NAS TEIAS DO DESTINO
Foi um alívio para Lílian constatar que a sua primeira aula do dia era Adivinhação, mesmo não gostando muito da matéria. A verdade é que a satisfação devia-se ao fato de Tiago estar na aula de Aritimancia, o que significava que ela não teria que olhar para as fuças dele.
Mas ela não estava livre de Victoria.
A amiga, naturalmente, percebeu que Lílian estava com problemas, já o havia percebido desde antes do café (Lílian se disse indisposta - "ela vai ficar anoréxica se continuar desse jeito," Victoria pensou maternalmente).
Cutucou Lílian, que estava sentada na carteira em frente à dela, com a pena. Lílian se mexeu e nada respondeu.
Cutucou de novo, mais insistente dessa vez.
- Que é? - Lílian virou-se e perguntou rispidamente, num tom que sugeria...
- Você está com TPM, Lily? - perguntou.
Lílian jogou as mãos para o ar e virou de volta.
- Sério, Lily... - continuou - desculpa, eu não pude resistir à piadinha... eu sei que você não está com TPM, uma pessoa não pode ter TPM o mês inteiro, pode?
Lílian revirou os olhos e Victoria prosseguiu:
- Olha, Lílian, agora é sério mesmo, por que você está assim?
- Não enche!
- Lílian...
- .. para tal propósito, deve-se olhar cautelosamente para a mão da pessoa e examinar cada linha, - dizia a voz mística da Professora Landers - É uma técnica muito antiga, e muitos trouxas charlatães usam-na indevidamente. Não sabem nem distinguir a linha da vida da linha da fortuna...
- Lílian! - Victoria exclamou baixinho.
- Eu estou tentando prestar atenção na aula, Victoria, cala a boca... - Lílian sibilou, embora não estivesse dando a mínima para o que a professora dizia.
- ... mostrar aqui. Algum voluntário?
- Foi o Tiago de novo?
- VAI CUIDAR DA SUA VIDA!
- Que bom que você se ofereceu, srta Evans, - disse Mena Landers num tom esotérico - Eu já sabia disso, é claro, meu olhar interior já havia me avisado, mas é importante, como eu sempre digo, ressaltar que há coisas que não devem ser ditas ou a vida perderá sua magia.
- Professora, eu...
- Eu gosto muito de alunos prestativos como você, srta Evans. - prosseguiu - venha cá!
Num suspirou, um revirar de olhos e xingando Victoria mentalmente, Lílian foi até a professora e estendeu a mão direita.
- Não essa, a outra. - disse a professora.
Lílian deu de ombros e estendeu a mão esquerda. A professora pegou um monóculo e, antes de começar a examinar a mão de Lílian, disse à entediada classe:
- Todas as linhas estão intimamente relacionadas. Os trouxas costumam, pela linha da vida, dizer que a pessoa vai viver "n" anos. A quiromancia é uma ciência divinatória que não requer talento, mas requer magia no sangue. Você precisa ter um verdadeiro olho de bruxa para poder examinar com precisão tudo o que está aqui. Os trouxas ainda chegam a dizer que tal linha da vida é longa, portanto, a pessoa viverá anos e anos. Nosso destino já está traçado em nossas mãos, mas é preciso magia para decifrá-lo. Magia. Bom, para definir se a pessoa vai viver muito, basta ver o formato da linha da vida da pessoa, e não o comprimento, - encaixou o monóculo no olho direito e posicionou-o de modo que pudesse começar a examinar a mão de Lílian - Hum... um grandessíssimo amor, hein, menina! Poucos amam como você vai amar... - comentou - Vamos à linha da vida...
De repente, a professora Mena Landers arregalou os olhos e levou a mão à boca. Ela não era do tipo de ter ataques no meio da aula, por isso, seus alunos presentes - Grifinórios e Lufa-Lufas - se espantaram.
- Ela... ela vai morrer hoje, professora? - perguntou Sibila Trelawney, uma aluna da Lufa-Lufa.
A professora não respondeu, apenas fez que não com a cabeça. Lílian olhou embasbacada para a mestra.
- O que houve, professora?
Recompondo-se, a professora disse, abrindo um grande sorriso e fechando delicadamente a mão de Lílian.
- Há coisas na vida que não devem ser conhecidas antes que chegue a hora, Lílian. Saiba apenas que o amor pode transpor a vida, e o seu certamente irá transpor. Para amores como esse, a vida é uma barreira quase nula.
Lílian fitou, confusa, a professora.
- A aula está encerrada, - disse Landers por fim.
- Mas, mas... - Sibila reclamou - agora que estava ficando interessante! E como vamos aprender Quiromancia, professora? Quando? Eu quero ser uma grande adivinhadora e sei que tenho dom para tanto, mas...
- Na próxima aula, Sibila. - foi tudo o que Landers disse.
- Um minuto, por favor, professora? - pediu Victoria, uma das várias alunas (e alunos) que cercavam a professora Landers curiosos.
- Eu disse que a aula está encerrada por hoje, queridos. Até semana que vem. - disse e entrou em seu escritório, fechando a porta com um estrondo.
- O que deu nela? - perguntou um rapaz da Lufa-Lufa, Malcolm Finch-Fletchley.
- Ela teve uma previsão, idiota, - sibilou Sibila - a respeito da nossa louvada Monitora-Chefe.
- Não foi nada demais, - interferiu Victoria - ela só quis encerrar a aula com um grand finalle, e parece que conseguiu.
- Ela sempre me pareceu polêmica - acrescentou Remo, tentando amenizar o clima tenso, - e pelo menos, Lily, ela previu uma coisa boa para você...
- Parece que eu vou morrer por amor, segundo ela, quer dizer, - disse Lílian - que coisa mais piegas - riu alto - eu queria morrer lutando contra aquele... contra você-sabe-quem.
- Que horror, Lílian! - exclamou Victoria - Além do mais, não houve ataques nos últimos três anos...
- Estou brincando, mongol! Quem é que fica escolhendo como vai morrer? Desde que seja daqui a uns mil anos, pra mim qualquer coisa serve, - disse Lílian jovialmente - A professora Landers até que não é das piores, mas...é um pouco escandalosa demais. Olha o fuzuê que ela armou, - disse olhando em volta para a pequena multidão de alunos e elevando o tom de voz - o show acabou, todo mundo para suas aulas!
Pela fama de Lílian, de monitora implacável, ninguém - exceto Victoria e Remo, que ficaram a seu lado - quis experimentar quantos pontos ela tiraria de suas casas, e foram todos embora num misto de zumbidos.
- Pronto, - disse, esfregando as mãos, e depois, olhando-as - Até parece que dá para ver alguma coisa demais nessas linhazinhas bestas...
- Não liga pra isso não, Lily. - disse Remo.
- Não estou ligando. - retrucou Lílian, começando a andar e sendo seguida pelos amigos.
- Mas voltando àquele assunto... - começou Victoria, calando-se logo que Lílian lançou-lhe um olhar assassino meio que apontando para Remo.
Remo olhou de uma para a outra e corou, sabe-se lá por quê.
- Hã... eu tenho que ir... foi muito bom conversar com vocês... cuide-se, Lílian. Tchau, Victoria. - disse e correu para longe, sumindo pelos corredores.
As duas deram de ombros e Victoria virou-se para Lílian novamente.
- Enfim, sós, - disse - agora podemos voltar ao nosso assunto.
- No que me diz respeito - retrucou Lílian - o assunto é meu.
- Que seja, mas me diga o que aconteceu.
Lílian parou de andar e fitou a amiga.
- Sabe qual é o seu maior defeito, Victoria? Você se mete demais na vida dos outros e esquece de cuidar da própria. Se é que você tem uma.
Victoria olhou para Lílian, estarrecida, abriu a boca para dizer qualquer coisa, fechou-a, balançou a cabeça e disse:
- Não, o meu maior defeito é dar muita importância para pessoas que não merecem um pingo de consideração, - uma lágrima corria pelo seu rosto, seendo seguida por outra - e se eu não tenho uma vida, Lílian Evans, talvez seja porque eu passei a minha inteira, ou pelo menos os últimos sete anos dela, tentando ajudar você.
Virou-se, Lílian fez menção de segurá-la pelo pulso, mas parou na metade do movimento. Victoria correu e sumiu por um corredor, e Lílian ficou lá, parada.
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Lílian Evans e Victoria Manchester eram amigas desde o primeiro ano em Hogwarts. Menos coladas quando ainda havia Tiago ao lado de Lílian, mas ainda assim, como unha e carne.
Quando Lílian e Tiago pararam se falar, embora Lílian tivesse ficado muito mais intensa como amiga para ela, Victoria sempre tentou unir os dois. Não conseguiu; Lílian estava por demais empenhada em não falar com ele de jeito nenhum, e ele, muito orgulhoso, também não daria o braço a torcer.
Lílian nunca foi discriminada por ser uma bruxa nascida trouxa entre os grifinórios, porém, entre os alunos da Sonserina, com destaque para o grupinho encabeçado por Lúcio Malfoy, ela era chamada de "Sangue Ruim" a toda hora. Além de ser defendida pelo grupinho dos Marotos, com destaque especial para Tiago, cuja primeira detenção deveu-se ao fato dele ter dado um soco em Lúcio na primeira semana de aula por esse motivo, era sempre Victoria quem dava lições de moral neles.
Victoria sempre mostrou uma lealdade incondicional à Lílian.
Lílian também gostava dela, porém, não gostava de confiar-lhe segredos. Não que achasse que Victoria fosse sair por aí espalhando, mas é que Lílian detestava o jeito com o qual a garota fazia comentários fora de hora e insinuações inconvenientes.
Outra coisa ruim nela era que adorava bancar o cupido. Quando Lílian, no terceiro ano, teve uma queda por Amos Diggory, então no sétimo...
"Amos," disse Victoria, então aos 13 anos, "o que você acha da Lily?"
"De quem?" perguntou o garoto, examinando Victoria de alto a baixo, perguntando a si mesmo quem diabos era ela.
"Lílian Evans, Grifinória, terceiro ano," respondeu Victoria, com um sorriso nos lábios.
"Uma ruivinha?"
Victoria fez que sim.
"Bom, ela é bonitinha, mas..." ele começou.
"Mas?"
"Ela é um pouco novinha, né? Quem sabe daqui a uns três ou quatro anos..."
Victoria tinha ido falar com Amos sem a autorização de Lílian, que, após ouvir ao diálogo narrado pela amiga, só faltou matá-la. Foi aí que descobriu que faltava a Victoria presença de espírito.
Dessa vez, Lílian preferiu não falar com a amiga sobre o que aconteceu pela manhã, pois se bem a conhecia, sabia que ela ia ver coisa onde não tinha nada e dessa vez, não ia tentar juntar Lílian e Tiago como amigos, mas - Lílian tremia só de pensar - como namorados.
Além do mais, ela estava muito chateada, a última coisa no mundo que queria ouvir eram os comentários de Victoria, que para essas coisas, era muito boba.
Depois da aula de Adivinhação, Lílian havia ficado muito intrigada com o que a Professora Landers dissera, e como se não bastasse isso, Victoria a estava atazanando com aquela história. Se ela já estava desse jeito sem saber o que tinha acontecido, imagina sabendo...
Lílian não se conteve e disse o que não devia, um misto de verdade, ressentimento e vontade de machucar a amiga, talvez uma vingança tardia por ela ter ido falar aquilo com Amod Diggory quatro anos antes. Talvez fosse apenas força do momento, mas a verdade é que Lílian Evans sentiu um remorso sem tamanho, e pela primeira vez em sete anos, achou que tivesse perdido a amiga e começou a pensar em como a havia tratado esses anos todos. Não como igual, mas como inferior.
Sim, Victoria tinha seus defeitos, que, aliás, não eram poucos, mas Lílian também tinha os seus. Por um momento, esqueceu a aula de Adivinhação e Tiago Potter e ficou pensando em como tinha tratado a amiga.
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Na segunda aula do dia, Lílian não se viu livre de Tiago Potter, mas não estava pensando nisso. A primeira coisa que reparou foi que Victoria não estava sentada em sua habitual carteira - encostada na parede, para poder descansar a cabeça - da sala de Transfiguração, e aliás, não estava sentada em lugar nenhum ali.
Lílian sentou-se, como de piloto automático, numa carteira no fundo da sala; não estava afim de assistir à aula, e não queria chamar a atenção da professora McGonnagal com a sua falta de atenção.
Nem percebeu quando Tiago jogou seu material na carteira à sua esquerda. Remo observou a cena com o rabo do olho e também tirou o seu material de uma carteira em algum lugar do meio da sala e posicionou-se ao lado direito de Lílian. Sirius e Pedro, que haviam sido deixados sozinhos, sentaram-se respectivamente ao lado esquerdo de Tiago e ao lado direito de Remo. Uma fileira horizontal foi preenchida somente por eles.
Só quando Heather limpou a garganta ruidosamente que Lílian voltou à realidade, olhando para os lados.
- Não perdeu tempo, não é, Evans?
- Hã? - foi tudo o que saiu da garganta de Lílian, num tom que sugeria sono.
Ao lado de Heather, estava uma Diana Davis inconsolável.
- Tiago... como você pôde fazer isso comigo? - ela clamou numa voz de taquara rachada - Oh, Tiago, eu te amava tanto...
Sirius fez um esforço tremendo para não rir.
- Pô, Pontas, - ele disse com uma seriedade debochada - ela te amava tanto...
- Não enche, Sirius! - Tiago sibilou - o que essa maluca andou te falando, Didi?
- Didi? - Lílian e Heather perguntaram ao mesmo tempo.
- Oh, Tiago - lágrimas rolavam pelo rosto de Diana, e Remo, Sirius e Pedro fizeram expressões idênticas de risos contidos. Tiago certamente teria de agüentar gozações mais tarde - você me traiu!
- Oh, que lástima! - exclamou Pedro, falsamente compadecido - Oh, Tiago - disse arremedando a garota - o que fizestes tu?
- Eca! - Lílian murmurou para Heather - odeio quando usam a segunda pessoa. - Heather assentiu. Seria uma das poucas vezes na vida na qual as duas concordavam em alguma coisa.
Tiago lançou um olhar assassino para Pedro, que não se deixou intimidar e virou-se para a chorona:
- Didi, amor, - disse - já que o Tiago não é digno desse teu nobre sentimento - o tom era falsamente solene - casa-te comigo.
- Casar? - Diana enxugou as lágrimas - Oh, eu fui pedida em casamento!
- Putz, ela acreditou! - Sirius murmurou para Remo, que levou a mão à testa.
- Eu sinto recusar o seu pedido, Pedrinho - ela prosseguiu - eu ainda amo o Tiago, e eu o perdôo.
- Perdoa pelo que exatamente? - perguntou Pedro, interessado, olhando para Tiago com o rabo do olho e contendo uma gargalhada.
- A Heather me disse que você estava beijando a Lílian...
- O QUÊ? - Sirius, Remo e Pedro perguntaram em uníssono. Sirius e Pedro riram internamente, mas Remo parecia de algum modo chateado.
- Heather, Heather - o cinismo de Tiago atingia o seu tom de voz - eu beijar Evans? Invente uma desculpa melhor, ou invente uma outra pessoa, para tentar acabar meu namoro. Ciúme é uma coisa muito feia, sabia? E sinceramente... eu e a Evans?
Heather guinchou, e Lílian olhou perplexa para Tiago. Não sabia se gostava ou não de não ter aquilo revelado, mas também não se sentia satisfeita em ouvir Tiago negando o que fizera.
Diana atirou-se sobre Tiago e começou a beijá-lo no meio da sala.
- Urgh! - Lílian fez uma careta - que casal mais patético.
- Eu não estou mentindo! - Heather quase gritou - A Evans pode confirmar o que eu disse.
- Confirmar o quê, Waltham? Que sandice! - disse Lílian diante das expressões interrogativas de Sirius, Remo, Pedro e do resto todo da sala - É claro que não aconteceu nada...
- Desculpem-me o atraso - disse a Professora McGonagall - bom, abram seus livros na página 1108...
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Na hora do almoço, Lílian sentou-se, como de hábito, na ponta oposta a de Tiago na mesa da Grifinória. Reparou que Victoria estava lá, o que foi de certo modo um alívio, desconfiava de certas tendências suicidas na amiga, mas ela sentou-se bem longe do lugar que geralmente ocupava: à direita de Lílian.
Foi Remo quem se sentou lá, bem longe de seus amigos.
- Oi, Lily.
Ela sorriu.
- Você e a Victoria brigaram naquela hora?
- Parece que sim... - disse, cabisbaixa.
Ele levantou o queixo dela.
- Não fica assim...
- Eu não agi muito bem com ela, mas também... tem horas que não dá pra se abrir, nem com nossos melhores amigos.
- Eu sei o que é isso - disse Remo, olhando para o nada, como que lembrando-se de alguma coisa - mas escute o que eu estou lhe dizendo, uma hora ou outra, acabamos contando nossos maiores segredos, por mais difícil que seja.
- É, mas o que aconteceu não foi assim tão importante - disse Lílian - mas é o tipo da coisa que eu não queria que ela soubesse; ela adora bancar o cupido nas horas erradas...
O rosto de Remo se iluminou.
- Ainda é aquela história com o Amos Diggory?
- Mais ou menos... eu perdi um pouco da disposição para discutir a minha vida amorosa com ela - sorriu.
- Vida amorosa?
Lílian corou e Remo timidamente sorriu.
- É... - ela disse - não exatamente vida amorosa, mas coisas que vagamente têm a ver com isso.
- Ah.
- Bom, eu estou morta de fome - Lílian disse - eu não tomei café da manhã hoje.
- OK.
Os dois conversaram muito sobre variados assuntos durante o almoço, e riam tão alto que freqüentemente várias cabeças viravam-se para eles.
- O que tanto esses dois conversam? - perguntou Tiago, dando uma olhada nada discreta para o casal.
Sirius deu de ombros e disse:
- Parece que finalmente o Aluado conseguiu alguma coisa. Eu já estava começando a ficar preocupado.
- Ele podia ser gay, né? Sei lá. - disse Pedro.
Tiago sorriu debochadamente.
- Olha quem fala, Rabicho... você ainda está no zero a zero.
- Não, eu nunca achei que ele fosse gay, mas... - Sirius olhou para os dois - mas eu estava preocupado com ele por outro motivo. Eu achava que por causa daquilo, ele estivesse evitando as garotas.
- É verdade. - concordou Tiago - Ele me disse uma vez, quando descobrimos aquilo, que antes, ele tinha medo de se aproximar da gente por esse motivo, e também que não suportaria perder os amigos depois que já os tivesse conquistado, por causa daquilo.
- Mas vocês acham mesmo que ele e a Lílian...? - perguntou Pedro, fazendo um sinal em espiral com o dedo indicador.
- Claro que não! - Tiago precipitou-se - Imagina, o Aluado não tem tanto mau gosto assim...
Sirius deu uma cotovelada de leve em Pedro e os dois deram risos escarninhos.
- Do que é que vocês estão rindo? - Tiago perguntou - eles estão só conversando. O Aluado só está interagindo com uma garota, não necessariamente saindo com ela. Nós saberíamos.
- Ele não ia contar nada antes que começasse... - Sirius salientou.
- Ele ia comentar que gostava dela. - Tiago retrucou, mal humorado - Além do mais, ele não gostava daquela garota da Corvinal? - apontou com o queixo uma menina de cabelos castanhos e olhos claros na mesa ao lado.
- Ih, Pontas, você está desatualizado - disse Pedro - Sophia é passado pro Aluado, ela nunca deu bola pra ele mesmo...
- Ele ter esquecido aquela garota não quer dizer que ele esteja afim da Lílian. - disse Tiago.
- Você não tocou na sua comida, Pontas. - Sirius apontou com o queixo o prato de Tiago - que isso? Jejum? Você é o maior esfomeado que eu conheço...
- Depois de você, quer dizer, né? - retrucou Pedro.
- Eu não estou com fome. - Tiago disse, mal-humorado, empurrando o prato.
- Continuando o papo - disse Pedro - você sai com um monte de garotas e não fica dizendo pra gente que está afim dela antes... a última, por exemplo...
- Mas o Remo é diferente - disse Tiago - ele é romântico, ele não ficaria com uma garota sem gostar e se ele gostasse, - olhou mais uma vez para o casal - ele nos contaria.
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- Anote aí. Patrick McMillan e Geraldine Churchill, Lufa-Lufa, segundo ano. Ambos. Advertidos por correr no corredor. - disse Lílian a um Tiago entediado.
- E para que serve um corredor senão para correr? - perguntou ele, sem sentir.
- Ora essa! Para que serve! É óbvio, Potter, que serve para irmos de um aposento a outro. E como se trata de um número muito grande de pessoas, é inaceitável que se corra.
- Você é terrivelmente chata. - murmurou ele, rabiscando qualquer coisa no pergaminho amarelado a sua frente.
- O que disse? - ela perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Hã? - ele voltou à realidade.
- Nada. - retrucou Lílian, voltando a ler seu bloco - Hillary Goldberg, Meredith Parker e Madeleine Quinn, Corvinal, sexto ano. Advertidas por faltarem propositalmente a uma aula. Faça um PS dizendo que elas foram encontradas na antiga sala de feitiços conversando sobre coisas obscenas.
- OK. - disse Tiago, entediado, continuando a mexer com a pena no pergaminho - Acabou?
- Não, mongol. - disse Lílian - Ainda temos mais 5 metros de bloco para transcrever para o pergaminho oficial. - ela puxa o pergaminho de Tiago, que tenta inutilmente segurá-lo - Deixe-me ver como está ind... TIAGO POTTER!
- Sujou...
Lílian estava pasma. O pergaminho "oficial" estava cheio de rabiscos... não letra mal-feita, mas desenhos, se estivesse mais bem humorada, ela até admitiria que eram bonitos. Havia um lobo desenhado, e atrás, em segundo plano, os esboços do que pareciam um rato, um cachorro e um cervo.
- Tiago Potter, o que o senhor pensa que está fazendo?
- Agora, nada, mas antes eu estava desenhando. - disse ele numa voz com sono.
- Você não serve para Monitor Chefe, Potter! Não tem o mínimo de disciplina. Deixe que eu termino, quer dizer, faço todo o pergaminho oficial. Pode ir.
Lílian olhou para ele, muito brava. Tiago continuou sentado.
- Não vai embora, não? Se não pode ajudar, Potter, ao menos não atrapalhe.
- Eu queria que você me respondesse a uma pergunta antes.
Ela revirou os olhos.
- Desembuche. - retrucou.
- Você...
- Eu...
- O que está acontecendo entre você e o Remo?
Lílian o encarou, mais pasma que jamais estivera, e encontrou um par de olhos castanhos emoldurados por óculos redondos retribuindo seu olhar com atenção. Não resistiu e riu muito alto, tão alto quanto nenhum dos alunos já havia visto a certíssima Monitora Chefe rir.
Tiago ficou desconcertado.
- Do que você está rindo, Evans?
- De você, Potter! - ela disse, entre risos histéricos - Como você pode ser tão patético?
Ele revirou os olhos.
- Seja o que for, Evans, eu quero que escute, e você vai escutar. Se você acha que vai me atingir dando em cima do Remo, está muito enganada. - disse Tiago com espantosa seriedade - E se eu souber que você o machucou de algum modo...
Mas ele não pôde prosseguir porque Lílian riu ainda mais alto.
- Potter, você é gay?
- Do que você está falando, Evans?
- Parece que você está afim do Remo, é isso?
- Não seja ridícula.
- Você que está sendo. De todo modo, estamos nos anos setenta, isso é aceitável.
- Evans, se você não fosse uma garota...
- O quê? - ela riu - se eu não fosse uma garota, você iria estar afim de mim também? Ui!
- Eu te enfiava a mão, é isso que eu quis dizer.
- Que meda!
- Brincadeiras à parte, Evans, se você fizer qualquer coisa de ruim que seja ao Remo, você vai se ver comigo. Que esteja avisada.
- Potter, apesar de isso não ser da sua conta, eu vou te dizer que ao contrário de você, eu tenho amigos de sexo diferente do meu. E o Remo não é apenas um deles - o rosto de Tiago se contorceu - é o melhor deles. - Lílian acrescentou.
- Ok, - disse Tiago, não parecendo muito convencido - eu vou dormir.
E saiu da sala da monitoria, deixando Lílian absolutamente sozinha.
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