O que aconteceu depois
12. O que aconteceu depois
Draco acabou ficando fora do dormitório naquela noite. De qualquer forma, não conseguiria dormir, então passou a noite toda andando por Hogwarts sozinho com seus pensamentos.
Sim, ele sabia que era proibido e realmente não estava a fim de mais uma detenção, mas todas aquelas preocupações haviam simplesmente sido esquecidas por sua mente naquela ocasião. O fato dele ser incapaz de lembrar da senha foi encarado com um sinal, e ele ficou caminhando pelo castelo até o amanhecer.
O que, é claro, não adiantou nada.
Pela primeira vez, Draco achou ótimo estar com aquela punição excessiva. O trabalho ocupava sua mente e cansava seu corpo de tal forma que não restava tempo para que ele pensasse naquela descoberta apavorante. Ele não queria pensar nela, porque temia que isso a tornasse visível para as outras pessoas. Imagine o desastre que seria o Potter rindo daquilo: a história poderia terminar com um ou dois cadáveres estendidos no campo de quadribol.
Infelizmente, só o fato de estar consciente que se exauria de propósito já tornava sua idéia pouco funcional. Pouco a pouco, Draco admitia possuir aquela faceta esquisita dentro de si - ao menos para si mesmo.
Luna estava sempre na biblioteca, lendo. Draco sabia disso, mas não foi falar com ela mais nenhuma vez. Ele não pretendia dar corda para aquela situação, mas não pretendia MESMO. Entretanto, era impossível ficar indiferente àquela presença. Ele tinha curiosidade, muita curiosidade, em saber como ela agia em sua presença depois da última vez.
Luna manteve-se distante, sem lhe dirigir a palavra em nenhuma ocasião - muito embora Draco tivesse certeza de que, vez ou outra, ela desviava seus olhos das linhas do livro para ele (mas quem não olharia para ele? Era, de longe, um dos dez garotos mais lindos de toda Hogwarts...). Ele teve certeza disso quando, ocasionalmente, ambos tiveram a idéia ao mesmo tempo. Draco olhou de relance para Luna exatamente no momento em que ela estava, indisfarçavelmente, olhando para ele. Draco desviou o olhar, sentindo-se corar. Era embaraçoso ser pego olhando para Lovegood. Quantas vezes já havia feito aquilo, sem perceber? O que pensariam daquela cena???
Mesmo assim, arriscou olhá-la de novo após alguns segundos. Luna ainda estava com os olhos fixos nele, e ela os baixou lentamente. Fechou o livro e saiu da biblioteca, com uma aura genuinamente triste ao seu redor. Uma parte de Draco estava satisfeita pela atenção que lhe fora designada, mas havia uma outra que não gostara muito daquilo. Era a primeira vez que Draco era olhado daquela maneira, e era a primeira vez que ele via Luna Lovegood com os olhos tão tristes. E ele percebeu que não gostava daquilo. Ah, não gostava mesmo.
Ao mesmo tempo... ele não tinha muita idéia do que poderia fazer. Então, deixou-a partir. Se tinha uma coisa que Draco descobriu que odiava era aquela situação. Por que ele não conseguia, simplesmente, ignorá-la? Por que diabos uma menina completamente biruta como aquela havia feito com que ele não soubesse como agir?
Luna estava realmente triste com Draco Malfoy. Ela não queria, mas não conseguia evitar. Ela estava, de certa forma, acostumada a ser tratada como uma peça extremamente rara, e decididamente não se importava. Aquela era ela, e Luna sabia que precisava gostar de si mesma daquela maneira. Especialmente se o preço a ser pago eram suas crenças e valores. Não, ela não estava disposta a abrir mão deles por nada. Muito menos por um tratamento melhor por parte de quem não gostava realmente dela.
Luna, contudo, não via motivos para destratar as pessoas. Ela nunca, jamais, iria agir com os outros de uma maneira diferente da que esperava que agissem com ela. Se as pessoas não correspondiam, aquilo já não era de sua alçada. E Luna nunca iria brigar com ninguém, porque acreditava que aquele não era um caminho legal. Quando ferida, ela simplesmente... se afastava. Para evitar que a ferissem mais ainda. Não havia necessidade para espetáculos. Mesmo porque, de alguma maneira, Luna entendia que brigar só resolvia quando as duas partes tinham alguma consideração entre si, e ela sabia que aquilo não acontecia com ela. Ninguém se importaria se ela brigasse com quem quer que fosse; assim como ela acreditava piamente que ninguém lhe faria um favor, pelo simples fato de ser quem era. O que, claro, não a fazia sentir pena de si mesma: ela simplesmente convivia com a situação da melhor maneira possível, sem ser realmente ferida. Ela não podia obrigar ninguém a aceitá-la como era. Assim como ninguém podia obrigá-la a mudar. Luna tinha uma consciência impressionante disto, que refletia profundamente em seu modo de ser.
Se sentia bem ajudando todos, ainda que ninguém a ajudasse de volta. Ela não precisava de recompensa por seus atos, não mesmo...
... mas estava triste, muito triste com Draco. Talvez pelo fato de que, não sabia ao certo, mas talvez ela não estivesse esperando aquilo dele. Talvez tudo decorresse da impressão que Draco deixara nela de que não faria aquilo.
Ela o desculpara pelo Hospital - como não poderia? Ela entendia, claro (e, além de tudo, Netuno estava perto de Plutão). Mas, na biblioteca, Luna percebera que Draco estava agindo exatamente como todo mundo. E que ele iria machucá-la muito, muito, caso ela permitisse. Estava triste porque havia pensado que ele não faria aquilo. Não imaginava aquilo de antemão, mas as atitudes dele a haviam feito esperar aquilo. Não sabia por quê, mas haviam. Bem, era uma impressão errada. Tudo que precisava era voltar alguns passos atrás. A experiência havia valido, claro! E ela realizara uma de suas metas.
Mesmo assim... estava doendo.
Enquanto Draco estava parado, pensando no que fazer, Luna estava se distanciando, passo a passo. Com os olhos tristes, muito tristes, embora ela tentasse evitar e continuasse meiga e sorridente como sempre fora.
Quando Draco cruzou com Luna de novo, ele percebeu que o sorriso dela não era falso, mas escondia alguma coisa triste. Foi pouco antes da aula de herbologia. Luna estava saindo da estufa da professora Sprout (aquela na qual Draco se tornara um expert), conversando com Gina Weasley e sorrindo, parecendo muitíssimo alegre e tagarelando sem parar sobre alguma coisa chamada "Ulha-oka", quando o viu. Não parou de falar, mas Draco percebeu uma sombra percorrer-lhe os olhos claros.
Entrou na estufa. Sobre a bancada, estavam algumas coisas que Draco imediatamente reconheceu... eram os bulbos havia visto no cabelo de Lovegood por algum tempo. Ele sempre pensara que aquilo se tratava de algum adereço pirado que ela usava, mas pelo visto não.
Segundo entendeu da aula, aquilo era Camomila Lux-Venusiana. A professora Sprout passou a hora seguinte inteira discorrendo sobre como fatiá-la, plantá-la, extrair-lhe o sumo, e sobre todas as trinta e duas utilidades que ela possuía, como curar dor de cabeça, eliminar espinhas e fazer brilho labial. Dispensou-os com a tarefa de redigir trinta centímetros sobre as poções aonde o bulbo era utilizado e o que poderia ocorrer caso ele não estivesse presente no preparo.
Draco esperou todos saírem, pois estava um tanto curioso.
- Professora... - disse ele.
- Sim, Draco?
- Eu queria fazer uma pergunta...
- Se for sobre a detenção, esqueça. Virá aqui, sim, e desta vez lhe ensinarei a maneira correta de lidar com a planta-vigia que atingiu Ewan.
- O QUÊ??
- Sim, exatamente. Hagrid a conseguiu para mim. Embora a parte animal seja do trato de criaturas mágicas, a parte vegetal é especialmente interessante para a herbologia. Precisarei de ajuda para lidar com ela e extrair algumas de suas partes, portanto não irei dispensá-lo.
A idéia de mexer naqueles tentáculos horrendos arrepiou Draco, que não tinha certeza se realmente estava a fim de encarar aquele negócio de novo (assim como nunca mais havia olhado um hipogrifo da mesma maneira, embora ninguém soubesse). Contudo, já que era inevitável, resolveu ir logo ao que lhe interessava, para não se atrasar demais para a aula de feitiços.
- Ah, vou adorar - disse, sarcástico. - Mas, de toda forma, não foi sobre isso que vim perguntar.
- Não?
- Não. É sobre... a camomila lux-venusiana. Tem uma coisa que eu gostaria de saber. O que exatamente levaria alguém a, como direi... melecar o cabelo com ela? - acabou dizendo, sentindo-se meio idiota. "Se a Sprout pensar que vou usar em mim, a faço engolir o regador".
- Não sei. Quer dizer, há alguns estudiosos que garantem que a camomila possui um caráter mutante, o que faria com que o fio se tornasse mais fino, claro e brilhante, como um raio de luar. Obviamente, nenhum herbologista sério considera essa hipótese, já que ela se fundamenta em absolutamente nada a não ser uma runa semi destruída da civilização de Delfos. Além do que, a erva é um tanto... rara e de difícil cultivo para ser utilizada para tal fim. Por quê?
- Nada. - disse Draco, saindo da estufa. Estava estupefato. Podia imaginar em qual revista Lovegood havia lido aquela teoria bizarra, e também a razão que a fizera acreditar. Testar não consistia também um mistério, já que ela interpretaria Liara. Não, nada daquilo o surpreendia. O que o deixava surpreso era que... havia funcionado.
Alguma coisa que Luna acreditava era de verdade. Talvez ela não estivesse tão errada em continuar acreditando ("Deuses, eu estou DEFENDENDO o estilo Lovegood de encarar o mundo?"). As garotas que se moíam de inveja daquele cabelo que o dissessem. Draco tinha certeza que todas elas queriam saber como fazer, mas nenhuma tinha coragem de perguntar. Nenhuma delas iria admitir que queria fazer alguma coisa igual à Lovegood. Bem, de acordo com a Sprout, nem poderiam. Aonde ela havia conseguido todos aqueles bulbos...?
Ah, Lovegood. Estranha, ela sempre fora. Mas Draco nunca havia pensado que poderia ser contagioso. Ele poderia matá-la, só por estar provocando aqueles pensamentos esquisitos em sua mente. Com certeza.
Bem, que fosse. Aula de feitiços.
Depois, ele tinha que ajudar o Filch... e ir à biblioteca... e todos aqueles deveres...
"Merlim, que belo dia" pensou ele, amargurado. E, na semana seguinte, ainda tinha que visitar o Ewan, que não havia saído do Hospital (aparentemente, ele não reagira exatamente como o esperado). Mas quando foi que sua vida tinha virado de ponta-cabeça daquele jeito?
Ah, mas ele sabia isso. Ficou irritado por não ser apenas uma pergunta retórica.
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Tá, não teve tanta interação quanto eu esperava... isso acontece mais vezes do que eu queria: eu pretendo uma coisa, vou escrever e vejo que vai ter que ficar pra outro capítulo...
Bem, vocês viram com o "i wish i could believe you".
Em todo caso, acabei falando um pouco do lado da Luna, coisa que não havia feito até então. Espero não ter traído a natureza da personagem com aquele pedacinho... espero mesmo.
Pelo visto, estes dois capítulos foram mais uma preparação pro treze... ele vem logo =) . De qualquer forma, eu achei uma gracinha a coisa da biblioteca ^^ . Achei mesmo. Estes capítulos são tipo, inteiramente da minha cabecinha. Eles não existem no original, mas eu preciso criá-los para que a história tenha um certo nexo (sem mencionar em tornar mais interessante, é uma adaptação, não cópia! Não basta tacar os personagens e voilá, perfeito...).
Bem, acho uma gracinha como está indo. Não sei se eles não percebem, ou se ainda não aconteceu, mas oras! Não é assim na realidade? ^__^~
Tá, chega, desculpem... eu me empolgo quando começo!!!
(já perceberam... ;_;_
Ah, e *isso* foi o que aconteceu com o cabelo da Luna! Mesmo que demore um pouquinho, não pretendo deixar nenhuma ponta solta... ainda que demore para se tornar visível algumas coisinhas ^^" ... quer dizer, a planta do capítulo 1 voltou, não foi? =D E os bulbos! =D!
Beijo, pessoas!
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