Feridas Ainda Abertas



Capítulo 4 - Feridas ainda abertas



Demorou um pouco até Rony perceber que tinha aparatado duas quadras do apartamento de Lilá.

Não estava conseguindo se concentrar o suficiente nem para fazer um Lumos que fosse.

Ele podia tentar aparatar mais uma vez, a rua estava totalmente vazia. Já era mais de meia-noite.

Rony olhou para sua varinha, depois para a rua iluminada em alguns pontos e em outros, escura.

“Ah...Que se dane...Vou ir andando, preciso fazer mais exercício”.

Desculpa esfarrapada, é claro. Ele não tinha pressa de chegar no apartamento da noiva.

Rony começou a caminhar devagar, com a mão no bolso do paletó que tinha usado na festa e ainda vestia.

De vez enquanto ele olhava para os lados, mas na maior parte do tempo, só tinha olhos para o chão.

Parecia que toda a vez que ele chegava perto daquela coisa chamada “felicidade”, o destino resolvia acabar com tudo.

Talvez fosse algum tipo de maldição...Uma maldição só para ruivos nascidos pobres, sem talento e destinados a viver na sombra dos outros. Se bem que nascer assim já era uma maldição por si só.

Rony soltou uma risada amarga. Olhou para os lados, temendo que alguém tivesse ouvido. Mas a rua continuava vazia.

Quando ele tinha percebido que estava apaixonado por Hermione, ele ficou assustado a principio.Mas depois, se sentiu feliz. De repente ele começava a imaginar o futuro deles juntos...Os dois abraçados perto de uma lareira em um dia de inverno...Ela lendo um livro enquanto ele ficava do lado brincando com o filho...Um passeio em uma praia deserta...Um dia no estádio de Quadribol, torcendo juntos pelo Canhões...Uma briga e depois uma reconciliação apaixonada...

Ele podia dizer, honestamente, que o feito que provou que ele realmente pertencia a Grifinória não foi matar Comensais ou agüentar um Crucio...Foi ter se declarado para ela.

Ele tomou coragem e disse. “Eu te amo”. Todas as três palavras.

E aí...A realidade chegou.

Ela não amava ele. E ele nunca tinha se sentido mais devastado, mais trucidado, acabado e infeliz do que quando percebeu isso.

Mas...Mesmo assim, ainda tinha a amizade dela. E por um tempo, ele achou que iria ser o suficiente. Mas não foi. Então ele foi covarde e fugiu.

Dois anos nos Estados Unidos jogando Quadribol de segunda categoria e dormindo nos fundos da loja de logro dos gêmeos tiraram Hermione da cabeça dele. Não do coração, mas assim mesmo ele sentia que estava realizando algo e isso o tornou feliz.

Foi com confiança que Rony tinha aceitado o emprego no time Puddlemore. Ele pisou em solo inglês acreditando fielmente que nada poderia estragar aquela frágil felicidade que tinha conquistado.

Mas o destino puxou o tapete novamente. Rony caiu de traseiro no chão. E doeu...muito.

Hermione estava noiva. Não de qualquer homem...Não, claro que não! Não seria doloroso o suficiente...Tinha que ser do seu melhor amigo.

Melhor amigo? Na hora Rony tinha duvidado disso. Que melhor amigo simplesmente rouba a garota do outro?

Mas ela não era a garota dele. E nem queria ser.

Ele evitou os dois o máximo que pôde. Sentia nojo de ver os dois de mãos dadas...Queria matar Harry quando os se abraçavam...E nem queiram saber o que ele queria fazer quando via os dois se beijando.

Sentia que algo estava errado ali...Era estranho, como se os dois juntos não estivesse certo.

Ele estava sobrando e os três sabiam disso. Como podiam continuar sendo melhor amigos assim?

Rony não queria perder amizade deles, então se distanciou.

E isso deu certo. Concentrou-se em jogar Quadribol, era ainda um mero reserva mas impressionava quando o titular não podia jogar.

E não só sua carreira melhorou como também tinha encontrado uma namorada...Isabelle...Do que mesmo?

Rony riu alto novamente...Nem se lembrava direito do nome da francesa.

Isabelle tinha...Aquecido o lado esquerdo de sua cama. Fora divertido enquanto durou.

E com a ajuda dela e do Quadribol, Rony conseguiu convencer ele mesmo e Hermione de que tudo o que tinha sentido fora apenas paixonite adolescente.

Harry e Hermione se casaram. E Rony só queria que os dois fossem felizes.

Não seria justo, então...Que agora fosse a vez dele ser feliz?

Era pedir muito?

Será que Lilá não poderia simplesmente falar “Eu não me importo com o dinheiro, só quero você”? Não era uma frase muito grande...Não custava nada falar...

Rony parou de andar. Deixou um longo suspiro escapar e pensou nas palavras de Gina.



“Lilá não é a pessoa certa para você...”



Ele encostou na parede mais próxima.



“Você não vai ser feliz com ela porque ela não te ama...”



Começou a deslizar, até sentar no chão.



“Ela não te ama...”



Colocou as mãos no rosto.

Ele ia perder Lilá. Sabia disso. Ela iria cancelar o casamento e ele ia ter que confrontar a verdade.

Novamente ele tinha perdido a chance de ter alguma felicidade, mesmo que superficial. Perdeu o emprego, provavelmente nunca mais ia jogar Quadribol...E para completar ia descobrir, a algumas semanas do casamento, que a noiva só estava interessada nele por causa de seu dinheiro...Podia ficar pior?

- As coisas podem ficar piores ainda...Vamos lá...Faça chover agora. Com raios e tudo! Eu te desafio! - gritou ele para o nada.

Ele esperou, mas a chuva não veio. A noite estava clara, a lua brilhava e céu estava estrelado.

Rony abaixou a cabeça, irritado com aquela noite perfeita.

Ele se sentia só. Não importava se estava num salão de festas lotado ou numa rua londrina vazia. Continuava sozinho.

Lembrou de Hermione na festa. Como ela estava linda...

“Não! Não vou pensar nela assim...Não...Harry é meu melhor...”

Desta vez Rony bufou. Esqueceu de seus problemas e pensou nas taças de vinho que Hermione tinha tomado.

Sabia que algo estava errado. Mas o que era ainda precisava descobrir.

Tudo tinha sido sempre perfeito para ela e Harry. Os dois tinham sucesso no trabalho. Tinham tudo!

E Rony nunca tinha visto os dois brigarem. A única coisa que ele estranhava naquele casamento perfeito era que até agora não tinham tido nenhum filho.

Fora isso...Perfeição...O que poderia estar acontecendo?

Será que o problema era apenas com Hermione? Seria a saúde dela? Será que Harry estava trabalhando demais e ela estava se sentido sozinha?

E agora...Naquele exato momento...Ela estaria bem?

“Rony! Rony! Pare. Paranóia não atrai mulheres”.

Ele fechou o punho e bateu no chão da calçada, frustrado.

Era hora de parar de se lamentar e enfrentar seus problemas.Se levantou, pegou sua varinha e aparatou.

Segundos mais tarde estava parado na frente da porta. Do outro lado provavelmente Lilá o esperava.

Bateu duas vezes e a porta se abriu.

Ele entrou.

***


Hermione vagarosamente abriu seus olhos, tentando se adaptar a luminosidade do quarto.

Tinha dormido pouco e mal na noite anterior e agora se sentia mais cansada do que quando fora dormir.

Tateou o outro lado da cama procurando por Harry...Sem surpresa percebeu que estava sozinha.

Toda vez quando ela acordava, e ela acordava cedo, ele já tinha ido embora.

Hermione se sentou. Olhou para o relógio. Não tinha ânimo algum para enfrentar um dia de trabalho em St.Mungos.

Voltou a deitar, quase se jogando de volta a cama. Podia ficar mais alguns minutos ali, o hospital ia sobreviver sem ela.

E assim Hermione acabou caindo no sono.

Não soube quanto tempo dormiu nem se tinha sonhado. Só finalmente acordou graças a um barulho insistente na janela.

Era Pichi, a coruja de Rony, querendo desesperadamente entrar.

Hermione levantou rapidamente e abriu a janela para que o animal entrasse. Como sempre Pichi fez piruetas voando sem parar e deixou cair na mão de Hermione um pequeno pergaminho.

Hermione não se moveu. Temia o que estava escrito naquele pedaço de papel amassado pelas garras hiperativas de Pichi. Seria de Rony? E se fosse, o que ele queria falar com ela?

Pichi continuava voando em volta da cabeça dela, a corujinha parecia tão curiosa quanto Hermione para saber o que estava escrito.

Não havia outra maneira de descobrir o conteúdo da mensagem a não ser abrir, então Hermione devagar o fez. E igualmente devagar leu a letra arrumada e bonita de Gina Weasley.



Harry,

Não sei se você ainda está em casa, mas mesmo assim mandei Pichi ir para aí. Aconteceu algo terrível!

Rony desapareceu! Sumiu sem rastros!

Recebi uma carta da mãe de Lilá dizendo que o casamento estava cancelado. Sem dar nenhuma explicação! Fui procurar Rony para saber o que estava acontecendo, mas não achei ele em lugar algum!

Você deve imaginar como a Toca está no momento. Mamãe quase foi parar em St.Mungos quando ouviu a notícia.

Eu não sei mais o que fazer. Procurei em todos os lugares...Preciso da sua ajuda!

Eu estou preocupada com ele...Ele tinha tanta certeza que o casamento ia dar certo...Não sei o que ele poderia acabar fazendo.

Quem sabe você possa me ajudar? Quem sabe você ou Hermione saibam de algum lugar em que ele possa estar? Eu sei que vocês dois estão ocupados...Mas...Ele é seu melhor amigo. Por favor, ajude ele.

Gina




O coração de Hermione tinha parado. Ela releu a carta, uma, duas, três vezes. Lilá tinha cancelado o casamento. Rony tinha sumido.

De repente Hermione começou a imaginar um Rony cambaleando pelas ruas, sozinho e de coração partido. Também imaginou um Rony descontando sua raiva em uma parede, batendo até seus punhos ficarem roxos.

O que ela poderia fazer? Ela tinha que ajudar, de alguma, qualquer forma. Iria atrás dele e iria encontra-lo não importava como.

Ele precisava de alguém agora. E ela precisava dele.

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