CAPITULO 1: PENSAMENTOS E DISC





Apenas um punhado de estrelas cobriam o negro manto a que chamámos céu. Era esta a altura do dia em que nos situávamos; Antes da noite completar o seu processo de tornar tudo sombrio e nocturno. Um pouco depois do pôr-do-sol.

Na altura em que a escuridão beija a luz, num beijo deveras prolongado. Quando o sonho e a realidade estão tão perto e separados apenas por uma linha fina e ténue, que por vezes é trespassada, mesmo não sendo esse o nosso objectivo.

Eu passeava lentamente pelos jardins de Hogwarts. O lago reflectia a Lua Cheia nas suas águas serenas e quietas.

Caminhava enquanto pensava. Pensava em quê? Na vida. Em que mais haveria de pensar? Nos outros? Não. Eu deixei de pensar nos outros a partir do momento em que eles deixaram de pensar em mim. No dia em que descobri que muitas vezes as pessoas, além de pensar em si próprios, não pensam em mais ninguém, por vezes rebaixando os outros e pisando-os para alcançarem os seus objectivos.

Ninguém escapa a isto, nem o Trio Maravilha. Não lhes irei contar quando nem onde nem como foi, só digo que aconteceu, e a minha palavra é a única prova.

Pensar na vida. No amor, no ódio, na confusão mental em que me encontro neste preciso momento.

A minha vida.

“Porque é que ela é assim? Nada de bom existe nela, a não ser talvez o meu sucesso em transfiguração e feitiços.

Mas de resto, nada mais existe de bom.”

Sinto-me frustrada, e imensamente deprimida. A minha vida está caindo numa rotina tediosa, nada muda nada. Sempre os mesmos professores, colegas, sempre o mesmo namorado, sempre as mesmas pessoas, sempre os mesmos sentimentos.

Será que mais alguma coisa existe para além disto? Talvez. Mas o quê?

Talvez o melhor seja deixar de pensar, senão enlouqueço. Sempre me deparo com a minha horrível vida nos meus pensamentos, assim como com um sentimento de mudança. Por vezes apetece-me ser mais selvagem, conseguir revoltar-me com as pessoas. Deixar esta máscara de “menininha sempre defendida pelo irmão mais velho”.

Continuei a caminhar sem um rumo. Um vento frio tinha se levantado, sendo as folhas das árvores agitadas por ele. O frio tinha se tornado mais intenso.

O melhor seria voltar para o castelo. Com este pensamento, lancei um último olhar ao lago e à paisagem em redor, e foi aí que fiquei surpresa.

Um rapaz, talvez um ou dois anos mais velho do que eu, estava sentado junto ao lago, brincando com a água. Parecia imerso em pensamentos, talvez tanto quanto eu. Parecia não ter notado a minha presença, assim como eu não notei a dele.

Reparei que o luar era reflectido nos seus cabelos, daí parecem ser dourados. Tentei saber qual a cor dos seus olhos, mas ele olhava a água do lago, não me permitindo sabê-lo.

Eu fitava-o admirada. Normalmente, sempre que ia dar os meus passeios nocturnos, nunca encontrava ninguém, a não ser por vezes Mrs. Norris. Talvez fosse por isso que estava tão admirada.

Vi-o levantar-se, provavelmente também se ia embora. Levantou o olhar, vi-o olhar em minha direcção. Escondi-me numa árvore que estava perto de mim. Tenho a certeza absoluta de que ele não me viu, pois voltou-se a sentar junto ao lago, em vez de vir na minha direcção.

Quando tive a certeza de que ele não olhava a “minha” árvore, voltei a olhar para ele.

Com o brilho do luar sobre ele, reparei o quanto aquela imagem parecia ser surreal. O seu cabelo reflectia o luar, tornando-se ora dourado, ora prateado, os olhos brilhavam, parecendo a Lua reflectida no lago. Embora estivesse algum frio, o rapaz não estava usando capa.

Parecia de novo submerso em pensamentos, o vento fazendo esvoaçar os seus cabelos, a roupa quase grudada no corpo dele.

Se fosse eu, já estaria congelada até aos ossos, mas ele nem demonstrava sinais de frio. Eu diria mesmo que ele apreciava o toque gelado do vento, pois tinha os olhos fechados, como se quisesse guardar cada toque daquele vento gélido para sempre.

Uma nuvem deslocou-se vagarosamente no céu, ocultando a Lua Cheia, diminuindo lentamente a luz do luar. À medida que o luar diminuía, os cabelos do rapaz não pareciam mais ser do dourado celestial, nem os olhos eram prateados como duas Luas Cheias.

E eu finalmente reconheci aquele rapaz.

Mas não, não podia ser, era impossível. Ele não podia ser realmente quem parecia ser. Não tão vulnerável, quase humano e um pouco celestial. Era impossível.

Tentei afastar rapidamente da minha mente o nome do rapaz. Queria guardar aquela imagem quase divina para sempre.

Encaminhei-me, em passo apressado para a Sala Comum dos Gryffindor. Acho que, embora eu não quisesse, fiquei chocada por vê-lo, sozinho, sem nenhum dos seus capangas e principalmente num estado quase humano junto ao lago.

Fui tirada dos meus devaneios por uma voz já minha conhecida:

»Onde estiveste até agora, Ginny? E com quem? – perguntou Hermione, olhando para mim, com voz autoritária. Os meus olhos passaram desde os cabelos despenteados dela e a blusa um pouco desabotoada até ao sofá próximo de nós, onde dormia Ron, com apenas um cobertor por cima de si. Pude aperceber-me que ele estava sem camisa.

»Primeiro, – respondi irritada – detesto quando as pessoas se metem na minha vida. Segundo, não tens nada haver com isso…

»Ginevra Weasley, deixa de ser grosseira! – cortou Hermione. Então era esse o joguinho dela? Passar-se por minha mãe?

»Desculpa, Hermione – disse com cinismo na voz – Vê se agora está melhor: Nunca mais te metas na minha vida, quer queiras quer não, não te irei responder. – completei, com frieza. Eu sabia perfeitamente que no dia seguinte iria ouvir um sermão do Ron, quer pelo tom de voz que estava a utilizar, quer pela forma como tinha tratado Hermione. Mas não me importei, afinal, já há algum tempo que ela andava tentando me controlar, talvez a pedido de Ron. Nessa altura, tudo o que tinha guardado contra ela ameaçava sair.

»Ginny, fica sabendo que o Ron vai ficar a saber da tua atitude amanhã. - Ok, ela estava tentando me chatear a sério ou era impressão minha!

»Então que fique. Até lhe podes dizer que pode escrever para os pais. Não quero saber. Talvez fosse melhor a Hermione ter ficado de boca calada quando me viu a começar a ficar furiosa. Mas não. Ela decidiu continuar.

»Ouve, Ginny – ela agora parecia escolher as palavras, de modo a não me irritar mais – tu sabes que eu só quero o teu bem, não te quero ver por aí pela escola, com qualquer rapaz, fazendo figuras tristes à frente de toda a gente, como uma vadia.

Óptimo pretexto que ela tinha escolhido agora. Quem a ouvisse falar pensaria que eu tenho um namorado diferente todas as semanas e que namoro com todos e mais algum.

»DEIXA DESSA, OK GRANGER! – ela tinha passado das marcas. Descontrolei-me totalmente – E QUE TAL EM VEZ DE JULGARES OS OUTROS, UTILIZARES ESSE CÉREBRO E OBSERVARES QUE NÃO ÉS PERFEITA TAL COMO DEMONSTRAS SER, E QUE ESTÁS NA SALA COMUM A FALAR COMIGO DEPOIS DE TERES DORMIDO COM O MEU IRMÃO, AQUI, À FRENTE DE QUALQUER UM QUE APARECESSE! – ela agora parecia estar um pouco irritada com o meu tom de voz – AH, POIS, ESQUECI-ME. TU NÃO TENS CÉREBRO PARA UTILIZAR. EM VEZ DE MASSA CINZENTA, TENS UM ESPAÇO VAZIO! ATÉ PARECE QUE NÃO TENS A PORCARIA DO TEU QUARTO PERFEITO DE MONITORA-CHEFE!

Ouvi várias pessoas saírem dos dormitórios para irem ver o que se estava a passar, enquanto que eu subia a toda a velocidade para o dormitório feminino do 6º ano, a porta fechando-se violentamente atrás de mim.

»Ei, bate com essa porta devagar – ouvi uma das minhas adoradas colegas de quarto gritar.

Deitei-lhe um olhar mortal, que ela não viu devido estar com a almofada em cima da cabeça, e depois atirei-me para a minha cama.

Detesto-as, a todas. Todas elas são horrorosas. Odeio-os. Este bando de «Não-me-toques-que-eu-desafino», a Miss Perfeição que não passa de uma filha da mãe, o Harry Potter, sempre demasiado importante para a pobre Ginny, o Ron, sempre super-protector. Não existe ninguém que goste de mim! Já quase não existe ninguém por quem vale a pena viver. Que merda!

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