O leão, a águia, a serpente, o
Diante das muralhas do imenso castelo de Hogwarts, Heloísa pensou que, talvez, não fosse má idéia ao menos tentar e esforçar-se para se integrar na magia bruxa; corresponder, quem sabe, às expectativas do avô. Sabia que teria de voltar a ele ao final de cada período letivo. E ele cobraria cada sucesso e cada fracasso. Bem caro.
Olhou ao redor, buscando apoio a sua ansiedade nos olhinhos esparramados à sua volta, nas bocas abertas, no silêncio reverente de todos diante da magnitude do lugar. Todos estavam absortos em seus próprios medos e surpresas.
Seu avô já havia lhe alertado para os acontecimentos na chegada. Falara do banquete de boas-vindas, das apresentações, do diretor. E falara, também, do chapéu. “Sonserina”, queria o avô. Mas, pela cara dele, não estava muito confiante. Ela era só expectativa...
(...)
- Black! Sirius Black! Sente-se. – A professora austera coordenava a seleção das casas.
- Grifinória! – grita o chapéu surrado e velho.
Cada criança que era selecionada se encaminhava correndo para uma das quatro imensas mesas dispostas no salão, onde outros mais velhos a aguardavam, saudando-a com entusiasmo.
(...)
- Evans! Lilly Evans! – A garotinha ruiva, de olhos verdes muito brilhantes, sentou-se rápida no banco.
- Grifinória! – imediatamente disse o chapéu. Quando ela correu para a mesa, muitos olhares a seguiram, acompanhando o esvoaçar dos fartos cabelos vermelhos.
(...)
- Lupin! Remus Lupin! Vamos, vamos menino! Isso! Sente-se! – A aparência doentia do garoto refreou, um pouco, a impaciência da velha mestra.
- Grifinória! – disse o chapéu.
Ele desceu do banco sorrindo, timido. Heloísa achou que ele fosse cair, tamanha era sua palidez. Mas sorria lindamente, pensou.
(...)
- Pettigrew! Peter Pettigrew! Aqui, menino! – falou a professora Minerva McGonagall. Novamente a escolha do chapéu foi Grifinória. O rapazinho gordinho desceu e correu a passos miúdos até a mesa.
(...)
- Potter! James Potter! – Um garoto de óculos, com um largo sorriso, foi encaminhado, também, para a casa Grifinória.
(...)
- Snape! Severus Snape!
Heloísa observou, curiosa, o menino magricela, muito pálido, que ela havia derrubado no trem e de quem ela pudera sentir o choque de energias amarguradas, sentar-se meio encurvado no banco, os cabelos negros e escorridos a lhe caírem nos ombros. O chapéu mal foi colocado em sua cabeça e já tinha decidido, alto e ríspido:
- Sonserina!
Quando ele desceu para se dirigir a sua mesa, seu olhar negro cruzou com o dela, mas Heloísa não soube dizer a si mesma se o que viu refletido ali, agora, era solidão ou somente uma dureza arrogante e fria, distante, sozinha.
Pensou que logo seria sua vez.
Olhou por cima do ombro e viu o menino magricela sentado, calado, observando tudo, com os cabelos a lhe encobrirem um pouco do rosto.
(...)
- Varth! Heloísa Varth! Venha menina!
Sentiu seu estômago revirando. Subiu alguns degraus e se virou para sentar-se no banquinho. A visão do enorme salão, lotado, olhando todo na sua direção a fez estremecer. Um fogo muito intenso se esparramou pelo seu rosto, e suas mãos contorciam-se, geladas. O chapéu pareceu, por uns instantes, indeciso, mas, em seguida, gritou:
- Lufa-lufa!
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Deitada em sua cama, sem conseguir dormir, ainda enjoada e ansiosa pela tensão de tudo que aconteceu, lembrou-se, devagar, da canção que o chapéu cantou, antes de começar a seleção dos alunos. Falou da bravura, da coragem, da nobreza. Falou da inteligência e da perspicácia. Falou da ambição, da altivez, do senso de oportunidade. E falou da lealdade, da bondade, da amizade e da justiça.
“Seu avô não ficaria nada satisfeito...”
Pensou no olhar que o menino magricela dirigiu a ela, de longe, tão parecido com aqueles que, às vezes, percebia no avô, julgando-a, desconsiderando-a. Lembrou da mãe e sorriu. Dormiu pensando nela.
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