O Sorriso



Capítulo 1 – O sorriso.


Harry abriu os olhos, acordando de repente. Havia sonhado com Gina, como em todas as outras noites desde o dia em que rompera com ela. Como estivera n’A Toca desde a segunda semana de férias, tendo rapidamente passado pela casa no Grimmauld e nos Dursleys, onde não quis permanecer, precisava conviver com Gina dia e noite, fato que o fazia sentir-se mal.
Levantou-se, ligeiro, percebendo que todos no quarto de Rony dormiam.
Poderia descer sem que os feitiços contra invasores o percebessem? Pensando na possibilidade, vestiu sua capa de invisibilidade, para o caso e alguém estar por perto. Não queria ter de dividir seu último pesadelo com quem quer que fosse, por não esperar que algum dos Weasleys ou Hermione fosse agir naturalmente quanto ao fato de ter visto Gina morrendo nas mãos de Snape.
Esgueirou-se pelos corredores e escadas, ainda atônito, pensando em como era feliz no tempo em que, sentado no Salão Comunal da Grifinória ou andando pelos jardins, podia tocar as mãos de Gina e beijar-lhe os lábios. Sentindo um aperto no estômago, que preferiu caracterizar como fome a ter de admitir que estivesse sofrendo com a falta de Gina, chegou à cozinha.
Andando desatento até a superfície lisa da mesa onde, horas antes, havia compartilhado o jantar com a família Weasley, demorou um pouco para perceber a presença de alguém que, de olhos fixos no chão, se encontrava sentada à mesa.
Era Gina, com seus cabelos ruivos que Harry tanto amava roçando-lhe os ombros, caindo no lado direito de seu corpo, cheios de vida. Quando Harry pôde ver quem era, virou-se rapidamente, decidido a voltar para o quarto sem se manifestar. De repente, ao pé da escada, a voz descontraída de Gina Weasley o surpreendeu:
- Harry?
Sem sair do lugar, verificou seu corpo: Não havia parte descoberta. Gina não teria como vê-lo!
Sem saber por que, tirou a capa rapidamente e virou-se:
- Gina... Mas como você...
- Isso não vem ao caso, mas senti você chegar.
- Sentiu? Quer dizer que você também... – Pegou-se prestes a contar à Gina que, durante as férias, parecia também sentir sua presença antes de vê-la por perto. Até então, porém, imaginava que isso se devesse ao aroma floral que a garota exalava. Fugiu do assunto:
- O que faz acordada à essa hora?
- Ah, Harry, você também não. Não dê uma de papai, por favor.
Harry riu, divertido. Gina odiava ser tratada como criança, mesmo quando ainda era uma.
- Mas e então... o que o menino-que-sobreviveu, O Eleito, faz a essa hora andando invisível pela minha cozinha?
Era nítido, pela expressão de Gina, que estava agora se vingando da super-proteção de Harry, que preferiu não levar a sério a provocação, mas retrucou:
- Eu perguntei primeiro.
- Está certo, então. Tive um pesadelo e resolvi levantar, satisfeito?
- É por causa de um pesadelo... Que você desceu?
- Ta OK, já entendi tudo. É bom você parar de zoar, porque pesadelo não é coisa de criança.
- Sei disso! Tive um também.
- Verdade? E quem morreu dessa vez?
Estavam chegando no assunto. Gina estava brincando, é claro, por saber que Harry já sonhara algumas vezes com ataques que realmente aconteceram. Não sabia, porém, que a atacada da vez era ela própria.
Antes que pudesse pensar na resposta certa, Gina voltou-se:
- No meu sonho, você morreu.
- Eu... No meu foi você quem morreu.
- Bem, parece que, dessa vez, foram só sonhos. Ou será que isso é a morte?
- Acredito que a cozinha d’A Toca não seja o lugar pra onde se vai, quando se morre.
Gina sorriu, olhando para cima, numa expressão divertida. Era incrível como mesmo assim, no meio da madrugada, a garota estava linda aos olhos de Harry. Aquele rosto de expressão dura e intensa que carregava consigo na noite em que tudo começou. Noite que agora parecia ter sido vivida por outra pessoa; um sonho que não poderia ter realmente acontecido. Agora, porém, Gina deixava aquele sorriso como prova de que, Harry acreditando ou não, fora tudo real. Real demais.
E, depois de um breve sorriso, decidiu que não poderia continuar ali. Tinha tomado, no ano anterior, uma séria decisão que visava a proteção da pessoa que amava. Essa pessoa era Gina, cujo sorriso quase pôs tudo a perder.
- Gina, eu... Bem... Vou indo dormir. Noite.
- Noite, Harry.
E, sem saber ao certo por que, vestiu-se com sua capa da invisibilidade, saindo às pressas como quem foge de algo perturbador... O perturbador sorriso de Gina Weasley.

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