele para dizer-lhe isso pessoalmente.
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A semana voou num redemoinho de aulas e tarefas de casa. Já era sábado antes que ela pudesse planejar um modo de encontrar-se sozinha com Severo e ela estava muito ansiosa para fazer isso.
“Olhe essa letra, toda juntinha e rabiscada.” disse Harry, examinando seu livro de Poções pela enésima vez.
“Você está obcecado com esse livro,” disse Ron. Hermione pensou que ele parecia estar com inveja. Os resultados dele em Poções não chegavam nem perto dos de Harry, e o livro de Poções Avançadas certamente era um fator que estava contribuindo para isso.
“Deixe-me ver…” Hermione esticou a mão para o livro e Harry passou-o para ela. Ela abriu a capa velha e leu o garrancho de tinta feito na margem de uma das primeiras páginas.
‘Pode mexer com um cabo de vassoura – não fará diferença alguma.’
Os olhos de Hermione arregalaram-se de acordo com que ela lia, e o coração dela batia loucamente em seu peito. Ela conhecia este livro, ou, melhor dizendo, o ‘editor’ dele. Ela folheou as páginas até achar as de antídotos, esperando estar errada.
‘Apenas enfie um Bezoar goela abaixo!’
Ela ficou olhando as palavras que ela havia visto Severo escrever quando eles estavam juntos na biblioteca. Esse era definitivamente o livro dele. O Destino estava jogando um jogo cruel e rindo dela.
“Parece letra de menina,” ela disse, tentando confundir os garotos.
“Mas ele se entitula o Príncipe Mestiço, Hermione. Quantas garotas você conhece que chamam a si mesmas de Príncipe?”
“Ah, os príncipes auto-proclamados...” Hermione disse em tom de brincadeira. Sim, aquilo era estranho. Não era um nome que ela tivesse ouvido Snape usar antes. “É possível que esse livro tenha tido mais de um dono, ainda que eu ache que a letra parece combinar. Talvez isso seja uma brincadeira?” Talvez fosse uma referência a Malcom ou Donalbain, ambos Príncipes da Escócia em Macbeth. Ela teria que perguntar a ele.
“Tenho que ir,” disse Harry levantando-se. “Tenho que estar na sala do Diretor em cinco minutos.” Ele jogou o livro de Poções dentro da bolsa e saiu correndo pelo buraco fechado pelo quadro.
“Esperaremos acordados por você,” Hermione gritou para ele. Era verdade, ela estaria esperando. Ela só não havia mencionado que estaria esperando enquanto procurava por Severo.
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Hermione se trocou e colocou calças de tecido. Ela esperava evocar a memória do primeiro encontro deles usando as mesmas roupas. Estar sem o uniforme era uma prática aceitável para um sábado à noite e certamente não faria mal a Snape vê-la sem as cores da Grifinória que ele havia detestado a maior parte da vida dele.
Ela leu seu livro e esperou numa velha cadeira de madeira próxima ao buraco do quadro. Ron ainda estava trabalhando na tarefa de casa, olhando para ela ocasionalmente e endereçando-lhe um sorriso.
Por que Ron tinha que escolher justo hoje para ser estudioso? Se ele a visse saindo do salão comunal ele viria correndo atrás dela como uma bala. Era necessário ser furtiva, e para se ter furtividade era necessário ser paciente.
Finalmente ele levantou, espreguiçou-se e saiu para, presumivelmente, o banheiro. Uma rápida olhada pelo salão comunal e ela ficou certa de que ninguém estava prestando atenção a ela. Ela levantou-se, fechou o livro, mantendo o dedo marcando a página, e deslizou quietamente através da porta para o corredor do sétimo andar.
O plano dela tinha uma falha, Ela queria encontrar o professor Snape, mas realmente não sabia onde procurá-lo. A primeira parada seria a sala de aula e o escritório dele. Se não desse certo, ela tentaria o velho escritório dele nas masmorras, pois ela não tinha certeza se ele já havia saído daqueles aposentos. O Corujal era uma possibilidade. A sala dos professores estava na lista dela. Se ele tivesse saído do Castelo, ela ficaria perdida. Ela não poderia persegui-lo por toda Grã-Bretanha com um livro nas mãos e uma desculpa esfarrapada para procurá-lo.
O que aconteceu foi que o destino interviu ou a sorte apareceu, porque quando ela se virou para descer o corredor ela o viu. Encarando a Senhora Gorda, parecendo uma pessoa que tinha sido pega com a boca na botija, estava o Professor Snape, encostado no balaústre. Hermione tentou esconder sua surpresa ao se aproximar e dirigiu a ele um sorriso acolhedor.
“Boa noite, Professor. Se o senhor está procurando por Harry, ele teve que ir ao Diretor. Sei que o senhor deu uma detenção a ele, mas...”
Snape a interrompeu. “Eu estou completamente ciente do paradeiro do Sr. Potter.”
“Oh.”
“Estou aqui meramente para cumprir meu dever. Pediram-me para checar os quadros dos andares superiores.”
“Certo.”
“Você notou algo diferente com algum dos quadros hoje?”
“Não, Senhor, eu… nem pensei em procurar por algo diferente.”
“Onde você estava indo?”
“Corujal.”
“Onde está sua carta?”
“Não a escrevi ainda.”
“Jeito interessante de mandar uma carta, que original. Talvez as corujas carreguem um suprimento secreto de pergaminho pré-escrito que você possa escolher. Vamos descobrir. Irei com você, se me permite.”
“Sim! Hum, quer dizer, certamente, Senhor. Seria ótimo.”
Eles caminharam juntos em silêncio. Ele inclinou a cabeça para olhá-la algumas vezes e tomou fôlego como se fosse falar, mas permaceu estranhamente quieto.
“Linda noite, não é, Senhor?”
“Sim, eu não havia… Que livro você está lendo?”
“Lolita.”
“Ainda?”
“Não o acabei ainda. Sei que você provavelmente pensa que dezenove anos seria tempo suficiente para completar a leitura, mas o tempo às vezes passa num segundo.”
Ele sorriu ao ouvir isso, um sorriso saudoso que apenas memórias conseguem evocar. “Talvez, como você ainda tem que escrever sua carta, você poderia me ajudar a responder uma carta que eu recebi hoje e que interessa a nós dois. Eu poderia oferecer-lhe algum pergaminho e penas para completar sua tarefa? No meu escritório eu tenho...”
“Sim! Por favor, quero dizer. Seria gentil da sua parte.”
“Eu tenho algumas redações para corrigir, e desde que você fique em silêncio...”
“Como um rato.”
“Muito bem. Ah, eu tenho um velho amigo que talvez você deseje tornar a ver enquanto estiver lá.”
“Quem?”
“Whoo, seria mais apropriado.”**
“Como?”
“Você verá.”
Ele levou-a escadas abaixo para o primeiro andar. Eles entraram na sala de aula dele e subiram os degraus do púlpito eclesiástico que servia de entrada para o escritório dele. Hermione deu uma olhada na sala de aula enquanto ele destrancava a porta. Ela estava sentindo aquele cheiro de novo, de carvalho envernizado. Uma mistura deliciosa de madeira e cera de abelhas, e ela sentia o cheiro de pergaminho e patchouli...
“Entre,” ele disse, abrindo rapidamente a porta para ela.
A sala era dominada por uma larga mesa coberta de trabalhos. Somente o dono desta mesa seria capaz de achar algo em tal bagunça. Cinco janelas estreitas permitiam que apenas parte da luz do entardecer iluminasse a sala com um brilho bem-vindo. Uma coruja mal-empalhada estava sobre uma das estantes alinhadas junto às paredes. Aquilo ainda devia ser um dos resquícios da estadia de Umbridge por ali. Taxidermia não era o tipo de passatempo que ela associava com Snape, apesar do que os outros pensavam dele.
Ele sentou à mesa e convidou-a a sentar-se à frente dele. Ela levantou uma pilha de pergaminhos com redações da cadeira e olhou ao redor, sem saber onde colocá-los. Agora que estava em seu próprio território, Severo relaxou um pouco e sorriu ao vê-la lutar com os rolos de pergaminho – procurando em cima e embaixo da mesa por um lugar temporário para eles.
“Coloque-os em qualquer lugar, está ótimo,” ele disse.
Ela aceitou o conselho dele e despejou as redações sobre o maior monte da mesa. “Como quiser. Ainda que eu sugira que um sistema de arquivamento seria...”
“Insuportável,” ele terminou a frase para ela. “Eu gosto da minha sala exatamente como ela está. Não tente me mudar.”
O tom dele era sério e Hermione não ousou responder. Ela olhou para a coruja desesperada para encontrar algo para dizer e que a fizesse se sentir mais confortável.
“Você pode usar essa coruja para mandar sua carta,” ele disse a ela.
Ela pensou, por um momento, se ele teria ficado louco nestes últimos dezenove anos. Como ela conseguiria mandar o que quer que fosse por uma coruja empalhada? Amarraria a carta à perna da coruja, jogaria ela pela janela e esperaria um vento forte? Ela olhou intrigada para ele, sem saber se deveria ou não agradecer. Por sorte, ele percebeu a dúvida dela.
“Ele não está morto, só velho. Pegs, seu saco de pulgas, acorde!”
A coruja abriu um olho como que para se certificar se valia ou não a pena acordar. Ele olhou para Snape e depois para Hermione. Sacudiu a cabeça, esticou uma das asas e então soltou um baixo 'Keooow' em cumprimento.
“Pegs?” Hermione perguntou. “Com quantos anos vocês está, menino? Você deve estar com pelo menos vinte e dois! Oh, eles ainda estão fazendo você entregar cartas?”
“Não frequentemente,” respondeu Snape no lugar da coruja. “Gudgeon o mandou esta manhã com a pauta da reunião, ele precisa de um RSVP.*** Essa é a carta que eu esperava que você pudesse cuidar para mim enquanto eu continuo com meu trabalho.”
“Davy Gudgeon? Que pauta de que reunião? Reunião de velhos amigos?”
Neste ponto, Snape fez uma coisa estranha. Ele levantou o dedo indicador da mão direita dele e olhou-a nos olhos para ter certeza que ela estava prestando atenção. Ele a olhou nos olhos enquanto levava o dedo aos lábios num gesto que pedia silêncio. Ele pegou a pena, escreveu rapidamente um bilhete e passou-o para ela por sobre a mesa.
'Silêncio! As paredes têm ouvidos.'
Ela leu o bilhete e olhou para ele, inclinando a cabeça para um dos lados numa questão silenciosa. Ela ofereceu a ela a pena, a qual ela pegou e escreveu a própria resposta abaixo das palavras dele.
'Os quadros?'
Ele assentiu. Ele estendeu a mão para pegar a pena de volta, puxando a pena pela pontinha, num movimento agonizantemente devagar. As plumas macias acariciaram a palma da mão dela sedutoramente. Esse era o momento mais erótico que Hermione já tivera com uma pena, ou que sequer pensara ser possível. Para dois caxias sabe-tudo, isso fazia parte das preliminares.
Severo quebrou o contato visual e sacudiu a cabeça. Ela não havia escondido a surpresa ou excitação com as ações dele. Ele procurou pela mesa até encontrar a carta que queria. Ele entregou-a a ela junto com outro recado.
'Nem uma palavra. DD não sabe, e eu gostaria de manter assim.'
Hermione deu uma olhada na carta. Ela tinha um cabeçalho de uma tal ‘Pegasus Produtos Pessoais’. O pergaminho era da mais alta qualidade e Hermione estava intrigada sobre o que era tudo isso e porque era tudo tão secreto.
Pegasus Produtos Pessoais
Sub-Divisão: Vanity
Reunião de Estratégia da Marca e Relatórios de Atividades Internacionais
Domingo, 8 de Setembro de 1996
Sala da Gerência, Residência Netuno, Old Portsmouth.
11a.m.
Por favor, confirmar presença
Sev – Você precisa vir, Johannesburg tem apresentado problemas de distribuição e eu preciso da sua ajuda. A chefa chegou bem? Ha! Ela ficará chocada. Diga que eu disse oi e que nos veremos na reunião. Mandei algumas vestes executivas para ela, como requisitado. Até mais,
Davy.
Hermione leu a carta três vezes; ela não podia acreditar naquilo. A Vanity havia se expandido globalmente! Ela começou a dar risadinhas, depois a gargalhar. Ela olhou para Severo, que estava sorrindo para ela indulgentemente. Ela levantou-se e andou vagarosamente na direção dele. Ele não se afastou quando ela tocou a palma da mão na bochecha dele, correu a mão por trás da orelha e acariciou a nuca dele. Ele inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos.
"Faz muito tempo," ele disse baixinho.
"Só uma semana para mim, Severo."
Ele manteve os olhos fechados e a garganta dele vibrou num gemido baixo quando ela usou a outra mão para massagear a testa dele. Ela traçou com a ponta dos dedos o contorno dos olhos dele e, num gesto de aceitação, ela se inclinou para ele e beijou as linhas da testa dele.
"Você lembra o que eu te disse quando estávamos à beira do lago?” ela perguntou calmamente, com os lábios próximos da orelha dele.
"Hmmm?"
"Eu disse que esperava que nós pudéssemos ficar juntos..."
A voz dele estava baixa e rouca, “Dificilmente seria apropriado.”
"Eu não ligo para o que é apropriado, eu só quero você."
Passando o nariz pelo pescoço dele, ela inalou sua frangância. Estava mais masculina que antes, ainda mais excitante. Ela encontrou facilmente os lábios dele e beijou-o, entregando-se ao sabor familiar e à sensação dos lábios dele nos dela. Ele respondeu delicadamente. As mãos dele intrincaram-se nos cabelos dela, guiando-a de acordo com que as línguas deles se tocavam e o beijo deles se aprofundava. Hermione afastou-se apenas quando ele sussurrou, “Senti sua falta.” Ela puxou as vestes dele, tentando desfazer os botões, mas falhando quando ele tomou a boca dela de novo. Ele puxou-a para o colo dele facilmente quando seu agora insistente e exigente beijo deixou-a solta, delirante. Paixão, desejo e luxúria tomavam conta dos dois. Nenhum deles ouviu a porta se abrir.
”Pelo amor de tudo que é mais sagrado, Severo, você não tem vergonha? Tratando seu escritório como um antro de iniqüidade! E com... Essa é… NÃO!... Senhorita Granger?”
Severo e Hermione viraram as cabeças e olharam para a direção da porta. Ele conseguiu falar primeiro.
"Boa Noite, Minerva."
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N/T:
* Premiere Cru: ao que me consta (não há nenhuma nota da autora com relação a isso), essa é a expressão usada para os melhores vinhos, não sei se apenas de uma adega ou de uma safra.
** Explica-se: Neste trecho Hermione pergunta a Severo “Who?” (quem, em inglês) e ele diz que ‘whoo’ (barulho feito pelas corujas) seria mais adequado... O trocadilho fica mais inteligível depois dessa pequena explicação, creio eu.
*** RSVP: só para constar “Respondez Sil Voi Plait” (corrijam meu francês de araque...), algo como ‘responda, por favor’, ‘diga se vai comparecer’ ou, numa tradução mais polida ‘resposta requerida’. É muito utilizado em convites formais.
Espero que estejam todos gostando, depois desse capítulo (traduzido a manivela, pela velocidade...) estarei enviando todos os elogios a warty, vai ser um e-mail enorme, com certeza! Um abraço a todos, Júbis.
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