Os Jantares de quarta-feira
Quadrilha
NA: Bem, esta é a primeira fic realmente grande que eu escrevo. Tenho muito que agradecer à Marcelle Blackstar, que foi quem betou, a Rebeca Maria, que fez a capa, e a minha irmã Marcela, que foi quem me deixou viajar e contar a idéia maluca que eu tive pra ela. Espero que vocês gostem da história.
Kisses
Anne Haze Granger
Prólogo
Os jantares de quarta-feira
De repente do riso fez-se o pranto
Silêncioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Soneto de separação,
Vinícius de Moraes
Gina levantou-se para buscar os guardanapos na cozinha, não estava com humor para feitiços. À mesa se sentavam os Potter e os Weasley junto aos Malfoy. Os jantares já eram tradição antiga. Começaram com Rony, que sempre chamava Harry e Hermione para jantar em sua casa nas quartas, depois do trabalho. Pansy adorava cozinhar, Rony adorava celebrar qualquer coisa. Eram um casal perfeito. Começaram fazendo um convite, depois veio outro, e outro, e resolveram chamar Gina também, mesmo Rony não gostando do marido dela, Draco Malfoy. Pansy gostava dele e Gina era a única Weasley que morava em Londres. Com o tempo a companhia dos Malfoy passou a ser fixa, como os jantares. Com a gravidez de Pansy, ficava difícil pra ela cozinhar. Hermione propôs que os jantares fossem transferidos para a sua casa. Gina impôs que fosse feito um rodízio. Os Weasley só sediariam os jantares de quarta-feira uma vez por mês, Pansy fazia questão.
Quando o filho de Pansy nasceu, os jantares prosseguiram, como o rodízio. E na quarta em questão, jantavam na casa de Draco e Guinevere Malfoy. Draco não fazia muita questão de esconder que não gostava daqueles jantares nem daquela tradição estúpida. Preferia estar jogando pôquer, como fazia antes do Weasley inventar aqueles malditos jantares. No entanto, Draco sempre fora educado com as visitas, em especial com Pansy e Hermione.
Gina voltou com os guardanapos, e em seguida, o elfo serviu o frango ao molho de vinho e laranjas que ela tinha feito. Ninguém falava nada, naquela noite, o clima estava pesado, Rony e Pansy não estavam bem. Hermione e Draco ficaram do lado dela, Gina e Harry, do lado dele. Discutiram enquanto tomavam vinho e beliscavam salame italiano, então, pelo bem dos jantares, eles ficaram quietos. Gina ainda olhava feio para o marido, que olhava feio para o Potter que olhava feio para a mulher, que olhava para Gina pedindo socorro.
Veio a sobremesa e o costumeiro drink. Tudo ficou como estava. Hermione, então, tomou a iniciativa de se levantar e ir falar com Rony.
- Como isso começou?
- Como começou o quê? - ele se fazia de desentendido, talvez não quisesse falar, mas Hermione insistiu.
- Esse mal estar de vocês, você e a Pansy.
- Ciúme. Ela tem ciúme de mim com a Lovegood e eu dela com aquele trasgo.
- Trasgo?
- O assistente dela.
- Você já falou pra ela?
- Não. Nem vou falar. Já basta ela falando pra mim. Será que ela não percebe que eu sou louco por ela e que nunca a trairia?
- Você tem mesmo ciúme do trasgo ou finge ter pra ela não ser a única ciumenta?
- Acho que ele é pouco pra ela. Acho que não tenho. Mas ela fica mais com ele que comigo. Sei que ela está brava. Acha que estou com a Luna. Não agüento esse ciúme dela e não sei retrucar. A culpa é desse ciúme.
- Eu acho que não é esse o ponto. Ela disse que você está distante.
- Ela passa o dia no escritório e deixa o Arthur por conta da babá.
- Ron.
- A culpa é dela. Ela começou com isso de ciúme e ela que se escondeu de mim.
- Ninguém tem culpa de nada. A gente briga é por estar procurando um culpado. Você está entendendo onde eu quero chegar?
- Não. Eu não estou entendendo nada. Eu sei que eu sou louco por aquela mulher e que estou em pânico por medo de perdê-la.
- Não vai perder. Fala isso pra ela.
- Ela está brava.
- O motivo é tão pequeno que nem vale à pena. O motivo dos dois. Vocês se gostam. Fala com ela. Dá uma flor de presente. Explica que você só está confuso.
- Eu não estou.
- Então o que está acontecendo?
- Não sei. Sei que está machucando.
***
- Não sei, sei que está machucando. - Pansy respondia à Gina, quando ela perguntou o que estava acontecendo.
- Vê se fala com ele que era só um ciúme sem fundamento.
- Não era sem fundamento.
- A Luna é gay.
- O quê?
- A mulher de quem você está com ciúmes gosta de mulheres. Você achava que ela morava com a Cho só por que elas eram amigas? Nunca foram. Elas são um casal.
- Então o... Ah... Se bem que eu nunca a vi com garotos... E ela sempre foi esquisita. Tinha que ser mesmo...
- Pansy, não exagera. Fala como se fosse um defeito.
- Não importa o que a Lovegood faz na cama. Vou falar com o Ron.
- Se acalma um pouco, antes. Não precisa contar que a Luna é casada com a Cho. Ele sabe. Todo mundo sabe. Enfim...
- Sou uma estúpida.
- É humana e saiu de uma gravidez há menos de um ano. Não recuperou seu corpo e não se sente tão sexy. Tenho certeza que o Ron te acha sexy.
- É isso mesmo, eu acho. Eu não era gorda assim. Eu tinha o seu corpo, mas tinha mais peito. E agora estou flácida.
- Está linda. Tem luz na sua cara. A gravidez só te fez bem.
- Estou feliz sim. A gente tem crises. Mas a gente se adora.
Pansy sorria, rindo de si e rindo ao lembrar como tudo começou entre ela e Rony. Ela roubou um beijo dele no baile de formatura. Nem foram juntos, ela estava com Draco, ele estava com a Luna Lovegood. Aconteceu que a Luna teve dor de cabeça e o Draco foi para um desses cantos com a Gina. Pansy, então, num misto de raiva de Draco, desejo reprimido e tequila, pulou em cima do único cara sentado durante o baile: Ron Weasley. Trocaram beijos e carícias o resto da noite. No dia seguinte ela não deu as caras. Ele estava surpreso com ela. Ela estava com vergonha dele. Ele procurou, ela fugiu, ele voltou a procurar, ela cedeu. Estavam casados até hoje e volta e meia tinham uma ou outra briga, na maior parte das vezes, por ciúmes. Gina acariciava os cabelos de Pansy deitada em sua cama. Pansy nunca tinha sido sua amiga, mas de um jeito estranho tinha virado a mulher do irmão. Se davam bem.
***
Na ante-sala, Ron e Hermione continuavam conversando: ele, decidido a conversar com Pansy, ela, morrendo de sono. Ele falou mais umas cinco vezes sobre como se sentia infantilmente estúpido e carente. Disse pra Hermione que nada daquilo ia acontecer e ela fingia ouvir.
Na sala, tinham sobrado apenas Draco e Harry, bebendo whisk de fogo e conversando sobre assuntos triviais. Os dois até se davam bem. Draco só não tinha conseguido se entender com Ron, com todo o resto ele era capaz até de dialogar. Harry achava que Gina tinha feito boa escolha, era melhor o Malfoy do que o Neville, mesmo o Neville sendo boa gente, era pouco para a pequena e avassaladora Guinevere Weasley. Harry tinha perdido as contas das vezes em que ouviu Neville falar de Gina. Ele achava que ela às vezes até dava corda. Era meio insegura e precisava alimentar o ego. Draco nunca soube da paixão de Neville pela sua esposa.
Resolvido o problema dos ciúmes de Pansy e da carência de Rony, os dois resolveram ir embora. Arthur já estava com a babá há tempo demais. E o casal tinha assuntos pendentes. Não puderam ficar para a tradicional conversa pós jantar.
Sentaram-se nas poltronas da sala Malfoy, então: Draco, Harry, Gina e Hermione. A princípio nenhum deles puxou assunto algum. A noite tinha sido comprometida pela briga do único casal realmente estável. Se aquele casal ruísse, que outro restaria? Tanto Harry e Hermione quanto Draco e Gina viviam de aparências. Os jantares faziam parte do ritual.
- Ainda não acredito que alguém consiga brigar por ciúmes - Hermione pensou alto, mas todos na sala ouviram.
- Não tem ciúmes de ninguém, Mione? - Harry perguntou, num tom calmo e curioso.
- Até sinto. Mas não acho que exista um vínculo entre seres humanos que seja forte o suficiente para prender um ao outro. Como mercadoria. Acho que há pessoas que ao invés de marido, querem objeto, e que não querem ser esposas, querem ser objeto. Ficam então numa coisa mútua. Um é mercadoria do outro, um é cativo do outro. O lar vira uma cadeia e o ciúme balança as grades.
- Ciúmes são saudáveis. Animam a relação - Gina disse uma daquelas frases feitas de livro de auto-ajuda. Draco ergueu a sobrancelha, ela continuava viciada naqueles malditos livros inúteis.
- Que espécie de relação é essa que precisa de ciúmes pra se manter interessante? - Draco questionou a mulher.
- Aí é que está. Ninguém precisa realmente sentir ciúmes. - Hermione concluiu.
- Não mesmo. Uma relação se faz entre as pessoas envolvidas, e o sentimento que as ligou. - Draco disse baixo, mas firme.
- E a fidelidade? - Harry começou. - Se não tivessem inventado a fidelidade, o ciúme talvez não existisse.
- Existiria - ouviu-se a voz calma de Gina.
- Pra quê? - Harry retrucou.
- Porque, como disse a Hermione, queremos objetos, não pessoas, e temos ciúmes do que é nosso.- Gina começou. - Sua firelbot não lhe pode ser fiel, no entanto, você não empresta a ninguém por ter ciúme.
- Vai além da relação entre seres humanos - Hermione concluiu.
- Potter, o ciúme já não serve para nada, não serviria se não houvesse fidelidade - Draco disse, num tom cinicamente didático.
- Há fidelidade? - Hermione botou fogo na discussão.
- Entre mim e minha esposa há sim. Não sei se você e o Potter são assim, mas eu e Gina não transamos com outras pessoas.
- Também não fazemos isso - Harry respondeu, firme, à provocação de Draco.
- E qual é o vínculo que te prende unicamente à sua esposa e te impede de estar com outras, ou outros? - Hermione perguntou para Draco, fuzilando-o com os olhos.
A sala ficou em silêncio. Gina não sabia a resposta, Draco tampouco e Harry simplesmente não se importava. A mulher dele acreditava que não havia vínculo algum e já tinha falado isso com ele. Ele tinha medo dela ser infiel, mas não acreditava que ela pudesse ser. Olhou no relógio e anunciou que era hora de ir. Mesmo Gina tendo protestado, eles foram.
Draco, então, enquanto a mulher terminava de ordenar os elfos, preparou a banheira e levou o champanhe e duas taças para o quarto. Apesar de todas as discussões daquele dia, aquela noite seria deles. Ela entrou exausta no quarto e ele a despiu e pôs no ofurô, como uma boneca. Ele entrou em seguida, massageando os ombros e o pescoço dela. Ela merecia. Naquela noite ela merecia.
Ou talvez ele estivesse começando sua política de “panis et circensis”. Sabe-se lá pra quê.
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