Laços Desfeitos
Capítulo X
Laços Desfeitos
O jardim estava ensolarado e muito colorido com toda a decoração da festa de Peter. Havia palcos de teatro infantil e shows com mágicos e malabaristas, fora animadores, que faziam brincadeiras com todas as crianças ali presentes.
Peter estava no palco, representando uma peça improvisada por um dos animadores. Junto a ele estavam Kathy e mais alguns de seus amiguinhos.
Os pais das crianças reuniam-se em mesas espalhadas pelos jardins, todos eles parecendo se divertir com todas as brincadeiras. Gina tentava conter algumas das crianças mais eufóricas, que teimavam em subir nas árvores mais altas, ou fazer qualquer coisa que, geralmente, crianças de seis anos não estavam aptas a fazerem.
-Virgínia?- a voz dele soou atrás de si, fazendo-a tremer levemente. Gina virou-se e fitou os olhos cinzas de Draco.
Ela espantou-se no princípio, ao ver o ex. marido vestido de forma diferente da habitual. Sem mais um tom escuro e sombrio nas roupas, trajava uma calça clara e uma blusa vermelha, e seus cabelos loiros estava soltos, caindo sobre os olhos, como ela gostava...
-Que bom que veio, Draco.- ela falou, cumprimentando-o formalmente.
-A festa está linda.- ele comentou- Como todas as outras.
-Obrigada. E você está...diferente...- ele deu um meio sorriso.
-Roupas claras...não faz muito o meu estilo, mas Peter me pediu...acho que para quebrar um pouco o clássico Draco Malfoy...
-Falando em Peter, você já o viu?
-Ele está se divertindo com o teatro...ele adora aquilo, não quis atrapalhar.
Draco acompanhou Gina pelo jardim, sem que dissessem nada um ao outro. Um clima tenso pairava entre eles, indicando que havia algo pendente a ser resolvido. No entanto, nenhum dos dois parecia disposto a resolver tais assuntos àquela hora.
-Você está estranho...- ela comentou, assim que pararam em frente ao palco onde Peter fazia uma pequena atuação com alguns amigos.
-Não é nada.- ele falou pouco convincente, imaginando que Virgínia Weasley Malfoy o conhecia bem demais para deixar passar qualquer coisa de estranho em seus trejeitos ou em sua aparência.
-Se diz...- ela deu de ombros, fazendo sinais para Peter, que assim que viu o pai e a mãe, correu até eles, pulando nos braços de Draco.
-Parabéns, Peter.- ele deu um carinhoso abraço no filho- Está ficando grande, moleque!
-Sim, vou ficar maior que o senhor.
-Não vai não. Eu sou alto demais para você.- Gina riu ao ver o filho dando saltinhos na frente do pai.
-Acredite, Draco, Peter vai ficar mais alto do que você.
-Está vendo?- o garotinho falou, com graça- Eu vou ficar enorme...
-Enquanto você não fica enorme, filho, eu ainda sou o mais alto!- Gina pigarreou, ao que Draco virou-se para ela e sorriu com o canto da boca- Sua mãe e eu ainda somos os mais altos!
-Melhor assim, Draco, melhor assim.
-Desculpa, Virgínia, mas por um instante eu esqueci que você é alguns milímetros mais baixa que eu.
-Lapso de memória?
-Sim, lapso de memória.
-O senhor vai ficar aqui até o final? Até de noite?- Draco olhou de Gina para Peter.
-Eu não posso.
-Mas por quê?
-Bem, porque- ele olhou novamente para Gina, que mantinha um olhar idêntico ao do filho, esperando por uma boa resposta dele- eu vou viajar hoje de noite.
-Então era isso?- Gina sussurrou.
-Vai viajar e volta quando?- Peter perguntou.
-Eu vou pra França, vou me mudar, Peter.- ele falou por fim. Gina sentiu um aperto enorme no coração, acompanhado de um sentimento de perda- Vou para a França.
-Aquela...aquela...mulher vai com você?- o garotinho perguntou, a voz vacilante, os olhos marejados- Ela vai te tirar de mim e da minha mãe?
-Peter, ninguém vai me tirar de vocês. Por mais que estejamos separados, o que nós três temos, são laços eternos.
-Mas você vai embora.- ele choramingou.
-Mas não é para sempre.
-Então por quê?
-Porque a Cho me pediu.
-Está vendo? Aquela mulher de novo.- Peter gritou e saiu correndo. Draco virou-se para Gina e fitou os olhos inexpressivos dela.
-Não me julgue, está bem? Peter deve estar me odiando agora.
-Pode ser que sim- ela falou- E eu não vou te julgar sem saber os reais motivos que te levaram a aceitar o pedido da Chang.- ela aproximou-se de Draco e deu um beijo no rosto dele- Você deve saber o que está fazendo. Eu vou ver como Peter está.
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Gina encontrou o filho no final do jardim, onde havia uma árvore mais cheia e com galhos mais entrelaçados, de modo que fosse bem mais fácil subir.
-Filho, desce daí.
-Não.
-Peter, por favor.
-Eu não quero.
-Então afasta um pouco aí que eu vou subir.- ela falou divertida, vendo o filho segurar-se no tronco da árvore, dando espaço para a mãe.
Em alguns segundos ela tinha aparatado ao lado dele e conjurado proteções para que não houvesse risco de caírem.
-Vamos limpar esse rostinho?
-Eu não quero que ele vá embora, mamãe.
-Eu também não, meu amor. Mas a gente não pode fazer nada se é isso o que ele quer.- ela abraçou-se ao filho- Mas a mamãe está aqui, OK?
-Você não vai me deixar, não é?
-Nunca, meu amorzinho, nunca!- o garotinho sorriu- Vamos descer?
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Peter e Gina não viram Draco depois que desceram da árvore e voltaram para a festa. No lugar dele, havia uma carta e o presente do garotinho. Gina achou melhor ler a carta apenas quando a festa terminasse, para não deixar o filho mais triste do que ele ficara quando soubera da mudança do pai para a França.
Peter e Gina não viram Draco depois que desceram da árvore e voltaram para a festa. No lugar dele, havia uma carta e o presente do garotinho. Gina achou melhor ler a carta apenas quando a festa terminasse, para não deixar o filho mais triste do que ele ficara quando soubera da mudança do pai para a França.
-Nós podemos ao menos tentar?- Peter perguntou à mãe, depois que ela leu a carta de Draco, ou o bilhete:
"Desculpe
Eu não entendo"
Gina olhou para o filho e sentiu as lágrimas rolarem pelos seus olhos, assim como já rolavam no rosto de Peter há algum tempo.
-Você está arrumado?- ele consentiu- Então vamos.- ela disse decidida, estendendo a mão para o filho.
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Gina não sabia dizer exatamente o que estava prestes a fazer. Talvez, simplesmente, porque ela não sabia o que ela iria fazer. Ela simplesmente estava, agora, dirigindo-se para a Estação King’s Cross, onde Draco pegaria um expresso para Paris em...alguns minutos...
-PAI!- Peter gritou, assim que avistou o pai na estação.
Próximo a ele estava Cho, que olhou para Peter e Gina com cara de nojo. Draco pareceu assustado, ao fim surpreso, com a presença dos dois ali.
-O que... o que vocês...
-Pai, fica!- Peter o interrompeu, e falou quase que suplicante.
-Como?
-Fica!- ele repetiu.
-Eu...eu não posso.
-Mas...por quê?- dessa vez foi Gina quem falou.
-Porque...
-Fica, por favor!- Peter insistiu.
-A Cho está grávida...ela me pediu...
-EU TE ODEIO!- Peter gritou e correu estação afora.
Gina olhou para o filho correndo e em seguida para Draco. Ela sabia que seus olhos transmitiam desespero naquele momento, só não sabia se Draco reconheceria esse brilho como tal ou não. Ela não disse nada, apenas lançou um último olhar ao homem e foi atrás de Peter.
Draco ainda ficou parado por um instante, olhando para o nada à sua frente, imaginando se ir para Paris com Cho era o que ele realmente queria. No entanto, algo que o confundia por dentro, o fazia seguir os pedidos da nova mulher, e o faziam crer que aquilo era o certo. Era como uma força superior a ele, obrigando-o a...fugir...
-Draco...- Cho o chamou. Ele olhou para ela, que sustentava um sorriso vitorioso nos lábios- ...vamos.- ele abriu e fechou a boca várias vezes, procurando algo para falar, retrucar se possível.
No fundo ele sabia o que o seu coração queria, mas há muito que não era ele quem mandava em suas ações. Ao fim, apenas o que ele falou foi um quase inaudível e submisso "Claro, Cho...".
Cho o guiou para o trem sem ao menos ele notar. Draco ainda olhou diversas vezes para trás, procurando por qualquer vestígio de Gina ou Peter, qualquer um que o fizesse largar a mão de Cho e correr para eles, dizendo que ele ficaria com eles para sempre, e que nunca mais os laços entre eles seriam desfeitos.
No entanto, o simples pensamento de não ir com Cho, ir contra as vontades dela, doía, e mais uma vez ele acreditava que aquilo era o certo.
Ele olhou pela janela do trem e viu, aos poucos, a estação se afastar. Horas depois não havia mais Londres, ou qualquer resto.
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-Eu odeio ele, mãe.- Peter choramingou- odeio...- Gina o abraçou com força.
-Ele volta, meu amor.
-Quando?
-Eu não sei... mas ele vai voltar...
-Por que ele foi embora com aquela...mulher?
-Eu não sei, Peter, mas nós vamos descobrir...eu te prometo isso, certo?
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O doutor Po se recostou na poltrona acolchoada, com o olhar passando rapidamente sobre as páginas à sua frente.
-Bom, Sr. Malfoy, vamos conversar, não vamos?
Peter deu um suspiro profundo, alisando o cabelo claro para trás da testa larga e pálida.
-Certamente, doutor. Como sempre fazemos quando venho aqui.- ele disse, tentando manter seu tom de voz o menos frio possível.
-Eu não quero chamar sua mãe aqui, Sr. Malfoy, será muito pior para o senhor se eu o fizer. Mas para que isso não aconteça, eu terei que pedir que o senhor tenha uma melhor conduta dentro da escola.
-O senhor está falando pela briga de hoje, Dr. Po?- Peter enlaçou uma mão na outra e olhou diretamente para o psicólogo.
-E a de ontem e a de antes de ontem também. Brigar não é muito bom e o senhor sabe disso.
-Albert procurou, e além do mais, ele estava provocando a Kathy, eu não ia deixar.
-Não tinha como resolver tudo civilizadamente?
-Albert Freak não é civilizado o suficiente. Ele não respeita ninguém e por isso me irrita tanto.
-Agora podemos voltar a você?- Peter assentiu- E você, Sr. Malfoy, respeita alguém? Porque pelo seu comportamento no último mês não me parece que tenha respeito ou admiração por alguém. Responda-me, o senhor tem?- ele não pensou muito tempo, alguns segundos apenas:
-Minha mãe.- disse com firmeza.
-Alguém mais?- Peter pensou mais um pouco.
-Kathy.- Dr. Po juntou as mãos e olhou para os papéis sobre sua mesa, os relatórios de Peter Weasley Malfoy.
-E quanto ao seu pai?- o garoto se incomodou com a pergunta do psicólogo.
-Ele não tem merecido meu respeito ultimamente.- disse friamente- Talvez ele não queira mais ser meu pai, já que faz um mês que não dá notícias. Eu odeio ele.- a voz de Peter saiu sem qualquer emoção, ainda que seu coração estivesse martelando.
Dr. Po rabiscou alguma coisa num dos relatórios. E depois passou alguns minutos escrevendo freneticamente em outro relatório, em seguida guardou tudo numa pasta preta, etiquetada com o nome de Peter.
-O senhor está liberado, Sr. Malfoy, mas fique avisado que mais uma de suas briguinhas com o Sr. Freak poderá levar a conseqüências mais sérias e desagradáveis.
Peter acenou desanimado para o psicólogo e saiu da sala, sabendo que, provavelmente, sua mãe já estaria na praça do colégio esperando por ele. Gina o esperava sob a sombra de uma macieira, e parecia concentrada em seu livro.
-"A Moveable Feast – Paris é Uma Festa – Ernest Hamingway".- Peter leu no rodapé do livro, ao que Gina olhou para ele e, sem dizer nada, puxou-o para seu colo.
-Como foi, meu pestinha?
-O Sr. Po reclamou novamente por eu ter brigado com o Albert.
-E você brigou com ele de novo?
-Eu não bati nele dessa vez, se é isso o que a senhora quer saber. Ele vem me provocar, eu não posso ficar parado.
-Sendo filho de quem é, não pode mesmo.- Gina falou com graça- Mas mesmo assim eu ainda te peço que não fique brigando no colégio, OK?- a voz dela assumiu um tom sério- Me promete que vai tentar não brigar mais com o Albert?- Peter olhou resignado para a mãe.
-OK, eu prometo.
-Se é assim...- ela deu um grande sorriso para o filho e em seguida um beijo estalado na bochecha dele- ...o que quer fazer hoje, meu amor?- ela levantou-se do banco, botando o filho no chão, e ofereceu uma mão para ele.
-Que tal passarmos o dia no parque de Alderley Edge?- ele sugeriu. Seus olhinhos cinzas brilhavam de um jeito inocente e infantil.
-Mas, querido, nós moramos em Alderley Edge!
-Eu sei disso.
-Então...?- Peter apenas sorriu para a mãe e pegou a mão dela com carinho.
"Nossa história parece às avessas. Como se um amor eterno simplesmente acabasse e nossos laços eternos tivessem sido desfeitos. Assim, do nada. E eu acredito que ela não posso acabar desse modo.
Eu não sei o que aconteceu, não sei porque ele fugiu de mim. Não entendo nada, mas busco respostas. Se vou encontrá-las? Só o tempo dirá.
Mas uma coisa é certa. Eu o amo. Afinal, ele ainda é Draco Andrew Malfoy... ou não...?
Que beijo teu de lágrima terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei
Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou – fria vida"
Gina guardou o pedaço de pergaminho nas vestes e ficou olhando o pôr do sol. Peter estava adormecido em seu colo, e mais uma vez ela achou que tudo naquele momento estivesse perfeito.
Passando os dedos nos finos cabelos de Peter, admirando o pequeno dormindo e sentindo mais amor por ele do que antes...era maravilhoso. E por um instante ela esqueceu até mesmo de Draco, porque Peter era, certamente, o ser mais importante de sua vida, e quando estava com ele, apenas com ele, daquele jeito, não poderia ser melhor.
O sol escondeu-se por trás das árvores e deu espaço para que uma bela lua cheia surgisse. As luzes do parque foram acesas e mesmo atingido pela sombra, o parque de Alderley Edge continuava sendo perfeito e um dos lugares preferidos de Gina Weasley.
-Peter...?- ela chamou o filho, que abriu os olhinhos vagarosamente- ...vamos pra casa...
Ela levantou-se e estendeu a mão para ajudar o filho a se levantar também. Ele pegou na mão dela, puxando-a para dar um beijo em seu rosto.
-Eu te amo e estarei sempre com você, mamãe...
!!!FIM!!!
"De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama"
(Vinícius de Moraes – Soneto de Separação)
N/Rbc: Muito bem, agora me matem. Eu sei que provavelmente muitos de vocês querem me matar agora, por conta desse final dramático, idiota, feio, triste e sei lá mais o que! Mas eu tenho uma boa notícia! A FanFic tem continuação (Nossos Laços Eternos) e o primeiro capítulo responderá a muitas perguntas.
x.x.x
N/Rbc: fanfic velha, mas nunca postada no floreios. Postada em 25/09/2006 completa!
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