Hogwarts: Uma história



Hogwarts: uma história



É estranho olhar a foto dele e pesar que talvez ele nunca mais me olhe com ternura. É difícil admitir o... Eu não quero chorar, quero que ele me veja amanhã feliz, como quando nós nos conhecemos. Mas não consigo conter a lágrimas e sempre que me olho no espelho vejo só metade de mim. E a metade do meu coração fica apertada porque a outra metade não existe mais! O meu medo é que a frágil parte que ainda me resta do coração se quebre em pedacinhos, como aconteceu com a outra parte que ele arrancou de mim quando sumiu. Mas um inquestionável sorriso eu sinto se formar em meus lábios quando eu me lembro de como nos conhecemos. Na época ele não se lembrava de quem era, nem mesmo que era bruxo. Ele andava por aí perdido, sem saber quem era ou para aonde iria. Eu estava indo pra o Beco Diagonal comprara um caldeirão novo porque o meu estava velho e furado. Como moro com os meus pais em uma cidade pequena perto de Londres, me perdi. Ele estava sentado em uma pequena mesa redonda de uma lanchonete, estava tão sério que me deixou intrigada a ponto de decidir que seria ele quem me diria onde estava. Caminhei até a mesinha:
— Com licença, desculpe te incomodar, mas eu estou perdida e... — Ele me estudou cada centímetro com seus olhos frios e acinzentados. Senti-me nua, como se ele pudesse me decifrar desde o superficial até o mais intimo da minha alma apenas com aquele olhar prepotente. Fechei a cara incomoda. — E eu queria saber onde estou.
— Como você pode não saber onde está? Você veio até aqui! — Sua voz era grossa, macia e arrastada. Dava-me arrepios.
— Eu não estou brincando, estou com pressa.
— Se estivesse com pressa teria prestado atenção aonde seus pés te levavam. Aonde vai com tanta pressa assim? — Ele deu um leve sorriso cínico, forçado e agradável.
— Não é da sua conta!
— Você que sabe. — Respondeu tranquilamente enquanto se levantava para ir embora.
— Espere! — Não queria que ele fosse embora e me deixasse sozinha ali. — Não vai dizer onde estou?
— Hum... — Fez uma cara com se estivesse estudando a hipótese. — Acho que... Não!
— Por quê?
— Porque... Não é da sua conta. — Ele parecia finalmente tocado.
— Não vai me dizer que também não sabe aonde seus pés te levaram? — Foi a minha vez de sorrir feliz com a possibilidade de ferir o seu orgulho.
— Claro que eu sei! Estamos na Charles Street.
— Hum, e onde fica essa rua? — Deixei-o sem palavras. — Sou Helga Huflepuff. — Estendi a mão para ele. — Podemos descobrir juntos. — Ele olhou para a minha mão e a estudou por alguns segundos, depois olhou para mim com se dissesse “ você espera mesmo que eu aperte a sua mão?” Eu a recolhi. — Como quiser!
Virei-me e sai andando com raiva. Dei alguns passos pensando como alguém podia ser tão arrogante até que senti esse alguém no meu calcanhar. Virei-me e o vi com sua pele pálida, cabelos negros até os ombros e sua presença marcante. Era uns 20 centímetros maior que eu que não passava de 1,65.
— O que você quer? — Perguntando como se ele não devesse estar lá e como se não quisesse vê-lo.
— Eu não lembro quem eu sou.
Ele lutou contra si mesmo para dizer aquilo, e assim me nocauteou. Contou-me que acordou de manhã caído em um beco sem saída e que estava andando a algum tempo tentando se lembrar de algo. Era 3 da tarde quando o encontrei. Passamos o dia inteiro juntos, fomos até o hospital onde ele passou a noite para depois fazer alguns exames. Depois o levei para a casa de uma amiga que estava viajando. Rowena Revenclaw era uma bruxa de família nobre e rica, por isso escondi tudo o que tivesse algum rastro de magia com alguns acenos da varinha. Pensei em paralisar algumas fotos, mas me lembrei que ela era mais bonita que eu com seus cabelos ruivos e disciplinados, ora enrolado, ora liso; e sua beleza fina e esperta. Ela é a bruxa mais inteligente que já vi.
Ele ficou comigo durante três semanas, os exames não entendiam a perda de memória que não deixara rastros e nem sabiam se voltariam. “Ele” era sério e nunca sorris, além dos sorrisos cínicos, forçados e elegantes que só ele sabia dar. Conversávamos sempre e uma vez até sonhamos juntos.
— Olhe que bonitinhas!
— São só crianças. — Ele subestimou uma fila de garotas vestidas com um uniforme azul de escola que eram seguidas por uma prepotente professora.
— Eu gosto delas, imagine como seria ter uma escola e ver seus alunos crescerem e virarem pessoas de bem. Vê-los passando pelas fases da adolescência, tanto as ruins quanto as boas.
— Eles nunca entenderiam, nem retribuiriam os seus esforços.
— E eu nem quero que os façam. — Ele me olhou tentando entender.
— Dariam trabalho demais.
— Talvez, mas seria legal. Imagine uma escola justa para todos.
— Nem todos merecem.
— Onde todos aprenderiam e se divertiriam fazendo laços fortes de eterna amizade.
— Isso nunca aconteceria.
— A não ser que fosse uma escola integral.
— Um internato para crianças mal criadas que os pais não querem mais.
— Uma escola que as crianças sonham e anseiam para entrar, junto com os pais que querem um bom futuro para os seus filhos.
— Você teria que fazer mágica.
— E por que não?
— Uma escola com reputação.
— Isso!
— Famosa. Onde os melhores aprendem a ser cada vez mais. Uma linhagem social diferenciada e superior.
— Não exatamente.
— Por que não? Assim teríamos um grupo seleto de amigos que teriam o mesmo interesse.
— É claro que sim, mas por que não vários grupos seletos de amigos.
— Porque vários grupos seriam menores grupos. Ao contrário de um grande grupo seleto de amigos.
— Para dominarem os mais fracos?
— Exatamente!
— Você estragou o meu sonho.
— Não, eu aprimorei o nosso sonho.
Apenas ri enquanto ele me observava, e quando percebi, ele sorriu, mas um sorriso sincero, grande simpático, alegre, bobo... Eu me lembro perfeitamente daquele sorriso, que foi o mais lindo, marcante e importante da minha vida. Eu me perguntava se aquele fora o seu primeiro sorriso ou se pelo menos ele tinha consciência do quanto era lindo sorrindo. Eu sorria tolamente para ele.
É impossível dizer quando foi que me apaixonei por ele, só sei que quando percebi já estava perdida por ele.
Ficamos juntos só na terceira semana. E entre beijos e juras de amor existia uma certeza de eternidade.
— E quando você lembrar?
— Se eu lembrar, nada vai mudar. Ficaremos juntos e construiremos nossa escola. — Deis risada. A escola apenas simbolizava a nossa vida juntos, não era real. Hoje parece que nada foi real.
No final daquela semana ele sumiu. Disse que ia comer algo no café que sempre íamos e nunca mais voltou. Eu esperei, procurei, mas no fundo sabia que havia lembrado de sua vida e fora vivê-la como sempre. Sem mim! Eu sonhava e corria para a porta ao ouvir um som. Meus pais preocupados me perguntavam o que aconteceu, mas eu sempre respondia “Nada, só estou cansada”.
Rowena chegou uma semana depois e eu não contei nada sobre ele, sobre o nosso amor ou sobre as noites acordadas em que eu olhava para a janela na esperança de ver a sombra dele. Eu apenas contei sobre a escola:
— não, não é besteira! — Ela tinha o cabelo liso hoje. — Imagine jovens na biblioteca estudando para as provas, estudando nos jardins. Ou então sonhando em entrar e descobrir os segredos do castelo!
— Castelo?
— É claro. Prepare-se, vamos fundar essa escola.
— Só nós duas?
— Não encontraremos outras pessoas que queiram se unir a nós.
*E encontramos. Godrico Griffindor era alto e tinha ombros largos. Seu cabelo dourado mais claro que o meu se assemelhava com uma juba, era corajoso, fiel e poderoso. Ele adorou a idéia da escola:
— Os alunos sairiam da escola prontos para serem os personagens mais importantes da história bruxa.
Nós três éramos inseparáveis e Rowena esperava apenas mais alguém para começar a escola. E para Griffindor esse alguém tinha um nome, era Salazar Slytherin.
— Somos muito deferentes, Salazar é arrogante, mas tem suas qualidade, eu sou corajoso, e você é inteligente. Seria perfeito.
— Talvez ele seja arrogante demais.
— Eu sei que você o estima muito sabemos também que a ajuda dele seria, sem duvida, decisiva.
— Ajuda no sentido financeiro e político? Sim, talvez nesse ponto você esteja certo.
— Acho que isso traria um bom equilíbrio para a nossa escola. — Me fiz presente.
— Concordo, mas não sei se Salazar aprovará a idéia.
— Semana que vem ele voltará, e nada melhor do que perguntarmos para ele. — Griffindor encerrou o assunto.
Alguns dias depois jantávamos juntos no Beco Diagonal:
— Olhe isso, encontrei em casa hoje. — Rowena tirou da bolsa umas fotos. — Têm nós três nessa. — Olhei de longe a foto, era a mesma que vi no apartamento dela há alguns dias, me lembrei daquele tempo. — Olhe Helga, esse é Salazar.
Eu peguei a foto devagar e quando virei meu coração acelerou depois de uma rápida parada. Era “ele”!
— Tudo bem? — Não respondi. — Helga! — Rowena me chamou a atenção.
— Hã?
— Tudo bem?
— S..sim.
— O conhece? Acho meio difícil. — Deu um sorriso. — Ele tem aversão a trouxas, só aceita sangue puro no seu circulo de amizade.
— A não ser que você o conheceu quando ele perdeu a memória.
— Eu duvido que ele consiga esquecer seu ódio mesmo sem memória.
— Não seja mal.
Eu apenas observava e absorvia cada palavra.
— Não dá para saber. Ele esqueceu de tudo que viveu naquelas três semanas quando voltou a memória. Como uma substituição.
Rowena guardou as fotos, mas eu consegui afanar uma. Agora eu olho para ele e não consigo acreditar nem me conformar que aquilo tudo não foi real. Amanhã eu vou vê-lo na esperança de despertar alguma lembrança, algum sentimento. Porque eu o amo e não tenho defesa contra isso.

O café está esfriando e até agora não consegui tomar um gole. Por que ele não chega?
— Finalmente.
— Rowena levantou e abraçou Salazar. Eles vieram até nós. Em pensar que há algum tempo eu escondi todas as fotos de Rowena para que ele não visse sua beleza. Salazar cumprimentou Godrico e depois fui apresentada. Ele não ri, fica o tempo todo sério e ás vezes me olha.
— Então Salazar, como foram as coisas?
— Ah, meu amigo, a viagem foi maravilhosa. Sabe aquele homem que me tirou a memória covardemente pelas minhas costas? Está em Azkaban agora.
— O que um bom nome não faz? Que maldade, isso não teria acontecido se você não tivesse insultado a família dele.
— Insultado? Que isso Rowena? Eu só disse a verdade, os sangues puros são melhores. E a prova disso é que lê nem conseguiu fazer um feitiço descente, foi temporário.
— Ah, você não muda mesmo. — Griffindor disse rindo.
— Claro que eu mudo, como um legitimo sangue puro eu me supero todos os dias.
Não falávamos sobre a escola, apenas sobre viagens. Logo estaríamos voltando para casa.
— Ei, Helga! — Salazar me chamou enquanto os outros dois discutiam educadamente quem iria pagar a conta. — Huflepuff. Não conheço esse nome. De onde você é?
— Eu não sou sangue puro, por isso você não me conhece.
Os seus olhos foram ficando cada vez mais frios e ele virou as costas. Faria tudo pra que ele voltasse e me xingasse, menos me ignorasse. Ele pagou a conte enquanto Godrico e Rowena ainda discutiam, mas agora não tão docemente.
Ele me odeia. Salazar me odeia e não adianta dizer verdade. Eu me pergunto se ele não sentiu nada, absolutamente nada naquele momento.
O inverno chegou e enquanto os dias, semanas, meses passam Salazar me ignora. Só me suporta por consideração aos seus amigos e, por isso, preciso fazer algo.O vento é sempre mais gelado pra mim e a neve sempre mais pesada. O tempo é uma dor e os olhos da pessoa amada são simples pedras mais frias do que qualquer estação. Quando o vento levanta os meus cabelos e chicoteia a minha face eu finjo não chorar, e quando o fogo esquenta a minha pele, meu coração chora como se eu não pudesse mais sorrir um dia.
— Salazar, eu preciso conversar com você. — Ele me olhou deixando claro a minha insignificância. — Eu não quero ser mais tratada assim. Eu posso não ter puro sangue, mas eu tenho sentimentos, muito mais do que você possa imaginar. Eu cansei de ser ignorada. — Lágrimas brigavam para cair, mas eu as segurava com toda a força que ainda restava em mim.
— Nunca vou entender o que os meus amigos viram em você.
— Não quero que você entenda, apenas me aceite pelo que eu sou e respeite o meu sangue.
— Você é uma sangue ruim.
— Eu sou muito mais que isso, isso está só no meu sangue, não no meu coração.
— Nunca, porque eu sei que não.
— Sabe como?
Porque ela já foi meu.
— Isso não importa. Eu só quero que você me respeite. E isso eu mereço independente do meu sangue.
— É só isso que você quer? Sem problemas.
Ele não me ignora mais, mas ainda me trata como se eu fosse um nada. Por isso eu vou embora. Vou voltar para a casa dos meus pais e deixar Rowena morar sozinha.
— Helga, o que está fazendo?
— Arrumando as minhas malas.
— Para que? Helga, você está chorando? — Enxuguei as minhas lágrimas com as costas da mão.
— Vou voltar para a casa dos meus pais.
— Mas e a escola? Godrico encontrou um local lindo! Você precisa ver.
— Rowena, não tente me impedir.
— Mas eu preciso. Salazar aceitou, nós quatro.
— Vocês não precisam de mim para fazer a escola.
— Claro que precisamos, a idéia é sua.
— Não, é nossa.
— Isso, nossa, mas é por você que vai acontecer, porque sempre que eu pensei em desistir foi a lembrança dos seus olhos que me fizeram continuar. O brilho dos seus olhos deixa claro o seu amor pela escola. É o equilíbrio. Somos muitos diferentes, e querendo ou não, é você o ponto de equilíbrio. É você que faz a minha inteligência, a coragem de Godrico e a capacidade e poder de Salazar se tornar práticas. A escola é mais sua do que nossa. Enquanto para mim é um monumento a inteligência, para Godrico um grande feito e Salazar status, para você é amor. Porque a única coisa que unifica pessoas tão diferentes assim e a transforma em uma só coisa é o amor. E na escola é o seu amor. — Eu me sentei na cama chorando. — Quando a Salazar, ele pode dizer o que quiser, mas você não sabe o quanto é estranho ele conviver com você tão passivamente. E isso prova que você mostrou ser mais do que o seu sangue diz. Ele te respeita e está disposto a viver com você mesmo não sendo puro sangue, só você.
É ele me respeita, não pelo que eu disse, afinal qualquer pessoa pode dizer isso ou mais. Não foram os últimos dias e semanas que conquistaram o seu respeito, mas aquelas três semanas. Hogwarts será um monumento àquele tempo único que mudou a minha vida. Eu nunca direi nada sobre isso, porque o meu silêncio e a minha coragem de sofrer sozinha as lembranças que nunca esquecerei e sempre serão só minhas, manterão a ‘escola’ viva pelo resto da eternidade.


Fim

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Comentários (1)

  • HiHeloise

    Salazar cretino, como ele pode simplesmente ignorar a Helga?! Sabe, o mais bonito desse casal é a extrema diferença entre eles.

    2012-07-26
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