A lista de Luna
5. A lista de Luna
No dia seguinte, após a tentativa em grupo, Draco combinou com Luna de ensaiarem o texto lá fora, em uma árvore meio afastada de tudo. Era relativamente perto da margem oeste do lago e, esperava ele, longe da maioria dos estudantes, especialmente conhecidos. Já era bastante estranho estar com a Lovegood a sós, ele não precisava acenar com luzes vermelhas sobre o fato.
Luna realmente apareceu, pontualmente, com seus cabelos presos de uma maneira bastante estranha. Parecia alegre.
- Puxa, Draco, que lugar bonito é este... acho que nunca tinha vindo para este lado do lago.
Silenciosamente, ele desejou que todos fossem como ela, e que não decidissem justamente naquele dia explorar a propriedade.
- Vamos, Lovegood, precisamos começar logo. O tempo é curto. - Draco era tão delicado quanto um elefante em uma loja de porcelanas.
Ela olhou para ele com algo que parecia surpresa e censura misturados, mas não disse nada. Pegou o calhamaço de folhas e começou a repassar o texto com ele. Draco tinha a impressão de que aquilo não estava adiantando nada, mas mudou de idéia na terceira vez que liam o primeiro ato. Ele lembrara da maioria das falas e, decididamente, parecia mais... mais humano ao dizê-las. Se continuasse daquele jeito, provavelmente conseguiria um desempenho razoável para livrá-lo de limpar ralos. Maravilha.
Repassaram mais uma vez, mas estava ficando tão difícil de ler... e foi então que Draco percebeu, com um espasmo de horror: estava escurecendo. Estava escurecendo, e eles estavam do lado de fora. Era proibido. Como ele iria explicar, por Merlim? Tudo que ele menos precisava era de uma punição extra. Pensou em correr, mas estava longe das portas. Muito longe.
- Ah não...!! - disse Draco, com desesperançada voz . Luna olhou para ele com olhos de dúvida, de "quê foi?". Ele aproveitou para extravasar sua raiva com ela, falando sobre o escuro e sobre a detenção. Foi rude, mas pelo menos não a culpara - haveria como?
- É mesmo, passou da hora... - disse Luna, vagamente. Mas não parecia desesperada.
Draco sentiu vontade de esganá-la. Como ela podia ficar tão calma? Tudo bem, a situação dela não era crítica como a sua, mas ninguém em sã consciência gostaria de pegar uma detenção. Luna se voltou para ele e disse que não se desesperasse.
- Vamos dar um jeito de entrar sem problemas, não se preocupe. Sabe, eu também não percebi que estava escurecendo... mas, eu acho que tem um jeito de entrarmos. Venha - disse ela, puxando-o pela manga.
Andaram um pouco em silêncio, e Draco não sabia bem aonde estava indo. O fraco "lumus" não deixava ver muita coisa à sua frente. Ele estava inteiramente confiante em Luna Lovegood - o que não era lá sua definição de algo muito bom.
- Lovegood, para onde nós...
- Minha tia. Minha tia Guinevere. Ela estudou aqui, sabe? E ela me disse que tem uma passagem secreta... que dá para estes lados do castelo. Uma passagem que liga a parte de baixo, as cozinhas, com o lado mais pra oeste. Eu nunca vi, mas também nunca procurei... garanto que podemos achá-la, se olharmos com cuidado.
Por não saber o que buscar, Draco achou melhor deixar com ela. Todas as suas esperanças na despirocada Lovegood. Não podia ficar pior.
- Sua tia disse. Muito bom. É a professora de teatro?
- É, ela mesma... na verdade, não exatamente tia, ela é algum tipo de prima do meu pai, mas são meio que irmãos de criação, entende? Eu me acostumei a chamá-la de tia. Ela é muito inteligente. Conseguiu um número incrível de N.O.M.S. e de N.I.E.M.S. ...
- E está estagiando? - disse Malfoy, sem esconder o tom irônico.
- Bem, na verdade... ela está estagiando aqui por outro motivo. Já é formada e empregada, mas tirou uma licença.
- Ah. É, ela devia ser muito aplicada, conhecendo passagens secretas por todo o castelo...
- Ela foi monitora-chefe. Conhece as passagens de tanto caçar baderneiros pela escola. - disse Luna, com algum orgulho. - Me conta diversas dessas histórias, especialmente depois de algumas cervejas amanteigadas... aqui, achei! - ela elevou a voz, animadamente. - A entrada, está aqui!
Draco percebeu que ali havia, realmente, uma abertura camuflada sob um manto de mato. Não tinha muita certeza de onde daria, mas ficar ali fora também não resolveria muita coisa... resolveu arriscar. Entrou.
Luna entrou atrás dele, murmurando baixinho: "vinte e cinco... dezesseis". A curiosidade de Draco venceu desta vez, e ele perguntou o que eram aqueles números que ela sussurrava de vez em quando.
- Ah, são minhas metas. - respondeu ela, sorrindo - é como uma lista de coisas para fazer, mas para a minha vida. Vinte e cinco, fazer algo ilegal. Dezesseis, comprovar que uma história é verdadeira com meus próprios olhos.
Draco afinou a voz e disse:
- Número cem, fumar um cigarro. Número cento e um, passar um dia todo sem ser chamada de Di-Lua.
- Se você não pode imaginar o futuro, então você não tem um futuro - disse ela, categoricamente.
Ele deu de ombros.
- E a que falou quando lhe pedi ajuda ontem...? - perguntou ele.
- Ah, trinta e sete. Fazer amizade com um inimigo.
- Eu sou um inimigo? - perguntou ele.
- Bem, é. Mais ou menos. Ou era na ocasião.
- O que mais tem nessa lista? - perguntou ele.
- Quer mesmo saber, ou só está perguntando para rir de mim depois? - perguntou a menina.
- Não sei. Um pouco dos dois, acho. - respondeu Draco, e o rosto de ambos se abriu em um meio sorriso.
- É privado - respondeu Luna, e Draco não pôde decifrar se seu tom ainda era categórico ou se estava mais ameno.
- Você quer me contar - disse então Draco, com uma voz mais afável. E afinou a voz outra vez. - Quero ser muuito bem vestida. Quero perder a virgindade. Quero...
- Passar um ano em uma corporação pela paz. Descobrir algo realmente nunca antes visto. - corrigiu-o Luna, com a voz mais firme.
- Ambicioso. - disse Malfoy.
- Ser negativa dá muito mais trabalho do que ser positiva - disse Luna, alegremente.
- Não me entenda mal. Gosto de ambição. Sou da Sonserina.
- Ah, é verdade... - comentou Luna, despreocupada. - Você deve saber, então. - ela parecia ter se esquecido que Malfoy estava ali, porque continuou enumerando coisas - estar em dois lugares ao mesmo tempo... aprender a rebater um balaço... comer panquecas doces no café da manhã...
Draco soltou uma risadinha da simplicidade deste último.
- E qual é o número um? -perguntou ele, afinal.
- Ah. Este é segredo. Ninguém pode saber. - disse ela, e Draco não sentiu vontade de perguntar de novo. Que lhe importava, afinal, a lista imbecil da Lovegood?
Avançavam no escuro. As varinhas não iluminavam muita coisa, então se moviam devagar... especialmente Draco, que estava seguindo a luz tremeluzente de Luna. Foi com bastante surpresa que ele ouviu-a perguntar, de repente:
- As pessoas... me acham estranha, não é? - sua voz era o mais próximo de um pio de coruja que já ouvira nesse momento.
- Claro que acham - respondeu Draco. Como Lovegood poderia ter pensado outra coisa?
- É porque eu tento ser boa com todo mundo? Ou porque acredito em coisas que não podemos ver com facilidade? - perguntou ela.
- Bem. É. Talvez, eu acho.
- Você me acha estranha? - perguntou Luna.
- Você é estranha, Lovegood! - disse ele, quase chocado. - Quer dizer, olhe suas roupas. Olhe esse suéter marrom que normalmente usa, quando não está de uniforme. E seu cabelo, o que vc faz com ele? E esse livro esquisito, sem título, que você carrega por toda parte! E sempre lendo "O Pasquim", que só conta mentiras...
Luna interrompeu-o. Sua voz estava seca.
- Uso o suéter porque tenho frio. Carrego o livro porque ele me conforta, embora duvido que você possa entender a razão. Leio o tempo todo porque ninguém quer conversar comigo; e leio "O Pasquim" porque acredito que existam muitos mistérios nesse mundo, muitas coisas que não há como explicar.... ainda. Eu gostaria de ver algumas delas. Mentira é somente um ponto de vista, certo? E meu cabelo, bem, ele é meu cabelo. Não posso fazer nada.
Draco olhou-a, exasperado. Quem a mandara perguntar?
- Meu Deus, Luna, bastava mudar um pouquinho. Você não liga para o que as pessoas pensam?
- Que pessoas? Você, ou o pessoal da Corvinal que esconde meu material? Não, não mesmo - quando respondeu, a voz dela retornara ao tom meigo de antes. - Tenho outras coisas para ocupar minha mente.
- Claro, como a conspiração de gnomos para tomar o Gringotes...
- Até que estabelecemos contato por bastante tempo, sabe, Draco... eu... eu tenho minhas próprias crenças. Tenho minha própria fé. Isso me guia. Isso me basta. Por isso não ligo. Talvez me faça estranha. Mas não me importo...
- Sabe, Lovegood, você é estranha. Mas talvez isso não seja necessariamente ruim. - disse Draco, displiscente. Ele jamais imaginaria que a piradíssima loira pudesse ter uma personalidade ligeiramente forte que fosse, debaixo de todo aquele jeito esquisito.
Luna pareceu ficar contente. E eles então chegaram nas cozinhas de Hogwarts. Draco não ficou muito feliz de pedir indicações aos elfos domésticos, mas acabaram encontrando saídas que davam para lugares insuspeitos.
- Amanhã, outra vez, Lovegood? - disse Draco, mas estava quase impondo.
- Bem, claro. Por que não? Eu quero que a peça saia boa. Realmente quero. E, puxa, você melhorou tanto, Draco. -disse ela. - Até amanhã e boa noite!
Seguiram para suas casas. Inventaram uma história qualquer para quem se interessou em perguntar e acabou que ninguém desconfiou de nada.
Draco dormiu um sono pesado naquela noite. Na manhã seguinte, o dia abria com dobradinha de poções, que não era mais tão prazerosa quanto antigamente.
Se sonhou com alguma coisa, não se lembrava do quê...
______________________________________________________
Ai, tá enorme, eu sei! Mas eu não podia simplesmete cortar os diálogos da passagem na metade! Desculpem! Mas eu achei este cap SUUUUPER FOFO! Demais, demais!
Foi bastante complicado fazer o Draco interagir com a Luna sem perder o jeito dele de uma vez só (eu odeio as fics em que ele se torna um amor depois de dez minutos!), mas eu acho que estou no caminho certo.
Infelizmente, isto quer dizer que a fic pode ficar maior do que planejei... espero que não se importem!
E mesmo que ninguém esteja lendo, me divirto TANTO escrevendo esse texto que não me importo! Mas realmente espero que tenha leitores se divertindo com ela... ^_^
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!