Epílogo
Epílogo
“It’s a song to say goodbye.” (Placebo)
10 anos depois
Era um daqueles dias quentes nova-iorquinos, em que o calor próprio da estação se misturava com o sopro escaldante da vida citadina.
Parou diante da lápide que procurava e observou uma borboleta amarela esvoaçar por ali, acabando por aterrar bem diante de si, no topo da pedra marmórea. Havia tantas flores ali! Era um sinal claro de que nem depois de tanto tempo ele tinha sido esquecido. Nunca seria.
Retirou um envelope do bolso dos jeans e olhou uma última vez para a foto ali incrustada com gentileza. Abriu o sobrescrito e puxou um maço fino de folhas, que depositou sobre a pedra, entre um raminho singelo de rosas e um arranjo exuberante de orquídeas. Sorriu levemente, numa despedida silenciosa, e seguiu o caminho que conduzia para o exterior do recinto.
Com o aproximar do final da tarde um vento ameno levantou-se, fazendo com que as folhas se abrissem, revelando uma caligrafia bem desenhada e limpa.
“Querido Will,
Na verdade, eu não sei o que as pessoas diriam se soubessem que eu escrevi essa carta para um pessoa que já não está mais aqui para a ler. Bom, mas como eu nunca regrei a minha vida pelo que os outros pensavam, a não ser por estranhos italianos ou nova-iorquinos, eu realmente não me importo com isso.
Não passa um dia sem que eu sinta saudades de você, sabia? O meu mais caro e doce amigo, a sua presença é insubstituível nesse papel de “confidente-e-conselheiro-de-uma-cabeça-dura” que você sempre desempenhou com desenvoltura. Até dos seus sermões eu sinto uma enorme saudade, de quando enrugava a testa e procurava me demonstrar as coisas mais óbvias...que como elementares e fundamentais que eram, eu teimava em não ver. Mas eu aprendi a maioria das lições e nesse ponto espero que esteja orgulhoso de mim.
De alguma forma eu sinto que eu tenho o dever de te contar as coisas que aconteceram nesses anos que passaram sem que eu viesse aqui com tempo ou paciência para falar tudo. Muitas vezes eu estava acompanhada e creio que todos teriam temido pela minha sanidade mental se eu ficasse contando a história da minha vida actual perante uma campa! Talvez, onde quer que você esteja, já saiba de todas essas coisas...mas eu sinto que preciso de te contar, que você fique sabendo por mim de tudo o que preenche agora a minha vida, de partilhar as minhas alegrias e tristezas como fazíamos então, quando os dias eram mais solarengos apenas porque você estava por perto.
Eu e Harry casámos na Primavera do ano seguinte aquele em que nos deixou. Foi uma cerimónia simples, como ambos sempre desejámos, a família e alguns amigos apenas. Todos reunidos no eterno jardim siciliano e foi...perfeito, eu diria, se a perfeição existe esse foi dos momentos da minha vida que mais se aproximaram dessa meta.
Draco e Belle estiveram lá e foi a primeira vez que estivemos todos juntos, com eles se assumindo enquanto casal. Embora as discussões continuassem a ser quase tão ardentes e caprichadas quanto antes, eu saberia dizer que eles estavam vibrantes de felicidade e me senti grata por isso.
É...felizes, mas nunca como um casal convencional! Nem nesse ano nem nos seguintes e só quando já estavam juntos há quase quatro anos eles acabaram assentando e admitindo que poderiam resultar como casal com compromisso sério. Nessa altura Belle descobriu que estava grávida e isso meio que os empurrou para uma decisão que talvez não tivesse vindo tão facilmente de outra forma.
Eles nos visitavam frequentemente na Sicília, mas nessa altura fomos nós (eu e Harry) que fomos até Nova Iorque passar uma temporada por perto, para garantir que tudo iria acontecer pelo melhor. Eu não consigo deixar de achar que existiu dedo do Harry no pedido de Draco para que Belle fosse morar com ele, em união plena. Até hoje eles nunca se casaram e penso que nunca o farão – eles são criaturas independentes e embora vivam uma vida igualzinha a de todos os casais que assinaram papel, esse pequeno gesto seria contra-natura para os dois.
E foi assim que Belle deu à luz um casal de gémeos, um menino e uma menina. Eu gostaria que você tivesse estado lá para ver a discussão que houve para tentar decidir o nome dessas duas criaturinhas adoráveis. Belle insistia em nomes italianos para ambos e Draco não queria nada que não fosse inglês e cheio de classe. Meio que acabou como um empate: o menino ficou Seth, como o pai queria. Ele é moreno e de olhos cinzentos, vai ser um dos garotos mais bonitos que Nova Iorque já viu quando crescer, posso garantir. A menina ganhou o nome de Bianca e o nome não poderia ficar melhor: ela é tão loira que os cabelos chegam a parecer brancos.
Os pais de Draco morreram num acidente misterioso de automóvel no ano em que as crianças nasceram. Draco Malfoy herdou tudo o que lhes pertencia e distribuiu muita da riqueza por obras de beneficiência. O restante ele investiu em negócios de grande valor, triplicando a sua fortuna pessoal.
Ele e Harry têm uma galeria em conjunto em Nova Iorque, com filiais noutras cidades mundiais como Paris, Milão, Tóquio e Sydney. Ambos expõem as suas pinturas e ainda são agentes de outros artistas, fazem um enorme sucesso e são apreciados na área artística e empresarial. Eles também se dão muito melhor, embora ainda se tratem de forma sarcástica – acaba sendo uma demonstração de apreço dos dois. Além de que realmente cilindram como dupla!
Belle conseguiu terminar o curso de Veterinária e exerceu durante algum tempo. Depois ela decidiu tirar Psicologia (Harry foi o maior apoiante dessa ideia, dizendo que essa era a verdadeira vocação dela desde o início), já com os gémeos puxando as suas saias. Ela causou um grande impacto no meio ao escrever alguns livros e editoriais sobre relações, tendo formulado algumas teorias inovadoras na área das relações interpessoais (especialmente amorosas). Um dos seus bestsellers se intitula “Do ódio ao amor: duas faces de uma mesma moeda”. Nem precisa perguntar de onde ela tirou inspiração, não é mesmo?
Eu e Harry escolhemos morar na Sicília, mas acabamos passando muito tempo na Grande Maçã. Eu não abandonei o meu trabalho, pelo contrário! Ele cresceu imensamente e as minhas empresas nesse momento fazem ilustrações de livros, postais, pintura de murais, retratos, arte pura...bom, é só dizer o que quer e nós conseguimos pintar. Eu dirijo a marca que se chama “Dreams in color”, mas faço questão de pintar vários trabalhos pelas minhas próprias mãos.
Harry e eu tentámos por bastante tempo para que eu engravidasse, começando pouco depois do casamento. Por algum motivo eu nunca consegui nesse tempo que viviamos pensando nisso, embora fisiologicamente os médicos garantissem que não existia problema algum. Ele foi...indescritivelmente correcto em todo esse processo, prometendo que mesmo que nunca acontecesse isso só nos iria unir, e nunca separar. E ele cumpriu nos anos que se seguiram. Eu sabia que era uma grande tristeza para ele, mas em momento algum ele se voltou contra mim ou se desesperou.
Então, dois anos depois do nascimento dos gémeos de Draco e Belle e quando nós nem pensávamos mais no assunto, pelo menos não conscientemente, aconteceu. Eu fiquei grávida e quando contei para Harry eu pude experienciar o maior sentimento de felicidade e plenitude que pode existir. Ele me abraçou e beijou por horas, me mimando, agradando, adorando cada vez mais. Nunca esquecerei a gratidão que vi nos olhos do único homem para mim. Eu me tornei a mais bela árvore para ele, dando os frutos mais doces.
Eu dei à luz uma menina, prematuramente. Esse foi um episódio meio triste e sofrido, porque realmente tememos pela vida dela. Quando ela veio para nós era a coisa mais pequena e frágil que eu jamais vi e eu descobri o que significa amar além da própria vida. Olhar para aquele minúsculo ser ruivo, fruto do imenso amor que eu compartilho com Harry, foi destinar a ela o meu coração. Para sempre.
Decidir o nome dela também não foi exactamente fácil ou democrático. Um dia, ela já tinha alguns dias de vida, eu acordei a meio da noite e chamei Harry insistentemente. “Grace”, disse eu e pelo brilho nos olhos dele e enorme sorriso eu percebi que aquele era o nome ideal para a nossa pequena benção.
Grace é uma criança linda (puxou ao lado da mãe! Ok, e do pai) e muito inteligente. Acho que ela tem uma mistura perfeita entre o meu temperamento e o de Harry...ganhou qualidades importantes dos dois, bem como alguns defeitos. Nós formamos uma família em todos os sentidos. Ela é a nossa herança, minha e de Harry. Ela irá perdurar depois de nós, carregando em si a história do nosso amor.
Lily e o meu pai, Arthur, continuam imensamente felizes e envelhecendo juntos. Adoram estar por perto dos filhos e netos, mas sempre saem sozinhos e namoram como fizeram desde que eram ainda garotos. É assim que eu os vejo: eternos namorados.
Deirdre, de quem eu acho que cheguei a te falar uma outra vez que vim aqui, também encontrou a felicidade. Ela esteve aliás no meu casamento e levou o seu noivo, um homem bonito e ameno chamado Richard. Eles também casaram há alguns anos e têm um filho, que eu e Harry conhecemos numa visita recente a Londres. Eu e ela acabámos ficando amigas, acho que em parte unidas pela partilha de um enorme e terrível amor por Harry.
Aquilo que eu vou contar agora é segredo, mas eu confio em você para deixar isso quieto por enquanto. Eu acho que estou grávida de novo...! Mas não tenho certezas ainda, é mais uma sensação ainda sem sinais reais. Apenas torça por mim, ok? Eu queria realmente ter um menino para empatar com Braco e Delle (risos).
Ah sim! Fortune está aqui andando em volta de mim, enquanto escrevo essa carta sentada no jardim da minha Sicília. Minha. O meu lugar, que eu descobri após tantas provações e desencontros. Ele já está ficando velhinho, mas é o meu protector mais leal (e de Grace também).
A minha vida está longe de ser perfeita e pacífica: Harry e eu temos os nossos problemas e desavenças, por vezes discutimos feio e ele vai parar no sofá. Mas nós sempre nos acertamos, conscientes de que um dia deve ser vivido de cada vez, cientes do enorme amor que nos une. Nós já estivemos separados há dez anos atrás e ambos sabemos que nunca conseguiriamos viver assim de novo. Nós pertencemos um ao outro enquanto vivermos, e quem sabe (você já deve saber) mesmo depois disso.
Ele é, e será sempre, um estranho na minha vida. O estranho da minha vida.
O meu amor,
Ginevra Knight-Weasley Potter”
FIM
N/A – E é isso. Para aqueles que pretendem exigir a minha cabeça por demorar tanto tempo para colocar um epílogo minúsculo, toda a minha compreensão. Eu ia fazer o epílogo diferente e eu cheguei mesmo a começá-lo de outro jeito. Mas essa forma acabou ganhando forma sozinha e é explícita o suficiente (deixando algumas pontas soltas, eu gosto assim ahah). Além de que a última frase da carta foi pensada no início da fic e eu queria colocá-la como a última dessa fic e isso só seria possível se Ginny estivesse “falando”.
O que dizer agora que o final chegou? Que as lágrimas estão nos meus olhos enquanto escrevo isso? Que essa fic cresceu comigo nesses dois anos praticamente? Que ela foi refúgio e inspiração em alguns dos momentos mais importantes da minha breve mas complicada existência? É, ela foi tudo isso. Ela permitiu que eu conhecesse pessoas maravilhosas, que escrevesse coisas que estavam dentro de mim e eu nem sabia. Essa fic foi...vida e morte, em todos os sentidos possíveis.
E esse é o momento em que agradeço todos os reviews carinhosos e a todos os que leram ou adicionaram nos favoritos e nunca comentaram. Eu sei que desiludi muita gente com essa ausência forçada, mas eu tentei dar o meu melhor em todos os momentos e isso terá que ser suficiente agora que o final chegou. Um beijo no coração de todos os que me acompanharam até aqui. E eu gostaria de reviews sim :P
Nos vemos na Noiva e na Ecos e quem sabe onde mais : ) Até lá, então.
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