continuação



Segunda Parte

Começamos a construir. Primeiro trocamos idéias, desenhamos o castelo, compramos o terreno e o material, brigamos, mas finalmente começamos a construir. Nós quatro, com as varinhas nas mãos, colocamos tijolo em cima de tijolo. Tudo isso é mágico, é como ver tudo se repetir, os beijos e abraços, as palavras e os carinho, o amor...
Salazar não liga para mim, ele apenas brinca comigo porque sabe que eu me importo. Mas eu confesso, quando ele me olha eu agradeço por existir e me sinto tocada. Ele finge que eu não existo, mas responde as minhas perguntas. E quando eu penso que ele vai falar comigo ele fala sozinho. Será que nada do que sentimos ainda o toca?

Está quase no final, logo Hogwarts vai estar inteira e receberemos nossos primeiros alunos. Alguns já procuram vagas e elas nem estão abertas. A publicidade que Salazar conseguiu com o seu prestigio entre os mais importantes fez com que escola se tornasse uma grande expectativa em todo o mundo bruxo. Estamos todos muito ansiosos.
Apenas lamento pelas brigas. Salazar não aceita certos alunos, Rowena quer uma prova para as vagas serem apenas para os melhores, já Godrico prefere outro tipo de seleção. É praticamente uma guerra de conceitos e crenças. Semana passada criamos o chapéu seletor e quatro diferentes casas. Slytherin que só aceita os puros sangues e orgulhosos por serem tal, Revenclaw que só aceita os mais inteligentes, Griffindor que fazem parte os nobres e corajosos, e Huflepuff, na minha casa quem quiser fazer parte desse sonho será bem-vindo.
Às vezes eu gosto de andar pelos corredores e salas imaginando os meus jovens, as traquinagens. Com será daqui a mil anos? Muito diferente. Outros conceitos, outras proibições, outras paixões.

— Então essa será a sala comunal da sua casa? — Salazar se virou e me olhou com aquele olhar frio de sempre.
— Você gostou?
— É um pouco fria.
— Imaginei que você não iria gostar.
— Eu não disse isso.
— Não importa.
Ele voltou a admirar a escura paisagem. Salazar estava diferente, eu não o conhecia. Por mais que me lembrasse de um tempo em que tudo era diferente, aquele homem por quem me apaixonei já não existia. A pessoa que eu conheci há uns anos atrás não passa de apenas lembranças.
— Parece que você começou a gostar da escola, está até imaginado os alunos por aí.
— Você acha?
— Acho.
— Não tente imaginar o que penso, você não sabe nada sobre mim.
— Eu sei mais do que você pensa. — Deu leve sorriso sem animo.
— Você não me conhece. Não me lembro de alguma conversa nossa que tenha durado mais que 3 minutos. — Olhei para baixo tentando não pensar no que já foi.
— Então eu errei?
— Imaginar alunos por aí não quer dizer ter afeto por eles ou pela escola. É apenas uma questão lógica, estamos fazendo isso para eles, não?
— Tem razão. — Passou algum tempo em que eu fingi não estar percebendo o seu olhar sobre mim. — Eu nunca vou saber quem você é?
— Não sei porque ainda tenta.
— Por que eu tenho esperanças.
— Esperanças do que?
— Esperança de um dia você ser diferente.
— Por que ainda pensa que eu posso ser ‘diferente’?
— Porque eu sei que sim, simplesmente sei.
— Por quê?
— Porque eu te amo e você me ama também. — Agora ele rio, uma risada irônica e sem animo. E os meus olhos sensíveis tentavam não se alagar.
— Era o que imaginava, uma brincadeira. Você não sabe sobre os meus sentimentos. — Estava sério agora. — Não sabe seu eu tenho sentimentos, o amor é para fracos.
— Você pode pensar o que quiser, mas nunca despreze o que desconhece, ou então não se lembra. Você não sabe metade do que pensa saber.
— Aonde você vai? Isso, chore, corra, fuja dos seus problemas e depois me responda se isso não é fraqueza.
Eu corri o máximo que pude até não agüentar mais, precisava de um refugio e parei apenas no sétimo andar. Com um feitiço fiz uma porta aparecer, entrei e me escondi, deitada em umas almofadas eu chorei. Chorei porque tudo aquilo não existia mais e porque todos os meus sonhos eram simples utopias. Como um amor tão grande pode se transformar em nada de repente? Eu o vejo todo o dia e observo. Seu jeito de andar ainda é o mesmo apesar de seu nariz ficar cada vez mais empinado, e seu olhar também ainda que quando recai sobre mim se torna irreconhecível. Como eu queria que se lembrasse pelo menos por um dia, ou que nunca tivesse recuperado a memória. É tudo tão difícil.
Depois de algum tempo sai de lá decidida a manter aquela sala secreta, uma sala que se moldaria ao desejo de seu visitante. Eu imaginava quantas jovens acabariam naquele local após uma desilusão amorosa, quantas coisas proibidas aconteceriam, quantas coisas escondidas, quantos mistérios, amores, amizades, primeiro amor, primeiro beijo... Quando a dor passa me arrependo de ter desejado um dia nunca tê-lo conhecido.

Recebemos nosso primeiros estudantes, a escola estava cheia. Eu lecionava Herbologia, Godrico transfiguração, Rowena feitiços e Salazar defesa contra as artes das trevas. Infelizmente as brigas continuavam. Mas aos poucos Salazar se cansou de insistir, o que não parecia um bom sinal. Misterioso ele passava muito tempo ausente e não tínhamos idéia do que fazia. Até que um dia ele nos disse que iria abandonar a escola:
— Eu não posso andar pelos corredores e ver todos esses sangues ruins. Vou esperar acabar o semestre e então vou embora. Mas vocês podem ter certeza que enquanto o meu sangue correr nessa escola esse mestiços não estarão seguros.
Todos ficamos apreensivos com tal revelação, mas não tínhamos idéia do que poderíamos esperar.

— Você nunca vai nos aceitar?
— Por que pergunta se já sabe a resposta?
— Porque eu ainda espero e sempre vou te esperar.
— Como você pode sentir algo por mim se eu nunca te tratei bem?
— O amor vai muito além elogios e carinhos.
— Não perca seu tempo, apenas agradeça por eu ter convivido com você todos esses anos. É o máximo que pode acontecer.
— Eu agradeço todos os dias. — Um sorriso irônico surgiu em seus lábios. — Se vivêssemos em um mundo onde não houvesse diferença nem preconceitos você pensaria em mim?
— Esse mundo não existe. Você não tem noção do quanto essa fraqueza te deixa patética.
— Eu não me importo... — Essa ultima palavra saiu fraca porque Salazar se aproximava de mim e depois de muito tempo eu pude sentir o calos dos seu lábios mais uma vez. Mas ele não me beijou, apenas sorriu ironicamente e se afastou balançando a cabeça em sinal de desaprovação. Me recuperei o mais rápido que era capaz e perguntei:
— O que você quis dizer aquele dia.
— Eu quis dizer que não importa quanto tempo passe o sangue mestiço dos seus adoráveis alunos ainda vai rolar pela essas paredes.
Alguns dias depois ele se foi sem ao menos se despedir de mim e me deixou sem saber se um dia o veria de novo.

Com o tempo aprendi a sobreviver com a sua ausência, os primeiros dias foram péssimos, eu chorava e não conseguia lecionar. Cada casal pelos corredores era uma tortura. Mas quando o tempo passou as semanas foram mais rápidas e cada vez mais eu me dedicava àquela escola. Cada sorriso dos alunos era como o sorriso de Salazar, cada gesto de carinho era um beijo ou um abraço. Eu era feliz assim.

— Você parece tão bem. — Rowena se juntou a mim olhando por uma janela no 5 andar. Dava para ver os alunos brincando com a neve.
— Eu estou bem.
— Depois que Salazar se foi você parece mais aliviada. — As pessoas não faziam idéia do peso que eu carreguei naquele dia.
— Todos nós estamos eu acho, principalmente depois de não achar nada diferente no castelo. Você acha que a ameaça de Salazar é real.
— Eu tenho certeza. Às vezes eu temo por isso.
— Vai dar tudo certo. — Ela sorriu. — Você o ama não?
— Como?
— Você ama Salazar tanto quanto essa escola ou até mais. Está estampado na sua cara.
— E Godrico?
— Godrico é um grosso, prefiro morrer solteira.
— Não fala isso.
— Ele nunca perceberia nem que eu desenhasse.
— Ele é um bom partido.
— Você sabe que não me importo com isso. Não sinto nada demais por Godrico, é apenas a convivência. Há muito tempo não converso com pessoas interessantes além de vocês.
— Nos entregamos a essa escola.
— Não mais que você.
— Não comece outra vez.
— Você vive essa escola, ama e é feliz por essa escola.

Eu via em cada canto o rosto de Salazar, em cada luz os olhos do meu amor e em cada sorriso a felicidade que já foi minha.
Apesar de tudo a minha saúde não ia bem. Era alegre e doce com todos, mas por dentro eu ruía.

Tenho 79 anos e ao contrário do forte Godrico estou doente. Dei a minha vida e juventude a escola. Mas agora vejo tudo ruir , aos poucos os sorrisos parecem tristes e o rosto De Salazar desaparece em minha mente. Com ele está agora? Com cabelos brancos? Barba? Eu não sei, não consigo me lembrar da sua imagem, foram quase 50 anos. Meu amor... dizem que no momento da morte a via inteira passa pela minha frente, estou morrendo então peço para que eu veja e possa recordar e sentir outra vez o amor que reinou naqueles dias. Eu o esperei incansavelmente e a cada barulho da porta se abrindo uma esperanças se acendia em mim. Ele nunca voltou, mas se a minha vida continuar esperarei, e se ele não aparecer esperar irei durante toda a minha eternidade.

Os seus últimos dias passavam e Helga se agarrava aos restantes fios das lembranças, pensava em como contariam a sua história. Um dia saberiam desse amor? O seu desejo se cumpriu e ela pode reviver todos aqueles dias e carinhos. Um sorriso emergiu em sua mente e após seu último suspiro a imagem de Salazar, agora as 83 anos, abrindo a porta de seu quarto a sua procura tomou os seus pensamentos finais. Se aquilo era real ou apenas a ilusão de um último desejo se cumprindo, Helga nunca saberia.

Era um caixão branco. Rowena e Godrico acompanhavam o enterro.
— É um bonito caixão.
— Salazar?
— Como vai Rowena?
— Por que demorou tanto tempo? Por que só agora que Helaga não está mais aqui?
— Não é nada pessoal.
— Jura? Ninguém nunca conseguiu mentir para mim, não é você que vai.
— Ela era só mais uma sangue ruim.
— Mentira.
— Foram vocês que decidiram todo o enterro. Gostei das flores desenhadas no caixão.
— Acha que ela iria gostar?
— Ela vai.
— Sei que você não perguntou, mas acho que gostaria de saber: ela foi feliz, com ou sem você.

Era assim que toda história iria terminar, acabou. Salazar não podia dizer sim a um sentimento tão desconhecido, fraco e infantil. Nada poderia romper as barreiras do seu preconceito e ódio contra todos que não são bruxos e puros. Esse foi um dos motivos que o fez partir, agora não precisava mais fugir. Mas no fundo ele sempre amou a escola e sempre soube que ele era mais que um simples local. Se existisse um mundo onde não houvesse diferenças nem preconceitos ele se entregaria a essa loucura sem pensar duas vezes.


Fim

Espero que vocês gostem, então comentem!!!!!!!!

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Comentários (1)

  • HiHeloise

    Eu não acredito que ele esperou ela morrer pra fazer alguma coisa!!! Eu sei que tem seis anos que essa fic foi escrita... Mas seria legal se você escrevesse mais com esse casal. Já tem uma leitora garantida.

    2012-07-26
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