Pela Primeira Vez...
Draco observava Ellen em seus braços, inerte e fria. Ajoelhando-se, ajeitando-a em seus braços de um modo melhor e colocando-a sobre as pernas, apoiando as costas no braço direito, ele observava a pele branca e sua mente não conseguia digerir aquela imagem.
Ellen morta. Seus dedos, totalmente trêmulos, tinham ido até o rosto dela, sentindo a pele macia, mas fria, enquanto lentamente lágrimas começavam a brotar dos seus olhos, incontroláveis, caindo lentamente por seu rosto. Será que tudo tinha sido em vão?
Draco não queria acreditar nos seus olhos e no seu tato. Seu coração batia desesperado, angustiado, enquanto ainda seu cérebro, reproduzindo em palavras um tanto desconexas, a imagem que ainda não queria ser processada como verdadeira.
— Não... não... Ellen... não pode... – ele a abraçou, mas seu abraço não foi devolvido pelos braços inanimados de Ellen.
Só depois de quase três horas, seu cérebro se conscientizou de que não havia mais o que ser feito. Ele deu um riso, um riso nervoso olhando para os lados, depois para o céu, começando a limpar as lágrimas lentamente, apesar de outras brotarem no lugar, mas em menor quantidade. Nem de longe aquela situação era engraçada, na verdade era mais do que deprimente e aflitiva. Ele começou a falar, talvez para Ellen, talvez para o vento, ele precisava falar, falar para alguém o que sentia, o que pensava...
— Parece que no fim, você conseguiu a sua vingança, não é mesmo? Sempre quis acabar de alguma maneira com o Lorde e acabou conseguindo... acabou com o plano dele de reconquistar o seu poder e a juventude.
As arvores pareciam paradas, pareciam escutar as palavras de desabafo de Draco, enquanto ele começava lentamente a se acalmar, ficar deprimido, mas continuando com um sorriso vago em seu rosto, enquanto continuava a falar.
— Você nunca mediu as conseqüências dos seus atos, ia com eles até a última, se não até o limite quase acabando com a sua vida. Acho que você sempre foi determinada assim, acho que eu nunca me enganei quando disse ao meu pai que você nunca iria obedecê-lo realmente. Sempre seguiu seus próprios interesses.
‘Você sempre foi tão parecida com ele, eu nunca notei, nunca vi tais semelhanças. E eu estranho, porque, praticamente você é um Lorde feminino. – ele riu um tiquim, mas parou logo em seguida – Então, me apaixonei por um Lorde feminino? E, por que, nunca gostei do masculino? Sabe, isso me anima um pouco. Pelo que sei, o Lorde tem Sangue-Puro, então você também é um Sangue-Puro... ao menos não sou tanta vergonha para a família...
‘Mas, do que importa agora esse detalhe tão minúsculo? Eu preferia você uma Sangue-Ruim, me xingando e fazendo fusquinha, do que agora que você não pode mais revidar minhas palavras... eu noto agora que sempre gostei de você, o que fazia era me iludir que só a queria como uma medalha, pq você era “A Garota Difícil”. Eu sempre gostei de desafios, desde que não arriscassem minha pele...
‘Isso também... você me mudou, você me virou do avesso. Eu me rebaixei a um Elfo Doméstico para que você me notasse, eu arrisquei a minha vida agora para você viver, comecei a ter menos preconceito contra Trouxas, Sangues-Ruins e afins... eu fiz milhões de coisas e a única coisa que eu precisava fazer era rir... RIR! Rir do modo mais sincero, era só isso... você queria coisas tão simples e eu pensando que você queria coisas tão difíceis, praticamente impossíveis. Você queria o mesmo que eu sempre quis. Eu queria atenção, queria carinho, queria me sentir querido... você só queria o mesmo e eu nunca notei. Você sabe, nunca fui muito inteligente pra essas coisas...
‘Você me incentivou a ler livros, treinar mais feitiços, hoje eu posso me dizer um bom bruxo, claro... melhor do que você eu nunca vou ser, afinal, você foi treinada pelo próprio Lorde e você já tinha, desde o nascimento, potencial para tudo o que ele poderia te ensinar... eu, praticamente, dediquei minha vida à você, mesmo que sem notar ou não queria enxergar... talvez pq, mesmo com o seu ódio, você me dava atenção, eu era alguma coisa para você... eu era mais do que um simples vivente da casa, imprestável. Eu era o Draco, mimado, chato e besta, que não largava do seu pé.
‘Você me chamava ironicamente de “Draquinho”, só para me alfinetar, e realmente você conseguia, mas depois eu ria, achava engraçado o jeito de você falar... você sabe como eu me senti bem quando você falou que eu começava a participar dos seus problemas diários só por eu existir? Era mais do que claro que a minha presença era alguma coisa para você, era muita coisa, pra mim era quase ser igualado ao Lorde, se não mais ainda, pois você só não gostava das ordens dele, mas de eu existir... era a maior atenção que eu já havia recebido na vida.
‘Eu ainda lembro o dia que comecei a falar da minha vida... eu queria blefar, queria te sensibilizar... e eu acabei descobrindo verdades tão fundas que acabaram me tocando... acho que você tinha razão ao dizer que eu era uma besta, acabar caindo na própria armadilha...
Pela primeira vez, Draco tinha conseguido passar os dedos pelos cabelos negros de Ellen, colocando uma parte por cima de um dos ombros dela, enquanto observava as feições dela, como se ela simplesmente houvesse adormecido em seu colo o que pareceu tranqüilizá-lo, ao invés de deprimi-lo, apesar de ter consciência da morte dela.
— Sabe de uma coisa? Apesar das suas semelhanças, eu ainda não acredito que você seja realmente um tipo de Lorde feminino. Pq, então, você gostou do meu riso sincero? O Lorde, verdadeiro, abomina qualquer coisa relacionada com Amor, alegria... pq então você gostou? Pq você mudou tão drasticamente? Será que, naquele momento, eu consegui enxergar a sua verdadeira alma? – ele suspirou longamente, enquanto continuava a brincar com as pontas do cabelo de Ellen entre os dedos – Mas isso não importa agora. Pq agora nada reside no seu corpo... nem uma alma nem outra...
‘Eu entendi as coisas muito tarde. Eu enxerguei as coisas muito tarde. Eu admiti as coisas muito tarde... E finalmente quando eu consegui arranjar coragem, minha coragem veio muito tarde... Agora é muito tarde para dizer “Eu te amo”.
Novas lágrimas começaram a rolar pelo rosto pálido de Draco, enquanto novamente ele a abraçava, fazendo com que sua face sentisse a dela, fazendo com que os lábios dela ficassem muito próximos ao seu ouvido. Estava tão distraído que achou que houvesse ouvido a respiração dela, mas o pior choque fora o que veio logo em seguida a essa impressão.
— Será que é muito tarde para dizer que eu sou dura na queda?
Ele quase enfartou ao ouvir nitidamente a voz de Ellen em seu ouvido e afastou-se correndo, o coração batendo tão depressa que ele até quase não conseguia respirar, enquanto observava os olhos azuis de Ellen a encará-lo novamente, como antes. Um jeito maroto, um pouco maldoso.
— E-Ellen... você... erm... está... está... – ele não conseguia falar direito, o rosto começando lentamente a ficar rosado, enquanto ele pensava o quando ela tinha ouvido do que ele havia falado.
— Viva. – ela completou por ele, enquanto ainda o encarava, enquanto o seu sorriso aumentava um pouco mais.
— No-nossa... que milagre... eu... eu pensei... bom, sabe... que você... – Draco queria saber evaporar naquele momento, o que ela teria ouvido!?
— Tivesse morrido. Eu estive ouvindo.
— Eu... erm... não sei o que... o que ouviu, mas... mas saiba... erm... – ele não sabia onde tinha ido a sua fala, ele mal conseguia pensar naquele momento.
— Eu ouvi tudo. – ela parecia mesmo querer torturá-lo.
— Olha... não... não entenda ma-mal minhas palavras... erm... – mas ele foi cortado por ela.
— Eu concordo com você quando disse que era tarde. Muito tarde mesmo, nunca me enganei quando dizia que meninos eram idiotas demais, nunca vão mudar. – mas apesar dessas palavras, ela ainda sorriu para ele, deixando-o mais sem graça.
— El-Ellen... não me... me entenda mal... e-eu... e-eu... – ele não conseguia falar mais nada, não conseguia destravar do “eu”.
— Eu te amo, seu idiota! – ela riu, observando-o paralisado, olhando-a, então ela complementou – E vou deixar de amar se você não me beijar agora. – logo após isso ela enlaçou seus braços no pescoço dele.
Draco finalmente sorriu, sentindo alguma segurança com as palavras dela e aproximou-se.
Então, pela primeira vez...
Ambos selaram seus lábios
Não apenas em um beijo terno,
Mas selando também o amor eterno
Que nasceu nas piores situações.
Alguns dias mais tarde...
— Ellen, o que está pretendendo? – Draco falava, observando ela arrombar uma porta de uma casa abandonada nos arredores de Londres.
— Preciso de tempo para organizar meus planos. – ela dizia, enquanto via a casa cheia de pó e teias de aranha. Devia ter anos sem ver nem mesmo um habitante.
— Não acredito... ainda pretende matar o Lorde das Trevas? – Draco perguntava incrédulo, enquanto a seguia, também com a varinha na mão.
— Claro, Draquinho querido! Empecilhos só são retirados quando eliminados! – ela riu, parecia simplesmente não estar nem um pouco com medo sobre ter que chegar perto de Voldemort.
— Mas, Ellen, ele quer te matar, ele quer roubar seu corpo. E você ri!? – ele falou, incrédulo.
Ela virou-se repentinamente para ele, sorrindo maliciosamente.
— Veremos quem ganha nessa corrida contra a Morte, veremos, querido Draco... – e um brilho cruel perspassou o olhar dela, que agora estava negro. Draco sabia que a guerra entre Voldemort e seu eu clone, apenas estava começando... apenas... Começando.
Continua...
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