Depois
Estando Draco e Gina separados, parecia óbvia uma intervenção por parte da família dela. Draco não tinha a menor paciência para isso. Sabia que se dissesse o que viu, acabariam-se as intervenções e ele ainda sairia de bom moço. Entretanto, não lhe parecia nem um pouco agradável a idéia de todo o mundo bruxo saber que Draco Malfoy era um corno.
A vontade dele era quebrar tudo em casa, cada copo, jarra e mesa. Pensou em si mesmo rasgando os quadros e cada uma das fotos. Mas ele não foi para casa depois do trabalho. Dormiu n’o caldeirão furado.
Pela manhã, pensou que a melhor providência era mandar uma coruja à Gina dizendo que era bom que ela não contasse a ninguém sobre aquele incidente. Ele não sabia o que ela entenderia do bilhete, mas mandou a coruja e pronto.
Todo mal-humor do mundo parecia estar morando na cabeça de Draco. Ele se questionava se realmente seria saudável contar o acontecido à Hermione Granger, que sequer era casada com o outro. Talvez ela também espalhasse a notícia e então ele fosse transformado no maior corno bruxo daquele ano.
A resposta veio em forma de coruja. Hermione queria uma entrevista à respeito do Gringottes para aquela terça-feira. Respondeu a coruja dizendo que aceitava falar e pediu que ela fosse, no fim do expediente, ao escritório dele.
Mas Draco não foi ao Gringottes no horário certo. Decidiu que seria a melhor hora para ir à sua casa buscar seus pertences. Acertou. Gina não estava lá.
E cada peça de roupa que ele enfiava no malão o fazia sentir mais raiva e mais humilhação. Talvez ela devesse sair de casa, não ele. Mas ele não queria escândalo e não queria perder a razão. Pegou garrafas de whiski de fogo e ingredientes de poções. Vassoura. Então achou, na capa da nimbus, os sapatos de Diana Carter escondidos junto com os brincos dela.
Então Gina não lhe pareceu tão criminosa. Ele mesmo estava muito mais interessado em outra mulher do que na própria. A dor do orgulho e da visão da cena continuavam ali. Draco pensava que talvez Gina pudesse ter contado a ele antes, para que algum fio de admiração pudesse ser mantido. Pensou também que seria bom se ela tivesse tomado cuidado e feito ao menos um feitiço para que ninguém desaparatasse na sala. Mas Diana era uma boa lembrança, um mistério a ser desvendado. Talvez, até uma paixão. Um outro foco.
Foi ao Gringottes levando o malão e acreditando não ter-se esquecido de nada.
***
Pronto. Estava feito. Gina tinha se separado do marido e Harry Potter tinha sido instrumento disso. Num instante, pareceu a Harry que tudo fazia parte de um plano de Gina para se separar sem ter que tomar maiores atitudes. Pareceu-lhe que fora usado. É claro! Aquela ruiva o tinha seduzido desde o princípio. A ruiva gostava de correr riscos. A ruiva fingia que tinha ciúmes, mas não queria que Harry se separasse da mulher e depois vinha com aquela história de confusão.
Gina Weasley Malfoy pareceu a Harry o pior ser humano do mundo naquele instante. Ele nem a procurou na sala dela. Manteve-se compenetrado no trabalho e evitou-a durante toda a terça-feira. Não queria mais problemas. Aquela moça não tinha mais idade para ser tão ingênua.
***
“O que se passa normalmente na cabeça de alguém que trai?”, Gina se perguntava. O problema não era o sexo nem jamais seria. O problema se deu num segundo, como todos os problemas. Foi um milésimo de segundo, o momento incapturável de um olhar. Por que depois de ter olhado, Draco não veria de novo a mesma cena. Aprenderia cada detalhe de pernas e nudez. Principalmente da entrega. Draco viu entrega incapturável. Um ápice. Completo. O olhar tinha sido o cume da montanha russa e então tudo descia numa velocidade absurda. À Gina, restava gritar e esperar o carro parar. Não tinha mais freio. Era só descer e pronto.
Então ela fazia seu papel e soluçava como quem grita. Tinha medo da queda e do que cada uma das pessoas conhecidas pensaria dela. Tinha medo de como a sua mãe lhe olharia nos olhos depois de saber que a mesma Gina que brigou tanto para se casar tinha traído o marido no chão da sua própria sala.
Absurdo.
Era desrespeito com a família. Com Draco. Com o ministério da magia. Tudo estava errado na cena vista e principalmente o fato de ela ter sido vista. Por que dentro, Gina só conseguia pensar que a cena seria perfeita sem espectadores. E depois pensava em Draco. Pensava em falta. Pensava em cada uma das brigas recentes e sentia o peito vazio e doído. Um peito oco. Sentia-se toda oca. Por que já não havia naquela casa grande nenhum interlocutor para nenhuma briga.
Recebeu uma coruja.
“Acabou. Não conte a ninguém sobre seu incidente com o cicatriz.”
Então apenas desembestou a chorar. Draco chamou tudo de incidente. E só se importava em ninguém saber. Não tinha nem um “como vai você” e Gina sentiu-se descartável. Achou tudo aquilo uma merda. Nenhum envolvimento sentimental como o dela e de Harry poderia ser classificado como incidente. Era explosão pensada. Coisa pesada. Sabotagem.
Quis que Harry estivesse ao lado por que tinha certeza que treparia melhor que nunca depois daquele bilhete. Seria um sexo de raiva dos mais apaixonados. Mas depois engoliu a idéia junto com soluço. Aquela maldita culpa estava lhe ocupando a cabeça.
***
- Eu poderia falar com Draco Malfoy? – perguntou a um dos duendes.
- Da parte de quem?
- Dian... desculpe. Hermione Granger.
Esperou no saguão do Gringottes e nada de Draco. Foi conversando com um duende ou outro. Tentava driblar a antipatia e ouvir histórias. Nada de Draco chegar. Conseguiu algumas falas de funcionários e clientes do banco. A matéria já podia inclusive passar sem Draco. Ela estava indo embora quando ele apareceu.
Encaminharam-se à sala dele com a frieza habitual. Ela fez as mesmas perguntas que tinha feito aos outros. Ele não respondeu nada de interessante. Não havia nada de podre no Gringottes. Hermione quis saber histórias de famílias. Curiosidades. Draco pode oferecer-lhe muito pouco. O material dela estava todo pronto. Só faltava escrever. Draco sugeriu que dessem um passeio por onde ficam os cofres. Hermione aceitou a idéia de pronto.
Desceram pelos trilhos apenas acompanhados por um duende. Hermione foi conhecendo cofres fechados de diversos estilos. Draco não falava nada. Ia ficando tudo escuro e eles iam cada vez mais fundo.
- Onde você está hospedada, Granger?
- Caldeirão furado.
- Vamos beber hoje?
- Eu preciso terminar essa matéria.
- Qual o número do seu quarto?
- Que impertinência, Malfoy!
- Você vai beber comigo hoje. Talvez não seja ético. Mas eu acho importante que você saiba de tudo.
- O que houve?
- Mais tarde, Hermione.
Hermione riu por dentro. Ele não decidia de que nome a chamava. Os trilhos voltavam à superfície e Draco tinha olhos distantes. Cara de angústia. Hermione sentiu vontade de dormir abraçada com ele e preparar um chá. Quis fazer cafuné e dizer que tudo ia dar certo. Sentiu falta de dormir junto mesmo nunca tendo feito nada. Os trilhos subiam e ela sentia toda aquela paixão passando pelo seu corpo em ondas. Como se o leite que fervia transbordasse em seus pulmões naquele exato momento. Então a paixão corria com o sangue e Hermione não dizia nada. Cantiga de amor sem eira nem beira vira o mundo de cabeça para baixo.
Hermione só tinha o silêncio a seu favor.
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