No Beco Diagonal



Haviam-se passado três semanas desde a partida do Puddlemore contra o Chudley Cannons. O Chudley Cannons se tornara campeão britânico, vencendo o Wimbourne Wasps uma semana depois da semifinal. Gina e Harry não haviam discutido desde então, mas continuavam num clima meio esquisito. Todos na casa já tinham percebido, porém não comentaram nada graças à interferência de Hermione, que proibiu qualquer um de se meter nas desavenças do casal.
Gina estava se recuperando do choque causado ao saber sobre Malfoy e ao vê-lo no jogo. Não pensava tanto no assunto e já conseguia dormir tranqüilamente, apesar de ser “visitada” por Draco em seus sonhos de vez em quando. Ela e Harry não haviam discutido por três semanas e, na verdade, conversavam muito pouco. Gina sentia-se culpada pela discussão, quando reclamara sobre ter que cuidar da casa e dos sobrinhos. Ela gostava muito deles, e de forma alguma queria demonstrar que não o fazia.
Era uma sexta-feira e Gina estava com Fred em casa, pois ele estava muito gripado. Jorge, Harry e Hermione estavam trabalhando e Rony, de férias depois do campeonato, levara as crianças a um parque de diversões trouxa. Fred não parava de tossir e espirrar, e seu nariz estava mais vermelho que os cabelos. Gina ficava a maior parte do dia fazendo-lhe companhia e tentando fazer com que ele comesse alguma coisa. Não conseguia faze-lo comer, mas em compensação dava boas gargalhadas com suas piadas, porque nem doente ele perdia seu senso de humor.
- “Maninha, será que você me faria um favor?” - perguntou Fred enquanto Gina soprava uma sopa de coloração esverdeada em um prato fundo.
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- “Se não for ‘Parar de tentar que você coma essa gororoba’, eu faço.” - respondeu Gina sorrindo. Fred gargalhou.
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- “Se você também pudesse fazer esse favor, eu agradeceria. Mas como sei que não será possível, vou me contentar com apenas um favor. Você se incomoda de ir ao Beco Diagonal para mim? Recebi uma coruja esta manhã, e o americano que encomendou cem quilos de creme de canário dobrou a encomenda. Não posso mandar uma coruja ao Jorge para avisa-lo porque sabe-se lá por onde anda Ioiô, e não posso sair de casa porque você não iria deixar.” - disse Fred sorrindo marotamente para a irmã.
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- “Avisar ao Jorge que o americano dobrou a encomenda? Ok. Aproveito e compro uma poção antigripe para você.” - Respondeu Gina. - “Quando você quer que eu vá?”
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- “Assim que puder, maninha.”
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- “Está bem.”
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Meia hora depois, Gina aparatou em frente à loja com um letreiro grande de néon “Gemialidades Weasley”. Entrou na loja e logo viu Jorge atendendo um garoto sardento que poderia muito bem ser seu irmão mais novo. Assim que o menino foi embora, carregado de sacolas, Jorge veio falar com Gina. Quando ela falou que o americano havia dobrado a encomenda, Jorge ficou tão feliz que deu um pacote de caramelos incha-língua a uma menina de maria-chiquinha que olhava os produtos distraidamente. Gina riu muito da cara surpresa que a menininha fez, e ficou conversando com seu irmão durante algum tempo. Logo que saiu da loja, foi até a farmácia comprar uma poção antigripe para Fred, e em seguida comprou um sorvete, apesar de estar muito frio, com a proximidade do inverno.
Ficou andando sem rumo pelo Beco, sentindo a brisa gélida bater em seu rosto. Sentia-se tranqüila pela primeira vez em três semanas. Nem sequer pensava em Draco, porém logo se deparou com uma grande loja, talvez a maior do Beco Diagonal, onde havia um letreiro escrito em verde: “Malfoy’s” e mais embaixo, em letras menores “Tudo para quadribol”. Gina ficou algum tempo contemplando a fachada da loja e viu Draco saindo de dentro da Malfoy’s e parando à porta, como se esperasse que ela fosse falar com ele. Gina aproximou-se dele.
- “Por que você ficou afastado tantos anos? Por que se escondeu?” - perguntou de uma vez. Sabia que provavelmente receberia uma resposta curta e grossa, e que certamente se arrependeria de ter perguntado, mas sua curiosidade era maior. Ela precisava saber. Para sua surpresa, Draco respondeu calma e sinceramente.
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- “Porque eu precisava colocar a cabeça no lugar. Precisava de distância. Distância da Inglaterra. Distância de...” - parou de falar. Fitou-a, respirou fundo e recomeçou. - “Passei seis anos na Holanda.”
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- “E por que você negou que era um comensal, contrariando todos ideais de sua família?” - Gina agora não conseguia parar, sua curiosidade e sua ânsia de saber os motivos de Draco eram mais fortes do que ela. Novamente ele respondeu com calma.
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- “Porque eu não era.” - disse ele simplesmente. Antes que Gina pudesse perguntar mais alguma coisa, que era o que ela pretendia, Draco virou-se e entrou novamente na loja.



Gina passou o resto do dia completamente avoada. Não conseguia entender as palavras de Draco. O que ele quis dizer com aquilo? Que ele não era um comensal? Isso era possível? Milhares de perguntas como essas pululavam na cabeça de Gina. Ela nem viu o dia passar. Quando deu por si, já era noite. Estava sentada em um banco no jardim, e assustou-se quando ouviu Hermione chamando seu nome.

- “Gina?” - perguntou Hermione, sentada ao seu lado.
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- “Mione?” - disse Gina ainda assustada.
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- “Não vai jantar?”
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- “Já está servido? Eu iria fazer, mas...” - Gina começou, porém foi interrompida por Hermione.
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- “Eu já fiz. Todos já jantaram.”
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- “E por que não me chamaram?” - perguntou Gina aborrecida.
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- “Eu te chamei duas vezes! Inventei para todos lá dentro que você estava sem fome.”
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- “E realmente estou. Desculpe-me, Mione, mas eu estou tão no mundo da lua hoje.”
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- “Percebe-se. E por acaso essa “lua” se chama Draco Malfoy?”
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- “Infelizmente.”
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- “O que foi dessa vez? Você não o viu, viu?”
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- “Vi. Fui ao Beco Diagonal e o encontrei lá. Em frente à sua loja.”
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- “E o que ele disse?”
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Gina contou tudo o que Draco havia lhe falado, tudo o que ela havia pensado a respeito, e Hermione não a ajudou muito a esclarecer suas dúvidas. Naquela noite, mais uma vez Gina não pôde dormir.

************

Alguns dias depois, Gina estava quase totalmente normal. Não que não pensasse em Draco, mas agora já se acostumara com isso. Até seu relacionamento com Harry estava voltando ao normal. Estava, até o dia em que Fred e Jorge fizeram os dois discutirem de novo. Todos estavam jantando, quando Fred se pronunciou.
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- “Fechamos outro grande negócio hoje.”- disse muito animado.
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- “Vassouras auto-limpantes. Idéia genial.”- completou Jorge.
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- “Sabem quem vai vende-las?” - continuou Fred com um sorriso maroto.
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- “Quem?” - perguntou Rony
- “Malfoy.” - respondeu Jorge - “Não é engraçado? Ele se mostrou muito interessado nas vassouras, até nos deu duas Nimbus 3000 para treinar.”

Gina engoliu em seco, Harry tossiu, Hermione lançou um olhar significativo a Gina e Rony foi o único a dizer alguma coisa.
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- “Malfoy? Vocês estão loucos? Ele vai dar o calote em vocês, ele odeia nossa família.” - protestou indignado.
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- “Nada disso, irmãozinho.” - disse Fred tranqüilamente - “Malfoy nos pagou adiantado por 30 vassouras. Já tem até um patrocinador. Tenho certeza que nos daremos bem.”
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- “Vocês estão loucos, cara.” - completou Rony.
-
Gina não sentia mais fome. Definitivamente, a cada dia Malfoy a surpreendia mais. Fazendo negócios com seus irmãos? Gina não podia acreditar. Aliás, não podia acreditar em muitas atitudes de Malfoy ultimamente. Isso estava realmente estranho.
Hermione tentou disfarçar o clima pesado que se instalara entre Harry e Gina, mudando rapidamente de assunto. Esses dois, porém, não falaram mais nada durante o jantar.
Mais tarde, já no quarto, Harry e Gina iniciavam outra discussão.
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- “Eu vi como você reagiu quando seus irmãos falaram aquilo. Você está abalada pela presença dele. Admita isso, Gina.” - dizia Harry angustiado.
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- “Por que tudo isso, Harry? Por que essa necessidade de falar sobre Malfoy?” - Gina estava tão cansada de brigar com Harry, e não queria admitir para ele - e para si mesma - que sim, ela estava abalada pela presença de Draco.
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- “Porque desde que você soube que ele estava de volta, você tem agido de forma estranha. Nós discutimos mais vezes no último mês do que em todo o tempo que estamos juntos.”
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- “E quem me contou que ele havia voltado? Você poderia ter me poupado de saber disso, Harry, mas ao invés disso preferiu me contar. Contou-me todos os detalhes que sabia. Se fosse Crabbe ou Goyle ou qualquer outra pessoa, você não teria tanta preocupação em comentar. Você quis me testar, Harry, e agora quer que eu diga que fui reprovada.” - Gina já estava ficando nervosa outra vez. “Céus, como eu tenho ficado perturbada por causa de Draco”, pensou.
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- “Gina, eu te amo. E eu sei como Malfoy te fez sofrer.” - disse Harry recuperando sua calma.
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“Você não sabe de nada, Harry. Ninguém me fez mais feliz do que Draco” Gina pensou, mas reprimiu-se internamente por tal pensamento. “Não é verdade” tentou convencer a si mesma.
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- “Eu não quero causar mais confusão em nossa vida. Daqui a poucos dias a reforma da casa vai terminar, e nós poderemos nos mudar para lá assim que quisermos. Chega de discussões sobre Malfoy. Ele não merece tanto da nossa atenção.” - completou Harry.
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- “Vamos tentar melhorar nossa situação, Harry.” - disse Gina secamente. - “Boa noite.”




O natal estava próximo, e flocos de neve já começavam a enfeitar a paisagem. Gina e Hermione tinham combinado que já iriam fazer compras, pois Hermione, Rony e as crianças viajariam naquele dia e só voltariam perto do natal. Gina despediu-se logo de Rony e das crianças, pois poderia não voltar a vê-los antes de viajarem. Ela e Hermione saíram logo depois do almoço, mas pelo aspecto do céu poder-se-ia dizer que já estava anoitecendo. Chegaram no Beco Diagonal e começaram pelos presentes das crianças. Andaram bastante, ficaram horas na Floreios e Borrões e divertiram-se muito naquela tarde. Gina só perdeu um pouco de seu bom-humor ao passarem rapidamente em frente à loja de Draco, e xingou silenciosamente por ele não se encontrar parado à porta, como estivera no outro dia.
Tomaram chá no Caldeirão Furado e depois se despediram. Hermione iria ajeitar os últimos detalhes para sua viagem, e Gina voltaria ao Beco Diagonal para resolver mais algumas coisas. Essas coisas, na verdade, eram passar trocentas vezes pela loja de Draco e esperar que ele aparecesse, ou entrar na loja e verificar se ele se encontrava lá dentro. Como estava muito frio Gina optou pela segunda opção.
Ao entrar na loja, que estava relativamente cheia, fingiu estar olhando os modelos de vassouras, aproximando-se do balcão ao fundo da loja. Uma mulher morena estava sentada lendo uma revista atrás do balcão. Ao lado dela, havia uma escada e madeira, que levava a um aposento de vidro e coberto por cortinas verdes, que impediam Gina de ver o que - ou quem - se encontrava lá dentro. Continuou a fingir que estava interessada nas vassouras, e até esqueceu-se do que estava fazendo ali quando começou a ler a descrição de uma vassoura de corrida muito boa, desenvolvida especialmente para batedores. Subitamente, alguém sussurrou ao seu ouvido, que fez ela se arrepiar, além de quase morrer de susto.
- “Procurando algo, Weasley?”
-
Gina reuniu toda coragem que tinha e virou-se para Draco
- “Acho que já encontrei.”
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- “Venha comigo. Vamos conversar em um lugar mais sossegado.” - disse ele com sua típica voz arrastada.
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- “Está bem” - disse ela meio entorpecida.
-
Draco conduziu-a para fora da loja, e foi andando pelas ruas menos movimentadas, entrando por ruas perpendiculares cada vez mais estreitas. Andaram por uns cinco minutos sem dizer uma palavra, até que a passagem estreita onde eles se encontravam abriu-se em uma pequena praça, rodeada por estruturas de metal que terminavam em espécies de abóbadas que eram recobertas por trepadeiras. Dessa forma, praticamente não caía neve na pracinha. Gina sentou-se em um banco e Draco fez o mesmo, sentando-se ao seu lado. Gina estremeceu. Fazia um longo tempo que ela e Draco não se sentavam tão próximos. Ficaram em silêncio por algum tempo, até que Gina encorajou-o a falar.

- “E então?” - perguntou em voz baixa.
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- “E então? E então o quê?” - Draco desconversou. Mas ao ver a expressão séria da ruiva, começou a falar. - “Está bem. Há seis anos eu saí da Inglaterra. Minha família estava morta, minha vida estava praticamente acabada.” - Draco hesitou um pouco, porém logo prosseguiu - “A mulher que eu amava já não queria mais nada comigo.”
-
Gina olhou para as próprias mãos. Sentia uma vontade imensa de gritar com ele, dizer que não era verdade, que ela ainda o amava na época. Mas como era Draco que estava falando, desistiu. Ele prosseguiu.

- “Fui julgado e inocentado pelo Wizengamot, entreguei dois comensais, pedi desculpas ao ministro.”
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- “Por que eles acreditaram em você?” - perguntou Gina antes que pudesse pensar - “Quero dizer, você é um Malfoy. Seu pai foi um comensal, os amigos dele também...”
-
- “Tomei Veritaserum. É claro que não na frente de todo o conselho. Apenas eu e alguns dos membros. O ministro, Snape e mais uns dois caras. Digamos que eu disse algumas coisas...Hum...Pessoais.” - disse ele. Parecia um tanto desconfortável. Ficaram em silêncio algum tempo, até que ele tornou a falar.
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- “Eu fui embora porque era orgulhoso demais. Porque era fraco. Demasiado fraco para admitir que ainda a amava.” - disse obviamente muito pouco à vontade. Mexia-se sem parar no banco e torcia as mãos com violência. Gina balançava os pés, mas já não sabia se era proposital ou se estava tremendo. Draco pigarreou e prosseguiu, agora parado feito uma estátua, fitando algum ponto à sua frente e sorrindo de modo sarcástico.
-
- “Mas que importância tem isso?” - disse com uma voz amargurada e cheia de rancor. Gina temeu pelo pior. Achou que ele começaria a ficar bravo, e acertou na suposição. - “Não importa mais o que eu fiz ou o que eu deixei de fazer por você... Agora você e o Potter perfeito estão juntos. Eu não a amo mais, e você também não me ama.” - disse ele transtornado. - “Espero que tenha matado sua curiosidade, Weasley.” - completou e levantou-se do banco. Gina também levantou, e se colocou na frente de Draco impedindo que ele fosse embora.
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- “Eu pensei que você havia mudado, Draco.” - diz ela chorosa, segurando ao máximo as lágrimas que insistiam em descer. - “Mas agora eu vejo que foi um engano meu. Você nunca vai mudar.” - disse e virou-se de costas para Malfoy. Ouve seus passos e olha por sobre os ombros. Malfoy estava voltando por onde eles vieram, pisando duro. Ela coloca as mãos sobre a boca e começa a chorar.
- “Merlin, por que minha vida está ficando cada vez mais complicada?”
-
Ficou ali por alguns minutos, até suas lágrimas secarem, e depois decide visitar sua mãe.



- “Neville? Que surpresa agradável vê-lo aqui!” - exclama Gina ao entrar no quarto de sua mãe.
-
- “É ótimo ver você também, Gina.” - diz Neville.
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Gina fica com sua mãe por algum tempo, e combina com Neville que eles tomariam chá juntos depois da visita, já que nenhum dos dois tinha fome suficiente para jantar. Neville saiu do quarto primeiro e disse a Gina que a esperaria do lado de fora. Em poucos minutos, Gina apareceu na porta. Os dois caminham até o café conversando sobre o tempo.

- “O que houve, Gina?” - pergunta Neville ao chegarem. - “Você parece abatida. Eu posso ver que você está triste.”
-
Gina limitou-se a assentir com a cabeça. Neville prosseguiu.

- “Gina, eu gosto muito de você, e também fico triste quando te vejo assim. Se alguma coisa está errada na sua vida, então mude-a. Não sei se esse é o caso, mas sei que você não está satisfeita.”
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Dessa vez ela respondeu.

- “Oh, Neville, você não imagina o quanto eu estou confusa. Tem acontecido tanta coisa nesse último mês, eu simplesmente não sei o que fazer.” - desabafou.
-
Neville respondeu sorrindo, como que para acalmá-la.

- “Faça o que seu coração mandar.”

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