A longa noite
Capítulo 3 - A longa noite
Rony atravessou o salão, agora vazio, da festa. Havia mais de duas horas que os convidados tinham ido embora. Agora apenas ele e Gina estavam lá.
Tudo estava sendo arrumado e limpado para que os proprietários da mansão não reclamassem.
Rony recolhia algumas taças vazias que tinham sido deixadas nos cantos do salão. Estava com uma dor de cabeça de acabar com qualquer um.
Ele só queria dormir. Cair ali mesmo naquele chão e dormir...Quem adivinharia que uma festa de noivado fosse tão cansativa?
Depois de levitar algumas taças de volta para a cozinha ele se sentou na mesma escada que algumas horas ele e Hermione tinham estado.
Ele estava preocupado com ela. Nunca a tinha visto tomando tanto vinho, principalmente quando estava com Harry. Alguma coisa estava errada, ele sentia isso.
Rony abaixou os olhos para o chão. E fechou o punho...“Se Harry estiver magoando ela...Eu...”
Não terminou o pensamento, apenas suspirou. Sentiu-se frustrado..Impotente...Incapaz.
Quem era ele? Quem ele achava que era para se intrometer no casamento dois? E além disso tinha outros problemas para resolver...Seus problemas para resolver.
Ele olhou para aquele salão enorme, se perguntando se tinha valido a pena toda àquela festa. Se Lilá tinha gostado realmente. Mais importante: se tinha gostado o suficiente.
Levantou da escada e pegou as últimas taças que encontrou, seguindo para a enorme cozinha da ex-mansão da família Malfoy, agora propriedade do Ministério da Magia.”Propriedade do Harry...” ele acrescentou para si mesmo.
Havia alguém na cozinha fazendo um enorme barulho, o que não ajudou a dor de cabeça de Rony.
Ele entrou com as taças levitando do lado e encontrou Gina, empilhando pratos e os levitando para dentro de uma caixa:
- Como está indo?
- Péssimo. Nenhum dos garçons ficou para ajudar...Queriam extra para fazer a limpeza...Mandei eles para o inferno. - respondeu Gina, frustrada, enquanto balançava a varinha para continuar colocar pratos em caixas.
- Se você quiser, eu faço isso...Pode ir para casa.
- Que isso? Quem é você? E o que você fez com o meu irmão? - riu Gina.
- Ei! Eu ajudo...em algumas coisas.
Gina abriu o sorriso doce dela de sempre:
- Não precisa me ajudar, Rony. Eu já estou acabando...E além disso você é capaz de quebrar todos os pratos...Feitiços caseiros nunca foram o seu forte e você sabe disso.
Rony colocou as taças que trouxera em cima da mesa que ficava no centro da cozinha. Aproveitou para se sentar em uma das cadeiras próximas.
- E então...Gostou da festa? - perguntou Gina empilhando mais uma leva de pratos.
- Muito. Obrigada por ajudar a organizar.
- Tudo pelo meu irmãozinho.
Rony ficou em silêncio por um tempo, só olhando a irmã terminar o que fazia. Ele queria aparatar para casa e cair na cama...Mas simplesmente não conseguia...Sua cabeça estava cheia de preocupações...E desejava se livrar delas.
Um lado dele queria pedir ajuda a Gina, outro tinha medo do que ela ia falar em resposta.
Ele lembrou quando ela tinha apenas 5 anos e ainda era a irmãzinha dele que agüentava junto dele as brincadeiras dos gêmeos. As coisas eram tão simples naqueles tempos. Mas agora não mais.
Ele se levantou, mas então Gina, como se lesse seus pensamentos, se sentou na cadeira à frente dele, esquecendo-se dos pratos:
- Espera, Rony. Quero falar com você.
Obediente, Rony voltou a se sentar:
- Quando você me pediu para ajudar a organizar o casamento, eu aceitei. Mesmo não aprovando a sua decisão...E você sabe..Já conversamos sobre isso...
Rony rolou os olhos para cima, irritado em tocar o assunto de novo. Ele já sabia que Gina não queria que ele se cassasse com Lilá, para que falar disso de novo? Então interrompeu antes que ela continuasse o discurso:
- Sim! Já conversamos dezenas de vezes sobre isso. E continuo não mudando de idéia. Então, não vamos começar de novo, ok?
- Rony...Você sabe que eu estou certa.
A imagem da irmãzinha de 5 anos evaporou em segundos. Rony se levantou da cadeira, furioso:
- Não. Não, você não está. Por que eu não posso casar com Lilá? Ela me faz feliz!
- Ela te faz feliz agora, Rony. Agora ela acha que você tem uma carreira promissora cheia de sucesso, fama...E dinheiro. - continuou Gina, calmamente.
- Eu não acredito que você está falando isso...
- Eu falo isso porque me preocupo com você! Assim como toda essa família!
- Ah, então todos os Weasley resolveram se juntar contra mim?
- Para, Rony! Você sabe que não é isso!
- Não?! Então o que é?!
- Rony...Lilá não é a pessoa certa para você...Você não vai ser feliz com ela porque ela não te ama...Por favor, me escute! Não se case com ela.
- Não me casar com ela? E fazer o que, então? Ficar sozinho, amargo e pensando no que poderia ter sido? Esperando por alguém que nunca vai olhar para mim, como voc?
As últimas palavras sortiram o efeito desejado, Gina não respondeu.
Rony se levantou novamente para ir embora e deu as costas para a irmã, ao sair parou porém, pois ela tinha começado a falar:
- Prove que eu estou errada, então. Conte a verdade para Lilá. Fale como você perdeu o emprego, como não pode jogar mais Quadribol...Como gastou todas suas economias com a cerimônia. Fale como não vai poder comprar aquela casa que ela queria em Hogsmeade. Pare de ser covarde e conte a verdade. E me prove errada.
Ele não virou para trás, simplesmente disse com uma voz seca antes de aparatar:
- Eu vou.
Hermione se revirou na cama pela décima vez. Não conseguia dormir. O que era estranho, considerando a quantidade de vinho que tinha tomado.
Se virou novamente. Procurando achar alguma posição que não a irritasse.
Harry dormia ao seu lado, puxando as cobertas para si como sempre fazia. Até a respiração calma dele aumentava a dor de cabeça que ela sentia agora.
Tinha tentado de tudo...Ler livros, rever casos de pacientes...Nada a dava sono. Sua mente estava ocupada demais.
Não conseguia esquecer os olhos de Rony a fitando...Por mais que tentasse. Não sabia realmente a razão disso. Talvez fosse o vinho...Talvez porque trouxesse lembranças...
Hermione sempre soube que Rony tinha sentimentos por ela em Hogwarts. Paixonite de adolescente, como ele mesmo chamou anos depois conversando com ela. Porém, ela nunca teve coragem suficiente para lhe contar que ela não acreditava que havia chance para os dois.
Não podia negar que no começo pensou que retribuía o sentimento, mas percebeu que os dois eram incompatíveis...Um namoro entre eles acabaria em uma briga gigantesca e destruiria a amizade, que era muito importante para ela. Tinha medo de magoa-lo, por isso evitava falar no assunto. E ele nunca teve coragem de confessar o que sentia por ela até o último ano.
Os anos negros renasceram com a volta de Voldemort...E durante o fim da luta, quando os três achavam que iam morrer, Rony tinha se declarado a ela.
Hermione se virou na cama novamente, incomodada com a lembrança.
Hermione e Rony estavam caídos no chão lado a lado...
Ela estava machucada no braço e respirando com dificuldade; ele, encostado na parede com uma mão na bochecha cortada e outra na perna rasgada que não parava de sangrar.
Harry tinha os deixado...Apenas ele seguiu para enfrentar Voldemort, apenas ele poderia mata-lo. Os dois tinham o ajudado a lutar contra os comensais de Voldemort e agora Lúcio Malfoy e Bellatrix Lestrange jaziam mortos há alguns metros dali.
Rony e ela estavam em silêncio, tentando recuperar o fôlego.A poça de sangue aumentava a cada segundo embaixo da perna de Rony e Hermione duvidava que a Ordem iria os encontrar antes que ele perdesse todo o sangue que tinha. Assim Hermione pegou a varinha jogada no chão de Bellatrix, já que a sua tinha se partido, e tentou cura-lo como podia.
- Tire a mão, Rony. Vou fazer um curativo.
Ele obedeceu.
- Férula - o feitiço não ajudava muito, mas diminuía a quantidade de sangue perdido com a atadura.
- Obrigado. - agradeceu Rony fracamente.
- Não há de que. É só um curativo fraco, mas vai segurar.
- Não só por isso. Por tudo. Por sua amizade...Por você existir e me aturar...E só Merlin sabe o quanto eu tenho tentando juntar coragem para dizer o que eu vou dizer agora...Mas..
- Rony...
Ele continuou falando não olhando para ela:
- Só quero dizer que você...Que você é muito importante para mim...E...
- Por favor, Rony...Não diga algo que possa estragar nossa amizade...
Ele hesitou então. Hermione já tinha dado sua resposta antes mesmo de ouvir a declaração dele, seu coração já estava partido. Porém, ele se virou para ela:
- Eu tenho que falar isso, Hermione. Talvez seja minha última chance. Eu tenho que falar. - ele pegou a mão dela que não estava machucada - Eu...Eu te amo.
Tirado isso do peito, ele olhou para ela...Talvez com uma pequena chama de esperança que ela também dissesse que amava ele.
Quando Hermione olhou para ele apenas com pena nos olhos, a chama se apagou e ele continuou:
- Sei que você não me ama...E eu não te peço para me amar...Se sairmos daqui...Se Harry vencer...Só quero manter nossa amizade...Só quero estar perto de você.
Rony não chorou mas ela sim. Ainda podia sentir as lágrimas que escorreram em seu rosto naquele dia. E também nunca se esqueceu do olhar dele.
Harry venceu Voldemort. E ela e Rony nunca tocaram mais no assunto até depois de muito tempo.
Um ano depois Rony viajou com os gêmeos para os Estados Unidos, onde a concorrência para entrar nos times de Quadribol era menor. Quando conseguiu entrar em um, morou lá por quase dois anos até conseguir chamar atenção suficiente do Puddlemore e voltar para a Inglaterra.
Durante esse tempo Hermione e Harry começaram a namorar e noivaram.
Quando Rony voltou não foi Hermione que contou sobre o noivado para ele, foi Harry.
E ela ainda se arrependia muito disso. Harry nunca contara o que os dois tinham conversado.
A partir de então Rony se distanciou dos dois.
E Harry e ela, percebendo isso, concordaram em não se casar até que Rony estivesse confortável com a situação.
A primeira vez desde a declaração que ele conversou sobre o que sentia por ela foi quando finalmente estava em um namoro sério.
Os dois caminhavam juntos em um sábado ensolarado no Beco Diagonal e falavam sobre Isabelle Lorraine, sua namorada francesa, apresentada por quem mais se não Fluer?
Hermione se segurava para não falar sua verdadeira opinião sobre a Isabelle...Para ela a francesa era egocêntrica, narcisista e fútil...Mas ele estava cego para qualquer defeito, estava sedento por felicidade e não seria ela que iria estragar o namoro.
Logo se esqueceram da srta.Lorraine e ele falava sobre o assunto que os dois evitaram por muito tempo.
E foi alegremente que Hermione ouviu ele dizer que não sentia mais nada, além de amizade, por ela.
Ele tinha tirado toda a preocupação que ela tinha.Ela não queria ver ele triste, afinal de contas, e sofria com a situação.
Depois daquele dia no Beco Harry e ela marcaram a data do casamento. E Rony muito feliz aceitou ser o padrinho de Harry.
A amizade voltou com força total e tudo parecia perfeito. O casamento aconteceu.
Harry tinha dito sim.
Hermione olhou para Harry, dormindo profundamente. E não sentiu nada.
E ela tinha dito sim.
Então pensou em Rony. E sentiu um frio na barriga.
No escuro daquela longa noite, Hermione começava a se perguntar se não devia ter dito não. E isso a apavorava.
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