19 de Setembro
O dia havia começado bem, mas então Viktor contou que sua futura esposa, Eliza, estava grávida. Ouvir histórias sobre um casal feliz iniciando uma vida juntos era difícil, mas Hermione continuou sorrindo e acenando. Quando o foco da conversa mudou para Ron, a garota contou a Viktor o que acontecera no St Mungo’s e depois disso. Dizer aquilo em voz alta fez Hermione se sentir uma tola.
Ao retornar do almoço, Hermione ficou agradecida em encontrar a casa vazia. Por mais que Viktor fosse um ótimo amigo e ouvinte, ele não era muito bom em dar conselhos. Quando ela lhe perguntou sua opinião e o que deveria fazer em relação a Ron, ele apenas respondeu, “Fem, o que tifer que fer, ferá.”
Por mais que isso tenha sido reconfortante quando estava em Hogwarts, ela e Ron viviam agora no mundo real, com problemas reais. O que ela esperava que Viktor dissesse? Hermione duvidava se até mesmo Dumbledore teria alguma palavra de conforto.
Viktor tentou fazer a garota se sentir melhor, dizendo, “Ele ficou com focê a noite toda e lhe deu sua capa. Eu digo que ele é um cafalheiro apaixonado.”
É, um cavalheiro apaixonado... pela Miranda. Ron não pode sentir algo por mim; se ele sentisse, não estaria com ela ainda. Ele deve saber que dói ver os dois juntos.
Seria mais fácil se eu não estivesse sozinha desde ele foi embora. Com o trabalho e Hannah, não tive muito tempo para conhecer alguém... essa é minha desculpa.
Hermione não viu Ron a noite toda; comeu no seu quarto e leu para Hannah até ela dormir. Após terminar um capítulo intitulado Torres e Caminhos Alternativos, guardou seu velho exemplar de Hogwarts: Uma História na estante e colocou Hannah no berço.
A garota não se sentia cansada, então resolveu tomar um copo de leite quente para ver se ajudava. Vestiu um blusão qualquer que pegou no malão e desceu para a cozinha.
“OW!”
Hermione havia esbarrado em algo, algo vivo, no escuro. Com um aceno na varinha, as velas ao redor se acenderam e ela se deparou com Ron. Ele estava sentado contra na geladeira, comendo uma caixa de Feijõezinhos de Todos os Sabores e não parecia feliz por ter sido perturbado.
“Ron?” disse Hermione, imaginando o que ele fazia sentado no escuro.
“Oh, oi,” respondeu, jogando um feijãozinho amarelo na boca. “Queijo”, adicionou, mastigando.
“O que você está fazendo aqui?” Hermione perguntou, sentando à mesa e observando-o atentamente.
“Pensando.” Seu tom indicava que não estava muito disposto a explicar sobre o que, então Hermione optou por apenas acenar e ficar em silêncio.
“Onde está a Miranda?” perguntou após alguns minutos.
“No Ministério. Ela precisava preencher alguns formulários, ter a varinha inspecionada e fazer o crachá,” explicou, e então acrescentou, “Ela começa a trabalhar em breve.” Hermione pensou que seu humor fosse pelo fato de Miranda ter conseguido emprego e salário melhores do que ele, mas seu tom de voz não indicava nenhum rastro de ciúmes. Na verdade, ela captou um certo orgulho em sua voz. Então, o que havia acontecido?
Ron a fitava com uma expressão curiosa e antes que ela pudesse questionar o que ele estava olhando, Ron perguntou, “É minha?” Hermione olhou ao seu redor, tentando descobrir do que ele estava falando. Ron deve ter percebido sua confusão, pois apontou para ela e disse, “Você está usando a minha camisa.”
Hermione corou ao perceber o que estava vestindo. Ao invés de pegar uma camisa velha qualquer, ela havia pego a velha camisa dos Chudley Cannons que Ron lhe dera no sétimo ano. Devido à altura de Ron, a camisa lhe servia como uma confortável camisola.
“Oh,” foi tudo o que ela conseguiu dizer, enquanto enrolava a ponta da camisa, nervosa. “Eu ia te devolver, juro,” disse, esperando parecer confiante.
Ron balançou a cabeça e disse, “Pode ficar; ela fica melhor em você, mesmo."
Ele está flertando comigo?
“Obrigada,” agradeceu Hermione, sentindo-se corar.
Ron sorriu carinhosamente para ela e voltou sua atenção para os Feijõezinhos, pensativo. Ele não parecia estar muito afim de conversar, mesmo assim, Hermione não queria deixá-lo sozinho lá embaixo. Resolveu preparar seu leite e ficar lá com Ron até ele decidir abrir-se com ela.
Alguma coisa o está chateando, isso está claro. E eu vou estar aqui quando ele estiver pronto para contar.
Depois do que pareceram horas, Ron fez um movimento, como se fosse dizer alguma coisa, mas pensou melhor. Outro minuto se passou e ele pareceu mudar de idéia novamente, e limpou a garganta. “Erm— Hermione, posso fazer uma... pergunta pessoal?”
Confusa, Hermione respondeu que sim e o encarou curiosa.
“Certo... bem, eu estava pensando,” disse, evitando olhar para ela. “O que você, digo, como você se sentiu quando descobriu que estava grávida?”,enquanto esperava pela resposta, esfregou a nuca e levantou rápido o olhar, encarando-a nos olhos.
Pega de surpresa pela pergunta, os olhos de Hermione se arregalaram. “OH!”
Por que ele quer saber? A Miranda está grávida? Não, não, ela não pode estar. Duvido que ela batalhasse tanto por dois anos apenas para engravidar... embora isso tenha acontecido comigo...
“Bem, à princípio, claro, fiquei chocada,” disse, tentando afastar o pensamento de que Ron teria outra criança à caminho. Por que mais ele me perguntaria isso? Ao vê-lo concordar, continuou, sentindo-se ligeiramente nervosa. “Depois que você e o Harry partiram, comecei a me preparar pro meu novo emprego... pensei que todo o estresse do trabalho e a sua ausência fossem as causas do meu mal-estar...” pausou, lembrando de como fora negligente ao pensar que o atraso de sua menstruação estava relacionada simplesmente ao estresse. “Eu estava errada.”
“Depois que descobri que ia ser mãe, me senti... feliz, pra falar a verdade. Muito assustada, devida a minha idade e situação, mas, é... feliz. Não existem muitos livros que digam como você deve se sentir quando isso acontece.”
Hermione sorriu largamente à risada de Ron. “Embora tenha encontrado muitos livros bons sobre como gerar e criar crianças com poderes mágicos. Quando... se você e Miranda decidirem ter... o que eu quero dizer é, vocês podem pegar emprestado,” acrescentou, corando ao discutir esse assunto
Ron arregalou os olhos, no que Hermione imaginou ser embaraço. “OH! Urm, não, nós não vamos precisar deles, creio que não,” disse apressado. Algo nos olhos dele fez Hermione acreditar que havia mais coisa por trás disso, mas não pressionou. “Você não vai mais precisar deles?”
“Durante a gravidez eu decorei a maioria. Além do mais, já sei o que esperar da próxima vez.”
“Próxima vez?” perguntou Ron, com certo entusiasmo na voz.
“Não estava muito certa se teria outro depois da Hannah, mas vê-la crescer dia após dia, às vezes me dá vontade de dar a ela um irmãozinho ou irmãzinha— ou até mesmo os dois,” disse Hermione distraída, tomando um gole de seu leite. “Mas da próxima vez, espero estar um pouco mais velha e mais estável financeiramente e morando na minha própria casa— não que eu não adore morar aqui, mas não foi assim que eu imaginei que as coisas seriam depois de Hogwarts, entende?”
Hermione observou, nostálgica, Ron baixar o olhar, compreendendo o que ela quis dizer. Ela lembrou de como as coisas eram antes de Ron ir embora; quando tudo com o que tinham pra se preocupar era como evitar que a Sra Weasley os pegasse no quarto de Ron. Hermione nunca havia falado sobre isso com ninguém, e ela se sentia meio envergonhada por se abrir dessa maneira com Ron, após ele tê-la magoado tanto no passado.
“Entendo o que quer dizer,” disse ele, quase inaudível.
“Tudo o que me importa agora é a Hannah,” murmurou Hermione. “Deixei isso bem claro para o meu chefe quando comecei a trabalhar. Ele entendeu, já que ele também cuida dos filhos sozinho. Os filhos vêm em primeiro lugar e o trabalho em segundo... não que o trabalho não seja importante pra mim. Eu não poderia ter um sem o outro.”
Sem saber o que dizer em seguida, Hermione deixou que Ron falasse um pouco. Ele, entretanto, não disse uma palavra e o ambiente mergulhou em um silêncio pelo que pareceram horas. A mente dela estava nadando em novos e velhos pensamentos, enquanto ele encarava o nada; parecia que estava concentrado nos pensamentos ou vazio como um pergaminho novo.
Ela o observou, imaginando o por que dele estar tão calado. O tempo passava lentamente e tudo o que Hermione queria era que ele lhe contasse sobre o que estava pensando. O silêncio já a estava incomodando, então decidiu se pronunciar.
“Então... como vão as coisas com Miranda?” perguntou, esperando soar o mais casual possível.
Claramente pego de surpresa com a pergunta, Ron disse, “O que? Oh,” e deixou cair a caixa de feijõezinhos. Rapidamente começou a recolhê-los. Hermione automaticamente pulou da cadeira e se ajoelhou para ajudá-lo. “Estamos... bem,” disse, seus olhos indo dos doces para Hermione, que também desviava o olhar do chão para ele. “Você sabe como os relacionamentos podem ser,” acrescentou com uma voz rouca.
“É,” respondeu, sentindo-se quente novamente. Ela estava a poucos centímetros do corpo de Ron; de sua pele sardenta, de seus lábios perfeitos, aqueles olhos...
Nós nem estamos nos tocando. Como posso me sentir assim por apenas estar perto dele?
Ela umedeceu os lábios, seus olhos fixos em nos braços fortes dele, enquanto ele colocava cada feijãozinho de volta na caixa. O tempo na América fez surgir novas sardas que agora juntavam-se às antigas que ela tanto amava.
“É,” repetiu, meio fora de si. “O calor entre duas pessoas,” sussurrou desejosa.
“O desejo,” Ron adicionou, corando. “Mesmo sem se tocar, você sente sua pele em chamas e...” parou no meio da frase, no memento em que ambos pegaram o mesmo feijãozinho vermelho, tocando os dedos. Hermione sentiu uma carga elétrica atravessar seu corpo, fazendo sua respiração, já era fraca, parar de vez.
Seus olhos viajaram até o rosto de Ron, que a encarava. Seguraram o contato visual e tudo pareceu sumir ao vê-lo inclinar-se em sua direção, seus lábios já quase se tocavam, quando...
“MANHEEEE!”
Hermione afastou-se rapidamente, a cabeça rodando, enquanto desviava o olhar para o teto. Ela podia ouvir um choro de criança e os chamados de Hannah, que não encontrara a mãe no quarto ao acordar. Levantando-se do chão, murmurou coisas incoerentes, antes de dizer, “Eu tenho que— Hannah precisa de mim,” e correu para fora da cozinha.
O que Hermione não ouviu foi a confissão fraca de Ron, “Acho que eu também preciso,” minutos depois.
Nem Ron nem Hermione tocaram naquele assunto nos dias seguintes, mas ela imaginou se aquilo estaria brincando na mente dele, assim como estava na sua. Ela o pegou mais de uma vez lhe lançando olhares furtivos na hora do jantar e jurou ter sentindo uma tensão entre ele e Miranda.
Claro, se eles terminarem, não será culpa minha. Os dois têm estado com um humor estranho essa semana.
Ginny também pareceu notar a tensão, e passou uma tarde vendo o álbum do último Natal de todos eles juntos. A maioria das fotos eram dela, Hermione, Harry e Ron sorrindo e se divertindo juntos, mas havia uma de Ron e Hermione abraçados, com ares de apaixonados.
Para surpresa de todos, Miranda não riu e nem fez comentário algum sobre o cabelo de Hermione ou suas roupas trouxas, apenas permaneceu em silêncio, com uma expressão pensativa pelo resto da noite. Até se retirou mais cedo, dando apenas um beijo rápido em Ron.
Quando Hermione perguntou se Miranda estava bem, ele esfregou a mão esquerda sobre a direita ao responder, “Sim, ela vai ficar bem. Ela só deve estar um pouco chateada com as fotos.”
“Com as nossas, você quer dizer?” perguntou tímida, mordendo o lábio inferior.
Ron balançou a cabeça e disse, “Na verdade, acho que não. Algumas fotos foram tiradas em Hogwarts e ela nunca foi pra lá. Isso me deixaria chateado.”
Hermione arqueou a sobrancelha, surpresa. Nunca passou pela sua cabeça que Miranda havia ido para a escola, mas presumiu que sim, para poder conseguir a qualificação para o treinamento de Auror. “Oh? Onde ela estudou? Que eu saiba, não existem muitas escolas na Irlanda; os bruxos de lá vão para Hogwarts,” disse, lembrando de Seamus Finnigan.
“O pai dela estava sempre viajando com a Seleção Irlandesa e não quis deixá-la sozinha... depois que a mãe morreu, tão nova,” explicou Ron. “Ela foi educada em casa por um professor particular, por isso ela nunca teve muitos amigos... não um a quem ela pudesse se afeiçoar de fato.”
Hermione baixou o olhar, consentindo. “Deve ter sido difícil pra ela,” disse. Ela sabia muito bem como os amigos eram importantes na vida de uma criança, e sentiu compaixão por Miranda. Durante o Primário, ela teve muita dificuldade em fazer amigos e costumava passar todo o intervalo lendo na sala de aula, sozinha. Miranda nem teve a chance de tentar.
Hermione acordou na manhã de seu aniversário sentindo-se mais velha do que realmente era. Com apenas vinte e um anos, já havia lutado com muitos Bruxos das Trevas, se machucado em batalhas e dado à luz a um bebê que já andava e falava.
Ela poderia muito bem puxar o cobertor até a cabeça e se permitir mais algumas horas de sono, se não fosse pelo fraco som de ‘Parabéns pra você’ se aproximando de sua porta. Um minuto depois, viu Molly, Ginny, Fred e George parados ao lado de sua cama cantando, e Molly segurando uma bandeja contendo um copo de suco de laranja e um prato com bacon, torradas.
“... Parabéns pra você, nessa data querida. Muitas felicidades, muitos anos de vida!”
“E pra Hermione nada... tudoooo!” cantaram os gêmeos enquanto Hannah ria alto, se divertindo.
Hermione sentou na cama, pegando a bandeja de uma Molly entusiasmada. “Realmente não precisava,” insistiu, revelando o ovo que estava escondido debaixo da torrada.
Molly acenou com a mão freneticamente. “Todos os Weasleys tomam o café da manhã na cama, em seus aniversários.”
“Isso é verdade,” disse George. “Só que nós nunca ganhamos uma flor em um vaso chique. Você acha que isso é realmente porcelana, Fred?”
“Deve ser imitação,” cismou, inclinando-se para olhar a peça mais de perto.
Antes que os gêmeos derramassem alguma coisa, Ginny colocou todo mundo para fora, pegando Hannah e dizendo, “Dêem um tempo, deixem a Hermione acordar direito. Podemos entregar os presentes lá embaixo.”
Quando terminou de comer, Hermione tomou banho e se vestiu antes de ir para a cozinha, onde os gêmeos sacudiam seus presentes— tentando descobrir o que eram— enquanto Harry os observava, animado. Ginny ajudava a mãe com o bolo, e Ron dava o café da manhã para Hannah.
Hermione sentiu uma sensação estranha no estômago ao ver a cena de Ron com Hannah, mas ignorou e limpou a garganta. Todos lhe desejaram feliz aniversário, e ela se sentou ao lado de Harry, onde começou a abrir os presentes. Ela ganhou uma touca e um cachecol de lã, velas perfumadas e flores de Molly, Arthur, dos gêmeos e de Ginny, e Harry a presenteou com uma pasta de couro para o trabalho. Hannah (Hermione presumiu que Molly tivesse ajudado) lhe deu um livro de Contos de Fadas Bruxo, o que era mais para a garotinha do que para a aniversariante.
Deixou o presente de Ron por último. Ela ficou sem ar ao desembrulhar a pequena caixa e exclamou, “Oh, Ron!” quando viu que ele lhe havia dado um fino cordão de ouro, com uma letra ‘H’ pendurada. Era lindo e deveria ter custado alguns Galeões.
“Gostou?” perguntou calmamente, mantendo contato visual com ela.
Ela sorriu e disse, “Eu amei. Me ajuda a colocar?” trocou de lugar com Harry, sem desviar o olhar de Ron, com o coração cheio de alegria.
Te amo, te amo, te amo.
Assim que Hermione levantou o cabelo para Ron fechar o cordão, a porta dos fundos se abriu e uma Miranda corada entrou apressada. O sorriso de Hermione se esvaiu enquanto que o rosto de Miranda se iluminou ao ver Ron.
“Tenho uma notícia maravilhosa!” disse, correndo em direção à Ron e lançando os braços ao redor dele. “Papai nos convidou para assistir o jogo da Irlanda contra a França e reservou um hotel para nós, em Paris! Ele disse que poderemos ficar três semanas lá! Não é emocionante, Ronald?” e lhe deu um beijo na bochecha, com um enorme sorriso estampado no rosto. Ao ver a estranha expressão do ruivo, afastou-se. “Qual o problema? Não está contente?”
“Estou, é só que...” Ron pausou e olhou ao redor. Todos à mesa estavam atentos à conversa. Umedeceu os lábios e mudou de assunto, dizendo, “Vamos conversar lá fora.”
Hermione o observou ir, sentindo-se estranha com a expressão indecifrável dele.
Ron conduziu Miranda até o meio do jardim, onde não havia como as Orelhas Extensíveis alcançá-los. A cada passo, seu estômago revirava desconfortavel.mente
Não posso fazer isso agora, não agora que ela me convidou para ir à Paris— a cidade mais romântica do mundo!
Bem,você não pode ir e terminar com ela logo em seguida! ‘Obrigado pelo passeio; à propósito, está tudo terminado entre nós.’ Isso seria ótimo...
Quando Ron levou Miranda para conhecer sua família, não imaginou que as coisas chegariam ao ponto que chegaram. Primeiro recebeu a bomba de que era pai, e depois teve de lidar com o fato de sua ex-namorada e a atual estarem dormindo a alguns metros uma da outra.
Sem mencionar que me apaixonei pela Hermione de novo...
Isso era outra coisa com a qual Ron não contava. Apesar de imaginar que seus sentimentos por Hermione tivessem morrido quando terminaram, vê-la novamente provou que não. Durante os anos em Hogwarts, ele se apaixonou por ela tão intensamente, que ao invés de desaparecerem, esses sentimentos apenas adormeceram.
Não que ele não gostasse de Miranda; ele gostava muito dela. Chegou a pensar uma vez que após um tempo juntos, poderia chegar a amá-la, mas agora ele sabia que isso não iria acontecer. Não importava o que ele dissesse a si mesmo ou quantas comparações fizesse, Miranda jamais seria Hermione.
Quando chegaram ao balanço, Ron parou, colocando as mãos nos bolsos. Repassou mentalmente o que iria dizer e decidiu começar com os pensamentos mais recentes.
“Não vou poder ir pra França com você,” disse firme. Fitou Miranda, que não parecia surpresa como ele imaginou.
“Estava pensando se você seria sincero comigo ou inventaria uma desculpa qualquer.” Disse, seca. “Imaginei que fosse dizer que a Hannah precisa de você aqui, ou que você queria passar mais um tempo com sua mãe.”
Ron ficou sem graça e pôde sentir o calor subindo pelo seu pescoço. “Sempre fui sincero com você,” assegurou.
Miranda rolou os olhos. “Ronald! Tem alguma coisa te incomodando há dias e você age como se estivesse tudo bem! Se você não me contar qual é o problema, não vou poder te ajudar.” Ela estava corada e o coque que havia feito no cabelo, começava a se desfazer. O observou atentamente esperando a resposta.
“Eu... eu andei pensando,” disse, mordendo a língua. Como é que eu vou fazer isso?
“Em que?”, pressionou.
Umedecendo os lábios, Ron limpou a garganta e disse, “Em nós”. Observou Miranda crispar os lábios, acenando em compreensão. “Tive muito no que pensar nas últimas semanas,” continuou.
Miranda soltou o ar, irritada. “Hermione,” disse. Ron baixou o olhar e permaneceu em silêncio. “Você ainda a ama, não é?”
Agindo como se não a tivesse escutado, continuou, “Eu percebi que nós queremos coisas diferentes na vida.”
“Coisas diferentes? Tudo o que eu quero é me tornar uma grande Auror, viajar e me divertir. Você não quer se divertir?” perguntou, soltando faíscas pelos olhos.
“Divertir? Você falou sem parar sobre o seu trabalho desde que recebeu aquela coruja!” Ron rebateu, irritado. “A única vez em que conversamos sobre outra coisa foi quando você me disse que não quer ter filhos,”
Miranda rolou os olhos, jogando as mãos para o ar. “Pensei que este assunto estivesse encerrado! Pensei que estivéssemos entendidos,” disse.
Ron, percebendo que ela não o escutara direito desde que começaram a namorar, respondeu, “Eu já te disse três vezes que quero ter mais filhos.” Umedeceu os lábios e continuou, com a voz mais suave, “Observando meus pais ao longo dos anos— sobretudo durante a guerra— percebi que existem mais coisas na vida do que apenas se matar de trabalhar. Quando Voldemort voltou, meus pais tiveram toda a proteção e o apoio da família. E existem pessoas como o desgraçado do Snape, que não tinha ninguém e morreu sozinho, sem amor e desprotegido.
Ron pôs as mãos de volta nos bolsos enquanto esperava pela resposta de Miranda. Ela abriu a boca, mas fechou-a novamente, não muito certa do que dizer. Quando finalmente falou, foi em um tom calmo, porém firme. “Você ainda não respondeu a minha pergunta.”
Ron a encarou sério, e disse apenas uma palavra: “Sim.”
Franzindo o cenho, Miranda perguntou, “Sim, o que?”
“Sim,” repetiu, mais seguro do que antes, cruzando os braços contra o peito. “Eu ainda amo a Hermione.”
Miranda fitou Ron por um instante, os lábios crispados novamente. Soltou um suspiro indignado e disse, defensiva, “Tudo bem, se é assim que você quer, Ronald, eu vou embora.”
Ele não sabia se ela estava blefando ou se realmente planejava ir, mas naquele momento, ele não se importava. Miranda tinha sido uma pessoa tão legal... bem, antes de conhecer Hermione... sem todos aqueles joguinhos e mentiras.
“Você sabe onde fica a lareira,” disse ele, seco, com os olhos fixos nela.
Miranda ficou surpresa com a resposta do ruivo, mas não deixou que ele percebesse. Recuperou-se rapidamente e marchou em direção à cozinha.
Se a Miranda e a Hermione passassem mais algum tempo sob o mesmo teto, alguém ia acabar sendo azarada, ou pior, ia tentar fazer a outra ir embora, jogando-a contra mim.
Ron sentiu como se tivesse sido atingido por um raio, ao ter seus pensamentos invadidos por fragmentos de uma conversa. ’Ronald, Hermione está com ciúmes. Ela ainda ama você e quer que eu saia do caminho dela’... ‘ela disse que quando a Hannah crescesse, ela seria uma... uma vadia assim como eu’
‘Ron— ela chamou a nossa filha de vadia.’
Uma onda de culpa tomou conta dele, ao se dar conta de que Hermione esteve dizendo a verdade o tempo todo. Por que ele não acreditou nela? Miranda era tão manipuladora assim? Foi idéia dela eu terminar com Hermione naquela carta... quando ela quer uma coisa, ela sabe como conseguir.
Sentiu-se um ingênuo por ter caído na teia dela e enojado pelo modo como Hermione vinha sendo tratada desde que voltara. Estava irado com Miranda por ter mentido, mas furioso por ela ter sido capaz de dizer coisas tão cruéis e imorais sobre Hannah— por ela ter causado tanto sofrimento à Hermione.
Vendo Miranda bater a porta da Toca e desaparecer de sua vida, Ron só pôde pensar em uma palavra:
“Vagabunda.”
O sol já tinha começado a se pôr quando Hermione viu Miranda, de malas na mão, ir embora para Paris sem Ron. Vários sentimentos tomaram conta dela, fazendo-a se sentir ligeiramente mal: satisfação, alegria, ansiedade, tensão, alívio e um grande desejo por um certo ruivo.
Depois daquela noite na cozinha, Hermione passou a demorar mais a pegar no sono, sem contar os inúmeros pensamentos não-sexuais, como leite azedo, Harry, broca de dentista e torrada fria.
No momento em que Miranda entrou como um furacão na cozinha há algumas horas, Hermione imediatamente compreendeu o que havia acontecido. Também ajudou o fato dela ter espiado pela janela, e se suas expressões e linguagem corporal diziam alguma coisa, era que os dois estavam terminando ou tendo uma briga feia.
Após ver as chamas verdes voltarem ao vermelho e laranja habituais, em decorrência da partida de Miranda, a sala mergulhou em silêncio, salvo pelo som dos passos lentos de Ron, que murmurava o que todos já imaginavam que tivesse acontecido. Hermione levantou-se, querendo descobrir mais coisas e esperando impaciente para ver se Ron iria beijá-la ardentemente ou simplesmente levá-la para conversar lá fora.
Ele não fez nenhuma das duas coisas, apenas se retirou para seu quarto, onde passou uma boa parte do dia.
Casada de esperar por ele na cozinha, Hermione foi para o quarto espera-lo lá, assim Ron saberia onde encontra-la quando estivesse pronto para conversar. Após algumas horas, ela estava prestes a desistir e descer para preparar um sanduíche, quando ouviu batidas na porta. Sentando-se na cama, permitir que o estranho entrasse.
Sua respiração foi se acalmando aos poucos ao ver quem era, e disse com um caloroso sorriso, “Não esperava por você.”
ui, ui....
Que presente de aniversário, hein?! finalmente livre da Vacaranda...
Ficaram meio assim por ela não ter recebido nenhum Crucio ou coisa parecida?? Pois é, eu tbm fiquei... mas só de ver o Ron, seu defensor mor, chamá-la de 'vagabunda', já valeu. rsrs
Próximo Capítulo: Após uma conversa com um estranho em seu quarto, Hermione decide parar de esperar por Ron e vai ao seu encontro.
Snif, o próximo já é o último... depois vem o epílogo e acaba de vez... buáááá!!
Deixa logo eu avisar que atualização agora, só depois do dia 15. Tenho que estudar pro meu tcc, senão não me formo e meus pais arrancam o meu couro kkkkk
bjoks, amores!!
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