A Guarda de Peter
Capítulo II
A Guarda de Peter
"Kathy,
Mamãe está triste. Eu não gosto de vê-la assim. Não gosto mesmo. É como se eu sentisse o que ela sente... e isso é horrível. Acho que eu meio que sei qual vai ser a decisão do tal juiz. Mas agora eu nem quero pensar nisso. Vou lá ver como a mamãe está. Ela deve estar dormindo, eu não sei, não mesmo. Ontem ela teve um pesadelo, e só se acalmou quando eu deitei perto dela e disse que não era pra ela chorar, que eu estava ali pra cuidar dela. Aí ela dormiu direitinho. Ela vem tendo pesadelos ultimamente. Eu queria saber de alguma coisa que pudesse ajudá-la. Então, eu acho que é só...
Com carinho,
Peter"
Peter amarrou o pedaço de pergaminho enrolado na pata da sua coruja, Sky, e ordenou que ela entregasse em mãos para a amiga. A coruja meio cinzenta, como seus olhos, piou algumas vezes antes de sair pela janela, perdendo-se no céu.
O garotinho olhou para o seu quarto, analisando o tamanho da bagunça pelo chão. É, para os padrões de um Malfoy estava incrivelmente bagunçado. Porém, para um Weasley, estava muito arrumadinho...
Era divertido ser um Weasley Malfoy... os tios Weasley eram todos muito engraçados. Menos Percy, talvez, com quem nunca tivera contato e que, de acordo com a mãe, ele afastara-se da família há quase quinze anos.
Quanto à família Malfoy, dela Peter pouco conhecia. A avó, Narcisa, era sempre muito divertida com ele, e muito carinhosa, assim como a vovó Molly. O avó verdadeiro, Lúcio Malfoy, morrera anos antes de ele nascer, então ele só o vira em fotos, e não gostara muito. O avô Lúcio parecia muito austero e assustador. Mas, no lugar dele, tinha o vovô Aluado, marido da vovó Narcisa, que na maioria das vezes parecia muito doente, mas não deixava de ser menos engraçado.
O que ele sabia também, sobre o que era ser um Weasley Malfoy, era que ele era um marco na história de ambas as famílias. Peter era, na verdade, um trégua entre essas duas famílias que, um dia, foram inimigas.
Se bem que a vovó Molly e a vovó Cisa se davam muito bem, sempre conversavam muito e trocavam diversas receitas. Vovó Molly era muito boa cozinheira, e Peter adorava passar finais de semana inteiros n’A Toca. Vovó Cisa não era tão boa cozinheira, o máximo que ela fazia era um delicioso chocolate quente, mas os elfos da casa dela eram ótimos. E, além disso, vovô Aluado sabia fazer uns doces muito bons, com chocolate, morango, baunilha... além de saber um monte de feitiços legais...
O pai, Draco Malfoy, ao que Peter notara em seus poucos seis anos, não se dava muito bem com os tios Weasley. Principalmente com o tio Rony, com quem já brigara muitas vezes. E também, o pai não gostava nem um pouco do tio Harry e da tia Mione.
O Tio Harry era realmente divertido. Por horas ele, o tio Rony e a tia Mione ficavam com ele, contando histórias de quando eles estudavam em Hogwarts.
Uma das que ele mais gostava era a do basilisco, na qual o tio Harry salvara a sua mãe de um bruxo malvado chamado Voldemort. Outra que ele gostara muito de ouvir foi a da Sala dos Mistérios e também a de quando o tio Harry namorava com a sua mãe, e depois brigou com o seu pai por causa dela. Era divertido ouvi-lo contracenar essa história com o tio Rony. Eles disseram que saiu até socos e pontapés no meio de um baile da escola.
E tinha também os tios Fred e Jorge, que tinha um monte de lojas de logros e brincadeiras espalhadas pelo mundo. Ele só conhecia uma delas, a matriz que ficava no Beco Diagonal. Os tios disseram que aquela era a maior das lojas, e ela era realmente grande, cheia de coisas engraçadas e invenções divertidas.
Ainda tinha mais dois tios, o tio Gui e o tio Carlinhos. Um deles trabalhava no Gringotes de algum lugar do mundo. Certa vez ele lhe dissera que os duendes podiam ser realmente maus se quisessem. O outro tio, o Carlinhos, trabalhava com dragões, e prometeu para Peter que um dia, quando ele fosse maior, o levaria para ver um rabo-córneo-húngaro de perto. E até hoje Peter espera que esse dia chegue logo.
Enfim, isso era ser um Weasley Malfoy. Uma família enorme e cheia de histórias legais. Cada tio mais divertido que o outro.
Peter sorriu, voltando sua atenção novamente ao seu quarto bagunçado. Havia carrinhos espalhados pelo chão, projéteis flutuando e batendo nas paredes, uma réplica em miniatura do sistema solar num canto, vários quadros inacabados amontoados perto da porta, penas de travesseiro espalhadas por todo lugar, vestígios da última brincadeira de travesseiros que tivera com a mãe... apenas um canto estava arrumado: o canto em que Peter guardava seu armador de telas e suas coisas de pintura, além da boina de pintor, que era um acessório essencial quando ia pintar.
Ele pegou uma foto da mãe, que estava sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Nela, Gina sorria e piscava para o filho, desenhando um coração com a ponta dos dedos e soprando beijo para ele.
E foi olhando para a foto da mãe que, de repente, tudo aconteceu: Peter sentiu-se estranhamente tonto, o porta-retratos escorregou de sua mão e espatifou-se no chão, uma voz gritou:
-PETER!!!- parecendo muito assustada. Peter apoiou-se nos joelhos e catou alguns cacos do chão, ainda um pouco tonto.
-Mamãe...
Ele largou os poucos cacos de volta no chão e correu para o quarto da mãe. Quando entrou no aposento, viu-a encolhida sobre a cama, os braços abraçados aos joelhos, chorando.
-Mamãe...- ele ajoelhou-se na cama e aproximou-se com cuidado, para não assustar a mãe mais ainda- eu estou aqui...- ele passou a mão levemente nos cabelos dela, que ergueu a cabeça e fitou os olhos do filho.
-Meu amor...- e abraçou-o com força, recomeçando a chorar- não saia mais de perto de mim, OK? Não saia mais de perto de mim!- ela dizia como se ordenasse.
-Eu estou aqui, mamãe...- ele sorriu para a mãe, limpando algumas lágrimas do rosto dela- e não vou sair daqui...
-Eu tive um pesadelo, Peter...- ela falou num fio de voz, parecendo uma criança assustada que desabafava com o pai.
-Eu sei.- ele falou, de um modo carinhoso- você tem tido pesadelos esses dias, eu tenho notado.- ela deu um meio sorriso.- está com saudades do papai, não é?
-Ele...- ela parou por um instante, soluçando- ...ele poderia estar aqui...
-Eu estou aqui.- Peter repetiu de um modo decisivo- com a senhora.- e sorriu.
-É, você está aqui.
-Vamos descer?- ele ofereceu a mão à mãe- e tomar um chocolate quente?
Peter fez duas canecas de chocolate quente, oferecendo um deles à mãe.
-Sua avó quem te ensinou a fazer isso, é?- ela perguntou.
-Vovó Cisa. O vovô Lupin sabe fazer um de baunilha muito bom também, mas é bem mais difícil do que bater chocolate com leite quente no liqüidificador.- Gina sorriu.
-É engraçado ouvir você chamar o Remo de vovô.
-Ele age como um e, além do mais, me pediu pra chamá-lo de vovô Lupin.- ele pegou o pote de biscoitos e ofereceu um para a mãe- O tio Harry vai amanhã com a gente?- ela parou por um minutos, olhando para o filho.
-Não ele, o vovô Lupin vai.- Gina levantou-se e pegou o filho no colo- Dorme comigo hoje?- ele, em resposta, deu um selinho na mãe.
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Draco olhou a mulher à sua frente. Era linda, ele tinha plena consciência disso. E seria burro aquele que não notasse sua beleza aparente. Os cabelos encaracolados, longos e muito vermelhos, caíam-lhe sobre os ombros em cachos bem definidos, muito diferente da franja, muito lisa, que caía sobre os olhos.
Ela, muito rapidamente e, ao que ele notou, ironicamente, sorriu para ele, sussurrando um breve ‘Boa tarde, meu amor!’. E ele sentiu, por um instante, o seu sangue latejar e seu corpo tremer. Adorava quando ela usava aquele tom casual quando se dirigia a ele...
-Como vai, Virgínia?- ele perguntou, muito formalmente para duas pessoas que foram casadas durante dez anos.
Ela não respondeu. E ele sabia que ela não estava nada bem. Conhecia aquela mulher tão bem como a ele próprio, e sabia decifrar cada expressão de seu rosto e corpo, e podia, logicamente, notar quando ela estava nervosa e apreensiva.
Virgínia desviou o olhar de Draco. Aqueles olhos cinzas, naquele momento frios e calculistas, a estavam incomodando como jamais a incomodaram. No entanto, era difícil não se sentir um tanto confusa com toda aquela aproximação com Draco depois de quase um mês separados. Ele continuava belo, apesar de tudo. Uma franja fina e loura caía-lhe sobre o rosto, dando-lhe um ar rebelde, charmoso e, sobretudo, como Gina sempre dizia, sexy.
Durante todo esse tempo Virgínia vinha tendo sonhos ou pesadelos com o ex. marido. Ainda o amava, isso era mais do que óbvio. E sonhar com ele era algo que ela não poderia controlar, e talvez nem quisesse. Durante as primeiras noites em que estiveram separados, ela sonhava com todos os momentos felizes que tivera com ele.
Mas, depois que ele entrara com o pedido de guarda de Peter, ela passara a ter pesadelos dos mais terríveis com ele. E durante essas noites, ela só conseguia dormir quando, inconscientemente, sentia que Peter estava ao seu lado, abraçando-a na cama.
-Gina,- uma mão pousou levemente no ombro dela, tirando-a de seus devaneios- vamos lá para fora. Peter está assustado e chorando muito. Ele quer te ver.- nesse momento, Draco levantou-se rapidamente, dirigindo-se à porta- Immobilus!- seu corpo imobilizou-se e ele sequer mexia um músculo- Desculpe, Draco, mas Peter disse que quer ver a mãe, e não o pai.
Draco mexeu os olhos, sentindo-se desconfortável diante do padrasto. Lupin ajudou Gina a levantar-se e acompanhou até a sala onde Peter estava, junto com Narcisa.
Quando Gina apareceu à porta, Peter correu para o seu colo e abraçou-a. Narcisa foi ao encontro dos três, dando as mãos para Lupin e cumprimentando a nora.
-Eu tentei convencê-lo de desistir disso tudo.- Narcisa disse- o menino é apegado demais a você, e será um desastre se ele conseguir tirá-lo de você, Gina.- ela deu um longo suspiro.
-Só falta o veredicto agora, não é?- Lupin perguntou.
-Ninguém jamais vai conseguir tirar o meu filho de mim, Narcisa. Eu disse isso a Peter e repito para quem quer que seja. Draco me prometeu que não entraria com um pedido de guarda, mas depois de tudo o que aconteceu ele mudou muito, e eu já sabia que a qualquer momento isso iria acontecer. E, além do mais...- e, nesse momento, as portas da sala se abriram com violência.
Draco surgiu primeiro, com a capa esvoaçante atrás de si. Logo depois seguiu-se dois homens, que faziam a segurança de Draco, e, então, o juiz.
Gina pôs Peter no chão, e permaneceu segurando a mão do filho. Narcisa foi ao encontro de Draco, ainda na intenção de fazê-lo desistir de ter a guarda do filho, e que, naquela hora, ele estava mais parecido com Lúcio Malfoy do que nunca estivera. Mas Draco sequer dera atenção à mãe, ignorando-a completamente, como jamais fizera.
O juiz pigarreou alto, chamando a atenção de todos.
-A corte já tem uma posição com relação à guarda de Peter Weasley Malfoy. Diante de ocorrências apresentadas a este tribunal, e de análises a respeito das condições dos pais, Virgínia e Draco Malfoy, de criar a criança, o juiz John Milton, representante da Ordem Judicial do Ministério da Magia Inglês desde 1869, decidiu que Draco Andrew Malfoy, pai de Peter Weasley Malfoy, está em melhores condições de criar o filho...
Draco abriu um largo sorriso. Virgínia olhou de Draco para o juiz e depois para Peter, que parecia aterrorizado. Depois disso ela não soube bem o que aconteceu. Sua vista ficou escura e sua mente pareceu confusa demais, de modo a deixá-la tonta. Suas pernas bambearam e seu corpo amoleceu. Sentiu, já um tanto inconsciente, sua cabeça bater em algo muito duro. E depois ela não ouviu ou viu mais nada.
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