Lágrimas e uma certeza



Terceiro Ato – Lágrimas e uma certeza


Ela levantou a cabeça de cima dos braços e entre os fios de cabelos bagunçados que lhe cobriam a face avistou o dono daquele perfume maravilhoso, daqueles olhos profundos e, inevitavelmente, de seu coração.

Ele prendeu a respiração ao confirmar que a garota que dormia sobre livros no Salão Comunal da Grifinória era aquela que lhe tirava o fôlego, tirava-lhe os sentidos e, inevitavelmente, a tristeza de seus dias.

- Ron? – perguntou, com a voz meio rouca, ajeitando os cabelos.

Ele adorou ouvir seu nome sair daquela boca que ele já não conseguia ficar longe.

- Hermione? – a pergunta era inútil e soou mais como um sussurro do que qualquer outra coisa.

Ela atravessou o salão, caminhando em sua direção, arrumando a blusa que estava um pouco torta no corpo. Seu perfume ficando cada vez mais forte, vivo e presente, fizeram-no estremecer ao lembrar do que pensara há poucos minutos. A cada passo que ela dava, ele se perguntava como pôde ficar longe dela todo esse tempo.

Ela adiantou-se até o amigo, rendendo-se à atração que aquela figura alta e forte lhe impunha.

- O que você estava fazendo fora até essa hora, posso saber? – mesmo não sentindo as pernas, ela não baixava a guarda.

Ele sorriu. “Sempre senhorita-perfeitinha”.

- Eu não conseguia dormir, então fui dar uma volta. – ele respondeu olhando os cantos da sala, como se fossem mais interessantes do que a garota que estava a sua frente.

- Bom, você sabe que não é permitido sair depois do toque de recolher! Temos que ser cuidadosos! Imagina se alguém te pega. – colocou as mãos na cintura e começou a bater a ponta do pé no piso de pedra, tentando parecer brava diante do garoto que mexia com seus sentimentos.

- Ah, vai Mione! Eu sei me cuidar. Ninguém ia me pegar. – fez uma voz manhosa e puxou-a por um braço, fazendo seus corpos se tocarem, de frente.

A garota ficou corada. Ele, vermelho vivo.

Ron ficou imaginando como seria chegar mais perto. “Não posso!”. Soltou-a rapidamente, pedindo desculpas inaudíveis. Suas pernas tremeram ao vê-la afastar-se.

- Então, - ela sentou-se em uma poltrona – o que aconteceu?

Despertando-se de seus devaneios, o rapaz sentou-se em uma poltrona em frente à garota. Ela enrolou três vezes os cabelos com a ponta dos dedos fazendo-o perder-se novamente. Os pensamentos começavam a voltar. “O que ela diria?”.

- Aconteceu? Quê? – respondeu, olhos capturados pelo sorriso que se abria no rosto da menina.

- Com você? – ela riu, divertida com a inocência do amigo – Por que não conseguiu dormir?

O rosto de Ron se iluminou, tinha entendido. Logo em seguida seus olhos ficaram distantes. Hermione admirava as reações do rapaz.

- Estava pensando... em umas coisas. – respondeu vagamente, brincando com seus dedos.

- Umas coisas do tipo? – perguntou, pedindo que continuasse a contar.

Ele lembrou-se de tudo que pensara. Não poderia contar à garota que estava apaixonado por ela. “Apaixonado? Merlim!”. De repente tudo fez sentido. Todo o ciúme que sempre sentira de Hermione. A solidão que sentia quando estavam brigados. A alegria que sentia quando estavam próximos. A necessidade de sentir o cheiro, a presença da garota. O tempo todo tentando negar que sentia aquilo, de repente pareceu tão certo. Olhando os olhos cor de chocolate da menina (“definitivamente não menina! Mulher!”) sentia que não adiantava mais negar aquele sentimento. Por quanto tempo se enganara? Seis anos? Seis anos e meio? “Afinal em que mês estamos?”. Seu coração informou-lhe que sempre a amara, desde que tinha posto seus olhos azuis sobre aqueles cabelos rebeldes e aquela expressão de sabe-tudo que só ela tinha.

Hermione ainda esperava uma resposta, mas em vez disso, via os olhos do garoto perdido em alguma linha em seu próprio rosto. Passou, então as mãos sobre a face.

- Tem alguma coisa errada no meu rosto? – ele deu um pulinho na poltrona.

- Absolutamente nada. – sorria um sorriso de descoberta.

Ela deleitava-se dos traços do ruivo. Os lábios curvados para cima chamavam os seus. Os braços sobre as pernas pediam seu corpo. Era quase impossível conter a vontade de abraça-lo. “Ele me odiaria!”.

- Não vai responder? – ela insistiu.

- Não é nada – “nada que eu possa te contar” – Não se preocupe.

- Você sabe que eu preocupo com você, muito. – “Até demais”.

- Eu vou sobreviver! – “espero”, pensava Ron.

A garota aproximou sua poltrona até que seus joelhos tocaram o do rapaz. Os pelos ruivos de seus braços arrepiaram-se ao ver o joelho descoberto encostando em seu corpo.

- Promete? – ela curvou-se um pouco pra frente, uma mecha de cabelo caindo sobre seu rosto.

Ele, instintivamente afastou a mecha, prendendo-a atrás da orelha de Hermione. O calor da pele da menina confirmaram os sentimentos que ele mais temia.

- Não! – respondeu desviando o rosto. “O que ela faria?”.

Ela baixou os olhos.

- O que há, Ron? – ela sussurrou para o amigo ao ver uma lágrima escorrer sobre as sardas e morrer no queixo dele.

- Não há nada, Mione. – secou com o dorso da mão a gota salgada que lhe marcava o rosto.

- Você não quer me contar, é isso? – sentindo-se magoada, jogou suas costas no encosto da poltrona – Você não confia em mim?

- Não é isso! – corrigiu-a subitamente, enquanto os olhos castanhos embaçavam-se com lágrimas – Eu não confio em mim!

Ela surpreendeu-se. O rosto já estava sendo lavado por algumas gotas tímidas que expressavam mais a angustia do que a tristeza propriamente dita.

- Eu não confio em mim! –repetiu Ron – Eu não confio que vá fazer a coisa certa na hora certa! Eu não confio em mim porque eu sempre estrago tudo!
Não confio em mim por que sei que só vou decepcionar as pessoas! E, principalmente, eu não confio em mim porque sei que não vou conseguir agüentar por muito tempo carregando essa “coisa” dentro de mim! – apontava para o peito, enquanto novas lágrimas teimosas surgiam no canto dos olhos, tornando mais vivos aqueles que já eram muito azuis.

“Como poderia olhá-la depois?”, pensava angustiado.

- Seja o que for, Ron, eu vou estar ao seu lado para o que você precisar. Sempre vou estar perto de você! – Hermione apenas queria aliviar a dor dele, faze-lo feliz novamente. Poder demonstrar seu amor contido, seu apoio, qualquer que fosse o problema dele. “Ele me ignoraria pra sempre!”.

- É exatamente esse o problema, Mione! – ela aproximou-se novamente. Ele secou a face da amiga com a palma de sua grande mão. – Eu não confio em mim quando estou perto de você! Tudo perde o sentido! E ao mesmo tempo o mundo ganha razão! Eu sei que sempre estrago as coisas e com você elas têm que ser perfeitas! Eu jamais poderia ver você partir, sabendo que me odeia.

- Ron! – ele mantinha a mão sobre a face quente da menina. – Eu estou bem aqui!

Estavam realmente próximos, ela tinha as mãos sobre os joelhos fortes dele.
Mil pensamentos invadiam a cabeça do rapaz que já não tentava ordená-los. Olhou fundo nos olhos da amiga e os batimentos de seus coração descompassaram. Estava tão próxima! Ele mesmo a segurava ali. As respirações já confundidas.

- Não posso... – ela tocava-lhe a face também – mais fugir!

- Não fuja! – ela sussurrou próximo de sua boca.

- Tenho medo! – e aproximava seu corpo, sem conseguir contê-lo.

- Não tenha! – ela sentiu os fios de cabelo do ruivo entre seus dedos quando enroscou sua mão na nuca dele.

Apenas por alguns instantes miraram-se dentro dos olhos, ganhando o consentimento mútuo, podendo agora fechá-los. Ele cobriu os lábios de Hermione com os seus, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha. Sentiu o corpo da garota tremer bem próximo do seu. Puxou-a pela cintura, diminuindo a distância.

A garota estava adorando cada momento daquilo tudo. Abria e fechava a boca levemente, dando molde ao beijo, enquanto sentia a textura sedosa dos cabelos de Ron entre seus dedos. Sentiu a língua molhada dele sobre seus lábios e permitiu sua entrada. Beijavam-se ora com urgência, ora com paixão, sem nunca soltarem um do outro. Como esperaram por aquilo. Quantas brigas e reconciliações até que finalmente abrissem suas almas e permitissem aquele sentimento que sempre existiu.

Relutantes separaram-se. A ultima gota de medo que havia no corpo de Ron evaporou-se por completo quando viu o imenso sorriso no rosto de Hermione, seguido de algumas lágrimas, que sobreviveram durante o beijo. Ele riu. Ela derreteu-se.

- Você queria saber o que eu estive pensando... – respirava com dificuldade – Eu descobri que te amo há muito tempo!

A garota riu, jogando a cabeça para trás, logo antes de envolver o pescoço do rapaz com seus braços, aproximando-se novamente.

- Eu sempre soube! – e beijou-o novamente, ainda mais apaixonada do que antes.


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[n/a] espero que tenham gostado!
esse capitulo ficou um pouco maior do que eu imaginava, mas eu nao poderia cortar qualquer detalhe, nao é mesmo??
na verdade essa fic inteira fugiu um pouco do plano... era pra ser uma short, mas eu achei que contada em tres atos ficaria mil vezes melhor!
comentem comentem comentem!
;*
obrigada desde já
=]

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Comentários (2)

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