Lembrando o passado
Assustada, Pâmela voltou-se e ouviu a tranca da pesada porta de madeira ser acionada.
-- Hermione! – Ela gritou batendo na porta com a palma da mão. – O que está acontecendo? Por quê fez isso?!
-- Não se preocupe! – Hermione disse rindo. – Volto em algumas horas!
-- Que brincadeira é essa! Isso é ridículo! ABRA ESSA PORTA!
Pâmela não ouviu nenhum ruído, indicando que Hermione cumprira o que falava.
-- HERMIONE!
Nenhuma resposta. Pámela sentiu a pele arder de raiva. Que brincadeira mais sem propósito. Ela estava cansada, precisando de um banho e com fome. Mal chegara ao castelo e Hermione a havia conduzido para lá. Já a esperava na entrada. Isso era ridículo! Porque ela esperaria tanto só para trancá-la do lado de fora da torre de astronomia, e sabendo que um feitiço simples a livraria da prisão?
Pámela tateou as vestes em busca da varinha. Ainda não se acostumara com ela. Seis anos em empunhá-la a deixou desajeitada.
-- Pâ? – uma voz confusa e baixa a assustou.
Pámela se voltou apontando a varinha e viu Olívio, que a olhava espantado com as mãos para o alto em rendição perante a varinha apontada para seu peito.
--Olívio? O que faz aqui? – Pámela relaxou o braço.
-- Hermione quis me fazer uma festa de despedida e me disse para estar aqui às 8h. Porque estava esmurrando a porta?
-- Festa de despedida? – Pámela ignorou a pergunta final de Olívio. – Porquê? O que quer dizer com despedida?
-- Parto amanhã para Bruxelas. – ele deu de ombros genuinamente desinteressado.
-- Porquê?! – Pámela se esquecera de Hermione, da fome, do frio... – É véspera do feriado de natal!
-- Já fiquei muito tempo longe do meu time. Tenho que voltar para a concentração. Logo começarão os campeonatos, preciso treinar.
-- Mas e sua família? Você não passa o natal com eles?
-- Meus pais já se acostumaram com a minha ausência. Eu viajo muito! Há dois anos não passo os feriados com eles. – Olívio colocou as mãos no bolso para protegê-las do frio e olhou para as vestes da amiga. – Não está com frio?
Pámela estava com uma manta longa sobre vestes trouxas de lã, mas as mãos, brancas pela temperatura da noite, estavam desprotegidas, segurando a varinha como se esta fosse o único apoio que tivesse.
-- Passe o natal conosco, então! – Pámela ignorou a pergunta novamente.
Olívio riu. Era estranho vê-la tão focada no objetivo de mantê-lo por perto. Agradável, mas estranho. Ele a olhou por alguns segundos e então alguns pensamentos chegaram a sua mente.
-- Porquê você estava gritando? – ele perguntou enfaticamente, a expressão séria.
-- Hermione nos trancou aqui fora... – Pâmela começou a dizer e, quando entonou a palavra “nos”, ela pareceu entender as intenções de Hermione. Seu corpo ficou instantaneamente rígido.
-- Porque ela faria isso? – Olívio perguntou também rígido. Como Pámela não respondera ele continuou. – Ela sabe de algo que eu não sei?
Olívio parecia entender os motivos de Hermione tão bem como Pámela, mas ela não conseguia pronunciar uma palavra. Estava com dificuldade para respirar. Não sabia como lidar com isso. Sem se dar conta seu rosto ruborizou e seu passado naquela torre voltou a sua memória tão vivo que poderia tocá-lo.
-- Há algo que queira me dizer, Pâ?
A voz de Olívio era indecisa, quase uma súplica. Ele parecia tão perdido como ela. Mas o silêncio de Pámela foi uma confirmação.
-- Você se lembrou! – Olívio falou, mais alto do que Pámela esperava. Não era uma pergunta. Era uma acusação – Há quanto tempo? Porque não me disse?
Dessa vez, foi Olívio que pôde vislumbrar Pámela em seus braços. O silêncio que Pámela teimava em manter era uma confirmação que aos olhos de Olívio parecia atormentar Pámela.
-- Porquê não me disse?! – Ele repetiu elevando a voz mais ainda. Ele exigia uma explicação.
Pámela abriu a boca, mas não sabia o que dizer. Lutava para respirar e se manter em pé. Ver a raiva crescendo em cada frase de Olívio desmembrava seus esforços. A lembrança do passado se misturava com a visão do presente. O Olívio confuso e despreocupado de poucos instantes tinha dado lugar a um rosto retorcido por amargura e decepção. Era doloroso demais olhá-lo...
-- Seis anos é muito tempo... – ela finalmente conseguiu balbuciar em um sussurro.
A resposta pareceu machucar ainda mais Olívio. Ele bloqueou qualquer reação que estivesse perto de aparecer e retirou sua varinha. Com passadas largas e pesadas ele alcançou a porta e gritou descarregando toda sua fúria na fechadura.
-- ALLOHOMORA!
A porta explodiu atrás de Pámela, lançando farpas pelos ares.
-- Olívio! – Pámela tentou gritar, mas tudo que saiu foi um sussurro.
Olívio não se voltou, não ouviu. Atravessou a porta sem uma palavra e sumiu da visão de Pámela.
Pámela não se conteve mais. Caiu de joelhos não se importando com a dor do impacto ou o possível hematoma que apareceria depois. Suas mãos cobriram o seu rosto e ela não pode conter as lágrimas. O líquido morno que escorria dos seus olhos não era reconfortante na pele fria, era cortante e abrasador. Impondo todos os males que sua indecisão lhe causara. Nunca mais veria Olívio? Ele a perdoaria? Seriam os mesmos? Como pôde perdê-lo de novo?
-- Estúpida! Burra! – ela balbuciava para si entre soluços.
As lágrimas persistiam e o mundo girava em alta velocidade ao redor dela. Ela queria que a dor do peito cessasse, mas sabia que isso nunca ocorreria. O frio que provinha do chão de pedra já penetrava em seus ossos, mas ela não se importava. Não tinha forças para se mexer...
-- Sua idiota! – ela disse com raiva de si mesma.
-- Você não é idiota. – a voz atrás de Pámela a assustou.
Era a voz mais doce e maravilhosa do mundo. Olívio voltara.
Pámela voltou o rosto e o viu, parado em frente a porta recém explodida. A expressão preocupada e ansiosa. Não soube da onde veio sua força, mas em um salto ela se jogou nos braços dele e escondeu o rosto em seu suéter.
-- Você voltou! – ela disse entre soluços. – Me desculpe! Por favor, me perdoe!
A reação de Pámela pegou Olívio de surpresa e ele deu um passo para trás para impedir a queda dos dois. Ele segurou Pámela firmemente com um braço e acariciou seu cabelo com a mão livre.
-- Não se desculpe! Eu é que reagi precipitadamente. – ele disse beijando os cabelos da garota. – “Seis anos é muito tempo...” para mim, não é mesmo? Você estava se referindo a mim. Você não sabia se eu tinha outra pessoa...
Pámela assentiu com a cabeça sem retirá-la do peito de Olívio.
Ele apertou mais o abraço e suspirou.
-- Tem razão! Seis anos é muito tempo... Mas eu esperei por você! Esperaria mais seis se necessário. – Ele aliviou o abraço e segurou o queixo de Pámela para que ela o encarasse.
-- Sabe do que me dei conta quando atingi o fim da escada? – Ele disse sério enquanto enxugava as lágrimas de Pámela com o seu cachecol – Seis anos e eu iria sem lutar? Que estúpido!
Pámela tremeu nos braços dele, mas ele sabia não ser de frio.
-- Imaginei – ele continuou com um sorriso matreiro aflorando no canto dos lábios – que se eu tive que dar o primeiro passo há seis anos atrás, provavelmente isso não teria mudado agora.
Pámela suspendeu a respiração e mordeu o lábio inferior. O corpo tremeu mais violentamente devido à descarga de adrenalina que atingiu sua coluna. Não havia qualquer vestígio de frio, só podia sentir sua pele queimar.
Olívio sorriu novamente e acariciou a face da amiga. Com calma, como alguém que tenta alcançar um filhote ferido, ele abaixou a cabeça e tocou os lábios de Pámela.
Nenhum dos dois estava preparado para o que viria depois. O toque de seus lábios foi o estopim de uma explosão de emoções. Em segundos seus corpos estavam tão próximos que poderiam se fundir. Pámela agarrava-se ao suéter de Olívio como se dele dependesse sua vida. Olívio a segurava tão perto que o corpo da garota dobrava-se para trás ante ao peso do tórax dele sobre ela. Suas bocas estavam em um delicioso frenesi, movendo-se em conjunto e almejando por cada centímetro dos lábios um do outro. Naquele beijo eles derramavam cada momento de solidão, cada saudade, cada necessidade que tinham um do outro. Nenhum dos dois era delicado ou cuidadoso, em seus lábios só havia ardor e paixão.
Só quando não tinham mais fôlego se viram obrigados a afastarem suas bocas. Precisavam respirar. Seus lábios ainda permaneciam próximos, roçando-se de leve enquanto seus peitos agitados tentavam normalizar suas respirações.
Após alguns cálidos segundos de silêncio, Pámela foi a primeira a falar, em um sussurro, mais para si mesma.
-- Seis anos é muito tempo...
Olívio ficou rígido.
-- Desculpe. – Ele disse envergonhado, já afrouxando o abraço.
-- Não se desculpe! – Pámela disse em um tom de urgência e se agarrou ao corpo de Olívio voltando a encurtar a distância entre eles. – Faça de novo!
Olívio hesitou por uma fração de segundos e então a estreitou em seus braços sorrindo. Dessa vez foi como imaginou. Ele venceu a distância entre seus lábios novamente e, sem pressa, com muita delicadeza, saboreou cada tremor e excitação que seus lábios provocavam em Pámela.
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